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São as atividades que devem ser compatíveis com o que as crianças precisam
aprender e não o contrário: é impossível as crianças regularem a própria capacidade
para realizar tarefas acima ou abaixo de suas possibilidades.
Autores de livros didáticos e de apostilas, mesmo que quisessem, não teriam como
ajustar as propostas didáticas ao que as crianças precisam e podem aprender: só o
professor será capaz de fazer isso a partir do que sabe sobre o conhecimento que
elas têm e sobre como fazer ajustes desse tipo.
Quatro âmbitos de conhecimento são fundamentais para todo professor e eles dizem
respeito ao sujeito da aprendizagem, aos conteúdos do ensino, às metodologias que
favorecem o aprendizado dos conteúdos e às próprias dificuldades relacionadas a
esses conhecimentos.
Há mais de três décadas já está comprovado que as crianças aprendem muito mais,
muito melhor e com maior rapidez quando trabalham com outras crianças em
agrupamentos planejados cuidadosamente para que aprendam em colaboração.
Não basta que as propostas sejam contextualizadas – elas precisam funcionar como
dispositivos que instiguem as crianças a refletir sobre a escrita. A compreensão das
regras de geração e do funcionamento da escrita alfabética não surge naturalmente
das situações de uso da língua. Pelo menos não para a maioria das crianças.
Propor que as crianças escrevam como conseguem para depois corrigir ou anotar do
jeito certo em cima, embaixo ou ao lado de suas escritas é um contrassenso.
O treino descontextualizado dos sons das letras não tem nenhuma relação com nada
do que foi dito acima.
Os fonemas que compõem uma palavra, trabalhados um a um, quando juntados não
coincidem com a palavra pronunciada, porque eles não existem de forma isolada na
língua. Esse tipo de artificialidade, além de não fazer sentido para as crianças, não
contribui para que elas se apropriem dos usos da língua.
Desconhecer o valor sonoro das letras não significa desconhecer as letras. Uma coisa
é não saber o valor sonoro de algumas letras, outra é não saber o valor sonoro de
nenhuma letra e outra é desconhecer o nome das letras.
O traçado das letras na forma cursiva é um aprendizado mecânico, que não requer
nenhuma construção conceitual, e que só faz sentido depois que as crianças
aprenderam o fundamental, que é ler e escrever.
A informação útil para a criança é aquela que ela pode compreender em vez de
apenas reproduzir. Somente a observação atenta do professor ensinará, com o
tempo, qual é a ‘dose adequada’ a oferecer em cada caso.
Meia hora por dia de atividades permanentes de alfabetização inicial, bem planejadas
e ajustadas às necessidades e possibilidades de aprendizagem das crianças, no
tempo de um ano resultam em aproximadamente 100 horas de reflexão sobre a
escrita. Nesse contexto, como não aprender?
Quando ainda não aprenderam a ler convencionalmente, as crianças sabem que não
sabem ler. Não adianta querer enganá-las.
Cabe às instituições educativas garantir as necessárias condições para que tudo isso
aconteça, pois uma mudança de paradigma dessa dimensão não depende apenas da
vontade dos profissionais.