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CADERNO DE LEI SECA

SEMANA 03 EXTRA
DIREITOS HUMANOS
RETA FINAL
DELEGADO SÃO PAULO

Sumário
SEGUNDA-FEIRA ........................................................................................................................................ 5
Leitura do Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei – Artigos 1º a 8º 5
Leitura do Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas Contra o Crime Organizado Transnacional
Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças –
Artigos 1º a 9° ............................................................................................................................................... 9
QUARTA-FEIRA ........................................................................................................................................ 18
Leitura da Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e formas Correlatas de
Intolerância – Artigos 1º a 3º ..................................................................................................................... 18
Leitura da Declaração Universal dos Direitos Humanos– Artigos 1º a 14.................................................. 25
SEXTA-FEIRA ........................................................................................................................................... 30
Leitura dos Princípios de Yogyakarta – Princípios 1º a 10 .......................................................................... 30
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DELEGADO SÃO PAULO

SEGUNDA-FEIRA

Leitura do Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei – Artigos 1º
a 8º

Adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, no dia 17 de dezembro de 1979, através da
Resolução nº 34/169.

Importante! Apesar de se tratar de uma Resolução da ONU, não se trata de uma Convenção
ou um Tratado de Direitos Humanos.

Artigo 1º
Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem sempre cumprir o dever que a lei lhes
impõe, servindo a comunidade e protegendo todas as pessoas contra atos ilegais, em conformidade
com o elevado grau de responsabilidade que a sua profissão requer.

O termo "funcionários responsáveis pela aplicação


da lei" inclui todos os agentes da lei, quer
nomeados, quer eleitos, que exerçam poderes policiais, especialmente poderes de detenção
ou prisão. Nos países onde os poderes policiais são exercidos por autoridades militares, quer
em uniforme, quer não, ou por forças de segurança do Estado, será entendido que a definição
dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei incluirá os funcionários de tais serviços.

Artigo 2º
No cumprimento do dever, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem respeitar e
proteger a dignidade humana, manter e apoiar os direitos humanos de todas as pessoas.

Dignidade da pessoa humana como vetor axiológico de todas as ações.

Artigo 3º
Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei só podem empregar a força quando estritamente
necessária e na medida exigida para o cumprimento do seu dever.

O emprego da força por parte dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei deve ser
excepcional. Embora se admita que estes funcionários, de acordo com as circunstâncias,
possam empregar uma força razoável, de nenhuma maneira ela poderá ser utilizada de forma
desproporcional ao legítimo objetivo a ser atingido. O emprego de armas de fogo é

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considerado uma medida extrema; devem-se fazer todos os esforços no sentido de restringir
seu uso, especialmente contra crianças. Em geral, armas de fogo só deveriam ser utilizadas
quando um suspeito oferece resistência armada ou, de algum outro modo, põe em risco vidas
alheias e medidas menos drásticas são insuficientes para dominá-lo. Toda vez que uma arma
de fogo for disparada, deve-se fazer imediatamente um relatório às autoridades
competentes.

Artigo 4º
Os assuntos de natureza confidencial em poder dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei
devem ser mantidos confidenciais, a não ser que o cumprimento do dever ou necessidade de justiça
estritamente exijam outro comportamento.

➢ Regra Geral: ➢ Exceção:


. Confidencialidade dos assuntos de natureza . Se o cumprimento do dever ou a
confidencial. necessidade de justiça estritamente exijam
outro comportamento.

Artigo 5º
Nenhum funcionário responsável pela aplicação da lei pode infligir, instigar ou tolerar qualquer ato
de tortura ou qualquer outro tratamento ou pena cruel, desumano ou degradante, nem nenhum
destes funcionários pode invocar ordens superiores ou circunstâncias excepcionais, tais como o
estado de guerra ou uma ameaça de guerra, ameaça à segurança nacional, instabilidade política
interna ou qualquer outra emergência pública, como justificativa para torturas ou outros tratamentos
ou penas cruéis, desumanos ou degradantes.

A Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou


Degradantes define tortura como: "...qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos,
físicos ou mentais são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de
uma terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou uma terceira
pessoa tenha cometido ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa
ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer natureza;
quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por um funcionário público ou outra pessoa
no exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou
aquiescência. Não se considerará como tortura as dores ou sofrimentos que sejam
consequência unicamente de sanções legítimas, ou que sejam inerentes a tais sanções ou dela
decorram."

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Ademais, de acordo com a doutrina contemporânea, o direito de não ser torturado é uma
exceção à limitabilidade dos direitos humanos, pois é por ela considerado um direito
absoluto.

Artigo 6º
Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem garantir a proteção da saúde de todas as
pessoas sob sua guarda e, em especial, devem adotar medidas imediatas para assegurar-lhes
cuidados médicos, sempre que necessário.

O Código faz
menção expressa ao direito à saúde das pessoas sob a guarda dos funcionários
responsáveis pela aplicação da lei.

Artigo 7º
Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem cometer quaisquer atos de corrupção.
Também devem opor-se vigorosamente e combater todos estes atos.

Qualquer ato de corrupção, tal como qualquer outro abuso de autoridade, é incompatível
com a profissão dos funcionários responsáveis
pela aplicação da lei. A lei deve ser aplicada
com rigor a qualquer funcionário que cometa um ato de corrupção. Os governos não podem
esperar que os cidadãos respeitem as leis se estas também não foram aplicadas contra os
próprios agentes do Estado e dentro dos seus próprios organismos.

Artigo 8º
Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem respeitar a lei e este Código. Devem,
também, na medida das suas possibilidades, evitar e opor-se com rigor a quaisquer violações da lei e
deste Código. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei que tiverem motivos para acreditar
que houve ou que está para haver uma violação deste Código, devem comunicar o fato aos seus
superiores e, se necessário, a outras autoridades competentes ou órgãos com poderes de revisão e
reparação.

As disposições contidas neste Código serão observadas sempre que tenham sido incorporadas
à legislação nacional ou à sua prática; caso a legislação ou a prática contiverem disposições
mais limitativas do que as deste Código, devem observar-se essas disposições mais limitativas.
Subentende-se que os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem sofrer
sanções administrativas ou de qualquer outra natureza pelo fato de terem comunicado que
houve, ou que está prestes a haver, uma violação deste Código; como em alguns países os
meios de comunicação social desempenham o papel de examinar denúncias, os funcionários

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responsáveis pela aplicação da lei podem levar ao conhecimento da opinião pública, através
dos referidos meios, como último recurso, as violações a este Código. Os funcionários
responsáveis pela aplicação da lei que cumpram as disposições deste Código merecem o
respeito, o total apoio e a colaboração da sociedade, do organismo de aplicação da lei no qual
servem e da comunidade policial.

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Leitura do Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas Contra o Crime Organizado
Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial
Mulheres e Crianças – Artigos 1º a 9°

PREÂMBULO

Os Estados Partes deste Protocolo,


Declarando que uma ação eficaz para prevenir e combater o tráfico de pessoas, em especial mulheres
e crianças, exige por parte dos países de origem, de trânsito e de destino uma abordagem global e
internacional, que inclua medidas destinadas a prevenir esse tráfico, punir os traficantes e proteger
as vítimas desse tráfico, designadamente protegendo os seus direitos fundamentais,
internacionalmente reconhecidos,
Tendo em conta que, apesar da existência de uma variedade de instrumentos internacionais que
contêm normas e medidas práticas para combater a exploração de pessoas, especialmente mulheres
e crianças, não existe nenhum instrumento universal que trate de todos os aspectos relativos ao
tráfico de pessoas,

Inexiste um instrumento universal que trate


de todos os aspectos relativos ao tráfico de
pessoas, sendo que o presente Tratado diz respeito à proteção apenas de mulheres e crianças
(que são pessoas consideradas vulneráveis).

Preocupados com o fato de na ausência desse instrumento, as pessoas vulneráveis ao tráfico não
estarem suficientemente protegidas,
Recordando a Resolução 53/111 da Assembleia Geral, de 9 de Dezembro de 1998, na qual a Assembleia
decidiu criar um comitê intergovernamental especial, de composição aberta, para elaborar uma
convenção internacional global contra o crime organizado transnacional e examinar a possibilidade de
elaborar, designadamente, um instrumento internacional de luta contra o tráfico de mulheres e de
crianças.
Convencidos de que para prevenir e combater esse tipo de criminalidade será útil completar a
Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional com um instrumento
internacional destinado a prevenir, reprimir e punir o tráfico de pessoas, em especial mulheres e
crianças,
Acordaram o seguinte:

I. Disposições Gerais
Artigo 1°
Relação com a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional

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1. O presente Protocolo completa a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado
Transnacional e será interpretado em conjunto com a Convenção.

Esse documento trata-se de um Protocolo da Convenção das Nações Unidas contra o Crime
Organizado, também conhecida como Convenção de Palermo, tendo esta sido promulgada
pelo Brasil através do Decreto n° 5.015, de 12 de março de 2004.

2. As disposições da Convenção aplicar-se-ão mutatis mutandis ao presente Protocolo, salvo se no


mesmo se dispuser o contrário.
3. As infrações estabelecidas em conformidade com o Artigo 5° do presente Protocolo serão
consideradas como infrações estabelecidas em conformidade com a Convenção.

Artigo 2°
Objetivo
Os objetivos do presente Protocolo são os seguintes:
a) Prevenir e combater o tráfico de pessoas, prestando uma atenção especial às mulheres e às
crianças;
b) Proteger e ajudar as vítimas desse tráfico, respeitando plenamente os seus direitos humanos; e
c) Promover a cooperação entre os Estados Partes de forma a atingir esses objetivos.

Enquanto a Convenção de Palermo tem como objetivo combater o crime organizado


transnacional, conceituando como "Grupo criminoso organizado" - grupo estruturado de três
ou mais pessoas, existente há algum tempo e atuando concertadamente com o propósito de
cometer uma ou mais infrações graves ou enunciadas na presente Convenção, com a intenção
de obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício material,
abarcando, portanto, infrações graves em geral, o presente Protocolo tem 3 objetivos bem
definidos:
• Prevenir e combater o tráfico de pessoas, prestando uma atenção especial às
mulheres e às crianças;
• Proteger e ajudar as vítimas desse tráfico; e
• Promover a cooperação entre os Estados Partes.

Artigo 3°
Definições

Para efeitos do presente Protocolo:

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Definições muito importantes para Provas Objetivas.

a) A expressão "tráfico de pessoas" significa o recrutamento, o transporte, a transferência, o


alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou a outras formas
de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade
ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa
que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração. A exploração incluirá, no mínimo, a
exploração da prostituição de outrem ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços
forçados, escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos;

➢ Tráfico de pessoas:
✓ Ações:
• Recrutamento,
• Transporte,
• Transferência,
• Alojamento, ou
• Acolhimento de pessoas.
✓ Meios:
• Ameaça ou uso da força ou a outras formas de coação,
• Rapto,
• Fraude,
• Engano,
• Abuso de autoridade, ou
• Situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou
benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade
sobre outra para fins de exploração.

➢ Exploração, no mínimo (ou seja, pode ser um ou mais):


• Exploração da prostituição de outrem ou outras formas de exploração sexual,
• Trabalho ou serviços forçados,
• Escravatura ou práticas similares à escravatura,
• Servidão, ou
• Remoção de órgãos.

b) O consentimento dado pela vítima de tráfico de pessoas tendo em vista qualquer tipo de
exploração descrito na alínea a) do presente Artigo será considerado irrelevante se tiver sido
utilizado qualquer um dos meios referidos na alínea a);

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Não se descaracteriza o tráfico de pessoas mesmo se tiver o consentimento da vítima, tendo


sido utilizados os meios da alínea a).

c) O recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de uma criança para


fins de exploração serão considerados "tráfico de pessoas" mesmo que não envolvam nenhum dos
meios referidos da alínea a) do presente Artigo;

Nos casos de recrutamento, transporte, transferência, alojamento ou acolhimento de criança


para fins de tráfico de pessoas, não é necessário que tenham sido utilizados os meios previstos
na alínea a). Ademais, o seu consentimento sempre será irrelevante.

d) O termo "criança" significa qualquer pessoa com idade inferior a dezoito anos.

Pegadinha de prova! Não confundir.


➢ Para fins do Protocolo:
• Criança -> Menor de 18 anos.
➢ Direito Brasileiro (ECA):
• Criança -> Menor de 12 anos.
• Adolescente -> Entre 12 e 18 anos.

Artigo 4°
Âmbito de aplicação
O presente Protocolo aplicar-se-á, salvo disposição em contrário, à prevenção, investigação e
repressão das infrações estabelecidas em conformidade com o Artigo 5° do presente Protocolo,
quando essas infrações forem de natureza transnacional e envolverem grupo criminoso organizad
o,
bem como à proteção das vítimas dessas infrações.

Via de regra, o Estado Parte deverá aplicar à prevenção, investigação e repressão das
infrações de tráfico de pessoas, quando forem praticadas intencionalmente, por meio de
tentativa, em participação, se organizar a sua prática ou dar instruções que outras pratiquem,
quando essas infrações forem de natureza transnacional e envolverem grupo criminoso
organizado, bem como à proteção das vítimas dessas infrações.
Entretanto, pode o Estado não aderir a essa regra, tanto quanto da ratificação do Protocolo
quanto posteriormente, de acordo com o que preconiza o próprio artigo em “salvo disposição
em contrário”.

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Artigo 5°
Criminalização
1. Cada Estado Parte adotará as medidas legislativas e outras que considere necessárias de forma a
estabelecer como infrações penais os atos descritos no Artigo 3° do presente Protocolo, quando
tenham sido praticados intencionalmente.

Para que sejam consideradas infrações penais, os atos devem ter sido praticados com dolo,
ou seja, intencionalmente.

2. Cada Estado Parte adotará igualmente as medidas legislativas e outras que considere necessárias
para estabelecer como infrações penais:
a) Sem prejuízo dos conceitos fundamentais do seu sistema jurídico, a tentativa de cometer uma
infração estabelecida em conformidade com o parágrafo 1° do presente Artigo;

O Estado Parte deve criminalizar a tentativa de cometimento da infração.

b) A participação como cúmplice numa infração estabelecida em conformidade com o parágrafo 1°


do presente Artigo; e

O Estado Parte deve criminalizar a participação como cúmplice da infração.

c) Organizar a prática de uma infração estabelecida em conformidade com o parágrafo 1° do presente


Artigo ou dar instruções a outras pessoas para que a pratiquem.

O Estado Parte deve criminalizar:


• Aquele que organiza a prática da infração; e
• Aquele que dá instruções a outras pessoas para que a pratiquem.

II. Proteção de vítimas de tráfico de pessoas


Artigo 6°
Assistência e proteção às vítimas de tráfico de pessoas
1. Nos casos em que se considere apropriado e na medida em que seja permitido pelo seu direito
interno, cada Estado Parte protegerá a privacidade e a identidade das vítimas de tráfico de pessoas,
incluindo, entre outras (ou inter alia), a confidencialidade dos procedimentos judiciais relativos a esse
tráfico.

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Se compatível com o direito interno, o Estado parte deverá proteger a privacidade e a


identidade das vítimas, além de tornarem sigilosos os respectivos procedimentos judiciais.

2. Cada Estado Parte assegurará que o seu sistema jurídico ou administrativo contenha medidas que
forneçam às vítimas de tráfico de pessoas, quando necessário:
a) Informação sobre procedimentos judiciais e administrativos aplicáveis;
b) Assistência para permitir que as suas opiniões e preocupações sejam apresentadas e tomadas em
conta em fases adequadas do processo penal instaurado contra os autores das infrações, sem prejuízo
dos direitos da defesa.
3. Cada Estado Parte terá em consideração a aplicação de medidas que permitam a recuperação
física, psicológica e social das vítimas de tráfico de pessoas
, incluindo, se for caso disso, em
cooperação com organizações não-governamentais, outras organizações competentes e outros
elementos de sociedade civil e, em especial, o fornecimento de:

A recuperação da vítima não será papel exclusivo do Estado-Parte, pois poderá haver
cooperação com outras organizações não governamentais.

a) Alojamento adequado;
b) Aconselhamento e informação, especialmente quanto aos direitos que a lei lhes reconhece, numa
língua que compreendam;
c) Assistência médica, psicológica e material; e
d) Oportunidades de emprego, educação e formação.
4. Cada Estado Parte terá em conta, ao aplicar as disposições do presente Artigo, a idade, o sexo e as
necessidades específicas das vítimas de tráfico de pessoas, designadamente as necessidades
específicas das crianças, incluindo o alojamento, a educação e cuidados adequados.

Trata-se da aplicação da igualdade material, tendo em vista a hipervulnerabilidade das


vítimas, especialmente das crianças.

5. Cada Estado Parte envidará esforços para garantir a segurança física das vítimas de tráfico de
pessoas enquanto estas se encontrarem no seu território.

Cada Estado parte garantirá a segurança física das vítimas que se encontrem em seu território,
sejam elas nacionais ou não.

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6. Cada Estado Parte assegurará que o seu sistema jurídico contenha medidas que ofereçam às
vítimas de tráfico de pessoas a possibilidade de obterem indenização pelos danos sofridos.

Um dos três objetivos do presente Protocolo é “Proteger e ajudar as vítimas desse tráfico”.
Nessa toada, a possibilidade de se obter indenização pelos danos sofridos é um dos meios de
ajudar as vítimas do tráfico de pessoas.

Artigo 7°
Estatuto das vítimas de tráfico de pessoas nos Estados de acolhimento
1. Além de adotar as medidas em conformidade com o Artigo 6° do presente Protocolo, cada Estado
Parte considerará a possibilidade de adotar medidas legislativas ou outras medidas adequadas que
permitam às vítimas de tráfico de pessoas permanecerem no seu território a título temporário ou
permanente, se for caso disso.

A possibilidade de permanecimento da vítima de tráfico de pessoas no território do Estado


Parte poderá, também, ser a título permanente, não somente a título temporário.

2. Ao executar o disposto no parágrafo 1° do presente Artigo, cada


Estado Parte terá devidamente em
conta fatores humanitários e pessoais.

O Estado Parte deverá considerar as condições pessoais das vítimas, vulneráveis, pois cada
uma é dotada de uma realidade fática e de necessidades específicas.

Artigo 8
Repatriamento das vítimas de tráfico de pessoas

1. O Estado Parte do qual a vítima de tráfico de pessoas é nacional ou no qual a pessoa tinha direito
de residência permanente, no momento de entrada no território do Estado Parte de acolhimento,
facilitará e aceitará, sem demora indevida ou injustificada, o regresso dessa pessoa, tendo
devidamente em conta a segurança da mesma.

O Estado Parte em que a vítima seja nacional ou tenha residência permanente deve facilitar
o seu regresso do Estado Parte de acolhimento, levando-se sempre em consideração a
segurança da vítima.

2. Quando um Estado Parte retornar uma vítima de tráfico de pessoas a um Estado Parte do qual essa
pessoa seja nacional ou no qual tinha direito de residência permanente no momento de entrada no

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território do Estado Parte de acolhimento, esse regresso levará devidamente em conta a segurança da
pessoa bem como a situação de qualquer processo judicial relacionado ao fato de tal pessoa ser uma
vítima de tráfico, preferencialmente de forma voluntária.

O regresso da vítima nacional ou com residência permanente ao seu Estado, advinda do


Estado Parte de acolhimento, deve ser preferencialmente de forma voluntária, ou seja,
respeitando-se a vontade da vítima. Entretanto, não é vedado o regresso forçado dessa vítima
(ou seja, de forma não voluntária).

3. A pedido do Estado Parte de acolhimento, um Estado Parte requerido verificará, sem demora
indevida ou injustificada, se uma vítima de tráfico de pessoas é sua nacional ou se tinha direito de
residência permanente no seu território no momento de entrada no território do Estado Parte de
acolhimento.
4. De formafacilitar
a o regresso de uma vítima de tráfico de pessoas que não possua os documentos
devidos, o Estado Parte do qual essa pessoa é nacional ou no qual tinha direito de residência
permanente no momento de entrada no território do Estado Parte de acolhimento aceitará emitir, a
pedido do Estado Parte de acolhimento, os documentos de viagem ou outro tipo de autorização
necessária que permita à pessoa viajar e ser readmitida no seu território
.

Em caso de a vítima não possuir os documentos devidos para o regresso ao Estado Parte do
qual seja nacional ou tinha residência permanente, este deverá emitir, a pedido do Estado
Parte de acolhimento, não da vítima de tráfico, os documentos necessários para a viagem de
regresso.

5. O presente Artigo não prejudica os direitos reconhecidos às vítimas de tráfico de pessoas por força
de qualquer disposição do direito interno do Estado Parte de acolhimento.

Os Estados Partes podem ampliar os direitos às vítimas do tráfico de pessoas em relação ao


Protocolo.

6. O presente Artigo não prejudica qualquer acordo ou compromisso bilateral ou multilateral


aplicável que regule, no todo ou em parte, o regresso de vítimas de tráfico de pessoas.

O regresso da vítima não deve ocorrer necessariamente com base nesse Protocolo. Pode
também se dar em casos de acordo bilateral ou multilateral entre os Estados, tudo isso para
ampliar os direitos das vítimas de tráfico de pessoas.

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DELEGADO SÃO PAULO

III. Prevenção, cooperação e outras medidas


Artigo 9°
Prevenção do tráfico de pessoas
1. Os Estados Partes estabelecerão políticas abrangentes, programas e outras medidas para:
a) Prevenir e combater o tráfico de pessoas; e
b) Proteger as vítimas de tráfico de pessoas, especialmente as mulheres e as crianças, de nova
vitimação.
2. Os Estados Partes envidarão esforços para tomarem medidas tais como pesquisas, campanhas de
informação e de difusão através dos órgãos de comunicação, bem como iniciativas sociais e
econômicas de forma a prevenir e combater o tráfico de pessoas.
3. As políticas, programas e outras medidas estabelecidas em conformidade com o presente Artigo
incluirão, se necessário, a cooperação com organizações não-governamentais, outras organizações
relevantes e outros elementos da sociedade civil.

Participação da sociedade civil na elaboração das políticas a serem implementadas pelos


Estados Partes na prevenção do tráfico de pessoas.

4. Os Estados Partes tomarão ou reforçarão as medidas, inclusive mediante a cooperação bilateral ou


multilateral, para reduzir os fatores como a pobreza, o subdesenvolvimento e a desigualdade de
oportunidades que tornam as pessoas, especialmente as mulheres e as crianças, vulneráveis ao
tráfico.

Os Estados Partes poderão tomar ou reforçar as medidas de forma solo ou em cooperação


bilateral ou multilateral com os demais Estados Partes para diminuir os fatores que tornam
as vítimas vulneráveis.

5. Os Estados Partes adotarão ou reforçarão as medidas legislativas ou outras, tais como medidas
educacionais, sociais ou culturais, inclusive mediante a cooperação bilateral ou multilateral, a fim de
desencorajar a procura que fomenta todo o tipo de exploração de pessoas, especialmente de
mulheres e crianças, conducentes ao tráfico.

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DELEGADO SÃO PAULO

QUARTA-FEIRA

Leitura da Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e formas Correlatas


de Intolerância – Artigos 1º a 3º

Promulga a Convenção Interamericana contra o


Racismo, a Discriminação Racial e Formas
Correlatas de Intolerância, firmado pela
República Federativa do Brasil, na Guatemala,
em 5 de junho de 2013
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, caput, inciso IV,
da Constituição, e
Considerando que a República Federativa do Brasil firmou a Convenção Interamericana contra
o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de Intolerância, na Guatemala, em 5 de junho
de 2013;
Considerando que o Congresso Nacional aprovou a Convenção, por meio do Decreto
Legislativo nº 1, de 18 de fevereiro de 2021, conforme o procedimento de que trata o § 3º do art. 5º
da Constituição

A presente Convenção foi aprovada conforme o procedimento de que trata o § 3º do art. 5º


da Constituição e, portanto, é a Convenção mais recente que recebeu o status de emenda
constitucional no ordenamento jurídico brasileiro.

Considerando que o Governo brasileiro depositou, junto à Secretaria-Geral da Organização dos


Estados Americanos, em 28 de maio de 2021, o instrumento de ratificação à Convenção e que esta
entrou em vigor para a República Federativa do Brasil, no plano jurídico externo, em 27 de junho de
2021;

DECRETA:

Art. 1º Fica promulgada a Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial


e Formas Correlatas de Intolerância, firmada na 43ª Sessão Ordinária da Assembleia Geral da
Organização dos Estados Americanos, na Guatemala, em 5 de junho de 2013, anexa a este Decreto.

Trata-se da primeira Convenção do Sistema Interamericano de Direitos Humanos que possui


status de emenda constitucional.

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RETA FINAL

DELEGADO SÃO PAULO

Art. 2º São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional atos que possam resultar em revisão da
Convenção e ajustes complementares que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao
patrimônio nacional, nos termos do inciso I do caput do art. 49 da Constituição.
Art. 3º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 10 de janeiro de 2022; 201º da Independência e 134º da República.
JAIR MESSIAS BOLSONARO
Carlos Alberto Franco França

CONVENÇÃO INTERAMERICANA CONTRA O RACISMO, A DISCRIMINAÇÃO RACIAL E FORMAS


CORRELATAS DE INTOLERÂNCIA

OS ESTADOS PARTES NESTA CONVENÇÃO,


CONSIDERANDO que a dignidade inerente e a igualdade de todos os membros da família
humana são princípios básicos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da Declaração
Americana dos Direitos e Deveres do Homem, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos e da
Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial;
REAFIRMANDO o firme compromisso dos Estados membros da Organização dos Estados
Americanos com a erradicação total e incondicional do racismo, da discriminação racial e de todas
as formas de intolerância, e sua convicção de que essas atitudes discriminatórias representam a
negação dos valores universais e dos direitos inalienáveis e invioláveis da pessoa humana
e dos
propósitos e princípios consagrados na Carta da Organização dos Estados Americanos, na Declaração
Americana dos Direitos e Deveres do Homem, na Convenção Americana sobre Direitos Humanos, na
Carta Social das Américas, na Carta Democrática Interamericana, na Declaração Universal dos Direitos
Humanos, na Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial
e na Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos;
RECONHECENDO o dever de se adotarem medidas nacionais e regionais para promover e
incentivar o respeito e a observância dos direitos humanos e das liberdades fundamentais de todos
os indivíduos e grupos sujeitos a sua jurisdição, sem distinção de raça, cor, ascendência ou origem
nacional ou étnica;
CONVENCIDOS de que os princípios da igualdade e da não discriminação entre os seres
humanos são conceitos democráticos dinâmicos que propiciam a promoção da igualdade jurídica
efetiva e pressupõem uma obrigação por parte do Estado de adotar medidas especiais para proteger
os direitos de indivíduos ou grupos que sejam vítimas da discriminação racial em qualquer esfera de
atividade, seja pública ou privada, com vistas a promover condições equitativas para a igualdade de
oportunidades, bem como combater a discriminação racial em todas as suas manifestações
individuais, estruturais e institucionais;

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RETA FINAL

DELEGADO SÃO PAULO

Já em seu Preâmbulo, a Convenção prevê a adoção de medidas afirmativas para a promoção


de condições equitativas para a igualdade de oportunidades.

CONSCIENTES de que o fenômeno do racismo demonstra uma capacidade dinâmica de


renovação que lhe permite assumir novas formas pelas quais se dissemina e se expressa política,
social, cultural e linguisticamente;

Existem várias espécies do gênero racismo, que podem se alargando ou se modificando de


acordo com o contexto histórico e social.

LEVANDO EM CONTA que as vítimas do racismo, da discriminação racial e de outras formas


correlatas de intolerância nas Américas são, entre outras, afrodescendentes, povos indígenas, bem
como outros grupos e minorias raciais e étnicas ou grupos que por sua ascendência ou origem
nacional ou étnica são afetados por essas manifestações;

Tratando-se de uma Convenção do Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos


Humanos, afirma que as principais vítimas são (mas não se resumindo a elas):
. Afrodescententes;
. Povos indígenas;
. Grupos ou minorias raciais e étnicas;
. Grupos que por sua ascendência ou origem nacional ou étnica são afetados por essas
manifestações.

CONVENCIDOS de que determinadas pessoas e grupos vivenciam formas múltiplas ou


extremas de racismo, discriminação e intolerância, motivadas por uma combinação de fatores como
raça, cor, ascendência, origem nacional ou étnica, ou outros reconhecidos em instrumentos
internacionais;

Pessoas que sofrem racismo são consideradas como um grupo vulnerável. Havendo formas
múltiplas ou extremas de racismo, discriminação e intolerância combinadas com outros
fatores também vulnerantes, tal grupo de pessoas tornam-se hipervulneráveis.

LEVANDO EM CONTA que uma sociedade pluralista e democrática deve respeitar a raça, cor,
ascendência e origem nacional ou étnica de toda pessoa, pertencente ou não a uma minoria, bem
como criar condições adequadas que lhe possibilitem expressar, preservar e desenvolver sua
identidade;

20
RETA FINAL

DELEGADO SÃO PAULO

CONSIDERANDO que a experiência individual e coletiva de discriminação deve ser levada em


conta para combater a exclusão e a marginalização com base em raça, grupo étnico ou nacionalidade
e para proteger o projeto de vida de indivíduos e comunidades em risco de exclusão e marginalização;
ALARMADOS com o aumento dos crimes de ódio motivados por raça, cor, ascendência e origem
nacional ou étnica;
RESSALTANDO o papel fundamental da educação na promoção do respeito aos direitos
humanos, da igualdade, da não discriminação e da tolerância; e
TENDO PRESENTE que, embora o combate ao racismo e à discriminação racial tenha sido
priorizado em um instrumento internacional anterior, a Convenção Internacional sobre a Eliminação
de Todas as Formas de Discriminação Racial, de 1965, os direitos nela consagrados devem ser
reafirmados, desenvolvidos, aperfeiçoados e protegidos, a fim de que se consolide nas Américas o
conteúdo democrático dos princípios da igualdade jurídica e da não discriminação,
ACORDAM o seguinte:
CAPÍTULO I
DEFINIÇÕES

O ponto mais importante da presente Convenção diz respeito às definições trazidas em seu
art. 1°, tendo em vista a facilidade de troca de conceitos em provas objetivas.

Artigo 1°
Para os efeitos desta Convenção:
1. Discriminação racial é qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência, em qualquer
área da vida pública ou privada, cujo propósito ou efeito seja anular ou restringir o reconhecimento,
gozo ou exercício, em condições de igualdade, de um ou mais direitos humanos e liberdades
fundamentais consagrados nos instrumentos internacionais aplicáveis aos Estados Partes. A
discriminação racial pode basear-se em raça, cor, ascendência ou origem nacional ou étnica.

Esquematizando o conceito de Discriminação Racial


• Ação: qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência.
• Área: qualquer área da vida pública ou privada.
• Propósito: anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em condições
de igualdade, de um ou mais direitos humanos e liberdades fundamentais
consagrados nos instrumentos internacionais aplicáveis aos Estados Partes.
• Pode ter como base: raça, cor, ascendência ou origem nacional ou étnica.

2. Discriminação racial indireta é aquela que ocorre, em qualquer esfera da vida pública ou
privada, quando um dispositivo, prática ou critério aparentemente neutro tem a capacidade de

21
RETA FINAL

DELEGADO SÃO PAULO

acarretar uma desvantagem particular para pessoas pertencentes a um grupo específico, com base
nas razões estabelecidas no Artigo 1.1, ou as coloca em desvantagem, a menos que esse dispositivo,
prática ou critério tenha um objetivo ou justificativa razoável e legítima à luz do Direito Internacional
dos Direitos Humanos.

Esquematizando o conceito de Discriminação Racial Indireta


• Ação: quando um dispositivo, prática ou critério aparentemente neutro tem a
capacidade de acarretar uma desvantagem particular para pessoas pertencentes a
um grupo específico.
• Área: qualquer esfera da vida pública ou privada.
• Propósito: anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em condições
de igualdade, de um ou mais direitos humanos e liberdades fundamentais
consagrados nos instrumentos internacionais aplicáveis aos Estados Partes.
• Exceção: a menos que esse dispositivo, prática ou critério tenha um objetivo ou
justificativa razoável e legítima à luz do Direito Internacional dos Direitos Humanos.

3. Discriminação múltipla ou agravada é qualquer preferência, distinção, exclusão ou restrição


baseada, de modo concomitante, em dois ou mais critérios dispostos no Artigo 1.1, ou outros
reconhecidos em instrumentos internacionais, cujo objetivo ou resultado seja anular ou restringir o
reconhecimento, gozo ou exercício, em condições de igualdade, de um ou mais direitos humanos e
liberdades fundamentais consagrados nos instrumentos internacionais aplicáveis aos Estados
Partes, em qualquer área da vida pública ou privada.

Esquematizando o conceito de Discriminação Múltipla ou Agravada


• Ação: qualquer preferência, distinção, exclusão ou restrição baseada, de modo
concomitante, em dois ou mais critérios de raça, cor, ascendência ou origem nacional
ou étnica, ou outros reconhecidos em instrumentos internacionais.
• Área: qualquer esfera da vida pública ou privada.
• Propósito: objetivo ou resultado seja anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou
exercício, em condições de igualdade, de um ou mais direitos humanos e liberdades
fundamentais consagrados nos instrumentos internacionais aplicáveis aos Estados
Partes.

4. Racismo consiste em qualquer teoria, doutrina, ideologia ou conjunto de ideias que


enunciam um vínculo causal entre as características fenotípicas ou genotípicas de indivíduos ou
grupos e seus traços intelectuais, culturais e de personalidade, inclusive o falso conceito de
superioridade racial. O racismo ocasiona desigualdades raciais e a noção de que as relações

22
RETA FINAL

DELEGADO SÃO PAULO

discriminatórias entre grupos são moral e cientificamente justificadas. Toda teoria, doutrina, ideologia
e conjunto de ideias racistas descritas neste Artigo são cientificamente falsas, moralmente
censuráveis, socialmente injustas e contrárias aos princípios fundamentais do Direito Internacional e,
portanto, perturbam gravemen
te a paz e a segurança internacional, sendo, dessa maneira,
condenadas pelos Estados Partes.

Esquematizando o conceito de Racismo


• Ação: adoção de qualquer teoria, doutrina, ideologia ou conjunto de ideias que
enunciam um vínculo causal entre as características fenotípicas ou genotípicas de
indivíduos ou grupos e seus traços intelectuais, culturais e de personalidade, inclusive
o falso conceito de superioridade racial.
• Ocasiona: desigualdades raciais e a noção de que as relações discriminatórias entre
grupos são moral e cientificamente justificadas.
• Conclusão: toda teoria, doutrina, ideologia e conjunto de ideias racistas descritas
neste Artigo são cientificamente falsas, moralmente censuráveis, socialmente
injustas e contrárias aos princípios fundamentais do Direito Internacional e, portanto,
perturbam gravemente a paz e a segurança internacional, sendo, dessa maneira,
condenadas pelos Estados Partes.

5. As medidas especiais ou de ação afirmativa adotadas com a finalidade de assegurar o gozo


ou exercício, em condições de igualdade, de um ou mais direitos humanos e liberdades
fundamentais de grupos que requeiram essa proteção não constituirão discriminação racial, desde
que essas medidas não levem à manutenção de direitos separados para grupos diferentes e não se
perpetuem uma vez alcançados seus objetivos.

Esquematizando o conceito de Medidas Especiais ou de Ação Afirmativa


• Finalidade: assegurar o gozo ou exercício, em condições de igualdade, de um ou mais
direitos humanos e liberdades fundamentais de grupos que requeiram essa proteção
não constituirão discriminação racial.
• Exceção: desde que essas medidas não levem à manutenção de direitos separados
para grupos diferentes e não se perpetuem uma vez alcançados seus objetivos.

6. Intolerância é um ato ou conjunto de atos ou manifestações que denotam desrespeito,


rejeição ou desprezo à dignidade, características, convicções ou opiniões de pessoas por serem
diferentes ou contrárias. Pode manifestar-se como a marginalização e a exclusão de grupos em
condições de vulnerabilidade da participação em qualquer esfera da vida pública ou privada ou como
violência contra esses grupos.

23
RETA FINAL

DELEGADO SÃO PAULO

Esquematizando o conceito de Intolerância


• Ação: ato ou conjunto de atos ou manifestações que denotam desrespeito, rejeição
ou desprezo à dignidade, características, convicções ou opiniões de pessoas por
serem diferentes ou contrárias.
• Manifestação: como a marginalização e a exclusão de grupos em condições de
vulnerabilidade da participação em qualquer esfera da vida pública ou privada ou
como violência contra esses grupos.

CAPÍTULO II
DIREITOS PROTEGIDOS
Artigo 2°
Todo ser humano é igual perante a lei e tem direito à igual proteção contra o racismo, a
discriminação racial e formas correlatas de intolerância, em qualquer esfera da vida pública ou
privada.
Direito à não discriminação racial e formas correlatas de intolerância na esfera pública ou
privada.

Artigo 3°
Todo ser humano tem direito ao reconhecimento, gozo, exercício e proteção, em condições de
igualdade, tanto no plano individual como no coletivo, de todos os direitos humanos e liberdades
fundamentais consagrados na legislação interna e nos instrumentos internacionais aplicáveis aos
Estados Partes.

Atenção 1: O direito pode ser exercido tanto no plano individual quanto no coletivo.
Atenção 2: Os direitos e liberdades fundamentas, que devem ser respeitados, podem estar
consagrados na legislação interna ou nos instrumentos internacionais.
Parece repetitivo fazer essas observações, mas são esses pontos que pegam os candidatos
nas questões objetivas.

24
RETA FINAL

DELEGADO SÃO PAULO

Leitura da Declaração Universal dos Direitos Humanos– Artigos 1º a 14

PREÂMBULO

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana


e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo,
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bárbaros
que ultrajaram a consciência da humanidade, e que o advento de um mundo em que todos gozem de
liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi
proclamado como a mais alta aspiração do homem comum,
Considerando ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo império da lei, para que
o ser humano não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra tirania e a opressão,
Considerando ser essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as Nações,
Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta da ONU, sua fé nos direitos
humanos fundamentais, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direitos entre
homens e mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em
uma liberdade mais ampla,
Considerando que os Estados Membros se comprometeram a promover, em cooperação com as
Nações Unidas, o respeito universal aos direitos humanos e liberdades fundamentais, e a observância
desses direitos e liberdades,
Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta importância
para o pleno cumprimento desse compromisso,
A Assembleia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Direitos Humanos como o ideal
comum a ser atingido por todos os povos e todas as Nações, com o objetivo de que cada indivíduo e
cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, esforce-se, através do ensino e
da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas
progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua
observância universal e efetiva, tanto entre os povos dos próprios Estados Membros, quanto entre os
povos dos territórios sob sua jurisdição.

Artigo 1°
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e
consciência, e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.

A DUDH apresenta um rol de direitos civis e políticos entre os arts. 3° ao 21 (direitos de 1ª


dimensão) e um rol de direitos econômicos, sociais e culturais entre os arts. 22 ao 28 (direitos
de direitos de 2ª dimensão).

25
RETA FINAL

DELEGADO SÃO PAULO

Os direitos de fraternidade social (direitos de 3ª dimensão) não se encontram enumerados


na DUDH. Entretanto, faz-se menção a eles no final do seu art. 1°, ao afirmar que todos os
seres humanos devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.

Artigo 2°
1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta
Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião
política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra
condição.
2. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional
do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob
tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania.

Os arts. 2°.1 e 2°.2 apresentam a característica da universalidade dos direitos humanos, no


sentido de que são oponíveis a todos, independentemente de quaisquer condições.

Artigo 3°
Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Os arts. 3° ao 21 apresentam os direitos de 1ª dimensão, ou seja, os direitos civis e políticos.

Artigo 4°
Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão
proibidos em todas as suas formas.

Artigo 5°
Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

De acordo com a doutrina contemporânea, o direito de não ser mantido em escravidão (art.
4°) e o direito de não ser submetido à tortura (art. 5°) são exceções à relativização dos direitos
e, portanto, são considerados direitos absolutos.

Artigo 6°
Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei.

Apresenta a característica da inerência ou essencialidade dos direitos humanos.


A DUDH é o marco da universalidade e inerência dos direitos humanos.

26
RETA FINAL

DELEGADO SÃO PAULO

Artigo 7°
Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos
têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra
qualquer incitamento a tal discriminação.

Todos são iguais perante a lei = Igualdade formal (direito de 1ª dimensão).

Artigo 8°
Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os
atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.

Direito brasileiro – CRFB/88: Garantias constitucionais = Remédios constitucionais.

Artigo 9°
Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Focar no arbitrariamente. Perceba: Se a alternativa fosse “Ninguém será preso, detido ou


exilado.” estaria incorreto. Pegadinha clássica de prova.

Artigo 10
Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma audiência justa e pública por parte de um
tribunal independente e imparcial, para decidir sobre seus direitos e deveres ou do fundamento de
qualquer acusação criminal contra ele.

Pode-se perceber nuances do princípio do juiz natural.

Artigo 11
1. Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que
a sua culpabilidade tenha sido provada, de acordo com a lei em julgamento público, no qual lhe
tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.

Pergunta clássica: O Princípio da presunção de inocência encontra-se expresso na DUDH?


Resposta: Sim, em seu art. 11.1.

27
RETA FINAL

DELEGADO SÃO PAULO

2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam
delito perante o direito nacional ou internacional. Também não será imposta pena mais forte do que
aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.

Pergunta clássica: O Princípio da irretroatividade da lei encontra-se presente na DUDH?


Resposta: Sim, em seu art. 11.2.

Artigo 12
Ninguém será sujeito a interferências em sua vida privada, em sua família, em seu lar ou em sua
correspondência, nem a ataques à sua honra e reputação. Todo ser humano tem direito à proteção da
lei contra tais interferências ou ataques.

Nuances ao direito à intimidade e à vida privada.

Artigo 13
1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada
Estado.

Pegadinha clássica: O direito à liberdade de locomoção e residência devem ser exercidos


somente dentro das fronteiras de cada Estado.
Se a alternativa afirmar “Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência
dentro e fora das fronteiras de cada Estado.” ou “Todo ser humano tem direito à liberdade
de locomoção e residência independente das fronteiras de cada Estado.” está incorreto.

2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar.

Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio. Entretanto,
somente terá o direito de regressar ao próprio país.
Pegadinha clássica: “Todo ser humano tem o direito de deixar e regressar a qualquer país,
inclusive o próprio.”. Incorreto.

Deixar o país Regressar ao país


. Qualquer país. . Somente ao próprio.
. Inclusive o próprio.

Artigo 14
1. Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países.

28
RETA FINAL

DELEGADO SÃO PAULO

2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes
de direito comum ou por atos contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas.

O direito de asilo não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada.
Pegadinha clássica: “Este direito pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente
motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos objetivos e princípios das
Nações Unidas.”. A alternativa estaria incorreta.

29
RETA FINAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEXTA-FEIRA

Leitura dos Princípios de Yogyakarta – Princípios 1º a 10

PREÂMBULO
Lembrando que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos, que cada
pessoa tem o direito de desfrutar os direitos humanos sem distinção de qualquer tipo, tal como raça,
cor, sexo, língua, religião, opinião política ou outra opinião, origem nacional ou social, propriedade,
nascimento ou outro status;

Direito à igualdade e à não discriminação.

Preocupados com a violência, assédio, discriminação, exclusão, estigmatização e preconceito


dirigidos contra pessoas em todas as partes do mundo por causa de sua orientação sexual ou
identidade de gênero, com que essas experiências sejam agravadas por discriminação que inclui
gênero, raça, religião, necessidades especiais, situação de saúde e status econômico, e com que essa
violência, assédio, discriminação, exclusão, estigmatização e preconceito solapem a integridade
daquelas pessoas sujeitas a esses abusos, podendo enfraquecer seu senso de autoestima e de
pertencimento à comunidade, e levando muitas dessas pessoas a reprimirem sua identidade e terem
vidas marcadas pelo medo e invisibilidade;

O grupo de pessoas LGBTQIAPN+ é considerado um grupo vulnerável, ou seja, são pessoas que por
orientação sexual ou identidade de gênero encontram-se mais suscetíveis às violações de seus
direitos.
Quando cumuladas com outras situações, como de saúde e status econômicos, pode-se considerá-
lo um grupo hipervulnerável.

Conscientes de que historicamente pessoas experimentaram essas violações de direitos humanos


porque são ou são percebidas como lésbicas, gays ou bissexuais, ou em razão de seu comportamento
sexual consensual com pessoas do mesmo sexo, ou porque são percebidas como transexuais,
transgêneros, intersexuais, ou porque pertencem a grupos sexuais identificados em determinadas
sociedades pela sua orientação sexual ou identidade de gênero;

O grupo de pessoas LGBTQIAPN+ historicamente são vítimas de discriminação estrutural,


estigmatização e diversas formas de violência e de violação aos seus direitos fundamentais,
encontrando-se particularmente expostos ao risco de violência física, psicológica e sexual no
âmbito familiar e comunitário.

30
RETA FINAL

DELEGADO SÃO PAULO

Compreendendo “orientação sexual” como estando referida à capacidade de cada pessoa de


experimentar uma profunda atração emocional, afetiva ou sexual por indivíduos de gênero
diferente, do mesmo gênero ou de mais de um gênero, assim como de ter relações íntimas e sexuais
com essas pessoas;

Orientação sexual: Definição muito importante.


A orientação sexual diz respeito a uma atração sexual, afetiva ou emocional em relação a terceiros.
Exemplos: heterossexuais, homossexuais, pansexuais.

Entendendo “identidade de gênero” como estando referida à experiência interna, individual e


profundamente sentida que cada pessoa tem em relação ao gênero, que pode, ou não, corresponder
ao sexo atribuído no nascimento, incluindo-se aí o sentimento pessoal do corpo (que pode envolver,
por livre escolha, modificação da aparência ou função corporal por meios médicos, cirúrgicos ou
outros) e outras expressões de gênero, inclusive o modo de vestir-se, o modo de falar e maneirismos;

Identidade de gênero: Definição muito importante.


Não confundir orientação sexual com identidade de gênero.
A identidade de gênero diz respeito a uma experiência interna do indivíduo, como ele se vê, se
percebe e se sente em relação a determinado gênero. Exemplos: cisgêneros, transgêneros, não-
binários.

Grupo LGBTQIAPN+:
• L: Lésbicas – Orientação sexual.
• G: Gays – Orientação sexual.
• B: Bissexuais – Orientação sexual.
• T: Transexuais – Identidade de gênero.
• Q: Queers – Identidade de gênero.
• I: Interssexuais – Identidade de gênero.
• A: Assexuais – Orientação sexual.
• P: Pansexuais – Orientação sexual.
• N: Não-binários – Identidade de gênero.
• +: Não se trata de um rol taxativo. Engloba toda e qualquer forma de orientação sexual e
de identidade de gênero.

Observando que a legislação internacional de direitos humanos afirma que toda pessoa, não
importando sua orientação sexual ou identidade de gênero, tem o direito de desfrutar plenamente
de todos os direitos humanos, que a aplicação das prerrogativas existentes de direitos humanos deve

31
RETA FINAL

DELEGADO SÃO PAULO

levar em conta as situações específicas e as experiências de pessoas de orientações sexuais e


identidades de gênero diversas, e que a consideração primordial em todas as ações relativas às
crianças será a primazia dos interesses dessas crianças, e que uma criança capaz de formar opiniões
pessoais tem o direito de expressá-las livremente e a essas opiniões deve ser atribuído o devido peso,
de acordo com sua idade e maturidade;
Notando que a legislação internacional de direitos humanos impõe uma proibição absoluta à
discriminação relacionada ao gozo pleno de todos os direitos humanos, civis, culturais, econômicos,
políticos e sociais, que o respeito pelos direitos sexuais, orientação sexual e identidade de gênero é
parte essencial da igualdade entre homem e mulher, e que os Estados devem adotar medidas que
busquem eliminar preconceitos e costumes baseados na ideia de inferioridade ou superioridade de
um determinado sexo, ou baseados em papeis estereotipados de homens e mulheres, e notando,
ainda mais, que a comunidade internacional reconheceu o direito de as pessoas decidirem livre e
responsavelmente sobre questões relacionadas à sua sexualidade, inclusive sua saúde sexual e
reprodutiva, sem que estejam submetidas à coerção, discriminação ou violência;

Possibilidade de adoção de medidas afirmativas.

Reconhecendo que há um valor significativo em articular de forma sistemática a legislação


internacional de direitos humanos como sendo aplicável à vida e à experiência de pessoas de
orientações sexuais e identidades de gênero diversas;
Reconhecendo que esta articulação deve basear-se no atual estado da legislação internacional de
direitos humanos e que vai exigir revisões regulares para incorporar desenvolvimentos desta lei e sua
aplicação à vida e à experiência de pessoas de orientações sexuais e identidades de gênero diversas,
ao longo do tempo e em diversas regiões e países.
Adota-se os seguintes Princípios:

Até o presente momento, não há um tratado internacional de direitos humanos que trate sobre os
direitos das pessoas LGBTQIAPN+, aplicando-se a estes grupos as normativas gerais – CADH, PIDCP,
PIDESC – que trazem obrigações gerais dos Estados de não discriminação.
Portanto, os princípios têm caráter de soft law (não vinculante, tratando-se de meras
recomendações, até que um Tratado específico seja criado e seja vinculante), servindo como um
vetor de interpretação dos direitos humanos para lidar com os conflitos envolvendo direitos das
pessoas LGBTQIAPN+.

PRINCÍPIO 1°
DIREITO AO GOZO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

32
RETA FINAL

DELEGADO SÃO PAULO

Foram extraídos direitos civis, políticos, econômicos e sociais e realizado um recorte dos Tratados
de Direitos Humanos para os direitos de orientação sexual e identidade de gênero.

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Os seres humanos de todas
as orientações sexuais e identidades de gênero têm o direito de desfrutar plenamente de todos os
direitos humanos.

Característica da inerência dos direitos humanos e princípio da igualdade (não discriminação).

Os Estados deverão:
a) Incorporar os princípios da universalidade, inter-relacionalidade, interdependência e
indivisibilidade de todos os direitos humanos nas suas constituições nacionais ou em outras
legislações apropriadas, e assegurar o gozo universal de todos os direitos humanos;
b) Emendar qualquer legislação, inclusive a criminal, para garantir sua coerência com o gozo
universal de todos os direitos humanos;
c) Implementar programas de educação e conscientização para promover e aprimorar o gozo pleno
de todos os direitos humanos por todas as pessoas, não importando sua orientação sexual ou
identidade de gênero;
d) Integrar às políticas de Estado e ao processo decisório uma abordagem pluralista que reconheça
e afirme a inter-relacionalidade e a indivisibilidade de todos os aspectos da identidade humana,
inclusive aqueles relativos à orientação sexual e identidade de gênero.

PRINCÍPIO 2°
DIREITO À IGUALDADE E À NÃO DISCRIMINAÇÃO

Todas as pessoas têm o direito de desfrutar de todos os direitos humanos livres de discriminação
por sua orientação sexual ou identidade de gênero. Todos e todas têm direito à igualdade perante a
lei e à proteção da lei sem qualquer discriminação, seja ou não também afetado o gozo de outro direito
humano. A lei deve proibir quaisquer dessas discriminações e garantir a todas as pessoas proteção
igual e eficaz contra qualquer uma dessas discriminações.
A discriminação com base na orientação sexual ou identidade gênero inclui qualquer distinção,
exclusão, restrição ou preferência baseada na orientação sexual ou identidade de gênero que tenha
o objetivo ou efeito de anular ou prejudicar a igualdade perante à lei ou proteção igual da lei, ou o
reconhecimento, gozo ou exercício, em base igualitária, de todos os direitos humanos e das
liberdades fundamentais. A discriminação baseada na orientação sexual ou identidade de gênero
pode ser, e comumente é, agravada por discriminação decorrente de outras circunstâncias, inclusive
aquelas relacionadas ao gênero, raça, idade, religião, necessidades especiais, situação de saúde e
status econômico.
33
RETA FINAL

DELEGADO SÃO PAULO

A discriminação com base na orientação sexual ou identidade de gênero que comumente é agravada
por discriminação decorrente de outras circunstâncias torna o membro do grupo LGBTQIAPN+
hipervulnerável.

Os Estados deverão:
a) Incorporar os princípios de igualdade e não discriminação por motivo de orientação sexual e
identidade de gênero nas suas constituições nacionais e em outras legislações apropriadas, se ainda
não tiverem sido incorporados, inclusive por meio de emendas e interpretações, assegurando-se a
aplicação eficaz desses princípios;
b) Revogar dispositivos criminais e outros dispositivos jurídicos que proíbam, ou sejam empregados
na prática para proibir, a atividade sexual consensual entre pessoas do mesmo sexo que já atingiram
a idade do consentimento, assegurando que a mesma idade do consentimento se aplique à atividade
sexual entre pessoas do mesmo sexo e pessoas de sexos diferentes;
c) Adotar legislação adequada e outras medidas para proibir e eliminar a discriminação nas esferas
pública e privada por motivo de orientação sexual e identidade de gênero;
d) Tomar as medidas adequadas para assegurar o desenvolvimento das pessoas de orientações
sexuais e identidades de gênero diversas, para garantir que esses grupos ou indivíduos desfrutem
ou exerçam igualmente seus direitos humanos. Estas medidas não podem ser consideradas como
discriminatórias;

Possibilidade de adoção de ações afirmativas pelos Estados.

e) Em todas as respostas à discriminação na base da orientação sexual ou identidade de gênero deve-


se considerar a maneira pela qual essa discriminação tem interseções com outras formas de
discriminação;
f) Implementar todas as ações apropriadas, inclusive programas de educação e treinamento, com a
perspectiva de eliminar atitudes ou comportamentos preconceituosos ou discriminatórios
relacionados à ideia de inferioridade ou superioridade de qualquer orientação sexual, identidade de
gênero ou expressão de gênero.

PRINCÍPIO 3°
DIREITO AO RECONHECIMENTO PERANTE A LEI

Toda pessoa tem o direito de ser reconhecida, em qualquer lugar, como pessoa perante a lei. As
pessoas de orientações sexuais e identidades de gênero diversas devem gozar de capacidade jurídica
em todos os aspectos da vida. A orientação sexual e identidade de gênero autodefinidas por cada
pessoa constituem parte essencial de sua personalidade e um dos aspectos mais básicos de sua
34
RETA FINAL

DELEGADO SÃO PAULO

autodeterminação, dignidade e liberdade. Nenhuma pessoa deverá ser forçada a se submeter a


procedimentos médicos, inclusive cirurgia de mudança de sexo, esterilização ou terapia hormonal,
como requisito para o reconhecimento legal de sua identidade de gênero. Nenhum status, como
casamento ou status parental, pode ser invocado para evitar o reconhecimento legal da identidade de
gênero de uma pessoa. Nenhuma pessoa deve ser submetida a pressões para esconder, reprimir ou
negar sua orientação sexual ou identidade de gênero.

A orientação sexual e a identidade de gênero pautam-se pela autodefinição/autoidentificação e se


trata de um dos aspectos da dignidade da pessoa humana e da autodeterminação do indivíduo.

Os Estados deverão:
a) Garantir que todas as pessoas tenham capacidade jurídica em assuntos cíveis, sem discriminação
por motivo de orientação sexual ou identidade de gênero, assim como a oportunidade de exercer
esta capacidade, inclusive direitos iguais para celebrar contratos, administrar, ter a posse, adquirir
(inclusive por meio de herança), gerenciar, desfrutar e dispor de propriedade;
b) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e de outros tipos que sejam necessárias para
respeitar plenamente e reconhecer legalmente a identidade de gênero autodefinida por cada
pessoa;
c) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e de outros tipos que sejam necessárias para
que existam procedimentos pelos quais todos os documentos de identidade emitidos pelo Estado
que indiquem o sexo/gênero da pessoa – incluindo certificados de nascimento, passaportes, registros
eleitorais e outros documentos – reflitam a profunda identidade de gênero autodefinida por cada
pessoa.
d) Assegurar que esses procedimentos sejam eficientes, justos e não-discriminatórios e que
respeitem a dignidade e privacidade das pessoas;
e) Garantir que mudanças em documentos de identidade sejam reconhecidas em todas as situações
em que a identificação ou desagregação das pessoas por gênero seja exigida por lei ou por políticas
públicas;

Jurisprudência:
O STF, no RE 670.422 e na ADI 4.275, adotou o entendimento de que a alteração do prenome e do
sexo no registro civil é um direito fundamental do transgênero, exigindo-se, para o seu exercício,
nada além da manifestação de vontade, não sendo necessário cirurgia de transgenitalização.
A partir desse entendimento, o CNJ publicou o Provimento 73/2018 para orientar o procedimento
de alteração do nome e do sexo das pessoas trans diretamente nos cartórios de registro civil. O
fique com o gênero constante
normativo fixou que a pessoa com mais de 18 anos que não se identi

35
RETA FINAL

DELEGADO SÃO PAULO

em seu registro de nascimento, que tenha ou não passado pela cirurgia de redesignação sexual,
pode pedir a mudança extrajudicial.
Entretanto, no ano de 2022, entrou em vigor a Lei n° 14.382 que alterou o art. 56 da Lei de Registros
Públicos para permitir que qualquer pessoa maior de idade (não só os transgêneros), a qualquer
tempo, requeira a mudança do prenome, independentemente de justificativa e de autorização
judicial (porém, somente uma vez) – direito que antes, em regra, só podia ser exercido no prazo de
um ano após a maioridade.

f) Implementar programas focalizados para apoiar socialmente todas as pessoas que vivem uma
situação de transição ou mudança de gênero.

PRINCÍPIO 4°
DIREITO À VIDA

Toda pessoa tem o direito à vida. Ninguém deve ser arbitrariamente privado da vida, inclusive nas
circunstâncias referidas à orientação sexual ou identidade de gênero. A pena de morte não deve ser
imposta a ninguém por atividade sexual consensual entre pessoas que atingiram a idade do
consentimento ou por motivo de orientação sexual ou identidade de gênero.

Além de afirmar que não se pode criminalizar atos decorrentes da orientação sexual ou identidade
de gênero da pessoa, tal documento internacional veda expressamente a pena de morte para tais
casos.

Os Estados deverão:
a) Revogar todas as formas de crimes que tenham como objetivo ou efeito a proibição da a atividade
sexual consensual entre pessoas do mesmo sexo que já atingiram a idade do consentimento e, até
que esses dispositivos sejam revogados, nunca impor a pena de morte a nenhuma pessoa condenada
por esses crimes;
b) Cancelar penas de morte e libertar todas as pessoas que atualmente aguardam execução por
crimes relacionados à atividade sexual consensual entre pessoas que já atingiram a idade do
consentimento;

Deve-se levar em consideração a idade do indivíduo, que deve ter capacidade para dar
consentimento.

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No direito brasileiro, essa idade é de 14 anos, tendo em vista que o Código Penal considera como
crime de estupro de vulnerável ter conjunção carnal ou qualquer ato libidinoso com menor de 14
anos1, independente de seu consentimento:
Súmula 593 STJ: O crime de estupro de vulnerável configura-se com a conjunção carnal ou prática
de ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante o eventual consentimento da vítima para
a prática do ato, experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente.

c) Cessar quaisquer ataques patrocinados pelo Estado ou tolerados pelo Estado contra a vida das
pessoas em razão de sua orientação sexual ou identidade de gênero, e garantir que tais ataques,
realizados por funcionários do governo ou por qualquer indivíduo ou grupo, sejam energicamente
investigados e que, quando forem encontradas provas adequadas, os responsáveis sejam
processados, julgados e devidamente punidos.

PRINCÍPIO 5°
DIREITO À SEGURANÇA PESSOAL

Toda pessoa, independente de sua orientação sexual ou identidade de gênero, tem o direito à
segurança pessoal e proteção do Estado contra a violência ou dano corporal infligido por
funcionários governamentais ou qualquer indivíduo ou grupo.
Os Estados deverão:
a) Tomar todas as medidas policiais e outras medidas necessárias para prevenir e proteger as
pessoas de todas as formas de violência e assédio relacionadas à orientação sexual e identidade de
gênero;
b) Tomar todas as medidas legislativas necessárias para impor penalidades criminais adequadas à
violência, ameaças de violência, incitação à violência e assédio associado por motivo de orientação
sexual ou identidade de gênero de qualquer pessoa ou grupo de pessoas em todas as esferas da vida,
inclusive a familiar;

Jurisprudência: STF permite a criminalização da homofobia e da transfobia (ADO 26):


1. Até que sobrevenha lei emanada do Congresso Nacional destinada a implementar os mandados
de criminalização definidos nos incisos XLI e XLII do art. 5º da Constituição da República, as condutas
homofóbicas e transfóbicas, reais ou supostas, que envolvem aversão odiosa à orientação sexual ou
à identidade de gênero de alguém, por traduzirem expressões de racismo, compreendido este em
sua dimensão social, ajustam-se, por identidade de razão e mediante adequação típica, aos
preceitos primários de incriminação definidos na Lei nº 7.716, de 08.01.1989, constituindo, também,

1
Art. 217-A, CP.

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na hipótese de homicídio doloso, circunstância que o qualifica, por configurar motivo torpe (Código
Penal, art. 121, § 2º, I, “in fine”);
2. A repressão penal à prática da homotransfobia não alcança nem restringe ou limita o exercício da
liberdade religiosa, qualquer que seja a denominação confessional professada, a cujos fiéis e
ministros (sacerdotes, pastores, rabinos, mulás ou clérigos muçulmanos e líderes ou celebrantes das
religiões afro-brasileiras, entre outros) é assegurado o direito de pregar e de divulgar, livremente,
pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio, o seu pensamento e de externar suas
convicções de acordo com o que se contiver em seus livros e códigos sagrados, bem assim o de
ensinar segundo sua orientação doutrinária e/ou teológica, podendo buscar e conquistar prosélitos
e praticar os atos de culto e respectiva liturgia, independentemente do espaço, público ou privado,
de sua atuação individual ou coletiva, desde que tais manifestações não configurem discurso de ódio,
assim entendidas aquelas exteriorizações que incitem a discriminação, a hostilidade ou a violência
contra pessoas em razão de sua orientação sexual ou de sua identidade de gênero;
3. O conceito de racismo, compreendido em sua dimensão social, projeta-se para além de aspectos
estritamente biológicos ou fenotípicos, pois resulta, enquanto manifestação de poder, de uma
construção de índole histórico-cultural motivada pelo objetivo de justificar a desigualdade e
destinada ao controle ideológico, à dominação política, à subjugação social e à negação da
alteridade, da dignidade e da humanidade daqueles que, por integrarem grupo vulnerável (LGBTI+)
e por não pertencerem ao estamento que detém posição de hegemonia em uma dada estrutura
social, são considerados estranhos e diferentes, degradados à condição de marginais do
ordenamento jurídico, expostos, em consequência de odiosa inferiorização e de perversa
estigmatização, a uma injusta e lesiva situação de exclusão do sistema geral de proteção do direito.
(STF. Plenário. ADO 26/DF, Rel. Min. Celso de Mello; MI 4733/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgados
em em 13/6/2019) (Info 944).

c) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para garantir
que a orientação sexual ou identidade de gênero da vítima não possa ser utilizada para justificar,
desculpar ou atenuar essa violência;
d) Garantir que a perpetração dessas violências seja vigorosamente investigada e, quando provas
adequadas forem encontradas, as pessoas responsáveis sejam processadas, julgadas e devidamente
punidas, e que as vítimas tenham acesso a recursos jurídicos e medidas corretivas adequadas,
incluindo indenização;
e) Realizar campanhas de conscientização dirigidas ao público em geral, assim como a
perpetradores/as reais ou potenciais de violência, para combater os preconceitos que são a base da
violência relacionada à orientação sexual e identidade de gênero.

PRINCÍPIO 6°
DIREITO À PRIVACIDADE
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Toda pessoa, independente de sua orientação sexual ou identidade de gênero, tem o direito de
desfrutar de privacidade, sem interferência arbitrária ou ilegal, inclusive em relação à sua família,
residência e correspondência, assim como o direito à proteção contra ataques ilegais à sua honra e
reputação. O direito à privacidade normalmente inclui a opção de revelar ou não informações relativas
à sua orientação sexual ou identidade de gênero, assim como decisões e escolhas relativas a seu
próprio corpo e a relações sexuais consensuais e outras relações pessoais.
Os Estados deverão:
a) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para garantir o
direito de cada pessoa, independente de sua orientação sexual ou identidade de gênero, de desfrutar
a esfera privada, decisões íntimas e relações humanas, incluindo a atividade sexual consensual entre
pessoas que já atingiram a idade do consentimento, sem interferência arbitrária;
b) Revogar todas as leis que criminalizam a atividades sexual consensual entre pessoas do mesmo
sexo que já atingiram a idade do consentimento e assegurar que a mesma idade do consentimento
se aplique à atividade sexual entre pessoas do mesmo sexo e de diferentes sexos;
c) Assegurar que os dispositivos criminais e outros dispositivos legais de aplicação geral não sejam
aplicados de facto para criminalizar a atividade sexual consensual entre pessoas do mesmo sexo que
tenham a idade do consentimento;
d) Revogar qualquer lei que proíba ou criminalize a expressão da identidade de gênero, inclusive
quando expressa pelo modo de vestir, falar ou maneirismo, a qual negue aos indivíduos a oportunidade
de modificar seus corpos, como um meio de expressar sua identidade de gênero;
e) Libertar todas as pessoas detidas com base em condenação criminal, caso sua detenção esteja
relacionada à atividade sexual consensual entre pessoas que já atingiram a idade do consentimento
ou estiver relacionada à identidade de gênero;
f) Assegurar o direito de todas as pessoas poderem escolher, normalmente, quando, a quem e como
revelar informações sobre sua orientação sexual ou identidade de gênero, e proteger todas as pessoas
de revelações arbitrárias ou indesejadas, ou de ameaças de revelação dessas informações por outras
pessoas.

PRINCÍPIO 7°
DIREITO DE NÃO SOFRER PRIVAÇÃO ARBITRÁRIA DA LIBERDADE

Ninguém deve ser sujeito à prisão ou detenção arbitrárias. Qualquer prisão ou detenção baseada na
orientação sexual ou identidade de gênero é arbitrária, sejam elas ou não derivadas de uma ordem
judicial. Todas as pessoas presas, independente de sua orientação sexual ou identidade de gênero,
têm direito, com base no princípio de igualdade, de serem informadas das razões da prisão e da
natureza de qualquer acusação contra elas, de serem levadas prontamente à presença de uma

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RETA FINAL

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autoridade judicial e de iniciarem procedimentos judiciais para determinar a legalidade da prisão,


tendo ou não sido formalmente acusadas de alguma violação da lei.
Os Estados deverão:
a) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para assegurar
que a orientação sexual e a identidade de gênero não possam, em nenhuma circunstância, constituir
justificação para prisão ou detenção, inclusive eliminando-se dispositivos da lei criminal definidos de
maneira vaga que facilitam a aplicação discriminatória ou abrem espaço para prisões motivadas pelo
preconceito;
b) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para assegurar
que todas as pessoas presas, independente de sua orientação sexual ou identidade de gênero, tenham
o direito, com base no princípio de igualdade, de serem informadas das razões da prisão e da natureza
de qualquer acusação contra elas, de serem levadas prontamente à presença de uma autoridade
judicial e de iniciar procedimentos judiciais para determinar a legalidade da prisão, tendo ou não sido
formalmente acusadas de alguma violação da lei;
c) Implementar programas de treinamento e conscientização para educar a polícia e outros
funcionários encarregados da aplicação da lei no que diz respeito à arbitrariedade da prisão e
detenção por motivo de orientação sexual ou identidade de gênero de uma pessoa;
d) Manter registros precisos e atualizados de todas as prisões e detenções, indicando a data, local e
motivo da detenção, e assegurando a supervisão independente de todos os locais de detenção por
parte de organismos com autoridade e instrumentos adequados para identificar prisões e detenções
que possam ter sido motivadas pela orientação sexual ou identidade de gênero de uma pessoa.

PRINCÍPIO 8°
DIREITO A JULGAMENTO JUSTO

Toda pessoa tem direito a ter uma audiência pública e justa perante um tribunal competente,
independente e imparcial, estabelecido por lei, para determinar seus direitos e obrigações num
processo legal e em qualquer acusação criminal contra ela, sem preconceito ou discriminação por
motivo de orientação sexual ou identidade de gênero.
Os Estados deverão:
a) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para proibir e
eliminar tratamento preconceituoso por motivo de orientação sexual ou identidade de gênero em
cada etapa do processo judicial, nos procedimentos civis e criminais, e em todos os outros
procedimentos judiciais e administrativos que determinem direitos e obrigações, e de assegurar que a
credibilidade ou caráter de uma pessoa como parte interessada, testemunha, defensora ou tomadora
de decisões não sejam impugnados por motivo de sua orientação sexual ou identidade de gênero;

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RETA FINAL

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b) Tomar todas as medidas necessárias e razoáveis para proteger as pessoas de processos criminais
ou procedimentos civis que sejam motivados, no todo ou em parte, por preconceito relativo à
orientação sexual ou identidade de gênero;
c) Implementar programas de treinamento e de conscientização para juízes, funcionários de
tribunais, promotores/as, advogados/as e outras pessoas sobre os padrões internacionais de
direitos humanos e princípios de igualdade e não discriminação, inclusive em relação à orientação
sexual e identidade de gênero.
PRINCÍPIO 9°
DIREITO A TRATAMENTO HUMANO DURANTE A DETENÇÃO

Toda pessoa privada da liberdade deve ser tratada com humanidade e com respeito pela dignidade
inerente à pessoa humana. A orientação sexual e identidade de gênero são partes essenciais da
dignidade de cada pessoa.
Os Estados deverão:
a) Garantir que a detenção evite uma maior marginalização das pessoas motivada pela orientação
sexual ou identidade de gênero, expondo-as a risco de violência, maus-tratos ou abusos físicos,
mentais ou sexuais;

Jurisprudência: ADPF 527:


O STF decidiu que presas transexuais e travestis com identidade de gênero feminino possam optar
por cumprir penas em estabelecimento prisional feminino ou masculino. Nesse último caso, elas
devem ser mantidas em área reservada, como garantia de segurança.

b) Fornecer acesso adequado à atenção médica e ao aconselhamento apropriado às necessidades


das pessoas sob custódia, reconhecendo qualquer necessidade especial relacionada à orientação
sexual ou identidade de gênero, inclusive no que se refere à saúde reprodutiva, acesso à informação
e terapia de HIV/Aids, e acesso à terapia hormonal ou outro tipo de terapia, assim como a tratamentos
de redesignação de sexo/gênero, quando desejado;
c) Assegurar, na medida do possível, que todos os detentos e detentas participem de decisões
relacionadas ao local de detenção adequado à sua orientação sexual e identidade de gênero;
d) Implantar medidas de proteção para todos os presos e presas vulneráveis à violência ou abuso
por causa de sua orientação sexual, identidade ou expressão de gênero e assegurar, tanto quanto
seja razoavelmente praticável, que essas medidas de proteção não impliquem maior restrição a seus
direitos do que aquelas que já atingem a população prisional em geral;
e) Assegurar que as visitas conjugais, onde são permitidas, sejam concedidas na base de igualdade a
todas as pessoas aprisionadas ou detidas, independente do gênero de sua parceira ou parceiro;

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RETA FINAL

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f) Proporcionar o monitoramento independente das instalações de detenção por parte do Estado e


também por organizações não governamentais, inclusive organizações que trabalhem nas áreas de
orientação sexual e identidade de gênero;
g) Implantar programas de treinamento e conscientização para o pessoal prisional e todas as outras
pessoas do setor público e privado que estão envolvidas com as instalações prisionais, sobre os
padrões internacionais de direitos humanos e princípios de igualdade e não discriminação, inclusive
em relação à orientação sexual e identidade de gênero.

PRINCÍPIO 10
DIREITO DE NÃO SOFRER TORTURA E TRATAMENTO OU CASTIGO CRUEL, DESUMANO OU
DEGRADANTE

Toda pessoa tem o direito de não sofrer tortura e tratamento ou castigo cruel, desumano ou
degradante, inclusive por razões relacionadas à sua orientação sexual ou identidade de gênero.
Os Estados deverão:
a) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para evitar e
proteger as pessoas de tortura e tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante, perpetrados
ênero
por motivos relacionados à orientação sexual e identidade de g da vítima, assim como o
incitamento a esses atos;
b) Tomar todas as medidas razoáveis para identificar as vítimas de tortura e tratamento ou castigo
cruel, desumano ou degradante, perpetrados por motivos relacionados à orientação sexual e
identidade de gênero, oferecendo recursos jurídicos, medidas corretivas e reparações e, quando for
apropriado, apoio médico e psicológico;
c) Implantar programas de treinamento e conscientização, para a polícia, o pessoal prisional e todas
as outras pessoas do setor público e privado que estão em posição de perpetrar ou evitar esses atos.

Inclui-se nesse rol a Polícia Civil: pertinência temática.

42

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