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GuyVincent
Bernard Lahire
Daniel Thin
Professores da Université
Lumiêre Lyon 2- França
Resumo Abstract
O artigo, ao se interrogar se a crise atual da escola The article aims to discuss the concept of school
pode ser interpretada corno o fim de um modelo shape, through a social and historical approach,
escolar ou o fim de uma predominância, a forma focusing the constitution of primary school in
escolar, propõe-se a conceituar forma escolar, France. 11 questions the ides of unsuccessfulness
recorrendo a uma análise sócio-histórica da of school today as the end of a schooling model.
constituição da escola na França. Para tanto, To do so, it analysis oral and written societies,
debruça-se sobre sociedades orais e sociedades relating their knowledge to their exercise of
escritas, relacionando modos de conhecimento a power. Finally, the article claims that if the school
maneiras de exercício do poder. Concluí is at a turning point it's not because its end is
afirmando que se, a escola está em crise e pode dose, but because the school shape had spread
vir a desaparecer como instituição social, é all over the social institutions.
porque a for ma e scola r de so cia l iza çã o é
Key-words: school shape; history of education,
h oj e hegemônica.
sociology of education, turning point, school
Palavras-chave: forma escolar, história da
unsuccessfulness.
educação, sociologia da educação, crise, fracasso
escolar. évto extraído do original erufrancék da obra coordenada
por Guy Vincent, L'Education prisonnière tle la Forme
scoiaire? Scolarisation et socialisation dons les sociét•s
- industrielles, Lyon PU!., 2994: 11-48,
Tradução da Prof a. Dra. Diana Gonçalves Vidal docente da
Faculdade e do Prtera ma de Pós-Graduação em Educação
da (..,5Uversidr.fde de São Paulo, Vária Lik ia Gaspar da Sil ta,
Profa. da Universidade do 1...ktado de Santa Catarina e
doutoranda do Programa de Pás-Graduação em
Educação da Universidade de São Paulo; e Valdeniza
Maria da Barra, mostranda do Curso de pós-Graduação
em Educação— História, Politica, Sociedade ela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo.
Revisão de Guilherme João de Emitas Teixeira.
"escola". Depois de ter sublinhado a dis po n íve l em português sob o título Reprodução:
elementos puni um:1 teoria do sistema de ensino, com
"gravíssima crise" que atravessava o tradução de Mynahlo Baitãoe rvuiscio de Pedra Benjamin
Gaivia e Ana Maria Baeta, publicada na série 'Educação
ensi no s ecu nd ári o f ran cês d es d e a
em Questão 'pela. Editora Francisco Alves!.
s e g u n d a m e t a d e d o s é c u l o X V I I I,
I)urkheim afirmava - na primeira lição do
curso que foi encarregado de ministrar
bus ca de rel açõ es ent re f enô menos Em primeiro lugar, o que se poderia
sempre concebidos como exteriores uns modificações: das escolas dos Irmãos' à
aos outros, quanto à busca de elementos escola mútua e à escola da República,
permanentes (Merieau-Ponty, op. cit., houve muitas mudanças que não
p.80), ou ainda ao inventário empírico c h e g a r a m a i n t e rf e r i r n a q u i l o q u e
dos traços característicos desta "realidade" d efin i mos co mo forma es co lar. Em
que seria, por exemplo, a escola. Já seguida, esta teoria permite compreender
definimos o que faz a unidade da a emergência de uma forma colocando-a
forma escolar - seu princípio de em relação com outras "transformações".
engendramento, quer dizer de É preciso ainda libertar-se do positivismo
inteligibilidade -, como a relação com e do causalismo: a aparição e o
regras impessoais. A partir daí tomam desenvolvimento da forma escolar podem
sentido, de um lado, os diversos aspectos ser colocados em relação com o
da forma (notadamente, corno espaço e d es en vol vi mento da fo rma po lí ti ca
como tempo específicos); de outro lado, historicamente singular que, desde a
a história, quer dizer a "formação", o época de Maquiavel e de Bodin, recebeu
processo pelo qual a forma se constitui e o nome de Estado; mas a natureza desta
tende a se impor (em instituições e relação (homologia? congruência?...) ainda
relações ao retomar e modificar certos está por definir. Sabe-se que, atualmente,
"elementos" de formas antigas, como será este é o objetivo de numerosos trabalhos
demonstrado pelo exemplo do epistemológicos sobre a "forma" na
"exercício"). E esta emergência da forma Matemática, Física, Biologia e Ciências
escolar não acontece sem dificuldades, Humanas. No que concerne à Sociologia,
conflitos e lutas, de tal sorte que a história a reflexão apresentada por R. Ledrut (em
da escola está repleta de polêmicas e L a Fo r m e e t l e s en s ) c o n v é m , n o
posições exacerbadas; por sua vez, o
N R.: Ao falarem de Irmãos, os autores rePrem-se aos
ensino encontra-se, talvez, sempre "em "Frères des &ales cbrõtiennes".
crise".
Es tado " (s ecu los X IX e X X )`'. Se forma social esta ligada a outras
acrescentarmos que uma das transformacOes; que a forma escolar estd
consequencias deste tipo de "historia" foi ligada a outras formas, notadamente
de nao fazer justica a novidade radical politicas; que certos apelos feitos hoje aos
representada pelas escolas urbanas prefeitos de suburbia lembram as
clesenvolvidas pelos himlos das Escolas "Advertencias para a instrucOta do povo
Lyon (1666), das "Escolas Cristas", das de socializacao que ela instaura, das
Escolas Mlituas, das escolas primarias da resistencias encontradas portal modo, que
4
3 Republica, sem esquecer as Colegios permite definir esta forma, quer diner,
do "Antigo Regime", as Escolas Centrals perceber sua unidade (a da forma) ou,
da Revo'Lica°, etc., levam a situar a rnais exatamente, pensar coma unidade
invencao da forma escolar nos seculos a que, de outro modo, somente poderia
XVI — XVII; a aproximar — a despeito do ser enumeraclo como caracteristicas
quc as separa e apesar da ideologia laica multiplas.
— a escola primaria reformada por Jules
Ferry, ern 1880, das escolas dos Irmaos; 6 Estes sclo as tftulos da prmeira e da segunda panes da
Eistoire des institutions scolaircs, par f. Lelfe G. Rustin,
a se interrogar sobre as pretensOes dos Delagmte, /954, ou seja, um dos manuals utillzadosat6
data Mina recente JU?S Escolas Norma is de Professores
republicanos, no fim do seculo XIX, de Primarias. A introducao (Les origines de rec. -ole")
realizar os projetos dos revolucionarios de aborda a Mesopotamia, o Egita, a China, u "Stundo
greco-mmano"... As ohms cientificas errs (peas Ina; ma is-
1789... jaram inspirados arm sempre cstiverane isentas dessas
falhas em retaceio ao metodo bistOrico.
Se clesej armos ver nesse estudo ' Cf. H Plenel, L'Etat et l'ecole en France, la Re.publique
somente o resultado de querelas entre inachevee, Payot, 1985
artesaos ou nobres, aquele que aprendia - pant exercerem os oficios que Hies seriam
isto e, em primeiro lugar, a crianca fazia a atribuidos, nao nece ssitavam dos
aquisicao do saber ao participar das "saberes" transmitidos pcla escola. Para
atividades de uma fanv7ia, de uma casa. Dito alem cfe explicacoes simplificadoras (us
de outra maneira, aprencler nao era distinto
Por se realizar, em primeiro lugar, na escola, a forma
de fazer. E esta retirada de poder que vai escolar pode tambOm terider u estruturar °taros
suscitar resistencias a escolarizacao, inclusive, espacos, do rnesmo ►nodo (plc toda relacno social pode
serpedagogizada. Neste aspecio, a observaceio du virtu
por parte de gnipos, como a nobreza, corn cotidiana ,fin - nece mrittiplos exemplos: posiciio
respectiva dos interlocutores, levantar a nub, tom
relacao a escolas concebidas especialmente
"sabido", etc.
pant ela.
Como toda relacao social se realiza no
espaco e no tempo, a autonomia da
reinao pedagogica instaura urn lugar
seculo XVI; como, na sua conquista dos p ret end e a es col a da 3 R epub li ca,
" m u n d o s u rb an o s " , a "n o v a f o r m a continua senclo urn aluno l6
escolar"" reencontrara a resistencia de Se e isso o que se passa e porque
uma parte das elites ligacias aos "modos emergencia da forma escolar
de formagao tradicionais"; como, enfim, contemporanea a uma mudanca em
no proprio arnago da pedagogia do politico (e no religiose) mais fundamental
Colegio, "as regras e a disciplina da arte que as rnudancas de regimes ou
retorica se constituem urn dos exercicios
instituicoes politicos que marcaram as
que mais severamente reprimem a
sociedades europeias a partir do seculo
espontaneidade"'s
XV II ( mo n a rq u i as p a r l a m en t a re s ,
A definicilo proposta em re!acao "repUblicas"...).P. notamos a preocupacao
forma escolar, a partir da qual se pode cum a ordem pUblica que presidiu a
co mp reend er as caract eris ti cas das desenvolvimento das escolas urbanas. 0
praticas escolares (principalmente dos caraterpablico da instrucao é lemhrado
"exercicios" que ja na.da tern a ver corn hem antes dos pianos de "educacao
os "exercicios" religiosos, apesar do que national" que precederam
foi afirmacla par Michel Foucault, uma acornpanharam a Revolucao' 7. E se, na
lenta progressao exigida pela primeira metade do seculo XVIII, os
conformidade corn a regra em cada Fisiocratas sao conhecidos par terem sick)
etapa...) permite, igualrnente, clefensores da instrucao do povo par
compreender suas variantes coma as
negacoes mais ou menos radicais, par " R. Chartier, M.-M. Compere e D. Julia, I:Education ell
France..., op. cit., p. 173.
exempla, no momenta d.a Revoluck) de ibicl.,p. 197.
1789 — tal como apareceram entre Os rr Se aconipanbas- •semos a hestoria das ideinspeda,q(5,i; ice's;
seria neces.cario estabelecerparaklismos entre rt maneint
seculos XVIII e XX. Corn efeito, para como.foi coclificaela a relacciol_.,eclagr.;gica ?to seculo X
171 a as tests de Kant a de Rousseau. bem conhec ace,
entender a pedagogia das Luzes hasta no Ora Emile, a suptvssao da relac-ao da au
conceher a regra nao mais coma toridadeIxNso(11; em Kant, a crianca se s•bmate [as lc is
con...Whirl:Jos do ordem escolar:, Ple10 porque, em sear
imposicao do exterior a todos, mas coma entender, elas sejaara loclaviuslificadas, mas porque ela totna
constienc Ea eta univcrsalicladc de tais leis.
man ifestacao, em cada um, de uma Razao
37 G. Vincent, "Plans d'education a Lyon entre 1 761 et
universal_ Do mesmo modo, a cidadao 1783", Comunicacdo fella na 12' Sessao clo 1.r.cC1 1E,
respeitoso e ohediente, conhececlor de PraRa, agosto cie 1990 (no Pre10).
Se evitarmos, sistematicamente, as
armaciilhas classicas ass ociadas as
oposicOes entre oral/escrito, oralidade/
escrita 2 t, podemos entir.to construir,
colocam fora do alcance de tacos. Como invisibilidade do panto de vista dos atores
que, portanto, csta° despossuldos dos
a objetivaciio permite, entre outros
mesmos. Pam que possa existir urn poder
aspectos, conservar e acumular, su a
separado, sera necessario, ao mesmo
ausencia ou seu grail extremamente fragil
tempo, u inn objetivactio dos mitos
de clesenvolvimento Faz corn que certo
separados this pessoas (desincorporacao);
prestigio possa ser temporariamente
sua vistiedizacao e conscientizactio pot
adquirido, embora seja questionado
parte dos atores e, portanto, a
imediatamente apOs. As relac(7)es de
possibili.dade de ficarern ao alcance
dependencia que podem existir nessas (testes;seu desvincitictmento
formacoes socials que sc cxercem "de relativarnente a inviltiplas situacoes
pessoa para pessoe's c sac.) "o produto imediatas, a maiplas acOes nas quits eles
de uma verdadeira criacao continuada" 29, passim agir; e sua relativa e progressive
nao podem, portanto, desembocar na des-localizacao— outros tantos fatos que
constituicao de uma verdadeira rela0o supoem a escrita e a acumulacao escrita
d e do min aca° qu e i mp li cari a q ue a do capital cultural.
legitimidacle ja mio fosse remctida a urn Ndo 6, portanto, cspantoso que se
passaclo mitico, mas aparecesse como possa escrever, como fez G. Balandier,
relacionada (de uma mancira ou outra: que "nas sociedades dims segmentarias,
sob a forma de representantes do ou dos a villa politica difusa se revela Ma is pelas
deuses, ou sob a forma de representantes situacoes do que pelas instituicOes
this leis, do povo, etc.) a sujeitos sociais Trata-se, confoime expressao de
particulares (e diferentes dos outros).
" P Boiordieir, "Les modes- cle domination-, in AtIcs dt2 La
Alem do mais, urn pocler separaclo recherche en sciences sociales, rd" 2-3, t.k? 1976,
p. 126.
suporia uma especie de cuntralizaciio dos p. 128.
mitos e ritos, dos saberes c saber-fazer.
Ora, apesar do que os estruturalistas
deixaram entencler, tambem nao existem
variantes estruturais de urn Nlito, mas
prática, se opõe tanto a urna lembrança o que seria da ordem de sua recitação. É
quanto a um saber, tendem a se realizar isso que nota C. Geertz a propósito da
aquém da consciência e da expressão, poesia oral que "não é, em primeiro lugar,
portanto, da distância reflexiva que elas co mp o s t a e d ep o i s r eci t ad a, mas é
supõem. O corpo acredita no que elaborada no decorrer da recitação,
representa: ele chora se imita a tristeza. construída enquanto é cantada num
Ele não representa aquilo que recinto público"" , De fato, esta partição
desempenha, não memoriza o passado, em momento da redação, momento da
aciona o passado, assim anulado como aprendizagem "de cor" e momento da
tal, ele ❑ revive. O que é aprendido pelo recitação, não tem nenhum sentido nas
corpo não é alguma coisa que se tem, formações sociais sem escrita, sem
como um saber que se pode segurar objetivação/desincorporação/
diante de si, mas alguma coisa que se é. desligamento/separação dos saberes.
Isso se vê especialmente nas sociedades Tudo isso explica que tenha sido
sem escrita em que o saber herdado só pos.3ível caracterizar o "pensamento
pode sobreviver no estado incorporado. mítico" pela ausência de "espirito crítico"
Nunca separado do corpo que o carrega, ou de "ceticismo'. O que se entende
só pode ser restituído mediante urna habitualmente por crítica, é a possibilidade
espécie de ginástica, destinada a evocá- de comparar, encontrar contradições ou,
lo, mimese que, segundo já fora observado ainda,
por Platão, implica um investimento total
P Botoslien, Le Sens priLtique, op. eit ., p 123. Compreende-
e uma profunda identificação se que a teoria construída por P. Brun-dica seja
emocional"' . particularmente actaptada para explicar as praticas
sociais em formas sociais orais. Quando R Bourdieu
Como não existe nenhum lugar cogita sobre a gênese da constrnçdo do conceito de
"habitus' e de sua teoria da prú rica, ele illdica que emes
s ep arad o d e aqu i s i ção d e u m s ab er dois aspectos foram constituídos para otostirtr certas
específico, é preciso sublinhar ❑ fato lógicas sociais de universos corri .fraca objetivação-
codificaçao (sem instauiçãojtuldica, estatal, escolar,
importante de que o tempo da prática é etc». P. Bourdieu., "Habitas, cnute et codification", iri
confundido com o tempo da Metes de la recherehe en sciences socialcs, o" 64, set. de
1986.
aprendizagem. Isso é válido tanto para
3
' C. Geena, Savoir local, savoir global, PtJI 1.986, p. 142.
aquele que entende, vê e se identifica at' Ver, em particular, H. Horton que cita e critica J. Good),
com aquele que pratica o ritual e enuncia eutl.:i Raison graphique, 1979,p. 96.
mesmas razões. O "mito" se adapta a cada ação ritual para a analogia como objeto
sujeitos sociais o produto da relação entre Ora, uma vez mais, esta característica
dois universos sociais diferentes). As do pensamento mítico se compreende
contradições são perfeitamente coerentes perfeitamente se o considerarmos como
do ponto de vista da lógica social das sendo produzido em formas sociais orais,
formas sociais orais. no âmago das quais a linguagem e a fala
instituir esta 'Conduta das escolas cristãs' (trata-se sobretudo, conforme a expressão
a fim de que tudo seja uniforme em todas de G. Delbos e P. Jorion, de uma
as escolas e em todos os lugares onde "transmissão de trabalho" ou de
existem Irmãos deste Instituto a fim de "experiências", já que nenhum saber
que, nessas escolas, as práticas sejam aparece verdadeiramente como tal') e
sempre as mesmas. O homem está tão à aprendizagem do "ler" e do "escrever"
sujeito à frouxidão - e, até mesmo, às não sistematizado, não formalizado, não
mudanças - que tem necessidade de regras durável.
por escrito, mantendo-o em seu dever e
impedindo-o de introduzir alguma coisa 4) A escola - como instituição na qual
sociais, repousa sobre uma dominação legal responder a "nenhum desejo de vingança
no sentido em que foi definida por M. particular' . Não é o mestre como pessoa
Weber: "o detentor legal-tipo do poder, o particular que aplica o castigo, mas limita-
quando dá ordens, obedece, por sua vez, à gerais, supra-pessoais, Ele mesmo deve se
ordem impessoal pela qual ele orienta suas submeter às "sentenças", impondo-se o
estão obedecendo à sua pessoa, mas a Aliás, J. B. de La Salte explica que "o mestre
regulamentos impessoais' . A relação entre fará com que os alunos entendam que
os alunos e o mestre no espaço escolar é devem guardar silêncio, não porque ele esta
mediatizacla pela regra geral, impessoal, do presente, mas porque Deus os vê, e esta é
mesmo modo que com o direito codificado. a sua Santa Vontade"'" . O aluno e o mestre
"a codificação está vinculada à disciplina e objetivado das sentenças escritas; aliás,
à normalização das práticas. Quine diz, não é por acaso que, desde ❑ fim do
práticas e saberes escolares (por exemplo, 111. Weber, Econonlie et soeicté, Piam, 1971, p. 2.331/V.T.:
codificação gramatical) é correlativa de Obra disponível ent português sob o titulo Econoiiiiil e
Sociedade, publicwke peta Editora da (In it iersidacle de
processos extra-escolares — principalmente, Brasília].
estatais'`' -, de codificação e, deste modo, Bo•rdieu, "Habitas... ", op. cit., p. 4 1 .
' R. Chartier, "Les pratiques de l'éc.rit", inl-iistoire de la vie
5
está indissociavelmente ligada a um modo privc.e, torno 114 De Ia Rennuissance Lurnières, Paris,
Ed. da Seu fl, 1986 Obra disponível em português
particular de organização e de exercício do sob o título' Iístória da Vida Privada 3: da Renascença ao
poder, Século das Luzes, traduÇãO de Hildegard Fiest,, publicada
pela Editora Companhia das Letras]; M. Weber, hkonomie
A escola lassaleana - como a de C. et société, op. cit.
"'.1. B. de IA Salle, Co nduites..., op, cii. p. 1.55.
Démia - se caracteriza bem pela submissão a 51
Id., ihis3., p. 223.
regras impessoais. O mestre dirige-se aos G. Vincent, L'F.cc:ile primaire..., op. cit., p. 32.
cri ança a p arcela de su a von tad e n a minuciosa. A maior parte deles incluem
E lei à qual obedece'. sbb forma de quadro — o detalhe integral
"Luiz XVIII, Rei da França, Protetor das ensino de urna língua escrita codificada,
escolas elementares", além de toda uma fixa, normatizada, é possível somente
série de sentenças de ordem moral. pelo trabalho escritura] sobre as práticas
de linguagem operado por gerações de
Como a codificação da organização das
atividades escolares é esmiuçada ao gramáticos e professores. O objetivo da
mútuo insistiam sobre a necessidade ele # ciclo, Unéversité Paris V, 1972, ». 253.
P Lesage, L'Enseignement op.cit., p. 103.
social: uma forma não é urna coisa que fosse desencadeia, também, urna reflexão
possível possuir como se possuem bens. Falar, antropológica fundamental sobre o vínculo entre
por exemplo, de "escola burguesa" ou o social, o cognitivo e a linguagenf3 - A forma
"capitalista" é operar a reificação de uma assumida pelos laços sociais é indissociável das
realidade relacional complexa. A escola não múltiplas práticas de linguagem que, aliás, são
é redutível a uma escola de grupo ou classe, urna dimensão constitutiva dessa forma.
mesmo se ela contribui para produzir e Como o vínculo social é, de saída, da
reproduzir as diferenças entre os grupos ou ordem do linguagem e a consciência
classes cia formação social. Os grupos não "individual" torna forma somente através da
existem independentemente das formas de linguagem (certas práticas de linguagem
relações sociais no âmago das quais eles se sempre específicas), o tipo de consciência, de
constituem. ilação de um indivíduo com o mundo e com os
Da mesma maneira, falar de forma de outros, varia com as formas estabelecidas
relações sociais permite evitar a confusão entre pelos vínculos sociais; a
instituição e Forma (instituição escolar e forma cognitiva não é senão a lógica das Formas
escolar). Corno Michel Fuucault pôde colocar de relações sociais.
a ênfase sobre os dispositivos transversais em
Amaneira como formulamos os problemas
relação às divisões institucionais (escola, prisão,
implica logicamente um recurso constante aos
hospital, caserna, etc.), pode-se perceber
problemas teõncas, esquemas de interrogação,
certas formas sociais que atravessam diversas
etc., de diferentes disciplinas científicas:
instituições. A forma escolar das relações
Antropologia, Lingüística, Psicologia, História,
sociais não se detém às portas da instituição
Sociologia. °trabalho de 13. Bemstein constitui
escolar e, inversamente, a instituição escolar
já um belo exemplo de st~dasjiunteiras
pode ser atravessada por formas de relações
disciplinares entre Lingüística, Psicologia e
sociais diferentes (que se pense,
Sociologia' . Este autor coloca em jogo uma
notadamente, nas formas sociais orais que
os alunos mais estranhos à lógica social cio 13. lab ire, `Sociologic des pnItique
74
Poderíamos também inferir-nos oro trabulbo de Pierry '
universo escolar tentam impor ao grupo 13ourdieu ou às tentativas metodológicas ent ri c kmlas por
quando se encontram em grande número k. CbarUer em Lis monde comine ,rprésentation", ira
A nnaies E .S noa.-dez. de 1989, p. 1505-1520
na mesma classe ou no mesmo Este último texto conta com verNciu cio português sob o
título -O inundo como representação", publicado em
estabelecimento).
Estudos Avançados, vol. 5, n" 11, 1991, com tradnçáo ele
Andréa liaberl.
permite não esquecer que os sujeitos sociais se perguntar em que medida o que está
têm urna história, uma gênese, e não são cm causa é a forma escolar e sua
passado, etc. Os sujeitos sociais não estão peculiar das nossas formações sociais. O
exercícios, cuja única função consiste em espetacular dos efetivos nos liceus e
aprender e aprender conforme as regras nas universidades dão testemunho de
ou, dito de outro modo, tendo por fim uma escolaridade cada vez mais longa
seu próprio fim -, é a de um novo modo na França.
d e sociali zação, o modo es col ar d e A escola e a escolarização foram
socialização. Este não tem cessado de se desenvolvidas até se tornarem essenciais
estender e se generalizar para se tornar o n a p r odu ç ã o e r e p ro du ç ã o d e n o s s a s
modo de socialização dominante de formações sociais, das hierarquias, das
nossas formações sociais. classes._ que as constituem. Se, no
A predominância da forma escolar, do período anterior aos anos 60, "a origem
modo escolar de socialização é visível, social determinava diretamente o nivel
em primeiro lugar, no rápido de inserção profissional e social, sendo
desenvolvimento da própria que a escola desempenhava apenas um
escolarização. Tal desenvolvimento, papel anexo'', hoje, as trajetórias sociais
manifesto desde o século XIX, não tem e profissionais são fortemente tributrias
cessado de se ampliar ao longo de nosso das trajetórias escolares.
século e, em particular, acelerou-se após
As cl as s i f i ca çõ e s es co l a res s ão
a Segunda Grande Guerra e nos anos 60.
classificações sociais, cujos efeitos se
Não é inútil, certa mente, retomar fazem sentir em domínios da vida social
alguns dos elementos relevantes deste
a f as t ad o s d o d o m í n i o e s c o l a r e s e
"processo de escolarização"' :
prolongam bem além do fim cia
escolarização das aprendizagens escolaridade. Se estas classificações
profissionais (LEP, IUT, BAC 7 7 escolares agem fortemente sobre a vida
profissionais);
generalização cia passagem para ❑ 7 ' R. Bernard, "Quelques élan nas sur le procis
sociabsation et la socialisatio sculainf" in Les (losiers
secunclá rio; tir l'éducation, rr 5; 7984, p. 27-22.
Lk.:P Liceu de ErIsin()Prtfissondliwnte; 11:11'— instituto
- prolongamento cia escolaridade para Universitdho 'lécnico; BAC— conchrscio do 2' gral I.
aquém e além da escolaridade B. Cbarlot, L'Ecolc em mfflation, Payot, 1987 p. 10.5.
ações e práticas, o que lhes permite poderia, ao contrário, contribuir para reforçar
Se a escola teve de ser um mundo fechado, escolar. Tal confusão não permitiria
pedagógicas, lutas entre pedagogos, com nome da "integração" das crianças e das
o questionamento da predominância da famílias "populares" às normas
forma escolar e do modo escolar de dominantes, enquanto os métodos e o
socialização ou com o fim da forma
Pi g. G. Vincent,U Ecole primaire..., op.cit., cap. 5.