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As migrações se referem à dinâmica demográfica no território e envolvem

diferentes fluxos. As migrações internacionais são frutos da era pós-Revoluções


Industriais.

Migração: deslocamento demográfico de determinado lugar para outro lugar,


região ou país.

Imigrante: aquele que chega. A imigração diz respeito à chegada de populações


em determinado lugar, país ou mesmo região.
Emigrante: aquele que sai. A emigração diz respeito à saída de populações de
determinado território.

Exemplifique-se: os italianos que chegaram ao Brasil após deixaram a Itália se


instalaram nos estados de São Paulo e Paraná no curso dos séculos XIX e XX.
No caso, emigraram da Itália para imigraram ao Brasil.

Fronteira: limite territorial de determinado Estado nacional. As fronteiras são


determinadas através de acordos diplomáticos e invariavelmente tiveram seus
traçados delimitados através de conquistas militares e seus limites variam de
país a país. As fronteiras separam povos, línguas, religiões etc. e é mais que um
traçado no território. Seus limites podem ser artificiais (linhas imaginárias, muros,
cercas etc.) ou limites naturais (rios, acidentes geográficos, mares etc.).

Estado: é o modo de organização do poder político. Há diversas maneiras de


organizar Estados politicamente. Em boa medida trata-se de distribuição
geográfica de poder político em função de determinado território.

Nação: refere-se aos povos e sua identidade cultural. Há diversos fatores que
compõem as nações e possibilitam às populações se sentirem pertencentes a
determinadas culturas, notadamente através da língua e da religião.

Há diferentes tipos de migrações. Os fluxos populacionais no terreno ocorrem


em diferentes escalas no tempo e no espaço.

Êxodo Rural: o movimento migratório oriundo do campo em direção às cidades.


É um dos maiores fenômenos da era pós-industrial. E mais, a partir deste
movimento migratório teremos a formação dos espaços urbanos que formarão
as cidades como as conhecemos hoje.

Migração Pendular: movimento migratório comum em grandes espaços


urbanos industrializados e/ou com complexas atividades de comércio e serviços.
Ocorre em grandes metrópoles. Este movimento é diário e tem como
característica a ida e a volta, geralmente ida ao trabalho ou a lugares de estudos
pela manhã com retorno para casa à tarde. Resulta daí grandes
congestionamentos nas grandes cidades em ‘’horário de pico’’ ou hora do ‘’rush’’.
Imigrante Ilegal: indivíduo que migra, mas não cumpre as regras necessárias
para entrar em determinado país de destino. Também conhecidos como
imigrantes clandestinos. Exemplos de zonas de fronteiras muito tensas, em
relação aos imigrantes ilegais, são as do México com os Estados Unidos e as
fronteiras de países mediterrâneos como a Itália e a Grécia.

Refugiados: O refugiado busca asilo num novo país por variados fatores que
podem envolver diferentes etnias, nacionalidade, grupos sociais, religião ou
opinião política. Trata-se de determina pessoa que migra forçosamente em
virtude de perseguições políticas ou religiosas, ou mesmo por causa de guerras
civis ou guerras étnico-culturais. Além de guerras entre nações.

Transumância: migração sazonal. Ocorre em determinada época do ano e pode


estar associada à economia ou a eventos naturais, a exemplo dos furacões ou
longos períodos de estiagem. No caso, o migrante sazonal ocupa diferentes
porções territoriais ao longo do ano. Exemplifique-se: a colheita de cana de
açúcar na Zona da Mata do Nordeste ou a migração para o interior da Flórida,
nos Estados Unidos, quando se aproxima um furacão.

Xenofobia: (do grego xenós: estranho, diferente e phóbos: medo). Em nossos


dias a xenofobia está associada à aversão aos estrangeiros e aos imigrantes. A
xenofobia envolve práticas racistas entre povos em virtude de diferenças de
origem étnica, religiosa, cultural etc.

Fatores que impulsionam a migração

As migrações podem envolver diversos fatores. Há fatores de repulsão


demográfica e fatores atrativos quanto às migrações.

Forçantes naturais: secas prolongadas, invernos rigorosos, catástrofes naturais


como os terremotos, maremotos e tsunamis, enchentes, deslizamentos de terra
etc. Diversas condições geográficas, nas diferentes localidades do planeta,
podem impulsionar as fugas humanas.

Forçantes humanas: ditaduras, guerras civis, conflitos étnicos etc. Além disso,
há as migrações por conta de fatores econômicos e tais fatores são
compreendidos como a principal causa dos fluxos migratórios e que levam
grandes quantidades humanas a buscarem melhores condições de vida longe
de suas regiões de origem.

Fatores atrativos: países economicamente desenvolvidos, regiões com fortes


concentrações industriais e com possibilidade de trabalho e renda. Em outras
palavras, os países ou regiões que apresentam elevado IDH, estabilidade
política, paz social, prosperidade econômica etc. tendem a atrair grande número
de imigrantes.

As Migrações Internacionais
Segundo relatório da ONU, no ano de 2009, havia 195 milhões de migrantes no
mundo. Tal cifra equivalia a 3% da população mundial. A maior parte desse fluxo
migratório (60%) se dá em direção aos países industrializados e
economicamente desenvolvidos. Os países que mais atraíam pessoas no
mundo eram desenvolvidos, a exemplo de Estados Unidos, do Japão e Austrália,
além de países do núcleo mais próspero da União Européia. Destaque-se as
grandes economias industriais alemã e britânica, além da Espanha, Portugal e
Itália. Em 2010, conforme dados da ONU, o número de migrantes internacionais
estava na casa dos 214 milhões e o de refugiados acima dos 16 milhões. Nessa
década houve aumentos no número de migrantes internacionais e em 2020 se
estimava 272 milhões de pessoas que viviam distantes de suas regiões de
origem. Em 2018 o número de refugiados contava com 25 milhões em novo
recorde.

As grandes migrações internacionais são fruto do desenvolvimento das


sociedades industriais modernas. Contribui decisivamente para os elevados
números a globalização, a revolução nos sistemas de transportes e de
comunicações que tendem a ‘’aproximar distâncias’’.

O perfil dos imigrantes internacionais tem mudado nas últimas décadas. A


presença de mulheres tem sido crescente e em 2020 se estimava em 47% a
quantidade de mulheres migrantes e em 13% a percentagem de crianças.

Os principais fluxos dos migrantes envolvem as seguintes direções:


Fluxo: norte  norte;
Fluxo: sul  norte;
Fluxo: sul  sul.

Tais fluxos envolvem países ricos e desenvolvidos (hemisfério norte) e países


em desenvolvimento e mesmo países muito pobres (hemisfério sul). Os fluxos
das migrações internacionais podem ser sintetizados da seguinte maneira:
- Países em desenvolvimento para países desenvolvidos, que é dos mais
importantes fenômenos da migração internacional;
- Países em desenvolvimento para países em desenvolvimento, que tem
crescido nos últimos anos e apresenta grande complexidade. No caso,
populações saem de países pobres e migram para países menos pobres.

Apesar das longas distâncias no fluxo migratório internacional, vê-se que as


maiores migrações ainda são dentro das próprias regiões. Quer dizer, as
populações se movimentam geralmente em suas fronteiras imediatas.

Estados Unidos:
Aos Estados Unidos da América é aonde vão as maiores quantidades de
migrantes por causa da grande economia do país. Do total de migrantes no
mundo a estimativa é que 20% buscam os Estados Unidos, 39 milhões de
pessoas viviam nos Estados Unidos em 2009 e 45 milhões em 2020. Se
considerarmos que a população americana é de 330 milhões de habitantes,
perceberemos que acima dos 10% compõem-se de imigrantes.

Em 2018 excedem os 35 milhões de imigrantes regularizados, indivíduos sem a


cidadania norte-americana com vistos permanentes ou vistos temporários. Além
de imigrantes ilegais.
Ilegais nos Estados Unidos: a estimativa, no ano de 2016, era de pelo menos
10 milhões de imigrantes ilegais nos Estados Unidos conforme dados do governo
americano. Em 2007 estimava-se que excediam os 12 milhões o número de
imigrantes ilegais no país, viu-se, no entanto, queda nesse número nesses quase
dez anos (entre 2007 e 2016).

A queda de imigrantes ilegais nos Estados Unidos está associada a uma série
de fatores. Houve maior regularização de imigrantes no período, mas as tensões
na fronteira contribuíram para isso com as deportações. O governo do ex-
presidente Barak Obama, em 2013, deportou mais de 400 mil imigrantes ilegais,
número superior de deportações de seus dois antecessores imediatos, George
Bush (2001-2009) e Bill Clinton (1993-2001). Aliás, o controle na fronteira entre
Estados Unidos e México faz parte da política doméstica norte-americana, pois
a busca pelo ‘’Sonho Americano’’ e o forte poderio econômico estadunidense
atraem milhões de pessoas todos os anos.

O aumento de deportações nos Estados Unidos, aliás, se intensificou a partir do


atentado de 11 de setembro de 2001 às Torres Gêmeas e ao Pentágono e é
inegável que a Guerra ao Terror, desencadeada pelo ex-presidente George
Bush, suscitaram maior controle nas fronteiras dos Estados Unidos da América.
Some-se a isso a crise financeira de 2008 que se deu a partir da falência do
banco de investimento norte-americano Lehman Brothers.

O grupo que mais contribuiu para a queda de imigrantes ilegais nos Estados
Unidos foi o de mexicanos que deixaram o país em maior quantidade do que
entraram. Entretanto, segundo os dados do governo americano, mais da metade
dos imigrantes ilegais nos Estados Unidos é composta por população de origem
mexicana (aproximadamente 5,5 milhões em 2016). A extensa fronteira entre
ambos os países, a grande disparidade econômica, além da história em comum
de ambos são fatores que explicam a grande movimentação fronteiriça. Saliente-
se ainda que os estados do Texas e da Califórnia foram anexados pelos
americanos no Século XIX através da Grande Guerra (1845-1848) que envolveu
os países naquele tempo, logo é óbvio porque o fluxo migratório de mexicanos
é grande em direção ao país do norte.

Os Estados Unidos não atraem apenas mexicanos. Os brasileiros, por exemplo,


têm forte presença naquele país, pois 1,4 milhão de brasileiros, segundo o
Itamaraty em 2019. Há grandes colônias brasileiras em cidades como Boston
(Massachusetts), Nova Iorque (Nova Iorque), Miami (Flórida), Los Angeles e São
Francisco (Califórnia). Quanto aos brasileiros imigrantes ilegais a estimativa é de
130 mil.

Há quase 2 milhões de imigrantes ilegais nos Estados Unidos oriundos da


América Central, os principais polos de repulsão são Honduras, Guatemala e
Belize.

Muitos imigrantes vivem em condições de sub-humanidade nos Estados Unidos.


Muitos migrantes que fogem de seus países de origem acabam sendo
explorados nos países aonde chegam, pois o idioma, a religião e os costumes
locais acabam limitando a integração dos imigrantes e os deixam vulneráveis a
toda sorte de exploração.

Europa
Durante o século XIX a Europa foi o maior centro de repulsão demográfica do
globo terrestre. Estima-se que 50 milhões de habitantes abandonaram o
continente para tentar nova vida no Novo Mundo. Desses, 5 milhões teriam vindo
ao Brasil.

Ao longo do século XX, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, a


Europa passou a ser região de atração demográfica e os países da Europa
Ocidental passaram a ser a principal porta de entrada de imigrantes no Velho
Mundo.

O fluxo migratório na Europa, no contexto da Guerra Fria e do Muro de Berlim,


era fortemente marcado pelo pela direção leste  oeste. Mas a partir da década
de 1990 esse padrão se diversificaria grandemente, ainda que com o fim da
URSS muitos habitantes deixaram os países do leste europeu e foram para os
países da Europa Ocidental.

Os países da Europa Ocidental, em especial destaque a Alemanha, recebem


grande número de imigrantes e refugiados. Além de Inglaterra, Itália, Espanha e
Portugal que são os mais importantes polos de atração migratória junto com os
Estados Unidos entre as décadas de 1990 e 2010.

Rotas migratórias à Europa - crise dos refugiados


O Mar Mediterrâneo é uma das mais importantes regiões de fluxos migratórios
de países do norte da África e África Subsaariana, além do Oriente Médio, em
direção à Europa a partir de meados de 2011.

O grande êxodo do norte da África em direção à Europa se desencadeou


fortemente a partir da Primavera Árabe. A partir de 2011 houve crescentes
protestos, manifestações, conflitos étnico-religiosos e até guerra (na Líbia) em
países do Magreb e Oriente Médio, tais acontecimentos, somados à queda de
alguns governos, passaram a ser chamados de Primavera Árabe porque,
segundo análise ocidental, as manifestações em tais regiões resultariam em
democracias e desenvolvimento humano. O que se viu, porém, foram mortes e
destruição, além de milhões de refugiados em forte crise migratória.

Hoje, a região dos Balcãs é importante zona de entrada por fluxos migratórios
de refugiados. O mar Mediterrâneo e pelas ilhas de Cós, da Grécia, e
Lampedusa, da Itália, além de Malta, oficialmente República de Malta, compõem
importante estágio na travessia entre os países da África e Oriente Médio que
procuram acessar a Europa.

O sul da Itália é importante porta de entrada aos refugiados da Líbia, Tunísia,


Egito e Turquia que buscam refúgio na Europa. Grécia e Macedônia recebem
imigrantes especialmente da Turquia, cuja origem é significativamente da Síria,
Egito e países do Chifre da África (Eritréia especialmente). Já Espanha e França
recebem migrantes da Argélia e Marrocos. Os territórios de Ceuta e Melila são
importantes vias de acesso de imigrantes à Espanha. Observe o mapa abaixo.

A travessia é algo extremamente perigoso, há muitas mortes por causa de


embarcações que se acidentam e acabam virando com os consequentes
afogamentos. Um dos casos de maior repercussão foi do menino sírio Aylan
Kurdi de apenas três anos encontrado morto em praia na Turquia em 2 de
setembro de 2015. Além de Aylan Kurdi morreram afogados seu irmão, 5 anos,
e sua mãe. Uma das maiores expressões da tragédia que é a migração
contemporânea no que diz respeito aos refugiados.

Reitere-se, foto de Aylan Kurdi sendo resgatado morto é uma das maiores faces
da tragédia de quem busca melhores condições de vida em países distantes de
sua origem.

Figura 1. Rotas de entrada de refugidos à Europa.

Conforme se vê no infográfico em 2014 morreram 3500 pessoas, em 2015


morreram 3771 pessoas e em 2016 teriam morrido 5022 pessoas.
Figura 2. O símbolo de maior expressão dessa tragédia, conforme dito acima, é a morte de Aylan Kurdi. Foto de
Sertan Sanderson

A chegada pelos Balcãs:


A chegada à Grécia e à Macedônia faz parte da rota de migrantes oriundos do
norte da África e Oriente Médio, especialmente via Turquia, com o objetivo de
chegar à Alemanha.

A ‘’via sacra’’ envolve Grécia, Bulgária, Sérvia, Hungria, Croácia, Eslovênia,


Áustria e, por fim, a Alemanha. (Ver figura abaixo).

Figura 3. Rotas de migrantes contemporâneos.

É notória a barreira instalada ao sul dos países que são portas de imigrantes e
refugiados. Os casos mais comentados pela imprensa, nos últimos anos,
envolvem a Hungria e a Áustria. Parte considerável dessa rota é feita por famílias
inteiras a pé e para não se perderem nem desviarem do caminho é sobre os
trilhos de trens que os imigrantes caminham.

Uma das imagens da crise dos imigrantes é a presença de famílias inteiras em


campos de refugiados no limite das fronteiras nacionais dos países supracitados.
A foto abaixo retrata um campo de refugiados em fronteira entre a Grécia e a
Macedônia em 2016.

Figura 4. Refugiados sob as intempéries do clima.

Taxa Líquida de Migração – apesar dos EUA ou da Alemanha ocuparem


posição de destaque na quantidade absoluta de imigrantes que recebem, há o
conceito de ‘’taxa líquida de migração’’ que se refere ao número de imigrantes/mil
habitantes.

Migração per capta: dos 10 países, com maior fluxo de emigrantes, três eram
do Oriente Médio e um do norte da África. No caso, Jordânia, Síria, Líbano e
Somália, segundo dados de 2012 da Organização Mundial da Migração.

Os dez países com maior fluxo de saída (emigrantes/1000 habitantes) em


2012
Ilhas Marianas Setentrionais: 41,32.
Jordânia: 33,42.
Síria: 27,82.
Micronésia: 20,97.
Tonga: 17,90.
Nauru: 15,04.
Guiana: 12,78.
Maldivas: 12,64.
Líbano: 12,08.
Somália: 12,06.

Desses 10 países 4 apresentam características naturais em comuns que levam


a fortes migrações: são insulares e se localizam no Oceano Pacífico e pertencem
ao continente da Oceania.

No caso, as Ilhas Marianas Setentrionais, são 14 ilhas localizadas no arquipélago


das Marianas, a Micronésia, Tonga, Nauru são territórios insulares sujeitos a
grandes tempestades tropicais e aos tufões.
Já Maldivas, república insular no sudoeste da Índia no oceano Índico, apresenta
diversidade étnica e religiosa, marcado pela perseguição aos cristãos que são
minoria.

Já os dez países com maior fluxo de chegada (imigrantes/1000 habitantes)


em 2012
Catar: 40, 62;
Zimbabué: 23,77;
Ilhas Virgens Britânicas: 18,56;
Ilhas Turcas e Caicos: 17,27;
Emirados Árabes Unidos: 16,82;
Singapura: 15,62;
Ilhas Cayman: 15,37;
Bahrein: 14,74;
São Martinho: 14,24;
Anguila: 12,9.

Desses 10 países, com maior fluxo de imigrantes, três são do Oriente Médio. No
caso, Catar, Emirados Árabes Unidos e Bahrein, além do novo Tigre Asiático
Singapura, segundo dados de 2012 da Organização Mundial da Migração, têm
uma economia diversificada e, portanto, atraem imigrantes de países vizinhos.

Veja a tabela abaixo com dados mais atuais – 2015/2020

Figura 5. Taxa líquida de migração para o quinquênnio 2015/2020. Fonte: ONU.

Dois países merecem atenção em relação à sua taxa de emigrantes, a Síria e a


Venezuela, pois seus percentuais consideráveis de emigração dos últimos anos,
se deve a situações catastróficas dentro de suas fronteiras. A Síria foi
parcialmente destruída com a guerra que já dura uma década e forçou milhões
migrarem internamente e outros milhões buscarem refúgio nos países vizinhos,
em países europeus e até no Brasil. A Venezuela apresenta crise econômica
crescente e forte crise política interna. A crescente pobreza no país fez com que
a população perdesse qualidade de vida e em média o cidadão venezuelano
emagreceu 10kg, em média, nos últimos anos. O país viu sua posição no ranking
internacional do PIB despencar algumas posições. Tal situação, no país vizinho
ao Brasil, resultou em emigração em massa de pessoas que abandonaram a
Venezuela, muitos vieram para o Brasil.

Migração nos Países Emergentes:

A partir de 2010 há fortes mudanças no fluxo migratório no mundo e se observa


crescentes fluxos em direção aos países emergentes e entre países emergentes.
Tal mudança é resultado, em boa medida, da crise econômica nos Estados
Unidos em 2008 e de crise econômica em países da Zona do Euro envolvendo
Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha (no famoso acrônimo em inglês
PIIGS).

Os países, para onde assistimos a grande fluxo migratório, entre os emergentes


são os que compõem o BRICS (acrônimo que se refere ao Brasil, à Rússia, à
Índia, à China e à África do Sul). Tais países apresentaram relativo crescimento
econômico nas décadas de 2000 e 2010. O fato de crescerem economicamente
fez com que sediassem grandes eventos internacionais nesse período e
consequentemente houve expansão na indústria de construção civil.

Protagonismo dos países emergentes: a China sediou a Olimpíada em 2008,


a África do Sul sediou a Copa do Mundo de 2010, já o Brasil sediou a Copa do
Mundo de 2014 e as Olímpiadas de 2016, coube à Rússia sediar a Copa do
Mundo de 2018. O próximo país a sediar a Copa do Mundo, em 2022, é o Catar
e não é por acaso que este país tem recebido número considerável de
imigrantes, pois com a construção civil em alta há oportunidades de trabalho
em tais países.

O que podemos constatar com tais eventos é o protagonismo desses países


para eventos internacionais. Além disso, o BRICS se projetou no mundo em 2014
através da criação do Novo Banco de Desenvolvimento, um banco de
desenvolvimento multilateral a fim de fazer concorrência com o Fundo
Monetário Internacional.

Outro grupo de países emergentes que atraem importantes fluxos migratórios


são os novos emergentes. No caso, o México, a Indonésia, a Coréia do Sul e a
Turquia, cujo acrônimo é MIST. Tal classificação de países também foi proposta
pelo economista britânico Jim O’ Neill.

Esses países, que compõem o BRICS e o MIST, têm características em comum


no que diz respeito à economia e por isso atraem grandes fluxos migratórios.
Além disso, são potências emergentes regionais. Destaque-se a China que tem
pretensões em se tornar a maior potência global nas próximas décadas.
No Oriente Médio, há importantes economias que se transformaram em polos de
atração populacional, apesar de ser, todavia, uma das regiões de onde sai muita
gente. E mais, o que podemos constatar, portanto, é que há forte migração intra-
regional. Se por um lado a Síria – pelos motivos descritos acima – é um país de
onde saíram 12 milhões de pessoas a partir de 2011, a Jordânia e o Líbano, bem
como Arábia Saudita e Turquia recebem parte considerável desse fluxo
migratório

Figura 6. Refugiados Sírios desde 2011. Autor: Victor Grannier.

Países de onde saem o maior contingente de migrantes são asiáticos e são


aqueles que figuram entre as maiores populações do mundo.

A emigração, em maiores quantidades ocorrem a partir da Índia, México, Rússia,


China, Bangladesh.

Característica importante da migração internacional se refere às remessas


econômicas que os migrantes enviam aos países de origem. De longe o México,
a Índia e a China são os países que mais recebem divisas com seus migrantes
no exterior. Muitas comunidades em países de emigrantes dependem desses
recursos enviados por seus familiares que foram tentar a vida no estrangeiro,
porém com as restrições migratórias, em decorrência da crise sanitária de 2020,
muitos migrantes tiveram que abandonar os postos de trabalho em empregos no
exterior, pois a maioria absoluta dos países tiveram suas economias fortemente
afetadas por crise econômica no ano de 2020 e consequente desempregos.

A formação do povo brasileiro forjou-se ao longo de nossa história através de


considerável fluxo imigratório. Para o Brasil vieram e ainda vêm muitos grupos
étnicos.
Imigração ao Brasil: as principais origens dos imigrantes no decurso de nossa
história são:
Século XVI: chegada de portugueses, espanhóis e franceses.
Séculos XVII e XVIII: chegada de portugueses e africanos, além de holandeses.
Século XIX e XX: chegada de suíços, italianos, alemães, eslavos (ucranianos e
poloneses).
Século XX: chegada de japoneses, judeus, árabes, coreanos e chineses.
Dias atuais: bolivianos, haitianos, cubanos, venezuelanos, sírios e muitos
africanos.

Bem ‘’à grosso modo’’ estão descritas a origem nacional ou regional dos diversos
grupos étnicos que vieram ao Brasil ao longo de nossa história. É digno de nota
que os Estados-Nação não estava bem definidos para os diversos homens e
mulheres que vieram ao nosso País. Ademais, permeia nossa história a chegada
de homens e mulheres oriundos da África na condição de migrantes forçados,
os quais foram trazidos ao Brasil na lamentável condição de escravizados.

Período Colonial (século XVI ao século XVIII): a chegada de portugueses à


América é o fenômeno mais expressivo e importante, em termos numéricos, ao
território que viria a ser o Brasil quando consideramos a imigração livre no brasil
colonial. E há duas polêmicas aqui, pelo menos, quando pensamos este período
histórico, uma que envolve os indígenas e outra que envolve os africanos.
Vejamos:

Os Indígenas: os chamados negros da terra já habitavam o território que viria a


ser o Brasil e, no curso dos séculos, sua presença foi ‘’diluída’’ no processo de
miscigenação com o homem branco que aqui aportava.

Além de muitas marcas da cultura indígena, que se perderam, por uma série de
fatores, a exemplo da catequização e da consequente conversão das
comunidades autóctones ao catolicismo, houve guerras étnicas envolvendo o
português e os diversos povos indígenas que viviam em solo brasileiro na época.

Estima-se que em 1500, quando da chegada de Pedro Álvares Cabral, havia 5


milhões de indígenas no território que viria a ser o Brasil nos próximos séculos.
Há diferentes correntes de pensamentos a respeito do fim houve com os
indígenas. Fala-se em extermínio, mas há visões históricas mais conciliadoras
que atribuem sua diminuição à miscigenação.
Figura 7. Diversos grupos indígenas ocupavam as vastas regiões litorâneas do Brasil, à época da colonização. Fonte:
dicionariotupiguarani.com.br acessado em 31/05/2021

Os principais grupos étnicos no litoral da América do Sul eram os Tupinambás


na atual região Norte. Na região Nordeste havia Tremembé, os Potiguares,
Tabajaras, Caetés, Tupinambás, Tupiniquins e Aimorés. Na região Sudeste
viviam os Goitacazes, Tamoios e Tupiniquins. Na região Sul havia os Carijós e
os Charruas.

A maior parte desses grupos indígenas, que habitavam nosso território, entrou
em contato com os portugueses. Conforme supracitado houve guerras,
confrontos, miscigenação, aculturação etc. Teria desaparecido grande parte
desses grupos historicamente. Segundo censo do IBGE em 2010 havia menos
de 1 milhão de indígenas no País.

Os Africanos: a chegada de africanos ao Brasil não é considerada como


imigração brasileira por alguns autores. O caráter da chegada de angolanos ou
moçambicanos se deu de maneira forçada, logo não eram migrantes, pois
escravizados e alijados de qualquer dignidade e direitos. No máximo eram
migrantes forçados. Apesar disso, a chegada de africanos em território nacional
é estimada em 5 milhões de pessoas.

Os africanos foram trazidos de Angola, sobretudo das Feitorias de Luanda, atual


capital de Angola, e Bengala, ao longo dos séculos XVI e XVII e começo do
século XVIII. Já em meados do século XVIII e século XIX é de Moçambique que
trouxeram ao Brasil os africanos.

Ainda no século XVII é do Golfo de Benin, atual região da Nigéria. Observe o


mapa abaixo do tráfico negreiro.
Figura 8. Tráfico de escravos ao Brasil.

Os africanos que chegaram ao Brasil são considerados em dois grandes grupos:


os bantos, da porção centro-meridional do continente africano, sobretudo
angolanos e moçambicanos, e os sudaneses da porção mais setentrional.
Observe o mapa abaixo.

Figura 9. Ponte entre Brasil e África do Tráfico Negreiro.

As populações de origem africana, que chegaram ao Brasil, no decurso do tempo


se miscigenaram em quantidades significativas com o indígena brasileiro e com
os europeus que vieram ao território que seria o Brasil, sobretudo com os
portugueses.

Entretanto, a chaga da escravidão perdurou quase quatro séculos de nossa


história. Terminou oficialmente ao longo do século XIX através de uma série de
leis anti-escravidão até culminar na Lei Áurea em 13 de maio de 1888. A chegada
desses imigrantes forçados resultou em ocupações em diferentes regiões de
nosso país, mas quase sempre ocupavam as regiões de grande exploração
econômica em nossos ciclos da cana-de-açúcar, da mineração etc.

Séculos XIX e XX. Brasil Império e República: à medida que o tráfico negreiro
sofria pressão pela Inglaterra, ao longo do século XIX, nascera o Brasil como
Reino Unido de Portugal e Algarves em 1815 por causa da chegada da Família
Real anos antes e da Abertura dos Portos em 1808. Além disso, nascia o Brasil
Império em 1822. Tais mudanças políticas no Brasil, junto com o esgarçamento
do tráfico negreiro alterava a política imigratória ao Brasil. O fim da escravidão
no País (1888) fizera com que se necessitasse de mão-de-obra técnica,
qualificada e abundante, ademais, forçava-se que ocupássemos as regiões
meridionais e fronteiriças na bacia do Prata. Alguns, porém, atribuem o incentivo
à imigração européia, durante o Brasil Império, à vontade das elites agrárias de
embranquecimento da população.

Em 1818 houve a chegada de imigrantes suíços e alemães que ocuparam as


serras cariocas, hoje as cidades de Nova Friburgo, além de Teresópolis,
expressam tal período em suas histórias, cultura e paisagem urbana.

Os Italianos: Colonos da Terra

Terra Nostra! Parte da necessidade de mão-de-obra foi preenchida com a


chegada de italianos, os quais buscavam melhores condições de vida longe do
Mediterrâneo e se aventuraram para os Estados Unidos, para a Argentina e para
o Brasil.

Vieram da Itália a partir de 1870 em quantidades crescentes. Os grandes fluxos


se intensificaram entre as décadas de 1880 e 1910. As estimativas são de que
42% de imigrantes, desse período, eram compostos por italianos.

A Itália vivia intensa crise política no processo de unificação no final do século


XIX e este foi um dos grandes fatores repulsivos naquele momento. Já no Brasil
a escravidão estava na iminência de acabar e o governo brasileiro incentivava a
chegada de novos imigrantes. A chegada dos imigrantes europeus ao Brasil
neste momento está envolta de diversas polêmicas conforme citado. No caso,
sugerem que havia no Brasil uma política de embranquecimento da população
que se daria a partir da imigração incentivada pelo governo, entretanto é
inquestionável que havia necessidade de mão-de-obra no país e de maiores
densidades demográficas a fim de ocuparmos a região Sul nacional.

A origem: os italianos deixaram a região do Veneto no nordeste de seu país,


às margens do mar Adriático. São províncias conhecidas, nesta região, a de
Verona e a de Veneza, ademais, é nesta região que se concentra – atualmente
– grande parte do parque industrial da Itália às margens do vale do rio do Pó.
Mas naqueles dias de forte emigração a situação era de pobreza e incerteza em
zonas rurais. Só em seguida ao Veneto que teremos forte emigração do sul da
Itália para o Brasil. Vieram em grande quantidade da região de Campania, cuja
província mais conhecida é Napoli, e da região da Calábria.
No Brasil as colônias italianas se concentraram nos estados das regiões Sul e
Sudeste. O estado que mais recebeu italianos entre 1870 e 1920 foi São Paulo.
Os italianos vieram para São Paulo a fim de substituírem a mão-de-obra escrava
em fazendas de café, tanto no interior paulista, quanto no norte do Paraná,
também vieram – em menor quantidade – portugueses e espanhóis para essa
atividade. Já os italianos que chegaram na capital paulista, sobretudo no início
do século XX, chegavam para o trabalho na nascente indústria em bairros como
Belém, Brás, Santa Cecília e Lapa. Além disso, no Brasil vive a maior colônia
italiana fora da Itália. Estima-se em 30 milhões de pessoas.

As maiores colônias: descendentes.

Figura 10. Percentual de descendentes de italianos.

A embaixada italiana estima que metade dos catarinenses descendem de


italianos. Em seguida vem o Paraná onde 40% da população seria de ítalo-
brasileiros, só em seguida o estado de São Paulo com 32% da população.
Curiosamente o estado com maior descendência de italianos é o Espírito Santo
com 65%.

A ocupação italiana na região Sul do país se deu fortemente em Santa Cataria,


no vale do rio Tubarão, do rio Itajaí e da região de Lajes, além de cidades como
Criciúma e Urussanga, na porção sudestes do estado. Já no Rio Grande do Sul,
é na Serra Gaúcha, em cidades como Caxias do Sul, Garibaldi, Farroupilha e
Bento Gonçalves onde há importante produção agrícola de uva e forte indústria
alimentícia na área do vinho e sucos, cuja origem é italiana. No Paraná a região
metropolitana de Curitiba, com destaque para Colombo, que é importante pólo
gastronômico, além da região costeira e portuária de Paranaguá.

Os italianos que se instalaram no sul do Brasil ocuparam territórios agricultáveis,


notadamente se dedicaram ao cultivo da uva e produção vinícola. Muitos vieram
endividados e ao longo dos anos tiveram que pagar suas dívidas de viagem,
hospedagem e alimentação para os proprietários locais, no Sistema de Colonato.
Apesar de livres, os italianos, tiveram que trabalhar pesadamente a fim de
arcarem com suas dívidas de viagem. Esse sistema forçou muitos italianos a
irem para a cidade paulista no início do século XX e deixarem a produção
cafeeira.

Em São Paulo, bem como no norte do Paraná, os colonos trabalharam na


lavoura do café em solo avermelhado (nitossolo) que chamavam de terra roxa!
Na terra da garoa ocuparam importantes bairros centrais (Brás, Bixiga, Mooca)
a fim de trabalharem na indústria paulistana nascente, muitos foram
protagonistas do processo de industrialização de São Paulo, a exemplo de
Francesco Matarazzo, outros protagonizaram a construção civil, como o
Martinelli.

Além dos bairros que têm crescente associação à colônia italiana, conforme
supracitado, as marcas da cultura itálica estão presentes em festividades,
restaurantes e culinária, Igrejas, sobrenomes familiares de nosso País.

Figura 11. Paróquia Nossa Senhora da Achiropita e sua tradicional festa italiana na cidade de São Paulo.
Foto: Éder Diego.

Alemães: trocam cerveja por café!

A imigração alemã ao Brasil remonta ao século XIX. A primeira colônia alemã


em solo brasileiro data de 1824 na cidade de São Leopoldo (RS) na região
metropolitana de Porto Alegre. Anteriormente houve uma pequena leva de
alemães que vieram para o sul da Bahia em 1818.

Assim como os italianos vieram ao Brasil para trabalharem em lavouras


cafeicultoras, também vieram os alemães. Mas o detalhe é que os alemães
vieram um pouco antes. Além disso, as colônias japonesas no Brasil também
tiveram motivações econômicas, vieram para fazendas produtoras de café no
sudeste brasileiro.

Os estados da região Sul do Brasil são os que mais receberam imigração alemã,
especialmente o Rio Grande do Sul, seguido por Santa Catarina. No caso, os
fluxos imigratórios para o sul do Brasil, nesse momento, têm como objetivo a
ocupação da região da bacia do Prata. Em meados dos anos 1930 estima-se
que 20% da população desses estados era composta por alemães. Há presença
marcante de alemães nos estados de São Paulo, Paraná, Espírito Santo e,
notadamente, o Rio de Janeiro. No Rio de janeiro é a região serrana que
apresenta importante colonização alemã. Destaque-se Nova Friburgo e
Petrópolis.

Se no século XIX são os conflitos de unificação alemã e a Guerra Franco-


Prussiana que impulsiona o êxodo ao Brasil, no século XX é o contexto de
destruição pós-Primeira Guerra Mundial (1914-1918) que força grandes levas de
alemães para o Brasil.

Atualmente estima-se que haja 5 milhões de descendentes de alemães em


nosso país.

Figura 12. Vila Germânica, Monte Verde. MG. Apesar de ter sido fundada por um imigrante da Letônia, a
arquitetura de Monte Verde é fortemente inspirada no estilo alemão. Tanto essa cidade, quanto Campos do Jordão,
SP, apresentam influência de colônias alemãs no Brasil. Observa-se a bandeira germânica representada no banco de
assento. Foto: Éder Diego

Os alemães se concentram no Rio Grande do Sul em São Leopoldo e Novo


Hamburgo. Na Serra Gaúcha há presença alemã em Gramado e Canela.
Destacam-se, na porção nordeste de Santa Catarina enquanto colônias
germânicas, as cidades de Brusque, Blumenau e Joinville. Aliás, a festividade de
Oktoberfest, em Blumenau, é uma das maiores expressões do legado alemão
no Brasil.

Os alemães, italianos e eslavos, especialmente poloneses e ucranianos,


ocuparam o Sul do Brasil em pequenas propriedades e policultoras,
diferentemente das demais regiões do País.

Sobre os eslavos no Brasil: sua presença se dará sobretudo no Paraná.

Unificação Italiana & Unificação Alemã! O processo histórico de formação de


Estados nacionais se desenvolveu na Europa desde a Revolução de Avis e o
casamento de Aragão e Castela, que deram origem aos Estados de Portugal e
Espanha, respectivamente, em pleno fim da Idade Média. Ocorre que a partir de
1815 (Congresso de Viena) houve um processo de unificação dos reinos em
torno da Itália e da Alemanha que deram origem a ‘’configuração atual’’ desses
países.

Na Itália, o risorgimento foi liderado pelo reino de Piemonte-Sardenha e desde


1815 até 1870, data da unificação, os reinos italianos se enfrentaram em crises
políticas e uma Guerra contra a Áustria.

Na Alemanha, o processo de unificação foi liderado pela então Prússia sob o


comando de Guilherme I e Otto von Bismark e se deu através de guerras com a
Áustria e com a França, que resultou na ‘’atual configuração’’ da Alemanha a
partir de 1871.

Kasato Maru: a chegada dos Japoneses

Quem viu em 1908, mais precisamente em 18 de junho, aquele navio cheio de


gente à procura de um novo lar jamais imaginaria que os japoneses fariam do
Brasil sua maior colônia longe da terra do Sol nascente. Estima-se em 1,5 milhão
de habitantes a colônia Nikkei* no Brasil.

O navio é Kasato Maru, que aportara em Santos no início do século XX, trouxe
165 famílias (781 imigrantes) para trabalharem nos cafezais do Oeste Paulista.

*Nikkei são descendentes de japoneses no Brasil e perfazem, por assim dizer,


a colônia nipônica em solo brasileiro. Seus filhos são chamados nissei, os netos
sansei e os bisnetos yonsei. Chamam dekasseguis os nipo-brasileiros que foram
ao Japão trabalhar na década de 1980.

O Japão se viu envolvido em algumas guerras ao longo do século XX e isso


certamente impulsionou a saída daquele país, tanto quanto da Itália, bem como
da Alemanha como visto acima. Outro fator em comum aos países que
mandaram consideráveis densidades demográficas para o Brasil é a
mecanização agrícola em seus territórios que gerou considerável massa de
migrantes. O Brasil, diante desse cenário, atraiu grandes parcelas de imigrantes
basicamente por dois fatores, conforme falamos, a necessidade de mão-de-obra
em lavouras cafeeiras e a necessidade de ocupar o Brasil meridional.

Como se pode constatar o Brasil tem importantes colônias estrangeiras. No caso,


a maior comunidade itálica fora da Itália e a maior comunidade nipônica fora do
Japão.

Uma grande expressão da comunidade japonesa pode ser encontrada no bairro


da Liberdade, São Paulo capital. Ao longo dos séculos XVIII e XIX o bairro era
ocupado por escravos. Nessa região, inclusive, havia o pelourinho da cidade,
além da bicentenária Capela Nossa Senhora dos Aflitos que marca a presença
de escravizados na região, pois o local servia de cemitério aos negros e
indígenas que não pertenciam à Irmandade do Rosário. Mas ao longo do século
XX as marcas da colônia japonesa se impuseram na paisagem urbana.

Figura 13. Agência no bairro da Liberdade (SP) e características japonesas na paisagem urbana. É comum os letreiros
de lojas locais estarem em japonês. Foto: Éder Diego.

Porém, nos últimos anos, o bairro ganhou importantes manifestações culturais


de outros grupos orientais, a exemplo da festividade do Ano Novo Chinês que
ocorre em fevereiro. Há forte presença de coreanos e chineses na região, além
dos japonese. Por isso a Liberdade passou a ser conhecida como o Bairro
Oriental de São Paulo.
Figura 14. Restaurante Chifu e Loja Ikesaki, restaurante chinês e loja de imigrantes japoneses,
respectivamente. A Liberdade foi associada à cultura e colonização nipônica no século XX, hoje é
conhecido como Bairro Oriental da capital paulista! Foto: Éder Diego.

Além de São Paulo capital, os japoneses também se concentram no entorno da


maior metrópole do País e se dedicam a atividades agrícolas de hortifruti, a
exemplo de Mogi das Cruzes e de Suzano. Além disso, os japoneses também
ocupam o norte do Paraná, desde os anos 1930 com a expansão do café, e as
porções do extremo Oeste Paulista em região conhecida como Alta Paulista que
envolve as regiões de Marília, Tupã e Bastos com a produção de algodão. Ainda
no estado paulista os japoneses ocuparam os vales dos rios Paraíba – onde se
dedicaram à cultura do arroz – e do Ribeira – onde se dedicaram à cultura do
chá. Também ocupam o Mato Grosso do Sul e o estado paraense.

O Brasil é importante terra de imigrantes. Mas em 1934 o governo de Getúlio


Vargas adota a Lei de Cotas de Imigração que permitirá a entrada no Brasil de
apenas 2% de imigrantes conforme o número total das comunidades que
chegaram no País nos últimos 50 anos. Tal legislação foi remodelada em 1938
e só permitiria a entrada de imigrantes para trabalharem como agricultores, isso
reduziu – por um período – a entrada de imigrantes no Brasil. O objetivo do
governo era restringir o trabalho na indústria aos brasileiros.

Mas a partir da Segunda Guerra novos imigrantes virão ao Brasil, os judeus,


árabes e libaneses. Nas últimas décadas virão coreanos e chineses.

Observemos o mapa abaixo (figura 35) e consideremos a diversificada origem


que forjou a sociedade brasileira.
Figura 15. Principais descendentes no Brasil.

Como se pode constatar a região Sul é marcada por importantes colônias


oriundas da Itália, Alemanha, Japão, Polônia e Coréia.

As atuais regiões Centro-Oeste e Norte, além do Maranhão, hoje são as que


mantêm as maiores populações descendentes dos povos nativos da América
portuguesa.

A região Nordeste, bem como os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo,


apresentam as grandes marcas de colônias oriundas de Portugal, Espanha e
Holanda do Brasil Colonial, bem como importantes marcas dos migrantes
forçados que vieram do continente africano.

São Paulo e Rio de Janeiro têm colônias de diversos lugares do mundo, inclusive
de quem chega hoje em solo brasileiro, e de migrantes internos de várias regiões
do Brasil.

Imigração Hoje: quem chega?

Hoje os imigrantes que chegam ao Brasil têm diversas origens. Chegam desde
regiões distantes como o Oriente Médios, sobretudo sírios e palestinos, bem
como de nossos países vizinhos, bolivianos, colombianos e venezuelanos.

A maioria dos imigrantes que chegam ao Brasil se concentra em grandes centros


urbano-industriais da região Sudeste. Ao Sudeste vivem acima de 40% da
população brasileira como visto em capítulos anteriores, mas o Sudeste
concentra 65% dos imigrantes que vivem no Brasil e tal fato está associado à
possibilidade de trabalho e renda nessa região.

Venezuela
O gigante do petróleo nos trópicos está em crise há alguns anos. Após a morte
de Hugo Chávez (5/março/2013) as crises política e econômica venezuelana se
agravaram fortemente e resultaram em desabastecimento de mantimentos
básicos em seus supermercados, falta de remédios em suas farmácias, inflação
acima de 800% ao ano e forte pressão externa por parte de países do Mercosul
e Estados Unidos ao governo de Nicolás Maduro. Além disso, o Mercosul
suspendeu a Venezuela do Bloco Econômico em 05.08 de 2017.

Este cenário refletiu em crescente êxodo do país. Segundo a ACNUR (Alto


Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) são mais de 3 milhões de
venezuelanos que deixaram o país, 2,4 milhões se refugiaram na América Latina
e os demais foram para outras regiões do globo terrestre.

“Os países da América Latina e do Caribe mantiveram uma louvável política de portas
abertas para os refugiados e migrantes venezuelanos. No entanto, sua capacidade de
recepção está severamente comprometida, exigindo uma resposta mais robusta e
imediata da comunidade internacional, para que essa generosidade e solidariedade
possam continuar”, disse Eduardo Stein, Representante Especial Conjunto ACNUR/IOM
para Refugiados e Migrantes da Venezuela.’’ Fonte: ACNUR. Acessado em 21.04.2019.

A Colômbia é o país com maior número de migrantes venezuelanos, estima-se


em 1 milhão. O Peru vem em seguida com 500 mil venezuelanos. O Equador
teria 220 mil e o Panamá teria recebido 94 mil venezuelanos, segundo a ACNUR.

Figura 16. Venezuelanos cruzam a ponte Internacional Simon Bolívar com destino à cidade de Cucuta na
Colômbia, outubro de 2018. Foto: Fabio Cuttica.

Estima-se que ao Brasil entraram 200 mil venezuelanos nesses anos (entre os
anos de 2013 e 2018). A rota do migrante envolve a cidade fronteiriça de
Pacaraima (RR) até a chegada à capital de Roraima, Boa Vista.
O Brasil não é o maior destino dos venezuelanos, apesar da maior economia em
sua fronteira, porque os grandes centros econômicos brasileiros estão no
Sudeste e, portanto, muito longe das cidades fronteiriças de Santa Helena
(Venezuela) e Pacaraima (Brasil).

O Brasil, sobretudo no estado de Roraima, não tem condições e boa


infraestrutura para receber o imigrante da Venezuela. Roraima é um estado
pobre e conta com 450 mil habitantes, segundo o IBGE em 2018. A grande
quantidade de imigrantes em Roraima pressiona a economia local por empregos
e a infraestrutura de saúde e educação.

Recentemente o Brasil concedeu status de refugiados a quase 8 mil


venezuelanos através da Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE).

Bolívia. O patinho feio da América do Sul


Os dados econômicos e sociais da Bolívia são desanimadores. O país é marcado
por médio IDH (0,693), elevado número de desemprego e pobreza, baixas taxas
de escolaridade e subnutrição em torno de 22% da população. A mortalidade
infantil é de 66/1000 nascimentos.

Diante desse cenário, os bolivianos buscam melhores condições de vida e


oportunidade de trabalho e renda no Brasil. Os bolivianos têm como destino
especialmente o estado de São Paulo, notadamente na confecção de panos e
tecidos em regiões industriais da cidade de São Paulo.

A presença de bolivianos é grande em regiões como o Brás, as ruas Canindé e


Coimbra, além do Bom Retiro. O trabalho boliviano é pesado e há fortes indícios
de exploração de famílias bolivianas em péssimas condições de trabalho. Há
muitos imigrantes ilegais e a condição de ilegalidade os deixa sujeitos à
exploração. Alguns acadêmicos se referem às oficinas e confecções de costura,
onde trabalham bolivianos, de ‘’senzala boliviana’’. Em 2018 a estimativa era de
250 mil bolivianos na capital paulista, número que superou a colônia portuguesa
da cidade.

São os distritos centrais da capital paulista que concentram a maior parte dos
imigrantes bolivianos, no caso: Brás, Pari, Bom Retiro. Na Zona Norte Vila Maria,
Vila Medeiros, Casa Verde e Vila Guilherme. Um destaque no extremo sul da
cidade é a região do Grajaú.

Haiti. O terremoto que aproximou mais a ilha do Brasil

Dentre os fatores de repulsão populacional estão as catástrofes naturais. O Haiti


é um país pobre e de IDH baixo, o país caribenho e insular apresenta muitas
mazelas sociais. É um país marcado pela emigração, muitos haitianos vivem nos
Estados Unidos, em Cuba, na República Dominicana e no Canadá. A estimativa
é que 880 mil haitianos vivam nos Estados Unidos e 800 mil vivam na República
Dominicana, país vizinho.
Além das condições de pobreza, houve, em 2010 – no dia 12 de janeiro –, um
terremoto próximo à capital, Porto Príncipe, de grande magnitude (7 graus de na
Escala Richter) que resultou em quase 300 mil mortes.

Desde 2004, o Exército brasileiro está no Haiti a fim de cumprir uma Missão de
Paz proposta pela ONU. O objetivo das forças armadas era tentar pacificar o
País, pacificar e desarmar grupos guerrilheiros, promover eleições livres e
fornecer alimentação à população.

No caso, a Missão de Paz no Haiti teve início em 2004. Ficou conhecida através
do acrônimo MINUSTAH (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do
Haiti). Essa missão foi proposta pelo Conselho de Segurança da ONU, em 10 de
setembro de 2004, após a desestabilização e crise política que se abateu no país
a partir da derrubada do governo de Jean-Bertrand Aristide.

Com os eventos internacionais que o Brasil sediaria, a Copa do Mundo de 2014


e as Olimpíadas de 2016, nosso país precisava de mão-de-obra para trabalho
na construção civil. Muitos haitianos vieram a nosso país para suprir nossa
necessidade de mão-de-obra, especialmente a partir de 2010. Outrossim, como
o Brasil tinha forte relação com o país caribenho, em decorrência da MINUSTAH,
nosso país estendeu a mão para imigrantes haitianos. A procura pelo Brasil foi
crescente e chegou a números significativos, chegamos ao ponto do Brasil
adotar cotas de entradas de haitianos em 2012.

Durante esses anos (2010/2014), a economia do Brasil estava aquecida no setor


da construção civil, pois sediaríamos a Copa do Mundo. Os haitianos viram a
oportunidade de trabalho no Brasil, muitos haitianos solicitaram refúgio ao Brasil,
mas segundo o Comitê Nacional para Refugiados (CONARE) os haitianos não
se enquadravam enquanto refugiados. Apesar disso os haitianos conseguiram,
em grande parte, se instalar no Brasil por meio da Comissão Nacional de
Imigração (CNIg) e obtiveram concessão para morar no Brasil por razões
humanitárias.

A rota dos haitianos para o Brasil se deu através do estado do Acre. Os haitianos
fizeram significativo êxodo pelo Equador, Peru e Bolívia até chegarem à cidade
de Brasileia no Acre. A partir da região Norte do Brasil os haitianos se
dispersaram pelo Brasil, sobretudo para o Sudeste e o Sul.

Observe no mapa abaixo a Rota dos Haitianos para o Brasil. Segundo a Polícia
Federal, entraram no Brasil 72 mil haitianos entre os anos 2010 e 2015.
Figura 17. Rota dos Haitianos ao Brasil.

Síria: inverno em plena Primavera Árabe


A Síria foi destruída nos últimos anos. Não há outras palavras que possam
melhor descrever a situação Síria que não seja destruição e emigração. A
propósito, a imagem do menino Aylan Kurd, morto na praia após seu navio de
migração naufragar, é um fiel retrato do que se desenrolou na Síria desde
quando os ventos da Primavera Árabe sopraram por lá. Sobre a Primavera
Árabe leia abaixo!

Segundo dados da ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para


Refugiados) desde 2011 houve 12 milhões de refugiados da Síria para diversos
lugares do mundo, além de 500 mil mortos. No caso, a Síria se transformou na
região de maior crise de refugiados do mundo, junto com a Venezuela. Os
refugiados sírios emigraram, sobretudo, para países vizinhos como Líbano,
Jordânia, Turquia, Iraque e Egito. A maioria da população em situação de
vulnerabilidade são mulheres e crianças.

Além disso, parte considerável desses sírios se destinaram ao Brasil. Segundo


dados do CONARE (Comitê Nacional para os Refugiados) o Brasil acolheu 2077
sírios como refugiados entre os anos de 2011 e 2015, tal número é superior aos
congoleses e angolanos que se refugiam no Brasil.
"O Brasil tem mantido uma política de portas abertas para os refugiados sírios. O número
ainda é baixo, em muito devido à localização geográfica. Mas sem dúvida se trata de um
exemplo a ser seguido a nível mundial", afirmou em entrevista à BBC Brasil, o
representante da Acnur (Agência da ONU para Refugiados), Andrés Ramirez. Fonte: BBC.
Acessado em 26.04.2019.
O número de refugiados no Brasil fez aumentar desde 2015 a 2018. Segundo os
dados da ACNUR havia 10 mil refugiados sírios no país.
Os principais estados que recebem sírios estão nas regiões Sudeste e Sul. São
Paulo é o estado com maior quantidade de refugiados e as cidades de São
Paulo, Santos e Guarulhos são importantes polos de atração síria, pois há
importantes comunidades oriundas do Oriente Médio em Guarulhos, no Brás e
em Santos, e isso é perceptível nas paisagens urbanas através de mesquitas
nessas regiões.

A cidade do Rio de Janeiro é importante polo de chegada de sírios. Outra


importante região de imigração síria no Brasil é Foz do Iguaçu, no Paraná.

Todo migrante deixa sua terra com esperanças e saudade no peito e em virtude
de sentirem saudade de casa sempre tentam reconstruir, no local de chegada,
os aspectos culturais, arquitetônicos, religiosos e as festividades do seu lugar de
partida. Então, há sempre uma tentativa de qualquer colônia migrante reconstruir
o espaço geográfico de seus locais de origem nos lugares aonde chegam.

Figura 18. Mesquita de Santo Amaro. SP. Em frente a Mesquita Misericórdia, família Síria observa o templo de sua
fé. Foto: Éder Diego.

Nota: A Primavera Árabe


A partir de 2010 houve transformações consideráveis em países do Norte da
África e do Oriente Médio. Manifestações e protestos forçaram a queda de
governos ditatoriais da Líbia, da Tunísia e do Egito e de forte crise no governo
da Síria. Na Síria começaria uma guerra civil que deixaria marcas profundas até
hoje, que aliás ainda vive conflitos internos.

Migração Interna o nordestino sai de sua terra com a saudade na garupa.


Historicamente a região Nordeste já foi o polo econômico e político do Brasil.
Mas ganhou a alcunha de região de repulsão demográfica.
O importante ciclo canavieiro de nossa economia se desenvolveu na Zona da
Mata, cujo solo famoso de massapé – na região costeira nordestina – produziu
uma colônia feita de açúcar. No caso, a economia de cana-de-açúcar fez do
Nordeste a mais importante região do Brasil até meados do século XVIII. A
descoberta mineradora na região de Minas Gerais e Goiás fizera com que
houvesse fluxo importante de nordestinos para o Brasil central.

Interiorização:
No curso da história brasileira os nordestinos migraram para diversas regiões do
país em diferentes contextos econômicos. Além da mineração que atraiu
nordestinos para a Serra da Mantiqueira (MG) no século XVIII, os nordestinos
migraram para a região ocidental da Amazônia através do rio Amazonas e
possibilitaram a conquista dos estados do Acre e partes de Rondônia e
Amazonas por causa de litígio desencadeado com a Bolívia e a indefinição de
nossas fronteiras.

O Brasil expandiu e anexou territórios bolivianos por conta da exploração de


borracha e látex da espécie nativa Seringueira (Hévea brasiliensis), na transição
do século XIX e início do século XX. Houve o que os historiadores chamam de
Revolução Acreana, resultou em 1903 que o Brasil assinaria com a Bolívia o
Tratado de Petrópolis e anexaria extensas regiões da Amazônia ocidental.

No contexto do governo Vargas, o Estado brasileiro desenvolveu a política


Marcha Para Oeste que incentivava brasileiros a ocuparem o interior do País,
sobretudo a região Centro-Oeste. É nesse contexto que se criou os polos
agrícolas de Ceres (GO) e Dourados (MS). Ademais, os nordestinos foram
fundamentais no curso do século XX no processo de ocupação do Brasil central
e da construção de Brasília. A forte migração do nordestino para o Planalto
Central foi importante fator humano no processo de transferência da Capital. Os
homens oriundos da região Nordeste para Brasília ficaram conhecidos como
candangos.

Figura 19. Escultura: Candangos. Feita em bronze com 8 m de altura em homenagem aos construtores de
Brasília. A escultura está na Praça dos Três Poderes, DF. Autor: Bruno Giorgio.
A construção e ocupação de Brasília possibilitou integrar o território do Centro-
Oeste ao Brasil e a nova capital serviria como ponto de apoio e partida para
integração da Amazônia ao restante do País, especialmente a partir da
construção de rodovias como a Belém-Brasília e a Brasília-Acre.

Êxodo Rural caracteriza-se êxodo rural o fluxo migratório de regiões


camponesas em direção às cidades. Geralmente associado ao êxodo rural está
o processo de urbanização e o consequente crescimento horizontal da cidade
que atrai os migrantes.

Migrando para São Paulo


Antes das décadas de 1950 e 1960 já havia significativo fluxo migratório do norte
de Minas Gerais e da região Nordeste para o estado de São Paulo a fim de
ocuparem fazendas produtoras de café e algodão, através do que se chama
surto algodoeiro do estado paulista, em menor quantidade eram as fazendas
produtoras de cana-de-açúcar que atraíam os nordestinos. Essa seria a fase
migratória camponesa que teria se estendido de meados de 1930 a 1950.

Entretanto, no Brasil o grande fluxo migratório do campo à cidade se deu a partir


da década de 1960. Seria este o fluxo migratório notadamente urbano. Houve
intenso fluxo da região Nordeste em direção aos parques industriais nascentes
na região Sudeste do país com grande destaque aos estados de São Paulo e
Rio de Janeiro.

Nordeste: fatores repulsivos.


A concentração fundiária na região nordeste, as condições geográficas naturais,
no caso o clima semi-árido – marcado por baixos índices pluviométricos e chuvas
irregulares –, o solo pedregoso e de difícil produção agrícola são alguns dos
fatores que explicam a saída maciça da região Nordeste.

O mapa abaixo ilustra o fluxo migratório nacional em direção à região Sudeste.


É notória a maior quantidade de nordestinos que vão a São Paulo, embora São
Paulo tenha recebido fluxos do país inteiro.

Figura 20. Migração interna: décadas de 1960 a 1980. Fonte: IBGE.


É notável que São Paulo recebeu enormes fluxos migratórios de todas as regiões
do Brasil nesse período.

No curso dos anos 1980 e 1990 há uma mudança no padrão migratório. No curso
da década de 1980 há grande fluxo migratório em direção a outras regiões do
Brasil, e não somente ao Sudeste. A região de origem? O Nordeste.

Figura 21. Fluxo de migrantes entre 1980 e 1990.

Nos anos 1990 houve intensificação do fluxo migratório em direção a outras


regiões do Brasil, além do Sudeste. Houve avanço da fronteira agrícola em
direção ao Cerrado do Brasil, com expansão da área produtora de soja e gado
bovino, o desenvolvimento econômico da Zona Franca de Manaus. Ver mapa
abaixo.

Figura 22. Fluxo migratório pós 1990.

As migrações em direção à Amazônia se intensificaram, o fluxo migratório para


o Centro-Oeste desde a região Nordeste continuou por conta da sojicultura e do
gado de corte que exigiam maiores extensões territoriais do Cerrado e as frentes
pioneiras agrícolas, as quais oriundas da região Sul do país em direção ao
Centro-Oeste.

Além disso, parte do fluxo migratório em direção ao Centro-Oeste, com origem


no Brasil meridional, tem como destino a expansão para Rondônia e a mineração
em Serra Pelada no Pará.

Resulta da ocupação do Centro-Oeste brasileiro o significativo desmatamento


do Cerrado e o crescente número de espécies ameaçadas de extinção. Tais
características fazem o Cerrado ser considerado um hotspot, pois sua
biodiversidade foi profundamente afetada pelo avanço agropastoril.

O mapa abaixo mostra a extensão do cerrado originária e o avanço do


desmatamento até 2008. Hoje, 2019, estima-se que 65% da área originária do
cerrado foi ocupada pelas atividades agrícolas e pecuárias voltadas à
exportação.

Figura 23. Recuo do Cerrado.

Migração de Retorno: de volta ao aconchego!


O que se assistiu no Brasil ao longo da década de 2000 a 2010 foi um intenso
fluxo migratório de retorno às cidades de origem. Segundo dados de IBGE a
migração de retorno mais acentuada no Brasil foi em direção ao Nordeste e em
menor expressão ao Sul do país. Pois a retomada de certos setores econômicos
da região Nordeste, a exemplo do turismo e da instalação de diversas empresas,
resulta em retorno de nordestinos às suas regiões de origens.

“Além de apresentar menor migração, diminuindo o número de pessoas que saem, o Nordeste
começa a atrair população, com uma rede social melhor. Enquanto isso, o Sudeste, que já não
recebia mais tantas pessoas, passa a ser também emissor, não só de migrantes, como também
de quem é originário e está deixando essa região”, afirma Antônio Tadeu Ribeiro de Oliveira,
um dos pesquisadores do instituto. Fonte: G1. Acessado em 24.04.2019.
Pernambuco, Sergipe, Rio Grande do Norte e Paraíba teriam recebido 20% da
migração de retorno, segundo o IBGE. O Rio Grande do Sul também recebeu
considerável número de migrantes que retornaram à cidade natal. Enquanto, isso o
Nordeste teria começado a perder menos população e o Sudeste passou a receber
menos migrantes.

As causas da migração de retorno são variadas, mas certamente a saturação dos


espaços urbanos e industriais do Sudeste, as grandes aglomerações urbanas que
carecem de infraestrutura, emprego, e o alto custo de aluguéis teria forçado
empresas abandonarem a região Sudeste e a buscarem cidades do interior ou em
outros estados e regiões do País através da famigerada guerra fiscal! A propósito,
são as cidades médias que mais crescem no Brasil. As cidades médias
apresentam até 500 mil habitantes e na região Centro-Oeste seu crescimento
tem sido mais vigoroso que nas demais regiões do País.

A partir da década de 1990 o estado de São Paulo vê aumentar sua emigração,


apesar de ainda manter saldos migratórios positivos. Já a Região Metropolitana
de São Paulo tem apresentado êxodo migratório.

Caracteriza as migrações recentes no Brasil o fluxo de menor distância. Quer


dizer, há maiores fluxos populacionais intrarregionais em comparação com os
fluxos inter-regionais.

O percentual migratório por região denota o quanto as regiões Centro-Oeste e


Norte atraíram populações nas últimas décadas. Apesar do estado de São Paulo
apresentar o maior número absoluto de migrantes internos em sua população, é
a região Centro-Oeste, seguida da região Norte, que apresentam maiores
percentuais de habitantes não nascidos em seu interior. O Sudeste ocupa a
terceira posição, já o Nordeste a última.

Emigração brasileira: o Brasil sempre foi um país que recebera grandes fluxos
demográficos, mas um conjunto de fatores da década de 1980 levaram muitos
brasileiros a procurar melhores condições de vida fora do país.

No caso, a hiper-inflação e o elevado número de desempregados, além da


deseconomia do país associada a planos econômicos que não logravam êxito
levou milhares de brasileiros ao exterior.

Entre os anos 1980 e 1990 os brasileiros se destinaram sobretudo aos países


desenvolvidos e o grande destaque é o Estados Unidos que absorveu a maior
parte dos brasileiros que emigraram. Segue-se ao país do norte nosso vizinho,
o Paraguai, que atraiu muitos brasileiros por causa de nossa proximidade cultural
e geográfica. O terceiro país que atraiu parcelas consideráveis de brasileiros é o
Japão.

Estima-se em 1 milhão, neste contexto, o número de brasileiros que buscaram


os Estados Unidos. Para o Paraguai, com crescente número de brasiguaios, o
número de brasileiros é em torno de 500 mil. Para o Japão teriam ido 300 mil.
Recentemente, a partir de crises econômicas no País e da recessão no biênio
2015/2016, assistimos à brasileiros se aventurarem no exterior em quantidades
crescentes. As maiores colônias de brasileiros no exterior continuam sendo EUA
(1,4 milhão), Paraguai (500 mil) e Japão (400 mil). Mas houve procura, por parte
dos brasileiros, por países europeus, a exemplo de Portugal e Itália.

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