Você está na página 1de 29

CURSO DE

ESPECIALIZAÇÃO EM
DIREITOS HUMANOS,
GÊNERO E
SEXUALIDADE

Alice Rodrigues de Souza

Invisibilidade e exclusão social: As interseccionalidades entre a lesbianidade


e o território de Santa Cruz

Rio de Janeiro

2023
Alice Rodrigues de Souza

Invisibilidade e exclusão social: As interseccionalidades entre a lesbianidade


e o território de Santa Cruz

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Especialização em Direitos Humanos,
Gênero e sexualidade da Escola Nacional de
Saúde Pública Sergio Arouca, na Fundação
Oswaldo Cruz, como requisito parcial para
obtenção do título de Especialista em Direitos
Humanos, Gênero e sexualidade.

ORIENTADORA: Profa. Ana Carolina Ferraz dos Santos

Rio de Janeiro

2023
Alice Rodrigues de Souza

Invisibilidade e exclusão social: As interseccionalidades entre a lesbianidade


e o território de Santa Cruz

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Especialização em Direitos Humanos,
Gênero e sexualidade da Escola Nacional de Saúde
Pública Sergio Arouca, na Fundação Oswaldo
Cruz, como requisito parcial para obtenção do
título de Especialista em Direitos Humanos,
Gênero e sexualidade.

Aprovada em de de 2023.
SUMÁRIO

1 Introdução.....................................................................................................5

2 Território e Territorialidade: Colocando Santa Cruz no mapa..............8

3 Violência Lgbtifóbica no território de Santa Cruz……………………...


10

4 Interação Corpo e Território: O corpo no território ..................13


5 O confinamento do corpo lésbico
............................…………………………………………15
6 Corpo como reflexo de outras escalas de opressão
.................................................……………………….19
7 Corpo como reflexo de outras escalas de opressão
............................................………………………...21
Considerações
Finais…………………………………………………………..22
Referências
………………………………………………………………………25
1. Introdução
Historicamente a mulher é colocada como inferior na sociedade, sendo este olhar
influenciado diretamente pelas estruturas de opressão patriarcal fruto do machismo que atravessa
os corpos femininos. Este fato atua no controle e na imposição de papéis de gênero para a
mulher, atravessando a vivência de sua sexualidade e de suas formas de reprodução, reforçado
ainda por mecanismos de controle que atuam por meio de instituições como o Estado e a Igreja.
Desde o século XIX, enquanto movimento social organizado, os feminismos vêm
denunciando como historicamente a mulher é colocada como inferior na sociedade, sendo este olhar
influenciado pela desigualdade de gênero fomentada na concepção social de uma papel de gênero
destinado a mulher, das suas relações familiares, do controle de suas responsabilidades sexuais e
reprodutivas, de seu trabalho, da violência e da não autonomia sobre o próprio corpo. Sendo esses
aspectos pautados pela histórica noção de dominação masculina como reforçado segundo Simone de
Beauvoir (1970, p.14) "a mulher sempre foi, senão a escrava do homem ao menos sua vassala; os
dois sexos nunca partilharam o mundo em igualdade de condições".

Essa posição subalterna de gênero encontra-se, ainda, imbricada com outros marcadores
sociais da desigualdade. Um exemplo é a discussão proporcionada por Engels (1984), que aborda
como Engels (1984) a opressão de classes aproxima-se da relação entre o homem e a mulher na
propriedade privada, dado a necessidade de criar mecanismos de acumulação de herdeiros
escolhidos a partir de laços sanguíneos, gerando ao homem a garantia do controle do corpo feminino
como sua propriedade. Sendo assim, toda forma de sexualidade e reprodução que não esteja
estruturada nessa noção de propriedade patriarcal é condenada, o que significa que as relações
homossexuais, ao contraporem essa estrutura de controle heteronormativo e patriarcal, são colocadas
socialmente como algo anormal, devendo ser excluído do contexto social.

Considerando este fato, o feminismo lésbico, sobretudo a partir da década de 1970, é


pautado na crítica a misoginia, ao patriarcado, a forma falocêntrica do movimento homossexual e
critica à heterossexualidade obrigatória presente nos movimentos feminista. O feminismo lésbico
tensiona as relações com o movimento feminista, principalmente pela formulação da categoria
universal mulher. Assim como aponta,Marisa Fernandes (2002), ao afirmar que boa parte dessas
tensões surgem da não incorporação das questões lésbicas nas agendas feministas, principalmente
pelo silêncio do feminismo perante as violências sofridas pelas lésbicas, como por exemplo o
estupro corretivo.

5
Para Wittig(2006), a lesbianidade se constitui através da ação política voltada para a
destruição da relação fixa da mulher à heterossexualidade enquanto sistema social e político.

As mulheres lésbicas portanto são frutos de uma verdadeira intersecção de opressões,em que
a carga de inferioridade dentro da estrutura patriarcal por ser mulher cruza-se com a opressão da
orientação homoafetiva, para além de outros aspectos como raça, etnia e identidade de gênero que,
no caso das mulheres transsexuais lésbicas, multiplica ainda mais essa carga.

A imbricação da vivência desses elementos caracteriza uma interseccionalidade de opressões,


conforme termo cunhado por Kimberlé Crenshaw no final do século XX, em que as violências se
entrelaçam e ocasionam o processo de marginalização desses corpos que fogem do padrão
homem/cis/hétero/branco e faz com que essas mulheres tenham que reivindicar seu local social
regularmente.

A mulher lésbica fere cotidianamente a ideologia hegemônica em questão ao representar a


renúncia da lógica heterossexista e ir contra a exclusiva submissão aos homens,constituindo uma
nova forma de vivência da sexualidade e afetividade. Entretanto essa realidade impõe dificuldades
para a afirmação e construção da identidade lésbica, sendo a invisibilidade e exclusão um dos
instrumentos de opressão mais fortes utilizados pela sociedade patriarcal e cisheteronormativa.

Segundo Falquet (2003), o sistema heterossexual atua sobre a divisão da humanidade em dois
sexos que servem de base para construção binária de gênero e agem de forma rigorosamente
oposta,mantendo relações desiguais de “complementariedade". Esta "complementaridade" justifica a
divisão sexual e sustenta a exploração das mulheres no âmbito doméstico, laboral, reprodutivo,
sexual e psicoemocional. Neste sentido, ao contrapor o sistema heterossexual, a lesbianidade em sua
dimensão sociopolítica questiona profundamente o sistema dominante e propõem a uma ruptura.

Podemos, então, considerar que a lesbianidade representa um enfrentamento direto à


organização social hegemônica vigente no sistema capitalista ao reforçar um não lugar de prioridade
e privilégio ao homem e colocar a mulher como referência central. Quando nos referimos ao
processo de invisibilidade da mulher lésbica, não falamos somente sobre a situação de invisibilidade
no campo social e na esfera pública, mas também nos referimos a vulnerabilidade e os riscos que
elas passam por serem frutos de um preconceito ideologica e culturalmente instituído, já que estão
institucionalmente marginalizadas e negligenciadas pelo poder público e pela sociedade, como um
todo.

6
Portanto, este trabalho surge com o objetivo de analisar esse processo de invisibilidade e
exclusão social das mulheres lésbicas no território da extrema Zona Oeste do Rio de Janeiro. O
desenvolvimento se deu a partir do relato de experiência de um atendimento psicossocial a uma
mulher cis lésbica, ocorrido no Centro de Cidadania LGBTI Capital II, equipamento da Secretaria de
Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro que atua na promoção e na
garantia do direito à população por meio da superintendência de Políticas LGBTI e o programa Rio
sem LGBTIfobia.
A escolha deste relato surge da inquietação sobre os processos de violência, invisibilidade e
exclusão social que as mulheres lésbicas enfrentam na sociedade ao existir como corpo desviante da
heteronormatividade imposta e da misoginia que as atravessam por meio dos atos lesbofóbicos.
Busco, ainda, relacionar esses atravessamentos com a invisibilidade urbana e exclusão social que o
território de Santa Cruz enfrenta como um extenso bairro da Zona Oeste do município do Rio de
Janeiro e o mais distante da região central.
Tal inquietude se deu a partir da minha vivência pessoal como mulher cis lésbica e moradora
do bairro de Sepetiba. Desde que assumi minha sexualidade, percebi em meu corpo o impacto da
exclusão, começando no âmbito familiar pela rejeição e chegando às ruas ao ter a minha sexualidade
negada, meus afetos invisibilizados e meus direitos sexuais e reprodutivos violados ao acessar os
equipamentos de saúde. Esses questionamentos se intensificaram quando saí do bairro de
Jacarepaguá e passei a morar em Sepetiba para poder atuar como Psicóloga do primeiro equipamento
em território de favela localizado no bairro de Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio de Janeiro,como
particularmente chamo “extrema Zona Oeste”. Assim, tive o entendimento das especificidades deste
território que é atravessado pelo isolamento do resto da cidade, invisibilidade, violência armada
praticada pela milícia que atua na região e negações a direitos básicos como luz, água, saúde, lazer e
mobilidade urbana. Da mesma forma, percebi o impacto do território no processo de exclusão do
próprio equipamento, que não é conhecido pela própria população, além da semelhança entre as
dificuldades da mesma para acessar esses serviços com as características de violência, invisibilidade
e discriminação que o corpo lésbico enfrenta.
Considerando esses fatores, este trabalho busca através da análise de um relato de
experiência compreender os atravessamentos que afetam o corpo lésbico que vive dentro de um
território que é historicamente marginalizado na cidade do Rio de Janeiro e entender como as
características territoriais podem ou não atuar como um reforçador das violências que este corpo está

7
submetido. Para isso, tomo como base o conceito de corpo-território que, segundo Miranda (2014,
p.69), se dá pela possibilidade do indivíduo em compreender o que está ao seu redor a partir do seu
próprio corpo, de si mesmo e de sua posse sobre este corpo. Assim, a territorialidade se configura
como algo em constante movimento e que desloca consigo toda a bagagem cultural construída ao
longo das suas trajetórias.
No artigo intitulado “Do corpo-território ao território-corpo (da terra): contribuições
decoloniais”, o autor Rogério Haesbaert propõe a construção do conceito de território a partir de três
abordagens. A primeira entende o território como um conceito geográfico definido pela ótica das
relações espaço-poder entre os grupos e sua construção identitária. A segunda atua a partir da
perspectiva de gênero, entendendo o território através da relação com o corpo, constituindo o corpo-
território. Por fim, a terceira abordagem busca ampliar a concepção de território, entendendo-o como
espaço de vida.
De acordo com Cruz Hernández (2017, p.8), essa articulação entre corpo e território permite
abordar o território em múltiplas formas, principalmente de maneira mais micro e mais íntima,
entendendo o corpo como o primeiro território de luta. A concepção da categoria corpo-território
surge como uma provocação à perspectiva geográfica que afirma as territorialidades como algo fixo
e imutável, entendendo que as nossas corporeidades performam as mais variadas espacialidades e o
nosso corpo atua como um território de passagem (Bondía Larrosa, 2002, p.24). A partir dessas
referências teóricas busco compreender a relação da mulher lésbica com seu território abordando
como seu corpo afeta e é afetado.

2. Território e Territorialidade: Colocando Santa Cruz no mapa

Tratar do território de Santa Cruz requer uma breve contextualização das noções de território
e territorialidade. Segundo Souza (2000, p.78), o território é fundamentalmente um espaço definido e
delimitado por e a partir de relações de poder. Haesbaert (1999) discute como noção essa que traz
importantes contribuições para a abordagem das vivências identitárias, uma vez que o conceito de
território permite compreender os significados e sentidos de pertença dos diferentes grupos sociais
em relação a uma porção do espaço.
No que se refere ao conceito de territorialidade,Soja (1971) entende esta noção como um
fenômeno comportamental que se constrói na organização do espaço a partir de territórios
demarcados por seus agentes. Raffestin (1993) aborda que a territorialidade se dá para além de uma

8
simples relação do homem com o território e de sua demarcação individual, sendo também fruto da
relação social entre os homens, ou seja, a territorialidade é um conjunto de relações que gera um
entrelaçamento entre sociedade, espaço e tempo. Dessa forma, embora todo território seja dotado de
uma territorialidade, nem toda territorialidade encontra-se vinculada a um território no seu sentido
material (HAESBAERT, 2009). Isso mostra que a territorialidade auxilia na construção da
identidade por meio de múltiplas relações entre o território e os indivíduos.
Considerando esses conceitos, este trabalho busca entender as interseções de Santa Cruz
com os atravessamentos presentes na vida das mulheres lésbicas moradoras do bairro, a partir da
análise de um relato de experiência que busca abordar os aspectos relacionais entre o corpo e o
território.
Santa Cruz, geograficamente, é um bairro do município de Rio de Janeiro e possui uma área
total de cerca de 125 km² de extensão, ou seja, próximo a 10% da área total da cidade, e faz divisa
com os bairros de Sepetiba, Guaratiba e Paciência, todos localizados na Zona Oeste. Possui uma
população de 35.797 habitantes e um dos mais baixos IDHs da cidade, ficando este índice sob a
marca de 0,742 de acordo com os dados do Censo de 2010. O mesmo se configura, então, como um
bairro periférico, do ponto de vista geográfico por estar no limite oeste do município e,
economicamente, por não estar presente nas estratégias urbanas de desenvolvimento (Fridman,
1994).
A Zona Oeste foi tratada como última fronteira da urbanização do Rio de Janeiro. Nela foram
mantidos, durante muito tempo, os usos agrícolas e as extensas propriedades foram se extinguindo
com a urbanização, a partir da década de 1960. Os fatores da distância, ausência de serviços e
investimentos políticos econômicos demarcam os bairros que estão na extremidade.
Segundo Valladares (1983), o processo de periferização pode ser compreendido a partir da
acumulação de capital e as suas consequências sobre a habitação da classe trabalhadora, gerando
uma segregação espacial sobre o habitar que se coloca cada vez mais longe dos principais centros
urbano- industriais. Além disso, as remoções das favelas com o movimento de higienização dos
centros urbanos também contribuíram para o processo de periferização.
No que se refere ao bairro de Santa Cruz, apesar de ter passado por um período de suma
importância e centralidade para a cidade durante a época imperial, a região teve sua configuração
territorial modificada ao longo da história, sobretudo devido a ações empreendida pelo Estado que
passou a destinar os maiores investimentos para as áreas mais centralizadas da cidade que,

9
consequentemente, passaram a configurar como territórios com maiores investimento em
infraestrutura urbana e abrigar as classes mais ricas. Já as áreas longes do centro foram preteridas
pelas políticas públicas e pelos serviços urbanos, sofrendo um processo de segregação e
periferização (Perlaman, 1977).
Considerando esta segregação, o território da Zona Oeste do Rio de Janeiro demarca ainda
uma desigualdade interna ao destinar maiores investimentos para os bairros da Barra da Tijuca e
Recreio dos Bandeirantes e invisibilizar os bairros de Santa Cruz, Sepetiba, Paciência e adjacentes
dos olhares centrais no quesito de infraestrutura econômica e urbana (Caldeira,1984). Com este fato
podemos entender as configurações territoriais da cidade do Rio de Janeiro pelas considerações de
Haesbaert (2004), ao afirmar que o território está imerso em relações de dominação e/ou de
apropriação sociedade-espaço, desdobrando-se ao longo de um continuum de dominação político-
econômica mais concreta e funcional e apropriação mais subjetiva pelo âmbito cultural-simbólica.
Portanto, o território de Santa Cruz reflete esse continuum de dominação, seja pelo campo
político-econômico ao configurar-se como um território periférico que está longe de qualquer foco
de investimento, seja pelo campo cultural-simbólico ao se caracterizar como bairro dormitório
imerso pelo conservadorismo vigente e pela presença das milícias que impõem uma norma
específica de se habitar. Estes aspectos estão intimamente ligados ao modo como as pessoas acessam
e utilizam o território, gerando uma intrínseca combinação entre o funcional e simbólico sobre o
lugar.

3.Violência Lgbtifóbica no território de Santa Cruz

Considerando a violência contra pessoas LGBTQI+ no Brasil, buscarei através dos dados
obtidos pelo Atlas da Violência de 2021, o Dossiê LGBT de 2018 e dados internos dos atendimentos
realizados pelo Centro de Cidadania LGBTI Capital II, situar como a marginalização e o baixo
desenvolvimento socioeconômico da região de Santa Cruz afeta a população LGBTQIAPN+, como
forma de compreender as especificidades e impactos em relação às mulheres lésbicas deste
território.
A violência que opera contra a população LGBTQIAPN+ atua a partir da ideia de um modelo
único e compulsório de família nuclear, cis, heterossexual e biparental, apaga as diversidades sexuais
e de gênero (Mello, 2006) e marca os corpos LGBTQIAPN+ como agentes desviantes e de
degeneração. Assim,a violência é materializada na dimensão corporal na forma de abandono,

10
estupros “corretivos”, assassinatos e espancamentos e visam a aniquilação, apagamento e
silenciamento de sexualidades e expressões de gênero que contrapõem ao modelo único cis hétero
historicamente imposto no Brasil.
No período compreendido entre 2011 e 2019, segundo o Atlas da Violência (2021), o Disque
100 registrou, em média, 1.666 denúncias anuais de violência contra pessoas LGBTQIAPN+.
Considerando a análise histórica de dados destaca-se que no ano de 2012, o sistema registrou 3.031
denúncias, já o ano de 2019, apresentou redução expressiva e fechou com apenas 833 denúncias, o
que representa uma redução de 50% em relação ao ano anterior. Ainda que no Disque 100 o trabalho
seja apenas com denúncias, e não necessariamente com registros de violências, é importante
questionar o motivo da redução abrupta de um indicador que se mantinha relativamente estável por
quase meia década. Os motivos para que as pessoas não recorram ao serviço de denúncias podem ser
variados, desde a falta de confiança devido ao cenário sociopolítico, já que o equipamento é gerido
pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, até a falta de prioridade política e
financeira dada ao tema pelo órgão (Ferreira, 2021).
As reduções expressivas nos números de denúncias do Disque 100, dão indícios de que a
invisibilização das violências contra pessoas LGBTQIAPN+ foi aprofundada, ou seja, a escassez de
dados contribui para o aumento do desafio ao avanço na promoção de direitos e o agravamento da
vulnerabilidade e violência. Ao considerar os dados apresentados no Dossiê LGBTI de 2018, apesar
da significativa subnotificação em registros relacionados à população LGBTQIAPN+, o Instituto de
Segurança Pública (ISP) acredita que este dossiê tem um papel fundamental para dar visibilidade à
existência da violência motivada por LGBTIfobia e reforçar a importância e a necessidade da
população registrar as violências sofridas de motivação LGBTfóbica (Coffman, Coffman & Ericson,
2016).
Em média, foram 39 vítimas de algum delito motivado por LGBTfobia por mês no estado do
Rio de Janeiro, ou seja, mais de uma vítima por dia (foram excluídos desse cálculo os meses de
janeiro a março). Como foi ressaltado anteriormente, a maior parte das estatísticas envolvendo a
população LGBT+ sofre de subnotificações, mas mesmo subnotificado, esses números são
consideráveis. Na cidade do Rio de Janeiro há um número alto de vítimas, sobretudo na Zona Oeste,
as delegacias da Taquara (CISP 32), Realengo (CISP 33), Campo Grande (CISP 35), Barra da Tijuca
(CISP 32) e Recreio (CISP 42) aparecem com pelo menos dez vítimas cada, referente ao ano de

11
2018, sendo que as duas primeiras aparecem com os maiores números de vítimas dentre todas as
CISP do estado, 17 e 16 respectivamente.
Buscando combater a violência Lgbtifóbica foi inaugurado, em 2010, através do Decreto
Estadual nº 40.822/2007, o programa estadual Rio Sem Homofobia, o coordenado pela
Superintendência de Políticas LGBTI+ e Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos
e suas ações são executadas em parceria com outras Secretarias e Órgãos do Estado do Rio de
Janeiro. O programa visa combater a discriminação e violência contra a comunidade LGBTQIAPN+
e busca dar acesso à informações sobre direitos, garantir a cidadania, criar ações de educação e
cultura em prol do respeito às identidades e à promoção da diversidade humana, assim como atuar
no combate à violência. Em Novembro de 2021, através da Lei N°9.496, o programa foi oficializado
e passou a ser nomeado como Rio sem LGBTIfobia com intuito de incluir em sua nomenclatura
pessoas travestis, transexuais e pessoas intersexuais e conta com 18 equipamentos distribuídos por
todo território fluminense.
Em agosto de 2020 foi inaugurado no território de Santa Cruz o Centro de Cidadania LGBTI
Capital II, o equipamento é oriundo do programa estadual Rio sem LGBTIfobia que oferece
atendimentos psicológico, jurídico e de assistência social para toda população LGBTQIAPN+ da
Zona Oeste e Costa Verde. Considerando o território de Santa Cruz, segundo dados do Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) de 2000, na lista de 126 bairros da cidade, Santa Cruz é o mais
mal colocado da Zona Oeste, em 119º lugar, com 0.742; precedido de Guaratiba, Barra de Guaratiba,
Pedra de Guaratiba (em 118º, com 0.744). No ranking das 32 regiões administrativas de pior IDH,
Santa Cruz é a 27ª, com 0.747, e Guaratiba, a 28ª, com 0.746. Dos 1.468.266 moradores maiores de
10 anos, 592.194 não têm rendimento algum e outros 304.414 ganham até um salário mínimo.
Em relação à população LGBTQIAPN+ do território da Zona Oeste, em agosto de 2020 foi
inaugurado o Centro de Cidadania LGBTI Capital II localizado no Cesarão, sub bairro de Santa
Cruz. Desde a sua inauguração foram atendidos 76 usuários novos, ocorreram 127 atendimentos e,
desses atendimentos, 3 deles aconteceram em decorrência de violência LGBTIfóbica. Já no ano de
2021, foram 230 usuários atendidos, ocorreram 370 atendimentos e desses, 17 deles foram de
violência LGBTIfóbica. Em 2022, ocorreram 419 atendimentos, sendo 278 usuários e 61
atendimentos relacionados a violência LGBTIfóbica¹.
Considerando os dados apresentados é possível perceber um nível crescente de atendimentos
relacionados a violência LGBTIfóbica e o baixo índice de desenvolvimento do bairro de Santa Cruz.

12
Baseando-me nesses aspectos, buscarei analisar através do relato de experiência com o recorte
específico para mulheres cis lésbicas a vivência desses corpos no território e compreender as
relações entre a invisibilidade e exclusão social.
___________________________________________
¹Os dados apresentados foram retirados da planilha interna de Registros de Atendimentos do Centro de
Cidadania LGBTCapital II podendo serem solicitados através do email: sspdgdh@gmail.com.

4.Interação Corpo e Território: O corpo no território

O corpo, segundo Lefebvre (1991;1974), não é apenas um produtor de espaço material, mas é
ele o próprio espaço. Em sua teoria sobre espaço social, Lefebvre afirma que o corpo, através da
tríade conceitual da prática espacial, das representações de espaço e os espaços de representação,
pode ser compreendido como ferramenta de resistência social atuando de forma contrária a
imposição de ordem às práticas humanas. Assim, para Lefebvre (1974, p.40), “a relação com o
espaço de um ‘sujeito’ que é membro de um grupo ou sociedade implica sua relação com seu próprio
corpo e vice-versa”.
Considerando esse aspecto é possível compreender o corpo lésbico como um espaço
social cuja representação pode ser entendida como resistente a norma social hegemônica,
pautada na heterossexualidade e no falocentrismo. De acordo com Adrienne Rich (1980), as
mulheres são condicionadas a desejar os homens, estando o corpo feminino orientado ao prazer
masculino. Nessa perspectiva, podemos considerar que os corpos atuam como espaço, estando
constantemente presentes entre os fluxos de poder masculino-feminino. Assim, o corpo não é um
espaço passivo, ele pode se ajustar a ordem e internalizá-la, mas também criar resistências.
Baseando-se nesses conceitos e ancorada na ideia de corpo como território analisarei a
seguir o relato de experiência de uma usuária atendida pelo Centro de Cidadania LGBTI Capital
II, localizado no bairro de Santa Cruz na Cidade do Rio de Janeiro. Seu atendimento se deu com
base no acolhimento psicossocial e foi realizado por mim como psicóloga responsável do
equipamento. A usuária em questão se identificava enquanto mulher cisgênero, homossexual,
expressão de gênero fora dos padrões de feminilidade, de raça branca, possuía cerca de quarenta
anos na época em que iniciaram os atendimentos e era moradora do bairro de Santa Cruz. A
mesma chegou até o equipamento por indicações de amigos, sua demanda inicial estava
relacionada a sofrimento psíquico decorrente de uma recente separação, além de ter recebido o
diagnóstico de transtorno depressivo maior e ter sido ameaçada de morte pela sua ex-

13
companheira. Seus atendimentos aconteceram no período de outubro de 2020 até março de 2021,
contabilizando 13 atendimentos no total.
Em seu relato a usuária apresentava um constante sentimento de culpa e negação da sua
sexualidade e em outros momentos apresentava uma contradição em sua fala ao afirmar que não
ia mudar quem era, muito menos a sua forma de se relacionar. Explícito abaixo um relato nesta
usuária:

Eu até tentei namorar um rapaz da igreja quando era mais nova, namoramos por um ano, mas
nunca me envolvi sexualmente com ele nem o beijei, não conseguia. A gente era como amigo
mesmo e eu usava as regras da igreja que determinava sexo só depois do casamento para
justificar e agradar a minha família...

De acordo com o relato apresentado podemos entender que o corpo lésbico é atravessado
por representações simbólicas que o marca através das relações de poder e subjetividade e pela
dominação heteropatriarcal. Segundo Brown (2000) existe uma ideia espacial de armário que
surge a partir de uma ampla variedade de escalas espaciais que são negociadas. Assim, quando as
pessoas que fogem à ordem imposta da heterossexualidade passam a se relacionar com outras
escalas espaciais em que a homofobia, invisibilidade e exclusão mostram-se presentes, desses
corpos é exigido uma espécie de couraça de proteção e, assim, podemos entender como o armário
como uma forma de couraça. No caso da usuária é possível perceber a culpa e negação de sua
sexualidade como sua couraça de proteção, sobretudo no que se refere a uma tentativa de
relacionamento com um homem para poder encaixar-se na dominação heterocêntrica.
Outro fator marcante em seu relato se dava a partir da sua relação com a cidade e com o
seu território de vivência. A mesma trabalhava como Uber e precisava circular pela cidade
constantemente, mas após o término do relacionamento e a percepção do seu adoecimento
psíquico com o diagnóstico de transtorno depressivo maior, ao ir em uma consulta psiquiátrica
de forma particular e terem lhe receitado antidepressivos, a usuária relatou ter precisado mudar
de casa por causa das constantes ameaças feitas por sua ex companheira, que já havia lhe
agredido fisicamente e verbalmente, passando a lhe ameaçar de morte, além do medo de dirigir
após ter sido assaltada enquanto trabalhava. Esses fatos representaram um isolamento constante e
o hábito adquirido de não circular pelo seu território de vivência e pela cidade, como um todo,
encontrando no quarto uma fonte de acolhimento e estadia. Esses aspectos ficam evidentes no

14
relato a seguir:

Eu não sou de sair muito, geralmente prefiro ficar no meu quarto,depois que essas coisas
aconteceram e o uso da medicação tenho ficado cada vez mais em casa só saio quando meus
amigos me forçam e para vir nos atendimentos...

Considerando a interação corpo e território é possível analisar os relatos apresentados, a


partir da dominação heteropatriarcal sobre o corpo lésbico que busca condicionar as mulheres a
ideais performáticos de manutenção da dominação masculina e, ao não compactuar com o
condicionamento de desejar homens, esses corpos são lidos, segundo Butler (2003), como abjetos,
passíveis do desejo por meio da hipersexualização e/ou por meio da exclusão e violência
lésbofobica.
No que se refere ao aspecto de corpo como território é possível perceber o isolamento como
característica semelhante entre o território de Santa Cruz com a experiência apresentada pela
usuária, onde apesar de estarem presentes na cidade, ambos estão isolados, seja pelas questões
sociodemográficas que colocam Santa Cruz a margem do resto da cidade, seja pelos agravos
vivenciados pela lesbianidade que coloca o corpo lésbico como alvo da dominação heteronormativa,
acumulando inúmeras categorias de dominação.
Portanto é possível reforçar a relação entre corpo e território com base na conceituação de
Steve Pile e Heidi Nast (1998), em que os corpos se tornam relacionais e territorializados de
maneiras específicas e de Echeverri (2004), que não apenas entende o corpo como território, mas
também como um território no interior do próprio corpo, ou seja, o corpo gerador de territorialidade.

5. O confinamento do corpo lésbico

No imaginário social existe uma suposição de que as mulheres são heterossexuais e as que
fogem do padrão da heteronormatividade são atravessadas por um processo de marginalização e
invisibilidade de seus corpos. A existência de mulheres lésbicas é negligenciada ao longo da história,
sua vivência afetivo-sexual é tratada como algo excepcional que, portanto, não merece importância
pois, afinal, é uma exceção perante regra. Assim, a homossexualidade feminina é vista como um
desvio, confusão ou algo patológico, pois há neste imaginário o reconhecimento de que a

15
heterossexualidade deva ser imposta, propaganda e mantida por força. A mulher lésbica, ao
renunciar esse imaginário social, é atravessada cotidianamente por inúmeras dificuldades, sendo a
invisibilidade e exclusão instrumentos de opressão que permeiam as suas vivências.
A invisibilidade e o silêncio em torno da homossexualidade feminina podem causar violência
psicológica, gerando efeitos de agravos à saúde, pois são amplamente atravessados por preconceitos
e discriminações, e a ocultação das práticas e desejos homossexuais e o enfrentamento social podem
se associar ao estresse e ao isolamento. (Rede feminista de saúde,1996).
Segundo Gomes (2009), é possível entender a invisibilidade da homossexualidade feminina
como uma violência simbólica, sendo um problema traduzido por meio do modelo hegemônico
social criado em torno da heterossexualidade. No campo da prestação de serviços de saúde, de
acordo com Greig (2008), as pessoas que vão contra essa hegemonia são colocadas na
clandestinidade, seja pelo não atendimento de suas demandas de saúde sexual, seja pela negação das
informações que, por direito, deveriam lhes ser disponibilizadas.

De acordo com os aspectos apresentados sobre a invisibilidade e negligência em relação ao


corpo lésbico, buscarei através do relato de experiência analisar o campo da saúde, especificamente
as questões relacionadas a saúde mental, considerando que durante o período de atendimento da
usuária atravessamos o período da pandemia de COVID-19 que gerou impactos individuais e nos
equipamentos públicos de saúde, agravos em saúde mental relacionados ao isolamento social, mas
também considerando as dificuldades de acesso à rede de saúde mental no território de Santa Cruz.

Em Santa Cruz a rede de assistência psicossocial é formada por uma Unidade de Referência
Especializada em Hospital Geral localizado no hospital Pedro II, que atende casos de emergência
psicológica, e dois Centros de Atenção Psicossocial, sendo eles o CAPS AD Júlio Cesar de
Carvalho, voltado para o tratamento de usuários com uso abusivo em álcool e outras drogas, e o
CAPS II Simão Bacamarte. Existe também as unidades básicas de saúde, porém nestes
equipamentos é percebido uma dificuldade de acesso de seus usuários, seja pela ausência de
Psicólogos e Psiquiatras em decorrência da falta de profissionais, ausência de vagas por uma alta
demanda e dificuldades enfrentadas para o tratamento de questões relacionadas a COVID-19.
Em seu relato a usuária informou que antes de acessar o nosso equipamento havia
conseguido custear uma consulta psiquiátrica em uma clínica particular localizada no bairro de
Campo Grande, onde a mesma em um primeiro atendimento recebeu o diagnóstico de Transtorno
Depressivo Maior, sendo receitado medicamentos antidepressivos.

16
Ao iniciar seu acompanhamento em nosso equipamento foi percebido a necessidade de
acolhimento psicossocial devido a presença de conflitos em relação a sua sexualidade e sentimento
de culpa por causa da sua orientação sexual,além da necessidade da mesma em passar por um
atendimento especializado para o acompanhamento de suas queixas relacionadas ao transtorno
depressivo e o impacto que os antidepressivos estavam lhe causando. Foi relatado por ela a ausência
na continuidade do acompanhamento psiquiátrico devido a dificuldades para custear novas
consultas, fato este que fez com que a usuária tomasse a medicação sem acompanhamento adequado.
Diante disso, foi realizado um encaminhamento para o CAPS II Simão Bacamarte na tentativa de lhe
possibilitar um tratamento adequado, porém percebeu-se em sua fala um desconhecimento sobre o
equipamento e o medo de precisar interromper seu acompanhamento no Centro de Cidadania
LGBTI. Assim, foi-lhe explicado qual era a funcionalidade do CAPS e que a modalidade de
acompanhamento no Centro de Cidadania tinha um caráter psicossocial com foco nas questões
relacionadas a gênero e sexualidade.
A usuária demonstrou uma certa resistência em dar continuidade ao encaminhamento
realizado e comparecer até o equipamento, foram necessários quatro novos atendimentos até que a
mesma conseguisse comparecer. Os motivos relacionados a essa resistência inicial não ficaram
evidentes em seus relatos, sendo possível apenas compreender que os atendimentos antecedentes a
sua ida ao CAPS focalizaram no luto gerado por causa de seu término e na necessidade de
reconhecimento de que sua relação se dava de forma abusiva, em que foram vivenciadas violências
de ordem física, verbal e psicológica. Além disso, também ganharam relevância as dificuldades de
adaptação ao uso da medicação e aceitação de seu diagnóstico e uma retomada ao seu passado a
partir das dificuldades enfrentadas pela sua orientação sexual, ocorrendo a verbalização de um
estupro corretivo2 sofrido em sua juventude a mando de sua mãe na tentativa de “curar” a sua
sexualidade.
Foi possível perceber a necessidade da usuária em externalizar suas dores, considerando a
hipótese de que a mesma encontrou acolhimento em um equipamento voltado para população
LGBTQIAPN+ e identificação no atendimento realizado por uma profissional que também se
entende enquanto lésbica.
________________________________
²O estupro corretivo foi o nome dado para a violência sexual que ocorre na tentativa de
controlar ou corrigir a orientação sexual ou identidade de gênero da vítima.

17
Após sua ida ao CAPS Simão Bacamarte a usuária trouxe em seu relato o quanto se sentiu
desconfortável no equipamento, principalmente por ter a sua identidade de gênero questionada,
afirmada e subentendida enquanto masculina, conforme mostra o trecho a seguir:

Eu não consegui falar nada, fui interrompida e a todo momento me trataram no pronome masculino.
No final fui informada que meu caso não encaixava na proposta do equipamento, fui encaminhada
para clínica da família e, caso não conseguisse atendimento, retornasse.

Apesar de ter demonstrado durante todo seu processo de acompanhamento no Centro de


Cidadania LGBTI a consciência de sua identidade de gênero enquanto mulher cisgênero, após o seu
atendimento no CAPS a mesma trouxe questionamentos sobre a sua identidade de gênero:

Será que eu sou uma pessoa transsexual? Eu gosto de usar cabelo curto, roupas mais largas e as
pessoas sempre me confundem com um homem...

Através destes relatos é possível perceber que a saúde de mulheres lésbicas é violada
constantemente em decorrência da orientação sexual, uma vez que o acesso delas aos serviços de
saúde pode ser entendido como injusto, ineficaz e excludente (Araújo,2006). Quando questionada
sobre a continuidade de seu tratamento após o ocorrido no CAPS, a mesma informou que havia
conseguido dinheiro para retornar ao psiquiatra particular e daria continuidade aos atendimentos.
Em outro momento durante o seu atendimento ela demonstrou-se bastante apreensiva devido
ao aumento da dosagem na medicação realizado pela médica e a dificuldade de aceitação de seu
quadro clínico. A usuária, desde quando foi diagnosticada, utilizava da negação ao se referir a seu
quadro psicológico e a necessidade do uso da medicação. Segundo ela:

Eu não gosto de ter que usar remédio, eles me deixam sem energia e essa depressão tem me afetado
muito, tem dias que eu não consigo sair do quarto nem para comer.

É possível entender que os maiores obstáculos apresentados pelas mulheres lésbicas na


assistência à saúde podem ser lidos pelo despreparo dos profissionais frente às especificidades
dessas mulheres (Barbosa e Facchini, 2009.) A saúde dessas mulheres é pautada por uma

18
vulnerabilidade, em que o atendimento a esses corpos se dá por meio da exclusão heteronormativa,
constante despreparo assistencial, insuficiência de políticas específicas que acolham as demandas
dessa população e a discriminação e presente em toda a sociedade.
No relato apresentado e nas características da rede psicossocial do território é possível
perceber marcas da exclusão e negligência. No caso da usuária, ao acessar um equipamento público,
a discriminação imposta sobre a sua sexualidade e expressão de gênero passaram a frente de seu
quadro de saúde mental, condicionando-a a um olhar de abjeto e negativa de acesso ao tratamento
que necessitava, colocando-a à margem da rede assistencial pública de seu território e impondo a
necessidade de buscar atendimento na assistência à saúde particular de outro território. Em relação
ao território de Santa Cruz, a rede de assistência à saúde mental é negligenciada pelo setor público,
sendo disponibilizados efetivamente apenas três equipamentos de acolhimento psicossocial para
uma população de 35.797 habitantes, de acordo com o censo de 2010, e apresenta dificuldades
quando considerado os Núcleo de Saúde da Família.
Portanto, considerando a saúde das mulheres lésbicas, em especial a saúde mental, os relatos
demonstram a exclusão social e negligências que atravessam os aspectos da lesbianidade e do
território.

6.Corpo como reflexo de outras escalas de opressão

Segundo Soeterik e Santos (2015), às relações de poder são formalizadas socialmente através
de diferentes escalas. A narrativa escalar é sustentada pelos impactos e efeitos em diferentes
recortes espaciais, de modo que os atores, processos, fenômenos, objetos sejam multiescalares e que
uma escala sofra influência de fenômenos em outras escalas. Esta organização escalar permite que
atores, relações, processos e fenômenos coexistem no espaço, sendo ordenados de modo a criar
sistemas de dominação e poder.
Considerando o corpo-território analisado neste trabalho, localizado no espaço de Santa
Cruz, o mesmo traz marcadores sociais da diferença por ser feminino/homoafetivo/de expressão fora
dos padrões de feminilidade, transitando por escalas de opressão baseadas na exclusão social e
invisibilidade. Assim, de acordo com os pressupostos apresentados, buscarei analisar através de
relatos da usuária a relação da família e da sociedade como escalas de opressão.

19
A forma como a família reage à revelação da orientação sexual e identidade de gênero
influencia na qualidade de vida e na saúde da população LGBTQIAPN+. De acordo com Mott
(1987), são poucas as mulheres lésbicas que conseguem construir sua auto aceitação e revelam a sua
orientação sexual para familiares ou colegas. Por outro lado, a grande maioria dos familiares que têm
filhas homossexuais parecem estar sempre esperando uma mudança ou cura em relação à orientação
sexual dessas mulheres, imperando em grande parte das relações familiares o inconformismo,
intolerância e repressão em torno das lésbicas por não estarem presentes na escala de dominação da
heterossexualidade os compromissos sociais heterossexuais.
Desse modo, é evidente a crença familiar de que todos os filhos serão heterossexuais e
cresceram seguindo estilos de vida e vivências desse tipo (Sanders, 1994). Arquivos do Grupo Gay
da Bahia trazem inúmeros registros de filhos e filhas que sofreram agressões físicas por parte dos
pais, quando esses descobriram sua homossexualidade. Fairchild e Hayward (1996) apontam que a
maioria dos homossexuais reprime seus sentimentos na tentativa de se moldar à sociedade.
Levando em conta esses pressupostos, foi possível perceber durante os atendimentos que a
relação da usuária com a família era conflituosa, conforme ela própria expõe:

Meus pais nunca aceitaram minha orientação sexual, principalmente minha mãe que, inclusive,
pagou para que dois homens me violentassem…

Ao descrever sobre essa situação a usuária demonstrou sentir raiva de sua mãe, mas relatou
que durante anos se culpabilizou, rejeitando a sua orientação e, até mesmo, forçou um namoro com
um rapaz para poder agradar a sua família. Em relação ao estupro corretivo sofrido, ficava
perceptível as suas tentativas de amenizar constantemente os impactos disso, mas, as vezes deixava
transparecer em suas falas o quanto este fato a havia machucado.
Foi possível analisar que ela canalizou em si toda a tristeza e marcas dessa rejeição familiar e
buscou por muitas vezes, através da negação de sexualidade, conquistar um lugar de afeição no meio
familiar. Entretanto, ao perceber que não seria possível alterar a sua orientação sexual e os seus
desejos, a mesma se afastou do seio familiar, decidindo por morar com uma parceira e romper o
vínculo com a família, sendo este retomado anos depois devido o adoecimento de sua mãe e a
necessidade da usuária assumir os cuidados com a sua progenitora, já que seus irmãos não eram
muito presentes e sua relação com eles não era saudável por conta de sua orientação sexual. Durante

20
os atendimentos eram perceptíveis traços depressivos na usuária, possivelmente desencadeados ou
agravado por seu histórico de vida.
Em seus relatos eram presentes sentimento de culpa e tentativa de negação da sua
sexualidade, que horas se contradiziam com uma afirmação de que ela não ia mudar e não havia
nada de errado em sua sexualidade ou pela forma contra hegemônica de sua expressão de gênero.
Era possível perceber também que a sua relação conflituosa com a família de alguma forma
era externalizada em suas relações afetivas-sexuais, sobretudo devido ao relato de inúmeros ciclos de
relacionamentos abusivos, sendo que um deles chegou ao campo da violência física e ameaça de
morte, fazendo com que ela precisasse mudar de emprego e território de moradia.
Soto-Villagran (2013) argumenta que é no corpo que se experimentam as emoções, isto é, o
corpo é lugar das experiências emocionais, ultrapassando a realidade individual e corporal. Portanto,
sendo compreendidas a partir da coletividade inseparável de outras escalas, a experiência da
violência sexual é vivenciada para além da dor do corpo, mas também pela subjugação moral.
Já para Pile e Thrift (1995) e Nast e Pile (1998) o espaço corpóreo é um lugar de controle
moral da sociedade e se sustenta pela legitimação do poder sobre os corpos femininos. A culpa em
torno da violação sexual traz no corpo um espaço que guarda um segredo. Para Brown (2000), o
silêncio em torno da violência sexual se estabelece porque falar sobre ela implica ser julgada pela
moral patriarcal em que as próprias vítimas são culpabilizadas pela violação.
Portanto é possível analisar de acordo com os relatos apresentados que a relação familiar da
usuária corrobora com os aspectos sociais de exclusão e negação de sua orientação sexual, sendo
acrescido da violência sexual na tentativa de corrigir a orientação sexual da mesma. Assim, no caso
relatado, a homossexualidade feminina passa por inúmeros aspectos de opressão que marcam seus
corpos.
7. Corpo como ferramenta de luta

Os corpos são atravessados pelo caráter disciplinar da sociedade, ao compreendê-lo como um


território é necessário entender que os aspectos sociais de dominação estarão presentes nesses
corpos, como indica Maffesoli (2001), o corpo enquanto entidade relacional, está mergulhado em um
universo dinâmico e complexo através das relações sociais, gerando a inter relação indivíduo-
território.
No caso das mulheres essa relação está presente por meio do confinamento da mulher no seu
próprio corpo, atravessado pela invisibilização quase completa deste corpo. Este confinamento para

21
as mulheres lésbicas está pautado na escala dupla de opressão gênero e sexualidade, entretanto ao
compreender a lesbianidade a partir da concepção de “corpo-território”, o mesmo pode apresentar-se
como ferramenta de luta, ao contrapor o caráter disciplinar social em relação a sexualidade e viver
uma nova ordem ao lutar contra a heteronormatividade e reafirmar todos os dias a sua existência
desafiando a invisibilização e dominação dos corpos femininos.
Em seu relato a usuária reafirma seu lugar social ao conseguir aceitar sua sexualidade e entender
a sua lesbianidade pela ótica do pertencimento, sendo apresentado uma estabilidade em seu quadro
psíquico a partir de uma resposta positiva ao uso da medicação.

Meu corpo está reagindo, estou conseguindo me sentir melhor, sinto que agora é possível refazer
minha vida e finalmente construir meu futuro. Tenho planos de voltar pro trabalho e abrir meu
próprio negócio. Não sinto mais medo, estou conseguindo superar esse relacionamento, até entrei
pra academia…

Em relação a sua sexualidade a mesma diz: Estou me aceitando mais sabe, sei que não há problema
com a minha sexualidade, sei que eu gosto de às vezes ficar com cabelo mais curto, em outras gosto
dele grande, minhas roupas eu gosto de estar confortável não importa se às vezes elas sejam mais
largas, ando de calça, uso short curto não vejo problema nisso e agora entendo que posso ser quem
eu sou…

A lesbianidade representa um enfrentamento direto à organização social hegemônica


patriarcal e heteronormativa, ao conseguir aceitar sua sexualidade a usuária da ao seu corpo a
possibilidade de luta contra a todo esse sistema. E em seu caso o acesso aos cuidados com a sua
saúde mental lhe possibilitaram a recuperação de si mesma e a estrutura necessária para dar espaço
em sua vida ao desejo, ao autocuidado e até mesmo o acesso ao território rompendo com o
isolamento.

Considerações Finais

Ao compreender que as mulheres lésbicas são atravessadas por uma intersecção de opressões
ao renunciarem cotidianamente a ideologia hegemônica da lógica heterossexista e o entendimento da

22
carga de inferioridade imposta pela estrutura patriarcal e a opressão em relação a orientação
homoafetiva é possível reconhecer que a afirmação e construção da identidade lésbica é impactada
por inúmeras dificuldades, ocassionando em seus corpos a marca da invisibilidade e exclusão
social. Ao nos referimos sobre o processo de invisibilidade da mulher lésbica, é possível entender
essa invisibilidade para além do campo social e da esfera pública, mas também a vulnerabilidade e
os riscos enfrentados por serem frutos de um preconceito ideologicamente e culturalmente instituído,
sendo elas institucionalmente marginalizadas e negligenciadas pelo poder público e por toda
sociedade.

Quando analisado esse processo de invisibilidade e exclusão social que atravessa os corpos
das mulheres lésbicas e relacionando-o ao território de pertencimento é possível visualizar essa
articulação entre corpo e território a partir de múltiplas formas, principalmente pela relação micro e
mais íntima que é o corpo.
Ao compreender as configurações territoriais pela ótica de Haesbaert (2004), que afirma o
território como algo imerso pelas relações de dominação, de apropriação sociedade-espaço e de
dominação político-econômica esse trabalho mergulhou através da relação corpo-território
analisando o território de Santa Cruz bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro e aspectos da
lesbianidade.
Considerando a Zona Oeste do Rio de Janeiro como um todo foi possível perceber marcas de
uma desigualdade interna através da hierarquização político-econômica dos bairros da Barra da
Tijuca e Recreio dos Bandeirantes detentores dos maiores investimentos e os bairros de Santa Cruz,
Sepetiba, Paciência e adjacentes como invisibilizados no quesito de infraestrutura econômica e
urbana (Caldeira,1984).
O território de Santa Cruz está imerso nessas relações de dominação ao configurar como um
território periférico que está longe de qualquer foco de investimento e em seu campo cultural-
simbólico ao se caracterizar como bairro dormitório sendo atravessado pelo conservadorismo
vigente e pela presença das milícias que impõem. uma norma específica de se habitar, estando esses
aspectos estão intimamente ligados ao modo como as pessoas acessam e utilizam o território.
No que se refere à lesbianidade foi possível entender a invisibilidade e a exclusão social como
uma violência simbólica que lhe atravessa e o campo da prestação de serviços à saúde,
principalmente a saúde mental como um dos campos que mais perpetuaram essa relação de
dominação colocando de acordo com Greig (2008), esses corpos na clandestinidade, seja pelo não

23
atendimento de suas demandas de saúde sexual, seja pela negação das informações que, por direito,
deveriam lhes ser disponibilizadas.
Os impactos da violência contra a população LGBTQIAPN+foram analisados também a partir
da lógica territorial, sendo essa violência materializada na dimensão corporal na forma do abandono,
estupros “corretivos”, assassinatos e espancamentos que visam a aniquilação, apagamento e
silenciamento desta população. Em média em 2018 foram 39 vítimas de algum delito motivado por
LGBTfobia por mês no estado do Rio de Janeiro e na cidade do Rio de Janeiro há um número alto de
vítimas, sobretudo na Zona Oeste. Considerando essa violência na Zona Oeste, de agosto de 2020 até
o ano 2022 o Centro de Cidadania LGBTI Capital II localizado no Cesarão, sub bairro de Santa
Cruz teve 584 usuários sendo realizado 916 atendimentos e 81 casos de violência LGBTIfóbica que
foram notificadas, mas pela característica territorial é possível pensar na hipótese de subnotificação
desses números, sem falar na invisibilidade que o próprio equipamento enfrenta no território.
Em relação ao aspecto de corpo como território o isolamento e invisibilidade atua como
característica semelhante entre o território de Santa Cruz com a experiência da lesbianidade
apresentada pelo relato da usuária, onde apesar de estarem presentes na cidade, ambos estão
isolados, seja pelas questões sociodemográficas que colocam Santa Cruz a margem do resto da
cidade, seja pelos invisibilidade vivenciada pela lesbianidade que coloca o corpo lésbico como alvo
da dominação heteronormativa, acumulando inúmeras categorias de dominação.
Portanto neste trabalho foi apresentado através do relato de experiência a relação corpo-território
atravessada pelas características de opressão da heteronormatividade e do isolamento
sociodemográfico presente no território. Sendo a violência LGBTIfobica, a negligência na rede de
saúde psicossocial e a discriminação marcas que impactam essa relação. Todos os aspectos
apresentados serviram para afirmar que a lesbianidade pode sim ser atravessada por seu território e
seu deu corpo afeta e é afetado por essa relação de dominação corpo-território por meio da exclusão,
negação e invisibilidade.

Referências Bibliográficas

24
ATLAS DA VIOLÊNCIA 2021, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum
Brasileiro de. Segurança Pública (FBSP). Disponível em:
https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/publicacoes.

BARBOSA, Regina Maria; FACCHINI, Regina. Acesso a cuidados relativos à saúde sexual entre
mulheres que fazem sexo com mulheres em São Paulo, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.
25, supl. 2, p. s291-s300, 2009.

BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo: fatos e mitos. São Paulo: Difusão Européia do Livro,
1970.

BONDIA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Rev. Bras. Educ.
[online]. 2002.

BROWN, Michael P. Closet space: Geographies of metaphor from the body to the globe.
London: Routledge, 2000.

CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. A política dos outros - o cotidiano dos moradores da periferia e o
que pensam do poder e dos poderosos. São Paulo: Brasiliense, 1984

CARVALHO, Cina Souza; CALDERARO, Fernanda; SOUZA, Solange Jobin E. O disposivo


"Saúde de Mulheres Lésbicas": (in)visibilidade e Direitos.. Psicologia Política, Rio de Janeiro, v. 13,
n. 26, p. 111-127, jan./abr. 2017.

COFFMAN, K. B.; COFFMAN, L. C. & ERICSON, K. M. M. Th e size of the LGBT


population and the magnitude of antigay sentiment are substantially underestimated.
Management Science, v. 63, n. 10, p. 3168-3186, 2016.

CRUZ HERNÁNDEZ, D. T. 2017. Una mirada muy otra a los territorios-cuerpos femeninos.
Solar, vol. 12, n. 1, p. 35-46.

DOSSIÊ LGBT+ : 2018 / orgs. Victor Chagas Matos e Erick Batista Amaral de Lara. —— Rio de
Janeiro : Rio Segurança, 2018. Disponível em:
http://arquivo.proderj.rj.gov.br/isp_imagens/uploads/DossieLGBT2018.pdf

ECHEVERRÍ, J. A. 2004. Territorio como cuerpo y territorio como naturaleza: diálogo

25
intercultural? In: Surrallés, A. e García Hierro, P. (orgs.) Tierra adentro: territorio indígena y
percepción del entorno. Copenhague: Grupo Internacional de Trabajo sobre Asuntos Indígenas.

ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do estado. Trad. José Silveira
Paes. 3 ed. São Paulo: Global, 1984.

FALQUET, Jules. Breve resenha de algumas teorias lésbicas. Buenos Aires: Herética, 2013.

FAIRCHIL, B., & Hayward, N (1996). Agora que você já sabe: o que todo pai e toda mãe deveriam
saber sobre a homossexualidade. Rio de Janeiro: Record.

FERNANDES, Marisa. 2002. Lésbicas no Brasil. Disponível no site:


http://gonline.uol.com.br/entre_elas /filosofando/filosofando.shtml.

FERREIRA, L. Pouco dinheiro gasto por ministério de Damares em 2020 impacta mulheres e
LGBT+ e gera temor sobre futuro da pasta. Gênero e Número, 14 jan. 2021.

FRIDMAN, Fania. (1994) Propriedade fundiária, habitação e processo de urbanização no Rio de


Janeiro. Cadernos do IPPUR/ UFRJ. Rio de Janeiro: IPPUR, ano VIII, nº 213, set/dez 1994. p. 79-
93.

FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1988.

HAESBAERT, R. 2004. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multi-

territorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.

HAESBAERT, R. Dilema de conceitos: espaço-território e contenção territorial. In: SAQUET, M.


A.; SPOSITO, E. S. (Orgs.). Territórios e territorialidades: teorias, processos e conflitos. São Paulo:
Expressão Popular, 2009. p. 95-120.

LEFEBVRE, Henri. The Production of Space. Oxford: Blackwell, [1974] 1991.

26
MAIA, Rosemere. Entre a Majestade e o Caos: história, cultura e cotidiano de uma área periférica da
cidade do Rio de Janeiro. Mercator, Fortaleza; v. 7, n. 13, 2008, p. 59-69.

MEDEIROS, R. M. V. Território, espaço de identidade. In: SAQUET, M. A.; SPOSITO, E. S.


(Orgs.). Territórios e territorialidades: teorias, processos e conflitos. São Paulo: Expressão Popular,
2009. p. 217-227

MELLO, L. Familismo (anti)homossexual e regulação da cidadania no Brasil. Estudos Feministas,


Florianópolis, v. 14, n. 2, p. 497-508, maio/ago. 2006.

MIRANDA, Eduardo O. O Ijexá que conduz o Corpo-território a desenhar: saberes do Afoxé Pomba
de Malê. In: Eduardo O. Miranda. (Org.). Educação afro-brasileira: encruzilhadas das experiências
culturais. 1ed. Salvador: Kawo-Kabiyesile, 2015.

MIRANDA, Eduardo O. Experiências do corpo-território: possibilidades afro-brasileiras para a


Geografia Cultural. Élisée - Revista de Geografia da UEG , v. 6, p. 116-128, 2017.

MIRANDA, Eduardo Oliveira. "O negro do Pomba quando sai da Rua Nova, ele traz na cinta uma
cobra coral": os desenhos dos corpos-territórios evidenciados pelo Afoxé Pomba de Malê. 2014.

MOTT, L. (1987). O lesbianismo no Brasil. Porto Alegre: Mercado Aberto.

RAFFESTIN, C. 1993. Por uma Geografia do Poder. Ática. São Paulo, Brasil.

REDE FEMINISTA DE SAÚDE. Saúde da Mulher Lésbica. Dossiê: promoção da equidade e da


integralidade, 1996. Disponível em: http://www.redesaude.org.br/Homepage/ Dossi%EAs/Dossi
%EA%20Sa%FAde%20das%20Mulheres%20L%E9sbicas.pdf.

RICH, Adrienne. Notes toward a politics of location. In: RICH, Adrienne. Blood, bread, and
poetry: selected prose 1979- 1985. London: Virago Press. 1984, p. 210-231.

27
SANDERS, G. (1994). O amor que ousa declarar seu nome: do segredo à revelação nas afiliações de
gays e lésbicas. Em E. Imber-Black (Org.), Os segredos na família e na terapia familiar (pp. 219-
244). Porto Alegre: Artes Médicas.

SAQUET, M. A.; BRISKIEVICZ, M. Territorialidade e identidade: um patrimônio no


desenvolvimento territorial. Caderno Prudentino de Geografia, v. 1, n. 31, p. 3-16, 2009.

SOJA, E. W. 1971. The political Organization of Space. AAG Commission on College Geography.
Washington, D.C., USA.

SOETERIK, I. M. ; SANTOS, R.E.N. Escalas da Ação Política e Movimentos Sociais: O caso do


Movimento Negro Brasileiro e a Emergência de Políticas Educacionais de Combate ao Racismo.
GEOgraphia. ano 17, n. 33, 2015

VALLADARES, Lícia Prado (org.). Repensando a habitação no Brasil. Rio de Ja-neiro, Zahar, 1983

PERLMAN, Janice. O mito da marginalidade - favelas e política no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro,
Paz e Terra, 1977

Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro. «Bairros Cariocas: Santa Cruz». Instituto Municipal de
Urbanismo Pereira Passos (IPP). Consultado em 15 de janeiro de 2023. Arquivado do original em 20
de agosto de 2007.

PILE, Steve. The body and the city: psychoanalysis, space and subjectivity. New York:
Routledge, 1996.

PILE, S. e NAST, H. 1996. Places through the body. Londres e Nova York: Routledge.

NAST, Heidi; PILE, Steve. Places through the body. London: Routledge, 1998.

PILE, Steve and THRIFT, Nigel. Mapping the Subject: Geographies of Cultural Transformation,
London, Routledge 1995.

WITTIG, Monique. 2006. El pensamiento heterosexual y otros ensayos. Barcelona. Egales.

28
29

Você também pode gostar