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FILME “AS SUFRAGISTAS”

O filme “As Sufragistas” originalmente conhecido como “Suffragette” é


uma produção britânica e irlandesa lançada em 2015, com o roteiro de Abi
Morgan e conta com a direção de Sarah Gavron, produzido por Alisson Owen e
Faye Ward.
O elenco é composto na sua maioria por mulheres, sendo as personagens
principais Maud Watts, Violet Miller, Edith Ellyn, Emily Wilding Davison e
Emmeline Pankhurst representadas, respetivamente, pelas atrizes Carey
Mulligan, Anne-Marie Duff, Helena Bonham Carter, Natalie Press e Meryl
Streep.

O filme inicia no cenário de Londres no ano de 1912, momento da


história, na qual a classe trabalhadora, principalmente a das mulheres, realizavam
longas jornadas de trabalho incessante, iniciadas já a partir dos onze/doze anos de
idade.
O filme em questão relata o dia a dia de uma fábrica, de rotinas pesadas e de
serviços de lavagem de roupas, onde a protagonista Maud Watts trabalha desde
pequena, sendo sucessora de sua mãe.
A obra cinematográfica conta a história de um grupo de mulheres,
conhecidas como “As sufragistas”, que pretendem insurgir-se contra o silêncio
da imprensa e da alienação política e governamental perante a participação
feminina no cenário político e social. Através de movimentos de protesto, como
partirem vitrines ou explodirem alguns pontos de correio e casas, este grupo
pretende erguer as suas vozes de forma que sejam ouvidas e respeitadas.
Extenuadas de tentarem tantos anos de maneira pacífica e retraída atingir seu
objetivo, mas sempre de forma infrutífera, após presenciar alguns protestos nas
ruas, a Senhora Watts decide ingressar no movimento e se filiar ao grupo,
percebendo logo que a sua vida não seria mais a mesma e que os preconceitos e
julgamentos já haviam começado incluindo do seu próprio marido e pai do seu
filho, o senhor Sonny Watts.
Nas primeiras participações públicas e após ser presa, Maud foi expulsa de
casa e posteriormente viria a ser proibida de ver seu filho, cena que relata como o
direito das mulheres sobre seus filhos não era reconhecido e os maridos ainda
eram aqueles que decidiam sobre a vida da mulher e das crianças. Destacamos,
nesse ponto, um diálogo importantíssimo entre a senhora e senhor Watts, onde o
homem afirma – enquanto fecha a porta na cara da ex-esposa - que apesar de
injusto, a lei dizia que ele tinha direito sobre o filho e que ele poderia decidir o
que fazer e que ela não tinha voz nas decisões tomadas e muito menos de
participação, ela havia envergonhado o nome da família e não havia percebido
que o seu destino era ser esposa dele, nada mais do que isso. Com muita dor e
sofrimento, Maud Watts, não desiste das revoluções e encara tudo com mais
afinco a partir desse momento, percebendo que todos os anos em que ela
acreditava ter vivido em paz, em que aceitava a realidade como era, na verdade,
não tinham ocorrido conflitos, pois ela nunca tinha questionado a maneira como
levava a vida. A partir do momento, que começou a ir contra a forma de agir que
lhe era imposta, foi rapidamente repreendida e excluída da sociedade.
O filme torna-se mais profundo e denso, pois todas as repressões e
violências contras as mulheres começam a manifestar-se, descortinando a dura
realidade das mulheres no início do século XX e como a batalha não seria fácil e
amena. As reuniões tornam-se cada mais vez mais perigosas e meticulosas e as
torturas mais pesadas, a premência de elaborarem planos mais complexos e
radicais também surgem e assim algumas acabam desistindo por medo, mas
outras, mantém-se fiéis e reconhecem que sem ir á guerra, nada irá alterar-se,
precisam lutar pelas futuras gerações de mulheres e de suas filhas, mesmo que
para isso elas arrisquem a sua própria vida.
O movimento das Sufragistas, na
Inglaterra, tem uma história que se inicia pela
trajetória política de Emmeline Pankhurst
(Meryl Streep), apesar de uma participação
breve no filme, seu nome é mencionado
diversas vezes, pois ela era a líder e a
precursora do que ficou conhecido
como WSPU – Women Social and Political
Union, já no início da vida, ela participou em
diversos movimentos de reforma política e
inclusão das mulheres, casando inclusive mais
tarde com um advogado e ativista político,
Richard Pankhurst, após diversas tentativas
fracassadas de se integrar na política, o WSPU
foi uma proposta de um grupo um pouco mais
revolucionário e radical, que levava como lema “Ações e não palavras”, as
mulheres que faziam parte acreditavam em profundas mudanças desde que ações
de igual proporção as repressões fossem feitas, no filme, a cena em que a
Senhora Pankhurst aparece para discursar, sua última fala, antes de toda a
tormenta da polícia é “Eu prefiro morrer como uma rebelde do que como uma
escrava.”, reiterando a importância de reagir e de não aceitar aquilo que o
governo queria, a ausência, obediência e submissão das mulheres. Juntamente
com os ideais desse partido, essas figuras femininas, erguem-se e partem em
defesa daquilo em que acreditam.
Guiadas pela força das ações, as sufragistas, em especial, Maud Watts,
tem a atenção dirigida, através de um discurso inicial em praça pública, por uma
das participantes, Alice Haughton, criticada por umas e apoiada por outras, as
suas palavras encorajavam e reforçavam a importância das mulheres pelo voto
feminino. Salientamos um diálogo entre Watts e a Senhora Miller, sua
companheira de trabalho, Watts criticava algumas atitudes de protesto, como as
de quebrar vitrines e fazer estardalhaço, Miller por sua vez de maneira breve e
direta responde, “Quer que eu respeite a lei? Faça-a ser respeitável.”
Novamente lembrando que apesar de reagirem de maneira “violenta” as mulheres
já haviam sido ignoradas apesar das inúmeras tentativas de diálogo e integração,
umas das primeiras participações de Watts, foi a de discursar no parlamento num
comité, relatando a sua história e explicitando as razões pelas quais as mulheres,
e não somente as de idade avançada e as casadas, deveriam receber os mesmos
direitos a voto e serem incluídas. Após o seu tocante discurso, o Senhor que regia
a assembleia, mostrou-se compreensível e empático em relação ás causas, apenas
para depois de longa espera, responder afirmando que não havia encontrado
razões suficientes para que as mulheres votassem. Novamente um sentimento de
traição, exclusão e injustiça sente-se em praça pública, onde todas as mulheres
procuram compreender o porquê de tanta resistência, repreendidas de maneira
violenta e desproporcional, e submetidas á prisão, onde os direitos básicos não
são respeitados. Existe um sentimento de que se não agirem em proporções e
intensidades maiores, não seriam ouvidas.
Ao longo da obra cinematográfica diversos diálogos entre as manifestantes
e os policiais e detetives percebe-se o pensamento machista e repressor que
constantemente relembra que as mulheres não têm estabilidade emocional, que
não possuem as mesmas condições de compreensão e de que não as deixar votar,
é na verdade uma forma de protegê-las delas mesmas.
O filme não poderia ter um final mais impactante do que foi representado,
uma das personagens inspiradas em uma figura feminina da vida real, Emily
Wilding Davison, importante ativista feminina, nasceu no ano de 1872 e realizou
as primeiras participações no movimento sufragista a partir de 1906, conhecida
por ser uma das seguidoras mais radicais e a cumprir a risca com as orientações
de Pankhurst, a Senhora Davison assumia de cabeça erguida as diversas rebeliões
e acreditava fielmente na causa e na força feminina. Além de ter sido presa
inúmeras vezes, realizava dentro da prisão greves de fome e silêncio absoluto, foi
um dos maiores símbolos de coragem e persistência do movimento. Não poderia
ter sido então outra personagem senão Emily Davison a ser a protagonista de
uma das últimas cenas e de um acontecimento histórico marcante e
revolucionário. Em junho de 1913, durante o evento de Epsom Derby, de grande
relevância nacional, no qual o príncipe e outras figuras importantes da política
estariam presentes, foi a tentativa final, como se fosse o último suspiro das
sufragistas de buscar a atenção dos meios de comunicação social para a causa
feminista. Na corrida de cavalos, Emily, carregando a bandeira da WSPU,
localizada em ponto estratégico, em frente ás câmaras e tomada por um ato de
coragem, jogou-se á frente dos cavalos, sendo atingida e lançada, vindo a falecer
uns dias devido á colisão. Foi um ato radical, mas há quem diga, que causas
nobres exigem atos drásticos e isso foi retratado ao longo de toda a obra, como
maior receio por parte dos políticos, que uma causa fatídica poderia arruinar as
chances de apaziguar e silenciar as mulheres.
O efeito do acidente foi globalizado e eternizado, trazendo os olhos do
mundo para as mulheres e suas causas e aspirações, sendo capa de jornais e
manchete dos principais meios de comunicação, a marcha em nome da Senhora
Davison, causou comoção mundial e foi um divisor de águas para todo o
movimento feminista, – “ela deu tudo que ela tinha” – diziam as bandeiras
carregadas no funeral.
Sem dúvidas o filme é digno de
ser assistido e serve como forma de
reflexão para toda a história do
feminismo, os desafios, o suor, as
batalhas, as lutas, as perdas e conquistas
que traçaram todo o caminho e que ainda
são motivos de grande discussão.
O sufrágio foi uma das primeiras lutas vencidas, ainda virão tantas outras,
mas a união, a determinação, garra e principalmente atitudes farão toda a
diferença nas conquistas femininas.

“Nunca subestime o poder que as mulheres têm de definir os próprios


destinos.”
Conclusão:
Não há dúvidas a respeito da relevância do tema abordado pelo filme, baseado na
história da luta da classe feminina pelos direitos ao sufrágio e também da
liberdade das mulheres de exercitarem seus direitos, tanto de voto, como da
guarda dos filhos e de estudo e trabalho, pelo enfrentamento dos obstáculos
colocados à frente e da alteração de medidas legislativas. O filme retrata de
maneira dramática e intrigante as etapas e batalhas superadas dia após dia pelas
mulheres e como todo o processo se realizou no contexto britânico, refletindo
também os meios de revoluções em outros países e toda a busca pelo
reconhecimento feminino
Apesar das infinitas conquistas, salientamos que ainda estamos longe de
conquistar a equidade necessária, as mulheres ainda enfrentam, em todos os
setores da vida, preconceitos e abusos, bem como, desigualdades e injustiças, os
desafios são inúmeros diariamente e de grande peso.
O tema precisa ainda ser amplamente discutido e trazido à tona, reconhecer que
ainda há muito a se fazer é o primeiro passo, admiro o trabalho e a atuação da
sétima arte diante de um assunto tão relevante e pertinente, a batalha ainda está
longe de terminar, o filme, portanto, retrata as primeiras batalhas vencidas.

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