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DIRECÇÃO CIENTÍFICA E PEDAGÓGICA

CURSO DE JORNALISMO

COBERTURA ELEITORAL RADIOFÓNICA: UMA ANÁLISE ÀS ELEIÇÕES


MUNICIPAIS DE 2013 EM CHIMOIO

TRABALHO DE FIM DO CURSO

ESTUDANTE: ANTÓNIO JOÃO DAMIÃO MINÊS


SUPERVISOR: INOCÊNCIO ALBINO T. SICUAIO

CHIMOIO, 2018
ESCOLA SUPERIOR DE JORNALISMO
DIRECÇÃO CIENTÍFICA E PEDAGÓGICA
CURSO DE JORNALISMO

COBERTURA ELEITORAL RADIOFÓNICA: UMA ANÁLISE ÀS ELEIÇÕES


MUNICIPAIS DE 2013 EM CHIMOIO

TRABALHO DE FIM DO CURSO

Trabalho de Fim do Curso para a obtenção do


grau de Licenciatura em Jornalismo.

Estudante: António João Damião Minês


Supervisor: Inocêncio Albino T. Sicuaio

Chimoio, 2018
SUMÁRIO
DECLARAÇÃO DE ORIGINALIDADE E AUTENTICIDADE.............................................. I
DEDICATÓRIA......................................................................................................................... II
AGRADECIMENTOS ............................................................................................................. III
LISTA DE ABREVIATURAS ................................................................................................ IV
LISTA DE TABELAS .............................................................................................................. V
RESUMO ................................................................................................................................. VI
ABSTRACT ............................................................................................................................ VII
I. CAPÍTULO ............................................................................................................................. 1
1. Introdução............................................................................................................................... 1
1.1. Justificativa.......................................................................................................................... 3
1.4. Problema.............................................................................................................................. 4
1.5. Hipóteses ............................................................................................................................. 5
1.6 Objectivos............................................................................................................................. 5
II. CAPÍTULO ........................................................................................................................... 6
2. Revisão bibliográfica.............................................................................................................. 6
2.1. Rádio e Política ................................................................................................................... 8
2.1.1. Breve historial do surgimento da rádio e suas características .......................................... 8
2.2. Rádio e política no mundo ................................................................................................ 11
2.3 Imprensa e parcialidade da Rádio Moçambique em momentos eleitorais ......................... 13
2.4. A cobertura eleitoral .......................................................................................................... 15
III. CAPÍTULO ........................................................................................................................ 17
3. Metodologia ......................................................................................................................... 17
3.1 Métodos e técnicas de trabalho .......................................................................................... 17
3.1.1. Pesquisa documental ...................................................................................................... 17
3.1.2. Pesquisa bibliográfica .................................................................................................... 17
3.1.3. Observação ..................................................................................................................... 17
3.1.4. Inquérito ......................................................................................................................... 18
3.1.5. Amostragem ................................................................................................................... 18
3.1.5.1. Amostragem não probabilística ................................................................................... 19
3.2. Tipo de pesquisa ................................................................................................................ 19
IV. CAPÍTULO ........................................................................................................................ 20
4. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA ............................................... 20
4.1. Breves comentários ........................................................................................................... 20
4.2. Apresentação dos dados .................................................................................................... 20
4.3. Apresentação do perfil dos ouvintes inqueridos ............................................................... 22
4.4. Razões da distribuição parcial do espaço de tempo na Rádio Moçambique ..................... 24
4.5. CONCLUSÃO .................................................................................................................. 26
4.6. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................... 28
ANEXO .................................................................................................................................... 30
I

DECLARAÇÃO DE ORIGINALIDADE E AUTENTICIDADE


Declaro que o presente Trabalho de Fim de Curso é resultado da minha investigação
pessoal e das orientações do meu supervisor. O seu conteúdo é original e todas as fontes
consultadas estão devidamente mencionadas no texto, nas notas de rodapé e na bibliografia final.
Declaro ainda que este trabalho não oi apresentado em nenhuma instituição para a obtenção de
qualquer grau académico.

Chimoio, _________de _________________ de 2018

___________________________________
(António João Damião Minês)
II

DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus parentes consanguíneos e afins, especialmente o meu pai
João Damião Minês e minha mãe Flora Patreque que depositaram confiança em mim e apoiaram-
me bastante na construção deste trabalho.
III

AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar agradeço a Deus pela inspiração divina, por guiar a minha vida e por
ter-me dado força e perseverança para concluir esta monografia. Assim, desde logo, agradeço a
minha família em geral, em especial aos meus pais João Damião e Flora Patreque, pelo incentivo
nessa caminhada.
Como para qualquer trabalho que exige bastante dedicação e condições económicas
portanto, devo agradecer àquelas pessoas que apoiaram me nestas perspectivas: aos meus irmão
Domingos, Nelson, Patreque, Hortência, Luís e Elias Damião que ficaram ao meu lado apoiando-
me socialmente e financeiramente. Agradeço ainda ao Docente Inocêncio Albino pela monitoria
do trabalho desde a sua géneses, o seu desenvolvimento e a sua conclusão.
Aos amigos e colegas, José Rendição, Francisco Abrantes, Jeque David, Carbonato
Chaculamane, Delfim Uatanle, Vasco Benjamim, Leonel Vínculos e Maico Vontade muito
obrigado pelo apoio.
Tão fundamentais para mim são também meus colegas do curso de Jornalismo, que
compartilharam seus “anos dourados” comigo, e me inspiraram a ser quem sou hoje, depois de
quatro anos de faculdade que foram tão divertidos e inesquecíveis
Agradecimentos especiais ao professor António Guinda pelo ensinamento sábio nos anos
2012 e 2013, outros agradecimentos vão para os docentes da Escola Superior de Jornalismo em
Manica que incutiram me a vida académica.
Este trabalho simboliza o fim de uma etapa muito importante na minha vida pessoal e
académica. Assim, com o coração repleto de gratidão, tenho a certeza de que deixo um pouco de
mim na ESJ-Manica, e levo um pouco de todos vocês comigo, para encarar os desafios das etapas
futuras. Obrigado!
IV

LISTA DE ABREVIATURAS
CE – Cobertura Eleitoral

ESJ – Escola Superior de Jornalismo

CNE – Comissão Nacional de Eleições

HGPE – Horário gratuito de propaganda eleitoral

Frelimo – Frente de Libertação de Moçambique

RM – Rádio Moçambique

MDM – Movimento Democrático de Moçambique


V

LISTA DE TABELAS
Tabela I: Tendência da cobertura por partidos políticos………………………………...36

Tabela II: Distribuição de género dos ouvintes ……………………………………...….38

Tabela III: Apreciação dos ouvintes da Rádio Moçambique em torno do tópico desigualdade de
espaço de tempo radiofónico nas coberturas eleitorais…………………………………...39

Tabela IV: Razão da desigualdade de espaço de tempo na Rádio Moçambique para com o partido
no poder ………………………………………………………………….…40
VI

RESUMO
A objectividade e a imparcialidade na narração de factos jornalísticos são premissas cuja
observância é de grande importância para o desenvolvimento social, daí ocuparem a centralidade
de muitos debates sobre a ciência e a profissão jornalística. Este trabalho analisa a situação destas
premissas a partir da cobertura jornalística às últimas eleições autárquicas, realizadas em 2013 em
Moçambique, tendo como ponto de partida a cidade de Chimoio.

Na metodologia – à pesquisa quantitativa e qualitativa, os métodos de abordagem,


associou-se a pesquisa bibliográfica e documental sem descurar uma série de técnicas e
instrumentos aplicados à recolha de dados. O caso de estudo foi a delegação provincial da Rádio
Moçambique (RM) em Manica, a quem coube a cobertura das eleições autárquicas de 2013 nesta
parcela do país.

O estudo observou que o poder, quer político quer económico, a que se sujeitam os órgãos
de comunicação social é determinante na oscilação do seu comportamento. Como tal, a pesquisa
chega à conclusão de que a parcialidade manifesta pela RM, favorecendo o poder do dia liderado
pelo Partido Frelimo é agravado pelo facto de este órgão ser financiado pelo Governo.

Palavras-chave: Rádio e política; cobertura eleitoral; parcialidade; Rádio Moçambique.


VII

ABSTRACT
Objectivity and impartiality in the narration of journalistic facts are premises whose
observance is of great importance for social development; hence occupy the centrality of many
debates on science and the journalistic profession. This paper analyses the situation of these
premises from the journalistic coverage to the last municipal elections, held in 2013 in
Mozambique, starting from the city of Chimoio.

In the methodology - to the quantitative and qualitative research, the methods of approach,
was associated to bibliographical and documentary research without neglecting a series of
techniques and instruments applied to the data collection. The case study was the provincial
delegation of Radio Moçambique (RM) in Manica, which covered the coverage of the municipal
elections of 2013 in this part of the country.

The study observed that the power, both political and economic, to which the media are
subjected, is decisive in the oscillation of their behavior. As such, the research concludes that the
bias manifested by RM, favoring the power of the day led by the Frelimo Party is aggravated by
the fact that the Government finances this organ.

Keywords: Radio and politics; election coverage; Rádio Moçambique and Parciality.
1

I. CAPÍTULO
1. Introdução
Apresente pesquisa estuda a cobertura eleitoral feita pela Rádio Moçambique (RM) no
período de campanha eleitoral para as eleições autárquicas de 2013 na cidade de Chimoio. Tendo
em conta que os meios de comunicação continuam a ser a principal fonte de informação dos
cidadãos, importa analisar a cobertura eleitoral feita nesta parcela do país. Num contexto em que
se verifica um aumento do jornalismo crítico durante as campanhas eleitorais, pretende-se
conhecer de que modo os media, a Rádio Moçambique em particular, se comportaram no decurso
da campanha eleitoral, tendo em conta a cobertura jornalísticas às campanhas eleitorais dos dois
principais concorrentes: os partidos Frelimo e MDM.

O estudo apresenta as conclusões a que chegou ao analisar peças jornalísticas publicadas


pela Rádio Moçambique concernentes a cobertura eleitoral na cidade de Chimoio em 2013.

A partir da análise da cobertura eleitoral da RM, tendencialmente favorável ao poder do


dia liderado pelo partido Frelimo, o estudo expõe um questionário com finalidade de perceber os
argumentos que sustentam tal parcialidade.

A importância da rádio como meio informativo deve-se a uma característica: sua


capacidade de possibilitar a comunicação entre públicos diversificados sem condicionar a
descodificação da mensagem a uma formação específica. A rádio é, por excelência, um meio eficaz
na massificação e democratização da informação. Neste sentido, os políticos e a sua necessidade
de fazer chegar a sua mensagem ou seu manifesto eleitoral de modo a convencer o eleitorado
olharam para o meio rádio como o instrumento ideal.
A escolha deste tema deve-se a seguintes motivações: a conciliação dos conhecimentos
adquiridos ao longo do curso (jornalismo); a paixão pelo meio radiofónico, e a busca – da parte do
pesquisador – pelo entendimento do quão a delegação provincial da Rádio Moçambique, em
Manica, observou a objectividade e imparcialidade na cobertura eleitoral das autarquias de 2013,
em Chimoio, uma vez serem estas as normas elementares da ciência e profissão jornalista. Partindo
do eixo de que, ao invés de pautar pela imparcialidade na cobertura às eleições autárquicas, o órgão
de comunicação social em estudo ofereceu ao partido no poder mais espaço de tempo em relação
aos outros partidos, esta pesquisa centra sua análise na Rádio Moçambique.
2

Segundo uma análise feita pelo CEC (Centro de Estudo Interdisciplinares de


Comunicação), em 2013, o partido Frelimo recebeu a maior cobertura eleitoral, com 47.3 por cento
contra 41.5 por cento do MDM e 11.2 por cento dos restantes partidos, facto que vai contra a Lei
imprensa, Lei eleitoral e Constituição da República e normas jornalísticas.
Sabe-se, no entanto, que somada a uma actuação profissional ética, fundamentada no
respeito às normas deontológicas da área, a objectividade e a imparcialidade na prática da
actividade jornalística são premissas elementares a que os mass media se vinculam na interpretação
social de factos noticiosos, contribuindo para o desenvolvimento das sociedades. Colocando esse
postulado em perspectiva, esta pesquisa centraliza a sua análise no tema da imparcialidade versus
parcialidade, e questiona: como a delegação provincial da Rádio Moçambique, em Manica, fez a
cobertura eleitoral das autarquias de 2013?
O tema escolhido para o trabalho de pesquisa é de suma importância, pois trata-se de um
assunto não muito explorado por pesquisadores. Segundo Leandro Colling (2007, p. 12) o tema
coberturas eleitorais na televisão, as estratégias de persuasão, os formatos e os discursos dos
candidatos já foram exaustivamente estudados pelos pesquisadores. Já o mesmo no meio
radiofónico foi pouco observado. Portanto a pesquisa é fundamental para ampliar o leque de
conhecimentos a respeito da temática, tanto para pesquisadores em processos eleitorais como para
a sociedade em geral, que poderá ter um conhecimento mais elaborado a respeito da cobertura
eleitoral e da utilização dos meios de comunicação de massa, em especial o rádio, no processo
eleitoral.
O objectivo principal desta pesquisa é analisar as notícias publicadas pela delegação
provincial da Rádio Moçambique, em Manica, no âmbito das eleições autárquicas de 2013, a fim
de aferir o nível de imparcialidade na produção e divulgação de informação noticiosa concernente
aos principais concorrentes: os partidos Frelimo e MDM.

A pesquisa trabalhou a análise feita por Ernesto C. Nhanale, Egídio G. Vaz Raposo e
Constantino Luciano Gemusse sobre a Cobertura Mediática das Eleições Autárquicas de 2013 –
Moçambique.
Inicialmente, o pesquisador realizou uma colecta de dados durante o período da campanha
relacionada às autarquias de 2013 levantando algumas informações relevantes sobre o cenário do
pleito. Em seguida, foi feito um levantamento bibliográfico sobre média e política, comunicação
política no rádio, elementos e características da linguagem radiofónica. Nestas colectas de dados
3

foram usados métodos científicos (métodos de trabalho) e alguns instrumentos de recolha de


informação como inquérito. E ainda algumas tipologias de pesquisa (qualitativa e quantitativa).
O embasamento teórico deste trabalho resultou da combinação, na literatura basilar, das
obras de Armand Balsebre (1994) e Júlia Lúcia de Oliveira Albano da Silva (1999:2003), que
trabalham com os elementos da linguagem radiofónica e Márcia Vidal Nunes (2000:2005), que
está entre os poucos autores que abordam o assunto, tratando o tema da política e dos processos
eleitorais relacionados à Rádio.

1.1. Justificativa
O tema escolhido para o trabalho de pesquisa é de suma importância, pois trata de um
assunto verídico que mexe com a sociedade.
Os períodos eleitorais, e as campanhas são eventos políticos obrigatórios, sendo, por isso,
momentos ideal para dar espaço ou oportunidade de visibilidade para os partidos políticos nos
órgãos de comunicação social ao mesmo tempo que estes – órgãos de comunicação social –
encontram a oportunidade de atrair audiência e patrocinadores para si.

Em Moçambique, o meio mais usado pelos políticos para o exercício das suas funções
eleitorais é a Rádio devido à sua característica económica e abrangência. A actividade jornalística
é baseada nas normas e princípios como a objectividade e a imparcialidade, regras que devem ser
seguidas rigorosamente, isto é, descrevendo as características do objeto da notícia, e não
impressões ou comentários do sujeito que o observa e manter-se neutro, reto e equitativo, não
favorecendo alguém em detrimento de outrem.

1.2. Relevância Social

 Criar e ampliar o conhecimento que a sociedade tem a respeito da produção de programas


eleitorais e da utilização dos meios de comunicação de massa, em especial o rádio no
processo eleitoral.

1.3. Relevância científica

 Irá se debruçar em torno da parcialidade por parte da Rádio Moçambique no processo das
campanhas eleitorais, envolvendo conhecimento académico e várias teorias científicas que
discutem em torno do tema.
4

1.4. Problema
Todos os meios de comunicação social têm a obrigação de seguir as normas e princípios
éticos jornalísticos da imparcialidade. O respeito a estes pressupostos na prática jornalística, bem
como a observância rigorosa da legislação afim, não só contribuem para a transparência e justeza
do processo, assim como concorre para a promoção da equidade social como ponto de partida no
seio dos grupos políticos concorrentes.

Desde que Moçambique se tornou um país democrático, tem-se notado uma actuação
pouco imparcial nas coberturas mediáticas da Rádio Moçambique em plenas eleições autárquicas.
A Rádio Moçambique é o meio em que a pesquisa centra se, pois este mais destorce a realidade
que seria a isenção da parcialidade na cobertura das eleições.

A parcialidade é usada para facilitar um determinado partido político em detrimento do


outro, ou seja a Rádio Moçambique oferece mais espaço de tempo ao partido no poder para exercer
as suas campanhas eleitorais do que a partidos de oposição de acordo com análise feita pelo SNJ
(Sindicato Nacional dos Jornalista) em 2013.
O estudo realizado em 2005, sobre a formação do voto e comportamento eleitoral dos
Moçambicanos, mostra que 38% dos cidadãos receberam informação eleitoral, directamente, por
via de organizações partidárias e 62% receberam a informação através dos meios de comunicação
que os partidos políticos usam para informar, como os comícios, pelos média (tempo de antena e
notícias) e outros tipos de contactos (igreja, família e amigos). No grupo de todos os meios de
comunicação, os inquiridos reconhecem que a rádio se configura como uma das maiores fontes de
informação, especialmente a Rádio Moçambique, graças à sua abrangência e o uso das línguas
nacionais. Com esta configuração a Rádio Moçambique deveria ser exemplar a nível nacional
produzindo programas gratificantes para a sociedade e acatar as normas éticas do jornalismo em
particular a imparcialidade.
Porém, como afirmado, o facto é que somada a uma actuação profissional ética,
fundamentada no respeito às normas deontológicas da área, a objectividade e a imparcialidade na
prática da actividade jornalística são premissas elementares a que os mass media se vinculam na
interpretação social de factos noticiosos, contribuindo para o desenvolvimento das sociedades.
5

– Assim, colocando esse postulado em perspectiva, esta pesquisa centraliza a sua análise
no tema da imparcialidade versus parcialidade, e questiona: como a delegação provincial da
Rádio Moçambique, em Manica, fez a cobertura eleitoral das autarquias de 2013?

1.5. Hipóteses
1.5.1 Hipótese básica
 A parcialidade radiofónica (Rádio Moçambique) em momentos eleitorais é agravada pelo
facto do meio funcionar através de financiamentos do Governo.

1.5.2 Hipótese secundária


 Dificuldades na percepção sobre a Radio Moçambique pertencer a uma entidade do partido
ou do Estado.

1.6 Objectivos
1.6.1. Geral

 Analisar a cobertura eleitoral às autárquicas de 2013, feita pela Rádio Moçambique, em


Manica, para aferir o grau de imparcialidade na produção e divulgação de informação
noticiosa concernente aos principais concorrentes: os partidos Frelimo e MDM..

1.6.2. Específicos

 Identificar factores capazes de mobilizar a Rádio Moçambique a adotar uma actuação parcial.
 Descrever as tendências da cobertura eleitoral feita pela Rádio Moçambique.
 Indicar os motivos que tornam a Rádio ser um instrumento ideal para as demandas dos
partidos políticos.
6

II. CAPÍTULO
2. Revisão bibliográfica
No âmbito académico o tema cobertura eleitoral radiofónica: uma analise as eleições
autárquicas de 2013 na cidade de Chimoio compactua com o trabalho apresentado na Faculdade
Cásper Líbero intitulado Rádio como Palco da Campanha Política: um estudo sobre os programas
do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral de Lula em 2006 que tem como objectivo realizar
uma análise de conteúdo e dos elementos da linguagem radiofónica utilizados nos programas do
Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE) da campanha presidencial de 2006 do candidato
à Reeleição Luiz Inácio Lula da Silva.
O tema em alusão também tem uma relação directa com dissertação apresentada à
Universidade Católica Portuguesa e Universidade Católica de Moçambique para obtenção do grau de
Mestre em Ciência Política, Governação e Relações Internacionais cognominado Impacto do
marketing eleitoral na decisão do voto em Moçambique: estudo do comportamento dos eleitores
do município da Beira em 2008 a qual visa entender até que ponto os meios de comunicação
alienam os eleitores na decisão de voto no município da Beira em 2008. Ainda neste prisma consta
a análise feita pelo CEC (Centro dos Estudos Interdisciplinares) sobre as eleições autárquicas de
2013, onde são analisados todos os meios de comunicação social em Moçambique e a sua cobertura
integral nas eleições autárquicas de 2013.
Para a produção deste trabalho parte-se do pressuposto das teorias de comunicação que
numa definição geral dada por Wolf (1985, p. 7), são estudos académicos que se concentram nos
estudos dos efeitos, origem e fenómeno da comunicação social nos seus aspectos tecnológicos,
políticos, sociais, cognitivos e económicos. Das várias teorias de comunicação existentes, a teoria
de agendamento ou agenda setting é tida como propicia para a explicação do fenómeno em estudo
pelo facto de que os médias agendam os temas a serem abordados o que vai pressupor a agendar
o espaço de tempo que cada tema ou político têm de transmitir seu manifesto eleitoral, aspectos
que coincidem plenamente com o tema. Essa liberdade que os meios de comunicação tem no
processo de alvitrar o que deve ou não ser transmitido, é a mesma autonomia que as fazem agendar
a hora, a duração e o espaço em que cada candidato tem para proferir da sua candidatura.
A teoria da agenda setting foi desenvolvida pelos americanos Malcolm McCombs e Donald
Shaw no ano de 1972 com o intuito de investigar a capacidade de agendamento da média na
campanha presidencial de 1968 nos Estados Unidos, além de confrontar o que os eleitores
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asseguraram serem as questões-chave da campanha com o conteúdo expresso pelos meios. Os


autores pretendiam averiguar também se as ideias que os votantes julgavam como temas mais
relevantes eram moldadas pela cobertura jornalística dos meios de comunicação.
Nesse estudo, McCombs e Shaw concluíram que o mundo político é reproduzido de modo
imperfeito pelos diversos órgãos de informação. Contudo, as provas desse estudo de que os
eleitores tendem a partilhar a definição composta pela média acerca do que é importante, sugerem
fortemente a sua função de agendamento.
A teoria do agendamento defende a ideia de que os consumidores de notícias tendem a
considerar mais importantes os assuntos veiculados na imprensa, sugerindo que os meios de
comunicação agendam nossas conversas. Ou seja, a média nos diz sobre o que falar através de
acumulação, consonância e onipresença (LIMA,2004, p. 220-221).

Acumulação: é a capacidade da média para criar e manter relevância de um tema.

Consonância: as semelhanças nos processos produtivos de informação tendem a ser mais


significativas do que as diferenças.

Onipresença: o fato da média estar em todos os lugares com o consentimento do público, que
conhece sua influência.
Lima (2004, p. 220) ainda lembra que Teoria do agendamento é constituída basicamente
pela tendência a achar mais relevantes os temas mais pautados pela média, mais especificamente
é uma teoria que filtra uma informação e decide o que deve ou não ser veiculado, esses temas não
seguem obrigatoriamente o critério de interesse público. Tem mais a ver com as condições de
produção e cultura própria.
8

2.1. Rádio e Política


2.1.1. Breve historial do surgimento da rádio e suas características
A rádio é definida por Ferraretto (2000, p. 45) como sendo um sistema de emissão e
transmissão de som, que recorre às propriedades das ondas hertzianas para a difusão de seus sinais.
O autor define ainda o rádio como um aparelho receptivo de sinais radiofónicos, usado para captar
e transformar as ondas que se emitem por um radiotransmissor.

A partir do desenvolvimento da telegrafia sem fio e da radiocomunicação surgiu a rádio.


Pela primeira vez então, a distância deixou de ser barreira para a comunicação. No entanto, não há
unanimidade entre os países quanto ao autor desta invenção. Mas, a maioria dos autores assegura
que o italiano Guglielmo Marconi foi o inventor do primeiro sistema para telégrafos sem fios. A
transmissão teria sido realizada no Canal da Mancha em 1899. Ainda neste período, o austríaco,
naturalizado norte-americano, Nikola Telsa também realizava seus estudos e os patenteou
(SCHWARTZENBERG, 1977, p. 175).
Schwartzenberg (1977, p. 148) lembra ainda que a rádio desde sua origem, sempre teve
papel relevante nos acontecimentos históricos da humanidade. Desde o surgimento da imprensa
nas sociedades ocidentais, devido à possibilidade de reprodução múltipla de documentos escritos,
o homem passou a usufruir de uma ampliação dos seus conhecimentos através da circulação de
informações. Isso possibilitou uma maior participação das sociedades nas tomadas de decisão do
Estado, levando os novos sistemas políticos a se adaptarem às transformações da comunicação e
aos recursos mediáticos
Duverger (1980 apud FERREIRA, 2002, p. 56) ementa que as rádios tiveram grande
importância na conscientização e mobilização política da massa durante a Revolução, quando as
“sociedades de pensamento”, intelectuais da Revolução, expressavam-se através dos jornais, e
estes se tornaram iniciadores de comités político-eleitorais.
Em 1943, a Suprema Corte Norte - americana considerou-o inventor do rádio. Já no
Canadá, Reginald Aubrey Fessenden é reconhecido como o precursor do rádio e o primeiro a
transmitir o som da voz humana sem fios. Portanto a incerteza do verdadeiro inventor da Rádio. O
que não pode ser excluído na história da rádio é a descoberta da propagação das ondas
electromagnéticas feita pelo alemão Henrich Hertz, em 1887 o que veio a impulsionar bastante na
criação da média sonora (SCHWARTZENBERG, 1977, p. 175).
9

Para o Prado (1989, p. 17) Rádio é o único veículo de comunicação que chega a muitos
lugares do país, uma vez que é uma média barata tanto para quem produz quanto para quem adquire
a tecnologia de recepção. Em função das características de sua transmissão de ondas tem um
grande alcance, principalmente nas transmissões em Amplitude Modulada (AM). Esta abrangência
foi percebida através de dois pontos: características fisiopsicológicas do ser humano, que consegue
captar e reter mensagem falada e sonora simultaneamente a outra actividade; e por causa da
descoberta do transístor (a pilha) que possibilitou uma maior mobilidade ao rádio. Do ponto de
vista de ressecção, o rádio tem um alcance maior do que os impressos ou a TV pelos seguintes
motivos: o ouvinte basta ter a capacidade de ouvir (não ser surdo) para captar a mensagem, não é
exigida alfabetização (como no jornal impresso). Mesmo na televisão existem informações
transmitidas por escrito (GC’s) que fogem à capacidade do telespectador analfabeto.
O autor diz ainda que a rádio permite mobilidade tanto do emissor (produção em estúdio
ou externas de diversas naturezas), quanto do receptor (rádios portáteis que possibilitam a audição
na rua, no carro, nos diversos cómodos da casa etc.). É um veículo de comunicação imediato: os
fatos podem ser transmitidos no instante em que ocorrem, e instantâneo (efémero): a mensagem é
recebida no momento em que é emitida, se o ouvinte não estiver exposto ao meio naquele instante,
a mensagem não o atingirá (assim como na TV, neste ponto os impressos levam vantagem).
A relação do meio sonoro com a política já é antiga. Ele existe desde 1899, quando Marconi
realizou com sucesso sua primeira ligação por telegrafia sem fio entre França e Inglaterra. O rádio
já surgiu ligado ao poder público, inicialmente com fins militares. A partir dos anos 30, o meio
sonoro passou a ser utilizado com mais frequência pelo Estado e seus governantes, pelas guerras
e por partidos políticos, sindicatos, movimentos sociais, religiosos (SCHWARTZENBERG, 1977,
p. 175).
De acordo com Abraham apud Ferraretto (2000, p. 28-29) o papel político da rádio é
inegável, independentemente da orientação. No entanto, deve-se ressaltar que é preciso estudar
esta relação tendo em vista o contexto em que actual. Desta forma, podemos perceber que a questão
do alcance é algo muito importante do ponto de vista da análise de rádio como meio de
comunicação de massa. Realmente, o rádio atinge a “massa”. É com estas características que o
meio rádio é o preferido dos políticos em momentos de campanhas eleitorais.
10

No entanto, o mais importante é que ele é o único meio de comunicação de massa que
atinge 100% da população a nível mundial e está presente em quase 100% na vida dos indivíduos.
(COSTA, 2005, p. 33).
Costa (2005, p. 33) lembra ainda que a rádio é o meio de comunicação de massa que mais
diminui distâncias.
O teórico canadense Marshall Mcluhan, que criou a expressão aldeia global, definiu o rádio
como um tipo de tambor tribal da era electrónica:

O rádio provoca uma aceleração da informação que também se estende a outros meios.
Reduz o mundo a uma aldeia (...). Mas, ao mesmo tempo em que reduz o mundo a
dimensões de aldeia, o rádio não efectua a homogeneização dos quarteirões da aldeia.
Bem ao contrário (MCLUHAN, 2000, p. 344).

Assim como os demais meios de comunicação, a rádio têm suas peculiaridades. Apesar de
não ter a imagem como o cinema, a TV, o jornal ou a revista, a rádio tem outros atributos que
suprem essa ausência. Ele pode ser ouvido em casa, no carro, no trabalho, no estádio de futebol ou
até mesmo andando pela rua.
Das características acima enunciadas, Oliveira (2001, p. 32-37), destaca a sensorialidade,
o imediatismo e o interesse como características mais peculiares da rádio.

 Sensorialidade: O fato da rádio não emitir imagens ao receptor se traduz em uma


característica positiva. Este veículo permite ao indivíduo criar suas próprias imagens. O
ouvinte cria em sua mente a imagem do locutor que lhe fala, das situações que ele narra e
de outros sons emitidos pelo meio.
 Imediatismo: Os fatos difundidos pela rádio passam com muita velocidade e desaparecem
assim que acabam de ser anunciados. Com o desenvolvimento de novas tecnologias e o
aumento do número de emissoras, o imediatismo tornou-se decisivo para garantir o êxito
das emissoras. A rádio é o meio de informação de maior mobilidade na difusão de notícias
tanto ao vivo quanto com curto espaço de tempo entre o fato e a divulgação dele.

 Interesse: A programação da rádio precisa despertar o interesse do receptor para que possa
obter a atenção do ouvinte e, consequentemente manter ou elevar a audiência.
11

Prado (1989, p. 17) acrescenta duas características essenciais que influem e determinam a
estrutura da informação radiofónica: brevidade e simplicidade. Ambas são usadas em prol da
clareza enunciativa, que contribui para prender a atenção do ouvinte e fazê-lo compreender a
mensagem transmitida.

A recepção da mensagem por parte dos ouvintes o meio sonoro é paralelo abrangendo
muitos públicos ao mesmo tempo, nessa perspectiva a rádio para Ferraretto (2000, p. 28), o meio
possui uma audiência ampla, heterogénea e anónima. Ou seja, alcança uma enorme área, abrange
pessoas de diferentes classes socioeconómicas e desconhecidas no particular pela emissora. O
autor destaca ainda que a recepção da mensagem é simultânea, já que várias pessoas podem receber
a mesma informação ao mesmo tempo.
Em momentos eleitorais o rádio funcionava através de alguns formatos ou programas como
o radio jornal, reportagens especiais e programas de debate. (HARRIS e CHANTLER, 1998, p.
1998:162).

2.2. Rádio e política no mundo


A relação do meio sonoro com a política já é antiga. Ele existe desde 1899, quando Marconi
realizou com sucesso sua primeira ligação por telegrafia sem fio entre França e Inglaterra. O rádio
já surgiu ligado ao poder público, inicialmente com fins militares. A partir dos anos 30, o meio
sonoro passou a ser utilizado com mais frequência pelo Estado e seus governantes, pelas guerras
e por partidos políticos, sindicatos, movimentos sociais, religiosos e ecológicos. Haussen (1997,
p. 79) afirma que o papel político do rádio é inegável, independentemente da orientação. No
entanto, deve-se ressaltar que é preciso estudar esta relação tendo em vista o contexto em que
actual.
Em 1930, Brecht já alertava para um rádio que não se limitasse a transmitir informações,
mas que organizasse a colecta de informações, isto é, que transformasse as informações dadas
pelos governantes em respostas às questões dos governados na década 70 (BRECHT 1970, p. 138).
Contudo, a rádio foi usado para fins políticos pela primeira vez por Franklin Delano
Roosevelt nos Estados Unidos. Durante o período em que foi presidente 1933 a 1945, Roosevelt
projectou seu carisma e consolidou sua superioridade sobre o continente norte-americano
12

utilizando muito bem o recém-chegado meio de comunicação cujo desenvolvimento coincidiu com
o seu governo. A rádio já vinha sendo utilizado para transmitir mensagens políticas desde 1920,
com o presidente Hardin, com quatrocentos mil aparelhos em uso. No entanto, quando Roosevelt
se tornou presidente dos Estados Unidos, em 1932, o número de aparelhos de rádio já estava na
casa dos 18 milhões. Mas, antes mesmo de se tornar presidente, Roosevelt já tinha experimentado
o meio durante o seu governo do estado de Nova Iorque, e foi a partir daí que passou a reconhecer
o veículo como um poderoso instrumento para conquistar a opinião pública. “Sucedem-se, por
isso, desde o seu primeiro mandato de governador, as famosas fireside chats, conversas ao pé do
fogo,10 em tom simples e livre, para se dirigir directamente aos nova-iorquinos”
(SCHWARTZENBERG, 1977, p. 168).
A partir de 1932, a rádio tornou-se o principal meio de comunicação entre o presidente
Roosevelt e os norte-americanos através das transmissões do programa fireside chats. No período
da Grande Depressão, época de grande recessão económica, iniciada com a queda da Bolsa de
Nova York em 1929, o veículo foi amplamente explorado por Roosevelt para anunciar as propostas
da política do New Deal, de incentivo ao desenvolvimento económico e maior justiça social.
“Durante o longo período em que permaneceu no poder 1932-1945,Roosevelt transformou o
veículo em canal de contacto directo entre o governo e o resto do país. Por isso, também passou
para a história dos Estados Unidos como ‘o presidente do rádio’” (MOREIRA, 1998, p. 11-12).
Na Alemanha dos anos 30, Joseph Goebbels, idealizador e algoz das técnicas nazistas de
propaganda, descobriu no rádio o meio ideal de difusão da ideologia nazista. O veículo foi bastante
utilizado como peça-chave, já que, naquele momento, cerca de 70% das famílias alemãs possuíam
pelo menos um aparelho receptor em casa. Para se ter uma ideia da importância do meio, em 1939,
quando Hitler invadiu a Polónia, o rádio foi um dos primeiros recursos confiscados da população.
Orquestrada por Goebbels, a técnica da propaganda nazista consistia em associar durante certo
tempo um tema ideológico qualquer a uma tendência instintiva. (...) Seus slogans e suas ordens
estavam carregados de grande força emocional. Não se relacionavam com a razão, mas alcançavam
directamente os instintos. Tratava-se de afirmações e não de explicações (BALLE, 1991, p. 483-
484).
Na Argentina, nos anos 40 e 50, Juan Domingo Perón transformou a rádio num instrumento
de propaganda política. Eva Duarte, que mais tarde se uniria a Evita Perón, havia iniciado também
nos anos 40 sua carreira no rádio argentino em programas do género romântico, de mistério e até
13

biográfico. Em 1944, Evita organizou a Agremiação Radiofónica oficial e lançou o programa de


propaganda por um futuro melhor, de exaltação à Revolução de 1943. Desde então, Evita Perón
entrou para a política argentina e tornou-se peça fundamental no peronismo. “O estilo discursivo
de Evita Perón nunca se livrou totalmente dos dramas e novelas que interpretara no rádio, pois
continha muita emoção e adjectividade” (HAUSSEN, 1997, p. 79).
Na década de 50, Fidel Castro utilizou a rádio como instrumento de resistência política em
Cuba. Durante a guerrilha, Ernesto “Che” Guevara organizou a Rádio Rebelde, que iniciou suas
transmissões em 24 de Fevereiro de 1958 a partir de Sierra Maestra, quando o futuro do movimento
ainda era incerto. O domínio dos meios de comunicação, sobretudo da rádio, foi essencial como
estratégia para vencer a campanha que levou Fidel ao poder em Janeiro de 1959, avançando com
a rede de emissoras à medida que suas tropas alcançavam Havana (MOREIRA, 1998, p. 11-12).
Os exemplos aqui apresentados explanam brevemente a estreita relação entre a rádio e a
política desde o início do século XX no mundo.
Contudo pode se dizer que nas democracias contemporâneas, os meios de comunicação em
particular a rádio legitimam e aumentam a visibilidade do poder político, através da difusão de
mensagens junto do eleitor, alicerçada numa análise dos eventos políticos. Independentemente dos
motivos que levam o eleitor a votar num candidato, a sua escolha é influenciada pela consulta da
informação disponível nos media (LIMA, 2007, p. 3).

2.3 Imprensa e parcialidade da Rádio Moçambique em momentos eleitorais


Camponez (2001, p. 33) define parcialidade como sendo aquilo que tem parte. Ou seja, é
aquele que toma parte de um dos lados, deste modo favorecendo alguém em detrimento de terceiro.

Usada para veicular informação e propaganda, capaz de fazer cair governos, decidir uma
eleição e até incitar guerras, a imprensa é um elemento central nas sociedades contemporâneas.
Nas últimas décadas, com o crescimento e expansão da imprensa escrita, da rádio e da
televisão, e com o surgimento de novos meios de comunicação, com destaque para a Internet, o
impacto social da imprensa aumentou exponencialmente. Neste período, ganhou também força a
ideia de que é função da imprensa, para além de informar e transmitir uma visão imparcial dos
eventos, a fiscalização da actuação governamental, velando pela boa gestão da coisa pública e
oferecendo um contrapeso ao poder público, o qual, sem o devido controlo social, pode ser abusado
para fins privados e partidários. Para muitos, a imprensa ter-se-ia tornado numa espécie de quarto
14

poder republicano, actuando ao lado do poder executivo, legislativo e judiciário (CRUZ e SILVA,
1988,p. 397-405).
Os autores elucidam ainda que em Moçambique, uma das primeiras medidas tomadas pela
Frelimo logo após assumir o poder, a 25 de Junho de 1975, foi controlar a imprensa. Num contexto
em que acabava de se sair de uma guerra contra o colonialismo, na qual certa imprensa, sobretudo
a mais importante (Notícias de Lourenço Marques e Notícias da Beira, Tempo, Diário de
Moçambique, Voz Africana, só para citar alguns exemplos), era controlada por grandes capitalistas
hostis à Frelimo e próximos ao poder colonial, o controlo da imprensa era visto como essencial à
defesa dos interesses nacionais do recém-independente Moçambique. Também, a imprensa era
vista pelos líderes da Frelimo como um importante instrumento para transmitir as ideias e ideais
do novo regime, desencorajar ou controlar sectores hostis ou considerados como tal, e consolidar
a unidade nacional. Na época a imprensa era vista como o meio para educar, informar, mobilizar
e organizar a população.
A informação deve desempenhar um papel fundamental na criação do Homem novo e só
pode fazê-lo se os trabalhadores da informação se engajarem na sua própria
transformação, assumindo ao nível das ideias, do trabalho, da vida e do comportamento,
os valores novos, os valores do homem socialista. Isto significa também que o Partido
deve dar uma atenção particular. Ao enquadramento político dos jornalistas. Neste
sentido, intensificaremos a implantação das estruturas do Partido nos órgãos de
informação. (...) Além disso, é necessário efectuar o enquadramento político dos
jornalistas no seu conjunto, através duma estrutura própria. Uma estrutura que promova
a unidade de pensamento e de acção dos jornalistas (MACHEL,1977, p. 7).

No que concerne ao meio sonoro em Moçambique, Cruz e Silva (1988, p. 397) relatam que
a primeira emissão de Rádio foi transmitida no dia 18 de Março de 1933, por iniciativa dum
grupo de entusiastas. Naquele ano, a primeira Sede foi instalada num prédio denominado JA
ASSAM (onde hoje funciona o Centro de Estudos Brasileiros). Funcionando em pequenos
períodos de emissão, e por decisão do Governo da época, esta Estação Emissora foi designada de
Grémio dos Radiófilos de Moçambique. Com o aumento dos horários de transmissão de
programas, que consistiam basicamente em noticiários e música, foi necessário mudar de
instalações, facto que levou os mentores do projecto a se transferirem da Av. da República (hoje
Av. 25 de Setembro) para a Rua Araújo (hoje Rua de Bagamoyo).
Alguns anos depois e por via da contribuição dos ouvintes, foi construído o Edifício Sede
da Rádio, o edifício onde nos encontramos instalados hoje Rádio Moçambique. Nessa altura muda-
se a designação. Aquilo que era o Grémio de Radiófilos, passa a chamar-se Rádio Clube de
15

Moçambique, uma designação que se mantém até 02 de Outubro de 1975 (EDUARDO,2003, p.


10).

Durante muitos anos a RM funcionou como Empresa do Estado, tendo passado a Empresa
Pública a 16 de Junho de 1994. Nas eleições de 2004 a Rádio Moçambique foi totalmente parcial
ao partido no poder (Frelimo). No seu relatório consagrado à observação das eleições de 2004 a
EISA: 2006 e Carter Center: 2005 concluíram que a Rádio Moçambique deu 57% da sua cobertura
ao governo e à Frelimo, 19% à Renamo e apenas 10% ao Partido de Democracia e
Desenvolvimento (PDD). Estas práticas mostram claramente que a Rádio Moçambique sempre foi
parcial em momentos eleitorais mesmo depois da suposta desmembração do órgão com o Governo
Moçambicano (CRUZ e SILVA, 1988, p. 397-405).

2.4. A cobertura eleitoral


De acordo com Cunha (2012, p. 99) a cobertura eleitoral (CE) refere se a um campo
mediático exclusivamente criado para o cobrimento dos candidatos e de todas informações
concernentes a campanha eleitoral.
Na actual era da visibilidade, a cobertura mediática é uma peça chave no processo eleitoral
e passou a ser usado por partidos e políticos com o objectivo de obter e ganhar a confiança dos
eleitores. Assim, pode ser usado pelo candidato para tentar colocar em discussão temas que julgue
importantes para sua campanha e que estão fora da agenda pública da média no momento da
eleição (SERRANO, 2007, p. 61).
Ainda dentro desta discussão, a CE é um importante instrumento na disputa política, pois
concede espaços de debates e discussão nas rádios e televisões a todos os candidatos, tornando a
competição um pouco mais justa.
Apesar do crescente discurso negativo em torno das personalidades políticas, os media
evidenciam a cobertura dos políticos que têm mais possibilidades de vencer, podendo influenciar
a perceção do eleitor acerca de certas candidaturas. Hopmann et al. (2010, p. 389-405) observa
que a maioria dos cidadãos não tem hipótese de participar de modo direto nas campanhas eleitorais.
Logo, o tom positivo ou negativo da comunicação social acerca dos candidatos é uma relevante
forma de orientar o voto. A cobertura noticiosa fornece um fluxo de informação que pode afetar
as atitudes dos eleitores e o comportamento eleitoral, influenciando a opinião pública acerca de
certos candidatos.
16

O discurso mediático sobre as campanhas eleitorais pode mobilizar ou desmobilizar


indivíduos, assim como reforçar algumas intenções de voto, persuadindo os eleitores mais
indecisos quanto a em quem votar. A visibilidade e o tom nos médios podem ter uma pertinente
influência acerca da escolha de alguns políticos.
No caso americano, Gulati, Just e Crigler (2004, p. 235) observam que os candidatos do
partido democrata tiveram uma cobertura mais favorável do que os políticos republicanos. Os
mesmos autores mostram a existência de uma imprensa partidária, em que a opinião editorial e a
cobertura jornalística não são assim tão diferenciadas. Existe uma orientação favorável em torno
de algumas candidaturas, refletindo algumas tendências estruturais na comunicação social.
Por outro lado, os candidatos que perdem popularidade nas sondagens de voto receberão
uma maior cobertura negativa, independentemente do partido. Assim, a cobertura tende a ser mais
tendenciosa contra os políticos impopulares, não pela posição ideológica defendida mas devido às
decisões editorais quanto ao que significa criar notícia. Gulati, Just e Crigler (2004, p. 235-255)
referem ainda que os políticos recebem uma maior cobertura negativa quando os seus candidatos
são impopulares nas sondagens de opinião, independentemente dos partidos. No caso do político
que está em desvantagem nas sondagens, este recebe uma maior cobertura negativa em relação aos
outros rivais. Uma outra conclusão observada é que os políticos menos conhecidos nas eleições
primárias nos Estados Unidos obtêm uma menor quantidade de cobertura jornalística. Assim, têm
menos oportunidades de serem visíveis junto dos eleitores.
Estas conclusões estão em linha com as de Freire (2013, p. 15-16), que refere que a
comunicação social tem um papel seletivo em torno da cobertura das atividades de alguns políticos,
pois estes fazem parte da escolha dos potenciais candidatos a determinadas eleições. Os jornalistas
preveem os vencedores e os vencidos, selecionando logo aqueles que devem ter cobertura. A
decisão de cobrir alguns candidatos é feita com base nos resultados das sondagens de opinião. Os
candidatos, ao beneficiarem de uma intensa cobertura mediática, tendem a elevar os seus índices
de popularidade nas sondagens de opinião.
17

III. CAPÍTULO
3. Metodologia
3.1 Métodos e técnicas de trabalho
3.1.1. Pesquisa documental
A pesquisa documental consistiu na busca de documentos primários (relatórios, acórdãos,
relatórios de pesquisa, relatórios de empresas, tabelas estatísticas entre outros) relacionados com
o tópico. Partindo do facto de que se estuda um caso particular, a busca incluiu dados sobre a realidade
da cobertura eleitoral Moçambicana no geral e das eleições autárquicas de 2013 em particular.

3.1.2. Pesquisa bibliográfica


Quanto ao tipo de pesquisa o trabalho abraça a pesquisa bibliográfica, ou de fontes
secundárias, ela é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de
livros e artigos científicos. Da pesquisa foi possível obter conceitos que alimentaram a componente
literária.
A pesquisa bibliográfica assemelha-se muito à pesquisa documental. A diferença essencial
entre ambas está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza
fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa
documental vale-se de materiais que não recebem ainda um tratamento analítico, ou que ainda
podem ser reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa (GIL, 2002, p. 45).

3.1.3. Observação
Lakatos e Marconi (2002, p. 87) definem a observação como sendo um instrumento básico
de colecta de dados em todas as ciências, sendo importante para a construção de qualquer
conhecimento. Utilizou-se a observação directa uma vez que permitiu ouvir de perto como foi feito
a cobertura eleitoral. Ainda neste aspecto o pesquisador observou que a Rádio Moçambique é o
meio com mais abrangência.
18

3.1.4. Inquérito
Entende-se por questionário conjunto de questões que são respondidas por escrito pelo
pesquisado (GIL, 2002, p. 144).

Esta técnica teve como suporte a elaboração de um questionário, cujo teor das perguntas
foi a cobertura jornalística da Rádio Moçambique nas eleições autárquicas de 2013. Assim, na
primeira e na segunda questão esteve subjacente a ideia de cobertura jornalística do meio sonoro
(Tempo de antena), em momentos de campanhas eleitorais, a terceira e a quarta questão subentendeu
o tema da parcialidade da Rádio Moçambique nas coberturas eleitorais. A quinta questão e a última
versaram sobre a opinião de cada inquerido em relação à Rádio Moçambique nas coberturas
eleitorais. Assim, pretendeu-se obter aspectos relacionados com o tempo de antena radiofónico em
campanhas autárquicas em particular de 2013.

Figueiredo (2003, p. 2) realizou um estudo do Tempo de antena e cobertura eleitoral inovador


ao criar uma metodologia que uniu a abordagem quantitativa à qualitativa. De acordo com esta
pesquisa, o trabalho é dividido em três fases: (1) tipos de apelos (políticas futuras, políticas
passadas, atributos pessoais, ideológico, simbólico, análise da conjuntura, propaganda negativa e
outros); (2) tempo de cada peca; e (3) transcrição dos programas (abordagem qualitativa).
Baseando se nestes aspectos a análise foi feita através de alguns elementos identificadores como:

 Data: data em que o programa foi exibido.


 Horário: horário de veiculação do segmento – tarde ou noite.
 Turno: indicação do turno eleitoral a que o segmento analisado pertence - 1º turno ou 2º
turno.
 Duração: tempo de duração de cada segmento estudado (medido em segundos).
 Formato: pronunciamento do candidato, documentário/radio jornal/reportagem especial,
debates, noticias, entrevista e comícios.

3.1.5. Amostragem
Para Lakatos e Marconi (2003, P 163) amostra é uma parcela convenientemente
selecionada do universo (população); é um subconjunto do universo.
19

3.1.5.1. Amostragem não probabilística


Este método é baseado na seleção de factos de forma aleatória, não pode ser objeto de
certos tipos de tratamento estatístico, o que diminui a possibilidade de inferir para o todo os
resultados obtidos para a amostra.
O método de amostragem foi de amostragem não probabilística composta pela amostragem
por julgamento composta por 20 pessoas e a amostragem por cotas. Para a recolha de dados, foram
tomadas em consideração alguns locais de convergência populacional como; universidades e
mercados.
A natureza, o objecto e o espaço de estudo permitiram a utilização deste tipo de amostragem
não probabilística pela relevância da dimensão social e psicológica do comportamento do ouvinte,
pois apesar de cada ouvinte a pertencer um determinado partido político ou coligação, é imperativo
perceber até que ponto o indivíduo faz uma análise imparcial e completa. Entretanto, para trazer a
dimensão representativa da população objecto, e tendo em conta os elementos teóricos, a amostra
baseou-se nos seguintes elementos:
1. Idade do ouvinte;
2. Nível da audiência da Rádio Moçambique

3.2. Tipo de pesquisa


Quanto a abordagem, esta pesquisa é de cariz qualitativo e quantitativo. É qualitativo
porque assentou na pesquisa de campo. Segundo Gerhardt e Silveira (2009, p. 56) a pesquisa
qualitativo permitem explorar factores intangíveis tais como: normas sociais; o estatuto
socioeconómico; papéis de género; etnicidade e religião. É quantitativo porque a pesquisa requereu
o uso de recursos e técnicas de estatística, procurando traduzir em números os conhecimentos
gerados pelo pesquisador.

O trabalho de campo foi caracterizado pelo contacto directo com o fenómeno de estudo. O
trabalho de campo teve a duração de vinte e nove dias.
A metodologia utilizada nesta pesquisa foi desenvolvida especificamente para analisar o
meio rádio visando compreender as suas particularidades. Assim, espero contribuir para o
desenvolvimento de outros estudos nessa área.
20

IV. CAPÍTULO
4. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA
4.1. Breves comentários
Considerando os objetivos definidos e a metodologia adaptada para este trabalho resultados
são apresentados de acordo com os seguintes elementos:

1) Local de estudo; 2) Áudios analisados; 3) Perceções dos participantes em torno do


fenómeno em estudo e 4) Principais conclusões.

O local de estudo foi a cidade de Chimoio e tratando-se de um estudo relacionado com a


Rádio em momentos eleitorais, os sujeitos da pesquisa são os ouvintes íntegros da Rádio
Moçambique com idade igual ou superior a 18 anos tendo em conta o caso de estudo.

A Rádio Moçambique é a emissora de radiofusão estatal de Moçambique. É uma empresa


pública com emissoras em todas as capitais provinciais. Para além de programas de antena nacional
que emite em português, os emissores provinciais emitem ainda programas de sua produção em
mais dezenas de línguas locais. A primeira emissão de Rádio em Moçambique foi transmitida no
dia 18 de Março de 1933, por iniciativa dum grupo de admiradores (AWEPA, 2005, p. 8).

4.2. Apresentação dos dados


Devido aos constrangimentos enfrentados no acesso às gravações das matérias noticiosas, a
análise foca-se apenas nos primeiros 5 (cinco) dias dos 15 (quinze) da campanha eleitoral . Assim, a
análise incluiu 5 peças que foram publicadas sobre eleições na Rádio Moçambique em Manica, de
acordo com as datas das emissões radiofónicas.

Segundo dados da Comissão Nacional de Eleições – CNE, as eleições realizados nos 53


municípios; contaram com a participação de um total de um total de 18 partidos e movimentos cívicos
que concorreram para as Assembleias Municipais e à Presidência dos Municípios. D os 18 partidos
concorrentes, o partido Frelimo foi o que recebeu a maior cobertura eleitoral como ilustra o quadro abaixo:
21

Tendência da cobertura por partidos políticos

Partidos Políticos e Associações Concorrentes Cobertura total


oferecida por Tendência negativa Tendência
cada Partido ou não favorável Positiva ou
Politico Favorável
Peças %

FRELIMO – Frente de Libertação de Moçambique 569 47.3 4.1 34.4

MDM – Movimento Democrático de Moçambique 499 41.5 6.0 18

PAHUMO – Partido Humanitário de Moçambique 27 2.2 3.7 22

PARENA - Partido de Reconciliação Nacional 9 0.7 0.0 22

ALIMO - Partido Aliança Independente de 0 0.0 0.0 0.0


Moçambique

PPLM - Partido do Progresso Liberal de 0 0.0 0.0 0.0


Moçambique
PE- Partido Ecologista 5 0.4 0.0 0.0

MPD - Partido Movimento Patriótico para a 5 0.4 40 0.0


Democracia
PDD - Partido Para a Paz Democracia e 12 1.0 8.3 0.0
Desenvolvimento
PIMO - Partido Independente de Moçambique 1 0.1 0.0 0.0

Tabela I: Tendência da cobertura por partidos políticos


Fonte: CEC (2013)

Conforme a tabela I desta análise mostra, a Frelimo foi o partido que recebeu a maior
cobertura eleitoral, com 47.3% da cobertura total feita pela imprensa moçambicana em particular
a RM. A Frelimo é seguida pelo MDM, com 41.5%. Os restantes 16 partidos políticos e
movimentos cívicos ficaram com uma cobertura de 11.2%. Assim 88% da cobertura foi para o
partido Frelimo e MDM.

No que se refere aos áudios relacionados com os dias das campanhas eleitorais de 2013, na
cidade de Chimoio, concorrendo para a Frelimo o candidato Raul Conde Marques e João Luís
22

Ferrão pelo MDM, há que se enfatizar que a maior cobertura foi para o partido Frelimo com um
total de 21 minutos e 7 segundos contra 18 minutos e 4 segundos do MDM das 4 peças analisadas.

Na peça do dia 11 de novembro de 2013, o candidato da Frelimo Raul Conde Marques em


seus pronunciamentos de candidato falou 7 minutos e 32 segundos compreendendo o segundo
turno ou bloco eleitoral que vai das 18 às 24 horas. Ainda para o segundo bloco do dia 13, dos
cinco (5) minutos de direito no contexto do pronunciamento do candidato, a campanha do
concorrente do MDM só durou 4 minutos e 52 segundos. Para o dia 14 já no primeiro bloco,
compreendendo o intervalo das 9 e 13 horas, Raul Conde transcendeu ainda o tempo para 8
minutos e 9 segundos. Ao passo que nesse dia já no segundo bloco o manifesto eleitoral do
candidato do MDM teve apenas 4 minutos e 7 segundo. No primeiro bloco do dia 15, o candidato
da Frelimo entre 10 horas avançou sobre a sua campanha 5 minutos e 42 segundos.

O MDM no dia 17 explorou apenas 3 minutos e 27 segundos, para veicular a mensagem da


sua campanha eleitoral do segundo bloco desse dia.

Numericamente, o partido Frelimo foi o que teve a maior cobertura da Rádio Moçambique
com 21 minutos contra 18 do MDM das apenas 4 peças analisadas.

4.3. Apresentação do perfil dos ouvintes inqueridos


Para conciliar os dados acima apresentados, a análise descritiva caracterizando a amostra,
a análise pelo questionário verificou um total de 20 inqueridos que correspondem a 100%, dentre
eles 10 caracterizados pelo sexo masculino o que corresponde a 50% do total dos inqueridos e os
outros 50% é caracterizado pelo sexo feminino. A idade da amostra esteve entre 18 e 35 anos como
ilustra o quadro abaixo:

Número % Idade Idade


mínima máxima

Sexo masculino 10 50 18 35

Sexo feminino 10 50 18 31

Total 20 100 7 4

Tabela II: Distribuição de ouvintes segundo o sexo.


Fonte: Autor
23

No que tange à primeira questão relacionada com a avaliação singular da cobertura


jornalística nas campanhas eleitorais, 15% dos ouvintes responderam ser razoável, 5% positiva e
80% negativa. Verificou-se ainda que 95% dos ouvintes disseram Sim à questão inerente ao julgar
errado sobre o que é do estado é da Frelimo, os outros 5% disseram não.

Constatou-se que 100% dos indivíduos inqueridos avaliam a Rádio Moçambique como
sendo o meio infrator dos princípios de imparcialidade nas coberturas eleitorais, sendo dessa forma
parcial favorecendo o partido no poder.

Relativamente à ideia de distribuição de espaço de tempo, no que diz respeito se devia ou


não ser distribuído de forma igualitária e imparcial para todos os partidos ou se o partido no poder
devia ter mais espaço, 90% dos ouvintes dizem que o tempo deve ser igual e equilibrado para todos
os candidatos às eleições, sendo que os restantes que correspondem a 10% dizem que o partido no
poder deveria ter mais tempo de antena.

Em questionários abertos, os inqueridos (ouvintes); também deixaram alguns comentários


relacionados com a cobertura eleitoral na Rádio Moçambique: 100% afirmam que a Rádio
Moçambique nunca deixou de ser um meio controlado pelo Governo, em particular pelo partido
Frelimo a avaliar pela forma como as campanhas eleitorais são cobertas. O órgão acaba
“abandonando” o cariz público para defender interesses partidários, passando assim a fazer
campanhas e marketing eleitoral para o partido Frelimo. Em suma, em quase todos os questionários
respondidos há uma certa unanimidade relativamente à apreciação da parcialidade na distribuição
do espaço de tempo nas coberturas eleitorais como ilustra a tabela a seguir:
24

Questão Classificação e número de inqueridos Percentagem (%) Total

Qual é a avaliação que Positiva-1 5


faz da cobertura
jornalística nas Razoável-3 15 100%
campanhas eleitorais?
Negativa-16 80

Como avalias a actual 0


forma de distribuição do
espaço do tempo das Imparcial-0 100 100%
campanhas eleitorais na
Rádio Moçambique? Parcial-20

Na sua opinião, será que


há um julgar "errado" da
RM sobre o que é do Sim 1 5 100%
estado é da Frelimo?
Não 19 95

Se for parcial, qual é a RM é vulnerável ao controlo do partido no 100 100%


razão? poder por ser uma emissora pública e que é
financiada pelo Governo (Frelimo) - 20

Outras razões 0 00 00

Algum comentário sobre Radio Moçambique dissipe a ideia de


o tempo de antena e a igualdade entre os candidatos a eleições
radio Moçambique? locais-20 100 100%

Tabela III: Apreciação dos ouvintes da radio Moçambique em torno do tópico desigualdade de espaço de
tempo radiofónico nas coberturas eleitorais.
Fonte: Autor

4.4. Razões da distribuição parcial do espaço de tempo na Rádio Moçambique


Para obter as razões desta parcialidade, destacam-se três (3) opções. A primeira está
subjacente à ideia da Rádio Moçambique ser uma emissora financiada pelo Governo o que vai
deixar o meio vulnerável a manipulações do Governo (Frelimo). Esta opção é representada na
tabela pela variável manipulação. A segunda opção sobre “a confusão na perceção sobre o que é
do público e o que do é do Governo (partido) ” é representada pela expressão “ percepção errada”
e a última “Outras razões” é igualmente representada na tabela pela expressão “Outras razões”.
25

Variáveis Representação Percentagem (%)

Manipulação 19 95

Percepção errada 1 5

Outras razões 0 00

Tabela IV: Razões da desigualdade de espaço de tempo na radio Moçambique para com o partido no poder
Fonte: Autor

Conforme nota-se na análise dos dados, descrita pela tabela, é justamente pelo facto da
Rádio Moçambique ser uma emissora financiada pelo Governo que se torna vulnerável às
manipulações, o que favorece em termos de nepotismo ao partido Frelimo e desigualando a
cobertura jornalística em momentos de campanha eleitoral passando mais espaço de tempo ao
partido no poder (Frelimo) em relação aos outros.
26

4.5. CONCLUSÃO
Tendo como ponte os princípios e as normas jornalísticas, que regem e norteiam a produção
de informação noticiosa, a imparcialidade centra-se no não favorecimento nem prejuízo e qualquer
a fonte de informação. Seguindo esse pressuposto o objectivo deste estudo foi de analisar como a
delegação provincial da Rádio Moçambique, em Manica, trabalhou a cobertura jornalística das
eleições autárquicas na cidade de Chimoio no período de campanha eleitoral de 2013.

Assumiu-se que a rádio é o meio de comunicação ideal para os políticos a avaliar pela sua
característica e capacidade de ampla massificação da informação. Apesar de não ter a imagem
como o cinema, a TV, o jornal ou a revista, a rádio tem outros atributos que suprem essa ausência.
Ele pode ser ouvido em casa, no carro, no trabalho, no estádio de futebol ou até mesmo andando
pela rua.

Para a análise e pela natureza do objecto, a pesquisa destacou alguns factores como a
horário, formato, datas, tipo de segmento, turnos ou bloco e duração para concluir que a cobertura
eleitoral realizada pela Rádio Moçambique nas campanhas eleitorais para as autarquias locais
favoreceu ao partido no poder a Frelimo, já que, através do tipo de segmento foi possível distinguir
que em todas as peças analisadas, os candidatos abordavam os seus manifestos utilizando dois
turnos, o primeiro e segundo.

Com o factor formato destingiu-se que os candidatos usufruíram do pronunciamento dos


candidatos deixando de fora vários outros formatos como o documentário, a notícia, o rádio jornal,
spot a reportagem especial etc. Já para os factores data, horário e duração verificou-se uma
ondulação para cada candidato, obtendo maior cobertura eleitoral (favorecimento da Rádio
Moçambique para o partido no poder), o candidato Raul Conde Marques.

No que tange aos dados colhidos e analisados, concluiu-se que o financiamento do Governo
aos meios de comunicação públicos em particular a Rádio Moçambique é o cursor da parcialidade
do meio para com o partido no poder, a Frelimo. Contudo, a pesquisa concluiu também que a
inexistência desta parcialidade depende muito da independência dos mass media.

A pesquisa constatou ainda que a cobertura jornalística em momentos de campanhas


eleitorais em Moçambique é negativa devido à parcialidade que se tem notado nos meios de
comunicação social financiados pelo Governo.
27

Como limitações, durante o desenvolvimento da pesquisa, não foi possível obter todos os
áudios dos 15 dias em que a campanha eleitoral para as eleições autárquicas de 2013 decorreu, em
virtude da localização dos áudios e do comprometimento de questões políticas e burocráticas. Se,
por um lado, a posse dessa informação enriqueceria o debate e os resultados, por outro, a sua falta
condicionou esta análise às conclusões aqui apresentadas.
28

4.6. BIBLIOGRAFIA
1. AWEPA (2005), Boletim sobre o processo político em Moçambique, Número 32, 15 de
Julho.
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3. BALSEBRE, Armand. A linguagem radiofónica. Madrid: Cátedra, 1994.
4. BALLE, Francis. Comunicação e Sociedade – Evolução e análises comparativo de los
médios. Santa Fé de Bogotá: Tecer Mundo Editores, 1991, pp. 483-484.
5. CAMPONEZ, C. (2011) Deontologia do Jornalismo. A Autorregulação frustrada dos
jornalistas portugueses (1974-2007). Coimbra: Edições Almedina.
6. CEC. Análise da Cobertura Mediática: Eleições Autárquicas de 2013 – Moçambique,
Maputo, 21 de Novembro de 2013.
7. COSTA, Osmani. Rádio e política: a aventura eleitoral dos radialistas no século XX.
Londrina: Eduel, 2005.
8. COLLING, Leandro. O “estado da arte” dos estudos sobre média e eleições presidenciais
de 1989 a 2002. Curitiba: Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Comunicação e
política do XVI Encontro da Compôs, 2007
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no Sul de Moçambique”, Lusotopie 1998, p. 397-405.
10. CHANTLER, Paul; HARRIS. Radiojornalismo. São Paulo: Summus, 1998.
11. GERHARDT, Tatiana Angel e SILVEIRA, Denise Tolfo. Métodos de Pesquisa.1ª edição,
Editora UFRGS, Rio Grande do Sul, 2009.
12. CUNHA, I. F., (2012). Os Media e as Eleições Europeias, Legislativas e Autárquicas de
2009. In: Figueiras, R. Os Media e as Eleições Europeias, Legislativas e Autárquicas de
2009. Lisboa: Universidade Católica Editora: 95-132.
13. LAKATOS, Eva Maria. O trabalho temporário: nova forma de relações sociais no trabalho.
São Paulo: Escola de Sociologia e Política de São Paulo, 1979.
14. FERRARETTO, Luiz Artur. Rádio: o veículo, a história e a técnica. Porto Alegre: Ed.
Sagra Luzzatto, 2000.
15. FIGUEIREDO, Marcus; ALDÉ, Alessandra. Intenção de Voto e Propaganda Política:
Efeitos e gramáticas da propaganda eleitoral. Notas para um debate. Trabalho apresentado
no 12º Encontro Anual da Compôs, Recife, 2003.
29

16. GULATI, G., Just, M., & Crigler, A. (2004). Novidades eleitorais da campanha politica.
In: Kaid, L. L. comunicação politica Research. Nova Jersey: Lawrence Erlbaum
Associates, P: 235-255
17. HAUSSEN, Dóris Fagundes. Rádio e política: tempos de Vargas e Perón. Porto Alegre:
edipucrs, 2001.
18. HOPMANN, D. N., Vliegenthart, R., De Vreese, C. & Albæk, E. (2010). Efeitos das
notícias eleitorais: a visibilidade e a influência mediática. Comunicação politica. 27:4: 389-
405.
19. MACHEL, Samora (1977), “Fazer da Informação um destacamento avançado da luta de
classes e da revolução”, Documentos do 1.º Seminário Nacional de Informação, Maputo,
12 a 15 de Setembro de 1977, Ministério da Informação da República Popular de
Moçambique.
20. MARCONI, Marina de Andrade. Garimpos e garimpeiros em Patrocínio Paulista. São
Paulo: Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia, 1978.
21. MOREIRA, Sônia Virgínia. Rádio Palanque. Rio de Janeiro: Mil Palavras, 1998.
22. MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo:
Ed. Cultrix, 2000.
23. NAMBURETE, Eduardo (2003), “A Comunicação Social em Moçambique: da
independência à liberdade”.
24. NUNES, Márcia Vidal. Rádio e política: do microfone ao palanque. São Paulo:
Annablume, 2000.
25. OLIVEIRA, Valdir. Notícia no ar. Recife: Ed. Bagaço, 2001.
26. RUBIM, António Albino Canelas. Comunicação e política. São Paulo, Hacker Editores,
2000.
27. LIMA, Vinício. Comunicação e Política. In. Duarte, Jorge (Org.). Comunicação Pública.
Estado, Mercado, Sociedade e Interesse Público. São Paulo: Atlas, 2007.
28. SERRANO, E., (2005). Padrões Jornalísticos na Cobertura de Eleições. Media &
Jornalismo: 111-122.
29. SCHAWARTZENBERG, Roger-Gérard. O Estado Espetáculo. São Paulo: Difel, 1978.
30. WOLF. M. Comunicação de massa, Firenze. Sociologia da vida quotidiana, Expresso
Strumenti, Milão, 1976.
30

ANEXO

INQUÉRITO POR QUESTIONÁRIO PARA OUVINTES

Introdução

Este inquérito tem como objectivo recolher informação para a realização de um Trabalho de
Finalização de Curso, no domínio das Ciências de Comunicação, concretamente no curso de
Jornalismo a efectuar na Escola Superior de Jornalismo, Unidade Académica de Manica.

A população “alvo” deste inquérito por questionário são os ouvintes da Rádio Moçambique, na
qual decorre a pesquisa e as questões estão directamente relacionadas com o tema em estudo.

Os dados fornecidos serão exclusivamente utilizados para fins de investigação científica.


Agradece-se, desde já, o seu contributo!

Identificação
Nome: ___________________________________________________________________
Idade: 18 à 25____26 à 30_______31 à 35______acima do 36 ______
Sexo: M__________________F_______________
Escutas a Rádio Moçambique desde quando? (Sim) _______________ Não______________
Questionário
I. Que avaliação faz da cobertura jornalística da Rádio Moçambique nas campanhas eleitorais?
a) Positiva b) Negativa c) Razoável
Justifique!_____________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
II. Na sua opinião, existe uma percepção errada por parte da RM ou da Frelimo sobre o que é do
público é o que e do Governo?
Sim __________ Não ___________
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III. Como seria feita a cobertura eleitoral?


a) De forma igualitária para todos candidatos______________________
b) Partido no poder deve ter mais tempo__________________________
c) Outra_____________________________________________________

Qual?
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
IV. Como avalias a actual forma de cobertura eleitoral do espaço de tempo nas campanhas
eleitorais na Radio Moçambique?
a) Imparcial
b) Parcial
V. Se for parcial, quais são as possíveis razões da cobertura eleitoral desigual do espaço de tempo
na Radio Moçambique?
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
VI. Na sua opinião, qual é a importância da cobertura eleitoral igualitária do espaço de antena nas
campanhas eleitorais?
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________

Pelo tempo dispensado, muito agradecido!

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