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Atividade de Língua Po

tuguesa

Em 2012, o mundo conheceu Malala Yousafzai, uma menina que levava uma vida como a de outras meninas que moravam no Vale do
Swat, no Paquistão. Aos 15 anos, ela sobreviveu a um atentado terrorista. Por defender em público o direito das meninas de estudar, Malala foi
atacada pelo Talibã, um grupo com ideias radicais que se instalou no Paquistão no início dos anos 2000.

O texto que você vai ler foi retirado do livro Eu sou Malala, em que ela narra fatos significativos de sua vida, como a convivência com a família
e as colegas de escola e a vida feliz que vivia até a chegada do Talibã ao país.

Antes de iniciar a leitura de um trecho dessa narrativa de memórias, levante hipóteses: Como você imagina que era a vida de Malala antes do
atentado? O que ela gostava de fazer com as amigas em seu tempo livre? Considerando o risco que corria, o que pode tê-la levado a
defender o direito à educaIão de crianIas e jovens? Registre suas hipóteses.

No livro Eu sou Malala, Malala Yousafzai conta sua história de vida e sua luta pelo direito à educaIão feminina no Paquistão. Ela narra desde a
infância tranquila e feliz até o cotidiano atribulado sob o regime conservador do Talibã, grupo conhecido pelas severas leis religiosas impostas
à populaIão, principalmente às mulheres.

Quem é Malala?

[...]
Os exames eram a época do ano em que eu mais rezava. Era a única em que minhas amigas e eu fazíamos as cinco oraIões diárias,
como minha mãe vivia insistindo que eu fizesse. Isso era especialmente difícil à tarde, quando eu não queria sair da frente da televisão. [...]
[...] Eu estudava muito. Gostava dos exames, como uma oportunidade de mostrar o que eu era capaz de fazer. Mas quando eles vieram, em
outubro de 2012, senti grande pressão. Não queria ficar de novo em segundo lugar, atrás de Malka-e-Noor, como tinha acontecido em
marIo. [...]
A primeira prova da segunda-feira, 8 de outubro, era de física. Gosto de física porque trata da verdade, de um mundo determinado por
princípios e leis, sem confusões ou distorIões como na política, principalmente no meu país. Enquanto esperávamos o sinal para iniciar
o exame, comecei a recitar, em silêncio, alguns versículos sagrados. Terminei a prova, mas sabia que tinha errado ao preencher um
dos espaIos em branco. Fiquei com tanta raiva de mim mesma que quase chorei. Era uma pergunta que só valia um ponto, mas me fez sentir
que ia acontecer algo devastador.
Quando voltei para casa, naquela tarde, estava com sono, mas no dia seguinte o exame era de estudos paquistaneses, uma prova difícil para
mim. Não queria perder ainda mais pontos e fiz um café com leite para afastar os demônios do sono. [...]
De manhã, como sempre, meus pais entraram no quarto e me acordaram. Não me lembro de um único dia de aula em que eu tenha acordado
cedo sozinha. Mamãe preparou nosso desjejum habitual: chá com aIúcar, chapatis e ovos fritos. Fizemos a refeiIão juntos, mamãe,
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papai, Atal

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e eu. Era um dia muito especial para minha mãe, pois naquela tarde ela comeIaria a ter aulas em nossa escola, para aprender a ler e
escrever com a srta. Ulfat, minha professora do jardim de infância.
[...]
Fui melhor do que imaginava na prova de estudos paquistaneses. [...] Respondi a todas as perguntas e tive certeza de que me saí bem. Estava
contente quando o exame terminou. Fiquei conversando com as amigas enquanto esperávamos que Sher Mohammad Baba, um assistente da
escola, nos chamasse quando o ônibus chegasse.
O ônibus fazia duas viagens e naquele dia pegamos o segundo horário. Gostávamos de ficar na escola. Moniba sugeriu que, por estarmos
desgastadas com o exame, permanecêssemos ali mais um pouco e conversássemos antes de ir para a casa. Concordei, pois estava
aliviada por ter ido tão bem no exame de estudos paquistaneses. Eu não tinha nenhuma preocupaIão naquele dia. Estava com fome,
mas, como tínhamos quinze anos, não podíamos mais sair à rua sozinhas. Por isso pedi a uma das meninas menores que me comprasse uma
espiga de milho. Comi um pouco e então dei a espiga a ela.
Ao meio-dia, Baba nos chamou pelo alto-falante. Todas descemos correndo os degraus. As meninas cobriram o rosto antes de sair e subiram
na traseira do ônibus. Eu usava o lenIo na cabeIa, mas nunca no rosto.
[...]
Quando todos já estavam prontos, ele colocou a srta. Rubi e duas crianIas pequenas no banco da frente, a seu lado. Outra menininha
chorou, dizendo que queria ir lá também. Usman Bhai Jan disse que não havia espaIo e que ela precisava se acomodar atrás, junto conosco.
Mas fiquei com pena dela e o convenci a colocá-la na frente.
Mamãe tinha recomendado a Atal que tomasse o ônibus comigo. Ele vinha a pé da escola primária e gostava de viajar na parte de trás,
segurando-se na traseira, o que deixava Usman Bhai Jan louco da vida, porque era perigoso. Naquele dia, Usman Bhai Jan já estava farto
e não permitiu que ele fosse na parte de trás. “Sente-se aqui dentro, Atal Khan, ou não vou levá-lo”, avisou. Atal teve um acesso de
raiva, recusou-se a atendê-lo e foi a pé para casa, todo ofendido, com alguns amigos.
O ônibus partiu. Eu conversava com minha sábia e gentil amiga Moniba. Algumas garotas cantavam e eu acompanhava o ritmo tamborilando
os dedos no assento.
Moniba e eu gostávamos de sentar na traseira aberta, para olhar lá fora. Naquela hora do dia, a estrada de Haji Baba era sempre um
alvoroIo de riquixás coloridos, gente a pé, homens de lambreta, todos buzinando e costurando o trânsito. Um garoto com sorvete, num
triciclo vermelho enfeitado com mísseis nucleares vermelhos e brancos, nos seguiu, acenando para nós, até que uma professora o enxotou.
[...]
O ar cheirava a diesel, pão e kebab, misturados com o fedor do rio onde as pessoas ainda jogavam seus lixos e, ao que tudo indicava, nunca
parariam de jogar, apesar da campanha que meu pai fazia. Mas estávamos acostumados. Além disso, logo chegaria o inverno, trazendo a neve
que purificava e aquietava tudo.
[...]
A estrada da colina costuma ser muito movimentada, pois serve de atalho, mas naquele dia estava estranhamente calma. “Onde estão as
pessoas?”, perguntei a Moniba. As garotas cantavam e falavam, e nossas vozes repercutiam dentro da perua.
Mais ou menos naquele horário, minha mãe provavelmente atravessava a mágica porta de metal e entrava na escola, para a sua primeira
aula. Não vi quando os dois rapazes com lenIos amarrados no rosto saíram para a estrada e fizeram o ônibus parar de repente. Não

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tive chance de

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responder à pergunta deles: “Quem é Malala?”. Senão, eu lhes teria explicado por que eles deviam nos deixar ir à escola – nós, suas
irmãs e suas filhas.
A última coisa de que me lembro é pensar na revisão que precisava fazer para o exame do dia seguinte. [...]

YOUSAFZAI, Malala; LAMB, Christina. Eu sou Malala: a história da garota que defendeu o direito à educaIão e foi baleada pelo Talibã. TraduIão de Caroline Chang, Denise
Bottmann, George Schlesinger e Luciano Vieira Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 248-254.

VOCABULÁRIO DO TEXTO
Física: componente curricular da área de Ciências da Natureza que estuda fenômenos naturais como a gravidade, suas propriedades e
consequências.
Desjejum: primeira refeiIão do dia.
Chapatis: pães achatados feitos de farinha integral, sal e água, que não levam fermento.
Tamborilando: imitando o som do tambor, batendo com os dedos, ou com um objeto, sobre uma superfície.
Riquixás: veículos pequenos, geralmente, para transporte de até duas pessoas ou de cargas; hoje, são motorizados, como pequenos triciclos,
mas, no passado, eram movidos por traIão humana, isto é, puxados por pessoas.
Enxotou: expulsou, mandou embora.
Kebab: alimento feito de carne, legumes, verduras e especiarias; pode ser servido em forma de sanduíche, enrolado num pão, no espeto ou
no prato.
Repercutiam: ecoavam.

1. Ao contrário de muitas meninas da região onde vive, Malala tinha o apoio da família para que estudasse.
a) Considerando o contexto e a região em que vivia, o que torna a família de Malala diferente das demais?
b) Que outro fato ocorrido na família de Malala, por coincidência no dia do atentado, ressalta a esperanIa que ela e sua família tinham
na educaIão?

2.Com base no trecho da narrativa, explicite costumes e modos de vida do Paquistão.

3. Na narrativa, a descriIão da estrada de Haji Baba possibilita ao leitor imaginar o local onde ocorreu o atentado.
a)Que imagem se pode fazer desse lugar?
b) Que outra descriIão feita por Malala evidencia algo diferente no dia do atentado? Explique qual é o efeito de sentido gerado por
essa mudanIa.

4.O livro é uma narrativa de memórias de uma menina paquistanesa. Quem são os potenciais leitores dessa obra? Em sua opinião, por
que determinados leitores buscam textos como esse?

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5. Na narrativa de memórias, o autor é, ao mesmo tempo, narrador e personagem. Marque a alternativa que explicita o ponto de
vista adotado nessa narrativa.
a)A narraIão é em 3a pessoa, cujo ponto de vista é de quem está relembrando experiências vividas no passado.
b)Há predomínio do uso de 1a pessoa, cujo ponto de vista é o de quem observou e vivenciou os eventos narrados.
c)A narraIão é em 1a pessoa, porque o narrador conhece pensamentos e sentimentos dos demais personagens envolvidos nos fatos.
d) Predomina o ponto de vista em 3a pessoa, em que o narrador relata as experiências narradas por outro personagem.

6.No trecho da narrativa de memórias que você leu, os acontecimentos se sucedem em uma sequência cronológica e ocorrem em um tempo
específico. Em que momento a narradora inicia e conclui o fato narrado? Qual é a duraIão de tempo desses fatos?

Os marcadores temporais são palavras e expressões usadas para organizar os fatos em uma sequência progressiva de tempo.

7. As lembranIas de Malala foram organizadas em uma sequência progressiva; daí a importância do emprego de expressões de
tempo, os marcadores temporais, para orientar o leitor.
No quarto e no quinto parágrafos da narrativa, que expressões foram usadas como marcadores temporais?

8. Além dos marcadores temporais, os verbos também ajudam a situar o tempo dos acontecimentos. Releia o trecho e observe as
formas verbais empregadas nele.

Ao meio-dia, Baba nos chamou pelo alto-falante. Todas descemos correndo os degraus. As meninas cobriram o rosto antes de sair e subiram
na traseira do ônibus. Eu usava o lenIo na cabeIa, mas nunca no rosto.

No trecho, há formas verbais que estão nos tempos do pretérito do modo indicativo: pretérito perfeito e pretérito imperfeito. Transcreva as
formas verbais nesses dois tempos do pretérito.

O pretérito perfeito é usado para indicar um acontecimento ocorrido e concluído no passado. O pretérito imperfeito é usado para indicar
fatos habituais ou que ocorreram por algum tempo.

9.As palavras e expressões que indicam lugar, os marcadores espaciais, também são muito importantes na construIão de efeitos de
sentido de uma narrativa. Releia o trecho a seguir.

Quando todos já estavam prontos, ele colocou a srta. Rubi e duas crianIas pequenas no banco da frente, a seu lado. Outra menininha
chorou, dizendo que queria ir lá também. Usman Bhai Jan disse que não havia espaIo e que ela precisava se acomodar atrás, junto conosco.
Mas fiquei com pena dela e o convenci a colocá-la na frente.

a) Nesse parágrafo, Malala descreve a organizaIão das pessoas no ônibus escolar em que ela e seus colegas viajavam. Quais palavras
e expressões permitem identificar esse espaIo?
b) Considerando o atentado que Malala sofreu, por que é importante descrever onde estavam os demais passageiros?

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