Você está na página 1de 7

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

ELIEZER LIMA SILVA

OS ASPECTOS DA CULTURA CONTEMPORÂNEA, DA


SECULARIZAÇÃO E DOS DESAFIOS PARA A IGREJA NO
MUNDO ATUAL

Trabalho Acadêmico apresentado ao Prof. Lucas


Ribeiro referente à disciplina Religiosidade No Mundo
Contemporâneo, 3º Semestre, Período Matutino, do
Curso de Bacharel em Teologia da Faculdade de
Teologia da Igreja Metodista — Universidade
Metodista de São Paulo.

São Bernardo do Campo –maio de 2023


OS ASPECTOS DA CULTURA CONTEMPORÂNEA, DA SECULARIZAÇÃO E
DOS DESAFIOS PARA A IGREJA NO MUNDO ATUAL

A DÚVIDA

No livro Apologética Para Questões Difíceis, o autor William Lane Craig já na


abertura do seu capítulo I expressa a seguinte frase: “Qualquer cristão que esteja
intelectualmente comprometido com sua fé inevitavelmente enfrentará o problema da
dúvida. Por isso, creio que esse problema deva ser tratado com seriedade” (CRAIG, 210,
p.33).

Eu, em minha percepção de fé e tudo que engloba esse conceito, posso afirmar
que concordo plenamente com afirmação de William Lane Craig. Eu diria “é bem por aí”,
pois a dúvida ela faz parte do processo de maturação da fé, é extremamente essencial que
ela seja abordada durante esse processo e de forma responsável, é uma parte natural do
caminho, todo cristão que esteja intelectualmente comprometido com a fé passou ou
passara pela dúvida.

Como um bom Metodista recordo do momento em que John Wesley passou por
esse processo, quando estava ocorrendo a terceira fase do Metodismo, depois de perceber
que o movimento havia evoluído em vários locais, incluindo Oxford, Wesley procurou
obter uma melhor compreensão do significado do Espírito Santo. Nesse período, dúvidas
permaneceram na vida de Wesley, principalmente sobre sua fé, mas ele continuou a
pregar com paixão. Isso é apenas um exemplo que mostra esse caminho natural de um
verdadeiro cristão comprometido. Ignorar ou reprimir a dúvida pode levar a uma fé
superficial e frágil, lembrando que “Um cristão que pensa com autonomia
inevitavelmente se deparará com dúvidas; e se essas dúvidas não forem devidamente
tratadas, elas poderão destruir, em proporções gigantescas, a vida espiritual” (CRAIG,
210, p.34).

O QUE SERIA CONDUZIR O PROCESSO DE DÚVIDA DE FORMA


RESPONSÁVEL?

Com certeza não é uma tarefa fácil e envolve um processo de questionamento e


busca por respostas que muitas das vezes não serão encontradas. O importante é mudar o
panorama do olhar sobre a “dúvida”, em vez de vê-la como uma fraqueza, ela deve ser
encarada como uma grande oportunidade para um maior entendimento, maturação da fé
e crescimento espiritual.

Existem várias maneiras de lidar com a dúvida de forma séria e construtiva. Algumas
delas incluem: Reconhecer que a dúvida nunca é um problema puramente intelectual, a
vida na comunidade de fé, análise pessoal e a relação entre fé e a razão.

O ato de reconhecer que a dúvida nunca é um problema puramente intelectual. “É


preciso reconhecer que há uma dimensão espiritual para o problema. Nunca perca de vista
o fato de que você está envolvido numa batalha espiritual e que o inimigo de sua alma o
odeia intensamente” (CRAIG, 2016, p.35). Isso é estar ciente que o Satanás quer achar
alguma forma de nos derrubar, essa é a sede dele, de “destruição”. A busca pessoal por
experiências espirituais, oração e reflexão pode ajudar a analisarmos e eliminarmos as
brechas que podem ser utilizadas pelo por ele contra nossa vida. Pense o seguinte se o
objetivo dele é destruí-lo o seu é pisar na cabeça dele. É importante dedicar tempo para
se conectar com Deus e buscar um relacionamento íntimo com Ele, a intimidade com
Deus é essencial para enfrentar as batalhas espirituais, uma vez que sem ele meu caro,
você está perdido.

Outro ponto é essencial é a busca por conhecimento e aprofundamento da


compreensão dos princípios da fé cristã, a fim de abordar a dúvida de forma informada,
tendo uma base fundamentada de sua crença, se aprofundar em conhecimento dos
princípios da sua fé inclui o estudo da apologética, que é a defesa racional da fé cristã,
utilizar desse recurso de forma coerente e séria pode ser uma baita ferramenta para
fortalecer a confiança em seus argumentos principalmente nas respostas para aqueles
questionamentos difíceis de serem respondidos.

É importante ser honesto consigo mesmo sobre as dúvidas e reconhecer que nem
todas as perguntas terão respostas definitivas. Ter humildade intelectual permite
reconhecer que a fé envolve mistério e que é normal não ter todas as respostas. A vida
dentro da comunidade de fé inclui o diálogo e troca de experiências, essa troca com outros
cristãos que estejam na mesma caminhada que você, principalmente seu pastor, ajuda a
agregar experiencias, esclarecer algumas coisas e claro obter perspectivas diferentes. A
comunidade de fé também pode fornecer apoio, o que muito valioso.

Dedicar tempo para se conectar com Deus e buscar um relacionamento íntimo


com Ele e a clareza em mente da relação adequada que existe entre fé e a razão. Mais
uma vez é necessário ter humildade intelectual que permite reconhecer que a fé envolve
mistério e que é normal não ter todas as respostas. Isso fica evidente quando William
Lane Craig aborda que dúvida nunca é um problema puramente intelectual, ele está
sugerindo que a dúvida não é apenas uma questão de falta de evidências ou argumentos
racionais. “Quando as dúvidas aparecerem, não tente escondê-las ou fingir que elas não
existem. Leve-as a Deus em oração e peça-lhe que o ajude a resolvê-las” (CRAIG, 2016,
p.41). Se o mundo Espiritual está no sobrenatural, as respostas possivelmente estarão lá
também.

0 SOFRIMENTO E O MAL

A condição humana permeia e desafia a teologia e as ciências relacionadas na sua


tentativa de alcançar uma compreensão racional da questão do mal. Um Deus
misericordioso que é inequivocamente consciente do sofrimento humano. “o problema é
a dificuldade de conciliar o mundo em que vivemos, e principalmente o que está
acontecendo nele, com nossa fé em Deus, e, em especial, com certos pontos fundamentais
dessa fé” (JONES, 2009, p.56).

“Sem dúvida alguma, o maior obstáculo intelectual para a fé em Deus


— tanto para o cristão como para o não cristão — é o chamado
problema do mal. Em outras palavras, como é difícil aceitar que existe
um Deus todo-poderoso e todo-amoroso, e que permite tanta dor e
sofrimento no mundo” (CRAIG, 2016, p.81).

Uma das razões pelas quais a questão do mal é significativa é que todos querem
saber por que as coisas dão errado com pessoas boas estão, ou porque as coisas vão errado
em geral. O problema do mal é generalizado. A questão do sofrimento tem afetado as
pessoas ao longo do tempo, sejam elas religiosas ou não. Uma das objeções mais fortes e
prevalentes contra a fé cristã é este tópico. “o sofrimento é talvez a maior e mais dolorosa
interrogação da humanidade” (PEDREIRA, 1997, p.13).

Seja qual for a causa do sofrimento, as pessoas tentam vê-lo a partir de diferentes
pontos de vista do mundo. Obviamente, as causas do sofrimento são limitadas
dependendo da visão de mundo de uma pessoa. Portanto, é crucial que todas as
civilizações lidem com o problema do mal, mas esta questão é especialmente importante
para o teísmo, uma vez que, a questão do mal apresenta um sério desafio para a defesa do
cristianismo. Muitas pessoas negligenciam pensar sobre se as religiões não cristãs
respondem adequadamente e consistentemente à presença do mal, talvez porque a questão
do mal é usada tão frequentemente para desafiar o cristianismo.

SECULARIZAÇÃO

O termo "secularização" é o processo de abandono gradual dos preceitos culturais,


sociais, morais e políticos baseados em crenças religiosas. A secularização envolve a
emergência de um novo modo de vida que não está mais estruturado em torno de uma
visão enraizada em costumes associados à religião.

É importante entender a mudança de mentalidade entre os tempos medievais e


moderno, um processo que aconteceu rapidamente em um cenário europeu. Na Idade
Média, o mundo "terreno" e o mundo "celestial" ocupavam o mesmo nível de significado.
Desde os tempos modernos, com o avanço da ciência e a Revolução Industrial, cresceu
uma mentalidade de confiança infinita na razão, que é a base para conhecer a si mesmo e
aos outros, conhecer as coisas e criar. A razão se opõe a fontes extra-humanas de
conhecimento (costume, tradição, autoridade, intuição, instinto, sentimento). Na
modernidade, destaca-se a autonomia do homem racional em relação ao cristianismo. Ele
soube contemplar a realidade, colocar tudo sob a crítica da razão, contra a tradição e o
costume, contra a paixão e a emoção, contra o tabu e o mistério.

O PLURALISMO RELIGIOSO

O processo de pluralismo religioso, a multiplicação de escolhas, as associações


religiosas existentes são livres para escolher como entenderem. A religião passa pelo
processo de esvaziamento das instituições religiosas tradicionais, como igrejas católicas
e igrejas protestantes históricas, com o desenvolvimento de formas menos tradicionais de
religião, como uma Nova Era, uma filosofia com conotações místicas, uma tradição
esotérica. A adesão aumentou uma forma de crença religiosa que não significa
necessariamente pertencer a uma igreja ou aceitar ensinamentos claros e estritamente
definidos. Religião que gera pessoas sem religião, aqueles que buscam símbolos e
crenças, uma variedade de espaços e tradições espirituais para tecer seu complexo
religioso pessoal.

OS DESAFIOS DA IGREJA

A igreja vem enfrentando diversos desafios no mundo frente a secularização, que


muitas vezes resulta em uma diminuição da importância da religião na sociedade, então
há a necessidade de encontrar maneiras de se manter relevante à medida que a sociedade
se seculariza, pois há uma tendência de declínio na participação religiosa.

A igreja deve encontrar um equilíbrio entre tradição e adaptação à mudança social,


mantendo seus princípios fundamentais, isto é, se adaptar sem perder sua essência e
ideais. O fato de o mundo mudar e estar em constante adaptação, mostra essa necessidade,
o perigo está eminente quando para agraciar tais mudanças a religião passa a ficar em
uma fronteira entre o sagrado e profano. Para a sociedade moderna muitas vezes é
necessário a “inclusão”, porém esse termo perdeu grande parte do seu sentido, ou melhor,
agregou um sentido exacerbado de inclusão de práticas que não condizem com as práticas
bíblicas e de fé cristã, a exemplo do homossexualismo. Como diria um professor da
universidade em que estudo: “eu não sou neutro!”, e eu compartilho do mesmo preceito,
“eu não sou neutro!”. Em minha humilde opinião sobre os desafios da Igreja em relação
a secularização eu diria que é a fronteira do “pecado vestido de amor”, o “pecado
bonitinho” e a “essência do que é sagrado”, no momento que o sagrado é mexido ele pode
virar profano, ou seja, no momento que viver conforme a santidade bíblica tem mudanças
para viver conforme a santidade “bíblica moderna”, o que no princípio seria uma
instrução para levar ao céu, se mudada pode servir de tobogã para leva-lo ao colo do
capeta para conhecer o inferno. Por fim quando falamos em distorção do verdadeiro
significado de viver uma vida de acordo com cristianismo que é a sua essência no criador
e não na criatura, vale lembrar daqueles dois versículos bíblicos 18 e 19 no Capítulo 22
de Apocalipse que diz:

“18A todo o que ouve as palavras da profecia deste livro eu declaro: “Se
alguém lhes fizer algum acréscimo, Deus lhe acrescentará as pragas
descritas neste livro. 19E se alguém tirar algo das palavras do livro desta
profecia, Deus lhe tirará também a sua parte da árvore da Vida e da
Cidade santa, que estão descritas neste livro!” (BIBLIA DE
JERUSALÉM, 2002).
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

CRAIG, William L. Apologética para questões difíceis da vida / William L. Craig


tradução Heber Carlos de Campos— São Paulo: Vida Nova, 2010.

Bíblia de Jerusalém. Tradução em língua portuguesa diretamente dos originais; tradução


das introduções e notas de La Bible de Jérusalem. São Paulo: Paulus, 2002.

PEDREIRA, Eduardo Rosa. Fé e sofrimento. A espiritualidade que nasce da dor. Rio de


Janeiro: Vinde, 1997.

JONES, D.M. Lloyd. Por Que Deus Permite a Guerra? São Paulo: PES, 2009. p. 56.

SHELLEY, Bruce L. História do Cristianismo: Ao alcance de todos; tradução Vivian


Nunes do Amaral. São Paulo, Shedd Publicações, 2004.

Você também pode gostar