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BORDIEU E AS CENAS MUSICAIS: LIMITES E BARREIRAS

KELLY ALESSANDRA PEREIRA DE ARAÚJO HOLLAND

CAMPO GRANDE

2023
BORDIEU E AS CENAS MUSICAIS: LIMITES E BARREIRAS

Comentário para a matéria Sociologia da


Música - Licenciatura da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul, pelo
Prof. Dr. Edison Verbinsck.

CAMPO GRANDE

2023

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O texto levanta a questão da autonomia dos campos culturais, baseando-se no
trabalho de Bourdieu, que mostra como as escolhas diárias, incluindo as relacionadas à
música, são influenciadas por regras que operam à revelia. No entanto, o autor destaca
as diferenças entre os campos tradicionais estudados por Bourdieu e as cenas musicais
contemporâneas, enfatizando a necessidade de cautela ao aplicar esses conceitos.
Ao introduzir a noção de cena como um espaço cultural onde diferentes práticas
musicais coexistem, interagem e se diferenciam, o autor busca uma abordagem que lida
com a fluidez dos códigos e fronteiras na paisagem musical contemporânea sem aderir
completamente à perspectiva pós-subcultural. A noção de cena é apresentada como uma
ferramenta relevante para analisar os dilemas compartilhados, como as festas
significativas, os pioneiros, os recém-chegados e os artistas autênticos, revelando as
complexidades e lutas presentes nesse cenário.
Bourdieu apresentou a sociologia do gosto que não rejeita a apreciação estética,
mas, em vez disso, busca revelar como a fruição estética aparentemente desinteressada
é, na verdade, um terreno fértil para divisões e barreiras sociais. O autor destaca a
natureza política dessa análise, onde o gosto está relacionado à classificação e
valoração, sendo uma ferramenta por meio da qual os indivíduos posicionam a si
mesmos e aos outros no espaço social.
A discussão sobre juízos de valor destaca a inconsciência com a qual buscamos a
fixação de uma verdade ao expressar nossas opiniões. O texto argumenta que, nesse
processo, age um poder simbólico invisível que todos exercem e sofrem, construindo
uma percepção da realidade que conforma as pessoas à situação vigente, tornando-a
encarada como a ordem natural das coisas.
A ideia central é que os juízos de valor cotidianos, expressos nos gostos
pessoais, contribuem para a construção social do mundo. Há um destaque para a
importância de uma sociologia da percepção do mundo social, que analise a construção
de visões de mundo e contribua para a compreensão das estruturas sociais.
No entanto, o autor aponta que o instrumental de Bourdieu pode ser aplicado
sem grandes problemas ao acompanhar fóruns de discussão e comunidades virtuais,
onde atores se esforçam em tecer hierarquias de valor para o que escutam. Essas
expressões de ponto de vista, aparentemente simples, são consideradas atos de violência

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simbólica, revelando a constante busca por distinção e imposição social de paradigmas
de gosto.
A sociedade é apresentada como um espaço onde as relações de poder
distanciam indivíduos e grupos, sendo o conceito de campo fundamental para
compreender como a realidade se estrutura a partir de relações desiguais de poder.
A escola é um exemplo crucial de instituições na formação de diferentes habitus.
Observa-se a dificuldade em afirmar que cenas musicais constituem um habitus
específico, devido à variabilidade no comprometimento dos indivíduos. O texto ressalta
a influência das instituições na transmissão e incorporação de padrões de gosto e
conduta nas cenas musicais.
Parte do público leigo está imune às disputas simbólicas presentes nessas cenas,
observando que muitos frequentadores flutuam nesses espaços sem se engajar nas
disputas. Introduz o conceito de capital social, enfatizando sua relação com o capital
cultural e como a falta de reconhecimento social, prejudicando a obtenção e manutenção
desse capital.
Argumenta que o prestígio dos recém-chegados é prejudicado pela ausência de
credenciais dentro do grupo, e que o capital social é frágil, sendo facilmente perdido ao
se engajar em práticas não legitimadas pelo grupo. Conclui ressaltando que o poder e a
influência das regras de uma cena musical não afetam todos os indivíduos de maneira
igual, sendo determinados pelo grau de engajamento nas disputas simbólicas.
Este artigo propõe uma abordagem que encoraja a aplicação dos conceitos do
sociólogo a objetos que operam de maneira diferente, buscando contornar a rigidez de
algumas noções sem comprometer completamente seu sentido original. Ao resgatar o
trabalho de Thornton, o objetivo é avaliar em que medida certas ideias de Bourdieu, que
não foram completamente exploradas em seu trabalho, podem ser úteis, e como as
interpretações de Thornton, embora estimulantes, podem apresentar lacunas em alguns
aspectos.

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