Um Suplemento para Lobisomem: O Apocalipse

Livro das Racas Metamorficas

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´
 TENTATIVA & ERRO

OH, GAIA, O QUE EU FIZ?!

História por:
Arte de:
Colorido por:
UM MOMENTO DE HORROR EXISTE CONGELADO NO TEMPO.
Escrito por: O MUNDO ESTÁ PARADO ENQUANTO OS PENSAMENTOS CORREM LOUCAMENTE.
BUSCANDO UMA MANEIRA DE DESFAZER O QUE NÃO DEVERIA TER SIDO...
ELE ME ENSINOU TANTAS
COISAS... AS FORMAS DE
CURA COM ERVAS...

... E A ME DEFENDER...

ELE ME LEVOU AO DENTE DA

URSA E ME ENSINOU TANTOS
RITOS QUANTO PODE..

...AtÉ QUE CHEGOU A

HORA DE EU IR E SAIR
POR CONTA PRÓPRIA.

ISSO FOI ANTES...

...ISTO É AGORA!

SAI DE PERTO DE MIM!

VOCÊ NÃO É O AMOS!
 PELOS OSSOS DA URSA!
ESSA FOI POR POUCO!

OH, GRANDE MÃE GAIA, COMO

POSSO MANDAR ESTA COISA
DE VOLTA PARA ONDE VEIO?

NMPH... NÃO... NOVAMENTE

NÃO... DEVO ACORDAR...
 ELA DORMIU POR MAIS ELA SE CHAMA TESSA
DE UM SÉCULO... FALA-A-VERDADE...

ALGO RUIM FOI

LIBERADO...

...MAS SEU LONGO

SONO ACABOU.

MEDO E SANGUE NO AR...

VAMOS ENCONTRAR O
MEDO PRIMEIRO.
... PORQUE ELA FALA.

MMMM... FEIJÃO ASSADO E BIS-

COITO DE ACAMPAMENTO - O VER-
DADEIRO BANQUETE RÚSTICO! ...PETE, VOCÊ AINDA TEM
SPRAY CONTRA URSO?
EXISTE REFEIÇÃO MELHOR?

EU DUVIDO. EU...
VOCÊ OUVIU ISSO?

"GULP"... SIM...
 ME CHAME DE TESSA. TEMOS
QUE AGIR RÁPIDO, ENTÃO ME TESSA, ESPERA! A COISA
CONTE TUDO - E CONTE RÁPIDO! QUE ESTÁ LÁ FORA É...

HUH? QUEM É VOCÊ? VAMOS!

EU SOU MICHAEL.
ISSO É MINHA CULPA...

PRECISO DOIS CORAÇÕES

DE MAIS... BATENDO VEM A MIM...
ESTOU COM MAIS CARNE!
FOME! ...SANGUEEEE!

VOCÊ É APENAS UM FILHOTE...

ESSE DOM ESTÁ ALÉM DA
SUA CAPACIDADE!

MORRA DE NOVO, BESTA DA WYRM!!

EU ACHEI QUE SABIA

COMO TRAZÊ-LO DE VOLTA...

GRRRRRRR!

BEM, PARECE QUE AMOS ESTÁ

MORTO HÁ MUITO TEMPO
PARA QUE O DOM FUNCIONE.

EU SEI... AGORA.

...O HORROR.
 ...TESSA!!
...TÃO FORTE...
 MICHAEL! A ROCHA!
DERRUBE AGORA!

TESSA ESTÁ COM PROBLEMAS

AQUILO ESTÁ MATANDO ELA!

ESPERO QUE FUNCIONE!

TESSA!
SAIA DO CAMINHO!

PERDOE-ME, AMOS.
 PENSEI QUE VOCÊ ESTAVA COF...VOCÊ FOI BEM, MICHAEL. O MUNDO ESTÁ
MORTA - ESMAGADA PELA... LIVRE DESSA ESCÓRIA-DA-WYRM. DAR MINHA
VIDA É UM PREÇO PEQUENO... A... PAGAR...

SINTO MUITO AMOS. EU DEVERIA

TER DEIXADO SEU CORPO PARA GAIA.
SEU ESPÍRITO JÁ ESTÁ COM ELA...

ELA ME ENSINOU HUMILDADE E

CORAGEM... DEU A VIDA POR MIM
E POR GAIA. COM CERTEZA ELA
MERECE VIVER NOVAMENTE...

ADEUS, MEUS AMIGOS...

VÃO COM GAIA.

...SE EU TIVESSE TEMPO DE APRENDER MAIS.

Carregando as Feridas do Mundo

Por Jackie Cassada e Nicky Rea

Créditos
Autores: Jackie Cassada e Nicky
Rea
Desenvolvedor: Ethan Skemp
Editores: Cynthia Summers e Carl
Bowen
Diretor de Arte: Aileen E. Miles
Layout e Tipografia: Aileen E.
Miles
Arte: Pia Guerra, Jeremy Jarvis,
Ron Spencer, Drew Tucker
Arte dos Quadrinhos: Steve
Prescott
Arte da Capa: Steve Prescott
Design da Capa: Aileen E. Miles
Agradecimentos Especiais
Jeff “Pista Falsa” Holt, por conseguir imitar seu lanche favorito.
Aileen “Campeão do Pedaço” Miles, por não ter jogado Jeff do
caminhão em Dillsboro.
Rob “Vlad o Empalador, v. 7” Hatch, por sua atenção dedicada
ao circuito eletrônico.
Brian “Maior Otaku” Glass, por coletar mais animé do que se
poderia imaginar humanamente possível.
Ken “Baixista” Cliffe, por testar o ambiente por meio da apatia.
Ed “Deixe-me ver! Deixe-me ver!" Hall, por ser o esnobe da
arte.
André “Me. Mate. Agora." Bates, por ainda não ter conseguido
evitar o escritório nem por um dia.
Rich “Pé Peludo” Thomas, por criar indiretamente uma
evolutiva altamente duvidosa... hum, característica.

© 1999 White Wolf Publishing, Inc. Todos os

direitos reservados. É expressamente proibida a
reprodução sem a permissão por escrito do editor, exceto
para fins de resenhas e para fichas de personagens em
branco, que podem ser reproduzidas apenas para uso Agradecimentos e
pessoal. White Wolf, Vampiro a Máscara, Mago a
Ascensão e World of Darkness são marcas registradas da Dedicatória dos Autores:
White Wolf Publishing, Inc. Todos os direitos Isto é para Buck, Bill Bridges, Sam Chupp,
reservados. Lobisomem, o Apocalipse, Aparição, o Ethan Skemp e Carla Hollar. Cada um de
Esquecimento, Changeling o Sonhar, Caçadores, vocês sabe o porquê. Obrigado de nós
Lobisomem, Oeste Selvagem, Ratkin, Axis Mundi o dois.
Livro dos Espíritos, Hengeyokai os Metamorfos do
Oriente, Guia dos Jogadores de Lobisomem, Livro da
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nomes, lugares e texto aqui são de propriedade da White
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A menção ou referência a qualquer empresa ou
produto nestas páginas não constitui um desafio à marca
comercial ou direitos autorais em questão.
Este livro usa o sobrenatural para configurações,
personagens e temas. Todos os elementos místicos e
sobrenaturais são ficção e destinam-se apenas a fins de
entretenimento. Recomenda-se a discrição ao leitor.
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 Conteúdo

Introdução: A Jornada da Ursa Menor 17

Capítulo Um: A Dança dos Séculos 26

Capítulo Dois: Caras Pintadas 45

Capítulo Três: A Canção da Criação 74

Apêndice Um: Filhos do Urso 112

Apêndice Dois: Histórias para Contar 128

Conteúdo
 Introdução:
A Jornada da
Ursa Menor
Ontem à noite, sonhei com ursos de novo. Ao
longo das margens de um rio caudaloso, centenas de
ursos se reuniram para se banquetear com a fartura
das águas. Observei as magníficas criaturas
enquanto elas se posicionavam, prontas para atacar
com suas poderosas patas dianteiras o salmão
prateado que avançava precipitadamente para suas
áreas de desova. Vislumbrei o ataque súbito, ouvi o
bater repetido da pata na água enquanto um grande
urso após o outro comia sua refeição. O ar ao meu
redor tinha um cheiro fresco, frio e puro, não como a
fumaça rançosa e acre que permeava a cidade onde
cresci. Lá, respirar era uma tarefa árdua, e não a
resposta alegre à vida que deveria ser.
Apesar da cena idílica à minha frente, senti
uma presença sinistra se aproximando. Olhei além
dos ursos e do rio, em direção à linha de altas
montanhas que formavam o pano de fundo da minha
paisagem onírica. Acima das montanhas, uma massa
de nuvens escuras se formou. Esses monólitos
imponentes não eram nuvens naturais, mas
aglomerados de malevolência e corrupção. De
repente, o sonho começou a desabar sobre mim,
ameaçando crescer e se transformar em pesadelo.
Tentei me acordar, mas falhei miseravelmente. Meu
corpo tornou-se um fardo pesado, forçando-me a
permanecer enraizado no local enquanto meu
coração começou a bater forte de medo e o
sentimento de pavor ficou mais forte...
Se os ursos me notaram, eles me aceitaram
como parte de sua existência - ou talvez como parte
do sonho que compartilharam comigo. Eu queria me
15
juntar a eles, abandonar minha forma humana
desajeitada e assumir a elegância e a massa que era o
Urso. Eu sabia que tinha que ocupar meu lugar entre
eles.
A enorme tempestade se aproximava, precedida
por um estrondo baixo que parecia vir tanto da terra
quanto do céu. Logo, o terror fervendo dentro daquela
escuridão iminente envolveria tudo em sua sombra
mortal. A palavra “Apocalipse” soou na minha cabeça
como um sussurro escondido atrás de um trovão – e
parecia uma descrição precisa do que eu vi. Respirei
fundo e busquei dentro de mim a coragem de me juntar
aos ursos, de compartilhar o perigo e a beleza de sua
existência. Talvez, apenas talvez, eu pudesse fazer a
diferença.
Então, aconteceu. Meu corpo se uniu ao meu
desejo, e eu me senti iniciando a Mudança...
Acordei com o som de água corrente. O cheiro
de urso me cercou quando me sentei e me contorci para
fora do meu saco de dormir. O sonho ainda coçava nas
bordas da minha consciência, e eu olhei ao redor do
meu pequeno acampamento em busca de sinais que
explicassem a mensagem indescritível em minha visão
adormecida.
Tudo costumava ser tão simples. Eu morava
com meus pais em Portland, Oregon. Fui para a escola,
onde minhas notas eram boas o suficiente para que uma
carreira em medicina não estivesse fora de questão.
Passei a maior parte dos fins de semana caminhando ao
ar livre com meus pais e aprendendo muito sobre
sobrevivência no deserto. Agora acho que sei por que
eles me pressionaram tanto para aprender a
"rusticidade". Na época, dormir sob as estrelas e
procurar plantas comestíveis parecia divertido,
embora poucos de meus amigos vissem isso da
mesma maneira.
Então aconteceu. Certa tarde, fiquei até tarde
na escola para terminar um experimento científico.
Quando eu estava pronto para sair, estava quase
escuro. Restavam apenas alguns carros no
estacionamento — um deles pertencia ao Sr. Parker,
meu professor de biologia, que ia me dar uma carona
até em casa. O pneu dianteiro esquerdo estava furado,
então pegamos o estepe e o macaco. Eu me ofereci
para ajudar, mas ele apenas me disse para ficar fora do
caminho. Então sentei-me e observei enquanto ele
começava a colocar o sobressalente em seu lugar.
O tempo desacelerou então; Não consigo me
lembrar dos próximos momentos em nada além de
câmera lenta. O Sr. Parker se inclinou para a frente
para posicionar o pneu e seu joelho atingiu uma
mancha de graxa ao lado do macaco. Ele escorregou,
empurrando o pneu para baixo do carro e caindo para
a frente, empurrando o macaco. O chassi caiu no
chão, prendendo o Sr. Parker embaixo dele. Ele
gritou. O macaco, agora inclinado em um ângulo
estranho, era tudo o que o impedia de ser esmagado
por algumas toneladas de metal e, em alguns
segundos, o peso do carro libertaria o macaco.
Lembro-me de gritar, sentindo-me impotente
para fazer qualquer coisa, exceto assistir meu
professor favorito morrer. De repente, algo dentro de
mim estalou - e eu não estava mais indefeso. Eu me
elevei acima do carro, meu corpo fervendo de força.
Agarrando o pára-choque com as duas mãos - não,
não mais com as mãos - eu rugi, levantei o chassi e
virei o carro para a vaga de estacionamento próxima.
O Sr. Parker estava inconsciente e seu peito estava
sangrando - mas ele ainda estava respirando. Senti-
me encolher novamente; essa é a única maneira que
posso descrever isso. A exaustão golpeava meus
ossos e cada músculo do meu corpo doía, mas de
alguma forma consegui chegar a um telefone público
e pedir ajuda. Então desabei no chão e comecei a
chorar.
Meus pais vieram me buscar no hospital, onde
eu tinha ido com a ambulância para garantir que o Sr.
Parker estaria bem. Eu não disse nada a eles no
caminho para casa, mas eles conversaram com a
equipe do EMS sobre o acidente. Quando chegamos
em casa, meu pai me sentou na cozinha enquanto
mamãe preparava café para todos nós. Papai apenas
olhou para mim por alguns minutos, olhando com
tanta força que pensei que ele pudesse ver dentro de
mim - e talvez ele pudesse.
“Está na hora”, disse ele. “Você encontrou o
Urso” – ouvi o “U” maiúsculo em sua voz – “e agora há
algumas coisas que você precisa saber.”
No momento em que mamãe se juntou a nós na
mesa, papai havia falado sobre como os dois eram
Parentes e que eu era um verdadeiro meio urso - um
Gurahl. Mamãe apenas o ouvia falar, com os olhos
brilhando com lágrimas de felicidade. Eles sabiam o
que eu me tornaria desde pequeno - ou pelo menos
suspeitavam. Todo esse tempo, eles mantiveram
silêncio sobre isso, não querendo que eu crescesse me
sentindo diferente. Então eles continuaram o que
haviam começado.
Papai me entregou um mapa do Noroeste, com
uma linha grossa traçada desde Portland até o Alasca.
“Aqui é onde você deve ir para descobrir o resto - o que
não podemos ensinar a você. Você terá que chegar lá
sozinho, sem nenhuma ajuda nossa além deste mapa,
porque a jornada faz parte do seu vir a ser.”
Saí de casa no dia seguinte, com uma mochila,
um saco de dormir, o mapa e uma velha fotografia em
preto e branco que mamãe deve ter enfiado na minha
mochila no último minuto. Três dias depois, depois de
pegar carona com alguns companheiros de viagem -
relíquias dos anos 60, microônibus e tudo, finalmente
descobri o instantâneo. Era velho e esfarrapado, com
aquelas bordas enrugadas que você encontra em álbuns
de família sofisticados. A foto mostrava um homem alto
e esguio com óculos de aro de metal, cabelos ralos e um
grande sorriso de “sorriso para a câmera” no rosto,
parado no topo de uma colina gramada em frente a um
grupo de pinheiros. Ele vestia um macacão desbotado,
uma camisa xadrez e botas de trabalho. De pé ao lado
dele, chegando quase aos ombros, estava um enorme
urso Kodiak. O homem tinha o braço esticado o
máximo que podia sobre o ombro do urso (os ursos têm
ombros?). O urso, como o homem, estava olhando para
a câmera, e depois de olhar para a foto por um minuto ou
dois, percebi que o urso estava sorrindo, assim como o
homem. No verso da foto, mamãe havia escrito: “Meus
pais — seus avós”.
Olhei para a foto por um longo tempo - frente e
verso - até que minha carona me deixou perto da
fronteira canadense. Essa foi a última carona que
peguei. Fiz o resto do caminho pelo caminho que meus
pais traçaram para mim, passando os dias sentindo meu
corpo ficar mais duro e forte com o esforço, passando as
noites enrolado no saco de dormir pensando na
fotografia.
Então comecei a sonhar com os ursos. No
começo, eu só vi um único urso, um grande urso pardo
de olhos fundos que abriu caminho para os cantos de
qualquer sonho que eu estivesse tendo no momento.
Então, mais ursos começaram a aparecer - ursos pretos,
ursos marrons, ursos polares - lotando meus sonhos
como tias e tios amigáveis em uma reunião de família.
Claro, os ursos também ocupavam mais ou
menos minhas horas acordado. Não é todo dia que você
17
descobre que um de seus parentes andava sobre
quatro patas e catava insetos debaixo de troncos
podres. Nunca conheci meus avós. Os pais de papai
morreram quando ele era criança, e os pais de mamãe
— os indivíduos na fotografia — foram mortos em
um acidente de avião pequeno em algum lugar nas
Montanhas Rochosas canadenses. Eu tinha 11 anos na
época e só me lembro de mamãe chorando e papai
confortando-a.
Eu pensava no meu passado constantemente
enquanto viajava, tentando encontrar pistas que
pudessem me dar uma dica sobre o que eu era. De
alguma forma, eu sabia que tinha que encontrar uma
maneira de suavizar a transição entre a pessoa que eu
era antes da Mudança e a pessoa que estava
lentamente me tornando. As caminhadas na selva
com meus pais agora apareciam como enormes placas
de sinalização para o destino em minha cabeça. As
lições que aprendi foram úteis quando subi a costa,
encontrando minha comida crescendo ao longo da
estrada ou nadando em um riacho. Além do
conhecimento da natureza que meus pais me
presentearam, não consegui encontrar nada em meu
passado que me desse um tapa na cara e dissesse:
“Você não é quem pensa que é”. Depois de um tempo,
desisti de tentar resolver as coisas e apenas me
concentrei em onde estava indo.
Foi quando os sonhos se transformaram em
vídeos instrutivos. Comecei a dar nomes aos sonhos:
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havia o sonho “Como Ursos Pescam”, o sonho
“Hibernação”, o sonho “Ursos Procuram Comida” e o
sonho “Ursos Acasalam” (esse era bastante perturbador
na época). O sonho mais significativo, no entanto, foi o
sonho “Mudança de Forma 101” – no qual um urso se
transformou lentamente de sua forma ursina em uma
criatura enorme e pesada – uma coisa que era
inquietantemente familiar – e então continuou
mudando até parecer completamente humano. Contei
cinco formas diferentes ao todo. Então mudou de
humano para urso, invertendo o processo. Acordei no
meio da noite daquele sonho, determinado a ver se
conseguia aprender pelo exemplo. Deixei meu
acampamento e fui para a floresta um pouco para
experimentar aquilo. E funcionou.
Depois desse sonho, joguei fora meu mapa e
apenas deixei meus pés me levarem adiante, confiando
em uma bússola interior que direcionava meu caminho.
Agora acho que estou no fim da minha jornada.
O rio que corria em meus sonhos na noite passada está
bem à minha frente. Se eu ainda tivesse meu mapa,
poderia saber seu nome, mas de alguma forma, não me
importo. Alguém tem me observado à distância,
esperando que eu venha a este lugar neste momento. O
cheiro de urso fica mais forte, e me pergunto, por um
momento, se devo mudar para a forma de urso antes que
o observador apareça. De alguma forma, sei que sou
convidado aqui e aquele que me chamou não quer me
fazer mal. Acho que não há perigo em ficar aqui
esperando que meu futuro me alcance, mas espero
que não demore muito. O rio parece convidativo e
estou com fome suficiente para comer uma dúzia de
salmões! Além disso, o céu está limpo por enquanto,
mas talvez seja a calmaria antes da tempestade – o
Apocalipse. Nesse caso, tenho muito a aprender com
alguém e preciso aprender o mais rápido possível.
Ursa Ascende
Por muito tempo, os Gurahl dormiram,
retirando-se de um mundo que precisa
desesperadamente de sua cura e proteção. Mais de um
século atrás, quando a domesticação do Oeste
Selvagem rompeu os laços da Devoradora de
Tempestades, alguns meio ursos retornaram ao
mundo para ajudar a curar as feridas causadas por
seus estragos. A maioria dos Gurahl, no entanto,
permaneceu quieta, relutante em entrar em ação para
que sua presença não provocasse a ira dos Garou mais
uma vez.
Agora, no último quarto do século 20, os
Filhos do Urso retornam em números pequenos, mas
significativos, para recuperar seus antigos
protetorados e restabelecer laços com seus Parentes
humanos e ursinos. A terra treme com o despertar
dAqueles-Que-Dormem. O surgimento de alguns
preciosos novos filhotes, jovens Gurahl que não
conhecem em primeira mão o trágico legado das
Guerras da Fúria, traz um vislumbre de esperança
para a sobrevivência da mais gentil das Raças
Metamórficas de Gaia.
Uma vez que os Gurahl atuaram como
educadores e professores, curandeiros e protetores
para todas as criaturas de Gaia, ainda assim a Guerra
da Fúria os levou a se esconder por séculos. Rumores
sugeriam que os Gurahl haviam abandonado a Terra
para sempre. O retorno deles mudará o equilíbrio nas
batalhas finais para salvar o que restou do mundo, ou
os Gurahl estão surgindo bem a tempo de serem
devorados, todos e cada um, pelo Apocalipse?
Tema e Clima
Perseguidos quase à beira da extinção, os
Gurahl conseguiram sobreviver de alguma forma.
Embora seu número seja pequeno, eles começaram a
participar ativamente dos assuntos do mundo. Essa
tenacidade diante da quase aniquilação constitui um
dos principais tópicos deste livro. Os Gurahl possuem
paciência e um senso de perspectiva – qualidades
muito raras entre as Raças Metamórficas. Os homens-
urso têm uma visão de longo prazo da história; ao
contrário dos Garou emocionalmente sensíveis, que
agem por impulso, os Gurahl se movem em um ritmo
muito mais lento. Embora eles reconheçam a
necessidade de agir contra a Wyrm, eles também
19
temem os resultados de um comportamento precipitado
e impensado. Seu desaparecimento após a Guerra da
Fúria foi uma retirada estratégica, ditada pela
necessidade, mas sua ausência privou as criaturas de
Gaia de seus maiores curadores e nutridores. Agora os
ursos estão de volta, esperando que não tenham
dormido muito e que não estejam se movendo muito
devagar.
Uma profunda tristeza envolve os Gurahl. A
história de sua traição durante a Guerra da Fúria deixa
um gosto amargo na boca de quem a conta e cai
duramente nos ouvidos de quem a ouve. Ironicamente,
os curandeiros de Gaia ainda carregam as cicatrizes dos
erros milenares cometidos contra eles por seus irmãos
outrora amados - os Garou. Há, no entanto, um fio de
esperança que promete o fim da tristeza. Com o
nascimento de novos filhotes, os Gurahl têm a chance
de voltar e retomar a tarefa para a qual foram criados.
Talvez, apenas talvez, a nova geração tenha tempo para
crescer em plenitude e emprestar seu poder aos filhos de
Gaia.
Uma sensação de desespero agora leva os
Gurahl à ação. Alguns meio ursos mais velhos, assim
como muitos dos novos filhotes, acreditam que devem
aprender a aprimorar sua Fúria, aguçando sua raiva no
fogo da necessidade para que possam se tornar armas
contra a Wyrm também. Tempos de desespero exigem
medidas desesperadas e, nestes últimos dias antes do
Apocalipse, até mesmo os Gurahl devem liberar toda a
força de sua Fúria.
A Verdadeira História de Rip Van
Winkle
Com as pálpebras ainda pesadas pelo sono de
séculos, Rip Van Winkle para incerto na entrada de sua
caverna. O brilho do sol parece mais forte do que ele se
lembra. O ar também tem um cheiro diferente - pesado
com fumaça nociva e estranhamente insatisfatório ao
encher seus pulmões. Ruídos desconhecidos assaltam
seus ouvidos; no lugar do alegre tumulto do canto dos
pássaros, ele ouve uma cacofonia retumbante de sons
sem tom, zumbidos altos e clangores e estranhas
sensações de zumbido.
À medida que sua visão clareia, ele vê que
muito aconteceu desde seu sono enfeitiçado. Onde
antes vastas planícies e florestas sem fim cobriam a
terra, grotescos formigueiros de pedra e vidro agora se
amontoam, sufocando a vida da terra. Para onde quer
que ele olhe, há pessoas - tagarelando, gritando,
correndo, empurrando umas às outras por um espaço
onde o espaço não existe.
“Dormi demais”, ele pensa consigo mesmo,
sacudindo o último vestígio de sono de seu pelo grosso.
“Os sábios que buscaram meu conselho devem estar
mortos, ou então o mundo nunca teria chegado a este
ponto.”
Rip Van Winkle pensa em virar as costas para a
confusão que é o mundo moderno, mas depois pensa
novamente. “Se eu me render novamente à tentação do
sono tranquilo, se permanecer escondido e seguro por
mais um século ou dois, o que restará do mundo
quando eu acordar novamente?”
Suspirando com a aceitação da enorme tarefa
que está diante dele, Rip Van Winkle dá de ombros de
corpo inteiro, transformando-se (pela primeira vez em
vários séculos) de urso de pelo preto em homem de
meia-idade. Endireitando os ombros e se levantando,
ele caminha, nu e vulnerável, para a história mais uma
vez.
Talvez os Gurahl tenham esperado muito para
voltar à batalha pela sobrevivência de Gaia, mas
reforços tardios são melhores do que nenhum. De certa
forma, o “retorno” dos Gurahl não é um ressurgimento
verdadeiro, pois os filhos e filhas do Urso nunca
partiram de verdade – não totalmente. Alguns Gurahl
sempre permaneceram, escondidos entre seus Parentes
humanos e ursos como professores, curandeiros,
protetores e - quando necessário - como sacrifícios
voluntários pela sobrevivência de suas famílias.
Mesmo entre os Gurahl que escolheram hibernar,
alguns faziam questão de acordar de vez em quando
para monitorar o mundo ao seu redor. Em particular, os
observadores Gurahl estudaram o temperamento e o
desenvolvimento dos Garou, esperando para ver se a
passagem do tempo deu à mais volátil das Raças
Metamórficas uma oportunidade de refletir sobre suas
suposições errôneas sobre os curandeiros de Gaia. No
entanto, os Gurahl são teimosos como velhas árvores, e
nem mesmo a passagem dos milênios parece ter
suavizado sua opinião sobre os Garou. Em última
análise, sua falta de vontade de deixar velhas feridas
cicatrizarem pode ser fatal.
Alguns Gurahl até desapareceram para sempre
no País do Verão, abandonando seus corpos terrestres
por corpos espirituais Umbrais e se reunindo com seu
espírito totêmico. Os que ficaram para trás, em
hibernação ou escondidos, aguardaram o momento
certo para anunciar sua presença mais uma vez.
Essa hora chegou.

Léxico
Arcas (ARE-kus): O estágio da vida de um
Gurahl que corresponde à Lua Nova; semelhante a um
Ragabash Garou.
Arthren (ARE-thrun): A forma quase humana
do Gurahl, correspondendo à forma Glabro do Garou.
Bhernocht (BEAR-noct): Um estado de
tristeza e desespero avassaladores que se assemelha ao
Harano experimentado por alguns Garou.
Bjornen (Bee-YORE-nen): O urso das
cavernas ou quase-urso; a versão Gurahl de Hispo.

20
 Buri-Jaan (BOO-ree-ZHAWN): Este é o nome
dado a um Gurahl que serve como mentor de um novo
meio urso; também, o período de tutoria (do ponto de
vista do mentor).
Conselho do Outono: O Grande Conselho de
todas as tribos Gurahl; o mais importante dos encontros
Gurahl.
Festas: Reuniões informais entre os Gurahl.
Gallivant: O período inicial da vida pós-
Mudança de um Gurahl; um tempo de peregrinação e
curiosidade.
Geth-Rura (GETH-ROOR-uh): O lugar do
combate sombrio, um reino à beira da Umbra Negra
onde um Gurahl vai lutar contra o Urso da Morte.
Hibernação: Para Gurahl, este é um período de
animação suspensa, atingível por meio de um Dom ou
ritual, semelhante ao profundo sono de inverno dos
ursos normais.
Kieh (KEE-yuh): Um augúrio Gurahl que se
assemelha ao de um Garou Theurge; a própria palavra
significa “médico”.
Kojubat (KOY-yu-baht): Aquele que fala a
verdade; o Gurahl equivalente a um Galliard Garou.
Kovi (KO-vee): Literalmente, "criança-urso", o
título usado para Posto Um Gurahl.
Mangi (MAN-GEE): o Urso da Morte, uma das
formas triaspecto do Urso.
Matae (Mah-TIE): “Sábio”, o título atribuído
ao Posto Cinco Gurahl.
Destruidor de Padrões: O nome pelo qual a
Wyrm é conhecida pelos Gurahl.
Powwow: Celebrações intertribais Gurahl.
Rar-Azgai (RAHR-azh-GUY): O nome dado à
língua Gurahl.
Regalia: Reuniões tribais onde os Gurahl da
mesma tribo discutem preocupações comuns.
Rishi (REE-SHEE): O augúrio Gurahl que
denota um “sábio” ou um pacificador; o equivalente a
um Garou Philodox.
Sorna (SORE-nuh): “Aquele que cuida”, o
nome dado ao Gurahl que alcançou o Posto Três.
Talchwi (TALL-chwee): “Honrado pai”, o
título do Gurahl do Posto Quatro.
Criadora de Tapeçarias: O nome do Gurahl
para a Weaver.
Ursa Maior: a Grande Ursa Fêmea, uma das
formas triaspecto do Urso.
Ursa Menor: o Ursinho, uma das formas
triaspecto do Urso; também, Primeiro Filhote.
Ursus: A forma normal de urso dos Gurahl;
também, Gurahl nascido de ursos.
Verden (VURR-din): “Adulto”, o título usado
para designar o Posto Dois Gurahl.
Torcedor de Fios: O nome que os Gurahl dão à
Wyld.
Uzmati (Ooz-MAH-tee): Um guerreiro
Gurahl, semelhante ao Ahroun Garou.

21
 Bibliografia Selecionada
Livros
Vários livros, todos publicados pela Voyageur Press, apresentam observações sobre a natureza e
fisiologia de ursos de todos os tipos.
Bears: Behavior, Ecology, Conservation, de Edwin A. Bauer, aborda os ciclos de vida e os habitats dos
ursos marrons, pretos e pardos.
Polar Bears: Living with the White Bear, de Nikita Ovsyanikov, detalha os hábitos e o comportamento
dos ursos polares no Alto Ártico.
River of Bears, de Tom Walker, documenta a reunião anual de ursos marrons no State Game Sanctuary
do Rio McNeil, no Alasca.
Black Bear: Seasons in the Wild, de Tom Anderson, descreve a vida e os períodos do urso negro.
Grizzly Bears, de Gary Turbak, fornece uma introdução a esses controversos animais.
Part of the Reflections of the Wilderness Series publicada pela ICS Books, Grizzly Reflections e Black
Bear Reflections - ambos de Ken L. Jenkins - oferecem mini-guias ilustrados para ambos os tipos de ursos.
Giving Voice to Bear: North American Indian Myths, Rituals, and Images of the Bear, de David
Rockwell, revela a importância dos ursos e do conhecimento dos ursos nos rituais e vidas das culturas tribais.
Great Bear Adventures: True Tales from the Wild reúne relatos de encontros com ursos por naturalistas,
caçadores, romancistas e cientistas.
Mark of the Bear: Legend and Lore of an American Icon, editado por Paul Schullery, reúne mais
observações de vários especialistas e aficionados por ursos.
Polar Dance: Born of the North Wind, de Thomas D. Mangelsen e Fred Bruemmer, celebra em esplendor
ricamente ilustrado, a beleza e o mistério do urso polar. (Este livro é um deleite visual.)
The Sacred Paw: The Bear in Nature, Myth, and Literature, de Paul Shepard e Barry Sanders, reconstrói
o mito do urso e sua importância como ícone cultural, símbolo literário e força da natureza.
Shardik, um romance de Richard Adams, usa a estrutura da fantasia para contar uma história poderosa (e
pesada) do relacionamento épico de um homem com uma criatura que é parte urso, parte deus.

22
Filmes
O Urso segue um filhote de urso órfão durante seu primeiro ano de vida. Sem sentimentalismo indevido,
este filme premiado apresenta um retrato poderoso (e, às vezes, tocantemente bem-humorado) da espécie.
Alasca possui paisagens espetaculares, uma história de amadurecimento sobre duas crianças em busca
de seu pai desaparecido e um filhote de urso polar que rouba o show.

Como Usar Este Livro

Gurahl oferece uma espiada dentro do mundo dos meio urso. Juntamente com Lobisomem: O
Apocalipse e o Lobisomem Guia do Jogador, este Livro de Raça Metamórfica fornece informações suficientes
sobre a história, sociedade e cultura dos Gurahl, bem como regras para a criação de personagens para permitir
que você dê vida a personagens para suas histórias ou crônicas. Introdução: A Jornada da Ursa Menor dá uma
visão geral dos Gurahl e uma breve olhada em seu lado animal.
Capítulo Um: A Dança dos Séculos apresenta uma visão da história através dos olhos dos Gurahl,
incluindo sua opinião sobre a Guerra da Fúria e as razões de sua aparente retirada do mundo.
Capítulo Dois: Caras Pintadas descreve a sociedade e cultura dos Gurahl incluindo onde encontrá-los e
como eles se sentem sobre as outras criaturas do Mundo das Trevas.
Capítulo Três: A Canção da Criação dá um resumo da criação do personagem, incluindo uma lista
completa dos Dons e ritos que tornam o Gurahl diferente de (e, em alguns casos, semelhante a) outras Raças
Metamórficas.
Apêndice Um: Filhos do Urso apresenta alguns personagens iniciais prontos para jogar, bem como uma
galeria de Gurahl famosos ou notáveis.
O Apêndice Dois: Histórias para Contar inclui algumas informações do mundo real sobre ursos para
os interessados, bem como algumas dicas sobre como contar histórias baseadas em Gurahl.
As regras e diretrizes apresentadas neste manual elaboram e expandem as informações apresentadas no
Guia dos Jogadores de Lobisomem e, quando surgem contradições, este livro substitui o material anterior.
Como sempre, sinta-se à vontade para usar todo, parte ou nenhum conteúdo dessas páginas em suas próprias
crônicas.

23
 Capítulo Um:
A Dança dos
Séculos
Eu dancei de manhã
quando o mundo começou,
eu dancei na lua
E as estrelas e o sol.
eu desci do céu
E eu dancei na terra...
— Sydney Carter, “Senhor da Dança”

seu Presente de Troca pronto, mas é muito importante

Era Uma Vez
Bem-vindo, filhote. Venha e sente-se.
Meu nome é Rendon Garra Recolhida dos
Guardiões do Rio, e escolhi seguir o caminho dos
Contadores de Contos. Eu o convidei para minha toca
para que você possa aprender os caminhos dos
guardiões de Gaia agora que sua Mudança está sobre
você.
Primeira Saudação
Você me perdoará, eu espero, pois atualmente
me falta um dos itens especificados para lhe dar o seu
primeiro Ritual de Saudação como deveria ser
adequadamente executado. Espero que você aceite
minha saudação no espírito a que se destina e ignore
esta vergonhosa falta de minha parte. Veja, até um ou
dois dias atrás, eu não percebi que sua Primeira
Mudança já havia ocorrido. Peço seu perdão por ter
sido negligente neste dever. Faz tanto tempo desde
que recebemos um novo filhote, mas agora três de
vocês parecem ter surgido na última década -
tranquilo, agora; você encontrará os outros mais
tarde. Normalmente, eu adiaria este encontro até ter
para você entender quem e o que você é, e seu lugar
entre os Gurahl, para que eu atrase nosso encontro. Por
favor, desculpe-me por não ter terminado o seu
presente. Estará pronto na próxima semana.
Por que eu deveria lhe dar qualquer presente?
Essa explicação faz parte de quem você é, mas deve
esperar enquanto eu lhe faço a saudação adequada e
ensino você a fazer o mesmo por mim. Por enquanto,
você só precisa copiar o que eu faço. Você descobrirá
variações no ritual mais tarde com base em quem você
está saudando, a época do ano e o dia, se o encontro é
acidental ou planejado e se você simplesmente pretende
passar um pelo outro ou ficar e conversar. Mesmo coisas
como se você está lá para pedir ajuda a outro de nossa
espécie ou para avisar sobre o perigo têm efeito no tipo
de ritual de saudação que você usa. Aqui está uma
versão curta daquela que devo oferecer a você em sua
primeira saudação:
“Bem-vinda, jovem irmã. Bem-vinda ao
conhecimento de Gaia e Sua criação. Seja tranquila em
todas as suas formas e caminhe levemente sobre a Terra.
Saiba que você é Gurahl, protetora, curadora e
educadora, primogênita das Espécies Metamórficas. Eu
sou Rendon Garra Recolhida dos Guardiões do Rio. Te

24
 conhecer é uma honra. Não vou perguntar seu nome,
pois até agora você não tem nenhum entre nós. Por
enquanto basta que você seja uma irmã para mim. Peço
que aceite este presente que fiz para você. Mantenha-o
perto de você para que sempre se lembre de quem você
é. Quando você olhar para ele, lembre-se do nome de
Rendon Garra Recolhida, seu primeiro professor entre
seu verdadeiro povo.”
Esta é a parte em que eu daria a você seu
presente - geralmente uma obra de arte que fiz apenas
para você, que nunca repetirei no mesmo padrão ou cor
exata. Por enquanto, presenteio você com este enfeite
de cabelo com penas. As cores simbolizam a terra e a
água. O trabalho de miçangas mostra um salmão
saltando em um riacho. Por favor, use-o e saiba que
você é bem-vinda entre nós, nova filhote. Você é nossa
esperança para o futuro, e somos gratos por Gaia ter
escolhido mais uma vez nos enviar filhotes. Embora os
dias sombrios se aproximem, com a jovem e forte
Gurahl ao nosso lado, ainda podemos prevalecer.
“Pegue este pedaço de peixe e essas bagas. Eu os
preparei para nós. Prove cada um. Estes são os frutos de
Gaia, que eu lego a você. Sua doçura é tudo de que
precisamos para nos dizer por que alimentamos a
criação de Gaia. O peixe foi salgado para nos lembrar
das lágrimas que foram derramadas na proteção desses
recursos. Use-os com sabedoria. Nunca deixe de
oferecer a generosidade de Gaia a quem precisa. Aqui
está uma tigela cheia de água pura de nascente.
Simboliza a vida, pois todas as criaturas morrem sem
água. Beba profundamente, sabendo que algum dia
você poderá conhecer os segredos da vida e da morte.
Proteja os dotados de vida. Saiba quando é mais sensato
ajudar uma criatura muito velha ou muito danificada
para sobreviver a enfrentar a morte com dignidade.
Aqui está uma bolsa cheia de aloe vera, erva doce,
agulhas de pinheiro e casca de salgueiro. Eu lhe dou o
dom e o dever de curar os outros. Nunca economize em
oferecer cura para outras criaturas que são de Gaia.”
Agora damos as mãos um ao outro e nos
puxamos para perto. Não pense nisso apenas como um
abraço de estilo humano. Por meio dele, mostramos
confiança um no outro e nos aproximamos o suficiente
para aprender o cheiro distinto um do outro. Respire
fundo. Agora, mesmo à distância, nos conheceremos no
futuro. Dê louvor a Gaia e honre a Sua criação. O ritual
está encerrado.
Não, filhote, nem todas as nossas saudações são
tão longas. Mostre um pouco de paciência enquanto
temos tempo para as formalidades - muito tempo para
nos apressarmos em breve.
Você receberá suas boas-vindas formais no
equinócio de outono, mas, por enquanto, concedo a
você esse compartilhamento privado. Antes de abordar
o Conselho de Outono, você deve conhecer a história de
seu povo - quem somos, de onde viemos e o que ainda
esperamos realizar. É uma longa história, mas não

25
árdua, espero.

A Dança Começa
Antigamente, nós Gurahl teríamos dançado
esta história para que todos pudessem ver. Teríamos
medido o tempo desde o nosso primeiro despertar no
mundo com passos cuidadosos, marcando o ritmo das
estações de nossas vidas com movimentos majestosos
e gestos alegres. Raramente dançamos agora, e apenas
nas ocasiões mais formais. Essa alegria foi corrompida
para nós, transformada em um espetáculo vergonhoso
de ridículo e crueldade. Mas essa narrativa vem mais
tarde em minha história.
Se queres aprender sobre a tua herança,
filhotinho, deves ouvir as palavras que falo, apreciar as
imagens que te mostrarei, mas presta mais atenção às
danças que te ensino, passos que outrora dançamos
para contar nossas histórias para que ninguém pudesse
entender mal. Mesmo que você esqueça minhas
palavras e não se lembre mais das imagens, talvez os
padrões da dança sejam suficientes para transmitir a
majestade, a graça e a tristeza de nossa história. Algum
dia, será a sua vez de ensinar isso ao jovem Gurahl.
Observe agora e mexa-se comigo, pois faço o que
nenhum de nós faz alegremente neste dia: danço a
Dança dos Séculos.

No Princípio
Fique quieto, com os pés afastados e pronto
para se mover em qualquer direção que eu for. Balance
para frente e para trás, sinta a pulsação da Terra sob
seus pés. Agora, lentamente, levante o pé. Agora você é
um com a terra e o ar. Gradualmente, avance até que os
dedos dos pés mergulhem na água. Vire o rosto para
sentir o calor do sol. Água e fogo agora também fazem
parte de você. Respire profundamente, prenda a
respiração dentro de você e saiba que o espírito
completa o padrão da dança que é você.
Agora viramos e viramos novamente, movendo
nossos braços acima de nossas cabeças e balançando-
os lentamente de volta para baixo. Quando
terminarmos este movimento, assumiremos nossas
formas de urso e o repetiremos. Este é o passo de
viragem, o início do padrão. Ele serve como o primeiro
movimento em nossa Dança da Criação, assim como o
mundo tomou forma e começou a girar em direção ao
tempo.

Criação de Gaia
Nossas lendas dizem que quando Gaia
caminhou pela primeira vez pelos caminhos entre as
estrelas, Ela escolheu um caminho brilhante com uma
clara luz amarela próxima para fazer um lar para todos
os Seus filhos-ainda-por-nascer. Ela se estabeleceu
perto do calor da estrela, embora longe o suficiente para

26
que seu fogo feroz não queimasse Seus novos filhos
quando nascessem. Assim como fizemos, Ela ergueu os
pés e se virou, realizando a Dança da Criação. À medida
que Seus pés passavam, caminhos terrestres surgiram,
estendendo-se Dela em todas as direções e tornando-se
terra. Ela acenou com as mãos e chamou os ventos para
o mundo. Ela cantou, e o espírito de Sua canção tornou-
se o fogo no coração da Terra.
Sentando-se sobre as novas terras, Gaia penteou
Seus cabelos e os separou dEla, tornando-se rios e
mares. Ela passou Suas mãos sobre a terra, e ela estava
coberta de grama, árvores e flores. Então Ela convidou
suas irmãs e irmãos para visitá-La em Sua nova casa.
Estes se tornaram os planetas e a lua. Finalmente,
enquanto Ela se movia pela terra, Ela ria de alegria e
chorava de saudade da beleza que via. Do riso e das
lágrimas surgiram filhos para compartilhar o mundo
com Ela.
Quando nós Gurahl dançamos este passo pela
primeira vez (que executamos em homenagem a Ela),
foi quando nos levantamos de dentro da Grande Mãe.
Quando Ela nos deu à luz, nós nos aninhamos em Seu
corpo quente, inalamos Seu cheiro verde e terroso e A
seguimos enquanto Ela se movia. Ela nos chamou para
servir como protetores da terra e de tudo o que nela
habitava, e ficamos felizes em nos tornar Seus sagrados
guardiões. Nossas naturezas exigiam que fôssemos
criadores e protetores da Terra e de suas criaturas –
incluindo os humanos.
Os Garou diriam a você que os humanos
arruinaram o mundo, mas fomos criados para apreciá-
los como as outras criaturas de Gaia. Muitos entre as
Raças Metamórficas e a humanidade observam a
semelhança entre ursos e humanos, citando nossos
rostos expressivos e nossa postura ereta quando
andamos sobre duas pernas. Nós sabemos a verdade
sobre o assunto. Não somos nós que nos parecemos com
os humanos - são eles que nos copiaram, aprendendo
nossa postura ereta e como expressar seus sentimentos
como nós.
Alguns dirão que existimos antes do próprio
tempo; outros afirmam que surgimos apenas depois que
os humanos herdaram o mundo dos grandes lagartos e
animais da pré-história. Aqueles que observam que nos
reproduzimos com humanos, assim como com nossos
parentes ursos, perguntarão como poderíamos ter
surgido antes que os humanos existissem. Eu não estava
lá, então não sei a verdade disso. Muitos de nossos
guardiões do conhecimento e estudiosos discutem esse
ponto, alguns dizendo que Gaia nos criou a partir dos
próprios ossos da Terra e nos deu a habilidade de
procriar com nossos parentes próximos mais tarde. Para
mim, penso que insistir em tais questões leva ao mesmo
tipo de arrogância que aflige os Garou. Que mais glória
podemos pedir do que saber que fomos os primeiros dos
filhos Metamórficos de Gaia?
27
Lendas de Como Viemos a
Existir
Diferentes tribos de Gurahl explicam como
viemos a existir de maneiras diferentes - às vezes
existem várias histórias de criação dentro da mesma
tribo. Talvez uma delas seja a verdadeira história.
Também pode ser que estejam todos corretos. O mito
tem um jeito de zombar daqueles que querem que sua
história seja muito arrumada. Uma de nossas histórias
favoritas afirma que uma certa tribo de humanos
desistiu de sua vida estável e se mudou para as
montanhas. Lá eles imitaram os animais.
Gradualmente, neles cresceram peles longas e se
tornaram maiores. Alguns deles se tornaram Gurahl e
outros ursos.
Outra história menciona que saltamos de
dentro de colinas ocas, despertando e farejando nosso
caminho para a luz do sol quando sentimos pela
primeira vez o aroma inebriante da generosidade de
Gaia. É por isso, dizem eles, que ainda preferimos as
cavernas, pois desejamos voltar para nossas casas
subterrâneas quando a neve cobre a terra e apaga os
cheiros que nos atraíam.
Ainda outro conto diz respeito ao
acasalamento do espírito da Grande Ursa com a Ursa
Maior de corpo carnal, para produzir a Ursa Menor, o
alegre filhote, uma criatura tanto de matéria quanto de
espírito. Dizem que novas estrelas encheram o céu,
rosnando de alegria, quando o filhote nasceu e,
naquele momento, nascemos do amor do filhote por
sua mãe e seu pai.
No final, realmente não importa como viemos
a existir, exceto no fato de que foi Gaia quem nos
chamou à existência, e nos tornamos os mais amados
de Seus filhos Metamórficos.
A Calma Antes da Corrupção
No entanto, não éramos os únicos filhotes de
Gaia. Muito antes de nosso próprio nascimento, a
Mãe teve três outros filhos. Porque Ela buscou o
equilíbrio no mundo, a Grande Mãe deu à luz aqueles
que agora chamamos de Torcedor de Fios, Criadora
de Tapeçarias e Destruidor de Padrões — aqueles a
quem outros chamam de Wyld, Weaver e Wyrm.
Torcedor de Fios girou em todas as partes do mundo,
criando bolsões brilhantes de matéria. O Criadora de
Tapeçarias pegou esses bolsões e os organizou em
roupas e objetos artesanais, e o Destruidor de Padrões
viu os itens novos e brilhantes e os separou para que
sempre houvesse espaço para a existência de objetos
recém-criados.
Naquela época, o equilíbrio não estava em
perigo. Pudemos interagir com os humanos como
protetores, educadores e professores. Queríamos
ajudar nossos irmãos e irmãs mais novos, sem pelos e
sem garras. Alguns de nós até deram nossas vidas por
eles, sacrificando nossa própria carne e pele em
tempos em que os nus teriam morrido de fome ou
congelados. Vendo nossa devoção ao resto de Sua
criação, Gaia nos deu um grande presente, um que não
compartilhamos com as outras Raças Metamórficas -
o presente de devolver a vida a alguém que morreu.
Esta grande honra reservamos para aqueles que
nobremente se sacrificaram pelos outros. Muitas
tribos humanas celebraram nossa conexão com elas,
formando cultos de urso e sociedades de cura a quem
ensinamos os rudimentos de nosso conhecimento.
L oucu ra do Destruido r de
Padrões
Esses tempos idílicos não poderiam durar. À
medida que a humanidade se tornava mais estável,
Criadora de Tapeçarias crescia em poder. Ela viu que
o Destruidor de Padrões estava destruindo suas
amadas criações e derramou lágrimas brilhantes por
sua perda. Como qualquer bom irmão faria,
Destruidor de Padrões tentou secar suas lágrimas e
implorou para saber como ele poderia fazê-la feliz
novamente. O que ele não notou até que fosse tarde
demais foi que as lágrimas de Criadora de Tapeçarias
caíram sobre ele enquanto ele a confortava, formando
uma rede tecida ao seu redor. Com medo de ser
confinado, ele se debatia com força - tentando em vão
quebrar os fios de tristeza que o enredavam. Quando
eles falharam em quebrar, ele lutou mais, apenas para
se amarrar com mais firmeza. Enlouquecido além da
sanidade, Destruidor de Padrões atacou qualquer
coisa que pudesse alcançar, quebrando coisas que
nunca deveriam ser destruídas e vomitando corrupção
sem consideração.
A Dança da Criação, como deveria ser,
vacilou e morreu. Foi sucedido por uma série
interminável de passos desalinhados tentando em vão
recuperar o equilíbrio.
Dê um passo à frente e levante a cabeça. Vire
primeiro para a direita, depois para a esquerda.
Agache-se e coloque as palmas das mãos no chão.
Mais uma vez, vire a cabeça para os dois lados. Esta
etapa é conhecida como Ponto de Equilíbrio. De
quatro, alcançamos uma estabilidade que não
podemos conhecer com as duas pernas. Esta é a razão
pela qual temos quatro patas em forma de urso, para
que possamos sentir os quatro cantos da terra.
Saboreie o equilíbrio e expire sua respiração. Agora
levante-se lentamente novamente, respirando
suavemente enquanto se levanta.
Levante uma perna, dobrando o joelho para
que fique quase nivelado com o peito. Você deve
estender os braços para manter o equilíbrio após um
curto período de tempo. Mantenha a posição, mesmo
que sinta que pode tropeçar. Agora, tente virar no
28
mesmo lugar (como fizemos antes), contornando o pé
restante em um círculo. Não é fácil, não é? Este é o
passo que chamamos de Predicamento de Gaia. Isso
nos lembra o quão verdadeiramente precário tem sido o
domínio de nossa Mãe na Terra desde a corrupção
daquele que agora é chamado de Wyrm.
As Crianças Metamórficas
Como Gaia descobriu trabalhos que precisavam
ser feitos, Ela criou as outras Raças Metamórficas. Ela
criou os Mokolé para ser Sua memória quando o mundo
se tornou tão grande que era difícil recordar tudo o que
precisávamos saber. Os Bastet tornaram-se os olhos de
Gaia, observando o que acontecia com suas pupilas
estreitas e secretas. Os Corax tornaram-se Seus
mensageiros - principalmente porque ninguém
conseguia mantê-los quietos de qualquer maneira, e Ela
sentiu que era melhor que eles tivessem algo importante
a dizer em vez de repetir conversas ociosas. E tantos
outros nasceram também, cada um com um propósito
especial. Recebemos toda a ajuda deles para cuidar da
criação de Gaia.
Era para ser nosso trabalho proteger e curar a
terra. Nós tentamos estar em todos os lugares onde a
Wyrm estava, alimentando um novo crescimento,
protegendo o que podíamos de seu toque doentio e
curando o que suas espirais tornavam sujas. No entanto,
o Destruidor de Padrões havia crescido demais. Mesmo
em quatro patas e perfeitamente equilibrados, fomos
completamente derrotados. Vendo e sentindo a dor da
Terra, sabíamos que não poderíamos mais cumprir
nossos deveres. Erguendo nossas vozes em canto à
Grande Mãe, pedimos a Ela que nos enviasse mais
irmãos e irmãs para nos ajudar. Ela também sentiu a dor
do mundo corrompido. Gaia sabia que, apesar de nossos
melhores esforços, tentar curar o que já estava quebrado
era muito mais difícil do que impedir que fosse
arruinado. Ela determinou que ao invés de fazer mais
curandeiros, Ela criaria guerreiros, ferozes defensores
dedicados a lutar contra a Wyrm. Dessa forma, nós
Gurahl poderíamos nos concentrar na cura e
preservação, e poderíamos deixar a batalha para Seus
novos filhos, os Garou.
Os Garou
Nossos guardiões do conhecimento costumam
dizer que os Garou nasceram da dor de Gaia sobre nossa
incapacidade de purificar a corrupção da Wyrm. Ela não
nos culpou, sabendo que em sua corrupção, o
Destruidor de Padrões havia se tornado grande demais
para qualquer um curar até que sua fúria contínua
terminasse. Para conter seus excessos, Ela criou os
Garou. Demos boas-vindas ao advento de nossos
irmãos mais novos e os apresentamos às outras Raças
Metamórficas. Estávamos orgulhosos de que nossos
irmãos e irmãs mais novos nos ajudassem a defender
Gaia. Como nos foi ordenado nos primeiros tempos,
nós os amamos e procuramos ensiná-los.
Balance os braços exuberantemente em
direção ao céu. Pule de um pé para o outro e gire em
um círculo. Ria em voz alta com alegria pura e clara
e estenda os braços para a frente como se estivesse
pronto para abraçar alguém. Apresente as palmas
das mãos abertas. Chamamos isso de Passo Alegre.
Significa como nos sentimos em relação aos nossos
novos irmãos.
Na época, também ensinamos muitos
segredos aos humanos, transmitindo nosso
conhecimento da terra de Gaia para que
aprendessem a plantar e cultivar para se alimentar.
Tudo o que pedimos em troca foi que eles honrassem
nossos outros parentes, os ursos. Quem teria sido
mais adequado para fazer tal barganha? Nós e nossos
parentes ursos (exceto aqueles do norte gelado)
comemos tudo que os humanos comem – grãos,
frutas, carne e vegetais. Ao ensinar os humanos a
plantar, nós os ajudamos a sobreviver e tornamos
menos necessário que eles caçassem e matassem
tantas outras criaturas de Gaia. Mantivemos o
equilíbrio.
Assim como ensinamos aos humanos,
procuramos ensinar as habilidades dos Garou que
eles precisariam para lutar contra a Wyrm.
Ensinamos a eles o Rito de Purificação e o Rito de
Passagem. Nós os ensinamos a pedir Dons aos
espíritos, como Toque da Mãe e Sentir a Wyrm, para
que eles fossem avisados da presença da Wyrm e
pudessem se curar quando feridos. Outra coisa que
tentamos ensinar a eles foi a harmonia, a habilidade
de equilibrar seus próprios sentimentos para se dar
paz e tranquilidade. Esta lição, no entanto, eles não
puderam aprender.
Na verdade, não foi culpa de nenhum dos
lados. Não reconhecemos que Gaia lhes deu Fúria
para que pudessem atacar rápida e ferozmente, em
vez de lentamente e com grande força. Eles não viam
utilidade em nossa teimosa paciência, julgando-nos
lentos demais, até mesmo covardes. Não nos
entendíamos; na verdade, não poderíamos entender,
pois somos criaturas muito diferentes.
Achamos melhor viver separados um do
outro, cada um mantendo um determinado território
pelo qual reivindicou a responsabilidade. Em algum
lugar dentro desse alcance, cada Gurahl mantinha
um Recanto especial para o qual se retirava para
descansar e recuperar sua energia. Muitos de nós
também mantivemos uma casa dentro de uma aldeia
ou assentamento para que pudéssemos estar
disponíveis para ensinar os humanos de lá, para dar-
lhes nossa força e para curá-los. Também
oferecemos esses presentes à terra e aos animais ao
nosso alcance. Os humanos confiaram em nós e nos
honraram, e tentamos ensiná-los a viver da terra sem
causar danos a ela. Precisávamos ficar sozinhos, pois
éramos poucos e tínhamos muito território a cobrir.
Os Garou acharam nossos caminhos
indecifráveis. Para eles, apenas seus Parentes entre os
humanos contavam como criaturas de Gaia; todos os
outros eram apenas parasitas na terra. Eles tentaram
abater os humanos como rebanho de bestas, na esperança
de manter seus números em um nível consistente e
imutável. Eles poderiam muito bem ter dito às flores
silvestres para não crescerem. Nossos irmãos lobos
achavam que nossas tentativas de ensinar humanos eram
altamente suspeitas; não se ensina os segredos ao
inimigo. Os Garou viveram e lutaram como um bando, ao
contrário de nós. Eles tiveram que enfrentar a corrupção
espalhada pela Wyrm, e havia uma chance maior de
sucesso na batalha quando vários guerreiros atacavam
juntos. Os humanos honravam o Urso, mas temiam muito
o Lobo. Onde eles pediram nossa ajuda, eles imploraram
a Wolf para não lhes causar mal.
Prelúdio para a Guerra
Fique quieto, ombros caídos para a frente e
abaixe a cabeça. Agora balance de um lado para o outro,
lentamente. Levante o pé até que ele saia do chão e dê um
passo à frente. Agora deslize o outro pé para o lado e
mova-se para segui-lo. Dê um passo para trás com o pé
original. Levante a cabeça e os braços como se
implorasse uma explicação aos céus. Este é o Passo da
Tristeza e Arrependimento. Dançamos para comemorar
a dor que sentimos na pior época de nossa história.
Muitos chamam este tempo de Grande Traição. Eu
chamo isso de Desperdício da Má Interpretação.
Deveríamos ter visto o que estava por vir, mas não
fomos feitos para desconfiar. À medida que ensinamos
aos Garou mais sobre nosso conhecimento, eles ficaram
com ciúmes do que não sabiam. Nós os aconselhamos a
serem pacientes, pois mesmo nossa própria espécie não
aprende nossos segredos mais profundos e maiores ritos
como filhotes. Alguns conhecimentos só podem ser
compreendidos por aqueles que beberam profundamente
das experiências da vida.
Isso não quer dizer que jovens como você sejam
incapazes de entender como algo funciona
intelectualmente, mas que às vezes é necessário tornar-se
sábio na vida antes de realmente apreciar o que lhe foi
ensinado. Nenhum pai sábio dá fósforos a um bebê,
porque o bebê não consegue compreender quais podem
ser todas as consequências de acender esses fósforos. Da
mesma forma, nenhum ancião Gurahl coloca o fardo de
nosso conhecimento mais secreto sobre os ombros
daqueles jovens demais para fazer escolhas inteligentes.
O Dom da Respiração de Gaia
Os Garou descobriram que nós, Gurahl, tínhamos
conhecimento de um grande Dom ensinado a nós por
Gaia, uma maneira de dar vida aos mortos mais uma vez.
Em nossos primeiros dias, usamos o Dom
29
extensivamente e descobrimos, para nosso pesar, que
era melhor guardar uma manifestação tão poderosa
para circunstâncias muito especiais. Todos nós
decidimos usar o Dom apenas para aqueles que
nobremente se sacrificaram pelos outros, e apenas
raramente.
Vejo que você realmente não entende. Por que
permitiríamos que nossos amigos e irmãos
morressem quando precisávamos apenas usar o Dom
de Gaia para fazê-los viver novamente? Talvez a
resposta mais fácil seja que não somos como a
Criadora de Tapeçarias. Não insistimos em porque
algo existiu, deve permanecer existindo. Vivemos
nossas vidas, e muitas delas foram bastante extensas,
abrangendo séculos. Mas quando é hora de morrer,
por que devemos nos apegar a esta existência - ou
sermos forçados a voltar a ela por outros bem-
intencionados - quando nossos espíritos podem voltar
para Gaia e se transformar em um novo ser? Mesmo
aqueles de nós que escolhem não ser renovados
encontram grande felicidade nas Terras do Verão,
onde descansam de seus trabalhos. Nós apenas
restauramos um dos nossos quando aquele é cortado
em seu auge ou quando parece que seu trabalho está
inacabado.
Há um lado mais sóbrio nisso também.
Quando algo cumpriu seu propósito, é hora de deixar
de lado e abrir espaço para o que é novo. Se não o fizer,
a coisa velha às vezes fica presa no lugar, recusando-
se a ser movida, e apodrece por dentro. A mera
30
continuação sem um crescimento correspondente e um
aprofundamento da compreensão é inútil. Além disso,
pode ser perigoso. Eu hesitaria em abordar alguns de
nossa espécie que dormem há séculos, pois não tenho
conhecimento do que lhes aconteceu durante sua longa
hibernação. Muitos, sem dúvida, despertarão renovados
e prontos para ocupar novamente seu lugar no mundo;
outros podem ter se tornado distorcidos e corrompidos.
Finalmente, devo dizer-lhe o maior perigo em
usar este Dom. O tempo decorrido entre a morte de um
amado Gurahl e sua ressurreição é de vital importância.
Se aquele que usa o Dom não estiver presente quando o
outro Gurahl morrer, ele estará correndo o risco de ter
passado muito tempo e de o espírito do Gurahl ter
mudado. Você vê aquele bosque enegrecido ali? Esse é o
resultado da tolice de um filhote em evocar algo que ele
não pode controlar. Quando já passou muito tempo,
algo mais retorna ao invés do espírito do Gurahl. Não
posso começar a contar o horror e a destruição que um
espírito Maldito habitando o corpo de um Gurahl pode
causar. Espero que você nunca descubra esse
conhecimento por si mesmo. Mais tarde, talvez,
explicarei com mais detalhes este Dom tão precioso e o
que mais nós Gurahl sabemos dele. Agora, deixe-me
continuar com minha história e minha dança, pois você
tem mais necessidade deste conhecimento que do outro
agora.
Como crianças gananciosas, os Garou queriam
tudo e exigiam gratificação imediata. Eles acreditavam
que deveríamos dar a eles nosso conhecimento do Dom
do renascimento porque eles poderiam usá-lo para trazer
de volta guerreiros mortos lutando contra a Wyrm.
Enquanto sofremos com eles pela perda de seus bravos
irmãos e irmãs, não pudemos dar-lhes o que exigiam.
O Primeiro Grande Conselho
Fique de pé e estique os braços na altura dos
ombros, como se estivesse envolvendo os ombros dos
outros. Embora não tenhamos um círculo completo,
agiremos como se tivéssemos. Feche os olhos por um
momento e imagine um círculo cheio de outros Gurahl.
Mova-se para a direita, cruzando uma perna atrás da
outra. Agora avance como se estivesse fechando a
circunferência do círculo. Solte os braços e vire-se para
fora. Levante os braços novamente e mova-se para a
direita. Dê um passo para fora como se estivesse
permitindo que o círculo se expandisse. Volte-se para
dentro novamente e repita os passos para a esquerda.
Para fora e repita novamente para a esquerda. Agora,
mova-se por todo o círculo como se entrasse e saísse com
os outros até retornar à sua posição original. Esta é a
Dança Circular do Conselho onde todos nos reunimos
para chegar a um acordo. Você precisará conhecer os
passos quando comparecer ao Conselho de Outono no
equinócio.
Reunidos em nosso primeiro Grande Conselho,
conversamos muito sobre os Garou e o que devemos (e
não devemos) ensiná-los. Talvez você acredite que
fomos arrogantes ao presumir que sabíamos o que era
melhor. É possível que você esteja certo, mas vivemos
muito tempo no mundo de Gaia e o conhecemos muito
melhor do que nossos irmãos mais novos. Falamos de sua
grande e incontrolável Fúria. Pensamos em sua natureza
precipitada, em como eles falharam em pensar nas coisas
antes de agir. Embora saudássemos sua força e bravura na
batalha e soubéssemos que eles raramente podiam se dar
ao luxo de pensar muito antes de tomar decisões,
decidimos que o risco era simplesmente grande demais.
Não podíamos confiar a maior bênção de Gaia nas mãos
dos Garou.
Sabíamos que eles o usariam em todos os
guerreiros caídos, pensando que esse Dom os tornaria
invencíveis. Nunca tivemos ocasião de tentar usar o Dom
mais de uma vez no mesmo Gurahl, mas suspeitávamos
que os Garou tentariam repetidamente - com
consequências desastrosas. Eles se corromperiam por
dentro, nunca percebendo o que trouxeram de volta ao
seu meio. Os guerreiros de Gaia se tornariam os lobos
Malditos do Destruidor de Padrões. O que era para
abençoar se tornaria uma maldição uma vez legada aos
nossos parentes Metamórficos mais jovens. Como
temíamos, os Garou não entenderam, mesmo quando
tentamos explicar.
A Guerra das Palavras
Sufocados pelo ciúme e perplexidade, eles
31
exigiram que os Gurahl compartilhassem todos os
Dons de Gaia ou então sofressem as consequências.
Nós recusamos. Alguns de nós ficaram muito tristes
por negar-lhes o que eles tanto queriam; outros
começaram a se ressentir dos Garou, repreendendo-
os por sua insolência e repreendendo-os por sua
Fúria. Os Garou falaram com os outros parentes
Metamorfos, dizendo a todos que estávamos
acumulando os Dons de Gaia para nós mesmos. Eles
apontaram para nosso hábito de viver sozinhos em
vez de em matilhas, dando a entender que éramos
fracos e tínhamos algo a esconder. Rumores
começaram a circular de que o Gurahl havia caído
nas mãos da Wyrm.
Alguns entre os Filhos das Raças
Metamórficas acreditaram nos Garou, pensando que
se Gaia os escolhesse para erradicar a Wyrm e seus
lacaios, eles deveriam saber quem era corrupto e
quem não era. Muitos que antes eram nossos amigos
nos evitavam; aqueles com quem contávamos para o
seu apoio retiraram-no. Agora nos encontramos
verdadeiramente sozinhos.
A Era do Gelo
A Era do Gelo começou, e os Garou -
procurando por uma luta - culparam os Gurahl por
este período difícil, acusando-os de que estávamos
tentando destruir os guerreiros de Gaia em retaliação
por dizer aos outros que havíamos caído nas mãos da
Wyrm. Não acredito que todos os Garou fossem
cheios de ciúme e perfídia. Nem todos sabiam que
era mentira. Muitos não tinham motivos para não
acreditar no que lhes diziam. Sempre lamentei que
mais Garou falhassem em desafiar o que seus líderes
lhes disseram - que a Era do Gelo era a prova de que
fomos corrompidos - mas suponho que a
subserviência e a lealdade à matilha sejam
inculcadas neles.
Seja qual for o motivo, os Garou apontaram
para a vinda do gelo como prova de que havíamos
desistido de nossa guarda da terra. Usando isso como
desculpa, eles começaram a nos atacar e incitar os
outras Raças Metamórficas a fazerem o mesmo.
Alguns Garou usaram a ponte criada pelo
gelo para atravessar as Terras Puras em busca de
novos lares longe do tumulto. Muitos Gurahl foram
com eles. Entre esses Garou, poucos acreditaram nas
mentiras. Muitos deram as boas-vindas à nossa
companhia e cada um de nós encontrou novos
parentes entre as pessoas e os animais em nossos
novos lares. Muitas tribos que honraram o Lobo e o
Urso aprenderam de nós dois.
Mas o estrago já estava feito e não seria
contido. Embora os efeitos tenham diminuído nas
Terras Puras, em outros lugares nos encontramos
envolvidos na Guerra da Fúria.
A Guerra da Fúria
De alguma forma, deveríamos ter encontrado
uma maneira de pará-la. Sabemos agora que
deveríamos ter permanecido fiéis à nossa própria
natureza, mas sempre foi difícil para aqueles que
defendem a paz permanecerem pacifistas em face da
batalha. Nunca deveríamos ter respondido à força
com nossa própria força. Ainda assim, eu me
pergunto: poderíamos ter neutralizado a Fúria dos
Garou recusando-nos a responder a ela, ou todos nós
teríamos perecido sob suas presas e garras? Nunca
saberemos, pois não fizemos essa escolha.
Liderados por sua elite, uma tribo conhecida
como Presas de Prata, os Garou declararam guerra
contra nós. Você pode ter ouvido falar sobre a guerra
ou visto na televisão. Mesmo lá, longe de você, parece
terrível. É ainda pior quando os combatentes são
aqueles que deveriam ser aliados. Antes, sempre
fomos capazes de proteger a nós mesmos e aos que
estavam sob nossos cuidados. Agora nos encontramos
em tremenda desvantagem.
Onde quer que eles nos procurassem, nós
revidamos. Pela primeira vez, deixamos nossas
agressões virem à tona, igualando os Garou golpe por
golpe. Tão grandes em força quanto em cura,
infligimos danos horrendos a nossos inimigos. A pena
é que voltamos essa força contra nossos próprios
irmãos e irmãzinhas. Apesar de nossa formidável
força e resistência, não fomos feitos para a batalha
como os Garou. Nem poderíamos ficar sozinhos
contra um bando inteiro. Lutamos; eles morreram e
nós morremos. Mas havia menos de nós. Um a um,
caímos diante de seus ataques e, quando caímos,
deixamos nossas terras e nosso povo desprotegidos.
Alguns Garou voltaram sua Fúria contra nossos
Parentes desprotegidos, matando-os na crença de que
eles erradicaram os asseclas da Wyrm ao fazê-lo.
Muitas tribos humanas que nos honraram e nos
chamaram de parentes foram completamente
exterminadas durante esse período. Nossos parentes
ursos também foram mortos pelos Garou durante a
Guerra da Fúria. Talvez se estivéssemos mais
preocupados em salvá-los do que em revidar uma
batalha perdida, eles ainda existiriam.
Em muitas partes do mundo, embora alguns
de nossos Parentes tenham sobrevivido, a população
nativa Gurahl foi completamente destruída. Os
32
Okuma, outrora a orgulhosa tribo dos Gurahl asiáticos,
foram todos perdidos para o que é conhecido no Oriente
como a Guerra da Vergonha. Os Gurahl russos
incluíram muitos dos Parentes Asiáticos Okuma em
suas próprias tribos, que desde então se tornaram parte
de nosso próprio grupo, os Guardiões do Rio. Alguns
dos poucos Parentes Okuma restantes também se
juntaram aos Guardiões da Montanha, mas como essa
tribo chegou tarde (separou-se dos Guardiões do Rio
assim que chegamos às Terras Puras), mais acabaram
conosco do que com eles. Estranhamente, ouvi dizer
que a Guerra da Vergonha veio muitos séculos depois da
Guerra da Fúria, muito depois que os Garou se
acalmaram. Mas essa história vem depois. Por
enquanto, você só precisa perceber que a Guerra da
Fúria destruiu muitos Gurahl e dizimou muitas tribos de
nossos Parentes.
Inicialmente, nossos Parentes ursos, escondidos
com mais astúcia e vivendo em áreas mais remotas,
estavam em melhor situação. Então o verdadeiro
pedágio tornou-se óbvio. Em cada lugar onde os
guardiões Gurahl foram destruídos, os ursos logo
declinaram. Hoje em dia, quase todos os ursos daquelas
regiões se foram.
Ainda assim, havia algo pior por vir do que as
mortes em batalha. Não bastava que os Garou tentassem
nos matar. Muitos dos guerreiros de Gaia estavam mais
interessados em capturar e torturar a nós e nossos
Parentes para arrancar de nós o segredo do Sopro de
Gaia. Os afortunados morreram rapidamente; nenhum
traiu o segredo, uma prova de nossa natureza
implacável (o que muitos chamam de teimosia).
Acreditamos que os Garou tentaram persuadir
ou obrigar as outras Raças Metamórficas a declararem
guerra contra nós também, procurando justificar seus
próprios ataques e forçar todos os outros a reconhecer
sua liderança sobre todos os filhos de Gaia. Alguns de
nossos contadores de histórias chegam a afirmar que
esse foi o verdadeiro motivo da guerra, para que os
últimos pudessem assumir o lugar de direito dos
primogênitos. Cada um respondeu à sua maneira.
Nossos irmãos e irmãs Metamorfos têm suas próprias
histórias para contar sobre suas escolhas durante a
Guerra da Fúria. Temos muito pouca informação sobre
suas ações, e esse conhecimento chega até nós de
segunda mão, pelos Corax. Por necessidade, fomos
afastados de nossos parentes (mesmo dos outros
Metamorfos) durante esse tempo.
 Cabelo Prateado e os Ursos
Certa vez, uma família de ursos vivia nas profundezas da floresta. Eles moravam em uma grande caverna
cheia de belos itens que faziam à mão. Durante o dia, eles vagavam pela floresta, cumprimentando os outros
animais e certificando-se de que tudo estava bem em seu território. À noite, eles voltavam para casa e
preparavam a comida que haviam recolhido durante suas caminhadas diárias, depois sentavam-se juntos e
contavam o que tinham visto e trabalhado naquele dia. Ocasionalmente, outros ursos vinham visitá-los, em busca
de cura ou conforto, que a família dos ursos dava gratuitamente a seus primos. Outros animais vieram até eles
também, e os ursos nunca recusaram ninguém. Sua reputação em toda a floresta como almas gentis, prontas para
ajudar criaturas necessitadas, se espalhou além de suas terras até chegar aos ouvidos de uma jovem loba
chamada Cabelo Prateado.
Cabelo Prateado ouviu histórias sobre a família dos ursos e decidiu descobrir por si mesma o quanto do
que ouviu era verdade. Ela viajou para a floresta onde vivia a família dos ursos, mas ao invés de se apresentar a
eles, decidiu observá-los por um tempo.
De um lugar escondido não muito longe da aconchegante caverna da família dos ursos, Cabelo Prateado
espionou as atividades diárias da família. Ela notou que todas as manhãs, depois de saudar o sol, os dois ursos
adultos e seu filhote indisciplinado iam para a floresta. Tarde da noite, eles voltavam para casa, com os braços
cheios das plantas e ervas que colheram. Ocasionalmente, eles traziam para casa carne fresca.
A cada poucos dias, um urso ferido ou doente de outra parte da floresta vinha visitar a família. No dia
seguinte, aquele urso iria embora curado de sua doença ou curado de suas feridas.
“Eles devem estar fazendo mágica dentro de sua caverna”, pensou Cabelo Prateado. “Se eles possuem
grandes segredos de cura, preciso aprendê-los para mim e para meus irmãos e irmãs lobos.” Ainda assim, em vez
de visitar a família dos ursos diretamente, Cabelo Prateado esperou e observou, pois ela era orgulhosa demais
para pedir qualquer coisa aos ursos.
Um dia, uma delegação de ursos veio visitar a família dos ursos, levando consigo um feixe de ossos e um
crânio de urso. Eles ficaram com a família dos ursos por três dias e três noites e, quando finalmente partiram, um
estranho urso os acompanhou - um que não fazia parte do grupo original.
Cabelo Prateado pensou sobre o que tinha visto e decidiu que o visitante urso extra havia sido
reconstituído de alguma forma da pilha de ossos que os outros ursos trouxeram com eles.
Cabelo Prateado percebeu que a “magia” da família dos ursos era realmente poderosa, se eles pudessem
recriar um urso vivo a partir de nada mais que ossos. “Devo ter esse segredo para mim e para meus irmãos e
irmãs lobos”, pensou ela. “Os ursos estão errados por manter esse segredo para si mesmos.”
No dia seguinte, ela esperou até que a família dos ursos fosse para a floresta. Então ela rastejou até a
caverna dos ursos e entrou furtivamente. Ela passou o dia procurando o segredo do renascimento, vasculhando
cada centímetro da caverna para o caso de perder seu esconderijo. Ela examinou as peças de arte que os ursos
usaram para decorar sua casa, quebrando algumas delas no processo. Ela provou todos os seus estoques, caso o
segredo tivesse a ver com comer ou beber determinados alimentos.
Finalmente, exausta por sua busca, Cabelo Prateado se cansou. “Vou apenas me deitar”, disse ela, “e
descansar um pouco antes de ir embora.” E então ela adormeceu, tendo sonhos estranhos sobre ossos que
ganhavam vida e ursos que realizavam danças rituais ao redor de uma fogueira.
A família dos ursos voltou para a caverna e encontrou sua casa em ruínas. Muitas de suas obras de arte
mais preciosas estão em pedaços no chão da caverna. Recipientes de armazenamento de alimentos quebrados
cobriam toda superfície.
“Quem poderia ter feito isso?” o pai urso rugiu, tremendo de raiva com a destruição do trabalho de sua
vida.
“O que fizemos para merecer isso?” a mãe ursa lamentou, olhando para a comida estragada e a ruína de
suas pinturas favoritas.
“Quem fez isso ainda está aqui!” gritou a criança ursa animadamente, apontando para a figura
adormecida no fundo da caverna.
O som das vozes da família dos ursos acordou Cabelo Prateado. Assustada e consternada por ter sido
pega, ela se levantou e tentou fugir, mas a família dos ursos se interpôs entre ela e a boca da caverna. Cabelo
Prateado decidiu que tentaria intimidar para sair da situação.
“Você está guardando o segredo do renascimento”, disse ela. “Eu vim pegá-lo de você, já que você não
vai contar a mais ninguém sobre isso.”
Papai urso balançou a cabeça tristemente. “Não acumulamos nada, filhote”, disse ele. “Conhecemos
muitos tipos de cura e estamos felizes em compartilhar nosso conhecimento com aqueles que o solicitam. Se você
viesse até nós ferida, nós a curaríamos. Se você estivesse doente, curaríamos sua doença. Se você estivesse com
fome, nós lhe daríamos comida. Tudo o que você precisava fazer era pedir.”

33
 "Dê-me seus segredos", Cabelo Prateado exigiu.
“Não”, disse Mamãe ursa. “Porque você tentou tomá-los para si mesma, você provou que ainda não tem
idade ou sabedoria o suficiente para possuí-los. Vá embora até precisar de nós. Talvez, quando você for mais
velha e mais sábia, podemos compartilhar um pouco do nosso conhecimento com você.”
“Vá embora ou vou arrancar teus cabelos prateados da tua cabeça”, ameaçou o menino urso, erguendo-
se o mais alto que pôde, imitando os pais.
Cabelo Prateado pisou na entrada da caverna, passando pela família dos ursos. Ela olhou para eles antes
de sair.
“Meus irmãos e irmãs lobos precisam de sua magia,” ela disse. “Você não tem o direito de esconder seu
conhecimento de nós. Sem ela todos nós podemos morrer, e será sua culpa se o fizermos!”
A criança urso deu um empurrão em Cabelo Prateado e a empurrou para fora da porta. Então a família
dos ursos começou a tarefa de juntar os pedaços de sua casa despedaçada.
Cabelo Prateado voltou para seus irmãos e irmãs lobos de mãos vazias e envergonhada. Orgulhosa
demais para admitir a derrota total, ela contou a eles uma versão diferente da história de sua tentativa de
aprender os segredos da família dos ursos.
“Os ursos estão escondendo de nós deliberadamente o segredo do renascimento porque querem controlar
quem vive ou morre. Seu poder os corrompeu e eles não são dignos de agir como guardiões de uma forma de
magia tão potente. Tentei pedir-lhes que compartilhassem seus conhecimentos comigo, mas eles se recusaram.
Na verdade, eles me atacaram e me ameaçaram”.
Assim, Cabelo Prateado despertou a raiva dentro de seus irmãos e irmãs lobos, e eles determinaram que,
se os ursos não compartilhassem com eles o segredo do renascimento, eles tomariam esse conhecimento para si
mesmos - pela força, se necessário. E isso eles tentaram fazer.
— de “The Storysongs of Shoshona Medicine-Bear”

32
 Os Parentes dos Gurahl preservaram esta história
como uma parábola da Guerra da Fúria. Ao contá-la uns
aos outros, eles honraram seus parentes Gurahl durante
os longos séculos de sua ausência. Por fim, a história
tornou-se tão difundida que chegou aos ouvidos de
outros humanos. Eventualmente, a história chegou à
escrita, onde os humanos agora a conhecem em sua
forma muito diferente.
Sabemos que os Corax deram informações aos
Garou, mas depois ajudaram muitos de nós a escapar da
morte quase certa. Eles nos contaram que os Nuwisha se
viraram e partiram, e que os Bastet lutaram contra os
Garou com garras e dentes. Os Mokolé, os Rokea, todos
os outros (incluindo muitas crianças Metamórficas que
não sobreviveram) perceberam que eram os próximos e
se recusaram a entrar. Os Garou os ajudaram, decidindo
que ataques preventivos contra as outras Raças
Metamórficas eram necessários.
De alguma forma, os Garou se convenceram de
que deveriam ser os primeiros à vista de Gaia. A partir
daí, foi apenas um pequeno passo para pensar que eles
deveriam ser os únicos amados de Gaia. Sabíamos então
que não havia como convencê-los de nossa inocência ou
parar a Guerra. Nossa presença estava fazendo com que
nossos Parentes, tanto ursos quanto humanos, sofressem.
Além disso, outras crianças Metamórficas foram
forçadas a escolher um lado ou lutar por sua própria
sobrevivência. Enquanto ficássemos, os Garou teriam
um foco para sua Fúria. A única resposta era desaparecer
e esperar que a raiva de nossos irmãos mais novos
diminuísse se eles não se sentissem mais ameaçados por
nossa posição como primogênitos de Gaia.

A Retirada
Para evitar a destruição total de nós mesmos e de
nossos Parentes, os Gurahl sobreviventes realizaram um
Segundo Grande Conselho para discutir nossas opções.
Na verdade, não tínhamos outra opção senão uma: nos
retirarmos do mundo. Muitos dos mais velhos - muitos -
tiveram que abandonar seus corpos e entrar na Umbra.
Alguns foram para as Terras do Verão em busca de
felicidade e uma recompensa por seus serviços prestados
a Gaia. Outros se retiraram totalmente para seus
Recantos secretos ou bolsões Umbrais e entraram em
uma hibernação quase permanente. Felizmente, os
Garou (e muitos outros entre as Raças Metamórficas)
assumiram que todos nós abandonamos nossa existência
terrena. Acreditando que o segredo do renascimento
havia sido perdido para eles, os Garou entregaram-se a
uma fúria final, após a qual sua Fúria finalmente esfriou.
Apesar de mais alguns surtos, nossa retirada sinalizou o
fim da Guerra da Fúria.

Os Séculos de Silêncio
Ao longo da maior parte da história humana, os
Gurahl tiveram apenas uma parte periférica nas coisas. À

31
medida que os humanos se tornavam cada vez mais
estáveis, os Garou tentavam controlá-los por meio do
Impergium. Se estivéssemos lá, poderíamos ter
conseguido detê-los, mas estávamos perdidos. O
mesmo pode ser dito sobre muitas situações nos anos
que se seguiram. Muito poucos de nós ainda
interagiam com nossos parentes humanos. A partir
dessas reuniões, Parentes tribais aprenderam nossos
segredos de cura e danças sagradas. Continuamos a
ensiná-los a respeitar Gaia. Os cultos aos ursos, mais
dedicados à cura e à caça ritual de ursos para sustento,
proliferaram entre essas tribos. Mais de nós
contatamos nossos parentes ursos, mantendo esses
canais vivos também.
Na maior parte, porém, os Gurahl dormiam,
acordando de vez em quando para monitorar as
coisas. O maior segredo entre os parentes Metamorfos
— conhecido apenas por nós e pelos Corax (já que não
conseguimos escondê-lo deles) — era que, apesar de
nosso aparente desaparecimento (e falecimento
presumido), permanecemos no mundo ou um pouco
além dele. Alguns de nós até agora permanecem
trancados no sono, mas o resto dos Gurahl anciãos
passou algum tempo viajando de uma área para outra,
mantendo uma vigilância naquelas regiões que uma
vez cultivamos.
Bisavô, Bisavó
Tornou-se uma tradição passada de um Gurahl
para o próximo que pelo menos um de nós estaria
sempre acordado para assistir e ajudar como
pudéssemos. Esse é conhecido como Bisavô ou
Bisavó. É responsabilidade desse Gurahl viajar pelo
mundo encorajando a proteção de nossos parentes
ursos enquanto procura perpetuar as tradições
daquelas tribos que ainda honram o Urso como um
totem. É um trabalho ingrato e que cobra seu preço.
Veja, nenhum de nós pode continuar, dia após dia, a
conter a maré imparável que ameaça submergir Gaia
em nome do progresso e da ascensão do homem.
Eventualmente, o Bisavô adoece com os venenos e a
tristeza do mundo, e ele deve retornar ao seu Recanto
para limpar o fedor. Antes de fazer isso, ele é
encarregado de despertar o outro e transmitir tudo o
que aprendeu. Aquele então se torna o novo Bisavô.
Dessa forma, nos mantivemos a par de algumas das
mudanças no mundo e tentamos manter uma pata
dentro quando podíamos.
Declínio Inevitável
Não é de surpreender que, como a maioria de
nós dormia em reinos ocultos, nossa raça declinasse
vertiginosamente. Não sabíamos que isso
aconteceria. Na verdade, decidimos que era o melhor.
Nenhum de nós realmente queria trazer novos filhos
ao mundo quando eles tinham pouco a esperar, exceto
32
medo e privação. Além disso, temíamos que, se
tivéssemos filhos enquanto estávamos envolvidos na
guerra, nossos filhotes não seriam verdadeiros Gurahl,
mas pseudo-Garou - ensinados a lutar e atacar em vez de
nutrir e curar, encorajados a cultivar ferocidade em vez
de compaixão e compreensão. Veja, nós nos
conhecíamos muito bem. Embora tivéssemos vivido
para curar e ajudar, levou apenas alguns anos para nos
livrarmos de nossa natureza e respondermos aos
ataques com nosso próprio ódio e Fúria. Quão mais
vulneráveis nossas crianças seriam se fossem trazidas
para um mundo consumido pela guerra entre as crianças
Metamórficas?
Nós sabemos a resposta para isso. Daqueles
poucos que nasceram durante esse período, quase todos
entraram em seu tempo Uzmati antes de terem
amadurecido completamente. Instados por sua Fúria,
muitos que deveriam ter vivido vidas longas e
produtivas lutaram e morreram quando eram pouco
mais que filhotes. As guerras levaram tantos filhotes
antes que os filhotes tivessem a chance de aprender o
que realmente eram. Havia tão poucos de nós para
sermos mentores deles, e desses, muitos tinham medo
de deixar abrigos escondidos e procurar os recém
Mudados. A maioria dos filhotes perdidos enlouqueceu
de medo do que parecia ser algum tipo de possessão
tomando conta deles. Outros foram mortos pelos
supersticiosos que acreditavam que os filhotes não
treinados eram monstros perigosos para atacar seus
próprios filhos. Eventualmente, quando Parentes
pararam de acasalar com Parentes e nós paramos de
acasalar completamente, não nasceram mais crianças
Gurahl. Os únicos de nós que sobraram foram os
anciãos, a maioria dos quais preferiu dormir a assumir
novamente a tutela que lhes foi confiada por Gaia.
Nisso, estávamos errados. Assim que a Fúria
dos Garou diminuísse, deveríamos ter retornado e
reassumido nossos deveres. O simples medo não teria
nos dissuadido. Em vez disso, o que nos fez reter nossos
poderes de cura foi nossa própria dor. Sentimos que
havíamos sido traídos. Pedimos ajuda a Gaia e, em vez
disso, ela criou os Garou, que em sua Fúria se voltaram
contra nós. Alguns dos verdadeiramente antigos entre
nós perguntaram por que isso aconteceria. Por que
devemos nutrir a criação de Gaia? Ela não impediu que
Seus perversos Garou nos matassem. Muitos se
esqueceram de que Gaia abriu caminho para a Umbra
para escaparmos, que Ela nos ensinou os Dons para
aliviar nossas feridas e até mesmo para restaurar
aqueles que morreram. Eles se lembraram da dor, da
mágoa e da raiva; eles agarraram velhos erros em seus
corações e se alimentaram de desespero. Assim, alguns
de nós caíram na escuridão. É dolorosamente irônico
que muitos Gurahl tenham respondido às acusações dos
Garou de mácula da Wyrm assumindo tal mácula na
realidade. É uma ferida antiga, que ainda não cicatrizou.
Os humanos, enquanto isso, provaram que, sem
nossa orientação, eles poderiam encontrar novas coisas
em que acreditar. Guerras explodiram na Europa, Ásia e
África à medida que os humanos se tornavam mais
numerosos e lutavam por território ou ideologia. Na
maioria das vezes, não estávamos envolvidos.
Dormimos e permitimos que o Bisavô se movesse de
um lugar para outro, tentando amenizar o sofrimento e
evitar que as tribos que ainda reconheciam nossos
ensinamentos perecessem.

O Rei Urso
Ainda nos restavam alguns momentos de
esperança e grandeza. Nas ilhas que se tornariam
conhecidas como Grã-Bretanha, surgiu um Gurahl que
se tornou o líder de sua tribo humana. Seus feitos - tanto
na guerra quanto na paz - tornaram-se tão famosos que
as histórias se entrelaçaram ao seu redor. Usando a
grande força que possuía em todas as suas formas, o Rei
Urso derrotou aqueles que o prejudicariam ou a seus
parentes. Mesmo com seus inimigos, ele mostrou
misericórdia e defendeu a paz para que houvesse tempo
para plantar e colher sem o tumulto causado pela guerra
constante. O rei tomou como esposa uma mulher dotada
de poderes próprios de cura e conhecimento da vida.
Juntos, eles criaram uma terra cheia de prosperidade,
um reino dourado que se tornou um farol brilhante de
esperança.
Alguns dizem que foi a fada ciumenta que o
derrubou, enquanto outros afirmam que os Garou das
ilhas atacaram com força, acreditando que o Rei Urso
possuía o conhecimento que eles lutaram na Guerra da
Fúria para obter. Qualquer que seja a verdade, o conflito
atingiu este reino com a força de um raio. A rainha
desapareceu. Alguns afirmam que ela foi a culpada pela
guerra, mas a maioria acredita que ela fugiu para a
Umbra para evitar a perseguição de seu marido
gravemente ferido. O rei mortalmente ferido foi levado
para uma ilha secreta Recanto onde ele poderia ser
curado e entrar em hibernação, alguns dizem,
esperando o dia em que o mundo estaria mais uma vez
pronto para sua sabedoria. Das histórias que cercam seu
tempo de governo, no entanto, surgiram lendas que
ecoaram nos corações dos mortais. Eles ficaram tão
apaixonados por sua grandeza que o recriaram várias
vezes (ou talvez ele tenha saído da hibernação várias
vezes na tentativa de melhorar o mundo, sempre
voltando a dormir quando o mundo o desapontava).
Pouco importa o que é verdadeiro; o importante é
lembrar de seu serviço a Gaia e sua criação. Quando
mais precisarmos dele, acredito que Arturus surgirá
novamente para nos liderar.

31
 A Caçada e o Sacrifício
Muitas tribos humanas nas Terras Puras e nas
terras frias do norte da Europa e da Ásia celebravam o
ritual de matar o urso como algo central para suas
religiões e para a sobrevivência de seus povos. Um
festival que durou vários dias reencenou a história da
Mãe Ursa e seu Filho, o Filhote cuja morte formal
como um sacrifício voluntário trouxe comida, roupas
e ferramentas necessárias para a tribo. Em muitas
culturas, esse festival também marcava o fim da safra
e o início do inverno. Durante esta época do ano, o
espírito do Urso sacrificado descia ao Submundo,
onde assumia o papel de guardião dos mortos. Na
primavera, com o fértil despertar da vida vegetal e
animal sob a neve, o Urso reentrou no mundo,
renascido para a Mãe Ursa para dar sua vida mais uma
vez, no momento apropriado, à sua tribo.
O Mundo Segue em Frente
Surgiu uma nova religião defendendo a paz e a
fraternidade. Por um tempo, tivemos grandes
esperanças de que seus defensores trariam uma era de
cura e compreensão, mas eles também sucumbiram ao
mal e à ganância de alguns. Eles até perseguiram
aqueles que honraram Urso para adorar seu deus ou
ser passado pela espada. Considerados bárbaros e
pagãos por esses chamados povos civilizados, muitas
linhagens de Parentes morreram quando os membros
das tribos foram convertidos e forçados a esquecer os
velhos costumes sob pena de morte.
Logo, apenas tribos dispersas vivendo em
áreas remotas se lembraram de Urso e dos
ensinamentos dos Gurahl. Nossos parentes ursos se
saíram um pouco melhor. Caçados em climas
inclementes por suas peles, os ursos se tornaram
pouco mais que curiosidades em muitos lugares. Em
outros, nossos parentes eram temidos por causa de sua
força. Humanos que não sabiam nada sobre Urso se
convenceram de que seus filhos eram ferozes e cruéis.
Acreditar nisso mostrava aos outros como eles eram
corajosos, os humanos que haviam esquecido como
viver perto dos caçadores selvagens pagos para
capturar ursos e trazê-los para as cidades onde eram
usados como “isca de urso”. Nunca ouviu falar? Os
ursos eram algemados a fortes postes, passavam fome
quase em frenesi e eram forçados a lutar pela
sobrevivência contra cães, outros animais selvagens
ou grupos de homens com lanças.
No entanto, esse “entretenimento” não foi o
pior castigo infligido aos nossos orgulhosos parentes.
Muitos nunca entenderão por que o que estou prestes a
falar nos afetou tão profundamente. Espero que você
não seja um desses.
Dê as mãos a mim. Dê um passo leve para o
lado. Eu irei na direção oposta. Isso leva nossos
braços à altura dos ombros, cotovelos dobrados, com
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um conjunto de mãos entrelaçadas diante de cada um
de nossos rostos. Sinta nossa unidade. Feche os olhos e
saboreie nossa conexão com Gaia.
Ah! Você não esperava isso, não é? Tirei sangue
e machuquei você. Não se preocupe, a dor é pequena e
vai sarar. Imagine que a dor era muito pior e que você
não tinha como saber que eu a infligi a você para deixar
claro.
Alguém descobriu nossa maior alegria e a
transformou em nossa maior vergonha. Eles pegaram
nossas danças sagradas e as transformaram em um
espetáculo grotesco. Nossos parentes ursos sofreram
cortes, perfurações, queimaduras e chicotadas que os
forçaram a uma paródia arrastada, um movimento
desajeitado e cheio de dor que os humanos chamavam
de dança. O advento do urso dançarino acabou com
nossa alegria na dança. Como nossos parentes inocentes
sofreram tanta humilhação e dor, ainda hoje achamos a
dança desagradável e difícil. O que antes era sublime e
sagrado foi para sempre maculado e profanado por esse
crime.
Séculos se passaram e as coisas ficaram cada
vez piores. As guerras continuaram. Vampiros
coagularam a Europa tão densamente que os humanos
se levantaram em um terrível frenesi em retaliação,
queimando todos que parecessem vagamente suspeitos.
As pragas atingiram a humanidade, e nem posso dizer
que fomos necessários para curá-las - assim que as
doenças passaram, os humanos voltaram a ferver, tão
numerosos quanto antes.
Então nossos piores temores se concretizaram:
os humanos europeus descobriram as Terras Puras.
Nem nossos parentes ursos nem nossos Parentes tribais
estavam mais seguros - e nós, que deveríamos ter sido
seus protetores, estávamos presos no sono. Eu me
pergunto mesmo agora se os Garou invasores tivessem
se limitado a deslocar nosso povo tribal e caçar nossos
parentes ursos, nós teríamos acordado? Eu não tenho
nenhuma maneira de saber. A bênção disfarçada neste
desastre foi que eles foram muito além de aterrorizar
nossos parentes, forçando-nos a tomar parte ativa
novamente nos assuntos do mundo.
A Nova Primavera
Quando os Garou europeus vieram para as
Américas, nós Gurahl ressurgimos com força - não a
princípio, mas depois, quando os problemas que eles
causaram se tornaram perigosos demais para serem
ignorados. Esperávamos que nossos Parentes tivessem
se tornado fortes e numerosos o suficiente nas Terras
Puras para cuidar de si mesmos. Rezamos para que o
Garou tivesse aprendido com a Guerra da Fúria. Nossos
parentes eram fortes, mas não fortes o suficiente. Os
Garou, por outro lado, aparentemente não aprenderam
nada. Desta vez, eles não estavam atrás de nossa espécie
diretamente, mas atacaram sua própria espécie. As
tribos das Terras Puras, os Três Irmãos, como se
autodenominavam, foram vítimas dos invasores
europeus. Expulsos de suas terras e forçados a deixar
seus lugares sagrados, eles perderam o controle dos
Malditos que haviam aprisionado quando chegaram às
Terras Puras.
O horror conhecido como Devorador de Almas
foi destruído quase antes de estarmos totalmente
acordados. Os Croatan se sacrificaram para detê-lo.
Alguns de nós sentiram os espíritos dos Croatan
passarem em seu caminho de volta para Gaia. Nós nos
mexemos em nosso sono. Alguns de nós falaram em
sonhos com outros, perguntando se deveríamos nos
levantar e ver se a Respiração de Gaia poderia salvar
esses nobres espíritos. O Bisavô considerou entrar no
Geth-Rura para lutar contra o Urso da Morte pelo retorno
dos Croatan. No final, Gaia nos deu a conhecer que não
era o momento.
Acordamos totalmente quando os invasores se
moveram para o oeste. Tomando conta dos caerns e
expulsando os Garou nativos, os europeus libertaram um
grande Maldito que se fundiu com a mania desenfreada
da Weaver – uma fusão distorcida de ambos chamada
Devoradora de Tempestades. Sua presença gritante,
rasgando a Umbra, provou ser um alerta mais eficaz do
que milhões de despertadores. Os Garou não poderiam
lidar com isso sozinho. Tão discretamente quanto
pudemos, nós Gurahl emergimos dos nossos Recantos e
oferecemos nossa ajuda aos Garou nativos. A maioria
deles manteve nosso envolvimento - e nosso retorno - em
segredo. Como de costume, no entanto, os Corax
divulgaram o segredo. A maioria dos europeus recusou-
se a acreditar, mas nossa eficácia foi diminuída por ter
que olhar por cima dos ombros para o ataque que
temíamos que estaria chegando.
O Conto do Urso Adormecido
Quando Gaia deu à luz o primeiro e mais querido
de seus filhos Metamorfos, Ela convidou seus três filhos
mais velhos - Torcedor de Fios, Criadora de Tapeçarias e
Destruidor de Padrões - para um banquete em
homenagem a Gurahl. Luna, Helios e o outro Incarna
também vieram para a celebração, e todos derramaram
elogios e dons sobre o Gurahl recém-nascido. Apenas
Destruidor de Padrões permaneceu distante das
festividades, pois teve um sonho que o deixou com raiva e
ressentido.
Um a um, os convidados proferiram palavras de
bênção sobre o recém-nascido. Gaia sorriu com orgulho
ao ouvir Gurahl receber presentes de força e cura,
compaixão e sabedoria, resistência e vida longa.
Finalmente, perto do fim, Destruidor de Padrões
não conseguiu conter sua raiva. Ele caminhou
corajosamente até o berço onde Gurahl estava olhando
para o mundo com olhos frescos de bebê e colocou uma
mão sombria sobre a testa do ursinho.
“Eu vejo as sementes da minha queda em seus
olhos,” ele fez uma careta. “Não posso permitir que você
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viva além da infância. Quando você atingir a
maturidade, aqueles que você ama irão encontrá-lo
e matá-lo.” Com essas palavras de condenação,
Destruidor de Padrões abriu um buraco no mundo e
desapareceu por ele.
Todos ficaram chocados com as palavras do
Destruidor de Padrões. Gaia chorou e as inundações
cobriram a superfície da Terra.
Mas três convidados chegaram atrasados
para a festa e, depois de descobrirem por Luna o que
havia acontecido de tão terrivelmente errado, eles
informaram a Gaia que poderiam ajudar. Ursa
Maior se aproximou de Gurahl e beijou sua testa.
“Você não vai morrer,” ela disse. “Em vez disso,
você cairá em um sono profundo que durará até que
alguém o acorde na hora da maior necessidade do
mundo. Não posso alterar inteiramente as palavras
do Destruidor de Padrões, mas isso posso fazer por
você.” Então Mangi, o Urso da Morte, aproximou-se
de Gurahl e, inclinando-se, sussurrou algo no ouvido
do bebê. “Eu lhe dou um grande segredo que
ninguém mais além de você jamais saberá. Deixe que
o conhecimento de que você pode superar a própria
morte o conforte durante seu longo sono.” Por
último, a Ursa Menor foi na ponta dos pés até o berço
de Gurahl e fez cócegas na barriga do ursinho.
“Posso dar-te uma infância cheia de alegria, para
que as suas memórias te sustentem durante a tua
sesta.”
O tempo passou e as palavras do Destruidor
de Padrões se tornaram realidade. Os queridos
irmãozinhos dos Gurahl, os filhos-lobo, se
levantaram e tentaram destruir seu irmão mais
velho. Em vez disso, eles levaram a maioria dos
Gurahl a séculos de sono, assim como a Ursa Maior
prometeu.
Quando a Devoradora de Tempestades se
enfureceu pela Umbra, algo dentro dos Gurahl
adormecidos sussurrou que a hora de maior
necessidade estava próxima. Este sussurro quebrou
o encantamento do Destruidor de Padrões, e Gurahl
acordou para tomar seu lugar no mundo novamente.
— de “The Storysongs of Shoshona
Medicine-Bear”
Este foi um tempo agridoce para nós, uma
época em que mais uma vez nos tornamos
conhecidos por nossos Parentes humanos. Fomos
recebidos nas tribos como curandeiros e provedores.
Muitos apelaram para nós em busca de força e
sustento, assim como as tribos anteriores haviam
feito. Onde pudemos, nós os respondemos. As tribos
homenageavam o Urso em todas as formas do totem -
pai, mãe e ursinho. Eles guardaram as leis de Gaia e
aprenderam o que tínhamos para ensiná-los. Por um
tempo, novamente esperamos que nossos longos
anos de exílio tivessem acabado e que finalmente
tivéssemos nos recuperado da Guerra da Fúria.
Talvez se tivéssemos tido um pouco mais de tempo,
poderíamos ter recapturado os tempos antigos, voltar
triunfante para limpar a corrupção deixada no rastro
da Devoradora de Tempestades, mas os invasores não
nos deram tempo. Inexoravelmente, eles tomaram
cada vez mais terras de nossos parentes, roubando
suas áreas de caça ou campos plantados, confinando-
os em faixas áridas que ninguém mais queria. Em
troca, fizemos a única coisa que podíamos - banhamos
a terra em sangue, sangue de escárnio, humanos e
metamorfos. Alguns Gurahl até ficaram ombro a
ombro ao lado dos Uktena, Wendigo, até mesmo
alguns Garou europeus - se você acredita nisso - para
defender o que pudemos da espoliação.
Não pudemos salvar nosso povo de seu
destino, mas por causa dessa época, pudemos renovar
nossos laços com nossos Parentes na esperança de um
futuro melhor. Quando a ameaça finalmente foi
selada, ficamos com medo de dormir por longos
períodos, pois nossos Parentes ou outras Raças
Metamórficas poderiam precisar de nossa ajuda a
qualquer momento. Embora as verdadeiras crianças
Gurahl ainda fossem raras, algumas preciosas
nasceram pouco antes da virada do século, produzidas
quando relaxamos nosso tabu sobre o acasalamento.
Nós os treinamos para atuar como agentes para
proteger o máximo possível das terras selvagens.
Além disso, esperávamos que eles pudessem nos
revitalizar, dando ao nosso filho mais velho um novo
motivo para acordar - a chance de ter novos filhotes
para ensinar e cuidar.
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Tempos Modernos
Como você provavelmente já deve ter
imaginado, nós nos encorajamos com os sucessos
(mesmo que pequenos) que alcançamos quando
ajudamos os Garou a derrotar a Devoradora de
Tempestades. Mais e mais de nós despertamos a cada
ano. Novos filhotes estão nascendo de novo pela
primeira vez em séculos. Talvez nosso tempo de espera
finalmente tenha acabado e possamos retomar nosso
lugar de direito no mundo. Seria errado esperar demais,
pedir demais, pois nossos parentes ursos em todo o
mundo ainda sofrem muito e nossos parentes humanos
definham em algumas das comunidades mais pobres
conhecidas pelo homem. Existem tantos humanos,
tantos que são mal ensinados e ficaram doentes em seus
espíritos. No entanto, esperamos. Esperamos que não
seja tarde demais, que não tenhamos dormido muito,
que Gaia ainda aceite nosso serviço.
E agora chegamos quase ao fim da nossa dança.
Levante a cabeça e fique de pé com os pés afastados,
apenas na largura dos ombros. Agora pule no ar,
levantando as mãos como se pudesse pegar as estrelas
em seus dedos. Você sente o cheiro da mudança no
vento? Curve-se para mim como eu faço para você. Este
é o Passo do Reconhecimento, realizado quando cada
um de nós vê o outro como realmente somos, sabendo
que o outro é o primogênito e amado de Gaia,
curadores, provedores e professores.
Este, jovem, é meu presente para você - a Dança
dos Séculos. Você está entre os recém-nascidos, nossos
maiores tesouros. Aceite o que eu lhe disse, lembre-se
dos passos, mesmo que nunca mais os dance. Sei que
você é como o ursinho agora, cheio de autoconfiança e
energia da juventude. Você ainda tem muitos triunfos e
erros pela frente. Lembre-se de minhas palavras para
você, mas não deixe que elas o sobrecarreguem. Seja
curioso, deleite-se com sua força e a alegria de um dia de
verão. Estes também eu lego a você, pois para curar os
outros você deve ter esperança. Haverá tempo suficiente
para os deveres mais sombrios mais tarde. Por enquanto,
dance a dança que lhe foi dada e conheça a si mesmo pelo
que você é.
Uma pergunta? Claro. Estou aqui para te ensinar.
Claro que você pode inventar novos passos para a
dança, pequeno, mas não o fazemos há muitos anos. É a
vergonha que nos impede disso, eu suspeito. Muitos
31
outros idosos podem ficar chocados com o fato de
você parecer querer dançar, a ponto de criar novos
passos! Tentarei manter a mente aberta e
ensaiaremos os passos que você deseja mostrar aos
outros.
Você não quer ensaiá-los? Espontaneidade?
Isso é algo que poucos Gurahl praticam. Somos um
povo muito ritualístico, imerso nas velhas formas de
fazer as coisas. Mas você é muito jovem. Você pode
até ser o futuro da nossa raça. Talvez seja hora de
rompermos com as velhas tradições. Pode até ser que
tais pontos de vista sejam necessários se quisermos
novamente nos tornar uma força no mundo. Então
dance, jovem Gurahl. Vou vencer o tempo e me
alegrar por você não ter vergonha!