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Gustavo Botelho Silva @gustavobotelhosilva


Direitos Humanos
Prof. Gustavo Botelho Silva @gustavobotelhosilva
Direitos Humanos

Regras de Mandela - Alojamento (12 a 17); Higiene pessoal (18); Vestuário e


roupas de cama (19 a 21); Alimentação (22); Exercício e desporto (23).

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CONTEXTO HISTÓRICO

As chamadas Regras de Mandela são preceitos mínimos da


Organização das Nações Unidas (ONU) para o tratamento de presos.

O documento oferece balizas para a estruturação dos sistemas


penais nos diferentes países e reveem as "Regras Mínimas para o Tratamento de Presos"
aprovadas em 1955. Objetiva-se a melhoria das condições o sistema carcerário e garantia
do tratamento digno oferecido às pessoas em situação de privação de liberdade.

As Regras Mínimas para o Tratamento de Presos foram adotadas


pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1955 e atualizadas em 2015.

Nessa nova revisão, a ONU decidiu homenagear Nelson Mandela,


além de ser o maior expoente mundial na luta contra o racismo, Mandela permaneceu
preso por quase três décadas e submetido a violações de direitos humanos.

Nelson Mandela
Imagem: Divulgação
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REGRAS DE MANDELA

As Regras de Mandela levam em consideração os instrumentos


internacionais vigentes no Brasil, como o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e
a Convenção contra Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou
Degradantes.

As regras têm caráter programático e se prestam, primordialmente, a


orientar a atuação e influenciar o desenho de novas políticas pelo Poder Judiciário para o
sistema carcerário.

A tradução e a publicação das Regras de Mandela conferem


instrumental e qualificam o trabalho dos juízes, na medida em que atualizam as
orientações das Nações Unidas para os mínimos padrões que devem nortear o tratamento
das pessoas presas no país.

As regras buscam estabelecer bons princípios e sugerir boas práticas


no tratamento de presos e para a gestão prisional, assegurando a dignidade e respeito não
só às pessoas privadas de liberdade, como também a seus familiares.

O documento está dividido em regras de aplicação geral,


direcionadas a toda categoria de presos, e regras aplicáveis a categorias especiais, como
presos sentenciados, presos com transtornos mentais ou problemas de saúde, entre outros
tipos.
As regras de que tratam de: Alojamento (12 a 17); Higiene pessoal
(18); Vestuário e roupas de cama (19 a 21); Alimentação (22); Exercício e desporto (23).
São algumas das mais relevantes para que as condições mínimas de dignidade sejam
asseguradas.
Sem que estas condições elementares sejam garantidas, não parece
ser possível dar efetividade ao direito à educação, profissionalização e uma pavimentação
adequada para a reinserção social da pessoa em cumprimento pena ou em prisão
cautelar.
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“Todos os presos devem ser tratados com respeito, devido a seu


valor e dignidade inerentes ao ser humano”.

ALOJAMENTO / ACOMODAÇÕES

Regra 12

1. As celas ou quartos destinados ao descanso noturno não


devem ser ocupados por mais de um preso. Se, por razões
especiais, tais como superlotação temporária, for necessário que
a administração prisional central faça uma exceção à regra, não
é recomendável que dois presos sejam alojados em uma mesma
cela ou quarto.

A regra da garantia da cela exclusiva, em que pese o fato de que não


seja comum em nosso sistema prisional, é repetida no artigo 88 da Lei de Execução da
Pena (Lei nº 7.210/84), nos seguintes termos:

“Art. 88. O condenado será alojado em cela individual que conterá


dormitório, aparelho sanitário e lavatório.
Parágrafo único. São requisitos básicos da unidade celular:
a) salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de aeração,
insolação e condicionamento térmico adequado à existência humana;
b) área mínima de 6,00m² (seis metros quadrados). ”

Essa é uma regra que tem o objetivo de evitar a superpopulação


carcerária em espaços insuficientes para habitação digna. A consequência para essa
superpopulação é a interdição do estabelecimento, tal como previsto no artigo 66, inciso
VIII, da Lei de execuções penais.

“Art. 66. Compete ao Juiz da execução: [...]


VIII - interditar, no todo ou em parte, estabelecimento penal que
estiver funcionando em condições inadequadas ou com infringência
aos dispositivos desta Lei; ”
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O crescimento exponencial do número de presos no Brasil


transformou a regra geral da cela individual em exceção. De alguma forma, a regra passou
a ser interpretada como a necessidade de que as celas coletivas tivessem um espaço
mínimo para cada preso. A falta de espaços de convivência para trabalhos coletivos,
educação, profissionalização e lazer transformou a cela no espaço de “socialização”.

“Em todas as penitenciárias e cadeias públicas que possuam celas


coletivas, deverá ser previsto um mínimo de celas individuais (2% da
capacidade total), para o caso de necessidade de separação da
pessoa presa que apresente problemas de convívio com os demais
por período determinado (Portaria Ministério da Justiça/DEPEN nº 01,
de 27.01.2004, anexo) e pelo menos uma cela com instalação
sanitária, por módulo, obedecendo aos parâmetros de acessibilidade
(NBR 9050/2004).” (Diretrizes Básicas para arquitetura penal -
Ministério da Justiça, 2011)

“No caso de Penitenciária de Segurança Máxima, além de permitir a


separação da pessoa presa que apresente problemas de convívio
com as demais, as celas individuais servirão para abrigar pessoa
presa que colabore em procedimento judicial ou inquérito policial, que
por este ou outro motivo venha a ter sua integridade física posta em
risco. ”

Como se vê, nas diretrizes para arquitetura penal, as celas individuais


fora, tratadas como exceções destinadas a presos especiais.
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Um preso em casa cela e área de convivência, conforme demonstrado na Série Oz da HBO

Cela superlotada de uma unidade prisional em Sergipe Foto: Luiz Silveira/Agência CNJ/25-11-2013
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SUPERLOTAÇÃO CARCERÁRIA

Presos no Brasil — Foto: Guilherme Gomes/G1


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ALOJAMENTO / ACOMODAÇÕES

Regra 12

2. Onde houver dormitórios, estes deverão ser ocupados por


presos cuidadosamente selecionados como sendo capazes de
serem alojados juntos. Durante a noite, deve haver vigilância
regular, de acordo com a natureza do estabelecimento prisional.

A separação cuidadosa dos presos, de tal forma que fiquem juntos


aqueles que possam ter uma convivência harmoniosa, é atribuição da direção de cada
unidade prisional, levando em conta o disciplinamento e recomendações dos órgãos da
execução penal.

Essas funções são indelegáveis, nos termos do art. 83-B da LEP, em


perfeita sintonia com Regra 12.2.

“Art. 83-B. São indelegáveis as funções de direção, chefia e


coordenação no âmbito do sistema penal, bem como todas as
atividades que exijam o exercício do poder de polícia, e notadamente:
(Incluído pela Lei nº 13.190, de 2015).
I - classificação de condenados; (Incluído pela Lei nº 13.190, de
2015).
II - aplicação de sanções disciplinares; (Incluído pela Lei nº 13.190,
de 2015).
III - controle de rebeliões; (Incluído pela Lei nº 13.190, de 2015).
IV - transporte de presos para órgãos do Poder Judiciário, hospitais e
outros locais externos aos estabelecimentos penais. (Incluído pela Lei
nº 13.190, de 2015). ”

Na mesma linha, ainda para dar efetividade à Regra 12.2. O art. 84


da LEP impõe que os presos provisórios ficarão separados dos condenados.
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Os provisórios separados pela natureza do crime. Os que respondem


por crimes hediondos, crime com violência ou grave ameaça à pessoa, e os que eram
funcionários do sistema da justiça criminal devem ficar separados dos demais, a título de
exemplo.
Os condenados, por outro lado, deverão ser separados levando em
conta critérios como: Crimes hediondos; primários de reincidentes; os que estejam com a
integridade física ou moral ameaçadas pela convivência com os demais presos, etc.

Esses critérios de separação devem ser seguidos rigorosamente


pelas comissões de classificação, para dar efetividade às Regras de Mandela e artigo 84
da LEP. Porém, a realidade é outra na maioria dos casos, as graves violações de Direitos
Humanos no sistema prisional criaram o ambiente favorável para o surgimento das
facções. Um dos maiores desafios da administração penitenciária.

Regra 13

Todas os ambientes de uso dos presos e, em particular, todos os


quartos, celas e dormitórios, devem satisfazer as exigências de
higiene e saúde, levando‑se em conta as condições climáticas e,
particularmente, o conteúdo volumétrico de ar, o espaço
mínimo, a iluminação, o aquecimento e a ventilação.

A regra 13 é voltada à definição de critérios para construção e


manutenção dos ambientes das celas/dormitórios para os presos. A que trate do espaço
mínimo está definida na alínea (b), parágrafo único, do artigo 88 da LEP. A norma citada
estabelece o espaço mínimo de 6,00 m² (seis mil metros quadrados) por preso. As celas
coletivas, por sinal, são admitidas em nossa legislação (art. 92 da LEP), mas tal exceção
somente é admitida, se garantido o espaço mínimo de 6,00 m² por preso.
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Regra 14

Em todos os locais onde os presos deverão viver ou trabalhar:

(a) As janelas devem ser grandes o suficiente para que os presos


possam ler ou trabalhar com luz natural e devem ser construídas
de forma a permitir a entrada de ar fresco mesmo quando haja
ventilação artificial;

(b) Luz artificial deverá ser suficiente para os presos poderem ler
ou trabalhar sem prejudicar a visão

A regra 14 prevê basicamente a vedação de cela escura e sem


ventilação. As celas sem essas condições mínimas são insalubres e resultam em graves
problemas para a saúde dos presos.

Para dar eficácia a Regra 14, as Diretrizes Básicas para Arquitetura


Penal, elaborada pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP),
indicam a necessidade de conforto ambiental com a devida ventilação e iluminações
naturais.

Regra 15

As instalações sanitárias devem ser adequadas para possibilitar


que todos os presos façam suas necessidades fisiológicas
quando necessário e com higiene e decência.

A regra 15, procura apontar mais uma necessidade de estrutura


mínima de salubridade no ambiente prisional. Quanto a essa regra, as Diretrizes Básicas
para arquitetura penal elaboradas pelo Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária (CNPCP) sugerem que nos parâmetros arquitetônicos para acomodação dos
presos tenham a previsão de área de higienização pessoal e aparelho sanitário em sintonia
com as Regras de Mandela.
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No mesmo sentido, o artigo 13 da LEP estabelece que os presídios


disponham de instalações que possibilitem aos presos a satisfação de suas necessidades
pessoais.
“Art. 13. O estabelecimento disporá de instalações e serviços que
atendam aos presos nas suas necessidades pessoais, além de locais
destinados à venda de produtos e objetos permitidos e não fornecidos
pela Administração. ”

No artigo 88 da LEP há imposição clara de que a cela deve conter


dormitório, aparelho sanitário e lavatório.

“Art. 88. O condenado será alojado em cela individual que conterá


dormitório, aparelho sanitário e lavatório. ”

Conforme se vê, a legislação nacional e os órgãos de execução


penal, em especial o CNPCP, estão em sintonia com as Regras de Mandela.

Regra 16

Devem ser fornecidas instalações adequadas para banho, a fim


de que todo preso possa tomar banho, e assim possa ser exigido,
na temperatura apropriada ao clima, com a frequência
necessária para a higiene geral de acordo com a estação do ano
e a região geográfica, mas pelo menos uma vez por semana em
clima temperado.

O CNPCP igualmente preocupou-se com a higiene geral dos presos.


Nesse sentido, é necessário considerar que a higienização seja realizada disponibilizando
água na temperatura apropriada para cada clima, tudo em perfeita sintonia com as Regras
de Mandela.
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Assim, o Manual de Diretrizes Básicas para arquitetura penal prevê


que:
“Todos os serviços das celas, como iluminação artificial, descarga
dos vasos sanitários, água nos chuveiros, poderão contar com
comando externo centralizado (de acordo com as peculiaridades de
cada estabelecimento), devem contar com dispositivos de
aquecimento de água quando a unidade estiver em região de baixas
temperaturas e devem ser oferecidos de forma que atendam às
necessidades humanas com conforto e higiene. ”

Regra 17

Todos os locais de um estabelecimento prisional frequentados


regularmente pelos presos deverão ser sempre mantidos e
conservados minuciosamente limpos.

O art. 88 da LEP prevê a existência de estrutura necessária para que


os espaços frequentados regularmente pelos presos sejam sempre mantidos limpos, mas
não basta a existência de aparelho sanitário e lavatório.

É necessário que seja criada uma cultura de manutenção dos


ambientes devidamente higienizados com a participação direta dos próprios presos.

Tal participação pode ser influência benéfica no processo de


preparação dos internos para a reinserção social.
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HIGIENE PESSOAL

Regra 18

1. Deve ser exigido que o preso mantenha sua limpeza pessoal e,


para esse fim, deve ter acesso a água e artigos de higiene,
conforme necessário para sua saúde e limpeza.

2. A fim de que os prisioneiros possam manter uma boa


aparência, compatível com seu autorrespeito, devem ter à
disposição meios para o cuidado adequado do cabelo e da
barba, e homens devem poder barbear‑se regularmente.

Cuidados com a higiene pessoal constituem não só direito, mas


deveres dos presos. É o que indica a Regra 18 das Nações Unidas para o Tratamento de
Presos devidamente ratificada pela legislação nacional, conforme previsto no art. 39 da
LEP.

“Art. 39. Constituem deveres do condenado: [...]


IX - higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento;
X - conservação dos objetos de uso pessoal.”

O CNPCP igualmente preocupou-se com a estrutura necessária para


que pudesse ser exigido dos presos a sua higienização pessoal prevendo inclusive, a
existência de sala de barbearia nas unidades masculinas e cabelereiro nas unidades
femininas.
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O Salão Escola Hair Cuts foi inaugurado dentro da Penitenciária José


Maria Alkmin, em Ribeirão das Neves.

http://www.depen.seguranca.mg.gov.br/index.php/noticias-depen-mg/2506-escola-de-barbearia-e-
inaugurada-na-penitenciaria-jose-maria-alkmin

VESTUÁRIO E ROUPAS DE CAMA

Regra 19

1. Todo preso que não tiver permissão de usar roupas próprias


deve receber roupas apropriadas para o clima e adequadas para
mantê‑lo em boa saúde. Tais roupas não devem, de maneira
alguma, ser degradantes ou humilhantes.

2. Todas as roupas devem estar limpas e ser mantidas em


condições adequadas. Roupas íntimas devem ser trocadas e
lavadas com a frequência necessária para a manutenção da
higiene.

3. Em circunstâncias excepcionais, sempre que um preso se


afastar do estabelecimento prisional, por motivo autorizado,
deverá ter permissão de usar suas próprias roupas ou outra que
seja discreta.
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A LEP, em seu artigo 12, prevê, em sintonia com a Regra 19, que a
assistência material ao preso e ao internado consistirá no fornecimento de alimentação,
vestuário e instalações higiênicas. Igualmente no artigo 41 da LEP é assegurado o direito
do preso à alimentação suficiente e vestuário.

“Art. 12. A assistência material ao preso e ao internado consistirá no


fornecimento de alimentação, vestuário e instalações higiênicas.”
“Art. 41 - Constituem direitos do preso: [...]
I - alimentação suficiente e vestuário;”

Possibilidade do réu utilizar trajes próprios em sessão do tribunal do


júri.

PROCESSO PENAL. RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA.


HOMICÍDIO QUALIFICADO. TRIBUNAL DO JÚRI.
INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE APRESENTAÇÃO DO RÉU
COM ROUPAS CIVIS EM PLENÁRIO. PRINCÍPIO DA PLENITUDE
DE DEFESA. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO AO PROCESSO.
NULIDADE ACOLHIDA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
1. O Tribunal do Júri, juiz natural e soberano para julgar os crimes
dolosos contra a vida, é instituição que desempenha papel
fundamental na efetividade da justiça e no exercício da sociedade
democrática, nos termos preceituados no art. 5º, XXVIII, da
Constituição Federal.
2. O Conselho de Sentença, no uso de suas prerrogativas
constitucionais, adota o sistema da íntima convicção, no tocante à
valoração das provas, de forma que "a decisão do Tribunal do Júri,
soberana, é regida pelo princípio da livre convicção, e não pelo art.
93, IX, da CF." (HC 82.023/RJ, rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Quinta
Turma, j. 17/11/2009, DJe 7/12/2009).
3. A Carta Magna prevê a plenitude de defesa como marca
característica e essencial à própria instituição do Júri, garantindo ao
acusado uma atuação defensiva plena e efetiva, ensinando o
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doutrinador Guilherme de Souza Nucci que "O que se busca aos


acusados em geral é a mais aberta possibilidade de defesa, valendo-
se dos instrumentos e recursos previstos em lei e evitando-se
qualquer forma de cerceamento. Aos réus, no Tribunal do Júri, quer-
se a defesa perfeita, dentro, obviamente, das limitações naturais dos
seres humanos." (NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do Júri. 6.
ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. p. 35).
4. Havendo razoabilidade mínima no pleito da defesa, como se
vislumbra do pedido pela apresentação do réu em Plenário com
roupas civis, resta eivada de nulidade a decisão que genericamente o
indefere.
5. A nulidade não exsurge do simples comparecimento do acusado
na Sessão Plenária com as vestimentas usuais dos presos, sendo
certo que diariamente julgamentos ocorrem nessa condição.
6. Desponta-se constrangimento ilegal quando, pleiteada a
substituição dos trajes, dentro de uma estratégia defensiva traçada, o
Juízo, sem pormenores, indefere o pedido, havendo cerceamento da
plenitude de defesa do réu nesse ponto, haja vista não lhe ser
proibido buscar a melhor forma, dentre dos parâmetros da
razoabilidade, de se apresentar ao júri.
7. Recurso parcialmente provido para cassar a decisão do Juízo da 1ª
Vara Criminal de Poços de Caldas/MG, na ação penal n.º
0518.17.013273-3, de forma permitir ao réu, ora recorrente, usar
roupas civis na Sessão do Tribunal do Júri. (STJ, 2019).

Parece evidente que deve ser concedida a permissão ao preso de


participar de sessão de julgamento em trajes próprios civis. Situação diferente ocorre no
ambiente prisional, em que é perfeitamente recomendável que os presos utilizem uniforme
que facilitem a distinção entre presos, servidores dos sistema prisional e visitantes.
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Regra 20

Se os presos tiverem permissão de usar suas próprias roupas,


devem-se adotar procedimentos adequados na sua entrada no
estabelecimento prisional para assegurar que elas estejam
limpas e próprias para uso.

Regra 21

Todo prisioneiro deve, de acordo com os padrões locais e


nacionais, ter uma cama separada, e roupas de cama suficientes
que devem estar limpas quando distribuídas, ser mantidas em
boas condições e ser trocadas com a frequência necessária para
garantir sua limpeza.

A limpeza das roupas de cama é um dos temas que deve ser de


reponsabilidade compartilhada entre a administração prisional e os presos.

A administração deve fornecer e os presos devem manter limpos. O


ambiente salubre inclui limpeza e trocas periódicas das roupas de cama e tal providência é
fator que influencia fortemente na disciplina interna do sistema.

ALIMENTAÇÃO

Regra 22

1. Todo preso deve receber da administração prisional, em


horários regulares, alimento com valor nutricional adequado à
sua saúde e resistência, de qualidade, bem preparada e bem
servida.

2. Todo preso deve ter acesso a água potável sempre que


necessitar.
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Direitos Humanos

O direito dos presos à alimentação adequada deve ser interpretado


no contexto da garantia dos direitos humanos. Além disso, sabe-se que surgiram a partir
de dispositivos abrangentes em textos legais que asseguram a todos os seres humanos
um nível de vida adequado.

O direito humano à alimentação adequada e saudável está


consagrado no artigo 25 na DUDH/1948.

Direito Humano à Alimentação Adequada.

No Brasil, processos licitatórios com fraudes e corrupção, contratam


alimentação adequada, mas o fornecimento em qualidade inferior.

EXERCÍCIO E ESPORTE

Regra 23

1. Todo preso que não trabalhar a céu aberto deve ter pelo
menos uma hora diária de exercícios ao ar livre, se o clima
permitir.

2. Jovens presos, e outros com idade e condições físicas


adequadas, devem receber treinamento físico e de lazer durante
o período de exercício. Para este fim, espaço, instalações e
equipamentos devem ser providenciados.

Para que a vida das pessoas privadas de liberdade não seja reduzida
à mera sobrevivência física, e esses indivíduos possam retornar à liberdade, de fato,
reabilitados, é preciso que seus direitos civis sejam respeitados. A Constituição Brasileira
assegura que a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao
acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação. A garantia de tal direito extrapola o aspecto apenas curativo para inserir-se
no conceito de bem-estar e de atenção integral.
Prof. Gustavo Botelho Silva @gustavobotelhosilva
Direitos Humanos

A Lei de Execução Penal Brasileira também sugere que o preso deva


ter o direito à prática de atividades esportivas e recreativas. Mas se esse direito é
constantemente reconhecido em leis, regulamentos e propostas, lamentavelmente na
prática é pouco observado e respeitado.

Buscando reverter esse quadro, iniciativas regionais e ou voluntárias


buscam, por meio da promoção de atividades físicas, contribuir para prevenção e
reabilitação de doenças, humanizar o sistema prisional, incorporar valores morais e éticos
no relacionamento interpessoal, entre outros.

Estudar é a chave para grande parte das oportunidades que surgirão no seu futuro.
Bons estudos! Atenciosamente, Gustavo Botelho Silva.

FONTES

Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Reclusos (Regras de


Nelson Mandela) - https://www.unodc.org/documents/justice-and-prison-
reform/Nelson_Mandela_Rules-P-ebook.pdf;
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 -
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm;
Lei de Execução Penal - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm;
Lei n° 13.964 de 2019 - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2019/lei/L13964.htm;
Lei n° 13.434 de 2017 - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2017/Lei/L13434.htm;
Lei de Execução Penal - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm
Diretrizes Básicas para Arquitetura Penal -
http://antigo.depen.gov.br/DEPEN/depen/cnpcp/resolucoes/2011/RESOLUCAON9201
1ATUALIZADA2019.pdf;
Regras de Mandela CNJ - https://www.cnj.jus.br/wp-
content/uploads/2019/09/a9426e51735a4d0d8501f06a4ba8b4de.pdf.

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