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FRANCISCO JOSÉ PEGADO ABÍLIO


(Organizador)

EDUCAÇÃO AMBIENTAL
PARA O SEMIÁRIDO

Editora Universitária da UFPB


João Pessoa - PB
2011

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CAPÍTULO 13
CARTOGRAFIA DO IMAGINÁRIO NO MUNDO DA
PESQUISA

MICHÈLE SATO

Em algum lugar, algo espera ser conhecido.


[Carl Sagan]

Estudar é um ato revolucionário.


[Paulo Freire]

O mundo está cheio de livros fantásticos que ninguém lê.


[Umberto Eco]

Transformar o mundo.
[Karl Marx]

Mudar a vida!
[Arthur Rimbaud]

Sonhemos. Não nos custa nada.


[Albert Camus]

III. ABRINDO AS CORTINAS – O início de um diálogo pós-


moderno

Se você é uma destas pessoas que acredita nas frases acima,


prossiga a leitura, mas não aguarde nenhum receituário ou heurística
que esbanje revolução, é só um texto. Todavia, um texto que retrata
uma de nossas faces em estar no mundo: um fazer e pensar pesquisa
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em Educação Ambiental! A força das pesquisas tem grandeza nas
palavras de José Caride (2007), e essencialmente numa sociedade que
se pense e pondere sobre a circulação de tantas identidades e
diversidades, uma pesquisa em educação ambiental é uma
contribuição de alta magnitude, desde que o conhecimento científico
colabora com o que podemos alicerçar para o nosso futuro. A pesquisa
ajuda a “cuidar do mundo” (COURTINE, 2003) por opção de quem
acredita que a liberdade de escolha é algo também para ressignificar
nossa própria existência. É inscrever a condição humana (figura 1)
naquilo que Magritte (apud GABLIK,1992) considerava nas suas
próprias telas, ou seja, uma pesquisa pode revelar aquilo que somos no
espaço real (existência), mas também aquilo que queremos ser no
espaço ilusório (devir).

Figura 1 - A condição humana (Fonte: Ich Magritte).

Este texto surgiu de maneira despretensiosa com o intuito de


ajudar os participantes do Grupo Pesquisador em Educação
Ambiental, Comunicação e Arte (GPEA), da Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT) e aos poucos foi ganhando novas roupas. Assim
revestido, é preciso alertar de que não se trata de uma metodologia
fixa, muito menos uma orientação fechada e imutável em sua
proposição. É, sobretudo, uma provocação para que os pesquisadores
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reinventem a palavra, iniciando nesta orientação pontilhada para novas
invenções. Uma pesquisa é um labirinto, que ao buscar
conhecimentos, reconstrói a condição humana em querer mudar a
vida, reinventando a paixão! Certamente inicia a trajetória na
ressonância ontológica de um mundo singular, abre as arestas, lança-
se nos mistérios subterrâneos, ganha corpo, asas e reinicia um novo
ciclo pela repercussão do devir. Não tenho a pretensão de ganhar a
cabeça do minotauro sobre a bandeja, esbanjando a bravura de Teseu.
Mas talvez por influência de Bachelard, tenho encantamento com a
metáfora de labirintos – talvez eu tenha complexo de Dédalo! Invento
e reinvento labirintos, embriagando-me em enigmas, buscando mitos
oníricos, voando em imaginação, estudando... Estudando... Estudando!
Uma pesquisa é como conjugar o verbo pensar no eterno
gerúndio, como se fosse um movimento que não se acaba, e por ser
algo em plena construção, é possível fugir da rigidez do método
científico da Modernidade, abrindo miríades de possibilidades. Assim
teremos coisas boas e ruins, como um jardim que não oferece apenas
flores perfumadas e aparente equilíbrio. Como diria o artista, arquiteto
e ecologista nascido na Áustria, Friedensreich Hundertwasser (89), cada
qual é responsável pela metáfora do “bolor”, isto é, cada pessoa
deverá assumir a responsabilidade de seu próprio jardim doméstico,
contra a falsa assepsia, ou o clamor obstinado pela harmonia. Caberá a
cada qual adaptar tudo ao seu contexto particular, acomodando
conceitos, mudando títulos, ou revendo pontes para novas religações.
Propondo 5 “peles” à sustentabilidade da Terra, o ecologista
Hundertwasser começa seu manifesto com a primitividade da
natureza, convidando-nos a mergulhar no ambiente que não possui
apenas flores, mas também fezes, lodos ou bolores. Na semana da arte
Moderna, o Manifesto Pau Brasil também recuperava a antropofagia
oswaldiana, em comer a força inimiga do estrangeiro, devolvendo a
energia da brasilidade. Se Macunaíma era feio, talvez já tenha passado
da hora de compreender que a feiura é mais divertida que a beleza
(ECO, 2007). “A feiura é a colisão de um homem com o nada; ou
também a sua liberdade com a natureza sob a plenitude e o
destino” (MERLEAU-PONTY, 1964, p. 45). É preciso compreender

(89)
http://www.hundertwasser.at/english/texts/philosophie.php
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que a natureza tem lagartixas transparentes que mostram as veias,
gosmas de lesmas plasmadas nas paredes e cheiros de carniças na
decomposição da matéria! Sem temer pelo exótico, muito menos pela
desordem, Wolff (2002) apoia-se na teoria do clinamen (90) para
evocar a liberdade como um ato aleatório do corpo em todas as
direções. Imprevisível, mas certeiro, um pequeno revoar das asas de
uma borboleta amazônica pode causar um tufão nos Estados Unidos.
O caos, o feio e o primitivo, assim, podem representar a guinada
conceitual prigoginiana que nos convida para repensar os conflitos
socioambientais para além da consideração harmônica presente nos
discursos ambientais da Modernidade.
A segunda pele é o vestuário, nas relações do comércio, do
mercado instituído pelo capital e inclusive na hipocrisia em julgar o
outro pelas suas vestimentas. Hundertwasser argumenta também a
padronização do uniforme, convidando-nos para criar nossas próprias
modas como passaporte social, com direito às diferenças da
diversidade. Sygmund Bauman (2001) transcende este debate,
convidando-nos a repensar os modelos de vida que assumimos, no
mercado rápido que dita a moda, uniformiza a todos e que escapa de
nossas mãos pela rapidez do mercado [modernidade líquida].
A terceira pele é a casa, que o genial arquiteto Hundertwasser
metaforiza sobre “o direito de janela e o dever de árvore”, isto é, ter o
direito de enfeitar coisas íntimas, como o olho de nossa janela, mas
respeitar o espaço coletivo, reconhecendo a árvore como oikos de
todos, anunciando uma nova estética ecológica. Plantando nas
paredes, propõe que o húmus não seja só da terra, mas também da
estrutura arquitetônica, tornando as paredes esteticamente repintadas e
replantadas! Manoel de Barros (2006) poderia acrescentar que ele
desejaria ser o chão, só para sentir que as árvores pudessem crescer
nele!

(90)
O conceito do clinamen foi trazido por Ilya Prigogine (1984) e caracteriza-se por
um evento mínimo que pode desorganizar cenários macros. Espontâneo e
imprevisível, este movimento atômico foi desprezado pelos cientistas durante muito
tempo, mas depois constatou-se que as desarmonias eram mais interessantes às
observações e aos estudos das ciências naturais, igualmente importante em outras
áreas do saber.
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A quarta pele é a sociedade, na formação da identidade, da
cidadania e do culto das pequenas tradições como moedas, bandeiras
ou símbolos que podem ser recriados. Das diversas linguagens,
enredos e polissemia de uma complexa rede de biodiversidade e das
diferenças culturais que narram uma Nação (BHABHA, 2003). São as
relações postas nas armadilhas do que Fredric Jameson (1991) alerta
sobre o capitalismo tardio: ALIE-NAÇÃO. Com cuidado, Stuart Hall
(1997) argumenta que a rapidez e as mudanças da Modernidade
Tardia são atravessadas por diferentes divisões e antagonismos que
produzem uma variedade de identidades híbridas.
Para Hundertwasser, a quinta pele é a ecologia, trançada com
as demais peles, fecundas na natureza, mas que solicitam um
envolvimento político, tanto na ação individual cotidiana quanto em
movimentos organizados. A tríade húmus-humano-humanidade é,
assim, consonante com outras tríades do EU-OUTRO-MUNDO
merleau-pontyano, e possivelmente nunca conseguiremos enxergar,
face a face, nossas ideias e nossa liberdade, e talvez por isso, nunca
paramos de trabalhar. Ecoam também nas vozes de Paulo Freire
(1992) e tantos outros que direta ou indiretamente navegaram por
mares ecologistas, pautando a educação como porto seguro, sem
esquecer que entre o mar revolto e a calmaria, “navegar é preciso
(91)
”.
Hundertwasser não comentou sobre uma sexta pele de
universos paralelos. Talvez Henri Lefebvre (1991) o fizesse, em suas
teorias sobre espaços absolutos e espaços abstratos, inscrevendo a
humanidade no espaço social e deixando o barco à deriva quando se
tratava do espaço além da Terra. Pesquisadores da física afirmam que
outros universos podem ser possíveis, como na existência de
membranas e das onze dimensões da teoria das cordas. Mas a física
quântica nos fornece mais de uma maneira de interpretar o mundo que
nos cerca, o que conduz às novas experimentações astrofísicas sobre

(91)
Frase célebre de Pompeu, um general romano que frente aos marinheiros
amedrontados em viajar pelos mares, resguardando suas vidas em plena guerra, ele
dizia: “Navigare necesse; vivere non est necesse”. Deste fato histórico, é possível
que Fernando Pessoa tenha escrito seu poema “Navegar é preciso, viver não é
preciso”.
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os universos paralelos, como Deutsch (1977), que tem abordado a
existência do multiverso e a viagem no tempo pela computação
quântica. Parece que as ciências, genericamente ditas, encontram-se
num eixo abstrato para tentar responder velhas perguntas: quem
somos, de onde viemos, ou como e para quê viemos. Com tratamentos
investigativos diferenciados, física e filosofia se alinham para
compreender o “verso”, seja ele uno ou múltiplo, visível ou não
visível (MERLEAU-PONTY, 1964). Bachelard (1989) compreendia
que o verso pode ter grande influência na alma. Talvez represente,
também, uma “com-versa” entre aqueles que não temem a dialética
entre a ciência e a poesia...

II. PALCO EM MOVIMENTO – o protagonismo investigativo

Abordar um campo investigativo exige uma enorme


responsabilidade e grau de compromisso para além de nós mesmos.
Representa uma viagem científica de aprendizagens singulares e
infinitas, e que talvez jamais consigamos responder velhas e novas
perguntas sobre os universos que habitamos – ou de um multiverso em
plena descoberta! Uma aventura em risco, onde cada qual escolherá o
seu itinerário de pesquisa. Fixando o destino, é possível escolher o
meio de transporte pelo qual queremos chegar. Mas na cartografia do
imaginário, entretanto, o que talvez importe não seja o destino final,
mas a rota e a viagem realizada nos percalços de uma longa viagem.
Usando a imaginação e permitindo que a intuição também seja
parceira na pesquisa, talvez possamos realizar uma viagem que conta
com vários meios de transportes.
Importante ressaltar que ao determinar uma rota com o mesmo
tipo de transporte, os pilotos podem traçar diferentes caminhos. Uns
chegarão antes, sem conhecer bem os detalhes das ruas. A paisagem
tornou-se distante porque mirada pela janela, num carro em
movimento acelerado, o detalhe da árvore foi perdido... Outros talvez
nem cheguem ao destino desejado, porque de tanto esmiuçar árvores,
copas, troncos e texturas, perderam-se pelos labirintos. Uma mesma
obra, assim, pode ser sentida diferentemente por dois viajantes
científicos, pois um “mapa” assinala pontos cardeais, mas da destreza
de calcular quilometragem, ou do conhecer as pedras do caminho,
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dependerá a viagem segura... ou a mais rápida! Idealmente, ambas as
coisas são importantes. Mas uma iche inicial da rota é preciso ser
traçada, desde que ela determinará o tipo de transporte adequado (ou
somente disponível) ao trajeto sonhado.
É preciso ponderar o quê, por que ou onde queremos chegar.
Mas estas não são as únicas perguntas a serem feitas numa viagem
investigativa. Como iremos chegar é um processo que interessa
metodologicamente a construção do sabor da viagem. O quê
poderemos levar nas mochilas, malas ou sacolas é outro item
essencialmente importante, e quando viajaremos também, do
contrário podemos cometer a insensatez em levar biquínis em pleno
inverno rigoroso de algum lugar. E também perguntar quanto custará
esta aventura. Haverá parceiros? Com quem posso viajar? Uma
pergunta consistente aos ecologistas que lutam na militância seria:
“Contra quem” fazemos educação ambiental? Para quem, afinal,
esta viagem é importante? Posso também realizar uma “self” viagem,
buscando em mim significados que talvez precisem ser decifrados?
Das várias perguntas necessárias, e sem nenhuma pretensão de
idealizar somente um tipo de veículo, talvez o ideal seja um transporte
que consiga ter autonomia na direção, sem necessidade de esperar que
o motorista de um ônibus [ou trem] pare no posto [ou na estação] com
banheiros sujos. Na ausência de hotel, um carro pode servir de cama,
mas a bicicleta é mais sustentável do ponto de vista energético! Um
barco pode ficar à deriva, balançando à mercê de ondas rebeldes...
Mas traz o horizonte mais azul aos pensamentos transbordantes... Uma
viagem aérea, de avião, foguete ou balão, limita-se ao nosso olhar de
“janela”, sem o dever da árvore, mas em compensação, é possível
percorrer longas distâncias poupando-nos tempo! É um “olhar de
passarinho” que abre fronteiras nunca vistas, acenando que o arco-íris
pode estar além do horizonte. Mas além do quadro genérico, o “sentir
do passarinho” complementa as percepções metodológicas. Talvez
um caminhar sereno entre as gigantescas trilhas da Amazônia? Um
cavalo no luar do Pantanal, com reflexos nos pequenos corpos da água
que anunciam uma nova era? Um trator no cerrado para dilacerar a
monocultura? Um metrô para pesquisa underground? As asas frágeis
de um pardal nas pequenas belezas urbanas?

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A mistura de alguns transportes é interessante porque nos
possibilita diversas interpretações e descobertas. Um helicóptero pode
dar a magnífica visão de uma floresta com arco-íris, possibilitando o
olhar íntimo da janela [olhar de passarinho]. Entretanto, é essencial
uma caminhada que nos dê o dever coletivo da árvore, o de vasculhar
a grama e construir uma fenomenologia fofoqueira, esmiuçando o
trajeto que pode ser mais interessante do que meu destino final [sentir
de passarinho]. A autonomia da locomoção, contudo, parece ser a
atração maior desta aventura intelectual que me guio no momento.
Na CARTOGRAFIA DO IMAGINÁRIO, ao invés de peles do
arquiteto Hundertwasser, pensei nos 4 elementos bachelardianos como
substratos fenomenológicos da investigação. Dito de outro jeito, talvez
possamos usar a metáfora dos 4 elementos naquilo que Bachelard
(1988) considerava sobre o processo de aprendizagem: formação –
deformação – transformação – reformação. Ou seja, uma viagem de
carro que me tire os preconceitos prévios dos obstáculos
epistemológicos, tipo: “quem tem carro é burguês” [deformação]. Do
aprender a dirigir [formação], seja câmbio automático, “hidromático
ou quebramático”... Do escapar da batida por reflexos rápidos, na
transformação de conhecimentos mecânicos misturados com os
intuitivos, para chegar num destino e recomeçar o planejamento de
uma nova viagem [reformação].

 ÁGUA [formação] – a nossa constituição original, a gênese


do desejo que dará as possibilidades de uma viagem
científica;
 TERRA [deformação] – vencer os obstáculos
epistemológicos, mesclando cenários, um “reaprender a
aprender”, ainda que o processo seja dolorido;
 FOGO [transformação] – na combustão da chama, a
mudança desejada, o processo de busca, de envolvimento e
de engajamento;
 AR [reformação] – é o tempo do repouso para que um novo
ciclo reinicie, a consideração geral da viagem, a ‘memória, o
encantamento e o reencantamento da pesquisa.

547
É possível que alguém me pergunte a razão de 7 pontos e não 8,
já que são 4 elementos subdivididos. Deixei apenas a água [gênese]
sozinha para chegar num heptágono cabalístico – talvez para dar
importância às identidades que cada qual carrega, nas máscaras que
nos envolvem em múltiplas relações sociais.
Adotei a metáfora do direito da janela e do dever da árvore
para cada item que considero essencial para gente que faz militância e
pesquisa. Uma janela traz o mundo externo para o nosso interior, e
dialeticamente, ela nos projeta ao exterior cintilando nossos sonhos. É
o símbolo da apreensão de um mundo em devir que se oculta em seu
interior. Enxergamos a floresta de nossas janelas, distante em seu
conjunto de paisagem externa. É o nosso direito do pensamento
poético [eu com o mundo, na ressonância de uma energia
centrípeta], fugidio nas palavras e ações, mas na intimidade de uma
moldura que vê e sente o mundo.
A árvore tem sentido imanente e transcendente: das raízes
profundas ergue-se um tronco que se vertilicaliza pela terra, com fúria
rebelde contra a lei da gravidade, abrindo-se delicadamente em folhas
para religar a terra ao céu azul. Saímos da pele que envolve a casa
com janelas para ingressar numa pele social de inquietação de um
“mundo sendo” (FREIRE, 1992) e por isso, não mais meramente
contemplativo. É o dever do ato poético [eu e o outro com o mundo,
na repercussão de uma energia centrífuga], errático em tentativas e
descobertas, mas no coletivo de um mundo que possui várias janelas,
no acolhimento ao outro por meio do compromisso ético que talvez o
genial surrealista belga, René Magritte, quisesse filosofar por meio da
imagem [Figura 2]: nossa capacidade de abrir as cortinas que nos
envolvem para ouvir a voz de sangue oriundo de um mundo injusto
que exige a nossa presença, que envolve o tecido solitário, porque tem
como sonho íntimo a coragem de explodir em lutas coletivas.

548
Figura 2 - A voz do sangue. (Fonte: René Magritte).

Pilares, arcos das janelas, como buracos entre o


fora e o dentro, a velha casa, intervenção de pedra
perfeitamente apropriada a uma alma silenciosa, a
alma que prestes a ser engolida no fluxo do tempo,
olha através destes arcos a aurora entre as auroras
(BACHELARD, 1998, p. 166).

À vista de uma árvore, não podemos ficar


insensíveis a este espetáculo que nos lembra uma
multidão de homens tristes (...). Compreendemos
que a dor está no cosmos, que a dor está nos
elementos, que as vontades dos seres são
contrários, que o repouso não passa de um bem
efêmero. A árvore que sofre é o apogeu da dor
universal (BACHELARD, 1989, p. 247).

De direitos de janelas a deveres de árvores, muitos alegarão


que esta proposta não pode ser levada a sério porque a poética não se
ajusta ao modelo científico adotado. Obstinado em rechear o espírito
científico com poesia, Bachelard (1989, p.7) asseverava que uma
pesquisa fenomenológica deveria “ser sensibilizada pela alotropia
fenomenológica das ressonâncias e das repercussões. As ressonâncias
se dispersam nos diferentes planos de nossas vidas no mundo, e as
repercussões nos chamam a um aprofundamento de nossa própria
existência”. Num estudo sobre Shakespeare, Nestrovski (1994) expõe
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que a poética consegue moldar a forma de pensar, genericamente e
não apenas no Romantismo que, aliás, equivocadamente é interpretado
como sinônimo de ingenuidade. Os românticos resistiram contra a
hegemonia instituída pelo Renascimento e deu um especial sabor de
poéticas instituintes. As mentes cartesianas resistem em aceitar
propostas poéticas como parte da pesquisa, mas a poesia amacia a
dura racionalidade e aumenta os níveis de compreensão.
Entre os nexos e ‘desnexos’ entre ciências e poesias (PAZ,
1994), a inspiração do título deste texto possui a marca da
fenomenologia do imaginário, que projeta uma pesquisa em educação
ambiental que considere o PENSAMENTO poético da janela [J], mas
retoma o estudo notadamente pela presença do sujeito no mundo, por
meio do ATO poético da árvore [A]. Uma pesquisa em educação
ambiental é ter liberdade para melhorar nossa condição humana para
imaginar e construir um mundo: “Imaginar um mundo é tornar-se
responsável por este mundo” (BACHELARD, 2005, p. 109). É um
convite para se construir, assim, uma trajetória nos quatro elementos
da água, terra, fogo e ar, “como cabeçalhos de capítulos, ou de títulos
de imagens cosmológicas (...), pois o imaginário está na base da
natureza humana” (p. 28).

1. ÁGUA IDENTIDÁRIA – a ressonância [energia centrípeta] do


devaneio pessoal [J] no substrato social e ecológico [A];
2. TERRA PENSAMENTO – a vastidão do mundo e seus
mistérios na busca das hipóteses [A];
3. TERRA LABIRÍNTICA – o desejo pessoal da descoberta na
porção da terra a ser estudada [J];
4. FOGO SUBSTÂNCIA – o laboratório a ser explorado [A], e a
metodologia privilegiada;
5. FOGO ONÍRICO – as escolhas dos caminhos [J] nos métodos
e nos caminhos traçados;
6. AR ESSENCIAL – a repercussão [energia centrífuga] e a
criação do mundo nos resultados [A];
7. AR ESPELHO – as espirais possíveis situando-se neste
mundo, nas considerações finais [J].

[J] = direito da janela [A] = dever da árvore


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1. ÁGUA IDENTIDÁRIA [introdução]

Existe uma água dormente no fundo de toda memória.


[Gaston Bachelard]

Iniciar com o nosso direito da janela não implica em,


necessariamente, traçar a vida desde a infância. O mais relevante é
transitar pela compreensão de que a “infância” tem várias formas de
interpretação, como explicita a trilogia de Manoel de Barros, e que a
ressonância necessária reside em mergulhar na memória e narrar
quando e como surge a identidade na educação ambiental, em sua
gênese na água. Em outras palavras, há que se apresentar
primeiramente o objeto da pesquisa, e buscando justificativas,
encontrar a nossa identidade na investigação, narrando nossas vidas.
Joseph Cusimano é um artista italiano que traz o elemento
água com muita frequência e intensidade, pois a água é o símbolo do
nascimento e, simultaneamente, da morte. Sob a transitoriedade da
água, é possível admitir que em suas superfícies apresentam-se as
imagens cada vez mais profundas. Cada etapa de nossas vidas é um
renascer para novas experimentações e sensações. Morre-se, efêmera e
transitoriamente, para que novas cartografias possam ser desenhadas
nas metamorfoses de uma longa viagem. O nascimento de um acerto
pela morte de um erro: na coragem de caminhar entre a ordem e a
desordem num passeio que não se caracteriza como mera narrativa
pessoal desprovida de ciência, mas essencialmente como busca de
teorias que auxiliem a compreensão das etapas de nossas vidas, à luz
da construção de identidades híbridas na educação ambiental.
Representa uma abertura da primeira pele que se explode na
segunda, ou seja, da capacidade de contextualizar nosso direito da
janela ao dever da árvore, com narrativas pessoais mescladas com um
tempo coletivo. Como na simbologia de um dente de leão, é narrar
sobre o húmus que favorece a planta, na maneira como enraíza os
valores políticos numa constituição axiomática da própria existência.
Comentando fatos e saboreando as imagens que fluem na memória,
aprisionar os instantes para que as práticas e vivências praxiológicas
sejam sustentadas pela necessária construção epistemológica. Cada
semente que nasce voa nas brisas para chegar ao solo fértil.
551
Entretanto, nem toda semente perpetuará a espécie, morrendo na
secura de um chão improlífico que deve ser compreendido como parte
dos fluxos normais na trajetória de uma vida. Enfim, a pesquisa pode
ser interpretada como um árido deserto, porém que sabe oferecer
prazerosos oásis.
Retornando à metáfora da viagem, é um início investigativo
que deve revelar a razão do desejo desta viagem. É preciso, assim,
esmiuçar o itinerário e os tipos de transportes elegidos. Os objetos na
mochila que carrega mapas, bússolas, binóculos, lentes de aumento,
roupas e sonhos. A corrida acelerada na visão da janela, como um
pássaro voando no céu... Mas também as paragens, caminhadas e
sensações do dever da árvore. Da autonomia em se adentrar na
floresta, sentindo o cheiro e “fofocando” fenomenologicamente sobre
as cartografias cotidianas. Do sentir-se solitário nas intermináveis
leituras, mas na possibilidade de devolver estes momentos desabitados
nos colóquios agitados de um Grupo Pesquisador em Educação
Ambiental (GPEA).
Este início de viagem é como um esboço de um quadro, cujas
primeiras pinceladas revelam as imagens da gênese identidária na
água, com ressonâncias nas experiências pessoais que, após a viagem,
terá a pintura do ar em plena ressonância da situação investigada. Por
ser uma pintura que carrega as principais abordagens da pesquisa,
deve ser escrita ao final, após ser cumpridas as etapas seguintes das
hipóteses, objetivos, metodologia, resultados e considerações finais;
aqui simbolizados pela força da água, terra, fogo e ar. A arte do
pesquisador estará no talento em mostrar a viagem com pequenas
mostras significativas, como se fossem um convite ao saboreio na
miragem do álbum e na escuta sensível de uma narrativa ainda em
plena construção.

2. TERRA PENSAMENTO [hipóteses]

A terra é o receptáculo de tudo que existe.


[Gaston Bachelard]

A terra é um símbolo do trabalho e para muitas cosmologias


mitológicas do mundo inteiro, este elemento pode se subdividir em
552
metal, madeira e barro. É a terra da superfície e da profundidade; de
campos abertos e cavernas escuras; de montanhas e abismos; e de
territórios e identidades. Entre outras dualidades, a terra representa
também os mistérios que jamais serão desvendados até as porções de
terras que conseguem ser compreendidas pela pesquisa.
Uma vez definido o objeto, será preciso dissertar sobre o
assunto de forma plena, sistematizando a literatura que se relaciona
com a pesquisa elegida e de que maneira outras viagens foram
realizadas em outros contextos conectados. A associação entre estas
esferas oferece um amplo panorama, e muitas vezes a paisagem
poderá tentar cansar o viajante, como se o cenário fosse repetitivo e
cansativo. Mas o olhar do poeta pesquisador não se cansa, buscando
uma conexão entre o devaneio global e o desejo local, na cartografia
que solicita ser compreendida pelos olhos da pesquisa científica.
Quais estudos existem sobre a porção da terra? Quais ainda são
seus mistérios? Em quais regiões podemos viajar? O que justificaria
uma viagem nestes territórios? Um olhar de passarinho, voando sobre
as terras para a noção geral do território, e essencialmente, um convite
para se considerar as terras na persistência do tempo, no marco de uma
pesquisa em determinado espaço elegido, durante um período
predeterminado. É a necessidade de se abordar sobre as afirmações de
situações ou fenômenos pouco estudados [hipóteses] do cenário
global, justificando a importância de se definir o objeto, na
correspondência biorregional, caracterizado pelo diálogo entre o
complexo e o singular.
As hipóteses são apresentadas de maneira a introduzir um
cenário que o pesquisador se propõe a desvendar e que representa um
cenário macro de um determinado fenômeno, atividade ou pessoa. São
indagações que repercutem no universo, e retornam como forma de
ressonância interna, na dúvida do mundo que se mescla com as
dúvidas pessoais. Os estruturalistas adoram apresentar as hipóteses em
forma de frases afirmativas. Acho que podemos deixar a regra aberta,
sem fixar se as hipóteses são frases afirmativas ou se representam
interrogantes de uma investigação. O que importa é que as
conjecturas, ou suposições de algo sejam reveladas de maneira a se
ligar com os objetivos da pesquisa, num universo micro dialogando
com o universo macro.
553
3. TERRA LABIRÍNTICA [objetivos]

Como é concreta a coexistência das coisas num espaço


que duplicamos com a consciência de nossa existência!
[Gaston Bachelard]

O labirinto é uma metáfora que se aproxima ao formato do


Caracol, em suas espirais indagantes que ao dar a volta, parecem
retornar no mesmo lugar, ainda perdidas em suas inquietações. Difere
do círculo por não fechar a volta, possibilitando a abertura do
inacabado e a saída de um labirinto (figura 3) parece ser o anúncio ao
ingresso de outro, já que abriga mistérios, muitos dos quais
[felizmente] jamais serão desvendados.

Figura 3 - Spiral valley (Fonte: Hundertwasser).

Com as hipóteses lançadas, deixe os objetivos muito bem


explicitados, e o trabalho agora é viajar com vários transportes: um
helicóptero que possa oferecer fotografias aéreas, ou quiçá um landsat
para aquela foto satélite, ou do popular Google earth! Antes de
esmiuçar o lugar para fofocar a seu respeito, é preciso mostrar a
fotografia do local, pois o espaço que estudamos não é um mero
território vazio, mas abarca porções fitofisionômicas próprias. Entre as
554
características ecossistêmicas e a ecologia da flor, um rio segue manso
nas curvas que anunciam a cachoeira. Mapas, localização e
caracterização física perfazem um início de diálogo biorregional, que
clama pela dialética da sociedade humana em seu espaço físico. E para
além das características biológicas, é necessário um perfil etnográfico
de seus habitantes e seus hábitos. A economia, a escola, a igreja, a
praça ou outras características históricas que consigam preencher os
territórios com as identidades singulares. O “local” também pode ser
uma escola, um grupo, um contexto ou um fenômeno qualquer que
necessita ser caracterizado.
Para além do sobrevoo local, o dever da árvore requer a saída
do olhar da janela, esmiuçando o território eleito a ser pesquisado com
ricos detalhes identidários. Existe um espaço onírico em cada imagem
que retrata o local, além de outros que podem ser criados pela
observação do poeta pesquisador.

Quando um mundo oculto e contido do poeta


transfigurado pelos sonhos e devaneios chega à
consciência em forma de imagens, o sonhador
deseja transportá-las para os textos numa
linguagem simbólica, que só pode ser lida e
decifrada por aquele que tem o dom de imaginar
para mergulhar no espaço da escritura
(FERREIRA, 2008, p. 66).

É como se toda característica do local quisesse falar, e quando


a palavra toma consciência de si, a atividade humana deve agenciar
seus sonhos pelo da escrita (BACHELARD, 1998). Um texto é, assim,
um ato corajoso de quem se arrisca, e se arriscando, consegue recriar
novos significados. Se nesta aventura o tempo ficou suspenso, sem
ontem nem amanhã, agora é a vez de despertar, na dura temporalidade
exigida, o desenvolvimento da pesquisa. É muito importante enfatizar
a temporalidade da pesquisa, sejam nos prazos e rigores de um
programa de pós-graduação, sejam nas obrigatoriedades das agências
financiadoras que legislam talvez sobre um tempo tirano, mas que se
caracteriza como política científica.

555
Um outro cuidado é examinar o tamanho da mochila nesta
viagem territorial de definição dos objetivos. Das diversas leituras
realizadas, e de tantos desejos em querer mudar a vida, muitas coisas
ficarão de fora, e é preciso ter coragem para renunciar certos conceitos
ou sonhos, do contrário uma matriz colorida ofuscará a compreensão
exata daquilo que estamos propondo a estudar. Religando conceitos e
sob o lume epistemológico, a meta agora é expor rigorosamente os
objetivos inseridos num dado território, num certo período, e num
certo contexto histórico. Revelando o labirinto, a intrincada trama
num jogo de espelhos, e a genialidade em se formular ‘perguntas
inteligentes’, já que do humano, “amamos o que dele podemos
escrever” (BACHELARD, 1989, p.14).

4. FOGO SUBSTÂNCIA [Metodologia]

O fogo poderá designar as direções vividas,


seguir a vida que escoa, ondula, a vida também que surge.
[Gaston Bachelard]

Como na transitoriedade da água que nasce e morre, o fogo


também acende e apaga. Bachelard (2005) considerava que o fogo
simboliza o devir, transformando-se a cada instante e comandando as
crenças, fé, paixões e a existência humana. Entre os fenômenos, talvez
o fogo tenha a maior competência em aceitar as dualidades entre o
bem e o mal: “Brilha no paraíso. Arde no inferno. É doçura e tortura”
(p. 19).
Dúbio, é também o entendimento sobre o que significa
MÉTODO e o que seja METODOLOGIA, na arena das interpretações
científicas. Ambos possuem um radical grego “methodus” que
significa “caminho, viagem ou meta”. Um encerra-se em si mesmo,
MÉTODO – um caminho investigativo que revela procedimentos,
etapas, registros ou dados. A outra recebe o sufixo “logo”, que
significa estudo. Observe que não é difícil usar o plural de métodos,
mas complica-se na metodologia. MetodologiaS?! Um curso de
geologia ou geologiaS? Dito de outra maneira, a metodologia abrange
o método, desde que considerando as etapas investigativas, busca
compreendê-las à luz de conceitos, teorias e tendências. Por esta
556
definição, podemos compreender porque a metodologia privilegiada
deixa de ser mera ‘etapa’ e toma dimensões de princípios teóricos da
pesquisa, como é o caso da fenomenologia. Em outras palavras, a
metodologia vai direcionar o caminhar tanto na parte teórica, quanto
na prática.
A interpretação do “methodus” e do “logo”, entretanto, tem
várias compreensões e uma vasta literatura traz os dois termos como
sinônimos. Não raro, a metodologia é resumida em ‘materiais e
métodos’, com absurda negligência conceitual da experimentação. Nas
ciências naturais, o método científico pode ser mais claro, desde que
pode tratar-se de um método de coloração microscópica na lâmina de
histologia, por exemplo. Nestes métodos, o rigor metodológico deve
atender a doutrina científica. Por outro lado, chamamos o processo de
alfabetização de adultos, por meio do círculo de culturas e temas
geradores, como “método Paulo Freire”. Mas aqui o grande mestre
não suportaria “engessar” o caminho, e certamente ele orientaria pela
pedagogia da autonomia.
Assim, o maior engano é acreditar que os caminhos da
pesquisa podem ser feitos sem teorias. Isto é, ao anunciar as rotas de
“viagem”, bastar dizer que “x” pessoas foram entrevistadas, entre
homens e mulheres; e “y” perguntas foram feitas de maneira
semiestruturada. Houve registros, tiraram-se fotografias, criou-se um
diário de bordo. Para muito além deste relato, definido o objetivo da
pesquisa [ou o itinerário da viagem], a meta é esmiuçar os passos
desta viagem, com todo o instrumental utilizado. Antes de tudo,
esclarecer a razão da escolha metodológica torna-se fundamental. No
caso do exemplo dado previamente, sobre explorar a religações entre
espiritualidade, mitologia e educação ambiental, ao optar pela
fenomenologia, primeiramente é preciso mostrar “de onde estou
falando”, isto é, porque escolhi esta metodologia e quais autores me
guiam nesta conversa: Uma fenomenologia da percepção em Merleau-
Ponty? Do imaginário de Bachelard? Do clássico de Husserl? Do
conflito de Lévinas? Da agressão de Lautréamont? O que existe de
diferente entre eles que me fez optar por um e não pelo outro?
Qualquer que seja a escolha, se não compreendermos o todo, o
singular pode tornar-se prejudicado! Esta é a metodologia adotada

557
pelas ciências, contra as vagas “opiniões” [ou achismos]. Na
academia, há a veemente necessidade de aliar prática e teoria!
Numa viagem de barco, por exemplo, faz-se jus a um salva-
vidas, objeto que seria inútil num passeio a pé na catedral de Notre
Dame em Paris. Portanto, compreender o tecido conceitual da essência
metodológica, fortalece “a imagem” de uma viagem científica, desde
que justifica a opção do veículo elegido para traçar a rota e chegar ao
destino desejado.

5. FOGO ONÍRICO [Método]

A chama é um dos maiores operadores de imagens.


[Gaston Bachelard]

Uma luva de bronze na coleção pessoal de André Breton


(1999) era o seu encantamento, porque a dureza do bronze frio
conseguia traduzir a delicadeza da mão quente. Não era a forma da
mão e dos dedos retorcidos que fazia a imagem encantada, mas para o
pai do surrealismo, o que trazia a magia do objeto era a sua força de
torção.
É na transformação da matéria que o fogo consegue produzir
as imagens dos sonhos. E muitas vezes, nem é o produto final que
encanta, senão o processo da torção, que muitas vezes surgirá como
tortura, mas que oferece a imagem da essência do estudo. Como
alquimista, o pesquisador sonhador revelará a arte de transformar a
matéria bruta e, como pedra preciosa a ser lapidada, apresentará
delicadamente de que maneira os passos traçaram a trajetória,
perseguindo um sonho como uma metodologia onírica.
Definida a metodologia no capítulo prévio, ou o tipo de
transporte, agora o foco teórico deve acentuar a trajetória esmiuçada
pelo pesquisador. Aqui sim, talvez seja uma parte significativa da
pesquisa – revelando os passos da viagem, os pedágios encontrados, a
paisagem vista e sentida, as árvores e a tessitura vivida, com as
dificuldades e as facilidades do itinerário da viagem. Enfim, uma
cartografia do imaginário em close up! São labaredas dançantes
originadas do sol de Van Gogh, como se todo sonho fosse possível na

558
entrega apaixonada de quem quer mudar a vida pelo ato e pensamento
da pesquisa!
Uma pesquisa científica difere da midiática não pelo tipo de
perguntas, mas exatamente pela intencionalidade delas; e pela maneira
que as respostas serão tratadas à luz das reflexões teóricas que
consubstanciam a pesquisa. Para cada etapa, não basta apenas
descrever a caminhada, mas é preciso submergir a prática e fazer
emergir a teoria. Na superfície da água que fará círculos concêntricos,
enganando-nos se a força é centrífuga ou centrípeta, a imagem
narcísica refletida poderá ser a sensação cansada de um enorme
esvaziamento da busca, que sai do coração às periferias da Terra...
Mas vazará, igualmente, o paradoxo contraditório de ter milhões de
dados que causarão o transbordamento metodológico. Vale respirar
fundo e destacar as principais paragens e passagens da viagem:

 Quais perguntas foram feitas? Por quê? Como? Para cada


pergunta, é preciso um objetivo correspondente. Em outras
palavras: observe CUIDADOSAMENTE a consistência das
perguntas com os objetivos propostos.
 Quem são as pessoas entrevistadas? Quantas? Por que
selecionou estas pessoas? Quais critérios foram utilizados na
escolha?
 Como foram feitos os registros destas entrevistas? Diário de
pesquisa? Filmes? Fotografias? Vídeos? Desenhos? Pinturas?
 Quantas vezes você fez esta viagem? Quais ferramentas
levou? Qual foi a melhor tática de registro? Por quê?
 Quais lembranças te traziam na brisa que te tocava? Quais
receios invadiam a alma no momento que entrevistava?
Lembrou alguma música? Filme? Peça? Imagem? Sentiu a
emoção? Como foi este momento de aprendizagem prática?
 Outras ações, emoções, anotações?

O trabalho não é apenas narrativo, pois é preciso ultrapassar


os problemas de mera descrição, e permitir que a imagem revele a
objetividade e a subjetividade de uma viagem em transe:

559
O geógrafo, ou o etnógrafo podem descrever bem
os tipos mais variados de habitação. Sob esta
variedade, o fenomenólogo faz o esforço para
aprender o germe da felicidade. Encontrar a concha
primordial da casa é a tarefa primeira da
fenomenologia (BACHELARD, 1989, p. 24).

6. AR ESSENCIAL [Discussão]

O devaneio aéreo é um sopro que projeta e amplifica o ser.


[Gaston Bachelard]

De todos os elementos, o ar é o único que toca todos os


demais. Em forma de brisa, vento, tufão ou furacão, dependendo do
talento, os resultados de uma pesquisa poderão ser frágeis, ou até
Cazuzamente exagerados demais. Mas a inteligência em dar o
equilíbrio entre os limites e as potencialidades é uma parte sublime da
pesquisa.
A criação poética é a ação e a reação, o verso e o reverso do
tecido fiado pelo pesquisador. Aqui importa, sobremaneira, se o
roteiro traçado previamente foi cumprido e se o pesquisador chegou
ao seu destino desejado. Considerado o artefato mais nobre da
pesquisa, principalmente pelo olhar da Modernidade, a discussão dos
resultados da longa viagem deve ser enfática para revelar o que foi
aprendido nesta distância percorrida (Figura 4).

Figura 4 - Distância (Fonte: Tarsila do Amaral).

560
Durante a longa viagem, que ouvimos sons, saboreamos frutos,
cheiramos flores ou dormimos à margem de estradas solitárias,
inúmeras aprendizagens foram construídas e um turbilhão de emoções
invadiu as estradas... Quando iniciamos a viagem e fechamos nossas
casas na aventura científica, deixamos a casa em liberdade, pois
partimos nos nossos ich oníricos da madrugada. É hora, agora, de
reabrir a casa... E é possível que ao iche-la, agora do lado de dentro
(BAUMAN, 1998), percamos a liberdade de aprendizagem empírica.
Mas são possíveis outras formas de aprendizagens oníricas: a leitura
de bons livros, consultas na internet ou um bom descanso na própria
cama com o travesseiro de penas de ganso...
Na parede da casa, onde um espelho é posto magistralmente
para cintilar os nossos sonhos, talvez seja o momento de ir além dele e
conseguir enxergar o que a viagem científica conseguiu refletir no
tecido social. Para muito além de uma biografia ecológica e do direito
da janela, a meta agora é considerar o outro, e nesta imensidão do
multiverso poético, saber explicitar os sentidos e significados da
pesquisa no dever da árvore. Das relações superficiais da folha, é
preciso adentrar na profundidade da raiz, e de pele em pele, o “eu da
janela” torna-se consonante com o “nós da árvore”.
A poética criadora é diametralmente oposta da poética
reprodutora e, por isso, não basta meramente transcrever trechos de
longas entrevistas, mas é essencial realizar um enorme exercício de
aliar prática e teoria na produção de conhecimentos. De fato, é a parte
mais difícil da pesquisa, pois à imagem exposta, interpretações e
fecundos diálogos epistemológicos devem entrar em cena. A banca
examinadora será a crítica literária que cumprirá seu interessante papel
de levantar a lebre e, por vezes, até deixar o trabalho de ponta cabeça.
Citando Frobenius, Bachelard comentava que “uma obra não nasce
somente de um ponto de vista, mas de um jogo de forças” (1998, p.
392). Por isso, a escolha de bons nomes que compreenderão a viagem
científica realizada, trazendo bons argumentos que possam contribuir
na pintura desta imagem, também faz parte da inteligência poética que
a pesquisa necessita.
Da capacidade argumentativa e da força textual dependerá o
bom desenho que revela o resultado de uma pesquisa com discussões
apimentadas. É preciso sublinhar que uma pesquisa não é uma
561
‘massagem no ego’ e, portanto, a honestidade em explicitar os erros
constitui-se a necessária ética do pesquisador. Entre os incursos e
sobrevoos, a tática necessária na interpretação da viagem é ponderar
com todos os prós e contras. A pós-modernidade é residual e ao invés
de aniquilar totalmente a modernidade, apropria-se de suas estratégias
para que novas táticas possam ser construídas. Manter o rigor das
ciências parece ser a essência desta etapa, mas isso não implica em
deixar de aliá-la ao devaneio poético que sustenta as miríades de
sonhos da viagem que chegou ao fim. Afinal, o alvorecer da janela
anuncia uma próxima viagem de incompletude existencial refletida na
árvore...

7. AR ESPELHO [considerações finais]

O espelho duplica todas as coisas: o mundo e o sonhador dos mundos.


[Gaston Bachelard]

Boas doses de Stuart Hall (1997) podem indicar que a pesquisa


realizada esteve na dependência das identidades híbridas de uma não
neutralidade. Não há, com efeito, nenhuma identidade herdada ou
nata, pois toda identidade é construída. Neste espelho identidário,
onde muitas vezes os argumentos podem se tornar frágeis para
sustentar no ombro o mundo de Atlas, é preciso boas doses de magia
para revelar a grandeza da pesquisa. Para o fenomenólogo do
imaginário, a alquimia é a transmudação do micro e do macrocosmo,
onde um se mira e se reflete no outro, como se fosse um espelho em
duplo. “O alquimista projeta com densidade o que criou”
(BACHELARD, 2005, p.13).
É a hora que revela um produto que chega diretamente da
alma, na força centrífuga que se abre para o mundo cintilando nossa
contribuição científica sobre os sentidos polissêmicos das viagens.
Mas também é o momento de absorver a crítica e trazer os reflexos
dos espelhos numa viagem centrípeta de nós mesmos. É a hora da
ponderação sobre as dualidades aqui expostas: do direito da janela ao
dever da árvore; e do sair de casa para viagens de liberdade e do cerrar
os trincos pelo lado de dentro no aprisionamento da aprendizagem. Do
compreender o quanto uma viagem científica é significativa e muda a
562
nós mesmos, até da contribuição dela ao mundo social e científico.
Em cada paisagem vista, há desenhos e memórias de efeito “duplo”.
Em outras palavras, quero parafrasear o surrealista Arthur Rimbauld, e
ironizar que é preciso inverter cenários e acreditar que NÃO é
somente nós que conseguimos olhar a paisagem, pois talvez ela
contenha pedras... “e as pedras olham”.
Fenomenologicamente, não há nenhum trabalho conclusivo.
De fato, em se tratando das descobertas científicas, somos seres
inacabados, mas num registro da pesquisa [dissertação, tese, artigo ou
texto científico] precisamos dar um ‘fechamento’. Para além de uma
conclusão, o horizonte ainda se projeta lá na frente, numa espiral de
possibilidades.
Após tantos anos da revolução quântica, em 1900, este
fenômeno ainda suscita diversos debates na arena contemporânea,
convidando-nos às novas investigações (TEGMARK; WHEELER,
2001). O mesmo fenômeno ocorre na educação ambiental, que
provoca os sentidos para que novas investigações científicas se
entrelacem. Uma recomendação, uma orientação, uma ponderação, ou
ainda uma lição aprendida no finalizar desta viagem demarca um
pouso sereno de uma ave noturna, como se do ic fluísse novos
planos para o dia seguinte. De agasalhar as memórias e revivê-las na
imaginação, e de permitir que a imensidão do horizonte nos provoca
para tantas outras viagens e sonhos! Para aceitar este convite, todavia,
será necessário ponderar a recente aprendizagem, equilibrando os prós
e os contras de uma pesquisa poética que nem parece querer ser
finalizada... “O eixo da estratégia da vida pós-moderna não é fazer a
identidade deter-se, mas evitar que se fixe” (BAUMAN, 1998, p.
114).
É imperativo que ao invés de somente maravilhar-se com os
bons resultados, saibamos também ironizar. Das lições aprendidas,
novas perspectivas serão necessárias, pois os elementos não são
imóveis e exigem a interiorização da potência do multiverso, bem
como a expansão de nossos universos particulares. Afinal, o ser uno é
múltiplo! Isso posto, será preciso compreender a extensão de nossa
contribuição, entre os limites e as potencialidades de nossos erros e
acertos. É preciso explicitar, assim, a grande virtude que só uma

563
pesquisa do imaginário pode nos trazer – a capacidade de transformar
a nós mesmos!

III. SEM FECHAR AS CORTINAS – Somos seres inacadados

As ciências Modernas foram pautadas em movimentos bem


diferentes do exposto até o momento. Para tentar compreender o
mundo, postularam métodos, leis, paradigmas, modelos e doutrinas
que deveriam ser comprovados e generalizados em todas as situações.
Com a comprovação por testes e experimentos, o conhecimento era
validado como científico e replicado em todas as demais, na
universalização do conhecimento.
Dedução ou indução eram práticas que subsidiavam e ainda
continuam muito presentes no mundo das chamadas ciências naturais.
“Introdução, objetivos, metodologia, resultados e discussão” é um
modelo criado pela Modernidade que orienta não somente as ciências
naturais, mas as pesquisas no mundo acadêmico até os dias atuais.
As ciências humanas herdaram este modelo e “replicam”
genericamente instituindo um paradigma científico da normalidade
Kuhniana. Por meio da resolução de um problema, a meta da pesquisa
é investigar o fenômeno pelas hipóteses e predição. Definindo o
objeto e os objetivos subjacentes, definem que tipo de testes ou
experimentos são adequados ao campo metodológico. De seus
resultados, novos modelos são propostos ou até refutados, gerando
novas pesquisas científicas.
Consagrado como o período das grandes revoluções, é
inegável que o século XX apresentou inovações maravilhosas, tanto
na cura ou tratamento de doenças, como na ida à Lua, ou do
conhecimento das mentes humanas. Há, entretanto, algumas pessoas
que buscam conhecer as coisas sem situar o problema, já que estão
cientes de que nem toda ciência resolve todos os problemas. Isto não é
uma afirmação que desobriga as responsabilidades, mas é apenas uma
constatação, já que nunca se viu tamanho progresso científico em
contramão à miséria social do mundo.
É ainda o século XX que nos proporcionou a guinada
comunicacional, instalando a Internet e a rede mundial [www – world
wide web], e na visibilidade e exposição do mundo, obrigou-nos a
564
reconhecer as enormes mudanças na sociedade humana, instalando um
nível de incertezas sem precedentes. O pool de informações gera
pressa, habilidades e, essencialmente, acesso ao mundo globalizado; e
não raro, o clamor para se acompanhar o mundo é o chavão que seduz
desde as grandes cooperações empresariais até alguns textos da
educação a distância. No paradoxo da ruptura, este texto inicia com as
frases que denunciam exatamente o contrário: é um convite para sair
da caverna das sombras, para engajar-se em lutas coletivas fora da
caverna, à luz de um dos sentidos mais nobres do Homo sapiens – o
intelecto! Ele não é mais, ou menos importante que os sentimentos. A
racionalidade inteligente não aniquila seus parceiros, acolhe-os,
intensificando seu próprio sentido.
Mas a fragmentação do saber e a postura hegemônica instituída
pela Modernidade começam a ser questionadas e diversos pensadores
apontam alguns caminhos alternativos para se pensar e fazer ciências.
No efeito globalizante que padroniza todos retirando as diferenças,
Homi Bhabha (2007) clama pelo nosso “direito à narrativa (92)”,
sublinhando a ética e a estética como não desperdício de vivências em
mundos pós-coloniais. A poesia parece resistir ao efeito dominador, já
que de um universo muito singular, provoca para que a urgência da
teoria consiga lutar contra a hegemonia instituída pela modernidade, a
favor de várias táticas instituintes, possivelmente consideradas como
“pós-modernas”. Parece ser uma obrigação, assim, tentar reinventar
alguns novos caminhos que fujam do modelo imposto ao alvorecer de
novas auroras científicas.
Não há receitas para se fazer pesquisa, do contrário, não seria
pesquisa, pois pesquisar é descobrir, olhar diferente, registrar, anotar,
observar, extrapolar, propor, SONHAR! Esta cartografia do
imaginário não é algo estruturalmente proposto, imutável ou fixo que
não possa ser modificado, transmudado ou adequado conforme os
sonhos de cada qual. É apenas uma sugestão de itinerário que já não
mais suporta a hegemonia instituída da Modernidade, mas ao invés de

(92)
Homi Bhabha publicou 2 livros: “Nação e narração” [livro ainda sem a tradução
ao português] e o “local da cultura”, publicado pela Universidade Federal de
Minas Gerais. O seu terceiro livro “right to narrate” [direito de narrar] ainda não
foi publicado, mas já anunciado.
565
somente criticá-la, reinventa o momento investigativo. Haverá, por
certo, vários caminhos instituintes que conduzam a pesquisa. Da
capacidade de arguir, estudar, observar e escrever dependerá o talento
da pesquisa – uma viagem como um andarilho, que sabe saborear os
orvalhos da manhã, no caminhar a pé pela relva, mas que também
sobrevoa como passarinho, olhando a mata de um planeta que nos
convida a pensar sobre seu futuro. Para todos, diria Chico. Com todos,
complementaria Magritte.

Uma pesquisa em Educação Ambiental deve ter


ecos, além mares, ares, terras e fogos. Tem que ser
intensa em seus contrastes de formas,
representações, volumes e composições. Só assim
poderemos encontrar um plano dinâmico sob uma
nova essência do conhecimento. Um conhecimento
enraizado em sonhos, que permaneça no impulso
criativo e crítico das diversas formas de existência
e que, sobremaneira, consiga novas formas de
ultrapassagens às violências vivenciadas pela nossa
era. A busca deste desejo nos revela que não somos
somente testemunhas da civilização e barbárie. A
Educação Ambiental deve ter o compromisso de
permitir sermos protagonistas para alcançar a
utopia – apaixonadamente e sempre! (SATO, 2001,
p. 34).

Dentre tantos meios de transporte, é bem provável que


ninguém escolha uma viagem num Caracol... Arrastando-se em sua
gosma, parando nos dias de chuva, é plausível supor que a
temporalidade de um Caracol esteja comprometida, além das
possibilidades dele se apaixonar por alguma pedra, em algum jardim
de Eros. Entretanto, e tanto, ele será capaz de levar todos os livros, já
que carrega a casa com sua estante! Vagaroso, saberá cheirar a flor
com perfume, pisando nos estrumes. Descobrirá o orvalho e ouvirá o
som dos ventos, assoprando nas esculturas da natureza, como se
fossem instrumentos musicais.
Leva-se um tempo, de fato, para fazer mudanças... E não é
sempre que elas são aceitas de imediato, gerando mais refutações do
566
que concordâncias. Alguns afirmarão que isso nem é ciência,
desprezando propostas de quem tem coragem de sonhar com alguma
viagem científica junto com um Caracol! Mas com uma boa dose de
inspiração, ele saberá cumprir sua persistência do tempo, deixando um
excelente registro de sua aventura científica, seja lá que título tenha,
será uma bela pesquisa! Provocando a força hegemônica do texto
como expressão da pesquisa da Modernidade, ele talvez utilize outras
linguagens instituintes, já que uma boa imagética, música ou texturas
podem também expressar conhecimento.
É preciso recuperar a noção surrealista em se desenhar um
Caracol Manoelito e ainda escrever o contrário: “isso não é um
Caracol” (Figura 5). Será, afinal um Caracol, como meus olhos
percebem? Mas está escrito o contrário... Uma linguagem
contrariando a outra convida a fatal pergunta: quem fala a verdade?
Haverá uma única verdade? Talvez, assim, seja possível pensar que as
ciências pós-modernas conseguem se expressar por várias linguagens
e por cartografias que imaginam outras verdades. É possível que o
texto ainda se constitua como centro do intelecto, mas no jogo da
diversidade, a periferia também tem muito a expressar... No meu
direito à narrativa, novas formas de se fazer ciência são possíveis: a
poesia vive! E a Educação Ambiental também!

Figura 5 - Isto não é um Caracol. (Fonte: Michele Sato).

567
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