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B.

DIREITO A NÃO VIVER


NA POBREZA

REDUÇÃO DAS INIQUIDADES


SUBSISTÊNCIA SUSTENTÁVEL
ACESSO AOS RECURSOS
PARTICIPAÇÃO
NÍVEL DE VIDA ADEQUADO

“Toda a pessoa […] tem direito à segurança social […] e pode legitimamente exigir a sa-
tisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis […] à sua dignidade e
ao livre desenvolvimento da sua personalidade”
Toda a pessoa tem direito ao trabalho […]
Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família
a saúde e o bem-estar, principalmente, quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamen-
to, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários […]
[…] Toda a pessoa tem direito à educação. […]”
Artigos 22º, 23º, 25º, 26º da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948.
112 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

HISTÓRIA ILUSTRATIVA

Morrer de fome em terra de abundância jas do governo. Mas em Bhoyal, como em


outros lugares, o sistema entrou em co-
Quando as colheitas se perderam e não exis- lapso. Os aldeões disseram que o sarpan-
tia trabalho, os aldeões de Mundiar come- ch (chefe da aldeia) local distribuiu todos
çaram a procurar comida na selva. Mas não os cartões de racionamento aos seus com-
encontraram nada. Em vez disso, encontra- parsas e membros da sua própria casta.
ram erva. E, assim, durante a maior parte do Aquele também apagou o nome das viú-
verão, as 60 famílias da aldeia tiveram de se vas que tinham direito a receber pensões
alimentar de sama – uma ração normalmen- governamentais. Entretanto, os donos das
te dada ao gado. Mas os humanos não de- lojas do governo, recusaram-se a vender
vem comer erva e, rapidamente, os aldeões, cereais baratos aos “intocáveis” Saha-
com as bochechas cada vez mais encovadas, riyas. Em vez disso, aqueles livram-se
foram enfraquecendo. Estes queixaram-se dos cereais no mercado negro. Quando os
de prisão de ventre e de letargia. Por fim, Sahariyas começaram a morrer, os donos
começaram a morrer. Um aldeão, Murari, das lojas preencheram os seus cartões de
assistiu ao lento sucumbir da toda a sua fa- racionamento numa tentativa de escon-
mília. Primeiro morreu o seu pai, Ganpat, der o seu esquema.
seguido pela sua mulher, Bordi. Quatro dias Os níveis de má nutrição na Índia – um
mais tarde, ele perdeu a sua filha. país de mais de 1 bilião de pessoas – estão
Ao longo desta região remota do norte da entre os mais altos do mundo. Em 2006,
Índia – que noutros tempos era coberta cerca de metade de todas as crianças in-
pelo denso verde da floresta, mas agora dianas sofriam de má nutrição, enquanto
tornada estéril devido à seca – é a mesma cerca de 50% das mulheres indianas so-
história. Durante os dois últimos meses, frem de anemia. E, ainda assim, a maioria
mais de 40 membros da comunidade tri- dos cereais da vasta montanha de alimen-
bal Sahariya morreram à fome. Cerca de tos é deitada fora ou comida pelos ratos.
60 milhões de toneladas de cereais exce- São aqueles que estão no fundo do sistema
dentes estão atualmente depositadas nos hierárquico de castas da Índia que mais
armazéns do governo. Esta é por isso, sem sofrem. As comunidades tribais, que re-
dúvida, uma imensa montanha de alimen- presentam cerca de 30% da população do
tos. Infelizmente, nenhuma das toneladas distrito de Baran, são também vítimas da
alcançou Mundiar ou qualquer outra vila injustiça histórica. Antes da independên-
mais remota do interior, no sudeste de Ra- cia em 1947, os Sahariyas proviam à sua
jasthan […]. sobrevivência através da caça e semeio
Oficialmente, na Índia ninguém morre à de algumas colheitas. Depois da indepen-
fome. No âmbito de um sistema público dência, os funcionários expulsaram-nos
de distribuição, os aldeões que vivem da selva e confiscaram as suas terras. Os
abaixo do limiar da pobreza têm direito a Sahariyas foram forçados a procurar traba-
um cartão de racionamento, que lhes per- lhos como trabalhadores agrícolas. Quan-
mite comprar cereais subsidiados das lo- do se perderam as colheitas neste verão,
B. DIREITO A NÃO VIVER NA POBREZA 113

ficaram sem trabalho e, portanto, sem Articule-as como “Violações dos direitos
nada para comer. humanos de/a …”.
“Os políticos não estão interessados em 2. O que desperta em si esta experiência e
nós”, disse uma mulher, Nabbo, de 50 o que pensa que deve ser feito?
anos, enquanto preparava a sua refeição 3. Compare/contraste a situação de pobre-
da noite de chapattis feita de sama – se- za em Baran com o que os pobres no
mentes de erva selvagem. seu país/contexto experienciam. Quais
(Fonte: Luke Harding. 2002. Dying of hun- são as imagens da pobreza de acordo
ger in a land of surplus. Caste and cor- com a sua experiência?
ruption connive to keep food from India´s 4. Vê alguma relação entre o aumento da
poor.) pobreza e a segurança humana? Acha
que tratar as pessoas da forma descrita
Questões para debate na história ilustrativa pode ter efeitos
1. Quais são as privações e vulnerabili- na segurança humana? Se sim, que tipo
dades sentidas pelos pobres em Baran? de efeitos?

A SABER

1. INTRODUÇÃO cificidades sociais. Em países em desen-


volvimento, a pobreza está difundida e é
Embora a pobreza tenha sido vista como caracterizada por fome, escassez de terra
um fenómeno histórico, as formas pelas e de recursos para subsistência, políticas
quais hoje se manifesta estão a tornar-se redistributivas ineficientes, desemprego,
significativamente complexas. Esta com- analfabetismo, epidemias, falta de servi-
plexidade é o resultado de muitos fatores, ços de saúde e água potável. Em países
incluindo a mudança na natureza do rela- desenvolvidos, a pobreza manifesta-se na
cionamento entre os seres humanos, a re- forma de exclusão social, em desemprego
lação entre sociedade e fatores e processos crescente e em baixos salários. Em ambos
de produção e a perspetiva dos governos os casos, a pobreza existe devido à falta de
e das instituições internacionais, como o equidade, igualdade, segurança humana e
Banco Mundial, o Fundo Monetário Inter- paz.
nacional ou as Nações Unidas sobre as vá- A pobreza significa a falta de acesso
rias dimensões de pobreza. num mundo pleno de oportunidades.
O conceito de pobreza tem evoluído ao Os pobres não têm capacidade para al-
longo do tempo. A pobreza, que era vista terar a sua situação, uma vez que lhes
apenas como relacionada com os rendi- são negados os meios para exercer essa
mentos, é agora vista como um conceito capacidade, devido à falta de liberdade
multidimensional que deriva e está in- política, incapacidade para participar
timamente relacionado com a política, a nos processos de tomada de decisão,
geografia, a história, a cultura e as espe- falta de segurança pessoal, incapacida-
114 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

de de participar na vida da comunidade 2. DEFINIÇÃO E DESENVOLVIMENTO


e ameaças à equidade sustentável e in- DA QUESTÃO: DEFINIR
tergeracional. A pobreza é a negação de O CONCEITO DE POBREZA
poder económico, social e político e de
recursos. É esta negação que mantém os Existem várias definições e manifestações
pobres mergulhados na pobreza. de pobreza:
• Do ponto de vista do rendimento, a
Pobreza e Segurança Humana pessoa é pobre se, e apenas se, o seu
nível de rendimento se encontra abai-
A pobreza, conducente a graves inse- xo do limiar da pobreza definido. Mui-
guranças sociais e alimentícias, é uma tos países adotaram linhas de pobreza
violação direta da segurança humana. relacionadas com o rendimento para
Não só ameaça a existência de um gran- monitorizar o progresso na redução da
de número de pessoas como contribui incidência de pobreza. A quebra da li-
para a sua vulnerabilidade à violência, nha de pobreza é definida em termos
aos maus tratos e ao seu silêncio a nível da posse de rendimento suficiente para
social, político e económico. uma quantidade específica de alimentos.
Amartya Sen sublinhou a necessidade • De acordo com o Relatório de Desenvol-
de considerar os desafios da equidade vimento Humano (RDH), de 1997, do
global e da segurança humana: “As PNUD, a “pobreza significa que as opor-
tarefas urgentes incluem a clarificação tunidades e escolhas mais básicas para
concetual bem como a promoção do de- o desenvolvimento humano são negadas
bate público, a juntar à identificação de – para conduzir uma vida longa, saudá-
projetos concretos de ação relacionados vel e criativa e para gozar de um padrão
com mudanças institucionais para a decente de vida, liberdade, dignidade e
promoção da equidade e para salvaguar- de respeito próprio e pelos outros”.
dar a segurança humana básica. Uma • O Índice de Pobreza Multidimensional
melhor compreensão dos conflitos e dos (PNUD, RDH 2010) utiliza indicadores
valores tem de ser integrada com a in- para identificar as diversas dimensões
vestigação de exigências no âmbito da da pobreza, tais como a precariedade
saúde, educação, remoção da pobreza e na saúde e na nutrição, educação e for-
redução da desigualdade de género e da mação insuficientes, meios de subsis-
insegurança.” tência desadequados, condições de ha-
(Fonte: Relatório da Segunda Reunião da bitação precárias, exclusão social e falta
Comissão sobre a Segurança Humana, de participação. O Índice de Pobreza
16-17 de dezembro de 2001) Multidimensional complementa os mé-
todos baseados em valores monetários
A pobreza é um estado de privação, bem com uma abordagem mais ampla, subs-
como de vulnerabilidade. Consequen- tituindo o Índice de Pobreza Humana,
temente, as crescentes desigualdades e publicado desde 1997.
discriminação geradas, entre nações e • A partir de uma perspetiva de direitos
dentro das mesmas, violam os direitos humanos, o Alto Comissariado das Na-
dos pobres de viver em segurança e com ções Unidas para os Direitos Humanos vê
dignidade. a pobreza como uma “condição humana
B. DIREITO A NÃO VIVER NA POBREZA 115

caracterizada pela privação prolongada e frente, devemos agora tentar relacionar as


crónica de recursos, capacidades, escolhas, palavras incluídas na definição de pobre-
segurança e poder necessários para desfru- za (ex. justiça, vulnerabilidade, dignidade,
tar de um padrão de vida adequado e ou- segurança, oportunidades, etc.) com as
tros direitos civis, culturais, económicos e questões da vida real, o que ajudaria a ex-
sociais”. Nas Linhas Orientadoras Provi- plicar as diferentes dimensões da pobreza:
sórias: Uma Abordagem de Direitos Hu-
manos para Estratégias de Redução de Subsistência: negação do acesso à terra,
Pobreza, do Alto Comissariado das Na- florestas e água - é o caso, por exemplo, do
ções Unidas para os Direitos Humanos, de que sucede em áreas rurais quando as leis
setembro de 2002, a pobreza é encarada do Estado sobre as florestas, não permi-
como uma “forma extrema de privação”. tem aos povos indígenas colher alimentos
O Relatório sugere que apenas a falta das e pasto que por direito lhes pertence. No
capacidades consideradas como essen- contexto urbano, a cidade quer migrantes
ciais, segundo uma determinada ordem rurais para os seus trabalhos, mas não se
de prioridade, devem qualificar-se como responsabiliza pelas suas necessidades de
pobreza. Apesar de esta qualificação po- habitação, saúde e educação, empurran-
der diferir de uma sociedade para outra, do-os, ainda mais, para a vulnerabilidade
o conjunto comum de necessidades con- e insegurança. O racismo e a discrimina-
sideradas básicas na maioria das socieda- ção baseados na etnia têm sido também
des inclui a necessidade de ser adequada- fatores decisivos para negar o acesso de
mente nutrido, evitando uma morbidade comunidades e grupos a recursos naturais
e mortalidade prematura, estar adequada- vitais para a sua subsistência, e, portanto,
mente abrigado, ter educação básica, ser para o seu direito humano a viver em dig-
capaz de garantir a segurança pessoal, ter nidade.
acesso equitativo à justiça, ser capaz de
Direito ao Trabalho e Não Discri-
aparecer em público sem vergonha, ser
minação
capaz de garantir a sobrevivência e parti-
cipar na vida da comunidade.
Necessidades básicas: negação da alimenta-
ção, educação, uma vida saudável e habita-
Os debates sobre como elaborar índices
ção, por exemplo, a comercialização de água,
e medir a pobreza persistem, mas a com-
eletricidade e serviços escolares e hospitala-
plexidade da vida humana significa que a
res impelem os preços dos serviços essenciais
pobreza continuará sempre na procura de
para além do alcance dos pobres, forçando-os
uma definição. A vulnerabilidade e a pri-
a vender os seus escassos bens e a viver em
vação, sendo essencialmente subjetivas,
condições sub-humanas, o que, em última
não podem ser limitadas a um quadro rígi-
análise, lhes retira o direito de viver em dig-
do aplicável universalmente.
nidade.
Dimensões da Pobreza Direito à Saúde
O fenómeno da pobreza é entendido e Direito à Educação
articulado diferentemente, dependendo
do específico contexto económico, social, Justiça: negação da própria justiça ou
cultural e político. Dando um passo em de uma justiça atempada, por exemplo,
116 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

os pobres em muitos países não conse- frequentemente listada no registo eleito-


guem aceder ao sistema judicial devido ral e, portanto, não pode votar.
aos elevados custos que lhe estão asso-
ciados. Os jovens de bairros pobres e de Direito ao Asilo
minorias étnicas e religiosas são os pri- Direitos das Minorias
meiros suspeitos de crimes ou mulheres
que procuram intervenção da polícia em Dignidade Humana: negação do direito de
assuntos de violência doméstica são des- viver uma vida com respeito e dignidade,
consideradas sob o pretexto da questão por exemplo, em áreas rurais, grupos de
ser um assunto privado. Muitas vezes, castas étnicos e de outras minorias que
devido à pressão do Estado e de outras formam a grande parte dos sem terra ou
influências poderosas, os tribunais são proprietários marginais de terras são for-
vistos a retardar assuntos judiciais rela- çados a comprometer a sua dignidade para
cionados com indemnizações a trabalha- ganhar magros salários. As crianças, em
dores ou a reabilitação de pessoas des- vez de estarem na escola, são exploradas
locadas, o que põe em causa o sustento e forçadas a realizar trabalhos, como a re-
dos pobres. ciclagem de lixo, o curtume de pele ou a
agricultura.
Primado do Direito e Julgamento
Justo Direitos Humanos da Criança
Não Discriminação Direito ao Trabalho
Direitos Humanos das Mulheres
Grupos Vulneráveis à Pobreza
Organização: negação do direito a orga- Apesar de a pobreza ser um fenómeno
nizar, assumir poder e resistir à injustiça, largamente difundido e afetar pessoas por
por exemplo, a pobreza interfere com a li- todo o mundo, ela é particularmente grave
berdade dos trabalhadores de se organiza- para as mulheres, crianças e pessoas com
rem por melhores condições de trabalho. deficiência.
A feminização da pobreza tem-se torna-
Direito ao Trabalho do um problema significativo em países
com economias em transição devido ao
Participação: negação do direito de aumento da migração masculina, desem-
participar e influenciar as decisões que prego e devido à proliferação de econo-
afetam a vida, por exemplo, o aumen- mias familiares orientadas para a exporta-
to do conluio entre interesses políticos ção que são mal pagas pelo seu trabalho.
e empresariais usurpa o espaço dos ci- A maioria do trabalho feminino não é
dadãos para participarem efetivamente documentado e não é pago. As mulheres
em assuntos públicos, como o aprovi- são preferidas aos homens, como traba-
sionamento de serviços básicos. A falta lhadores, em muitos setores da economia
de instrução e de informação, devido à uma vez que são vistas como “força de
deslocação, nega aos refugiados o direi- trabalho obediente”. Em muitas comuni-
to de decidir o seu futuro. Devido à sua dades, as mulheres não possuem e não
natureza migratória, a maioria dos mem- têm controlo sobre a terra, água, proprie-
bros das comunidades Roma não está dade e outros recursos e enfrentam bar-
B. DIREITO A NÃO VIVER NA POBREZA 117

reiras sociais e culturais na realização dos percentagem muito pequena de adultos


seus direitos humanos. com deficiência tem trabalho remunerado.

Direitos Humanos das Mulheres Por que Persiste a Pobreza


Os governos dos países ocidentais alta-
A pobreza nega às crianças a oportuni- mente desenvolvidos que controlam a
dade de realizarem o seu potencial como governação da economia mundial estão
seres humanos e torna-as vulneráveis à satisfeitos por tolerar e manter estruturas
violência, tráfico, exploração e abuso. A comerciais e financeiras que concentram a
elevada mortalidade infantil é normalmen- riqueza no mundo industrializado, o que
te causada pela má nutrição; elevadas pro- exclui os países e pessoas mais pobres de
porções de crianças/adultos são uma cau- uma parte da prosperidade global, resul-
sa adicional para pobreza de rendimento. tando na desigualdade entre nações no
Com o rápido aumento da urbanização, o norte e sul. É interessante ver que, tanto
número de crianças que vivem nas ruas dentro dos países desenvolvidos, como
está a aumentar. De acordo com a UNICEF, nos países em vias de desenvolvimento,
em 2010, cerca de 68 milhões de crianças existe um fosso cada vez maior entre ricos
por todo o mundo, em idade de frequentar e pobres.
o ensino secundário, nunca foram à escola Os Programas de Ajustamento Estrutural
e são presas fáceis para diferentes formas (PAE) do Banco Mundial e os pacotes de
de exploração. Também se estima que 150 estabilidade do Fundo Monetário Interna-
milhões de crianças (com idades dos 5-14) cional chegaram com a promessa de gerar
sejam vítimas de trabalho infantil. Para mais oportunidades de emprego, rendi-
além disso, o aumento da comercialização mento, riqueza e desenvolvimento econó-
da educação e de serviços de saúde priva mico, integrando as economias nacionais
as crianças dos seus direitos constitucio- num sistema económico global. Os PAE
nais básicos em muitos países. que procuram erradicar a pobreza através
da disciplina fiscal, sem se direcionar às
Direitos Humanos da Criança desigualdades no sistema de distribuição,
podem intensificar a pobreza, uma vez
As pessoas com deficiência estão entre que os países gastam o dinheiro para sal-
as pessoas mais pobres nos países em de- dar dívidas, descurando, assim, as despe-
senvolvimento. A pobreza pode provocar sas com os serviços básicos como a saúde,
deficiência e pode também conduzir a de- a educação e a habitação.
ficiências secundárias, para as pessoas já Algumas tendências económicas, que po-
afetadas pela deficiência, como resultado dem ser descritas como “globalização
de condições de vida precárias, falta de co- neo-liberal”, colocam ênfase na produção
mida ou água e acesso limitado a cuidados para exportação e ignoram os direitos bá-
de saúde. O PNUD estima que existem 650 sicos das pessoas de satisfazerem as suas
milhões de pessoas com deficiência em próprias necessidades e de ganharem a
todo o mundo e que 80% vivem nos paí- vida com dignidade. O retrocesso do Es-
ses em desenvolvimento, frequentemente tado nas suas responsabilidades sociais de
em extrema pobreza e exclusão social. De saúde, educação, alimentação e habitação
acordo com estes números, apenas uma e a ausência de redes de segurança pre-
118 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

judica especificamente os pobres. A infla- de 2005, 800 milhões de pessoas continu-


ção, a contração de emprego e a erosão am sem acesso à instrução. Outra questão
dos salários reais trazidos pela liberaliza- a considerar continua a ser a promessa de
ção e privatização de bens também afetam combater a mortalidade infantil, um desa-
os pobres. fio sublinhado pelo Relatório de Desenvol-
O Relatório de Desenvolvimento Huma- vimento Humano de 2005 de acordo com
no, de 2010, do PNUD, indica que o rápido o qual, em 2002, a cada 3 segundos uma
crescimento económico nos países já ricos criança com menos de 5 anos morreu. O
da Europa Ocidental, América do Norte e Relatório de Mortalidade das Crianças mais
Oceânia, juntamente com o contínuo cres- recente (2010) estima que cerca de 8.1 mi-
cimento lento na África contribuíram para lhões de crianças com menos de cinco
o aumento da desigualdade global, na anos morreram em 2009 – ou seja, mais de
segunda metade do século XX. Mesmo em 22.000 crianças por dia. Mais há a fazer,
tempos de crise financeira, este fosso entre por exemplo, na luta contra o VIH/SIDA e
países desenvolvidos e países em desenvol- a política de negar e negligenciar o assunto
vimento tem vindo a aumentar. O país mais ou até de enfatizar estereótipos de alguns
rico de hoje, o Liechtenstein, é agora três dos países mais afetados certamente não
vezes mais rico do que o país mais rico em ajuda ao alcance dos Objetivos do Milénio
1970, os Estados Unidos da América. O país relevantes.
mais pobre do mundo, o Zimbabué, é agora
25% mais pobre do que o país mais pobre 3. PERSPETIVAS
em 1970 (também o Zimbabué). INTERCULTURAIS
Hoje, um quarto da população mundial E QUESTÕES CONTROVERSAS
vive em pobreza severa, confinado às mar-
gens da sociedade. De acordo com o Rela- Pobreza Relativa e Pobreza Absoluta
tório de Desenvolvimento Humano de 2010 A pobreza relativa indica que uma pes-
do PNUD, estima-se que 1.44 biliões de soa ou um grupo de pessoas é pobre em
pessoas sobrevivam com o equivalente a relação aos outros ou em relação com o
menos de 1,25 dólares por dia. Consequen- que é considerado ser um padrão justo de
temente, a análise dos desenvolvimentos vida/ nível de consumo numa sociedade
neste processo leva também a informação específica. A pobreza absoluta indica que
altamente alarmante, tal como a previsão as pessoas são pobres em relação ao que
de, no caso de se manterem as políticas
atuais, o objetivo de reduzir a mortalidade Devemos estar kms
eza.
infantil fracassar e o objetivo de garantir abaixo da linha da pobr
É por isso que
a educação primária não ser alcançado, a descida dos preços
deixando 47 milhões de crianças fora da não nos afeta

escola até 2015. Embora tenha havido pro-


gresso no que diz respeito ao acesso a água Taxa de
potável e ao fornecimento de vacinação Inflação
básica, alguns objetivos, como o alcance cai para
4,71%
da alfabetização, ainda necessitam de uma
implementação apropriada. De acordo com
o Relatório de Desenvolvimento Humano
B. DIREITO A NÃO VIVER NA POBREZA 119

é entendido como um padrão mínimo de distributivas de muitos governos é que são


necessidades. Um indivíduo que é catego- responsáveis pela alocação dos ganhos do
rizado como absolutamente pobre pelos desenvolvimento de uma forma justa. Do
padrões americanos, pode ser considerado mesmo modo, a noção de que os pobres
como relativamente pobre, por exemplo, são responsáveis pelo consumo de recur-
no contexto africano. sos naturais e pela degradação do ambien-
te é questionável, pois, efetivamente, são
Exclusão Social os ricos que têm níveis de consumo mais
A exclusão social é frequentemente usa- elevados que os pobres.
da com sinónimo de “pobreza relativa”,
mas os conceitos não são idênticos. A ex- x O desenvolvimento sustentável pode le-
clusão social pode conduzir à pobreza e, var à redução da pobreza?
ao mesmo tempo, pode ser o resultado da A pobreza impele os pobres a escolher
pobreza. formas de vida insustentáveis. A falta de
saneamento e de sistemas de eliminação,
Questões para debate por exemplo, assim como a falta de com-
x Uma maior população traduz-se auto- bustível, pode levar a que os pobres recor-
maticamente em mais pobreza? ram a práticas que contribuem para a de-
Geralmente, acredita-se que o elevado gradação ambiental. Apenas se os países
crescimento populacional em países me- desenvolvidos aceitarem respeitar os com-
nos desenvolvidos ou em vias de desen- promissos que têm assumido para com o
volvimento é responsável pelo estado de mundo como a redução das emissões de
pobreza generalizado nessas nações. Este gases responsáveis pelo efeito de estufa,
argumento é usado pelos respetivos go- a implementação de normas sobre efici-
vernos do Sul e do Norte para desviar a ência energética e o pagamento de taxas
atenção das questões centrais que são as de transação pelo movimento de capital
causas que estão na base da pobreza nes- além-fronteiras, é que o desenvolvimento
sas regiões. Essas questões são a extração sustentável pode ser alcançado, resultan-
e a exploração contínua de recursos natu- do numa redução substancial da pobreza.
rais pelos interesses comerciais dos países
desenvolvidos, resultando na usurpação x É possível financiar a erradicação da po-
dos direitos das comunidades sobre os re- breza?
cursos; a falta de alocação de fundos para Sim, é possível. O custo adicional de al-
serviços básicos como educação, saúde e cançar serviços sociais básicos para todos,
água, cujo fornecimento poderia reduzir nos países em desenvolvimento, está esti-
substancialmente as taxas de mortalidade mado em 40 biliões de dólares americanos
e de doença das mulheres e crianças; e o por ano, o que é aproximadamente 5.6%
aumento dos conflitos e guerras pelo con- do orçamento de defesa americano, para
trolo de acesso a recursos, causando insta- 2012. A maioria destes recursos pode tam-
bilidade política, social e económica. bém resultar da reestruturação da despesa
O argumento de que um grande núme- dos governos nacionais, bancos multilate-
ro de pessoas pobres impede o caminho rais (Banco Mundial, Banco de Desenvol-
do progresso de uma nação não é válido, vimento Asiático e outros) e outras agên-
uma vez que, na verdade, as políticas re- cias de ajuda humanitária.
120 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

Financiar a erradicação da pobreza seria Objetivo 3: Promover a igualdade do


mais fácil se as instituições internacionais género e empoderar as mu-
como o Banco Mundial, o Fundo Monetá- lheres
rio Internacional e os governos dos países
da OCDE decidissem realmente perdoar as Objetivo 4: Reduzir a mortalidade infantil
dívidas existentes relativas a compromissos Objetivo 5: Melhorar a saúde materna
concretos dos governos, de modo a canali- Objetivo 6: Combater o VIH/SIDA, a
zar fundos para a erradicação da pobreza, malária e outras doenças
baseados nos requerimentos sociais locais.
Objetivo 7: Assegurar a sustentabilidade
Os custos estimados seriam ainda mais re-
ambiental
duzidos se os Estados respetivos decidis-
sem empreender reformas radicais na área Objetivo 8: Desenvolver uma parceria
da redistribuição da riqueza e de recursos e global para o desenvolvi-
se decidissem dar prioridade a despesas de mento
desenvolvimento relativamente a despesas
de defesa. A globalização e as suas controversas im-
plicações estão a gerar novas formas de
4. IMPLEMENTAÇÃO pobreza. Além disso, estas novas formas
E MONITORIZAÇÃO são manifestadas em sociedades que estão
em níveis diferentes de desenvolvimento
Durante a sessão da Cimeira do Milénio das sociopolítico e económico, englobando
Nações Unidas, em 2000, chefes de Estado pessoas de diferentes credos, crenças e
e de governo reconheceram a sua responsa- culturas. Por exemplo, o impacto da glo-
bilidade coletiva para garantir os princípios balização em África é bem diferente do
de dignidade humana, igualdade e equida- impacto na Índia, devido, principalmente,
de a nível global. Aqueles estabeleceram às diferentes condições sociopolíticas e
oito objetivos para o desenvolvimento e económicas em África, quando compara-
erradicação da pobreza, a serem atingi- das com as da Índia. Estas diferenças en-
dos até 2015. Isto inclui: erradicar a pobre- tre culturas e regiões geográficas tiveram
za extrema e a fome, alcançar a educação também um impacto na forma como as
primária universal, promover igualdade de pessoas têm compreendido as ameaças
género e o empoderamento das mulheres, emergentes do empobrecimento e de mar-
reduzir a mortalidade infantil, melhorar a ginalização social. Portanto, a questão crí-
saúde materna, garantir a sustentabilidade tica é continuar a desenvolver o quadro
ambiental e desenvolver uma parceria glo- que monitoriza estas diferentes formas
bal para o desenvolvimento. de pobreza aos níveis global e local e tam-
bém capacitar as pessoas para que forta-
Os Objetivos de Desenvolvimento do leçam a sua resistência e lutem contra as
Milénio das Nações Unidas forças exploradoras.
Objetivo 1: Erradicar a pobreza extrema Depois da segunda Guerra Mundial, a Car-
e a fome ta das Nações Unidas e a Declaração Uni-
versal dos Direitos Humanos tentaram
Objetivo 2: Alcançar a educação primá- fornecer o quadro moral para construir um
ria universal novo sistema de direitos e obrigações, co-
B. DIREITO A NÃO VIVER NA POBREZA 121

locando um grande destaque na proteção agências da ONU e outros, conseguindo,


da dignidade humana, paz e segurança deste modo, melhorar a situação dos direi-
humana para todas as pessoas. tos humanos, incluindo a diminuição da
É a abordagem holística dos direitos hu- pobreza.
manos que permite responder à natureza As observações finais sobre os Relatórios
multidimensional da pobreza. Esta abor- dos vários Estados Partes, pelo Comité dos
dagem vai para além da caridade, reco- Direitos Económicos, Sociais e Culturais,
nhecendo que o direito a não viver na po- mostram que a falta de clareza quanto ao
breza só é possível quando os pobres são estatuto do PIDESC no ordenamento jurí-
empoderados através da educação para dico interno, a falta de cumprimento da
os direitos humanos. Afirma que os po- legislação baseada em compromissos in-
bres têm direitos e que os atores estatais ternacionais de direitos humanos e a falta
e não estatais têm de cumprir obrigações de informação sobre aquele instrumento
jurídicas. Uma vez que os Estados indivi- do tratado são fatores impeditivos. Os re-
duais têm a principal responsabilidade de latórios observam que o peso da dívida, a
realização dos direitos humanos dos seus ausência de dados desagregados, a corrup-
cidadãos, outros atores estatais e não esta- ção generalizada nas autoridades do esta-
tais também têm a obrigação de contribuir do, os regimes militares que deterioram a
e apoiar este processo. Isto é de extrema justiça e as enraizadas influências religio-
importância para estabelecer sistemas sas conservadoras impondo discriminação
equitativos, justos e não protecionistas de se colocam no caminho da implementação
comércio multilateral, um adequado nível de estratégias de redução da pobreza.
de assistência financeira e para garantir Apesar de o número de países que ratifi-
que os pobres tenham uma participação caram o PIDCP e o PIDESC ter aumenta-
no processo de desenvolvimento neste do drasticamente, desde 1990, existe um
mundo globalizado. hiato significativo entre os compromissos,
Estes valores têm expressão em declara- as intenções políticas e a implementa-
ções políticas, tais como a Declaração do ção real. A falta de vontade política dos
Rio, a Agenda 21, a Declaração de Cope- governos, os compromissos conflituantes
nhaga, a Plataforma de Ação de Pequim assumidos nas plataformas internacionais
e a Agenda Habitat, concebidas pelos Es- como a OMC (ex. o Acordo TRIPS que
tados como um sistema internacional de pode resultar no aumento de custos de
desenvolvimento destinado a erradicar a medicamentos para satisfazer a ambição
pobreza e a criar requisitos indispensáveis corporativa e, assim, negar aos indivíduos
para o desenvolvimento sustentável. os seus direitos básicos a uma vida com
saúde e em dignidade) e distribuição ina-
Órgãos dos Tratados dequada de recursos para cumprir vários
Encarregados de Monitorizar compromissos são ameaças consideráveis.
a Pobreza
Os organismos de monitorização exami- Relatores Especiais
nam periodicamente os relatórios dos Esta- e Peritos Independentes
dos em intervalos regulares, podem aceitar A Comissão de Direitos Humanos das
queixas e fazer observações e recomenda- Nações Unidas (que foi substituída pelo
ções aos Estados, instituições financeiras, Conselho de Direitos Humanos, em 2006)
122 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

nomeou dois Peritos Independentes – um dial para 2003, por si só, cobriria o custo
tem o mandato de relatar, a um grupo de de construção de todas as escolas de que
trabalho especial, sobre a implementa- a África precisa para os jovens desde os
ção do direito ao desenvolvimento (Res. 0 até aos 18 anos e para pagar os seus
1998/72), enquanto o outro tem a respon- professores durante 15 anos”. No seu Re-
sabilidade de investigar e fazer recomen- latório de 2010, a Perita Independente
dações relativas ao efeito que a pobreza Magdalena Sepúlveda Carmona apresen-
extrema tem nos direitos humanos (Res. tou as suas recomendações sobre como
1998/25). O Perito Independente sobre melhorar o esboço de diretrizes sobre
Direitos Humanos e Pobreza Extrema extrema pobreza e direitos humanos, ori-
avalia as medidas tomadas ao nível na- ginariamente redigidos pela Subcomissão
cional e internacional para promover o para a Promoção e Proteção dos Direitos
pleno gozo dos direitos humanos pelas Humanos, em 2006.
pessoas que vivem em pobreza extrema,
examina os obstáculos encontrados e o Desenvolvimento e Erradicação da Po-
progresso feito pelas mulheres e homens breza
que vivem em pobreza extrema e apre- Objetivo: Reduzir para metade, até ao
senta também recomendações e propos- ano de 2015, a proporção da população
tas no âmbito da assistência técnica e mundial cujo rendimento é menor do
outras áreas para a redução e eventual que um dólar por dia e a proporção das
eliminação da pobreza. pessoas que passam fome.
No seu Relatório, de 2001, para a Comis-
são de Direitos Humanos, a Perita Inde- Estratégias de futuro:
pendente apresentou conclusões impor- Pobreza de rendimento
tantes sobre como a situação dos pobres - Assegurar o apoio a iniciativas econó-
pode ser alterada. Para cumprir estes re- micas e sociais promovidas pelos pa-
quisitos, a educação em direitos humanos íses que dão primazia à redução da
é necessária para empoderar os pobres pobreza;
e ajudá-los a modificar o seu destino.
- Reforçar a capacidade de prestar servi-
O processo de educação para os direitos
ços sociais básicos;
humanos promove e desenvolve a análise
crítica de todas as circunstâncias e reali- - Apoiar a capacitação para a avaliação,
dades com que os pobres são confronta- monitorização e o planeamento relati-
dos. Este processo fornece conhecimento, vamente à pobreza.
competências e capacidades adequados Fome
para lidar com as forças que os mantêm - Fazer um balanço das ações realizadas
pobres. Possibilita a estruturação de or- desde a Cimeira Mundial sobre a Ali-
ganizações e a criação de redes de auto- mentação de 1996 e propor novos pla-
ajuda de modo a que possam reclamar e nos, a nível nacional e internacional,
lutar pela realização progressiva de todos para alcançar os objetivos relacionados
os direitos humanos e erradiquem com- com a fome;
pletamente a pobreza. No seu Relatório
de 2004, a Perita Independente assinalou - Assegurar que o comércio de alimen-
que “o total do orçamento militar mun- tos e de produtos agrícolas, bem como
B. DIREITO A NÃO VIVER NA POBREZA 123

as políticas gerais de comércio condu- mais os progressos em certas áreas ou até


zam ao fomento da segurança alimen- contrariar os sucessos já alcançados.
tícia para todos através de um sistema O impacto mais grave das alterações climá-
mundial de trocas equitativo e justo; ticas está a ser sentido pelas populações
vulneráveis que menos contribuíram para
- Continuar a dar prioridade aos peque- o problema. O risco de morte ou incapaci-
nos agricultores e apoiar os seus es- dade e as perdas económicas em resultado
forços na promoção da sensibilização de desastres naturais estão a aumentar glo-
ambiental e das tecnologias simples e balmente e concentram-se nos países mais
de baixo custo. pobres. Os conflitos armados permanecem
(Fonte: Assembleia-Geral da Organiza- uma enorme ameaça à segurança humana
ção das Nações Unidas. 2001. Plano para e dificultam os ganhos dos Objetivos de
a Execução da Declaração do Milénio Desenvolvimento do Milénio. Largas popu-
das Nações Unidas. lações de refugiados permanecem em cam-
pos com oportunidades limitadas de me-
Os progressos na redução da pobreza ain- lhorar as suas vidas. Em 2009, 42 milhões
da estão em curso apesar de recuos sig- de pessoas tinham sido deslocadas devido
nificativos devido à retração económica a conflitos ou perseguições, quatro quintos
de 2008-2009, ainda a decorrer, e às cri- em países em desenvolvimento.
ses energética e na alimentação. O mundo A igualdade de género e o empoderamento
em desenvolvimento, como um todo, con- das mulheres estão no âmago dos ODM e
tinua no trilho para atingir o objetivo da são requisitos para ultrapassar a pobreza,
redução da pobreza até 2015. Apesar de fome e doença. Porém, o progresso tem
alguns progressos, estes têm-se feito sentir sido muito lento em todas as frentes – da
de forma desigual. Sem um maior impul- educação ao acesso à tomada de decisões
so, muitos dos Objetivos de Desenvolvi- políticas.
mento do Milénio não serão provavelmen- (Fonte: Relatório dos Objetivos de Desen-
te alcançados em muitas regiões. Antigos volvimento do Milénio. Nações Unidas.
e novos desafios ameaçam atrasar ainda 2010.)

CONVÉM SABER

Existe um consenso emergente baseado pelos pobres, instrução e educação, saúde,


nos movimentos civis e no trabalho de- habitação e nutrição. Oferecer gado bovi-
senvolvido por ONG e agências de ajuda no híbrido (cruzado) em vez de terras aos
humanitária que, para o desenvolvimento sem terra, empréstimos exclusivos para a
alcançar os pobres, têm de ser dados al- compra de terras para a agricultura sem
guns passos fundamentais no que respeita abordar outras necessidades relativas a
a reformas agrárias, propriedade e contro- infraestruturas numa situação onde as
lo dos meios de subsistência e recursos culturas estão dependentes de irrigação,
124 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

fornecer escolas flexíveis para crianças de todas as formas de discriminação


trabalhadoras em vez de garantir a sua to- contra as mulheres bem como do racis-
tal comparência na escola são abordagens mo e discriminação com base no esta-
que não resultaram. Estas apenas perpe- tuto étnico, social, etc.
tuaram a pobreza. As principais questões
são a vontade política e a redistribuição. - Maiores despesas com educação, saú-
A efetiva erradicação de pobreza é bem de, habitação, água, saneamento e ali-
sucedida quando acontece ao nível local mentos acessíveis reduzem a pobreza.
e descentralizado. Apenas quando os po- - O Estado e as suas agências têm um
bres participam como sujeito e não como papel relevante na redução da pobre-
objeto do processo de desenvolvimento, se za, especialmente, na era da globali-
torna possível gerar desenvolvimento hu- zação.
mano equitativo. - Uma maior prestação de contas das
instituições de desenvolvimento e fi-
Lições comuns e específicas aprendi- nanceiras, internacionais e nacionais,
das no âmbito de experiências locais, asseguraria um crescimento económico
nacionais e internacionais a nível da justo e equitativo.
redução da pobreza:
- Muitos dos países do mundo não se
- A pobreza é uma questão social, cultu- encontram em posição para erradicar,
ral e política tanto quanto é económica. imediatamente, a pobreza. Os seus es-
- O empoderamento político e económi- forços precisam de ser apoiados e com-
co dos pobres é o meio para erradica- plementados pela assistência e coope-
ção da pobreza. ração internacionais.
- O direito à informação e a educação - O perdão das dívidas tem uma rela-
para os direitos humanos possibilitam, ção direta com a redução da pobreza.
aos que são marginalizados, a tomada Se o perdão das dívidas se associasse
de consciência sobre os seus direitos a investimentos em educação, saúde e
humanos, o que pode levá-los a agir. noutros setores, tal contribuiria para a
- Estabelecer organizações de pesso- redução da pobreza.
as incentiva a sua força coletiva, pela - A guerra e os conflitos aumentam a
qual poderão reclamar os seus direitos pobreza. Os esforços para erradicar a
humanos. Através do seu empodera- pobreza estão condenados a falhar se
mento, os pobres podem afirmar o seu não forem asseguradas condições reais
direito aos recursos e melhorar o seu para a paz e a segurança.
respeito próprio e dignidade.
- Assegurar trabalho com salários sufi-
cientes para viver e o acesso a recursos 1. BOAS PRÁTICAS
para a subsistência permanecem a cha-
ve para a redução da pobreza. Os Pobres são Financiáveis
O Banco Grameen, no Bangladesh, começou
- A redução da pobreza deve ser acom- como uma sociedade de crédito de uma pe-
panhada da redução de desigualdades. quena aldeia, em Jobra, em 1976. Em 2009,
Deve ser dada prioridade à eliminação já tinha alcançado 7.9 milhões de mutuários,
B. DIREITO A NÃO VIVER NA POBREZA 125

97% dos quais eram mulheres. Com 2.562 às suas famílias. A organização trabalha
agências, fornece serviços em mais de 83.000 para despertar as pessoas para a possi-
aldeias. O Banco Grameen procura mobilizar bilidade e para a sua própria capacidade
os pobres e fazê-los avançar principalmen- de conseguir mudanças sociais através da
te através da acumulação de capital local e pesquisa, análise, educação e promoção,
criação de ativos. Os seus fins são alargar as de modo a acabar com mitos e a expor as
facilidades bancárias aos homens e mulheres causas, identificar obstáculos à mudança e
pobres no Bangladesh rural, eliminar a explo- formas de removê-los, avaliar e publicitar
ração dos “emprestadores de dinheiro”, lan- alternativas bem-sucedidas e promissoras.
çar oportunidades de criação de próprio em-
prego para recursos humanos não utilizados Justiça Económica
e subutilizados, organizar as pessoas desfa- A Freedom from Debt Coalition (FDC),
vorecidas de modo a que elas compreendam sediada nas Filipinas, trabalha para o de-
e garantam um desenvolvimento sócioeconó- senvolvimento humano e concentra-se na
mico independente, através de apoio mútuo. equidade (incluindo igualdade de género),
Por se centrar naqueles que são conside- direitos económicos e justiça, crescimento
rados como os maiores riscos do crédito, equitativo e sustentável, em exercer pres-
o banco estabeleceu o facto de que os po- são sobre os governos para que cumpram o
bres são dignos de crédito. O banco abor- seu papel e lutar por relações económicas
da o duplo fardo do género e da pobreza globais benéficas entre as nações. A FDC
com os quais são confrontadas as mulheres apoia a campanha global para cancelar as
pobres. O Banco Grameen tem sido capaz dívidas dos países mais pobres do mundo.
de iniciar mudanças significativas nos pa- A Coligação tem considerado várias outras
drões da propriedade dos meios de produ- questões incluindo segurança alimentar,
ção e nas condições de produção em áreas despesa pública e o impacto das políticas
rurais. Estas mudanças são significativas, económicas sobre as mulheres. O seu tra-
não apenas porque foram capazes de co- balho de defesa integra tarefas conside-
locar os pobres acima da linha da pobreza, ráveis na educação popular e informação
mas também porque com apoios adequa- pública, mobilização de massas, investiga-
dos possibilitaram o florescimento da cria- ção e análise de políticas, construção de
tividade nas aldeias. O processo do Banco alianças e de redes ao nível regional.
Grameen tem sido experimentado também
em outros países vizinhos. 90% do Banco Acordo de Cotonu
pertence aos pobres, 10% ao governo. O Acordo de Cotonu é o acordo de parce-
ria mais completo entre os países em de-
Direito a Viver Sem Fome senvolvimento e a União Europeia. Desde
A Food First, sediada na Califórnia, nos 2000 que tem sido o quadro para as rela-
Estados Unidos da América, está empe- ções da UE com 79 países da África, Ca-
nhada em eliminar as injustiças que cau- raíbas e do Pacífico (ACP). O Artº 54º do
sam a fome. Esta organização acredita que Acordo aborda exclusivamente a questão
todas as pessoas têm o direito básico de se da segurança alimentar e, assim, reconhe-
alimentarem e que devem ter um controlo ce o papel importante que ela tem na ga-
democrático real sobre os recursos neces- rantia da segurança humana e bem-estar
sários para se sustentarem a si mesmos e humano. O Acordo também demonstra a
126 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

evolução de linhas prioritárias nas atuais nizações membros, nacionais e internacio-


políticas de assistência ao desenvolvi- nais, visando promover o bem-estar, o de-
mento da UE em relação à melhoria da senvolvimento e a justiça sociais. O objetivo
segurança humana. A primeira revisão ao principal do ICSW é o de promover formas
Acordo de Cotonu teve lugar em 2005 e de desenvolvimento económico e social, vi-
preparou terreno para o quadro financeiro sando a redução da pobreza, dificuldades e
de assistência para o desenvolvimento de vulnerabilidade em todo o mundo, especial-
2007-2013. As negociações para uma se- mente entre as pessoas menos favorecidas.
gunda revisão foram concluídas em 2010. Pretende o reconhecimento e proteção dos
A cerimónia de assinatura oficial teve lu- direitos fundamentais à alimentação, abrigo,
gar em Ouagadougou, no Burkina Faso, educação, cuidados de saúde e segurança.
em 23 de junho de 2010. Pretende também a promoção da igualdade
de oportunidades, liberdade de expressão
Rede Europeia Anti-Pobreza e acesso aos serviços sociais. Visa a imple-
A Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN, na mentação das suas propostas pelos gover-
sigla inglesa) é uma rede independente, es- nos, organizações internacionais, agências
tabelecida em 1990, de organizações não não governamentais e outros. Trabalha em
governamentais (ONG) e grupos envolvidos cooperação com a sua rede de membros e
na luta contra a pobreza e exclusão social com um leque abrangente de outras organi-
nos Estados-membros da União Europeia. zações, a um nível local, nacional e inter-
A EAPN é, atualmente, uma rede de 26 re- nacional. A Conferência Global do ICSW
des nacionais de organizações voluntárias e realiza-se a cada dois anos e debruça-se so-
23 organizações europeias. Os membros da bre uma panóplia variada de questões de de-
EAPN encontram-se envolvidos em diversas senvolvimento social e de bem-estar social
atividades que visam o combate à pobreza (realizou-se recentemente em França, em
e exclusão social, incluindo atividades de 2008, e em Hong Kong, em 2010). Todos os
educação e formação, prestação de servi- anos, realiza-se um Fórum Global da Socie-
ços e atividades que visam a participação dade Civil, em Nova Iorque, imediatamente
e empoderamento das pessoas em situação antes da reunião da Comissão da ONU para
de pobreza e exclusão social. Os membros o Desenvolvimento Social. É dirigido por es-
da EAPN visam a colocação da luta contra a pecialistas de renome governamentais e da
pobreza como uma prioridade na agenda da sociedade civil de todo o mundo.
UE e assegurar a cooperação ao nível da UE,
com o escopo da erradicação da pobreza e O Programa Alimentar Mundial das Na-
exclusão social. Além disso, a EAPN tem um ções Unidas
estatuto consultivo junto do Conselho da O Programa Alimentar Mundial das Nações
Europa e é membro fundador da Plataforma Unidas é a agência da ONU que tem o es-
das ONG Sociais Europeias. copo de combater a fome no mundo. Por
exemplo, em 2010 deu assistência a mais
Conselho Internacional de Bem-Estar Social de 109 milhões de pessoas em 75 países.
O Conselho Internacional de Bem-Estar Esta teve lugar sob forma de ajuda de emer-
Social (ICSW, na sigla inglesa) é uma or- gência e através de outros programas, por
ganização não governamental mundial que exemplo, através da ajuda às comunidades
representa um leque abrangente de orga- para construírem melhores futuros após o
B. DIREITO A NÃO VIVER NA POBREZA 127

término da ajuda imediata, antes do início Ainda pior, outros 65 países não irão alcan-
das soluções a longo prazo. O objetivo é çar nem um Objetivo de Desenvolvimento
ajudar as pessoas que sofrem de fome, cer- do Milénio antes de 2040. Isto afeta, pri-
ca de 925 milhões, em 2010. meiramente, mas não exclusivamente, os
seus 1.2 biliões de habitantes.
2. TENDÊNCIAS (Fonte: PNUD. 2005. Relatório do Desen-
volvimento Humano. 2005.)
Progresso relativamente aos Objetivos
O Índice de Desenvolvimento Humano
de Desenvolvimento do Milénio – Esta-
(IDH) médio do mundo aumentou 18%
rão os países no trilho?
desde 1990, refletindo grandes melhorias
Muitos países fizeram progressos signifi-
agregadas na esperança de vida, escolari-
cativos, mas outros, geralmente os países
zação, alfabetização e rendimento. Quase
mais pobres, parecem ter dificuldades em
todos os países beneficiaram deste pro-
alcançar os objetivos. A análise de quatro
gresso. Com base nos dados de 1970-2010,
dos oito objetivos do milénio – mortalida-
dos 135 países que juntos representam
de infantil, inscrições escolares, paridade
92% da população mundial, apenas três
de género na educação, assim como o
(República Democrática do Congo, Zâm-
acesso a água e saneamento – conduzi-
bia e Zimbabué) têm hoje um IDH infe-
ram às seguintes conclusões do Relatório
rior do que em 1970. De uma forma ge-
de Desenvolvimento da ONU de 2005: 50
ral, os países pobres estão a aproximar-se
países, 24 dos quais estão na África Subsa-
dos países ricos. Esta convergência pinta
ariana, com uma população de, pelo me-
um quadro bastante mais otimista do que
nos, 900 milhões, retrocederam em vez de
uma perspetiva limitada às tendências dos
avançarem em relação a pelo menos um
rendimentos, onde a divergência persiste.
Objetivo de Desenvolvimento do Milénio.
Mas nem todos os países têm conhecido
um progresso rápido; aqueles que experi-
mentam o progresso mais lento são países
na África Subsaariana, atingidos pela epi-
demia de VIH, e os países da antiga União
Soviética, onde a mortalidade adulta au-
mentou.
(Fonte: PNUD. 2010. Relatório do Desen-
volvimento Humano. 2010.)

Iniciativa Europa 2020


A União Europeia estabeleceu, em termos
concretos, cinco objetivos ambiciosos,
respeitantes ao emprego, inovação, edu-
cação, inclusão social e clima/energia, a
serem alcançados até 2020. Através destes
pretende-se, em especial, reduzir a taxa
de abandono escolar precoce dos atuais
15% para os 10%, aumentar a parcela da
população com idades entre os 30-34 que
128 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

tenha finalizado o ensino superior de 31%


1988 Protocolo Adicional de São Salva-
para, pelo menos, 40% e reduzir em 25%
dor sobre os Direitos Económicos,
o número de europeus a viverem abaixo
Sociais e Culturais à Convenção
do limiar de pobreza nacional, retirando
Americana sobre Direitos Huma-
20 milhões de pessoas da pobreza. Cada
nos (15 ratificações até abril de
Estado-membro irá adotar as suas próprias
2012)
metas, em cada uma dessas áreas. A es-
tratégia irá concretizar-se através de ações 1989 Convenção sobre os Direitos da
concretas da UE e ao nível nacional. Criança, Artº 27º (193 ratificações
até abril de 2012)
3. CRONOLOGIA 1992 Dia Internacional para a Erradi-
cação da Pobreza, em 17 de ou-
Direito a Não Viver na Pobreza – prin- tubro, oficialmente reconhecido
cipais disposições e atividades pelas Nações Unidas. A primeira
1948 Declaração Universal dos Direi- comemoração teve lugar em Paris,
tos Humanos (Artos 22º, 23º, 25º, em 1987.
26º). 1996 Revisão da Carta Social Europeia
1961 Carta Social Europeia (13 ratifica- [a substituir, gradualmente, o Tra-
ções até abril de 2012) tado inicial de 1961 (30 ratificações
até abril de 2012)]
1965 Convenção sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação 1998 Nomeação de Perito Independente
Racial, Artº 5º (174 ratificações até sobre os Direitos Humanos e a Po-
abril de 2012) breza Extrema
1966 Pacto Internacional sobre os Di- 2000 Adoção dos Objetivos de Desenvol-
reitos Económicos, Sociais e Cul- vimento do Milénio pela Assem-
turais, Artos 6º, 7º, 9º, 11º, 12º, bleia-Geral da ONU
13º (160 ratificações até abril de 2005 Documento resultante da Cimeira
2012) Mundial reitera o compromisso re-
1979 Convenção sobre a Eliminação de lativo aos Objetivos de Desenvolvi-
Todas as Formas de Discriminação mento do Milénio e à erradicação
contra as Mulheres, Artos 10º, 11º, da pobreza (UN Doc. A/RES/60/1,
12º,13º,14º (186 ratificações até §17, 19, 47)
abril de 2012) 2010 Cimeira de Revisão de 2010 dos
1981 Carta Africana dos Direitos Hu- Objetivos de Desenvolvimento do
manos e dos Povos, Artos 14º-17º, Milénio: adoção de um plano de
20º-22º (53 ratificações até abril de ação global para atingir os ODM
2012) até 2015
B. DIREITO A NÃO VIVER NA POBREZA 129

ATIVIDADES SELECIONADAS

ATIVIDADE I: “O MUNDO tar as instruções nas suas fichas de traba-


NUMA ALDEIA” lho enquanto são lidas:
I. Pedir aos participantes que imaginem
Parte I: Introdução que o mundo inteiro (7 biliões) encolheu
O exercício aborda a desigualdade e a pri- para uma aldeia constituída por apenas 10
vação enfrentadas pelos pobres, no con- aldeões.
texto dos instrumentos internacionais de 1. Na primeira fila, desenhar um círculo
direitos humanos. à volta da figura que o/a representa na
linha das pessoas que vai desde a mais
Parte II: Informação Geral sobre a Ati- rica do mundo (a primeira figura) até à
vidade mais pobre (a décima).
Tipo de atividade: Exercício 2. 50% da população do mundo (5 dos al-
Metas e objetivos: Sensibilizar os par- deões) seria mal nutrida, com fome ou
ticipantes sobre a questão da desigual- faminta. Riscar as últimas 5 tigelas da
dade na distribuição global de riqueza e segunda fila.
recursos. O exercício ajuda os jovens a 3. Oito dos aldeões estariam a viver numa
refletir sobre o seu próprio estatuto em casa com condições precárias (80% da
relação à pobreza e a realização dos seus população mundial). Isto inclui os margi-
direitos humanos. Dá-lhes a oportunida- nalizados, os sem-abrigo, os deslocados e
de de entender a necessidade urgente de os refugiados. Retirar as últimas oito casas.
alterar as desigualdades e as injustiças 4. Sete seriam incapazes de ler, isto é, 70% de
sentidas pelos pobres e de estabelecer toda a população no mundo não sabe ler.
prioridades de forma a garantir o desen- Colocar uma impressão digital do polegar,
volvimento de todos. nos últimos sete livros na quarta fila.
Grupo-alvo: Crianças e jovens 5. Uma pessoa teria 60% da riqueza to-
Dimensão do grupo: 20-25 tal no mundo, o que deixaria os outros
Duração: 90 minutos nove a partilhar os restantes 40%. Ris-
Preparação: fazer cópias suficientes de fo- car as primeiras seis pilhas de dinheiro
lhas de atividades para o número de pes- na quinta linha e marcar a primeira pes-
soas que participam no exercício. soa na linha com um grande 6.
Material: fotocópias da ficha de trabalho 6. Apenas um por cento da população
(infra), lápis de cor/ marcadores. mundial possui um computador (um
Competências envolvidas: capacidades décimo dos primeiros computadores
analíticas, de reflexão e de debate. nessa escala). Na sexta linha, pintar a
vermelho o nariz do primeiro homem
Parte III: Informação Específica sobre a ao computador.
Atividade 7. Apenas um por cento da população
Descrição da atividade/Instruções: mundial tem acesso a educação supe-
Distribuir as fichas de trabalho aos partici- rior. Desenhar um círculo à volta de
pantes. Depois, pedir-lhes para implemen- uma fita de graduação na sétima linha
130 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

para representar apenas um décimo IV. Comentários:


desse desenho. O grupo é encorajado a debater o que sente
8. Olhar para a ficha de novo e ver se é sobre as várias estatísticas que lhe foram
preciso rever a sua própria classifica- apresentadas. O exercício pode explorar:
ção. Desenhar dois círculos em volta da x As contradições que a informação evi-
nova classificação. dencia.
II. Pedir aos participantes para ouvir es- x Se a sua própria realidade é igual ou di-
tas afirmações: ferente das estatísticas.
x Se tiver comida para a próxima refeição x A relação destes dados com a realização
em casa, roupa, um teto sobre a sua ca- e/ou violação dos vários direitos huma-
beça e um lugar para dormir, está entre nos em relação à pobreza.
as primeiras três pessoas mais ricas. x Os objetivos e prioridades que eles gos-
x E se tem (ou os seus pais, no caso de tariam de estabelecer para o desenvolvi-
ser menor de idade) dinheiro no banco, mento e porquê.
algum dinheiro na sua carteira e alguns Sugestões práticas: enquanto os partici-
trocos perdidos na máquina em casa, pantes estão a fazer o exercício individual-
então está qualificado para representar mente, encorajá-los a partilhar o seu ponto
a pessoa mais rica na nossa escala. de vista com os outros. O papel do forma-
III. Dar a estatística mais recente sobre dor é fornecer dados e facilitar o debate.
educação, saúde, água, saneamento e des-
pesas militares, etc., do mais recente Re- Parte IV: Acompanhamento
latório de Desenvolvimento Humano do Os participantes podem ser encorajados
PNUD e/ou do Relatório do Desenvolvi- a fazer um plano de atividades que vise
mento do Mundo do Banco Mundial, para a educação para os direitos humanos,
um país ou grupo de países, dependendo baseado na atividade supra, com o intuito
do perfil dos participantes. de sensibilizar os seus pares.

(Fonte: adaptado de Abhivyakti – Media for Development.


Disponível em: www.abhivyakti.org.in)
B. DIREITO A NÃO VIVER NA POBREZA 131

ATIVIDADE II: Parte III: Informação Específica sobre a


CAMPANHA DE AÇÃO Atividade
Instruções:
Parte I: Introdução Começar por ler, em voz alta, algumas das
A natureza difundida da pobreza pode citações selecionadas que refletem as vo-
parecer avassaladora e as pessoas podem zes dos pobres de diferentes situações.
sentir que não têm qualquer papel na sua Encorajar os participantes a mencionar os
erradicação. Esta atividade desenvolve indivíduos/grupos/comunidades do seu
uma campanha de ação sobre uma ques- contexto que vivem em absoluta ou rela-
tão local relacionada com a pobreza. tiva pobreza ou que enfrentam a exclusão
social. Através do consenso, deixar os
Parte II: Informação Geral grupos identificar os casos que eles gosta-
Tipo de atividade: ação criativa riam de prosseguir neste exercício. Dividir
Metas e objetivos: Consciencialização e os participantes em pequenos grupos de
sensibilização para a pobreza no contexto modo a que cada um fique com 4-5 ele-
imediato dos participantes; desenvolver as mentos.
conexões entre as manifestações imedia- O/a voluntário/a que relata o caso da
tas e as causas da pobreza no seu todo; situação de pobreza concreta fica com o
identificar as ações - o que podem os par- papel de um dos pobres, enquanto outros
ticipantes fazer em relação a uma situação membros do grupo procuram falar com
particular de pobreza. ele/ela, explorando assim várias dimen-
Grupo-alvo: Adultos/ jovens adultos sões (sociais, políticas, económicas, cultu-
Dimensão do grupo: 20 pessoas ou menos, rais e ambientais) da vida da pessoa/da
em grupos compostos por 4 – 5 membros. comunidade.
Duração: 150 minutos Depois, os membros do grupo listam as
Preparação: cavalete, marcadores, tintas, lá- questões ou dimensões da pobreza, as
pis de cor, canetas, canetas de feltro, papel causas imediatas e as estruturais e iden-
de cartaz e imagens de pessoas a viver na tificam “quem” e o “quê” tem responsabi-
pobreza. Procurar e descarregar casos de es- lidade na situação. O grupo relaciona isto
tudo na internet de alguns dos sítios sugeri- com os artigos relevantes dos tratados de
dos na secção de Boas Práticas neste módulo direitos humanos.
que salientem violações diferentes de direitos Pedir a todos os grupos que desenvolvam
humanos. Por exemplo, governos que trans- uma campanha de educação para os direi-
ferem para as empresas multinacionais os tos humanos que aborde as questões en-
direitos para privatizar serviços básicos ou frentadas por este grupo e que proponham
direitos sobre a terra, florestas, lagos, por ações viáveis imediatas e de longo prazo.
exemplo, para realizar agricultura ou pesca Depois, o grupo prepara um panfleto/car-
comercial. Da “Voices of the Poor” (www. taz/qualquer outro material de campanha
worldbank.org) ou de qualquer outra fonte para convencer o resto do grupo a unir-se
de informação, selecionar algumas citações à campanha.
dos pobres sobre a sua própria situação. Reações:
Competências envolvidas: Competências Os outros participantes têm a oportunida-
analíticas, articulação de competências, em- de de clarificar, perguntar por que razão
patia – colocar-se na posição de quem é pobre. é importante aderir à campanha. O exer-
132 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

cício fornece um contexto de vida para se Parte IV: Acompanhamento


poder abordar mitos, equívocos e precon- Visualizar um filme que trace uma campa-
ceitos. O formador aproveita a oportuni- nha sobre uma questão específica de pobre-
dade para dar a conhecer os factos sobre za ou organizar uma visita a uma ONG que
pobreza/globalização, para resumir as vi- trabalhe com as comunidades marginaliza-
sões em relação às ligações micro-macro das. Encorajar os membros a associarem-se
da pobreza e para encorajar ideias cria- a uma ONG/campanha local que seja im-
tivas sobre como proceder a partir dali. portante para a sua vida.

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