Este trabalho é um relato de experiência sobre a organização, ainda em andamento, de
um campeonato de jogos eletrônicos em um colégio público de Amargosa/BA. Jogos eletrônicos são hoje algo de enorme impacto na sociedade. Para além do entretenimento e da enorme atração que geram nos mais diferentes públicos, entendemos que os jogos possuem elementos riquíssimos, que ajudam no desenvolvimento de todos que o praticam, seja em aspectos cognitivos, afetivos ou sociais, que abrangem tomada de decisões, estímulo ao raciocínio e a memória, além de proporcionarem possibilidade de maior interação e planejamento. Visto o potencial que os jogos eletrônicos podem apresentar, e o significativo envolvimento de mais e mais pessoas nesse ambiente, percebemos a necessidade de uma abordagem pedagógica dos jogos e dos elementos construtivos que os mesmos proporcionam, até para que estes jogos não corram o risco de se tornarem uma referência negativa para a formação do público que os pratica (MARTINS; TOSCHI, 2009). Partimos de uma concepção de educação pautada na Pedagogia Histórico Crítica (SAVIANI, 2011). Entendemos que a escola é um importante espaço para a formação do indivíduo, uma vez que pode propiciar as condições necessárias para que o conhecimento seja transmitido e assimilado de uma forma sistematizada permitindo ao aluno uma melhor compreensão da realidade concreta. Nessa perspectiva, o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência/UFRB/Educação Física (EF), realizou intervenções para trabalhar os jogos eletrônicos, tendo como abordagem da EF a abordagem crítico-superadora que tem como objeto de ensino a cultura corporal. (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Considerando o contexto pandêmico, as intervenções foram realizadas de maneira remota, o que acabou nos trazendo algumas limitações, implicando diretamente na realização do campeonato. Uma vez que os jogos já fazem parte do cotidiano das pessoas, tratar deles na escola nos possibilitou muitos debates, experiências e troca de conhecimento. A partir dessas discussões trabalhamos elementos que precisavam ser debatidos pedagogicamente para a realização dos jogos, como é o caso de jogos onde o público feminino sofre diversas formas de assédio, ou a violência presente em jogos de sobrevivência que envolvem armas e consequentemente o embate frontal entre adversários. A organização do campeonato em um contexto geral, tem como um de seus objetivos questionar paradigmas encontrados na sociedade, abrindo possibilidade para que a prática esportiva dentro da escola seja não somente um momento de competição, mas que tenha um caráter pedagógico. Segundo Castellani Filho (1998, p. 38) "a competição esportiva presente no espaço escolar tende a distinguir-se daquela realizada em outros campos pois, [..] deve estar comprometida com os objetivos da instituição escolar". Posteriormente às discussões feitas em aula, começamos a trabalhar a organização do campeonato. Após algumas reuniões no subnúcleo do projeto, ficou entendido que para a realização dos jogos de maneira mais abrangente, com um maior número possível de participantes, fazia-se necessário um levantamento de dados. Primeiramente lançamos um formulário que buscava montar uma comissão organizadora, formada por alunos, interessados em fazer parte da organização do campeonato. Identificamos que alguns estudantes já participaram da organização do último campeonato de jogos eletrônicos do colégio, e acreditamos que essa experiência irá ajudar bastante no andamento do campeonato. Através de outro questionário, fizemos uma pesquisa referente às condições, possibilidades e preferências dos alunos, buscando entender a realidade vivida pelos estudantes no acesso e quais jogos poderiam ser modalidades no campeonato. A análise do questionário demonstrou não somente os interesses dos estudantes, mas as diversas limitações enfrentadas por eles na participação do campeonato, alertando desse modo que, para a participação do máximo de alunos possíveis é necessário adaptar o campeonato, pensando na realidade de cada um deles. Tendo em vista o objetivo de tratar os jogos eletrônicos de maneira pedagógica, buscamos a partir da organização do campeonato, exteriorizar as ideias discutidas em aula, permitindo que os alunos sejam críticos quanto a sua prática nos jogos, de modo que sejam capazes de não somente intervir em uma situação de assédio, preconceito e violência, mas que também não repliquem essas práticas, tendo a capacidade de perceber e defender o espaço dos jogos eletrônicos como ambiente de livre acesso, onde todos possam se satisfazer sem que haja hostilidade. REFERÊNCIAS CASTELLANI FILHO, Lino. Política Educacional e Educação Física: polêmicas do nosso tempo. Campinas: Autores Associados, 1998. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992. MARTINS, M.C.D.; TOSCHI, M.S. Aprendizagem Escolar: os jogos eletrônicos na formação do aluno. 2009. In: Anais do Simpósio de Estudos e Pesquisas da Faculdade de Educação. Universidade Federal de Goiás (UFG). Goiânia – GO, 2009, pp. s/n. SAVIANI, Dermeval. Pedagogia Histórico-Crítica: primeiras aproximações. Campinas: Autores Associados, 2011.