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“Toda a pessoa […] tem direito à segurança social […] e pode legitimamente exigir a sa-
tisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis […] à sua dignidade e
ao livre desenvolvimento da sua personalidade”
Toda a pessoa tem direito ao trabalho […]
Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família
a saúde e o bem-estar, principalmente, quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamen-
to, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários […]
[…] Toda a pessoa tem direito à educação. […]”
Artigos 22º, 23º, 25º, 26º da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948.
112 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
HISTÓRIA ILUSTRATIVA
ficaram sem trabalho e, portanto, sem Articule-as como “Violações dos direitos
nada para comer. humanos de/a …”.
“Os políticos não estão interessados em 2. O que desperta em si esta experiência e
nós”, disse uma mulher, Nabbo, de 50 o que pensa que deve ser feito?
anos, enquanto preparava a sua refeição 3. Compare/contraste a situação de pobre-
da noite de chapattis feita de sama – se- za em Baran com o que os pobres no
mentes de erva selvagem. seu país/contexto experienciam. Quais
(Fonte: Luke Harding. 2002. Dying of hun- são as imagens da pobreza de acordo
ger in a land of surplus. Caste and cor- com a sua experiência?
ruption connive to keep food from India´s 4. Vê alguma relação entre o aumento da
poor.) pobreza e a segurança humana? Acha
que tratar as pessoas da forma descrita
Questões para debate na história ilustrativa pode ter efeitos
1. Quais são as privações e vulnerabili- na segurança humana? Se sim, que tipo
dades sentidas pelos pobres em Baran? de efeitos?
A SABER
nomeou dois Peritos Independentes – um dial para 2003, por si só, cobriria o custo
tem o mandato de relatar, a um grupo de de construção de todas as escolas de que
trabalho especial, sobre a implementa- a África precisa para os jovens desde os
ção do direito ao desenvolvimento (Res. 0 até aos 18 anos e para pagar os seus
1998/72), enquanto o outro tem a respon- professores durante 15 anos”. No seu Re-
sabilidade de investigar e fazer recomen- latório de 2010, a Perita Independente
dações relativas ao efeito que a pobreza Magdalena Sepúlveda Carmona apresen-
extrema tem nos direitos humanos (Res. tou as suas recomendações sobre como
1998/25). O Perito Independente sobre melhorar o esboço de diretrizes sobre
Direitos Humanos e Pobreza Extrema extrema pobreza e direitos humanos, ori-
avalia as medidas tomadas ao nível na- ginariamente redigidos pela Subcomissão
cional e internacional para promover o para a Promoção e Proteção dos Direitos
pleno gozo dos direitos humanos pelas Humanos, em 2006.
pessoas que vivem em pobreza extrema,
examina os obstáculos encontrados e o Desenvolvimento e Erradicação da Po-
progresso feito pelas mulheres e homens breza
que vivem em pobreza extrema e apre- Objetivo: Reduzir para metade, até ao
senta também recomendações e propos- ano de 2015, a proporção da população
tas no âmbito da assistência técnica e mundial cujo rendimento é menor do
outras áreas para a redução e eventual que um dólar por dia e a proporção das
eliminação da pobreza. pessoas que passam fome.
No seu Relatório, de 2001, para a Comis-
são de Direitos Humanos, a Perita Inde- Estratégias de futuro:
pendente apresentou conclusões impor- Pobreza de rendimento
tantes sobre como a situação dos pobres - Assegurar o apoio a iniciativas econó-
pode ser alterada. Para cumprir estes re- micas e sociais promovidas pelos pa-
quisitos, a educação em direitos humanos íses que dão primazia à redução da
é necessária para empoderar os pobres pobreza;
e ajudá-los a modificar o seu destino.
- Reforçar a capacidade de prestar servi-
O processo de educação para os direitos
ços sociais básicos;
humanos promove e desenvolve a análise
crítica de todas as circunstâncias e reali- - Apoiar a capacitação para a avaliação,
dades com que os pobres são confronta- monitorização e o planeamento relati-
dos. Este processo fornece conhecimento, vamente à pobreza.
competências e capacidades adequados Fome
para lidar com as forças que os mantêm - Fazer um balanço das ações realizadas
pobres. Possibilita a estruturação de or- desde a Cimeira Mundial sobre a Ali-
ganizações e a criação de redes de auto- mentação de 1996 e propor novos pla-
ajuda de modo a que possam reclamar e nos, a nível nacional e internacional,
lutar pela realização progressiva de todos para alcançar os objetivos relacionados
os direitos humanos e erradiquem com- com a fome;
pletamente a pobreza. No seu Relatório
de 2004, a Perita Independente assinalou - Assegurar que o comércio de alimen-
que “o total do orçamento militar mun- tos e de produtos agrícolas, bem como
B. DIREITO A NÃO VIVER NA POBREZA 123
CONVÉM SABER
97% dos quais eram mulheres. Com 2.562 às suas famílias. A organização trabalha
agências, fornece serviços em mais de 83.000 para despertar as pessoas para a possi-
aldeias. O Banco Grameen procura mobilizar bilidade e para a sua própria capacidade
os pobres e fazê-los avançar principalmen- de conseguir mudanças sociais através da
te através da acumulação de capital local e pesquisa, análise, educação e promoção,
criação de ativos. Os seus fins são alargar as de modo a acabar com mitos e a expor as
facilidades bancárias aos homens e mulheres causas, identificar obstáculos à mudança e
pobres no Bangladesh rural, eliminar a explo- formas de removê-los, avaliar e publicitar
ração dos “emprestadores de dinheiro”, lan- alternativas bem-sucedidas e promissoras.
çar oportunidades de criação de próprio em-
prego para recursos humanos não utilizados Justiça Económica
e subutilizados, organizar as pessoas desfa- A Freedom from Debt Coalition (FDC),
vorecidas de modo a que elas compreendam sediada nas Filipinas, trabalha para o de-
e garantam um desenvolvimento sócioeconó- senvolvimento humano e concentra-se na
mico independente, através de apoio mútuo. equidade (incluindo igualdade de género),
Por se centrar naqueles que são conside- direitos económicos e justiça, crescimento
rados como os maiores riscos do crédito, equitativo e sustentável, em exercer pres-
o banco estabeleceu o facto de que os po- são sobre os governos para que cumpram o
bres são dignos de crédito. O banco abor- seu papel e lutar por relações económicas
da o duplo fardo do género e da pobreza globais benéficas entre as nações. A FDC
com os quais são confrontadas as mulheres apoia a campanha global para cancelar as
pobres. O Banco Grameen tem sido capaz dívidas dos países mais pobres do mundo.
de iniciar mudanças significativas nos pa- A Coligação tem considerado várias outras
drões da propriedade dos meios de produ- questões incluindo segurança alimentar,
ção e nas condições de produção em áreas despesa pública e o impacto das políticas
rurais. Estas mudanças são significativas, económicas sobre as mulheres. O seu tra-
não apenas porque foram capazes de co- balho de defesa integra tarefas conside-
locar os pobres acima da linha da pobreza, ráveis na educação popular e informação
mas também porque com apoios adequa- pública, mobilização de massas, investiga-
dos possibilitaram o florescimento da cria- ção e análise de políticas, construção de
tividade nas aldeias. O processo do Banco alianças e de redes ao nível regional.
Grameen tem sido experimentado também
em outros países vizinhos. 90% do Banco Acordo de Cotonu
pertence aos pobres, 10% ao governo. O Acordo de Cotonu é o acordo de parce-
ria mais completo entre os países em de-
Direito a Viver Sem Fome senvolvimento e a União Europeia. Desde
A Food First, sediada na Califórnia, nos 2000 que tem sido o quadro para as rela-
Estados Unidos da América, está empe- ções da UE com 79 países da África, Ca-
nhada em eliminar as injustiças que cau- raíbas e do Pacífico (ACP). O Artº 54º do
sam a fome. Esta organização acredita que Acordo aborda exclusivamente a questão
todas as pessoas têm o direito básico de se da segurança alimentar e, assim, reconhe-
alimentarem e que devem ter um controlo ce o papel importante que ela tem na ga-
democrático real sobre os recursos neces- rantia da segurança humana e bem-estar
sários para se sustentarem a si mesmos e humano. O Acordo também demonstra a
126 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
término da ajuda imediata, antes do início Ainda pior, outros 65 países não irão alcan-
das soluções a longo prazo. O objetivo é çar nem um Objetivo de Desenvolvimento
ajudar as pessoas que sofrem de fome, cer- do Milénio antes de 2040. Isto afeta, pri-
ca de 925 milhões, em 2010. meiramente, mas não exclusivamente, os
seus 1.2 biliões de habitantes.
2. TENDÊNCIAS (Fonte: PNUD. 2005. Relatório do Desen-
volvimento Humano. 2005.)
Progresso relativamente aos Objetivos
O Índice de Desenvolvimento Humano
de Desenvolvimento do Milénio – Esta-
(IDH) médio do mundo aumentou 18%
rão os países no trilho?
desde 1990, refletindo grandes melhorias
Muitos países fizeram progressos signifi-
agregadas na esperança de vida, escolari-
cativos, mas outros, geralmente os países
zação, alfabetização e rendimento. Quase
mais pobres, parecem ter dificuldades em
todos os países beneficiaram deste pro-
alcançar os objetivos. A análise de quatro
gresso. Com base nos dados de 1970-2010,
dos oito objetivos do milénio – mortalida-
dos 135 países que juntos representam
de infantil, inscrições escolares, paridade
92% da população mundial, apenas três
de género na educação, assim como o
(República Democrática do Congo, Zâm-
acesso a água e saneamento – conduzi-
bia e Zimbabué) têm hoje um IDH infe-
ram às seguintes conclusões do Relatório
rior do que em 1970. De uma forma ge-
de Desenvolvimento da ONU de 2005: 50
ral, os países pobres estão a aproximar-se
países, 24 dos quais estão na África Subsa-
dos países ricos. Esta convergência pinta
ariana, com uma população de, pelo me-
um quadro bastante mais otimista do que
nos, 900 milhões, retrocederam em vez de
uma perspetiva limitada às tendências dos
avançarem em relação a pelo menos um
rendimentos, onde a divergência persiste.
Objetivo de Desenvolvimento do Milénio.
Mas nem todos os países têm conhecido
um progresso rápido; aqueles que experi-
mentam o progresso mais lento são países
na África Subsaariana, atingidos pela epi-
demia de VIH, e os países da antiga União
Soviética, onde a mortalidade adulta au-
mentou.
(Fonte: PNUD. 2010. Relatório do Desen-
volvimento Humano. 2010.)
ATIVIDADES SELECIONADAS
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B. DIREITO A NÃO VIVER NA POBREZA 133