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Aula Português

05 3A

Verbo II
(1) “Blimunda, Baltasar, venham

Ministério da Saúde, 2016


ver, levantem-se daí, não te-
nham medo.”
José Saramago

Os verbos grifados no enunciado


estão no modo imperativo. Eles
expressam a orientação da pessoa que
fala (o padre Bartolomeu Lourenço de
Gusmão) para que os personagens
Blimunda e Baltasar “venham”, “levan-
tem” e “não tenham medo”.

Conjugação do
modo imperativo
Por ser a expressão de um apelo,
o modo imperativo não apresenta
conjugação na 1a. pessoa do sin-
gular (“eu”). De fato, uma pessoa
não pode dar uma ordem ou fazer
um pedido a si mesma. No máximo
pode, em certas ocasiões, simular
que fala consigo mesma, tratando-
-se como uma outra pessoa. Assim,
o modo imperativo não apresenta
a forma “eu” em sua conjugação.
Existe, entretanto, a forma “nós”, 1a.
pessoa do plural.
Igualmente, só podemos dar
uma ordem ou fazer um pedido
` O uso de verbos no modo imperativo é extremamente comum em anúncios pu-
blicitários, que se valem normalmente da função apelativa e tencionam influir
para uma pessoa com quem esteja-
no comportamento do receptor da mensagem. mos em contato. É claro que não há
necessidade de ser um contato vi-
sual. Podemos dar ordens por carta
Modo imperativo ou por telefone, por exemplo. Mas
sempre há necessidade do contato.
O modo imperativo é empregado para expressar uma ordem, um pedido,
Por isso, também não existe a forma
uma súplica ou algo semelhante. É o que ocorre na frase seguinte:
“ele” ou “eles” na conjugação do
imperativo.

1
Importante notar, porém, que existe a 3a. pessoa no O modo imperativo apresenta duas formas, a afir-
imperativo. Ela é empregada quando utilizamos prono- mativa, que expressa ordem ou pedido para fazer algo,
mes de tratamento, como “você”, “o senhor”, etc. Assim, e a forma negativa, que expressa ordem ou pedido para
a forma do verbo no modo imperativo varia conforme o não fazer algo. A conjugação é diferente em cada caso.
tratamento seja “tu”, “vós” ou um pronome de tratamento.

Formação do imperativo
O modo imperativo é formado tomando por base o presente do indicativo e o presente do subjuntivo.
O imperativo negativo sai todo ele do presente do subjuntivo. São formas idênticas.
Já o imperativo afirmativo é híbrido (= “misturado”). A 1a. pessoa do plural e a 3a. pessoa, tanto do singular quanto do
plural, vêm das respectivas pessoas do presente do subjuntivo. A 2a. pessoa, singular e plural, vem da 2a. pessoa, singular e
plural, do presente do indicativo, retirando-se a terminação “-s” destas últimas.
Esquematicamente, temos:

Presente do Imperativo Presente do Imperativo


indicativo afirmativo subjuntivo negativo
Eu amo ––– ame –––
Tu amas –s ama ames Não ames
Você ama ame ame Não ame
Nós amamos amemos amemos Não amemos
Vós amais –s amai ameis Não ameis
Vocês amam amem amem Não amem

Esse princípio funciona para a quase totalidade dos verbos. Há, porém, duas notáveis exceções.
1. O verbo ser faz irregularmente a segunda pessoa 2. Os verbos fazer, dizer e trazer aceitam, além da forma
do singular e a do plural do imperativo afirmativo. regular, uma forma irregular para a segunda pessoa
As demais formas são regulares. A conjugação se dá, do singular do imperativo afirmativo. Assim são cor-
então, do seguinte modo: retas as formas faze, dize e traze (tu), mas também
sê tu faz, diz e traz (tu). As demais formas são regulares.
seja você A conjugação desses verbos fica, então, do seguinte
sejamos nós modo:
sede vós faze/faz tu dize/diz tu traze/traz tu
sejam vocês faça você diga você traga você
façamos nós digamos nós tragamos nós
fazei vós dizei vós trazei vós
façam vocês digam vocês tragam vocês
©Joaquim S. Lavado Tejón (QUINO), TODA MAFALDA/
Fotoarena/Quino

QUINO, Toda a Mafalda. São Paulo, Martins Fontes, 1991.


` A última fala da Mafalda encontra-se no modo imperativo negativo.

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Aula 05

Imperativo no português coloquial brasileiro


No português do Brasil, como sabemos, a forma de tratamento tu é menos usada que o tratamento você. Entretan-
to, formas da 2a. pessoa do singular continuam com boa vitalidade, especialmente certas formas pronominais, como
os possessivos (teu, tua, teus, tuas) e o oblíquo te.
Também as formas verbais imperativas muitas vezes conservam, na fala coloquial, o tratamento de 2a. pessoa do
singular.
Uma conhecida propaganda da Caixa Econômica Federal tinha como lema a frase convidativa Vem pra Caixa você
também. Da maneira como é dita, a frase apresenta falta de uniformidade de tratamento (o que constitui desvio em
relação à norma culta). A forma verbal vem corresponde ao imperativo afirmativo de 2a. pessoa do singular. Para que
houvesse uniformidade, o enunciado teria de ser Vem pra Caixa tu também ou Venha pra Caixa você também.

Verbos abundantes
Verbos abundantes são verbos que apresentam duas formas de igual valor. O verbo haver, por exemplo, na pri-
meira pessoa do plural do presente do indicativo pode ter duas formas: a mais comum havemos, e outra, bastante
rara, hemos. Também já se admitiram formas como constróis ou construis, entope ou entupe, hoje bastante raras. A
questão mais importante, no entanto, relativa aos verbos abundantes diz respeito aos verbos que apresentam duplo
particípio.

Verbos com duplo particípio


Alguns verbos apresentam dois particípios: um regular, outro irregular. É o caso, por exemplo, de entregar, que
possui os particípios entregado (regular) e entregue (irregular).
Nessas situações, a regra é usar o particípio: regular na voz ativa, nos tempos verbais compostos, e o irregular,
na voz passiva analítica. Na prática, isso significa que o particípio regular é empregado em locuções com os verbos
auxiliares ter e haver, e o irregular, em locuções com os auxiliares ser e estar. Confira:
(1) O carteiro havia entregado a carta ao homem apaixonado.
(2) A carta foi entregue pelo carteiro ao homem apaixonado.
Outros verbos com duplo particípio aparecem listados a seguir:

Verbo Particípio regular Particípio irregular extinguir extinguido extinto


aceitar aceitado aceito imergir imergido imerso
acender acendido aceso imprimir imprimido impresso
eleger elegido eleito limpar limpado limpo
entregar entregado entregue matar matado morto
enxugar enxugado enxuto prender prendido preso
expressar expressado expresso salvar salvado salvo
exprimir exprimido expresso soltar soltado solto
expulsar expulsado expulso suspender suspendido suspenso

Há, porém, três verbos que escapam a esse princípio. São eles ganhar, gastar e pagar. A tendência da maioria dos
gramáticos é condenar o emprego de ganhado, gastado e pagado, apesar de essas formas terem tradicionalmente
existido como corretas em português.
Notem-se ainda dois casos:

• Não é adequada à norma culta a forma do particípio chego. O verbo chegar apresenta apenas o particípio
regular chegado.
• Também não é adequada a forma empregue como particípio irregular de empregar, que apresenta apenas o
particípio regular empregado.

Português 3A 3
Testes
05.04. (UPE – PE) – Alguns versos da canção se configu-
Assimilação ram como enunciados que incitam à ação e, por isso, são
denominados, quanto à tipologia textual, de “injuntivos”.
05.01. (PUCPR) – Transforme pelo modelo: Procurei o livro/ Exemplificam enunciados injuntivos os seguintes versos:
Procura-o também.
a) Seu doutô os nordestino têm muita gratidão/ Pelo auxílio
1. Pus o carro na garagem/ , também. dos sulista nessa seca do sertão.
2. Trouxe o livro/ , também. b) Mas doutô uma esmola a um homem qui é são/ Ou lhe
3. Medi as consequências/ , também. mata de vergonha ou vicia o cidadão.
4. Ouvi suas queixas/ , também. c) É por isso que pidimo proteção a vosmicê/ Home pur nóis
5. Mandei um presente ao nosso filho/ , também. escuído para as rédias do pudê.
A alternativa correta é: d) Pois doutô dos vinte estado temos oito sem chovê/ Veja
a) Põe-no, Traze-o, Mede-as, Ouve-as, Mande-o bem, quase a metade do Brasil tá sem cumê.
b) Põe-lo, Traze-o, Mede-as, Ouve-as, Mande-o e) Dê serviço a nosso povo, encha os rio de barrage/ Dê
c) Ponha-o, Traga-o, Meça-as, Ouça-se, Mande-o cumida a preço bom, não esqueça a açudage.
d) Põe-no, Traze-o, Mede-as, Ouve-as, Manda-o
e) Ponha-o, Traga-o, Meça-as, Ouça-as, Manda-o 05.05. Assinale a alternativa incorreta:
a) O documento seria entregue hoje pelos advogados.
05.02. Assinale a alternativa incorreta: b) Os advogados já haviam entregado o documento.
a) A garota havia falado besteira no discurso. c) O governo teria suspenso as negociações com os partidos
b) Nós já tínhamos caminhado pela manhã. de oposição.
c) A diretora havia morrido há três meses. d) Muitas espécies serão salvas da extinção, se houver bons
d) O rapaz tinha comido tudo que restara. programas de proteção às florestas.
e) Dois jogadores foram expulsados pelo juiz. e) Até ontem, a gráfica ainda não tinha imprimido os ma-
nuais.
05.03. (UNIFAE – PR) – Soldado! a cabeça,
teu fuzil, o que lá vês. Mas não te !
a) Levanta, ergue, destrua, firas Aperfeiçoamento
b) Levante, ergue, destrua, fira
05.06. (PUCPR) – Faça conforme o modelo: Peço-te que me
c) Levanta, ergue, destrói, firas
perdoes/Perdoa-me
d) Levantai, erguei, destruí, firais
1. Peço-te que acudas a menina/ a menina.
e) Levanteis, ergueis, destruais, firas
2. Peço-te que frijas o ovo/ o ovo.
Texto para a próxima questão: 3. Peço-te que meças o quarto/ o quarto.
Vozes da seca 4. Peço-te que leias meu artigo/ meu artigo.
Seu doutô os nordestino têm muita gratidão 5. Peço-te que provejas o cargo/ cargo.
Pelo auxílio dos sulista nessa seca do sertão Assinale a alternativa correta:
Mas doutô uma esmola a um homem qui é são a) Acuda, Frija, Meça, Leia, Provede
Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão b) Acode, Frege, Mede, Lê, Provê
É por isso que pidimo proteção a vosmicê c) Acuda, Frija, Mede, Lê, Proveja
Home pur nóis escuído para as rédias do pudê d) Acode, Frija, Mede, Lê, Provede
Pois doutô dos vinte estado temos oito sem chovê e) Acuda, Frege, Medi, Lê, Provê
Veja bem, quase a metade do Brasil tá sem cumê
Dê serviço a nosso povo, encha os rio de barrage 05.07. (FAAP – SP) – Assinale a resposta correspondente
Dê cumida a preço bom, não esqueça a açudage à alternativa que completa corretamente os espaços em
Livre assim nóis da ismola, que no fim dessa estiage branco: Não ____________. Você não acha preferível que
Lhe pagamo inté os juru sem gastar nossa corage ele se ___________ sem que você o __________?
Se o doutô fizer assim salva o povo do sertão a) interfere – desdiz – obriga
Quando um dia a chuva vim, que riqueza pra nação! b) interfira – desdisser – obrigue
Nunca mais nóis pensa em seca, vai dá tudo nesse chão
c) interfira – disdissesse – obriga
Como vê nosso distino mercê tem na vossa mão
d) interfere – desdiga – obriga
Luiz Gonzaga e Zé Dantas. Disponível em http://letras.mus.br/luiz-gonza-
ga/471 03. Acesso em: 17/07/2013. e) interfira – desdiga – obrigue

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05.08. O verbo ganhar, na sua forma usual, é considerado Texto para a próxima questão:
um verbo abundante, apresentando, pois, duas formas de
particípio: uma forma regular (ganhado); outra, irregular, ÁRIES (21 mar. a 20 abr.)
supletiva (ganho). Lunação em signo complementar destaca im-
Dentre os verbos seguintes, qual é aquele que apresenta portância das relações em sua vida nas próximas
semanas. Cuide de sua rede social, mostre-se
SOMENTE forma irregular? atencioso com as pessoas. Seu sucesso é resultado
a) Ver b) Ficar c) Ter disso também e agora essa questão tem importân-
d) Ocorrer e) Vingar cia suprema. Cultive o tato.
(Folha de S. Paulo, Ilustrada, Astrologia, Barbara Abramo, 29 set. 2008.)
A questão toma por base uma modinha de Domingos
Caldas Barbosa (1740-1800).
05.10. Se as formas verbais “cuide”, “mostre-se” e “cultive” fos-
sem empregadas na segunda pessoa do singular, teríamos:
Protestos a Arminda
1 a) Cuidas, mostras-te, cultivas.
Conheço muitas pastoras b) Cuida, mostra-te, cultiva.
Que beleza e graça têm, c) Cuidai, mostrai-vos, cultivai.
Mas é uma só que eu amo d) Cuida, mostra-se, cultiva.
Só Arminda e mais ninguém. e) Cuides, mostres-te, cultives.
Revolvam meu coração
2
Procurem meu peito bem, A partir da leitura do seguinte trecho de texto, responda
Verão estar dentro dele às questões de números 05.11 e 05.12
Só Arminda e mais ninguém.
CLIO
De tantas, quantas belezas 1. Escuta, filho
Os meus ternos olhos veem, 2. Eu sei, tudo isso eu sei; minha conversa
Nenhuma outra me agrada 3. É outra, Orfeu. Não é que eu seja contra
Só Arminda e mais ninguém. 4. Você gostar de Eurídice, meu filho
Estes suspiros que eu solto 5. Não tem mesmo mulata mais bonita
3
Vão buscar meu doce bem, 6. Nem melhor, neste morro – uma menina
É causa dos meus suspiros 7. Que faz gosto, de tão mimosa... mas
Só Arminda e mais ninguém. 8. Pra quê? Eu te conheço bem, Orfeu
Os segredos de meu peito 9. Eu que sou tua mãe, e não Eurídice
Guardá-los nele convém, 10. Mãe é que sabe, mãe é que aconselha
4
Guardá-los aonde os veja 11. Mãe é que vê! e então eu não estou vendo
Só Arminda e mais ninguém. 12. Que descalabro, filho, que desgraça
Não cuidem que a mim me importa 13. Esse teu casamento a três por dois
5
Parecer às outras bem, 14. Tu com essa pinta, tu com essa viola
Basta que de mim se agrade 15. Tu com esse gosto por mulher, meu filho?
Só Arminda e mais ninguém. 16. Ouve o que eu estou dizendo antes que seja
Não me alegra, ou me desgosta 17. Tarde... Não que eu me importe... Mãe é feita
Doutra o mimo, ou o desdém, 18. Mesmo para servir e pôr no lixo...
Satisfaz-me e me contenta 19. Mas toma tento, filho; não provoca
Só Arminda e mais ninguém. 20. A desunião com uma união; você
Cantem os outros pastores 21. Tem usado de todas as mulheres
Outras pastoras também, 22. Eu sei que a culpa disso não é só tua
Que eu canto e cantarei sempre 23. O feitiço entra nelas com tua música
Só Arminda e mais ninguém. 24. Mas de uma coisa eu sei, meu filho: não
(Viola de Lereno, 1980.) 25. Provoca o ciúme alheio; atenta, Orfeu
26. Não joga fora o prato em que comeste...
27. Você quer a menina? muito bem!
05.09. (UNESP – SP) – Levando em consideração o contexto
28. Fica com ela, filho... – mas não casa
da estrofe, assinale a alternativa em que a forma verbal surge
no modo imperativo. 29. Pelo amor de sua mãe. Pra que casar?
30. Quem casa é rico, filho; casa não!
a) “Vão buscar meu doce bem,” (ref. 3).
31. Quem casa quer ter casa e ter sustento
b) “Parecer às outras bem,” (ref. 5).
32. Casamento de pobre é amigação
c) “Conheço muitas pastoras” (ref. 1). 33. Junta só com a menina; casa não!
d) “Guardá-los aonde os veja” (ref. 4). Fonte: MORAES Vinícius – Orfeu da Conceição. in:
e) “Procurem meu peito bem,” (ref. 2). http://gausspet.mtm.ufsc.br/arquivos/orfeu.pdf. Acesso 08 set 2013.

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05.11. (IFSC) – Analise as seguintes proposições e marque Claro: é longe, é raro e é muito cedo, como
a soma da(s) CORRETA(S) esses espetáculos incríveis encenados domingo de
01) Orfeão e Orfeônico referem-se ao canto coletivo, ambos manhã no Sesc Belenzinho. Imagina se a aurora
são exemplos de palavras formadas pelo processo de boreal fosse nos trópicos, seis e meia da tarde? O
derivação por sufixação, sendo Orfeu a palavra primitiva. sujeito tá num táxi na avenida Atlântica, olha pro
02) Eurídice é descrita como “mulata”, palavra originalmente lado, o céu todo verde e amarelo e laranja e roxo,
atribuída ao resultado do cruzamento entre cavalos e saca o celular, faz um “selfie” [tava louco pra usar
jumentos. Neste sentido, a palavra traz em si uma carga essa palavra], posta “#vespertinatropical!!!” e se-
pejorativa relacionada ao preconceito racial. gue pra casa, satisfeito. Mas não, é pra lá da Gro-
enlândia, 4h30 AM, ninguém sabe quando: aí,
04) Conforme a norma padrão e tendo como referência o enun-
não adianta reclamar que o público é ignorante e
ciado“Não é que eu seja contra você gostar de Eurídice, meu prefere a caretice hollywoodiana de um arco-íris.
filho”(linhas 3 e 4), o autor deveria ter escrito, nas linhas 19 e
20, os seguintes versos“Mas tome tento, filho; não provoque Fosse só a aurora boreal, beleza, mas a nature-
za tá cheia de desarranjos semelhantes. Não sur-
a desunião com uma união” (linhas 19 e 20)
preende: ela foi criada há milhões de anos, nunca
08) A forma como foi utilizada a palavra “mulata” (linha 5) passou por uma revisão e ainda é administrada
por Vinícius de Moraes não deve ser entendida com pelo fundador. Se eu fosse Javé, chamava uma
conotação ofensiva. dessas consultorias especializadas em fazer a tran-
16) Vinícius optou pela alternância, em um mesmo discurso, sição de empresas familiares para organizações,
da utilização dos pronomes TU e VOCÊ, o que é perfeita- digamos, mais competitivas, e dava um choque
mente aceito pela Norma Culta. de gestão. Nem precisa gastar muito, basta alocar
melhor os recursos.
05.12. (IFSC) – Com base na leitura do texto, analise as Veja os cometas, por exemplo. Tudo espa-
seguintes proposições e marque a soma da(s) CORRETA(S). lhado por aí, nos visitam só a cada 70, cem anos,
01) Orfeu da Conceição não pode ser considerada uma peça às vezes chegam de lado, outras vezes de dia, nin-
teatral, uma vez que é escrita em versos. guém vê, baita desperdício de energia. Por que
02) Em “não joga fora o prato em que comeste” (linha 26), não otimizar essas órbitas? Fazer com que ve-
Clio faz uma alusão às mulheres com quem Orfeu se nham cinco, dez ao mesmo tempo na noite de
relacionara. Réveillon, proporcionando uma queima de fogos
global à nossa sofrida humanidade?
04) No nome “Clio” há um encontro vocálico e um dígrafo.
A gravidade é outro assunto que merece uma
08) Os seguintes verbos estão conjugados corretamente, no calibrada: tem que ser mesmo 9,8 m/s2 ? Por quê?
imperativo:“escuta”(linha 1);“ouve”(linha 16);“fica”(linha 28). Como Deus chegou a esse número? Gostaria que
16) A expressão “a três por dois” (linha 13) está utilizada para Ele abrisse as planilhas para entendermos se cada
indicar que uma terceira pessoa prejudicará o casal. m/s2 é realmente necessário. Com metade dessa
32) Em “Mãe é que sabe” (linha 10) e em “Não que eu me im- atração, nós continuaríamos colados ao chão e se-
porte” (linha 17), os termos sublinhados têm a função de, ria muito mais agradável se locomover por aí. O
respectivamente: partícula iterativa e partícula expletiva. mínimo que o Senhor poderia fazer era dar uma
amainada de dezembro a março: imagina que alí-
vio encarar esse calorão com 25% menos esforço,
Aprofundamento durante a “Gravidade de Verão”. Sem falar, óbvio,
em 50% para grávidas, idosos e cadeirantes.
Texto para a próxima questão:
Não tenho dúvida de que o Todo Poderoso
Vespertina tropical resistirá a essas e outras reformas. Criar o Uni-
verso é o tipo da coisa que infla um pouco o
Então Deus, tendo acabado de criar o firma- ego do sujeito, mas seria bom se Ele se animas-
mento e os continentes, o homem e a mulher, a se a colocar o mundo nos eixos – literalmente:
zebra, os elétrons, o umbu e a neblina, quis dar já repararam como a Terra gira toda torta, en-
um último toque em Sua obra: num arroubo de vergada como um frei Damião?
lirismo, lá pelas 17h54 do sexto dia, pintou a au-
rora boreal. É, de fato, um troço estupendo: mais Se meu pacote de sugestões não puder con-
bonito que o pôr do sol, mais improvável que a vencê-Lo pelo bom senso, quem sabe ao menos
girafa, mais grandioso que o relâmpago. Era pra uma parte cutuque a Sua vaidade? Ora, El Sha-
ser o corolário da criação, a maior atração da Ter- ddai, a aurora boreal é um negócio tão lindo, tão
ra, diante da qual casais em lua de mel deixa- grandioso, tão divino, não é justo que siga sendo
riam cair os queixos, japoneses ergueriam as exibida, ano após ano, apenas para os ursos-pola-
câmeras e mochileiros bateriam palmas, con- res, as focas e a Björk, é ou não é?
tentes por terem nascido neste planeta abençoado PRATA, Antonio. Vespertina Tropical. Folha de São Paulo. Disponível em
e multicolor, mas, infelizmente, como se sabe, a http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2014/02/1406077-
vespertina-tropical.shtml. Acesso em 21 mar. 2014
aurora boreal não pegou.

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Aula 05

05.13. (UPF – RS) – Os tempos e os modos verbais con- 05.15. (CFOAV/CFOINT/CFOINF) – Sobre a tira anterior, NÃO
tribuem para construir, no texto, determinados efeitos de se pode afirmar que
sentido. Acerca desses efeitos, afirma-se: a) a fala de São Pedro corrobora as ideias expostas no se-
I. O futuro do pretérito é usado para dar ideia de probabi- gundo quadrinho.
lidade, como ocorre em “diante da qual casais em lua de b) depreende-se um tom sarcástico nas falas dos dois
mel deixariam cair os queixos, japoneses ergueriam as interlocutores.
câmeras e mochileiros bateriam palmas”. (1o. parágrafo) c) os verbos foram flexionados no imperativo afirmativo de
II. O imperativo afirmativo contribui para construir o efeito acordo com a norma padrão.
de proximidade com o leitor, como ocorre em “Veja os d) a colocação do pronome pessoal oblíquo no segundo
cometas, por exemplo”. (4o. parágrafo) quadrinho é marca da linguagem coloquial brasileira.
III. O presente do subjuntivo é usado para dar ideia de
possibilidade de ação, como ocorre em “Fazer com que 05.16. (PUCPR) – Assinale a alternativa que preenche cor-
venham cinco, dez ao mesmo tempo”. (4o. parágrafo) retamente as lacunas:
1. O intruso já tinha sido .
Estão corretas as afirmações apresentadas em:
2. Não sabia se já haviam a casa.
a) I, II e III. 3. Mais de uma vez lhe haviam a vida.
b) I e II apenas. 4. A capela ainda não havia sido .
c) II e III apenas. a) expulsado, coberto, salvo, benzida.
d) I apenas. b) expulso, cobrido, salvo, benzida.
e) III apenas. c) expulsado, cobrido, salvado, benta.
d) expulso, coberto, salvado, benta.
05.14. (FGV – SP) – Assinale a alternativa em que é INCOR-
RETO o uso do particípio regular ou irregular. e) expulsado, cobrido, salvo, benzida.
a) Não haveria mais o que discutir, pois o mancebo havia Texto para a próxima questão:
entregado o livro para Íris.
b) Aquiles sentiu um puxão nas fraldas da camisa, que PREFÁCIO
estavam soltas. O ajudante do delegado aproximou-se e São os primeiros cantos de um pobre poeta.
cochichou que ele seria solto em poucos minutos. Desculpai-os. As primeiras vozes do sabiá não
c) Era verdade que a fruta parecia passada, que recendia a têm a doçura dos seus cânticos de amor.
podre. Lozardo provocou o pároco, mas percebeu que É uma lira, mas sem cordas; uma primavera,
mas sem flores; uma coroa de folhas, mas sem viço.
logo todas as luzes seriam acesas. Afastou-se da fruteira.
Cantos espontâneos do coração, vibrações do-
d) A lei tinha já extinto qualquer penalidade para aquele ato, ridas da lira interna que agitava um sonho, notas
que não mais era considerado ilícito. que o vento levou, – como isso dou a lume essas
e) José Américo tinha soltado o freio da motocicleta, para harmonias.
evitar acidente maior. Mesmo assim, as consequências da São as páginas despedaçadas de um livro não
queda foram bastante sérias. lido...
E agora que despi a minha musa saudosa dos
véus do mistério do meu amor e da minha solidão,
agora que ela vai seminua e tímida por entre vós,
derramar em vossas almas os últimos perfumes de
seu coração, ó meus amigos, recebei-a no peito, e
amai-a como o consolo que foi de uma alma es-
perançosa, que depunha fé na poesia e no amor
– esses dois raios luminosos do coração de Deus.
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. In: Obra completa. Organização de Alexei
Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. p. 120.

05.17. (UFG – GO) – No prefácio, a cena enunciativa coloca


o autor e o leitor em um mesmo tempo e espaço. Quais ele-
mentos linguísticos contribuem para esse efeito no diálogo?
a) As vozes em terceira pessoa e a palavra “primavera”.
b) Os enunciados negativos e o termo “lira”.
c) As orações adversativas e o substantivo “poeta”.
vidadesuporte.com.br d) Os argumentos explicativos e o adjetivo “pobre”.
e) As frases imperativas e o advérbio “agora”.

Português 3A 7
05.18. (UEM – PR) – Assinale o que for correto a respeito dos elementos linguísticos do texto acima.
01) No trecho “Lembre-se de como você era e de como foi tratado pelos adultos”, o vocábulo “você” é um elemento coesivo,
cujo sentido só pode ser recuperado se for retomada a sentença imediatamente posterior e se for verificado o elemento
ao qual “você” está fazendo referência.
02) Nas frases “Olhe pelo retrovisor”, “Mantenha os faróis ligados” e “Use as setas”, os verbos em negrito são conjugados no
modo imperativo, uma vez que esse modo verbal tem a função de indicar atos sobre os quais se exige cumprimento.
04) Na frase “Você deve dizer explicadinho o porquê”, a opção por “dizer explicadinho”, em vez de “explicar”, provoca o efeito
de sentido de que é preciso não meramente explicar, mas explicar com detalhes às crianças os motivos pelos quais são
repreendidas.
08) Na frase “Lembre-se de como você era e de como foi tratado pelos adultos”, o vocábulo em negrito é equivalente a “tu”.
Apesar de fazer referência à segunda pessoa, o vocábulo “você” exige que o verbo que o acompanha seja conjugado na
terceira pessoa, diferente do “tu”, que exige o verbo conjugado na segunda pessoa.
16) Na frase “Uma boa conversa pode ser melhor que um castigo daqueles.”, a combinação da preposição “de” com o prono-
me demonstrativo “aqueles” é utilizada conotativamente, ou seja, não é tomada em seu sentido literal, mas sim com seu
sentido modificado, a fim de provocar um efeito particular: funciona como um advérbio de intensidade e equivale a um
“castigo de grandes dimensões”.

8 Semiextensivo
Aula 05

Discursivos
Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.

Nem me reveles teus sentimentos,


que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras.


Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.

Chega mais perto e contempla as palavras.


Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
(Carlos Drummond de Andrade, Procura da poesia).

05.19. (UFSCAR – SP) – Leia novamente o poema de Drummond e responda:


a) Que modo verbal caracteriza e domina a construção desse poema? Por quê?

b) Qual é o significado da pergunta “Trouxeste a chave?”, no último verso do trecho apresentado?

Português 3A 9
05.20. (FUVEST – SP) – Leia o trecho de uma canção de Cartola, tal como registrado em gravação do autor.

(...)
Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho
Vai reduzir as ilusões a pó

Preste atenção, querida


De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés
Cartola, “O mundo é um moinho”.

a) Na primeira estrofe, há uma metáfora que se desdobra em outras duas. Explique o sentido dessas metáforas.

b) Caso o autor viesse a optar pelo uso sistemático da segunda pessoa do singular, precisaria alterar algumas formas verbais.
Indique essas formas e as respectivas alterações.

Gabarito
05.01. d 05.19. a) O modo verbal predominante no 05.20. a) A metáfora inicial é representada pelo
05.02. e texto é o modo imperativo, dado o trecho “, o mundo é um moinho,”. Essa
05.03. c caráter instrucional do texto. Como metáfora se desdobra em duas outras:
05.04. e o texto funciona como uma série de “Vai triturar teus sonhos tão mesqui-
05.05. c instruções sobre como um pretenso nhos,” e “Vai reduzir as ilusões a pó.”.
05.06. b poeta deve proceder na construção A utilização dos verbos “triturar” e
05.07. e de um poema (metapoesia). “reduzir a pó” retomam e reforçam a
05.08 a b) Uma análise possível para o verso metáfora inicial: “o moinho”. O sentido
05.09. e “Trouxeste a chave?” é a de que, para global das metáforas é a destruição
05.10. b penetrar “surdamente no reino das dos sonhos, é a morte das fantasias.
05.11. 15 (01, 02, 04, 08) palavras”, o poeta deve estar prepa- b) Caso o autor se utilizasse do tra-
05.12. 10 (02, 08) rado, deve estar munido de sensi- tamento “tu” (segunda pessoa do
05.13. a bilidade bastante para transformar singular), deveriam ser alteradas as
05.14. d simples palavras em sentimento. formas “Ouça-me” e “Preste”, nas duas
05.15. c Com “Trouxeste a chave?”, o poeta ocorrências (estas três formas verbais
05.16. d questiona se o pretenso poeta está no imperativo dizem respeito ao tra-
05.17. e pronto para exercitar a difícil arte da tamento de terceira pessoa “você”)
05.18. 30 (02, 04, 08, 16) poesia. para “Ouve-me” (tu) e “Presta” (tu).

10 Semiextensivo
Português
Aula 06 3A
Verbo e variantes linguísticas

Ah, quem me dera


Ir-me contigo agora
A um horizonte firme, comum
Embora
Ah, quem me dera amar-te
Sem mais ciúmes
De alguém em algum lugar
Que nem presumes

Ah, quem me dera ver-te


Sempre a meu lado
Sem precisar dizer-te
Jamais cuidado
Ah, quem me dera ter-te
Como um lugar
Plantado num chão verde
Para eu morar-te

Ah, quem me dera ter-te


Morar-te até morrer-te
O mais-que-perfeito
Jards Macalé / Vinicius de Moraes

DKO Estúdio. 2016. Digital.

Português 3A 11
Verbo e as variantes culta e Correlação de modos e
popular, formal e informal tempos e as variantes
Assim como ocorre com outras classes gramaticais, Na frase “Se eu tivesse tempo, estudava”, à primeira
também o verbo pode sofrer interferências com relação vista, há uma inadequação ao português culto em sua
à variante linguística utilizada pelo falante do português. modalidade formal e escrita. Num primeiro raciocínio,
É comum que o falante pouco ou nada escolarizado, seria adequada a transformação para “Se eu tivesse
usuário do português popular, num momento de ab- tempo, estudaria.”.
soluta informalidade ou distração, faça uso de formas Mas que dizer se a frase tivesse sido escrita pelo
verbais reprovadas pelo padrão culto escrito da língua. mestre Machado de Assis: “Se possuísse os aparelhos
Quando o falante diz, por exemplo, “Eu me manti à próprios, incluía neste livro uma página de química...”? E
direita.”, “Eles conviram comigo e não brigamos.”, “Se então, a frase em questão ainda mereceria reparos? Pos-
ele interposse o recurso, ganharia a causa.”, usa formas sivelmente, não. E não se trata aqui de uma variante de
não aceitas pela língua-padrão, ainda que sonoramente época – é a linguagem do tempo de Machado de Assis,
essas formas pareçam aceitáveis. mas sim de se perceber que nessa construção Machado
de Assis faz uso do pretérito imperfeito do indicativo
As formas destacadas acima não estão em conformi-
com valor de futuro do pretérito do indicativo. Assim, é
dade com o português culto em sua modalidade escrita,
de uso culto e formal a utilização de incluía em vez de
visto que os verbos manter, entreter e interpor são
incluiria. Por vezes, a correlação de tempos e modos não
verbos derivados respectivamente de ter, vir e pôr e,
deve ser tão rígida e pode, sim, permitir certas variações
sendo assim, devem ser conjugados de maneira idêntica
quando o texto apresenta uma linguagem literária.
aos verbos primitivos. Assim, se o pretérito perfeito do
indicativo de ter é eu tive, o verbo manter será “Eu me Voltando, no entanto, a frase que abre este ques-
mantive à direita.”; se o pretérito perfeito do indicativo tionamento, “Se eu tivesse tempo, estudava.”, pode-se
de vir é eles vieram, o verbo convir será “Eles convieram afirmar que seu uso no dia a dia é marca de português,
comigo e não brigamos.”; se o pretérito imperfeito do utilizado, por exemplo, pela criança pouco ou nada
subjuntivo de pôr é pusesse, então o verbo interpor será escolarizada, ou pelo usuário do português culto num
“Se ele interpusesse o recurso, ganharia a causa.”. momento de absoluta informalidade e apenas num
texto oral.
Não basta, no entanto, identificar a inadequação
e corrigi-la. Em tempos em que a língua portuguesa
deve ser questionada, vale perguntar por que razão O pretérito mais-que-per-
isso acontece, às vezes até mesmo com falantes bem
escolarizados. E a resposta é relativamente simples, o
feito e as variantes
falante trata verbos irregulares como manter, convir e Alguns modernos (ou modernosos) estudiosos da
interpor como se fossem verbos regulares e não como língua portuguesa parecem ter decretado o fim do tem-
irregulares, o que de fato são. Claro que o paradigma po pretérito mais-que-perfeito do indicativo ao afirmar
regular dos verbos é bastante presente na memória que ninguém mais usa construções tais como: “Quando
do falante e, dessa forma, ele acaba por tratar verbos entrei na sala, ele já saíra.”. Esse tema, no entanto, mere-
irregulares como se fossem verbos regulares. Se colher, ce algum debate.
é colhi; se vender, é vendi; se entender, é entendi; en- Está claro que num português informal e oral a
tão manter é manti e assim por diante. O pensamento maioria dos falantes prefere: “Quando entrei na sala, ele
mais rápido e natural do falante é o modelo regular e, já tinha saído.”. Trata-se, sem dúvida, de duas possibili-
por transferência, acaba por aplicar o modelo regular a dades e as duas devem ser aceitas, conforme se queira
verbos irregulares. dar à construção uma carga maior (com a forma simples
É interessante observar ainda que, por vezes, o usuá- – saíra) ou menor (com a forma composta – tinha ou
rio do português culto que na modalidade oral faz uso havia saído) de formalidade.
da forma verbal como “Eles deteram o inimigo”, jamais o Não é o caso, no entanto, de morte ao pretérito
faria na modalidade escrita. Pode, portanto, ocorrer que mais-que-perfeito simples. O pretérito mais-que-per-
na linguagem oral e informal saia o “deteram”, o que não feito, como comumente definido, é o tempo verbal que
ocorreria quando o falante usa a modalidade escrita e traduz um fato passado anterior a outro fato também
mais formal. passado, é o pretérito mais pretérito que o passado, é

12 Semiextensivo
Aula 06

o pretérito mais velho que o pretérito perfeito. “Quando do ginásio multidisciplinar da Universidade Estadual
entrei (pretérito perfeito) na sala, ele já saíra (pretérito de Campinas (...)”. Percebe-se no confronto entre as
mais-que-perfeito).” duas notícias um uso diferenciado do pretérito perfeito.
Não é mesmo o caso de morte ao pretérito mais- Neste último caso, usa-se o pretérito perfeito simples, e,
-que-perfeito simples, pois seu uso continua frequente no primeiro caso, o composto. É o tempo, a variante de
em textos de bom nível, literários ou não. Desde a boa época determinando usos linguísticos distintos.
crônica esportiva, que no passado dizia: “Lá vai o Ademir Modernamente, o uso do pretérito perfeito confe-
da Guia, como se fora ponteiro...”, passando por bons riria à comunicação um outro valor. Por exemplo, em:
letristas da MPB, como Gonzaguinha em: “Como se fora “Tenho tido muitos problemas de saúde.”, o valor da
brincadeira de roda...” e até clássicos da literatura, como comunicação é que tive problemas no passado e sigo
Camões em: “E, se mais mundo houvera, lá chegara.” tendo até hoje. Sem dúvida, é o tempo agindo sobre a
Usaram e usam o pretérito mais-que-perfeito simples, língua e modificando-a.
conferindo a seus textos uma beleza e uma qualidade
ímpares.
Acima de tudo, é relevante lembrar que, nesses três
O gerúndio, o gerundismo
casos citados, o pretérito mais-que-perfeito tem uso di- e as variantes
ferenciado. Nesses casos, o pretérito mais-que-perfeito
Vejam-se a seguir duas construções:
não tem valor de ação passada anterior a outra ação
passada, mas sim, respectivamente, de pretérito imper- 1. Amanhã, às 14 horas, quando você estiver na escola,
feito do subjuntivo: “Lá vai o Ademir da Guia, como se eu vou estar viajando para São Paulo.
fosse ponteiro...”, “Como se fosse brincadeira de roda...”,
2. Amanhã vou estar viajando para São Paulo.
“E, se mais mundo houvesse, lá chegara” e de futuro do
pretérito do indicativo: “E, se mais mundo houvesse, lá A primeira faz uso do gerúndio, é construção legíti-
chegaria”. É incontestável que esses usos dão beleza e ma e está em conformidade com o português-norma.
qualidade a textos escritos e formais. Se não fosse assim, Existem ocasiões em que a soma de ir + estar + gerúndio
não seria possível reconhecer a grande beleza do trecho não é problema, quando se quer enunciar um fato que
da canção “O Estrangeiro”, de Caetano Veloso: “E eu? Me- ocorrerá no futuro e que deverá ocorrer concomitante-
nos a conhecera, mais a amara?”, em que o compositor mente a outra ação também futura.
baiano, ao referir-se à Baía de Guanabara, quer dizer: A segunda, por sua vez, faz uso do chamado gerun-
“E eu? Menos a conhecesse, mais a amaria?” ou dismo, vício moderno. É inadequado seu uso nessas
ainda: “E eu? Se eu a conhecesse menos, eu a amaria circunstâncias, já que não está sendo usado dentro de
mais?”. Então, viva o pretérito mais-que-perfeito! um contexto que o torna legítimo e necessário e é usado
para um objetivo que o português-norma não lhe con-
fere, o da simultaneidade com outro fato. Segundo ver-
O pretérito perfeito e as sões de alguns estudiosos contrários a sua utilização, o
variantes de época gerundismo é produto de traduções incorretas do inglês
para o português em cursos de telemarketing efetivados
Em 29 de novembro de 1895, o jornal O Estado de por quem não detinha conhecimentos bastantes nas
S. Paulo publicou a seguinte notícia: “Constantinopla – duas línguas. Assim, um texto como “We’ll be sending
Tem havido no Mar Negro grande tempestade, naufra- it tomorrow.” Transformou-se, por obra de versão maldi-
gando grande número de embarcações. Até agora o mar gerida, em “Nós vamos estar mandando isso amanhã.”. É
tem arrojado à praia mais do 80 cadáveres, que estão lamentável seu uso indiscriminado e sua disseminação,
sendo recolhidos.”. Nessa nota, reproduzida na seção “ Há via fones de telemarketing, entre vendedores, bancários
um século”, é possível notar um uso não comum nos dias e funcionários em geral. O gerundismo fere as boas
atuais. Nesse caso, é notório o uso do pretérito perfeito tradições da língua portuguesa, cuja complexidade per-
do indicativo composto, o que não é usual no português mite distinguir o gerúndio, em construções eficientes
contemporâneo. No português dos dias atuais, seria e adequadas, nas quais se quer destacar a ação como
utilizada a forma simples: “Houve no Mar Negro grande presente e com tendência continuativa, como em: “Eu
tempestade (...) Até agora o mar arrojou à praia mais de estou estudando.” ou “A pintura da parede está ficando
80 cadáveres (...)”. Sem dúvida, trata-se de uma variante bacana.” Do gerundismo, truncamento linguístico
de época, de uso típico da língua há cem anos. ineficaz e desnecessário, que, como possuidor do sufixo
O mesmo jornal publicou em 25 de novembro de “ismo”, traz a ideia de vício, mau uso, mania. E isso, infe-
1995: “Campinas – Um tornado com ventos de 180 lizmente, não “vai estar trazendo” qualquer benefício à
quilômetros por hora destruiu anteontem a cobertura comunicação.

Português 3A 13
Testes
e) anterioridade da ações, visto que a personagem se dirige
Assimilação a Constança antes de se bonitar.
Esse texto do século XVI reflete um momento de ex- 06.03. (ACAFE – SC) – Leia as frases a seguir:
pansão portuguesa por vias marítimas, o que demandava a
I. Amanhã vou viajar, graças a Deus!
apropriação de alguns gêneros discursivos, dentre os quais
a carta. Um exemplo dessa produção é a Carta de Caminha II. O que devo fazer se a máquina reter o cartão?
a D. Manuel. Considere a seguinte parte desta carta: III. Você me mandou os copos que te pedi?
IV. Partiu há duas semanas e voltará daqui a três meses.
Nela [na terra] até agora não pudemos saber que V. Ao meio dia em ponto, os manisfestantes chegaram no
haja ouro nem prata... porém a terra em si é de centro da cidade.
muito bons ares assim frios e temperados como VI. Moro na rua Ricardo Xavier esquina com a Mesquita.
os de Entre-Doiro-e-Minho. Águas são muitas e Analisando as expressões destacadas, as frases com caracte-
infindas. E em tal maneira é graciosa que queren- rísticas do português coloquial estão na alternativa:
do-a aproveitar, dar-se-á nela tudo por bem das
águas que tem, porém o melhor fruto que nela se a) III – V – VI
pode fazer me parece que será salvar esta gente e b) II – III – VI
esta deve ser a principal semente que vossa alteza c) I – IV – V – VI
em ela deve lançar. d) III – VI
e) I – II – III – V
06.01. (IFSP) – O verbo sob destaque no trecho –... até agora
não pudemos saber que haja ouro nem prata...- sinaliza a 06.04. (ESPM – SP) – Em sua coluna dIária no jornal “Folha
seguinte intenção do escrevente: de S. Paulo” o escritor e ensaísta Carlos Heitor Cony comenta
a) por meio do modo subjuntivo, evidenciar uma constatação. sobre o fato de a cidade do Rio de Janeiro possuir duas datas
de aniversário: 20 de janeiro e 1.o de março. E afirma: “Como
b) por meio do modo subjuntivo, evidenciar uma insatisfação.
carioca radical e livre (estão em moda os radicais livres),
c) por meio do modo subjuntivo, evidenciar uma incerteza. gosto de comemorar as duas datas como se fossem uma
d) por meio do modo indicativo, evidenciar uma convicção. só – e mais HOUVERA pretexto, mais comemoraria.” A forma
e) por meio do modo indicativo, evidenciar uma hipótese. verbal destacada:
a) Traduz a ideia de condição e equivale ao pretérito mais
06.02. (UEL – PR) – Leia o texto a seguir. que perfeito composto TINHA HAVIDO.
b) Traduz ideia de condição e equivale ao pretérito imper-
– Por que se demorou tanto na casa de banho?
feito do subjuntivo HOUVESSE.
– Demorei, eu? Despachei-me enquanto o diabo
c) Traduz ideia de desejo e equivale ao presente do sub-
esfregava o olho!
juntivo HAJA.
– Esteve a cortar a unhas, eu bem escutei. [...]
d) Traduz ideia de concessão e equivale ao futuro do sub-
– Diga-se de paisagem, Constança: eu estava me juntivo HOUVER.
bonitando para si. e) Traduz ideia de concessão e equivale ao pretérito imper-
– Para mim? feito do subjuntivo HOUVESSE.
(COUTO, Mia. O outro pé da sereia. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. P.229)
06.05. O delegado perguntou quem quebrara a vidraça.
O trecho em negrito revela A frase acima contém uma pergunta expressa em discurso
indireto. Se a mesma questão fosse apresentada em discurso
a) início da ação, uma vez que aponta para o estado da
direto, a forma verbal grifada deveria ser:
personagem, expresso pelo verbo “estava”.
a) quebrava;
b) continuidade da ação, pois apresenta um evento prolon-
gado, expresso pelo verbo “bonitando”. b) quebrou;
c) momento da ação, já que ela é posterior ao momento da c) tem quebrado;
fala, revelado pelo discurso direto. d) havia quebrado;
d) simultaneidade de ações, pois, enquanto fala com Cons- e) haveria de quebrar.
tança, a personagem vai se “bonitando”.

14 Semiextensivo
Aula 06

06.08. (ITA – SP) – Leia os textos a seguir, de Oswald de Andrade, extraídos de


Aperfeiçoamento Poesias reunidas (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978).
06.06. (UNAERP – SP) – Os enun-
ciados produzidos em situações de Vício na fala Pronominais
comunicação apresentam uma inten- Para dizerem milho dizem mio Dê-me um cigarro
cionalidade, que está relacionada à Para melhor dizem mió Diz a gramática
situação. Dos textos abaixo, assinale Para pior pió Do professor e do aluno
em qual prevalece a função conativa Para telha dizem teia E do mulato sabido
da linguagem: Para telhado dizem teiado Mas o bom negro e o bom branco
a) Houve tempo em que expressões E vão fazendo telhados Da Nação brasileira
de cunho religioso, que invocavam Dizem todos os dias
a proteção divina, eram empre- Deixa disso camarada
gadas pelas pessoas ao se encon- Me dá um cigarro
trarem.
b) Conheça uma vista melhor que a de Esses poemas
seu apartamento. I. mostram claramente a preocupação dos modernistas com a construção de uma
c) a noite literatura que levasse em conta o português brasileiro.
me pinga uma estrela no olho II. mostram que as variantes linguísticas, ligadas a diferenças socioeconômicas, são
e passa (Paulo Leminski). todas válidas.
d) Alô! Alô, marciano, III. expõem a maneira cômica com que os modernistas, por vezes, tratavam de
Aqui quem fala é da assuntos sérios.
Terra... (Rita Lee)
IV. possuem uma preocupação nacionalista, ainda que não propriamente romântica.
e) O sedentarismo, as dietas ricas em
gordura e o excesso de peso fun- Estão corretas
cionam como poderosos gatilhos a) I e IV. b) I, II e III. c) I, II e IV. d) I, III e IV. e) Todas.
para o aparecimento do câncer de
mama – com ou sem risco genético. 06.09. (PUCRS) – Um motorista insensível, porém atento às regras de concordância
da linguagem culta, deveria dizer à criança que o abordou na esquina:
06.07. Um dos fatores de coerência
a) Afasta, menina. Tu não vês que a sinaleira já abriu?
textual é a uniformidade de tratamen-
to. Assinale o texto que NÃO respeita b) Afaste-se, menina. Tu não vês que a sinaleira já abriu?
esse fator. c) Afasta, menina. Você não vê que a sinaleira já abriu?
a) Desliguem o celular durante as au- d) Afaste, menina. Tu não vê que a sinaleira já abriu?
las – ou em lugares públicos, como e) Se afasta, menina. Você não vê que a sinaleira já abriu?
o cinema. Depois vocês acessam a
caixa postal e pegam a mensagem. 09.10. (UEG –GO) –
b) Desligai o celular durante as aula
– ou em lugares públicos, como o
cinema. Depois vós acessais a caixa
postal e pegais a mensagem.
c) Desliga o celular durante as aulas
– ou em lugares públicos, como o
cinema. Depois tu acessas a caixa
postal e pegas a mensagem.
d) Desligue o celular durante as aulas Na tirinha, a locutora utiliza o imperativo verbal para desafiar seu interlocutor a lhe
– ou em lugares públicos, como o apresentar uma prova de amor. Essas formas imperativas apresentam um caso de
cinema. Depois tu acessas a caixa variação na pessoa do verbo, tendo a seguinte configuração:
postal e pegas a mensagem.
a) “mate” e “peça” são formas de 2.a pessoa que derivam do presente do modo
e) Desliguemos o celular durante a indicativo e se correlacionam ao pronome de 2.a pessoa “tu”.
saulas – ou em lugares públicos,
b) “prova” e “coloca” são formas de 3.a pessoa que derivam do presente do modo
como o cinema. Depois nós aces-
indicativo e se correlacionam ao pronome de 3.a pessoa “você”.
samos a caixa postal e pegamos a
mensagem. c) “prova” e “coloca” são formas de 2.a pessoa correlacionadas ao pronome “tu”;
“mate” e “peça” são formas de 3.a pessoa correlacionadas ao pronome “você”.
d) “mate” e “peça” são formas de 2.a pessoa correlacionadas ao pronome “tu”; “prova
e “coloca” são formas de 3.a pessoa correlacionadas ao pronome “você”.
Português 3A 15
A questão a seguir refere-se ao fragmento de Capitães 06.12. (UFSC) – Considere os textos a seguir:
da Areia reproduzido abaixo.
I. “Conversam o carcereiro e o assassino de alta
O TRAPICHE periculosidade. Carcereiro:
SOB A LUA, NUM VELHO TRAPICHE ABAN- – E agora, o que vai fazer?
DONADO, as crianças dormem. – Matar o tempo”
Antigamente aqui era o mar. Nas grandes e II. “Na guerra, o general estimula seus soldados
negras pedras dos alicerces do trapiche as ondas antes da grande batalha:
ora se rebentavam fragorosas, ora vinham se bater – Não esqueçam, ao avistar o inimigo, pense
mansamente. A água passava por baixo da pon- logo no lema de nossa tropa: Ou mato ou morro.
te sob a qual muitas crianças repousam agora, Dito e feito. Quando encontraram os inimigos,
iluminadas por uma réstia amarela de lua. Desta metade do batalhão correu para o mato, e o
ponte saíram inúmeros veleiros carregados, al- restante para o morro.”
guns eram enormes e pintados de estranhas cores,
para a aventura das travessias marítimas. Aqui vi- III.Não se deixe explorar pela concorrência! Com-
nham encher os porões e atracavam nesta ponte pre na nossa loja.
de tábuas, hoje comidas. Antigamente diante do ILRI, Rodolfo. “Introdução à semântica: brincando com a gramática”.
São Paulo: Contexto, 2001. P. 81; 104; 89
trapiche se estendia o mistério do mar oceano, as
noites diante dele eram de um verde escuro, qua-
se negras daquela cor misteriosa que é a cor do Assinale a(s) proposição(ões) CORRETA(S).
mar à noite. 01) O elemento responsável pelo resultado humorístico o
Hoje a noite é alva em frente ao trapiche. É texto I é a quebra de expectativa do interlocutor em
que na sua frente se estende agora o areal do cais relação ao sentido do verbo “matar” usado pelo assassi-
do porto. Por baixo da ponte não há mais rumor no; no texto II, a graça está na confusão provocada pela
de ondas. A areia invadiu tudo, fez o mar recu- mudança de classe gramatical e de sentido das palavras
ar de muitos metros. Aos poucos, lentamente, a “mato” e “morro”.
areia foi conquistando a frente do trapiche. Não 02) No texto II, a expressão “dito e feito” indica que os sol-
mais atracaram na sua ponte os veleiros que iam dados corresponderam plenamente à expectativa do
partir carregados. Não mais trabalharam ali os ne-
general quanto às atitudes da tropa sob seu comando.
gros musculosos que vieram da escravatura. Não
mais cantou na velha ponte uma canção o mari- 04) Tanto o sujeito de “conversam”, no texto I, como o sujeito
nheiro nostálgico. A areia se estendeu muito alva de “deixe”, no texto III, é indeterminado.
em frente ao trapiche. E nunca mais encheram de 08) No texto I “vai fazer” é uma forma alternativa de “fará” para
fardos, de sacos, de caixões, o imenso casarão. Fi- indicar o tempo futuro do presente.
cou abandonado em meio ao areal, mancha negra 16) Os três textos apresentam verbo no modo imperativo.
na brancura do cais.
AMADO, Jorge. Capitães da Areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. P. 25
Aprofundamento
Leia o texto que segue para resolver a questão 12.13.
06.11. (UFRN) – Em relação aos tempos verbais presentes
no fragmento, o narrador emprega
a) o pretérito perfeito e o presente, tempos básicos da POEMA DESENTRANHADO DA HISTÓRIA
DOS PARTICÍPIOS
narração, para simular a presença do leitor na realidade
degradante do trapiche. [...]
b) o pretérito imperfeito e o presente no trechos narrativos, A partir do século XVI os verbos ter e haver esva-
para construir uma imagem decadente do trapiche. [ziaram-se de sentido
c) o pretérito perfeito e o presente, tempos básicos da des- Para se tornarem exclusivamente auxiliares
crição, para relatar o processo contínuo, do passado até E os particípios passados
o presente, de invasão da areia no trapiche. Adquirindo em consequência um sentido ativo
d) o pretérito imperfeito e o presente nos trechos descritivos, Imobilizaram-se para sempre em sua forma inde-
para construir duas imagens do trapiche contrastantes [clinável.
ente si.
MORAES, Vinicius de. “Nova antologia poética“.
São Paulo: Companhia das Letras, 2005,
p. 220.

16 Semiextensivo
Aula 06

06.13. (UFSC) – Com base no TEXTO, assinale a(s) proposi- 06.14. (UERJ) – A memória expressa pelo enunciador do
ção(ões) CORRETA(S). texto não pertence somente a ele. Na construção do poema,
01) O poema faz menção ao uso de “ter” e haver” como essa ideia é reforçada pelo emprego de:
verbos auxiliares na Língua Portuguesa, conforme os a) tempo passado e presente
que aparecem em destaque nas sentenças: Eles TINHAM b) linguagem visual e musical
tido muitos amigos na infância e O inspetor não HAVIA c) descrição objetiva e subjetiva
falado sobre o caso. d) primeira pessoa do singular e do plural
02) No poema, o vocábulo “adquirindo” (verso 5) é um
exemplo de verbo no particípio, uma vez que não se O texto que segue é base para a questão 12.15.
flexiona em relação ao sujeito da frase, “os particípios
passados” (verso 4). Não era feio o lugar, mas não era belo. Tinha,
04) Os versos 5 e 6 do poema citam duas características do entretanto, o aspecto tranquilo e satisfeito de
particípio usado como auxiliar: o fato de terem sentido quem se julga bem com a sua sorte.
ativo e de não sofrerem flexão. A casa erguia-se sobre um socalco, uma espé-
08) Quando, no segundo verso, o poeta diz que “os verbos cie de degrau, formando a subida para a maior
ter e haver esvaziaram-se de sentido”, ele faz referência a altura de uma pequena colina que lhe corria nos
sentenças do tipo “Tem alguém aí?” e “Houve um grande fundos. Em frente, por entre os bambus da cerca,
show ontem à noite”. olhava uma planície a morrer nas montanhas que
16) Pode-se inferir a partir do texto que, do século XVI em se viam ao longe; um regato de águas paradas e
diante, os verbos “ter” e “haver” são utilizados exclusiva- sujas cortava-as paralelamente à testada da casa;
mais adiante, o trem passava vincando a planície
mente para formar a voz passiva, já que o sentido ativo
com a fita clara de sua linha campinada [...].
é mantido pelo verbo principal.
BARRETO, Lima. Triste fim do Policarpo Quaresma.
32) Segundo o poema, os particípios passaram a ser respon- São Paulo: Penguin & Companhia das Letras. p.175.
sáveis pelo sentido, uma vez que os verbos ”ter” e “haver”
tornaram-se “exclusivamente auxiliares” (verso 3).
Texto para a questão 12.14. 06.15. (UEG – GO) – Com relação ao tempo narrativo, nota-
-se que a utilização do pretérito imperfeito
CANÇÃO DO VER a) aproxima o material narrado do universo contemporâneo
do leitor.
Fomos rever o poste.
b) confere ao texto um caráter dual, que oscila entre o lírico
O mesmo poste de quando a gente brincava de e o metafórico.
pique e de esconder.
c) faz com que o tempo da narrativa se distancie, até certo
¹Agora ele estava tão verdinho! ponto, do tempo do leitor.
O corpo recoberto de limo e borboletas. d) torna o texto mais denso de significação, na medida em
Eu quis filmar o abandono do poste. que institui lacunas temporais.
O seu estar parado.
O seu não ter voz. Leia o texto a seguir e responda à questão 06.16.
O seu não ter sequer mão para pronunciar com
V – O samba
as mãos.
À direita do terreiro, adumbra-se* na escuridão
Penso que a natureza o adotara em árvore.
um maciço de construções, ao qual às vezes recor-
Por que eu bem cheguei de ouvir arrulos1 de tam no azul do céu os trêmulos das labaredas fusti-
passarinhos que um dia teriam cantado entre gadas pelo vento.
suas folhas.
(...)
Tentei transcrever para flauta a ternura dos
arrulos. É aí o quartel ou quadrado da fazenda, nome
que tem um grande pátio cercado de senzalas, às
Mas o mato era mudo. vezes com alprendrada corrida em volta, e um ou
Agora o poste se inclina para o chão – como dois portões que o fecham como praça d’armas.
alguém que procurasse o chão para repouso.
Em torno da fogueira, já esbarrondada pelo
Tivemos saudades de nós. chão, que ela cobriu de brasido e cinzas, dan-
BARROS, Manoel de. Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010. çam os pretos o samba com um frenesi que toca
o delírio. Não se descreve, nem se imagina esse
¹Arrulos – canto ou gemido de rolas e pombas

Português 3A 17
desesperado saracoteio, no qual todo o corpo es- os que no antecederam e com os quais convive-
tremece, pula, sacode, gira, bamboleia, como se mos atualmente. Vozes daqueles que construíram
quisesse desgrudar-se. os significados das coisas, que atribuíram a elas
Tudo salta, até os crioulinhos que esperneiam um sentido ou um valor semiológico. Vozes que
no cangote das mães, ou se enrolam nas saias das pressupõem papéis sociais de quem as emite; que
raparigas. Os mais taludos viram cambalhotas e expressam visões, concepções, crenças, verdades
pincham à guisa de sapos em roda do terreiro. Um e ideologias. 14Vozes, portanto, que, partindo das
desses corta jaca no espinhaço do pai, negro forni- pessoas em interação, significam expressão de
do, que não sabendo mais como desconjuntar-se, sus visões de mundo e, ao mesmo tempo, criação
atirou consigo ao chão e começou de rabanar como dessas mesmas visões.
7
um peixe em seco. (...) A língua é, assim, um grande ponto de encontro;
José de Alencar, Til. de cada um de nós, com os nossos antepassados,
com aqueles que, de qualquer forma, fizeram e
(*) “adumbra-se” = delineia-se, esboça-se. fazem a nossa história. Nossa língua está embu-
tida na trajetória de nossa memória coletiva. Daí,
06.16. (FUVEST – SP) – Na composição do texto, foram 4
o apego que sentimos à nossa língua, ao jeito de
usados, reiteradamente, falar de nosso grupo. Esse apego é uma forma de
I. sujeitos pospostos; selarmos nossa adesão a esse grupo.
8
II. termos que intensificam a ideia de movimento; Tudo isso porque linguagem, língua e cultura
III. verbos no presente histórico. são, reiteramos, realidades indissociáveis.
9
Está correto o que indica em É nesse âmbito que podemos surpreender as
a) I, apenas. b) II, apenas. c) III, apenas. raízes do processo de construção e expressão de
nossa identidade ou, melhor dizendo, de nossa
d) I e II, apenas. e) I, II e III
pluralidade de identidades. É nesse âmbito que
Texto para as próximas duas questões: podemos ainda experimentar o sentimento de
partilhamento, de pertença, de ser gente de algum
lugar, e ser pessoa que faz parte de determinado
¹Em qualquer língua, de qualquer época, desde
grupo. Quer dizer, pela língua afirmamos: temos
que em uso, ocorreram mudanças em todos os
território; não somos sem pátria. Pela língua, en-
estratos, em todos os níveis, o que significa dizer
fim, recobramos uma identidade.
que, naturalmente, ¹²qualquer língua manifesta-
-se num conjunto de diferentes falares, que aten- ANTUNES, Irandé. Língua, texto e ensino. Outra escola possível.
São Paulo: Parábola, 2009, p.22-23.
dem às exigências dos diversos contextos de uso
dessa língua. 10Pensar numa língua uniforme, fa-
lada em todo canto e em toda hora do mesmo
jeito, é um mito que tem trazido consequências 06.17. (UPE – PE) – No texto, a reiteração de itens lexicais,
desastrosas para a autoestima das pessoas (princi- um dos importantes recursos da coesão textual, está pre-
palmente daquelas de meios rurais ou de classes sente, também por meio da retomada por sinonímia. Isso
sociais menos favorecidas) e que tem confundido, ocorre, por exemplo, entre os segmentos sublinhados em:
há séculos, os professores de língua. a) ”Em qualquer língua, de qualquer época, desde que em
5 uso, ocorreram mudanças” (ref 1).
Exatamente, por essa heterogeneidade de falares
é que a língua se torna complexa, pois, 11por eles, b) “Pensar numa língua uniforme (...) é um mito” (ref. 10) /
se instaura o movimento dialético da língua: da “por eles (os falares), se instaura o movimento dialético
língua que está sendo, que continua igual e da da língua” (ref 11).
língua que vai ficando diferente. 2Não querer re- c) ”qualquer língua manifesta-se num conjunto de diferentes
conhecer essa natural tensão do movimento das falares” (ref. 12) / “por essa heterogeneidade de falares é
línguas é deixar de apanhar a natureza mesma de que a língua se torna complexa” (ref.13).
sua forma de existir: histórica e culturalmente si-
d) “Por conta dessas vinculações da língua com as situações
tuada.
6 em que é usada, a voz de cada um de nós é (...) um coro
Por conta dessas vinculações da língua com as si- de vozes” (ref. 6).
tuações em que é usada, a voz de cada um de nós
é, na verdade, um coro de vozes. 3Vozes de todos e) “Vozes, portanto, que, partindo das pessoas em intera-
ção, significam expressão de suas visões de mundo e (...)
criação dessas mesmas visões”(ref.14).

18 Semiextensivo
Aula 06

06.18. (UPE – PE) – Considerando as convenções da escrita III. No trecho: “Vozes de todos os que nos antecederam e
e o prescrito pela norma-padrão do português, analise as com os quais convivemos atualmente” (ref. 3), a forma
proposições a seguir. relativa sublinhada poderia ser substituida pelo relati-
I. No fragmento “Em qualquer língua, de qualquer época, vo “quem“, garantindo-se a coesão e manutenção do
desde que em uso, ocorreram mudanças em todos os sentido.
estratos, em todos os níveis” (ref. 1), a forma verbal des- IV. O acento grave é facultativo no trecho: “o apego que
tacada deve vir no plural por concordar com os termos sentimos à nossa língua” (ref. 4), a despeito da presença
“todos os estratos” e “todos os níveis”. da expressão feminina em destaque.
II. No fragmento: “Não querer reconhecer essa natural Estão corretas, apenas:
tensão do movimento das línguas é deixar de apanhar a) I, II e III. b) I, III e IV.
a natureza mesma de sua forma de existir: histórica e c) II e III. d) II e IV.
culturalmente situada” (ref.2) os dois-pontos podem ser
e) II, III e IV.
substituídos por vírgula, sem grande alteração no sentido.

Discursivos
06.19. (UNICAMP – SP) – Publicada à exata distância de um século pelo jornal O Estado de S. Paulo, as duas notícias transcritas
a seguir têm em comum o fato de se referirem a catástrofes provocadas pelo mau tempo. No momento de sua publicação,
as duas notícias se referiam a acontecimentos recentes, mas os recursos gramaticais empregados para expressar passado
recente diferem de uma notícia para outra.

“29/11/1895: Constantinopla – Tem havido no Mar Negro grande tempestade, naufragando grande número
de embarcações. Até agora o mar tem arrojado à praia mais de 80 cadáveres, que estão sendo recolhidos.”
(“Há um Século”, O Estado de S. Paulo)

“29/11/1995: Campinas – Um tornado com ventos de 180 quilômetros por hora destruiu anteontem a co-
bertura do ginásio multidisciplinar da Universidade Estadual de Campinas (...)
O tornado rompeu presilhas de aço de uma polegada de espessura. Ele levantou e retorceu a estrutura do
telhado, também de aço, de 100 metros de extensão e 200 toneladas. (...) Dez árvores foram arrancadas com
a raiz e os ventos arremessaram longe vidros da Biblioteca Central.”
(“Tornado provoca destruição na Unicamp”, O Estado de S. Paulo)

a) Transcreva, das duas notícias, as expressões que situam os fatos relatados no passado.

b) Como seria redigida, hoje, a primeira notícia?

Português 3A 19
c) Redija uma continuação para a notícia escrita hoje, que começasse por “Tem havido no Mar negro...”.

06.20. (UNICAMP – SP) –

Uma cidade como Paris, Zé Fernandes, precisa ter cortesãs de grande pompa e grande *fausto. Ora para
montar em Paris, nesta tremenda carestia de Paris, uma *cocotte com os seus vestidos, os seus diamantes,
os seus cavalos, os seus lacaios, os seus camarotes, as suas festas, o seu palacete (...), é necessário que se
agremiem umas poucas fortunas, se forme um sindicato! Somos uns sete, no Clube.
Eu pago um bocado...
(Eça de Queirós, A Cidade e as Serras. São Paulo: Ateliê Editorial, 2011, p.94)

*cocotte: mulher de hábitos e vida luxuosa; meretriz.


*fausto: luxo
a) Que expressão do texto representa uma marca direta de interação do narrador com o outro personagem?

b) Uma descrição pode ter um efeito argumentativo. Que trecho descritivo do texto reforça a imagem da vida luxuosa das
cortesãs na Paris da época (fim do século XIX)?

06.21. (FUVEST – SP) – Leia as seguintes manchetes:

Grupo I Grupo II
Esperada, na Câmara, a mensagem pedindo a decretação do Quase metade dos médicos receita o que indústria quer
estado de guerra Folha de S. Paulo, 31 de maio de 2010.
Jornal do Brasil, 07 de outubro de 1937.
Novo terminal de Cumbica atenderá 19 milhões ao ano.
Encerrou seus trabalhos a Conferência de Paris Folha de S. Paulo, 26 de junho de 2011.
Folha da manhã, 16 de julho de 1947.
MEC divulga hoje resultados do Enem por escolas
Causaram viva apreensão nos E.U.A os discos voadores Zero Hora, 22 de novembro de 2012.
Folha da manhã, 30 de julho 1952.

20 Semiextensivo
Aula 06

a) Cada um dos grupos de manchetes acima reproduzidos, por ter sido escrito em épocas diferentes, caracteriza-se pelo uso
reiterado de determinados recursos linguísticos. Indique um recurso linguístico que caracteriza as manchetes de cada um
desses grupos.

b) Manchetes jornalísticas costumam suprimir vírgulas. Transcreva a última manchete de cada grupo, acrescentando vírgulas
onde forem cabíveis, de acordo com a norma padrão da língua portuguesa.

Gabarito
06.01. c b) Houve/ Aconteceu/ Ocorreu no Mar muito dinheiro para acompanhar as
06.02. b Negro (uma) grande tempestade, frivolidades de homens com grande
06.03. e que causou o naufrágio de muitas fortuna.
06.04. b embarcações. Até agora, o mar arro- 06.21. a) As manchetes do grupo I apresentam
06.05. b jou/ jogou / lançou à praia mais de inversão dos termos da oração. Os su-
06.06. b 80 cadáveres, que estão sendo reco- jeitos estão pospostos aos verbos e,
06.07. d lhidos. assim, destacam-se as ações. No gru-
06.08. e c) Tem havido no Mar Negro muitos po II, as manchetes trazem ordem di-
06.09. a acidentes envolvendo barcos que reta, sujeitos antepostos aos verbos e
06.10. c transportam migrantes e que não dão ênfase ao agente e não às ações
06.11. d dispõem de itens de segurança. em si.
06.12. 09 (01, 08) (Perceba-se que a forma “tem havido” b) (De acordo com a norma padrão
06.13. 33 (01, 32) expressa ideia de repetição, de reite- da língua portuguesa, os adjuntos
06.14. d ração da ação e, por isso, os outros adverbiais intercalados devem estar
06.15. c verbos estão no presente.) entre vírgulas.)
06.16. e 06.20. a) A interação entre os personagens Causaram viva apreensão, nos E.U.A.,
06.17. c fica patente pelo uso do vocativo “Zé os discos voadores.
06.18. e Fernandes”, pois percebe-se claro diá- MEC divulga, hoje, resultados do
06.19. a) Na primeira notícia, “tem havido” e logo entre os dois. Enem por escolas.
“tem arrojado”; na segunda, “destruiu b) A descrição da “cocotte” e de seus há-
anteontem”, “rompeu”, “levantou”, “re- bitos pretende mesmo ter um valor
torceu”, “foram arrancadas”, “arremes- argumentativo, pois pretende provar
saram”. que para viver em Paris era preciso ter

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Anotações

22 Semiextensivo

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