Psicólogas e Psicólogos têm uma função estratégica na análise crítica da
realidade, no sentido de fomentar o debate sobre o reconhecimento e defesa do papel da
assistência social e das políticas sociais na garantia dos direitos e melhoria da qualidade de vida; isso sem superestimar suas possibilidades e potencialidades no enfrentamento das desigualdades sociais, gestadas e acimentadas nas determinações macroeconômicas que impedem a criação de emprego, redistribuição de renda e ampliação de direitos. Nessa perspectiva, a postura profissional responsável e ética pressupõe a escuta, o compartilhamento de saberes, o respeito e possibilita o debate teórico-metodológico com vistas à garantia de direitos (CFP, 2021). A escuta qualificada busca apreender as dimensões envolvidas nesse processo, tanto materiais, culturais como psicológicas e relacionais, para definir, de acordo com as necessidades, demandas e participação ativa das(os) usuárias(os), uma abordagem para a questão apresentada. Deve ser pautada nos princípios do diálogo, da participação e da autonomia das famílias. As posturas assistencialistas e tutelares que culpabilizam e intimidam as famílias devem ser totalmente afastadas. Deve-se procurar compreender as relações entre as vulnerabilidades e as condições de vida, respeitando a capacidade dos sujeitos de se perceberem, refletirem sobre suas questões e tomarem decisões para o seu enfrentamento (BRASIL, MDS, 2012). Muitas vezes, junto às necessidades de ordem material, agregam-se demandas diferenciadas, nem sempre nítidas em um primeiro momento, mas que precisam ser abordadas visando não apenas à resolução de uma dada vulnerabilidade, mas ao desenvolvimento das potencialidades. A Entrevista pode ser utilizada como um procedimento para registrar informações sobre o indivíduo/família e a dinâmica de suas relações, mas é também a continuidade da acolhida, na qual se pode oferecer informações acerca de direitos e iniciar a construção de vínculos entre a família e o serviço. A Psicologia dispõe de referências teóricas e metodológicas para o uso desse procedimento, mas deve também buscar adequá-las aos objetivos da PSB. Já o Estudo Social é uma análise tecnicamente qualificada sobre a família, determinante para explicitar a necessidade de inserção da família no atendimento ou no acompanhamento familiar. Os profissionais devem, em conjunto com as famílias, enumerar as suas situações de vulnerabilidade social, buscando compreender suas origens e consequências; identificar as potencialidades e recursos das famílias; identificar/reconhecer as características e especificidades do território que influenciam e/ou determinam tais situações de vulnerabilidade. A Psicologia tem uma longa tradição de trabalhos com grupos, em suas diversas abordagens, incluindo grupos comunitários e ligados a trabalhos sociais. São diversas as teorias e metodologias propostas para se compreender, no campo da Psicologia, os vínculos grupais, as interações, os processos de comunicação, cooperação, afetividade, pertencimento e operatividade. Diversos estudos interligaram grupos e comunidades, grupos e processos de intervenção e transformação social (MACHADO, 2001; MACHADO, 2010; GONZÁLEZ-REY, 2009; MARTÍN-BARÓ, 2014). Assim, a Psicologia muito teria a contribuir para o trabalho com oficinas com famílias, nas suas diferentes modalidades, pois o que faz um grupo não é apenas a sua designação, nem a somatória dos indivíduos que o compõem, mas os seus objetivos, relações e processos A Psicologia mostra que pode dialogar não apenas sobre processos individuais, mas também grupais e comunitários. O trabalho com comunidades, na Psicologia, muitas vezes também utilizou processos de pesquisa-ação, intervenção psicossocial, ou outras formas de trabalho para o enfrentamento de crises e a promoção de processos de transformação.
REFERÊNCIAS
BRASIL Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional
de Assistência Social. Orientações Técnicas sobre o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família - PAIF. Diário Oficial da União. Brasília, 2012.
CFP, Conselho Federal de Psicologia. REFERÊNCIAS TÉCNICAS PARA
ATUAÇÃO DE PSICÓLOGAS(OS) NO CRAS/SUAS. Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas, 3ª edição, Brasília, 2021. Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2021/12/rt_crepop_cras_2021.pdf. Acesso em: 31 out. 2023.
GONZÁLEZ REY, Fernando. A questão das técnicas e os métodos na psicologia: da
mediação à construção do conhecimento 201 Conselho Federal de Psicologia psicológico. In: BOCK, Ana Mercês BAHIA (org.). Psicologia e compromisso social. 2. ed. rev. São Paulo: Cortez, 2009.
MATA-MACHADO, Marília Novaes da et al.(orgs.). Psicossociologia: análise social e
intervenção. Belo Horizonte: Ed. Autêntica, 2001. MATA-MACHADO, Marília Novaes da. Intervenção psicossociológica, método clínico, de pesquisa e de construção teórica. Pesquisas e Práticas Psicossociais. v. 5, n. 2, São João del-Rei, agosto/dezembro 2010.
Nação tarja preta: O que há por trás da conduta dos médicos, da dependência dos pacientes e da atuação da indústria farmacêutica (leia também Nação dopamina)