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TPM

 Capítulo 11

 Tipos de processos de fabrico

Um processo de fabrico converte um material numa peça acabada ou num


produto. As mudanças que ocorrem dizem respeito à geometria da peça, ou podem
afetar a microestrutura interna, e, por conseguinte, as propriedades do material.
Vimos, no capítulo 5, que a decomposição funcional de um produto foi
descrita em termos de fluxo de energia, de materiais e de informação.
Estes mesmos três fatores estão também presentes no fabrico:
- Um processo de fabrico requer um fluxo de energia para promove um fluxo
de material que provoque alterações na sua forma;
- O fluxo de informação, sobre a geometria da peça a produzir e sobre as
propriedades do material, depende do tipo de material e do processo de
fabrico a ser usado (que pode ser mecânico, químico ou térmico), das
caraterísticas da ferramenta e do seu movimento.

Uma classificação natural das centenas de processos de fabrico existentes é


considerar se o processo de fabrico é de conservação de massa, de redução de massa
ou de adição de massa:
- Um processo de conservação de massa é todo aquele em que a massa inicial
do material é aproximadamente igual à massa final da peça produzida (a
fundição e o forjamento são dois exemplos);
- Um processo de redução da massa é todo aquele em que a geometria final da
peça é produzida pela remoção da massa do material de partida. Estes dizem
respeito aos processos de geração de forma em que a peça final é produzida
pelo movimento relativo entre a ferramenta e a peça de trabalho. A remoção
de material é efetuada por fratura controlada, fusão ou por reação química, e
fazem parte deste grupo os processos de maquinagem, e
- Um processo de adição de massa (vulgarmente designado por processo de
fabrico aditivo) consiste num conjunto de tecnologias destinadas ao fabrico
de objetos tridimensionais por sobreposição de material camada a camada,
em oposição aos modelos subtrativos. Os objetos podem ter uma qualquer
forma ou geometria e são produzidos a partir de um modelo digital.
Inicialmente desenvolvida para polímeros, ceras e laminados à base de papel,
esta tecnologia já permite também o fabrico de peças a partir de materiais
metálicos, cerâmicos e até compósitos com fibra de vidro ou fibra de
carbono.

Uma forma diferente de classificar os processos de fabrico é dividi-los em três


grandes grupos:

1) Processos primários

Estes usam as matérias-primas para criar uma forma e deles fazem parte os
processos de fundição, os processos de processamento de polímeros, os processos de
conformação plástica e o processo de sinterização (ou tecnologia dos pós).

2) Processos secundários

Estes processos modificam a forma final de uma peça adicionando outras


caraterísticas como ranhuras, furos, roscas, escatéis, etc., e os seus principais tipos são
os processos de maquinagem. Incluem-se aqui também outros processos importantes,
como os de ligação, que unem as peças que devem trabalhar justapostas, e os
tratamentos térmicos, que alteram as propriedades mecânicas das peças.

3) Processos de acabamento

Todos aqueles processos que produzem o acabamento final de uma peça, e,


por conseguinte, a sua aparência final, e que permitem, por exemplo, a colocação de
revestimentos, o polimento, a grenalhagem ou a pintura.

 Classificação dos processos de fabrico


 Classes dos processos de fabrico

Segundo G. Dieter & L. Schmidt (“Engineering Design”, McGraw-Hill,


Fourth Edition, 2009), as principais classes dos processos de fabrico são:
- Fundição;
- Processamento de polímeros;
- Conformação de materiais (como a estampagem, a extrusão, o forjamento, a
laminagem, etc.);
- Sinterização de materiais (metálicos, cerâmicos, compósitos ou poliméricos);
- Maquinagem (como a furação, o torneamento, a fresagem e a retificação,
entre outros…);
- Os processos de ligação (por soldadura, brasagem, rebitagem,
aparafusamento ou por adesivagem, etc.);
- Tratamentos térmicos (de massa e de superfície);
- Os processos de montagem (os quais constituem, geralmente, a etapa final do
processo de produção, em que um determinado número de peças são reunidas
e combinadas entre si num subconjunto ou produto acabado).

 Seleção do processo de fabrico

Os fatores que influenciam a seleção do processo de fabrico, para a construção


de uma peça, são:

- A quantidade de peças necessárias

 O número total de peças a serem produzidas

Todos os processos de fabrico têm de produzir um número mínimo de peças


para que se justifique a sua utilização; outros são processos de elevada produção e
com tempos de preparação e de configuração dos equipamentos que não se justificam
para a produção de uma única peça, ou de lotes de encomendas de pequenas
dimensões; outros ainda são processos destinados à produção de um baixo número de
peças, com tempos mínimos de preparação e de configuração dos equipamentos de
fabrico, mas cujo tempo necessário para produzir uma peça é, todavia, muito
grande.

 A taxa de produção (unidades produzidas por unidade de tempo)

- A complexidade das peças (forma, tamanho, caraterísticas)

Os processos de fabrico estão limitados a produzir determinadas formas; a


tabela ao lado associa as formas definidas em baixo com a capacidade que os diversos
processos de fabrico considerados têm para as produzir:

As peças a produzir podem variar, consideravelmente, de tamanho (massa).


Devido à natureza do equipamento utilizado num determinado processo de fabrico,
cada processo está limitado a produzir uma determinada gama de tamanhos de peças,
para a qual é económica a sua utilização:

- O material

A seleção de um determinado material coloca também algumas restrições


sobre a seleção dos processos de fabrico. Dieter & Schmidt (2009) analisam e
discutem, detalhadamente, esta interdependência entre a seleção dos materiais para
uma determinada peça e a seleção dos processos de fabrico necessários para a
produzir…
A matriz da página seguinte define quais os processos de fabrico geralmente
utilizados em função das classes mais comuns de materiais e da quantidade a
produzir. Esta matriz deverá ser utilizada de forma a reduzir todas as possibilidades
consideradas a uma lista que possa ser facilmente gerida para a avaliação e seleção
final do processo de fabrico.

- A qualidade da peça

A qualidade da peça pode ser definida por três conjuntos de caraterísticas


relacionadas com:

1) A ausência de defeitos internos e externos

A quantidade de material numa peça deverá ser suficientemente grande de


forma a permitir a remoção de defeitos na superfície, por exemplo, por maquinagem.
Muitas vezes o próprio processo de fabrico determina qual o material extra a
considerar nas peças a fabricar, como, por exemplo, os alimentadores e os jitos nas
peças a obter por fundição. Noutros casos, o aumento de material (e das dimensões
das peças) deve ser efetuado de forma a promover e a facilitar o manuseio, o
posicionamento e a fixação da peça.
2) O acabamento superficial

O acabamento superficial de uma peça determina a sua aparência, afeta a sua


montagem com outras peças e pode influenciar, entre outros, a sua resistência à
corrosão e ao desgaste.

3) A precisão dimensional e as tolerâncias

A relação entre os valores de rugosidade Ra para as superfícies produzidas por


diferentes processos de fabrico (e a gama de tolerâncias permitida) está representada
na figura seguinte:

- O custo de fabrico

O custo de fabrico de um produto acabado é o fator mais importante na


seleção do processo de fabrico e do material. Como se mostra na figura, os custos de
processamento aumentam quase exponencialmente à medida que as tolerâncias e os
estados de acabamento superficial são cada vez mais apertados.

- A disponibilidade, o tempo de processamento e o prazo de


entrega

Alguns aspetos a ter em conta:


• A disponibilidade do equipamento de produção;
• O tempo de espera para a construção das ferramentas, e
• A data de entrega prevista para as peças produzidas por fornecedores (externos)
subcontratados.

Devemos ter ainda em consideração os seguintes quatro aspetos para a


seleção de um processo de fabrico:
- Identificar, com base na especificação da peça, a classe do
material
(aços, ferros fundidos, alumínios, …), o número de peças necessário, o
tamanho, a forma, a espessura mínima, o acabamento superficial e a gama de
tolerâncias para as dimensões críticas da peça. Estes fatores constituem as restrições
sobre a escolha do processo de fabrico.
- Decidir sobre qual o objetivo de seleção do processo de
fabrico.
Na grande maioria dos casos o objetivo de seleção consiste em minimizar o
custo de produção. No entanto, o objetivo pode ser o de maximizar a qualidade da
peça, ou o de minimizar o tempo necessário para a produzir.
- Com base nos constrangimentos identificados (restrições),
Deveremos eliminar os processos de fabrico que se mostrem incapazes para
produzir a peça.
- Tendo sido reduzido o número de processos de fabrico a
considerar,
estes deverão agora ser ordenados com base no custo de fabrico. Uma possível
ordenação pode ser baseada no tamanho do lote a produzir, com base num modelo de
custos. Outras informações importantes podem derivar do conhecimento (efetivo) dos
processos de fabrico, ou da consulta a referências de apoio importantes, sobre o
comportamento dos materiais, das máquinas e das ferramentas para perceber como
cada processo funciona. A análise de outros casos de estudo e exemplos de boas
práticas ao nível industrial dará, seguramente, credibilidade e suporte à decisão final.

 Projeto para o fabrico: Linhas de orientação

Segundo Dieter & Schmidt (2009):

1. Minimizar o número total de peças

A redução do número de peças não deverá ser efetuado se for


acrescentado custo, pois as restantes peças podem tornar-se demasiado
complexas… A combinação de duas ou mais peças numa única é uma abordagem
possível, ver a figura seguinte:

2. Uniformizar componentes

Os custos são minimizados e a qualidade sai reforçada quando são usados


componentes disponíveis comercialmente (ditos, ‘off-the-shelf’). Esta prática também
tem as suas vantagens quando uma empresa uniformiza um número mínimo peças (ao
nível dos tamanhos, materiais e processos) que são produzidos nas suas fábricas. A
redução de custos é obtida através de descontos em quantidade, na eliminação do
esforço de projeto, na redução dos custos com equipamentos e ferramentas e com um
melhor controlo de stocks.

3. Usar peças comuns nas linhas de produção

Uma boa estratégia passa por usar peças (e outros componentes) iguais em
mais do que um produto. Dever-se-ão especificar os mesmos materiais, as mesmas
peças e os mesmos subconjuntos em cada um dos diferentes produtos. Isso
proporciona grandes economias que reduzem o custo unitário do produto e
simplificam a adaptação e o treino dos operadores, bem como o controlo do processo.

4. Uniformizar as caraterísticas do projeto

A uniformização das caraterísticas do projecto, como os tamanhos dos furos,


os tipos de rosca, os raios de curvatura, entre outros, diminui o número de ferramentas
que devem ser usadas, o que reduz os custos de fabrico.

5. Projetos funcionais e simples

Uma boa funcionalidade é essencial para o produto. Torna-se desnecessário


especificar um desempenho maior do que aquele que é, realmente, exigido. (Por
exemplo, não é boa prática no projeto especificar-se uma liga de aço especial, tratado
termicamente, quando um vulgar aço ao carbono poderá atingir o desempenho
necessário.) Além disso, um produto com um menor número de peças, com formas
menos complexas, com um menor número de ajustes e com um menor número de
etapas de fabrico será, por isso mesmo, o menos dispendioso.

6. Projetar peças para serem multifuncionais

Uma forma de diminuir o número de peças é concebê-las de forma a


desempenharem mais do que uma função. Uma peça pode servir como elemento
estrutural, mas também como mola – ver o
exemplo ilustrado na figura seguinte (já
apresentada na página 21). A peça pode ser
também projetada para fornecer guiamento,
alinhamento ou autoconfiguração na montagem.
Esta regra, todavia, poderá cancelar a orientação
5 e deteriorar a orientação 7 se for levada longe
demais
7. Projetar peças de forma a facilitar o fabrico

Uma vez que a maquinagem tende a ser dispendiosa, os processos de fabrico


que produzem a peça para uma forma muito próxima da sua forma final deverão ser,
sempre que possível, os preferidos, de modo a eliminar, ou a minimizar, a utilização
dos processos de maquinagem. Por outro lado, será ainda importante a visualização
dos passos (tarefas) que um operador terá de desenvolver para produzir uma peça, de
forma a ser possível minimizar as operações de fabrico. Por exemplo, a fixação de
uma peça antes do trabalho de maquinagem é um procedimento bastante moroso; o
projeto deverá minimizar o número de vezes que o operador terá que orientar a peça
na máquina para completar a tarefa de maquinagem. O reaperto da peça a trabalhar é
uma grande fonte de erros… Dever-se-á considerar as necessidades ao nível do uso
dos equipamentos e proporcionar (na peça) superfícies e outros elementos para a sua
fixação.

8. Evitar tolerâncias excessivamente apertadas

Uma atenção muito particular deve ser colocada na definição das tolerâncias.
A especificação de tolerâncias mais apertadas do que as que são, realmente,
necessárias resulta num aumento dos custos – ver ainda a figura 13.13 (página 18).
Estes custos surgem da necessidade de introdução de operações de acabamento
secundárias, como a retificação e o polimento, por exemplo, do maior custo das
ferramentas, dos ciclos de operação ainda mais longos e da necessidade de utilização
de operadores qualificados. O processo de fabrico a selecionar deverá ser capaz de
produzir dentro do campo de tolerâncias e com o acabamento superficial especificado.

9. Minimizar as operações secundárias e de acabamento

É importante minimizar as operações secundárias, como as de tratamentos


térmicos, de maquinagem e de ligação, e evitarem-se as operações de acabamento,
tais como as de rebarbagem, de pintura, de aplicação de revestimentos e de polimento.
Estes processos só deverão ser usados se houver uma razão funcional que assim os
exija.
10. Utilizar as caraterísticas especiais dos processos

Deve-se ter em atenção as caraterísticas específicas oferecidas pelos diversos


processos de fabrico. Por exemplo, os polímeros podem ser moldados com aditivos
para produzirem peças numa determinada cor, ao contrário dos metais, que
necessitam de ser pintados ou revestidos.
Os produtos extrudidos em alumínio podem ser produzidos com seções
transversais complexas, os quais podem ser depois cortados em diversos
comprimentos de forma a fornecer outras peças. Outros produtos sinterizados podem
ser produzidos com controlo de porosidade e assim serem usados em chumaceiras
auto-lubrificantes.

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