Você está na página 1de 4

iências Humanas

E SUA
AS
S TECNOLLO
OGIIAS
AS

Ficha de Estudo 93
Tema
Diversidade cultural, conflitos e vida em sociedade
Tópico de estudo
História cultural dos povos africanos. A luta dos negros no Brasil e o negro na formação da sociedade brasileira.

Entendendo a competência
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
Identidade, identidades. A nossa identidade de brasileiros é una e plural. Um dos elementos que revelam nossa
identidade social e cultural é a composição da população brasileira. De acordo com os dados do Censo do IBGE em
2010, “dos cerca de 191 milhões de brasileiros em 2010, 91 milhões se classificaram como brancos, 15 milhões
como pretos, 82 milhões como pardos, 2 milhões como amarelos e 817 como mil indígenas. Registrou-se uma re-
dução da proporção brancos de 53,7% em 2000 para 47,7% em 2010, e um crescimento de pretos (de 6,2% para
7,6%) e pardos (de 38,5% para 43,1%).
http://www.ibge.gov.br/home/ (2011).

Esse e outros traços culturais exigem de todos os brasileiros a compreensão de si mesmo e do outro para a com-
preensão ampliada das raízes históricas da diversidade cultural, social e econômica do Brasil, as mudanças e as
permanências na nossa história. Estudar história, os elementos que constituem a nossa identidade, nos ajuda a
compreender a diversidade, a respeitar e a conviver com o eu e o outro – iguais e diferentes!

Desvendando a habilidade
Habilidade 3 – Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos.
Você já participou de alguma manifestação, movimento ou luta pelo reconhecimento e valorização cultural da diver-
sidade? Você já questionou a situação de grupos e pessoas que sofrem cotidianamente preconceitos, discriminações
e práticas racistas no nosso presente? Você já se posicionou contra essas práticas? Essas atitudes exigem de nós,
conhecer e valorizar os processos históricos de resistências e lutas dos povos africanos escravizados nos tempos
passados, na colônia, no império e no passado republicano, assim como na história do Brasil contemporâneo, nas
manifestações sociopolíticas e culturais dos afrodescendentes. Requer conhecer e valorizar a história e a cultura
dos negros, respeitando o protagonismo e o legado dos africanos e afrodescendentes para a formação da sociedade
brasileira, uma sociedade multicultural, complexa e democrática.

Situações-problema e conceitos básicos


Ao longo da história do Brasil, na colônia, no império e na república, os africanos e seus descendentes viveram
uma realidade marcada pela exploração econômica, por práticas de preconceito, racismo, discriminação e exclusão
social. As formas de luta e resistência contra a escravidão no passado foram várias. Você consegue lembrar-se?
Você sabe quem foi Zumbi? Qual o seu papel na história do Brasil?
Os africanos escravizados na colônia portuguesa resistiram à exploração e à violência da escravidão. Várias
formas de resistência foram registradas. De acordo com Del Priori e Venâncio “o que lhes importava era resistir.
E, para resistir, a existência de traços de solidariedade ou de parentesco, assim como a vivência de práticas reli-
giosas foi muito importante.” (Del Priori, M. e Venâncio, R. P. O livro de ouro de História do Brasil. Rio de Janeiro:
Ediouro, 2003, p. 84.)
Veja a imagem a seguir.

Curso Pré-ENEM Ciências Humanas


Muitos negros escravizados resistiam desenvolvendo doenças, como
o banzo, e evitavam ter filhos para não submetê-los às mesmas condições
de vida e trabalho. A rebeldia se manifestava no assassinato de feito-
res e até nos suicídios. As sabotagens às plantações e a destruição de
equipamentos significavam muitos prejuízos aos senhores. Assim, mui-
tos patrões negociavam recompensas com os trabalhadores para evitar
incidentes e destruições. Há registros de negociações entre escravizados
e seus proprietários, sendo que muitos escravos conseguiam guardar di-
nheiro, comprar a alforria e melhorar suas condições de vida.
Contudo, a forma de resistência mais comum era a fuga para os qui-
lombos, que eram aldeias fortificadas onde se reuniam fugitivos, alfor-
riados, indígenas e brancos pobres. O mais conhecido foi o Quilombo de
Palmares, liderado por Zumbi, que se tornou um símbolo para a cultura
afrobrasileira. Os quilombos se espalharam pelo território como locais
de resistência à exploração e de busca da possibilidade de outro modo
de vida. Os quilombolas viviam em regime de comunidades e represen-
tavam uma ameaça ao sistema escravagista. Por isto, os fazendeiros e
colonizadores, com o aval e a ajuda da Coroa Portuguesa, lutaram para
Zumbi, líder dos Quilombos dos destruí-los. Passados séculos os descendentes de antigos quilombolas,
Palmares, símbolo da resistência
negra contra a escravidão. no Brasil atual, têm lutado pelo direito às terras dos ancestrais e pelos
direitos básicos de cidadania, como educação e saúde.
Oficialmente a escravidão foi extinta no Brasil com a proclamação da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888
Mais de um século depois desse evento, no
entanto, as resistências e as desigualdades entre
brancos e negros no Brasil ainda persistem e se
manifestam em diferentes situações, sobretudo
nas condições de trabalho e na educação. Veja o
que apurou o censo do IBGE em 2010:
Taxas de analfabetismo de pretos e par-
dos são mais que o dobro da de brancos
De 1999 a 2009, houve um crescimento da
proporção das pessoas que se declaravam
pretas (de 5,4% para 6,9%) ou pardas (de
40% para 44,2%), que agora em conjunto re-
presentam 51,1% da população. A situação
de desigualdade por cor ou raça, porém,
persiste.
A taxa de analfabetismo das pessoas de
15 anos ou mais de idade era de 13,3% para a
população de cor preta, de 13,4% para os par-
dos contra 5,9% dos brancos. Outro indicador
importante é o analfabetismo funcional (pes-
soas de 15 anos ou mais de idade com me-
nos de quatro anos completos de estudo), que
diminuiu de 29,4% em 1999 para 20,3% em
2009. Essa taxa, que para os brancos era
de 15%, continua alta para pretos (25,4%)
e pardos (25,7%).
A população branca de 15 anos ou
mais tinha, em média, 8,4 anos de estudo
em 2009, enquanto entre pretos e par-
dos, a média era 6,7 anos. Os patamares
são superiores aos de 1999 para todos os gru-
pos, mas o nível atingido tanto pelos pretos
quanto pelos pardos ainda é inferior ao pata-
A Lei Áurea (Lei Imperial no 3.353), sancionada em 13 de maio de 1888. mar de brancos em 1999 (7 anos de estudos).

Curso Pré-ENEM Ciências Humanas


Em 2009, 62,6% dos estudantes brancos de 18 a 24 anos cursavam o nível superior (adequado à idade), contra
28,2% de pretos e 31,8% de pardos. Em 1999 eram 33,4% entre os brancos contra 7,5% entre os pretos e 8%
entre os pardos. Em relação à população de 25 anos ou mais com ensino superior concluído, houve crescimento
na proporção de pretos (2,3% em 1999 para 4,7% em 2009) e pardos de (2,3% para 5,3%). No mesmo período, o
percentual de brancos com diploma passou de 9,8% para 15%.
Rendimento-hora de pretos e pardos é menor do que dos brancos
Os rendimentos de pretos ou pardos continuam inferiores aos de brancos, embora a diferença tenha dimi-
nuído nos últimos dez anos. Os rendimentos hora de pretos e de pardos representavam respectivamente 47% e
49,6% do rendimento-hora dos brancos em 1999, passando a 57,4% para cada um dos dois grupos em 2009. Os
percentuais de rendimentos-hora de pretos e pardos em relação ao dos brancos, em 2009, eram, respectivamen-
te, de 78,7% e 72,1% para a faixa até 4 anos de estudo, de 78,4% e 73% para 5 a 8 anos, de 72,6% e 75,8% para
9 a 11 anos, e de 69,8% e 73,8% para 12 anos ou mais.
A desigualdade entre brancos, pretos e pardos se exprime também quando se observa o número
de pessoas por posição na ocupação. Entre as pessoas ocupadas de 10 anos ou mais de idade, em 2009, eram
empregadores 6,1% dos brancos contra 1,7% dos pretos e 2,8% dos pardos. Ao mesmo tempo, pretos e pardos
eram, em maior proporção, empregados sem carteira (17,4% e 18,9%, respectivamente, contra 13,8% de bran-
cos) e a maior parte dos empregados domésticos com carteira assinada (3,9% e 2,3% contra 1,9%) e sem carteira
(8,3% e 6,8% contra 4,1%).” (www.ibge.gov.br)

Contra esta situação os movimentos sociais, em particular o Movimento Negro, organizaram, historicamente,
lutas e manifestações em defesa de políticas públicas que visam à reparação das injustiças. Várias conquistas fo-
ram registradas desde a promulgação da Constituição de 1988. O acesso à educação, à cultura, ao trabalho, e o fim
das disparidades entre brancos e negros têm sido foco de permanentes manifestações. Nesse contexto, durante o
Governo do Presidente Lula, em 2003, foi criada a Seppir (Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial)
que instituiu a Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial. Políticas públicas estão sendo implantadas
com vistas a garantir os direitos básicos de cidadania aos quilombolas, que são “os descendentes de africanos
escravizados que mantêm tradições culturais, de subsistência e religiosas ao longo dos séculos.” A Fundação
Cultural Palmares é o órgão do Governo Federal, criado em 1988, que tem como objetivo promover e preservar
a cultura afro-brasileira e cuidar da formalização da existência destas comunidades, assessorando-as no desen-
volvimento de projetos, programas e políticas públicas de acesso aos direitos de cidadania. Segundo dados deste
órgão, há mais de 1.500 comunidades espalhadas pelo território nacional que são certificadas pela Palmares.

© Fundação Palmares/Abr

Fonte: Fundação Palmares

Dentre as ações afirmativas adotadas, no campo da educação, destaca-se o estabelecimento de cotas raciais e
sociais para alunos negros nas universidades públicas e a implantação da Lei Federal 10.639/2003, que inclui no
currículo dos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, a obrigatoriedade do ensi-

Curso Pré-ENEM Ciências Humanas


no de História e Cultura Afro-brasileira. Essa mesma lei determina que sejam tratados nas escolas temas relativos
a: História da África e dos africanos; luta dos negros no Brasil; cultura negra brasileira; o negro na formação da
sociedade nacional. Dessa forma será resgatada a contribuição do povo negro para as áreas social, econômica
e política pertinentes à História do Brasil. Além disso, a lei institui, no calendário escolar, o dia 20 de novembro
como data comemorativa do “Dia da Consciência Negra”.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br Acesso em: 27 jul. 2010 (adaptado).

Tudo isso se reporta ao entendimento de que, além de garantir aos negros os direitos básicos de cidadania,
como vagas nas escolas, é necessário que todos os cidadãos brasileiros (brancos, negros, indígenas e outros) co-
nheçam, respeitem e valorizem a história e a cultura africana e afro-brasileira como parte integrante do processo
histórico de constituição da nossa identidade, da nação brasileira, uma sociedade multicultural e multirracial.
Portanto, esta temática requer de nós, estudiosos da História, um diálogo permanente entre presente e passado,
pois como nos ensina Alfredo Bosi “o diálogo com o passado torna-o presente. O pretérito passa a existir de
novo”.
BOSI, Alfredo. O tempo e os tempos. In: NOVAES, A. (Org.) Tempo e História.
São Paulo: Cia das Letras, 1992, p, 29.

Curso Pré-ENEM Ciências Humanas

Você também pode gostar