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Aluno(a): Nº

Área: Linguagens Disciplina: Produção textual Professor(a): Liliane Almeida


Ano/Série: 9º Ano Turma: Turno: Tarde Data: / /

ATIVIDADE DE PRODUÇÃO TEXTUAL


TEXTO PARA REFLEXÃO, ESTUDO E PRODUÇÃO

TEXTO 1
Sobre o ouvir – Rubem Alves
O ato de ouvir exige humildade de quem ouve. E a humildade está nisso: saber, não com a
cabeça, mas com o coração, que é possível que o outro veja mundos que nós não vemos.
Mas isso, admitir que o outro vê coisas que nós não vemos, implica reconhecer que somos
meio cegos... Vemos pouco, vemos torto, vemos errado.
Bernardo Soares diz que aquilo que vemos é aquilo que somos. Assim, para sair do círculo
fechado de nós mesmos, em que só vemos nosso próprio rosto refletido nas coisas, é preciso
que nos coloquemos fora de nós mesmos. Não somos o umbigo do mundo. E isso é muito
difícil: reconhecer que não somos o umbigo do mundo! Para se ouvir de verdade, isso é, para
nos colocarmos dentro do mundo do outro, é preciso colocar entre parêntesis, ainda que
provisoriamente, as nossas opiniões.
Minhas opiniões! É claro que eu acredito que as minhas opiniões são a expressão da verdade.
Se eu não acreditasse na verdade daquilo que penso, trocaria meus pensamentos por outros.
E se falo é para fazer com que aquele que me ouve acredite em mim, troque os seus
pensamentos pelos meus. É norma de boa educação ficar em silêncio enquanto o outro fala.
Mas esse silêncio não é verdadeiro. É apenas um tempo de espera: estou esperando que ele
termine de falar para que eu, então, diga a verdade. A prova disto está no seguinte: se levo
a sério o que o outro está dizendo, que é diferente do que penso, depois de terminada a sua
fala eu ficaria em silêncio, para ruminar aquilo que ele disse, que me é estranho. Mas isso
jamais acontece. A resposta vem sempre rápida e imediata. A resposta rápida quer dizer:
“Não preciso ouvi-lo. Basta que eu me ouça a mim mesmo. Não vou perder tempo ruminando
o que você disse. Aquilo que você disse não é o que eu diria, portanto está errado...”.
Rubem Alves
TEXTO 2
Escutatória - Rubem Alves

Sempre vejo anunciados cursos de oratória.


Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo
mundo quer aprender a falar. Ninguém quer
aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso
de escutatória. Mas acho que ninguém vai se
matricular.
Escutar é complicado e sutil. Diz o Alberto
Caeiro que "não é bastante não ser cego para
ver as árvores e as flores. É preciso também
não ter filosofia nenhuma". Filosofia é um monte de ideias, dentro da cabeça, sobre como são as
coisas. Aí a gente que não é cego abre os olhos. Diante de nós, fora da cabeça, nos campos e matas,
estão as árvores e as flores. Ver é colocar dentro da cabeça aquilo que existe fora. O cego não vê
por que as janelas dele estão fechadas. O que está fora não consegue entrar. A gente não é cego. As
árvores e as flores entram. Mas – coitadinhas delas – entram e caem num mar de ideias. São
misturadas nas palavras da filosofia que moram em nós. Perdem a sua simplicidade de existir. Ficam
outras coisas. Então, o que vemos, não são as árvores e as flores. Para ser ver é preciso que a cabeça
esteja vazia.
Faz muito tempo, nunca me esqueci. Eu ia de ônibus. Atrás duas mulheres conversavam. Uma delas
contava para a amiga os seus sofrimentos. (Contou-me uma amiga, nordestina, que o jogo que as
mulheres do nordeste gostam de fazer quando conversam umas com as outras é comparar
sofrimentos. Quanto maior o sofrimento, mais bonita é a mulher e a sua vida. Conversar é a arte de
produzir-se literariamente como mulher de sofrimentos. Acho que foi lá que a ópera foi inventada.
A alma é uma literatura. É nisso que se baseia a psicanálise...) voltando ao ônibus. Falavam de
sofrimentos. Uma dela contava do marido hospitalizado, dos médicos, dos exames complicados, das
injeções na veia – a enfermeira nunca acertava – dos vômitos e das urinas. Era um relato comovente
de dor. Até que o relato chegou ao fim, esperando, evidentemente, o aplauso, admiração, uma
palavra de acolhimento na alma da outra que, supostamente, ouvia. Mas o que a sofredora ouviu
foi o seguinte: "Mas isso não é nada..." A segunda iniciou, então, uma história de sofrimentos
incomparavelmente mais terríveis e dignos de uma ópera que os sofrimentos da primeira.
Parafraseio o Alberto Caeiro: "Não é bastante ter ouvidos para se ouvir o que é dito. É preciso
também que haja silêncio dentro da alma." Daí a dificuldade: a gente não aguenta ouvir o que o
outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a
dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse ser
complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor. No fundo somos todos
iguais às duas mulheres do ônibus. Certo estava Lichtenberg – citado por Murilo Mendes: "Há quem
não ouça até que lhe cortem as orelhas." Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais
constante e sutil da nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos...
Por Rubem Alves (1933-2014), educador e escritor

ATIVIDADE ESCRITA DE PRODUÇÃO TEXTUAL

Tendo como base os textos lidos, redija um texto dissertativo – argumentativo


com o seguinte tema: “Falar é uma necessidade, escutar é uma arte”.

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