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Paulo Viegas de Carvalho

O financiamento pelo Estado da Pensão de Reforma dos trabalhadores


apoia-se em contribuições obrigatórias dos trabalhadores (11%) e dos
empregadores (23,75%).

Problemas:

 Os ativos financiam as pensões dos reformados (pressupõe solidariedade entre


gerações)

 Não há financiamento antecipado das pensões


 Sistema Social discutível
 Financeiramente perigoso
 Funciona bem se o rácio Ativos/Reformados for elevado (Portugal: taxa de fertilidade a
diminuir, esperança de vida a aumentar e população envelhecida)

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As pensões de reforma são financiadas pelos 3 seguintes pilares:

 1º Pilar – pelo Estado – regime de repartição (os que estão a trabalhar pagam pelas
reformas dos que estão reformados)

 2º Pilar – pelas empresas – regime de capitalização (cada um contribui para a sua


reforma)

 3º Pilar – pelos particulares – regime de capitalização (PPR’S)

Interessa-nos o 2º Pilar (empresas).

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Neste pilar, as empresas podem providenciar pensões
complementares às do Regime Público (1ºPilar), ou mesmo
suplementares ou substitutos (e.g., bancos).

O regime utilizado é o de capitalização: carateriza-se pelo


financiamento antecipado dos benefícios concedidos, de forma
que quem desconta está a pagar a sua própria reforma.

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Diferenças entre Plano de Pensões (PP) e Fundo Pensões (FP)

Plano de Pensões: instrumento de definição das garantias e dos benefícios;


programa que define as condições em que se constitui o direito ao recebimento
de uma pensão
 Cálculos atuariais
 Idade entrada no PP
 Taxas de atualização
 Inflação

Fundo de Pensões: são patrimónios autónomos afetos à concretização das


garantias e benefícios de um plano de pensões (PP)
 Rendibilidades
 Os juros obtidos e distribuídos (aplicação dos critérios do PP)
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Associado
 Pessoa coletiva cujos planos de pensões são objeto de financiamento por um fundo de
pensões.

Participantes
 Pessoa singular em função de cujas circunstâncias pessoais e profissionais se definem os
direitos consignados no plano de pensões, independentemente de contribuir ou não
para o seu financiamento.

Contribuinte
 Pessoa singular que contribui para o fundo ou a pessoa coletiva que efetua
contribuições em nome e a favor do participante.

Beneficiário
 Pessoa singular com direito aos benefícios estabelecidos no plano de pensões,
independentemente de ter ou não sido participante.

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Contribuição definida

 O montante das entregas a realizar é previamente definida, dependendo os benefícios


futuros do montante dessas entregas e do rendimento que as mesmas possam vir a
proporcionar.

 Ou seja, conhece-se a contribuição (normalmente, uma percentagem do salário), mas


não o benefício.

 O montante a receber à data da reforma dependerá da valorização e rendimento dos


ativos em que as contribuições foram investidas, bem como das despesas de gestão.

 O risco financeiro é suportado pelos beneficiários, dado não haver garantia do


montante a receber.

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Benefício Definido

 O montante de benefícios a auferir no futuro é previamente definido, sendo as


contribuições calculadas de forma a garantir o pagamento desses benefícios.

 Ou seja, conhece-se o benefício e não a contribuição.

 O montante da pensão a receber pode ser fixo ou ser calculado como uma percentagem
do salário e anos de serviço, dependendo o custo normal do Plano de Pensões da taxa
de juro de mercado, da taxa de inflação e da mortalidade do grupo beneficiário.

 O risco financeiro é suportado pela empresa.

 É o caso mais usual em Portugal; e.g., Segurança Social.

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Planos Mistos

 Tratam-se de planos com duas componentes distintas, garantindo simultaneamente


benefícios definidos e benefícios decorrentes das contribuições definidas (contribuição
definida + benefício definido).

 Existe neste caso uma conjugação das caraterísticas dos planos de benefício definido e
de contribuição definida.

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Contributivos

 O participante financia o plano conjuntamente com a entidade patronal, daí resultando


a existência de direitos adquiridos.

Não contributivos

 O financiamento é exclusivamente da empresa (a associada), não existindo direitos


adquiridos em caso de saída antecipada da empresa.

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Fundos de Pensões:
 São alimentados com as contribuições necessárias à manutenção de um dado nível de
financiamento, calculadas actuarialmente de acordo com o plano de benefícios em
vigor.

Podem ser:
 Fechados: caraterizado pela existência apenas de um associado ou, no caso de existirem
vários associados, pela formalização de um vínculo empresarial, associativo,
profissional ou social e pela necessidade de consentimento dos sócios para a adesão de
novos associados; normal nas grandes empresas.

 Abertos: concretizados sob a forma de Unidades de Participação num Fundo de


Investimento, não obrigando a qualquer vínculo entre os diferentes aderentes do
Fundo. A aceitação apenas depende da entidade gestora do fundo.

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Tipos de Entidades Gestoras de Fundos de Pensões:

 Própria empresa ou Estado

 Sociedades gestoras de fundos de pensões

 Seguradoras com ramo vida

São reguladas pela Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de


Pensões (ASF).

O tipo de investimentos é regulado, podendo abranger: Títulos do


Estado e equiparados, obrigações cotadas e não cotadas, empréstimos,
ações cotadas, numerário, imóveis e ações de sociedades imobiliárias,
cotadas ou não.
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Os investimentos dos Fundos de Pensões devem respeitar regras de
diversificação, para o efeito observando os seguintes limites máximos:

 30% em depósitos, certificados de depósito e aplicações no MMI

 60% em obrigações e papel comercial

 30% em UPs de fundos de investimento

 45% em terrenos e edifícios

 25% em empréstimos hipotecários e empréstimos concedidos aos participantes de FP fechados

 50% em ações, TP, aplicações em fundos de capital de risco e outros instrumentos similares do
mercado monetário e de capitais.

Complementarmente, o fundo deve respeitar outras regras (e.g., não possuir


mais do que 5% de títulos emitidos por uma só entidade; 10% de obrigações
não cotadas, ou cotadas numa bolsa de valores de um Estado fora da OCDE).
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Os empregadores que, por motivos legais ou contratuais, tenham que fazer o
pagamento total ou parcial de pensões devem constituir reservas nos seus
fundos de pensões e atualizar periodicamente o respetivo valor através de
métodos atuariais.

Princípios subjacentes
 Valor atual das contribuições para o fundo = valor atual dos benefícios de reforma a
pagar aos colaboradores

 Atualização através de métodos atuariais

Métodos atuariais utilizados para cálculo das reservas


 Para Planos de Benefícios Definidos
 Para Planos de Contribuição Definida

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Segundo este método, a pensão à idade da reforma pode ser dividida em
tantas unidades quantos os anos de serviço à idade da reforma, em que cada
unidade é afeta e financiada por ano de serviço.

A acumulação de benefícios a que o participante terá direito depende dos


salários projetados até à data da reforma, o que requer a estimação de uma
taxa de crescimento para o salário anual.

Para além de calcular as responsabilidades com os salários projetados para a


data de pagamento dos benefícios, facilitando o suficiente provisionamento do
fundo, este método permite separar as responsabilidades por serviços
passados das responsabilidades por serviços futuros.

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O custo normal neste método é calculado através do acréscimo do benefício
esperado anualmente devidamente atualizado, i.e., o valor atual do aumento
do benefício devido a mais um ano de serviço.

O método é preconizado pela ASF para fazer face às Normas Internacionais de


Contabilidade (IAS) (IAS 19 – Benefícios de Reforma; IAS 26 – Contabilização e
Relato pelo Plano de Benefícios Definidos).

Considerando 𝑉𝐴𝐵𝐹 ≡Valor Atual de Benefícios Futuros, determinado por


métodos atuariais, tem-se

𝑅𝑒𝑠𝑒𝑟𝑣𝑎 𝐴𝑛𝑢𝑎𝑙 = 𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑁𝑜𝑟𝑚𝑎𝑙 𝑉𝐴𝐵𝐹

± 𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 + 𝑜𝑢 𝐺𝑎𝑛ℎ𝑜𝑠 − 𝑇é𝑐𝑛𝑖𝑐𝑜𝑠 𝑎𝑡𝑢𝑎𝑟𝑖𝑎𝑖𝑠

+ 𝐴𝑚𝑜𝑟𝑡. 𝑆𝑒𝑟𝑣𝑖ç𝑜𝑠 𝑃𝑎𝑠𝑠𝑎𝑑𝑜𝑠

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Renda Vitalícia de Vida Inteira

Considere-se
𝑥 ≡ idade da pessoa segura
𝑟 ≡ idade de entrada na reforma
𝐵𝑟 ≡ benefício na reforma
𝑡 ≡ ano de cálculo do custo normal
𝑖 ≡ taxa de desconto

Graficamente, tem-se
probabilidade de a (𝑟 − 𝑥 )𝑝𝑥 idade da reforma
pessoa estar viva à
idade da reforma
𝐵𝑟 … 𝐵𝑟

𝑥 𝑥+1 𝑥+2 … 𝑥+𝑡 … 𝑟 … 𝑤−1 𝑤

𝑉𝐴𝐵𝐹𝑥 renda (antecipada)


−(𝑟−𝑥)
atualizar renda (diferida) 1 + 𝑖 𝐵𝑟 𝑎𝑟
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Renda Vitalícia de Vida Inteira

Algebricamente, tem-se

𝑉𝐴𝐵𝐹𝑥 = 𝐵𝑟 𝑎𝑟 (𝑟 − 𝑥 )𝑝𝑥 1 + 𝑖 −(𝑟−𝑥)

e a partir da data da reforma

𝑉𝐴𝐵𝐹𝑟 = 𝐵𝑟 𝑎𝑟

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Exemplo 6.1: Uma pessoa de 40 anos entra num plano de pensões de benefício definido pelo
montante anual de 10.000 € à data da reforma, aos 65 anos. Além do Custo Normal, existem os
seguintes pressupostos atuariais:
 Rendas financeiras = 100 €
 Ganhos técnicos = 20 €
 Amortização anual de Serviços passados = 100 €
 Taxa de desconto utilizada = 10%
Usando o Método da Unidade de Crédito Projetada, determine a reserva que, nesse ano e nos
seguintes, constituirá a Responsabilidade da Empresa para o Fundo de Pensões. (PF 6%)

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Exemplo 6.1: (cont.)

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Renda Vitalícia Temporária

A base deste cálculo é a de que, anualmente, o empregado adquire o direito ao


Benefício da Reforma (à data da reforma ou à data da saída da empresa), cuja
contribuição anual resulta da atualização ano a ano e pelo restante tempo de
serviço (até à data de reforma ou saída da empresa).

O valor do Benefício Anual corresponde a uma percentagem aplicada sobre o


salário esperado à data da reforma ou à data de saída da empresa

Contribuição anual da empresa


𝑉𝐴𝐵𝐹𝑥 = 𝐵𝑟 (𝑟 − 1 − 𝑥)𝑝𝑥 1 + 𝑖 −(𝑟−1−𝑥)
Salário acumulado
à data da reforma
𝑀
𝐶 𝐶 𝐶 … 𝐶 ou saída da
Benefício 𝐵𝑟 𝐵𝑟 𝐵𝑟 … 𝐵𝑟 empresa
de reforma
𝑥 𝑥+1 𝑥+2 … 𝑥+ 𝑛−1 𝑥+𝑛

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Exemplo 6.2: Determine o valor do Benefício atribuído anualmente, a contribuição anual
para o Fundo de Pensões e a correspondente variação atuarial, nas seguintes condições:
 O Benefício é pago a uma mulher, hoje com 40 anos, no termo do serviço, aos 45 anos
 O valor acordado é de 1% do salário final por cada ano de serviço
 O salário anual inicial é de 10.000 € e assume-se que cresce a uma taxa anual de 7%
 A taxa de desconto é de 10% ao ano

Utilize o Método da Unidade de Crédito Projetada.

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Exemplo 6.2: (cont.)

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O objetivo é determinar o Benefício estimado de Reforma em função
do valor das contribuições realizadas (pré-definidas).

Estas contribuições vão ser capitalizadas originando os respetivos


benefícios.

Existem dois tipos de contribuições:

 Prémio único: contribuição de uma só vez


 Prémios nivelados até à data da reforma: contribuições anuais iguais até à idade da
reforma

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Prémio Único

Graficamente, o problema é representado da seguinte forma


probabilidade de a (𝑟 − 𝑥 )𝑝 𝑥
pessoa estar viva à
idade da reforma
𝐶 𝐵𝑟 … 𝐵𝑟

𝑥 𝑥+1 𝑥+2 … 𝑥+𝑡 … 𝑟 … 𝑤−1 𝑤

renda (antecipada)
𝐵𝑟 𝑎𝑟

A contribuição será neste caso Não se considera a atualização


financeira, pois 𝐵𝑟 é estimado, já
𝐶 = 𝐵𝑟 𝑎𝑟 (𝑟 − 𝑥 )𝑝 𝑥 capitalizado. Com a atualização,
anular-se-ia a capitalização

Correspondentemente, o benefício da reforma será


𝐶
𝐵𝑟 =
𝑎𝑟 (𝑟 − 𝑥 )𝑝 𝑥
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Exemplo 6.3: Determine o Benefício de Reforma anual para uma pessoa de 35 anos
que se reforme aos 60 anos. A Contribuição corresponde ao prémio único de
100.000 €. (PF6%)

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Prémios Nivelados

𝐶 𝐶 𝐶 … 𝐶 𝐵𝑟 … 𝐵𝑟

𝑥 𝑥+1 𝑥+2 … 𝑟−1 𝑟 … 𝑤−1 𝑤

𝐵𝑟 𝑎𝑟

O somatório dos valores atuais das Contribuições tem de ser igual ao


somatório dos valores atuais dos 𝐵𝑟

𝐵𝑟 𝑎𝑟 (𝑟 − 𝑥)𝑝 𝑥 = 𝐶 𝑎𝑥:𝑟−𝑥

𝐶 𝑎𝑥:𝑟−𝑥
𝐵𝑟 =
𝑎𝑟 (𝑟 − 𝑥 )𝑝 𝑥

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Exemplo 6.4: Determine o Benefício de Reforma anual para uma mulher de 45
anos que se reforme aos 65 anos. A contribuição de 5.000 € é anual e constante até
à data da reforma.

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O objetivo neste caso é determinar o custo corrente (custo normal) em
função do valor nominal estimado à data da reforma

 dividindo-se pelo número de anos a partir da data de implementação do Plano de


Pensões e até à data da reforma.

 e capitalizando ano a ano o custo corrente determinado, originando um ganho ou um


custo financeiro.

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Exemplo 6.5: Um homem de 35 anos entra num Plano de Pensões. A reforma está prevista
para os 60 anos. O valor esperado à data da reforma é de 10.000 €, a taxa de desconto é de 5%
no 1º ano e 6% no 2º ano e seguintes. Determine o resultado financeiro ano a ano.

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Exemplo 6.5: (cont.)

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O objetivo neste caso é determinar qual a quota de amortização
correspondente ao custo com o empregado à data de entrada no Plano
de Pensões.

A quota de amortização vai ser adicionada ao custo normal do Plano,


anualmente, até à idade da reforma

Custo do Serviço Passado


Quota=
Nº de Anos até à Reforma

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Exemplo 6.6: Uma pessoa iniciou a sua atividade numa empresa aos 40 anos, tendo entrado
no Plano de Pensões aos 45 anos. A reforma esperada é aos 65 anos de idade. O custo normal
anual (salário) aos 40 anos é de 10.000 € e admite-se que este custo vai variar anualmente a
uma taxa de 5%. Determine a amortização anual até à data de entrada na reforma.

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Direitos Adquiridos

Planos Contributivos: o trabalhador financia o plano conjuntamente


com a entidade empregadora, daí que ele tenha direitos adquiridos,
por exemplo, no caso de saída antecipada da empresa.

Planos não Contributivos: o financiamento é exclusivo da empresa, não


se colocando a questão dos direitos adquiridos, salvo se estiver
prescrito no Plano algo em concreto.

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Portabilidade

Só faz sentido nos planos contributivos, estando relacionado com a


transferência de direitos.

Planos de Benefício Definido: como ainda não se conhece as


contribuições efetivas, temos de considerar se há direitos adquiridos.
Se os houver, procede-se como no caso dos Direitos Adquiridos.

Planos de Contribuição Definida: as contribuições podem ser


transferidas para outro fundo de pensões ou ficarem no fundo até à
idade da reforma efetiva.

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