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ATUAÇÃO DO PEDAGOGO

NO SISTEMA PRISIONAL

DANIELA ALEXANDRINO
LUCIANO NASCIMENTO
Sistema
Prisional/Penitenciário
Brasileiro
O sistema prisional brasileiro tem como objetivo a
ressocialização e a punição da criminalidade. Assim sendo, o
Estado assume a responsabilidade de combater os crimes,
isolando o criminoso da sociedade, através da prisão, o
mesmo é privado da sua liberdade, deixando de ser um risco
para a sociedade.
Adota-se, no Brasil, o denominado sistema progressivo da
pena privativa de liberdade (art. 112 da LEP), em que o
condenado, a depender da quantidade da pena, inicia o
cumprimento no regime mais grave (fechado), para depois do
cumprimento de determinado período de tempo, haver a
progressão para um regime mais brando, até obter o
livramento condicional.
Ademais, há um sistema de penas alternativas (não privativas
de liberdade), denominadas de restritivas de direitos (art. 43,
Código Penal), cuja prestação de serviços à comunidade é um
exemplo, destinadas aos delitos de média gravidade, cuja
pena de prisão não é recomendável, e representa uma forte
tendência de política criminal no mundo todo.
SENAPPEN
Progressão Regressão

Regime Fechado Regime Semi Aberto Regime Aberto


Regime Fechado

No regime fechado, a execução da pena é cumprida em


estabelecimentos de segurança máxima ou média, a
pessoa condenada passa os dias dentro de uma
unidade prisional.
Regime Semi Aberto

No regime semiaberto, a execução da pena é realizada


em colônias agrícolas, industriais ou estabelecimentos
similares. A pessoa tem o direito de trabalhar e estudar
durante o dia, regressando à noite para sua unidade
prisional.
Regime Aberto

No regime aberto, a execução da pena é feita em casas de


albergado, instituição criada para o cumprimento desse
tipo de regime , ou estabelecimentos adequados, podendo
ser a própria casa da pessoa (caso seja permitido pelo juiz).
Atualmente, os presos que estão em prisão domiciliar
podem ser monitorados por tornozeleira eletrônica. Essa
previsão foi incluída no artigo 146-B, IV, da LEP, pela Lei nº
12.258/2010.
Tipos de
Unidades/Estabelecimentos
Prisionais/Penais
Penitenciária

As penitenciárias abrigam presos já condenados pela


justiça (em regime fechado), eles recebem inclusive, o
nome de presos permanentes.
Elas podem ser de segurança máxima ou média (art.33,
§1, letra a).
Presídio / Cadeia Pública

Os presídios abrigam réus com processos sem


transitado e julgado, isto é, o julgamento ainda não
aconteceu.
Destina-se “ao recolhimento de presos provisórios”
(art. 102, da LEP), ainda sem condenação, como
aqueles com a prisão preventiva ou temporária
decretada pela Justiça. É chamada também de presídio,
e é sempre de segurança máxima.
Colônias Agrícolas, Industriais ou Similar

A Colônia Agrícola, Industrial ou Similar destina-se “ao


cumprimento da pena em regime semi-aberto” (art. 91,
da LEP).
É um estabelecimento que se caracteriza pela
inexistência de grades, muros, cercas eletrificadas ou
guardas armados para evitar a fuga do preso.
Centros de Progressão Penitenciária

Centros de progressão penitenciária são unidades que


abrigam presos do regime semi aberto, mas que não
oferecem estrutura para trabalho dos presos. Nesse
caso, o condenado no semiaberto pode trabalhar ou
estudar fora da prisão durante o dia e voltar para a cela
antes das 19 horas.
Casa do Albergado
A casa do albergado destina-se “ao cumprimento de pena privativa
de liberdade, em regime aberto, e da pena de limitação de fim de
semana” (art. 93, da LEP).
Nela o condenado fica recolhido somente no período noturno e
nos domingos e feriados. Ele poderá exercer normalmente o seu
trabalho, seu já o tiver.
E para o condenado que estiver trabalhando, ficará recolhido na
casa do albergado ou estabelecimento adequado.
Neste estabelecimento não possui qualquer tipo de vigilância
direta, uma vez que o condenado demonstra senso de
autodisciplina e de responsabilidade.
A construção deste estabelecimento não deve possuir
características de estabelecimento prisional.
Centro de Observação

[…] estabelecimentos penais de regime fechado e de


segurança máxima onde devem ser realizados os exames
gerais e criminológico, cujos resultados serão encaminhados
às Comissões Técnicas de Classificação, as quais indicarão o
tipo de estabelecimento e o tratamento adequado para cada
pessoa presa (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2010, n. p.).
Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico
(HCTP)
O Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico
destina-se “aos inimputáveis e semi-imputáveis
referidos no artigo 26 e seu parágrafo único do Código
Penal” (art. 99, da LEP). Neles estão as pessoas
submetidas à Medida de Segurança, que poderão ser
internados ou realizar o tratamento ambulatorial.
Secretaria Nacional de
Políticas Penais
(SENAPPEN)
É um órgão cuja atuação se dá na área de
segurança pública, especificamente na
execução penal nacional, e é subordinado ao
Ministério da Justiça e da Segurança Pública.
Órgão executivo que acompanha e controla a
aplicação da Lei de Execução Penal e das
diretrizes da Politica Penitenciária Nacional.
Competências da SENAPPEN
a) responsável por acompanhar a fiel aplicação das normas de execução penal
em todo o Território Nacional;
b) inspecionar e fiscalizar periodicamente os estabelecimentos e serviços
penais;
c) assistir tecnicamente as Unidades Federativas na implementação dos
princípios e regras estabelecidos nesta Lei;
d) colaborar com as Unidades Federativas mediante convênios, na implantação
de estabelecimentos e serviços penais;
e) colaborar com as Unidades Federativas para a realização de cursos de
formação de pessoal penitenciário e de ensino profissionalizante do condenado
e do internado;
f) estabelecer, mediante convênios com as unidades federativas, o cadastro
nacional das vagas existentes em estabelecimentos locais destinadas ao
cumprimento de penas privativas de liberdade aplicadas pela justiça de outra
unidade federativa, em especial para presos sujeitos a regime disciplinar;
g) coordenação e supervisão dos estabelecimentos penais e de internamento
federais.
Atribuições do SENAPPEN
I - planejar e coordenar a política nacional de serviços penais;
II - acompanhar a aplicação fiel das normas de execução penal no território nacional;
III - inspecionar e fiscalizar periodicamente os estabelecimentos e os serviços penais;
IV - assistir tecnicamente os entes federativos na implementação dos princípios e das regras da
execução penal;
V - colaborar com os entes federativos quanto: a) à implantação de estabelecimentos e serviços
penais; b) à formação e à capacitação permanente dos trabalhadores dos serviços penais; e c) à
implementação de políticas de educação, saúde, trabalho, assistência cultural e respeito à
diversidade, para promoção de direitos das pessoas privadas de liberdade e dos egressos do
sistema prisional;
VI - coordenar e supervisionar os estabelecimentos penais e de internamento federais; VII -
processar, analisar e encaminhar, na forma prevista em lei, os pedidos de indultos individuais;
VIII - gerir os recursos do Fundo Penitenciário Nacional;
IX - apoiar administrativa e financeiramente o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária;
X - autorizar os planos de correição periódica e determinar a instauração de procedimentos
disciplinares no âmbito do Departamento.
Sistema Penitenciário
Federal
Criado em 2006, com a finalidade de abrigar presos de
alta periculosidade, com a construção e gerenciamento
de presídios de segurança máxima no território
brasileiro. As penitenciárias federais do Brasil, cada uma
com capacidade para 208 presos, apresentam o que há
de mais moderno no sistema de vigilância em presídios,
como equipamentos que identificam drogas e explosivos
nas roupas dos visitantes, detectores de metais,
câmeras escondidas, sensores de presença, entre outras
tecnologias. Cada preso é confinado em celas
individuais, sendo monitorado 24 horas por dia, por um
circuito de câmeras em tempo real.
5 penitenciárias federais do Sistema Penitenciário
Federal, localizadas em Catanduvas (PR), Campo
Grande (MS), Porto Velho (RO), Mossoró (RN) e em
Brasília (DF).
Sistema Penitenciário dos
Estados
A Secretaria Nacional de Políticas Penais
(SENAPPEN) mantém relacionamento com os órgãos da
execução penal dos Estados a fim de articular políticas,
serviços, ações e projetos, por meio da cooperação mútua e
do intercâmbio de informações, com as unidades federativas.
E O PEDAGOGO?
LEI N O
12.433, DE 29 DE
JUNHO DE 2011
Altera a Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de
Execução Penal), para dispor sobre a remição de parte
do tempo de execução da pena por estudo ou por
trabalho.
Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime
fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por
estudo, parte do tempo de execução da pena.
§ 1º A contagem de tempo referida no caput será feita à
razão de:
I - 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência
escolar - atividade de ensino fundamental, médio, inclusive
profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação
profissional - divididas, no mínimo, em 3 (três) dias;
§ 2º As atividades de estudo a que se refere o § 1º deste
artigo poderão ser desenvolvidas de forma presencial ou
por metodologia de ensino a distância e deverão ser
certificadas pelas autoridades educacionais competentes
dos cursos frequentados.
RESOLUÇÃO Nº 14, DE 11
DE NOVEMBRO DE 1994
Editou as Regras Mínimas para o Tratamento do Preso
no Brasil, fruto de decisões tomadas em congressos
internacionais sobre justiça penal. O referido texto, em
seu capítulo XII, aborda a instrução e assistência
educacional.
Art. 38. A assistência educacional compreenderá a instrução escolar e a
formação profissional do preso.
Art. 39. O ensino profissional será ministrado em nível de iniciação e de
aperfeiçoamento técnico.
Art. 40. A instrução primária será obrigatoriamente ofertada a todos os presos
que não a possuam.
Parágrafo Único – Cursos de alfabetização serão obrigatórios e compulsórios
para os analfabetos.
Art. 41. Os estabelecimentos prisionais contarão com biblioteca organizada
com livros de conteúdo informativo, educativo e recreativo, adequado à
formação cultural, profissional e espiritual do preso.
Art. 42. Deverá ser permitido ao preso participar de curso por
correspondência, rádio ou televisão, sem prejuízo da disciplina e da segurança
do estabelecimento.
RESOLUÇÃO Nº03/2009 DO
CONSELHO NACIONAL DE
POLÍTICA CRIMINAL E
PENITENCIÁRIA (CNCP)
Homologada pelo Ministério da Educação por meio da
Resolução nº 2, de 19 de maio de 2010, do Conselho Nacional
de Educação (CNE), estabelece as diretrizes nacionais para a
oferta de educação nos estabelecimentos penais,
considerando que as ações educativas deverão estar calcadas
na Legislação Educacional vigente e na LEP (BRASIL, 2010).
Dessa forma, emerge o pedagogo, cujo trabalho dentro de
uma unidade penitenciária apresenta desafios de articulação e
concretização dos processos de escolarização, qualificação e
profissionalização, considerando ainda a questão do direito à
Educação, o número de vagas nas unidades penais, as
dificuldades com a movimentação dos privados de liberdade,
a relação de poder que perpassa o trabalho dos agentes
penitenciários, a falta de recursos, entre outros (OLIVEIRA,
2019).
Os pedagogos que atuam nas unidades penais trazem consigo
um referencial traduzido pelas suas experiências na docência,
na coordenação, na gestão, no cotidiano, na prática do
exercício profissional. No trabalho desenvolvido com os
sujeitos privados de liberdade aprendem sobre a educação
prisional, suas características e possibilidades, bem como a
relação entre a legislação penal e a educacional (OLIVEIRA,
2019).
O setor pedagógico da unidade penal deve ser coordenado,
necessariamente, por um profissional pedagogo, devidamente
concursado e sendo profissional efetivo da Secretaria de
Estado da Educação e com experiência em Educação de Jovens
e Adultos.
ATIVIDADES SOB A
RESPONSABILIDADE DO
PEDAGOGO DA UNIDADE
PENAL
a) Conhecer, acompanhar e opinar sobre o projeto político pedagógico
elaborado pelas SEED, bem como sobre os recursos oriundos do fundo
rotativo que atende a unidade penal;
b) Conhecer, discutir e propor a definição de oferta de disciplinas na
unidade penal, o planejamento curricular, bem como o calendário
escolar;
c) Acompanhar, opinar e aprovar a carga horária do corpo docente na
unidade penal;
d) Participar de reuniões pedagógicas junto com os professores para
discutir os temas que devem ser trabalhados com os alunos, voltados à
conscientização sobre valores sociais (cidadania, drogas, ética, família,
saúde, respeito, etc.);
e) Acompanhar o desempenho escolar dos alunos, em grupo e
individualmente, propondo medidas, em conjunto com os professores,
quando não corresponderem ao resultado esperado;
f) Acompanhar o processo de matrículas dos alunos, respeitando os
critérios definidos pelo SENAPPEN;
g) Propor a reativação da matrícula de alunos que darão continuidade aos
estudos, aproveitando a carga horária e os registros de notas obtidas;
h) Manter arquivado no Setor Pedagógico o Plano de Ação Pedagógica por
disciplina, para facilitar o seu acompanhamento;
i) Propor temas a serem desenvolvidos no âmbito das disciplinas
ofertadas pela escola ou de projetos especiais, que atendam às
necessidades do preso e da unidade penal, no sentido de colaborar para a
compreensão do processo de marginalização social e para a
desconstrução de um comportamento criminoso;
j) Promover atividades extracurriculares em conjunto com o corpo
docente da escola e ou com a equipe técnica da unidade, tais como a
programação de eventos de teatro, música, leitura jogos de salão,
artísticos, etc.;
k) Propor metodologias alternativas ao trabalho do professor, utilizando-
se de filmes, música, jogos, etc.;
l) acompanhar a frequência e o horário das atividades docentes das
unidades penais, conforme determina portaria do SENAPPEN;
m) Propor e acompanhar a reposição de aulas, no caso de faltas, por meio
de solicitação ao professor de um plano de reposição, que contemple a
carga horária, dias, metodologia e conteúdo;
n) Acompanhar e justificar a falta dos alunos que estiverem
frequentando a escola quando se tratar de portarias, autorização de
saídas temporárias, conselho disciplinar, audiência, doença, etc.;
o) Articular junto aos órgãos responsáveis, inscrever os alunos e
acompanhar os exames de suplência, bem como o ENEM;
p) Organizar espaço para biblioteca escolar, propor critérios para o seu
acesso por todos os presos da unidade, bem como pelos funcionários;
q) Acompanhar, junto às secretarias de Educação (quando for o caso),
critérios para o rodízio de professores;
r) Realizar triagem (ainda que superficial) nas áreas visual e auditiva,
para diagnosticar possíveis causas da dificuldade de aprendizagem;
s) Elaborar e manter atualizada a listagem de presos que frequentam a
escola para o Setor de Segurança;
t) Manter, no Setor, um livro de ocorrências, e no caso de algum registro,
comunicar ao Setor de Segurança;
u) Orientar os professores sobre materiais permitidos ou não para
utilização nas atividades docentes;
v) Orientar, em conjunto com o Setor de Segurança, os professores novos
sobre as normas de procedimentos e medidas de segurança no
desempenho de suas funções na escola, bem como atualizar o corpo
docente quando da mudança de qualquer norma que venha a interferir
no trabalho escolar;
w) Comunicar ao Setor de Segurança quando da falta de um preso a aula
que não tenha justificativa (FERREIRA e VIRMOND).
O pedagogo, além de ser o articulador da educação
formal na escola, também atende formação
profissional e empregabilidade, por meio de cursos
profissionalizantes, considerando as aptidões pessoais,
o nível de escolaridade e as condições físicas da
unidade penal (OLIVEIRA, 2019).
No regime aberto, o pedagogo acompanha os egressos
do sistema penal e beneficiários de penas e medidas
alternativas a prisão, e desenvolve atividades de apoio,
encaminhamento e fiscalização da medida educativa na
forma de encaminhamento para a educação formal,
cursos profissionalizantes, palestras e grupos de
reflexão, de acordo com as especificidades de cada
município e as possíveis parcerias realizadas (OLIVEIRA,
2019).
Importante frisar que apesar de haver uma rotina de
atividades de trabalho já especificada para o pedagogo,
ela está sempre de acordo com as condições de
segurança da unidade, ou seja, as atividades podem ser
suspensas a qualquer tempo e a qualquer hora, por
determinação da chefia de segurança, sempre que
houver necessidade, visando assegurar a integridade
física de todos (OLIVEIRA, 2019).
Por fim, deve-se ter em mente que: “a formação do
pedagogo precisa contemplar e atender ao seu caráter
político, no sentido de assumir, em sua prática, a
condição de defensor dos direitos humanos e a defesa
do direito à educação para todos os presos. A
humanização do homem num espaço
desumanizador ”(OLIVEIRA, 2019, p.196).

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