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RELATÓRIO: ENSAIO DE IMPACTO

Daniel Sottovia Gomide (18104319)


Elias Pagnan (18100444)
Leonardo Rodrigues Sbolci (18100453)

Florianópolis
2021
Laboratório de Propriedades Mecânicas (LPM)

SUMÁRIO:

1. INTRODUÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO INICIAL ...................................................... 3


2. DIMENSÕES E PECULIARIDADES DO CORPO DE PROVA ................................... 5
3. OBTENÇÃO DE PROPRIEDADES ................................................................................. 5
4. INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA NO ENSAIO DE IMPACTO ................................ 6
5. ALTERAÇÃO E DESLOCAMENTO DA CURVA TTDF ............................................... 6
6. CURVA TTDF EM CERÂMICOS E POLÍMEROS......................................................... 7
7. ANÁLISE DO EXPERIMENTO ......................................................................................... 7
8. CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 9
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 10

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1. INTRODUÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO INICIAL

De forma empírica, percebe-se que o comportamento mecânico que


descreve uma ampla classe de materiais quando submetidos à regimes de
carregamento quasi-estáticos 1 apresenta uma considerável distinção quando
comparado com dados obtidos para as propriedades mecânicas de materiais sob
altas taxas de carregamento (ou velocidade de deformação). Dessa forma, os
ensaios de impacto apresentam uma notável importância para o estudo das
propriedades mecânicas dos materiais, tendo em vista que permitem qualificar a
performance de componentes mecânicos que são submetidos à elevadas taxas
de carregamento durante regime de operação.

Figura 1 – Curvas σ x ϵ para a Poliureia XS-350 conforme aplicadas taxas de deformação distintas.

Além disso, a análise dos dados obtidos pelo ensaio permite caracterizar
a energia absorvida pelo material necessária para desencadear o processo de
ruptura do corpo de prova, i.e., a tenacidade do componente com base nas taxas
de carregamento aplicadas e condições de ensaio. Com isso dito, o ensaio de
impacto se destaca pela sua utilidade na determinação da temperatura de
transição dúctil-frágil de metais com estrutura CCC 2 e baixo/médio teor de
carbono, visto que componentes frágeis tendem à sofrer processo de colapso
estrutural à baixas energias de deformação em detrimento de materiais dúcteis
que, de forma contraria, comportam elevados indicadores de energia absorvida
anteriormente à ruptura. Nesse sentido, a avaliação da tenacidade do material

1
Termo que se refere à regimes de aplicação de carga muito lentos, i.e, velocidades de deformação
próximas de zero
2
Arranjo cristalino de corpo cúbico centrado.

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torna-se uma excelente métrica para definir a natureza dúctil-frágil do corpo de


prova conforme varia-se a temperatura do material.

Figura 2 – Esquema do comportamento das curvas TTDF para diferentes ligas de aço

Quanto ao funcionamento do ensaio, um corpo de prova entalhado vêm


fixado e submetido ao impacto a partir do contato com um martelo pendular que
permanece inicialmente suspenso à uma altura inicial h. No instante de
realização do ensaio, as restrições que impedem a movimentação do pêndulo
são retiradas e o mesmo desce devido ao efeito da força gravitacional, entrando
em contato e rompendo o corpo de prova em instantes subsequentes. Com base
na altura h’ alcançada pelo martelo após contato com o material, podemos
estimar a energia de fratura por meio da expressão:
𝑊𝑓 = 𝑚𝑔(ℎ − ℎ′ )

Nesse sentido, podemos diferenciar os ensaios de Charpy e de Izod em


função da região de fixação do corpo de prova, local de contato com o martelo
pendular e ângulo de carregamento, conforme ilustrado na figura 3.

75º em relação à direção


normal da superfície

Figura 3 – Da esquerda para a direita, esquema do ensaio de impacto, posicionamento do corpo


de prova no ensaio de Izod e posicionamento do corpo de prova no ensaio Charpy.

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2. DIMENSÕES E PECULIARIDADES DO CORPO DE PROVA

Em linhas gerais, podemos classificar os corpos de prova utilizados nos


ensaios de impacto conforme o perfil do entalhe, localidade do entalhe,
profundidade do entalhe e dimensões da peça. Dessa forma, para o ensaio
Charpy são normatizados três corpos de prova com base nas características
descritas anteriormente: Tipo A, Tipo B e Tipo C. Além disso, apresentamos
corpos de prova de configuração dada pelo Tipo D para ministrar ensaio de Izod
e corpos de prova específicos para realizar ensaios em ferros fundidos sob
pressão. As dimensões, perfil de entalhe, profundidade do entalhe e localidade
do entalhe são dados na tabela abaixo para os diferentes corpos de prova:

Dimensões do Local de Profundidade


C.P. Perfil de entalhe
C.P. entalhe do entalhe
27,5mm a
partir da
TIPO A 10x10x55 (mm)
extremidade da
2mm
peça.
27,5mm a
partir da
TIPO B 10x10x55 (mm)
extremidade da
5mm
peça.
27,5mm a
partir da
TIPO C 10x10x55 (mm)
extremidade da
5mm
peça.
28mm a partir
TIPO D 10x10x75 (mm) da extremidade 2mm
da peça.
152mmx6,25mm
Ferros (base menor)
Não
fundidos x6,45mm (base Não entalhado
entalhado
Não entalhado
sob pressão maior) x6,35mm
(altura)

Tabela 1 – Dimensões, perfil de entalhe, profundidade do entalhe e localidade do entalhe para


C.P. do Tipo A, Tipo B, Tipo C, Tipo D e ferros fundidos sob pressão (caso especial).

3. OBTENÇÃO DE PROPRIEDADES

De forma adversa à outros ensaios mecânicos, as propriedades


mecânicas obtidas a partir do ensaio de impacto de Charpy e Izod apresentam
uma caráter fundamentalmente qualitativo, sendo, portanto, de utilidade para o
projetista a fim de comparar componentes de estrutura semelhante ou entender
o comportamento do material sobre diferentes condições de operação. Com isso,
o ensaio de impacto é interessante para a obtenção de características do
material quanto à tenacidade e temperatura de transição dúctil-frágil.

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4. INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA NO ENSAIO DE IMPACTO

Como mencionado anteriormente (ver seção 1), a temperatura de ensaio


apresenta influência significativa nos dados obtidos para a tenacidade de metais
de estrutura CCC com baixo/médio teor de carbono devido ao fenômeno de
transição dúctil-frágil. Dessa forma, percebemos que alguns materiais da classe
descrita tendem à denotar comportamento frágil quando solicitados abaixo de
um dado intervalo de temperatura, apesar de serem caracterizados como de
natureza dúctil em condições ambientais. Assim, sabendo-se que,
comparativamente, materiais frágeis tendem à absorver menor energia
anteriormente ao processo de ruptura em relação à componentes dúcteis, os
dados obtidos para trabalho de fratura (tenacidade do material) em ensaios de
impacto tornam-se uma boa métrica para avaliar o intervalo de temperaturas
para o qual o corpo de prova se encontra no limiar dúctil-frágil (Curva TTDF).

5. ALTERAÇÃO E DESLOCAMENTO DA CURVA TTDF

Sabe-se que o comportamento da curva TTDF em ensaios de impacto é


complexo e, da mesma forma, é dependente do critério de avaliação,
características geométricas da peça, sentido dos esforços aplicados ao corpo de
prova e da composição química do material. Nesse sentido, uma das práticas
mais utilizadas na indústria para garantir que a temperatura de transição dúctil-
frágil se enquadre dentro dos intervalos de segurança estabelecidos para o
componente é alterar a composição química do material com o intuito de
modificar o teor de fragilidade do componente mecânico e, com isso, deslocar a
curva TTDF para menores ou maiores temperaturas de transição (deslocamento
horizontal da curva TTDF).

Figura 4 – Da esquerda para a direita, deslocamento da curva TTDF para maiores


temperaturas com aumento do teor de carbono e deslocamento da curva TTDF para menores
temperaturas com o aumento do teor de manganês.

Sendo assim, sabemos que para aços existe uma correlação entre o
acréscimo no teor de carbono presente no material e a elevação no teor de
fragilidade do mesmo e, consequentemente, a adição de carbono na liga viabiliza

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o aumento na temperatura de transição dúctil-frágil. Por outro lado, podemos


diminuir o teor de fragilidade dos aços e, portanto, deslocar a curva TTDF para
menores temperaturas, aumentando o teor de manganês da na composição da
liga, conforme mostra a Figura 4.

6. CURVA TTDF EM CERÂMICOS E POLÍMEROS

Com base em dados experimentais, sabe-se que materiais metálicos e


polímeros apresentam, em aspectos gerais, temperatura de transição dúctil-frágil
com um intervalo de transição bem definido. Por outro lado, os materiais
cerâmicos não são caracterizados por uma transição clara, geralmente
denotando comportamento frágil em qualquer intervalo de temperaturas tomado.

7. ANÁLISE DO EXPERIMENTO

A partir do experimento proposto, 14 corpos de prova foram submetidos à


ensaio de impacto sobre as mesmas condições de taxa de deformação,
geometria de corpo de prova, composição química de material e direção na
aplicação do carregamento. Os ensaios foram ministrados com diminuições
graduais de temperatura na faixa de 100ºC à -175ºC e a energia de impacto (J)
foi monitorada por meio dos equipamentos de ensaio para cada corpo de prova.
Com base nos pontos experimentais obtidos, podemos estimar a curva TTDF
conforme apresentado abaixo.

CURVA TTDF - ENSAIO DE IMPACTO


100,00
90,00
80,00
Energia de Impacto (J)

70,00
60,00
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
100 75 50 25 0 -25 -50 -65 -75 -85 -100 -125 -150 -175
Temperatura de ensaio (ºC)

Figura 5 – Pontos experimentais obtidos para determinar a curva TTDF.

Podemos determinar a TTDF com base nas 5 metodologias apresentadas:

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• Segundo a temperatura na qual a energia absorvida pelo material


corresponde à 50J, a temperatura de transição dúctil-frágil é
aproximadamente -81ºC;

• Segundo a temperatura na qual a energia absorvida corresponde à


metade da máxima energia absorvida, a temperatura de transição dúctil-
frágil é aproximadamente -87ºC;

• Segundo temperatura de transição dúctil (TTD), isto é, quando a curva


passa à apresentar um comportamento mais acentuado na direção de
fragilização, temos uma estimativa de temperatura na ordem de 50ºC;

• Segundo temperatura de transição frágil (TTF), isto é, quando a curva


passa à apresentar um comportamento mais acentuado na direção de
comportamento dúctil, temos uma estimativa de temperatura na ordem de
-150 ºC. Especialmente nessa estimativa, é esperado um elevado valor
de incerteza, visto que não visualizamos um nivelamento do gráfico na
parcela frágil da curva TTDF;

• Não é possível determinar a temperatura de transição dúctil-frágil com


base em outros critérios (sup. 50% fibrosa), visto que uma análise visual
(ou cristalográfica) da superfície de fratura se faz necessária para avaliar
o índice de fibrosidade da região.

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8. CONCLUSÃO

Com base no exposto, tornou-se possível melhor compreender o


funcionamento e necessidade de implementação dos ensaios de impacto, seja
pela pertinência das aplicações encontradas em campo para caracterização dos
materiais, seja pelas especificidades e parâmetros chave necessários para uma
correta interpretação, pós-processamento e validação dos resultados dos
materiais sobre elevadas taxas de carregamento.
Com isso dito, buscamos por meio do presente relatório fomentar o estudo
mais aprofundado das problemáticas que envolvem os ensaios de impacto,
principalmente no que tange às temáticas das dimensões e peculiaridades do
corpo de prova, obtenção de propriedades, influência da temperatura no ensaio
de impacto, alteração e deslocamento da curva TTDF, curva TTDF para
polímeros e cerâmicos e caracterização prática da curva TTDF e temperatura de
transição dúctil-frágil com base nas cinco (5) metodologias mais recorrentes.

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9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6027: informação


e documentação – sumário – apresentação. Rio de Janeiro, 2003a.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6027: informação
e documentação – trabalhos acadêmicos – apresentação. Rio de Janeiro,
2003a.
CALLISTER JR, William D, RETHWISCH, David G. Ciência e engenharia de
materiais – Uma introdução. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016.
HENRIQUES. B. Notas de aula da disciplina de Laboratório de Propriedades
Mecânicas (EMC5110). Florianópolis, 2021.

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