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Contraponto

Mediação sugerida Desigualdade racial no Brasil


Sociologia
Geografia Leia, a seguir, textos sobre os direitos históricos dos afrodescentes no Brasil.

CE1 (EM13CHS101, Texto I


EM13CHS103);
CE5 (EM13CHS502);
Quando criança, fui ensinada que a população negra havia sido escrava e
CE6 (EM13CHS601, ponto, como se não tivesse existido uma vida anterior nas regiões de onde essas
EM13CHS605, pessoas foram tiradas à força. Disseram-me que a população negra era passiva e
EM13CHS606). que “aceitou” a escravidão sem resistência. Também me contaram que a princesa
Isabel havia sido sua grande redentora. No entanto, essa era a história contada do
ponto de vista dos vencedores, como diz Walter Benjamin. O que não me contaram
é que o Quilombo dos Palmares, na serra da Barriga, em Alagoas, perdurou por
mais de um século, e que se organizaram vários levantes como forma de resistên-
cia à escravidão, como a Revolta dos Malês e a Revolta da Chibata. Com o tempo,
compreendi que a população negra havia sido escravizada, e não era escrava – pa-
lavra que denota que essa seria uma condição natural, ocultando que esse grupo
foi colocado ali pela ação de outrem. Se para mim, que sou filha de um militante
negro e que sempre debati essas questões em casa, perceber essas nuances é algo
complexo e dinâmico, para quem refletiu pouco ou nada sobre esse tema pode ser

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ainda mais desafiador. O processo envolve uma revisão crítica profunda de nossa
percepção de si e do mundo. Implica perceber que mesmo quem busca ativamen-
te a consciência racial já compactuou com violências contra grupos oprimidos.
O primeiro ponto a entender é que falar sobre racismo no Brasil é, sobretudo, fa-
zer um debate estrutural. É fundamental trazer a perspectiva histórica e começar
pela relação entre escravidão e racismo, mapeando suas consequências. Deve-se
pensar como esse sistema vem beneficiando economicamente por toda a história a
população branca, ao passo que a negra, tratada como mercadoria, não teve acesso
a direitos básicos e à distribuição de riquezas. É importante lembrar que, apesar
de a Constituição do Império de 1824 determinar que a educação era um direito de
todos os cidadãos, a escola estava vetada para pessoas negras escravizadas.
A cidadania se estendia a portugueses e aos nascidos em solo brasileiro, inclusive a
negros libertos. Mas esses direitos estavam condicionados a posses e rendimentos,
justamente para dificultar aos libertos o acesso à educação.
RIBEIRO, Djamila. Pequeno manual antirracista. São Paulo:
Companhia das Letras, 2019. p. 35, 44.

Texto II
Situação social da população negra no Brasil
Os negros no Brasil, considerando aqueles que se autodeclaram pardos e pre-
tos, correspondem a 96,7 milhões de indivíduos – 50,74% dos residentes. Estes
dados, do Censo 2010, consolidam a tendência de aumento da população negra,
verificada pela PNAD. Nos dados da PNAD 2006, o contingente populacional negro
ultrapassou o branco, e, em 2008, passou a representar a maioria da população.
Este aumento progressivo, conforme analisa Soares (2008), deve-se sobretudo à
ampliação do número de indivíduos que se reconhecem como pretos ou pardos;
considerando-se o impacto da diferença das taxas de fecundidade, a população
negra somente seria maioria em 2020.
O aumento da participação da população negra se deu em todas as unidades
federativas e foi maior que a variação nacional em Minas Gerais, Rio de Janeiro,
São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Goiás e Santa Cata-
rina. Pará, Bahia e Maranhão figuram como os estados com maior participação
da população negra – acima de 76% da população total. Por sua vez, São Paulo,
Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro concentram 45% da população negra do

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Não escreva no livro.

Brasil. Os dados desagregados por cor ou raça permitem analisar a situação da


população em vários campos da vida social. Nesse sentido, verifica-se que, em
diferentes dimensões, a população negra, apesar dos avanços dos últimos anos,
permanece em situação muito mais vulnerável. Enquanto os negros enfrentam
mais dificuldades de acessar o mercado de trabalho, uma vez ocupados usufruem
de condições diferenciadas, sendo maioria em posições mais precárias, auferindo
remuneração inferior – em média pouco mais da metade da população branca.
Consequentemente, a mesma desvantagem é verificada no acesso à proteção social.
CASTRO, Jorge Abrahão de; ARAUJO, Herton Ellery Araújo (org.). Situação
social brasileira: monitoramento das condições de vida 2. Brasília: Ipea, 2012.
p. 68-69. Disponível em: <https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/
livros/livros/livro_situacaosocial_vida2.pdf>. Acesso em: 29 abr. 2020.

Texto III
Projeto elimina critério racial das cotas
de universidades e institutos federais
O Projeto de Lei 1.531/19 altera a Lei de Cotas (12.711/12) para acabar com
o critério racial de reserva de vagas em universidades e institutos federais de
ensino. Conforme a proposta, permanecem a cota para pessoas com deficiência
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

e a cota social.
Atualmente, a Lei de Cotas reserva, no mínimo, 50% das vagas disponíveis em
universidades e em institutos federais, em cada processo seletivo, curso e turno, a
estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas.
Desse total de vagas reservadas, metade é destinada a estudantes cuja renda
familiar seja igual ou inferior a um salário mínimo e meio per capita, e a outra
metade a estudantes que possuem renda maior do que essa.
Na outra metade, o preenchimento da vagas leva ainda em consideração o
percentual de pretos, pardos, indígenas e de pessoas com deficiência presentes
no estado ou município, conforme o último censo demográfico do Instituto Bra-
sileiro de Geografia e Estatística (IBGE). [...]
Autora da proposta, a deputada Professora Dayane Pimentel (PSL-BA) argu-
menta que “todas as formas de discriminação são vedadas constitucionalmente”
e “não caberia à legislação ordinária estabelecer tais distinções raciais no orde-
namento jurídico”.
[...]
Em 2012, o Supremo Tribunal Federal (STF) atestou a constitucionalidade do
sistema de cotas para o ingresso em universidades brasileiras. Para os ministros
do STF, ações afirmativas, como a política de cotas, devem ser usadas como “mo-
delo” para outras instituições de ensino, com o objetivo de superar a desigualdade
histórica entre negros e brancos. [...]
O projeto será analisado conclusivamente pelas comissões de Direitos Huma-
nos e Minorias; de Educação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.
PROJETO elimina critério racial das cotas de universidades e institutos federais. Agência
Câmara de Notícias, 9 maio 2019. Disponível em: <https://www.camara.leg.br/noticias/557112-
projeto-elimina-criterio-racial-das-cotas-de-universidades-e-institutos-federais/>.
Acesso em: 29 abr. 2020.

Não escreva no livro.

Qual sua posição sobre a Lei de Cotas? Após a leitura, escreva sua opinião sobre o
assunto. Troque o texto com um colega. Façam comentários e críticas, por escrito,
sobre o texto do outro. Depois, reavalie seu texto e seus argumentos. Complete-o
com informações que considerar necessárias.

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