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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIAS

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA

QUÍMICA INORGÂNICA II

09, 16 e 23/11/2022

Samira Aguiar Pedrosa

Prof.°. Dr.°.Cícero Wellington Brito Bezerra

MEDIDAS DE CONDUTIVIDADE ELÉTRICA DE ELETRÓLITOS E DE


COMPOSTOS DE COORDENAÇÃO.
1.INTRODUÇÃO

A condutividade é uma grandeza física que está associada à capacidade que


um sistema químico possui em transportar cargas elétricas, através da aplicação de
uma janela de potencial. Ela subsidia o conhecimento de importantes propriedades
eletroquímicas das soluções envolvidas, bem como o grau de dissociação,
constante de dissociação, constante de protonação, teor de sólidos totais de
amostra, dentre outras medidas. Nesse sentido, é possível observar empiricamente,
por exemplo, se determinadas soluções apresentam um caráter iônico fraco ou
forte. Na prática, a condutividade pode ser mensurada através da utilização de um
equipamento denominado condutivímetro, os quais podem ser portáteis ou de
bancada.

A condutividade elétrica de uma solução está diretamente ligada a concentração


dos íons presentes no seio reacional, bem como sua mobilidade. Sendo assim, o
sistema é sensível a qualquer efeito externo que seja capaz de perturbar essa
condição, bem como a questão da temperatura. Um meio que impõe menor
resistência para a passagem eletrônica, confere um aumento na condutividade no
sistema químico, portanto, a condutividade é inversamente proporcional à
resistência (R) a qual, para um condutor uniforme com dimensões: l (comprimento)
e A (área), pode ser medida pela Eq. 1:

𝑙 𝑙 1
𝑅 = 𝜌. = =
𝐴 𝐾. 𝐴 𝐿

em que:

● p = resistência específica (Ω cm);

● K= condutância específica ou condutividade (Ω cm-1, Scm-1)

● L = condutância, S (Siemens, 1S = 1 Ω -1).

A resistividade, e consequentemente a condutividade específica, dependem de


alguns fatores para se estabelecer, tais como o grau de hidratação do íon - isto é, o
tamanho - a viscosidade da solução, a temperatura e a concentração do meio. O
aumento da temperatura repercute em uma diminuição da resistividade, e o
coeficiente de temperatura é algo em torno de -2% ° C. Em termos matemáticos,
isso significa que para cada aumento de uma unidade de temperatura (°C), a
resistividade sofre uma variação em torno de 2% do seu valor. Esse fator revela
que, para que haja uma análise bem-sucedida, é necessário que haja um controle
de temperatura no ambiente.

A condutividade não é a medida mais adequada para estabelecer comparações


entre diferentes eletrólitos, em razão da concentração dos componentes, uma vez
que ela depende do número de cargas inseridas na solução. Para corrigir esse
problema, definiu-se, portanto, a existência da condutividade molar, que é descrita
pela fórmula:

𝑲 𝟏𝟎𝟑 𝒌 (𝑺𝒄𝒎−𝟏 )
𝚲𝒎 = 𝟏𝟎𝟎𝟎 = 𝚲𝒎 = = 𝑺𝒄𝒎𝟐 𝒎𝒐𝒍−𝟏 = Ω 𝒄𝒎𝟐 𝒎𝒐𝒍
𝒄 𝒎𝒐𝒍
𝒄
𝒄𝒎𝟑

No qual C é a concentração em mol.cm3.Nesse sentido, nota-se que haverá uma


diferença na medida em questão em se tratando se soluções iônicas fortes ou
fracas. Kohlrausch lançou bases para a definição da condutividade molar em ácidos
fortes, ela é definida pela seguinte expressão:

𝚲𝒎 = 𝚲∞ − 𝑘 √𝑐

Onde ∧∞ é a condutividade molar limite, característica de um determinado


eletrólito e referente a condutividade que a solução teria sob diluição infinita. Em
eletrólitos fracos, a ionização não ocorre em sua totalidade, o que gera uma
considerável redução em ∧m. Contudo, quando submetida à diluição infinita, a
dissociação será total, o que provocará um aumento substancial na condutividade
molar. Assim sendo, o grau de dissociação dos ácidos fracos é consoante com a lei
de diluição de Ostwald, que determina que é o quociente da condutividade molar
dividido pela condutividade molar a diluição infinita será dada por:

𝚲𝒎
∝=
𝚲∞
2.OBJETIVOS

• Utilizar adequadamente um condutivímetro e medir a condutividade de


eletrólitos fracos, fortes e íons complexos;
• Empregar a técnica para a distinção entre sais duplos e complexos, estimar
a carga e a estequiometria de íons complexos.

3.MATERIAIS E REAGENTES

3.1 Eletrólitos fortes e fracos

✓ Condutivímetro
✓ Padrão para calibração do condutivímetro
✓ KCl 0,1 M
✓ CH3COOH 0,1 M
✓ Pissetas com água destilada
✓ Béqueres 10 mL
✓ Balões volumétricos (25 mL)
✓ Espátula
✓ Pipeta com peras

3.2 Sais duplos e complexos

✓ Condutivímetro
✓ Padrão para calibração do condutivímetro
✓ Balança analítica
✓ KCl
✓ CuSO4
✓ CoCl2
✓ Kal(SO4)
✓ K3[Fe(CN)6]
✓ K4[Fe(CN06]
✓ AlCl3
✓ [Cu(NH3)]SO4
✓ Pissetas com água destilada
✓ Béqueres 10 mL
✓ Balões volumétricos (250 mL)
✓ Espátula
✓ Pipeta com peras.

4.PARTE EXPERIMENTAL

4.1 Eletrólitos fortes e fracos

✓ Calibrou-se o condutivímetro de acordo com o manual do equipamento;


✓ Preparou-se 10 mL de solução KCl 0,1 M;
✓ Preparou-se 10 mL de solução CH3COOH 0,1 M;
✓ Diluiu-se cada solução em difdrentes proporções, a começar pela mais
diluída;
✓ Mediu-se as condutividades das respectivas soluções (tabela 1);
✓ Verificou-se por método gráfico, se os eletrólitos seguem a Lei de Ostwald.
Tabela 1: Medidas de condutividade (µS/cm-1) para soluções de KCl e
CH3COOH em diferentes proporções.
Condutividade (µS/cm-1)
Proporções (M) KCl 0,1 M CH3COOH 0,1 M
0,0005 112,8 46,1
0,00075 137,7 60,7
0,001 148,5 51,9
0,0025 346,0 86,4
0,005 625,0 124,2
0,0075 1170,0 161,9
0,010 1333,0 230,0
0,05 6110,0 493,0
0,10 11810,0 752,0

Fonte: Autoria própria.

4.2 Sais duplos e complexos

✓ Calibrou-se o condutivímetro de acordo com o manual do equipamento;


✓ Preparou-se 250 m L de solução 0,001 M dos compostos relacionados no
item 3.2;
✓ Mediu-se as respectivas condutividades das soluções (tabela 2);
✓ Construiu-se um gra´fico envolvendo as estequiometria dos íons padrão
versus a condutividade molar. A partir do gráfico obtido, verificou-se a melhor
carga ou estequiometria prevista para o composto sintetizado em prática
anterior [Cu(NH3)4SO4];
✓ Relacionou-se os dados de condutividade para sais simples, duplos e
complexos.
Tabela 2: Medidas de condutividade (µS/cm-1) para compostos de sais simples
e complexos, e suas respectivas relações cátion: ânion.

Composto (0,001 M) Ralação cátion: Condutividade


ânion (µS/cm-1)
KCl 1:1 156,5
CuSO4 1:1 133,6
CoCl2 1:2 150,5
KAl (SO4)2 1:2 203,0
K3 [Fe (CN)6] 3:1 461,0
K4 [Fe (CN)6] 4:1 65,6
AlCl3 1:3 390,0
[Cu (NH3)4] SO4 1:1 261,0

Fonte: Autoria própria.


5.RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1 Eletrólitos fortes e fracos

Realizou-se medidas condutivímetras para ambos os eletrólitos (KCl e


CH3COOH), considerados eletrólitos do tipo forte e fraco, respectivamente. Assim,
obteve-se valores de condutividades quando cada concentração foi analisada,
como mostrou a tabela 1 (item 4.1). A partir destes valores, calculou-se a
condutância molar (condutividade molar), que é expressa pela seguinte equação:

𝑲
𝚲= = 𝑺𝒄𝒎𝟐 /𝒎𝒐𝒍
𝒄

onde, K é a condutividade específica, e c, a concentração. Os valores para as


condutividades, foram encontrados em µS/cm-1 e as concentrações em M. Para
chegar à unidade que expressa a condutância molar, fez-se rearranjos de unidades.
Para a primeira medida do KCl (tabela 1), temos:

𝟏𝟐𝟐, 𝟖 × 𝟏𝟎−𝟔 𝑺/𝒄𝒎−𝟏


𝚲= = 𝟎, 𝟐𝟐𝟓𝟔 𝑺𝒄𝒎−𝟏 /𝑴
𝟎, 𝟎𝟎𝟎𝟓 𝑴
em que:
M= mol/L = mol/100.cm3. Aplicando-se na expressão e rearranjando as unidades:

𝐒
𝚲 = 𝟎, 𝟐𝟐𝟓𝟔 = 𝟐𝟐𝟓, 𝟔 𝑺𝒄𝒎𝟐 /𝒎𝒐𝒍
𝒎𝒐𝒍
𝒄𝒎 −𝟏 ×
𝟏𝟎𝟎𝒄𝒎𝟑

Por semelhante modo, calculou-se todas as outras condutâncias molares,


tanto para o KCl, como para o CH3COOH. Os resultados foram exibidos na tabela
abaixo:
Tabela 3: Resultados obtidos da condutância molar em Scm 2/mol para
soluções de KCl e CH3COOH em diferentes proporções.

Condutância molar (Scm2/mol)


Proporções (M) KCl 0,1 M CH3COOH 0,1 M
0,0005 225,6 92,2
0,00075 183,6 80,9
0,001 148,5 51,9
0,0025 138,4 34,46
0,005 125,0 24,84
0,0075 156,0 21,58
0,010 133,3 23,0
0,05 122,2 9,86
0,10 118,1 7,52

Fonte: Autoria própria.

Com base nessas informações, foi possível representar graficamente a


dependência da condutividade com a concentração ao aumentar ou diminuir
(figura1). Como o KCl é um eletrólito 100% dissociável, e os valores de condutância
molar tendem a crescer de forma linear a medida que se aumenta a concentração,
segundo a lei de Kohlrausch. No entanto, percebeu-se que os resultados obtidos
experimentamente, diferem desse conceito. Essa diferença pode está associada à
erros experimentais, como uma possível contaminação no meio. Para o CH3COOH,
constatou-se um decréscimo no significativo logo no início. Isso Pôde-se ser
explicado em virtude da diminuição do grau de dissociação com aumento da
concentração. Por conseguinte, infere-se o aumento da quantidade dos íons é
menor que o aumento da concentração, ou seja, há menor condutância molar.
Figura 1: Dependência da condutividade versus a concentração das soluções de
KCl e CH3COOH, respectivamente.

Fonte: Autoria própria.

5.2 Sais duplos e complexos

Assim como para os eletrólitos, obteve-se as medidas de condutividades


para os sais duplos e complexos (tabela 2). Calculou-se valores de condutância
molar em Scm2/mol para estes, os quais resultaram nos mesmos valores de
condutividades, pois, a concentração dos compostos manteve-se constante:
0,001 M. O composto K4 [Fe (CN)6] obteve-se uma condutância de 65,6
Scm2/mol, mostrando-se discrepante em relação aos outros, com valores
superiores. Para constatar que tal valor deveria ou não ser descartado, aplicou
o Teste Q, muito utilizado para medidas incertas. Este é expresso por:

⃒𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑠𝑢𝑝𝑒𝑖𝑡𝑜 − 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑚𝑎𝑖𝑠 𝑝𝑟ó𝑥𝑖𝑚𝑜⃒ 𝑖𝑛𝑡𝑒𝑟𝑣𝑎𝑙𝑜


𝑄𝑐𝑎𝑙𝑐𝑢𝑙𝑎𝑑𝑜 = =
⃒𝑚𝑎𝑖𝑜𝑟 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 − 𝑚𝑒𝑛𝑜𝑟 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟⃒ 𝑣𝑎𝑟𝑖𝑎çã𝑜
Se o valor calculado de Qcalculado for maior do que o valor de Qtabelado o ponto
em questão pode ser descartado. Considerou-se um nível de confiança de 95%para
um número de medidas igual a 8.

Assim teve-se os seguintes valores, como: 65,6 (valor suspeito e menor


valor); 133,6 (valor mais próximo) e 461,0 (maior valor). Aplicou-se na equação:

⃒65,6 − 133,6⃒
𝑄𝑐𝑎𝑙𝑐𝑢𝑙𝑎𝑑𝑜 = = 0,172
⃒461,0 − 65,6⃒

Comparando-se este valor calculado com o valor tabelado para um nível de


confiança de 95%, comprovou-se que a dado 65,6 não deveria ser desprezado, uma
vez que Qcalculado (0,172) ˂ Qtabelado (0,526). O mesmo aconteceria se comparado ao
um nível de 90% ou 99%. Em seguida, construiu-se um gráfico relacionando a
condutividade molar verus a estequiometria dos íons padrão (figura 2)
Figura 2: Relação entre a condutância molar e a estequiometria dos sais duplos e
complexos.

Fonte: Autoria própria.

A figura 2, mostrou-se que condutância molar possui relação direta com a


quantidade de espécies (cátion e ânion) em determinado composto. Os compostos
como KCl e CuSO4, eletrólitos do tipo 1:1, apresentaram menores valores de
condutância molar. Enquanto espécies como CoCl2, KAl (SO4)2 (eletrólito 1:2); AlCl3
(eletrólito 1:3); K3 [Fe (CN)6] (eletrólito 3:1), maiores resultados de condutância
molar. O complexo K4 [Fe (CN)6] (eletrólito 4:1), tornou-se uma exceção,
provavelmente, devido à erros experimentais. O valor de condutância obtido para o
composto sintetizado em prática antes, [Cu (NH3)4] SO4, mostrou-se favorável para
a estequiometria do tipo 1:1. Assim, pôde estimar que sua carga é igual a +2.
6. CONCLUSÕES

Verificou-se que a condutividade molar se baseia na quantidade de íons, seja


por concentração ou pela relação cátion: ânion. Ao longo das medidas de
condutividade específicas foi possível estudar o comportamento de eletrólitos fracos
e fortes, tendo como resultado a construção do gráfico. Os cálculos realizados
constataram o KCl como um eletrólito forte, já que este se dissocia em seus íons.
Não se obteve o resultado aguardado, ou seja, um aumento crescente de
condutividade acompanhando a concentração. Por sua vez, o ácido acético como
um eletrólito fraco, visto que a curva de condutividade não se manifesta linear e não
há dissociação completa em íons. Alguns sais duplos possuem menor
condutividade comparado aos complexos, já que estão em menor quantidade.

. Em síntese a prática, em si, é pertinente para se medir a força/condutividade


de um ácido, além de aprender como se determinar a condutividade molar e a
diluição infinita, o grau e a constante de dissociação e, também, observar se os
eletrólitos obedecem às leis de Kohlrausch ou de Ostwald ao se verificar a
intensidade dos eletrólitos em conduzir corrente elétrica, embora no decorrer da
mesma, tenha ocorrido erros por parte dos operadores que influenciaram nos
resultados finais do experimento, tal como a má calibração do equipamento,
incorretas leituras no aparelho, erros nos preparos e nas medidas de soluções, além
de interferentes nas soluções enquanto se media a condutividade, tal como a
temperatura e a eletrólise nos eletrodos.
7.REFERÊNCIAS

PILLING, Prof. Dr. Sergio. Físico-Química Experimental II. Disponível em


http://www1.univap.br/spilling/FQE2/FQE2_EXP7_Eletrolitos.pdf. Acesso em 21 de
dezembro de 2022.

FILHO, Prof. Harley P. Martins. Condutividade das soluções eletrolíticas. Disponível em


Aula 01 - Condutividade.pdf (ufpr.br). Acesso em 21 de dezembro de 2022.

Laboratório de Química - QUI126, 2018. Disponível em


https://www2.ufjf.br/quimica/files/2015/06/2018-QUI126-AULA-9-CONDUTIVIDADE-
EL%c3 %89TRICA.pdf Acesso em 20 de dezembro de 2022.

ATKINS, Peter. Princípios de química: questionando a vida moderna e o meio ambiente /


Peter Atkins, Loretta Jones; Tradução técnica: Ricardo Bicca de Alencastro. 5 ed. Porto
Alegre: Bookman, 2012

Apostila de Química Analítica Quantitativa, 2022.

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