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TJRN

PJe - Processo Judicial Eletrônico

13/07/2023

Número: 0816992-08.2020.8.20.5001
Classe: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL
Órgão julgador: 14ª Vara Cível da Comarca de Natal
Última distribuição : 18/05/2020
Valor da causa: R$ 41.656,95
Assuntos: Compromisso, Rescisão do contrato e devolução do dinheiro, Estabelecimentos de
Ensino
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
F. T. G. D. M. (AUTOR) FLADIMYR CUNHA GOMES DE MELO (ADVOGADO)
LARISSA TAVARES DE MEDEIROS MELO (AUTOR) FLADIMYR CUNHA GOMES DE MELO (ADVOGADO)
D. A. F. (AUTOR) FLADIMYR CUNHA GOMES DE MELO (ADVOGADO)
FRANCISCO ERLON DE ALMEIDA FERNANDES (AUTOR) FLADIMYR CUNHA GOMES DE MELO (ADVOGADO)
B. H. O. G. (AUTOR) FLADIMYR CUNHA GOMES DE MELO (ADVOGADO)
MAXIMILIANO HUGUENIN SILVEIRA GOMES (AUTOR) FLADIMYR CUNHA GOMES DE MELO (ADVOGADO)
J. R. Q. (AUTOR) FLADIMYR CUNHA GOMES DE MELO (ADVOGADO)
CARLOS ALBERTO MELO QUEIROZ (AUTOR) FLADIMYR CUNHA GOMES DE MELO (ADVOGADO)
CENTRO DE EDUCAÇÃO DO RN EIRELI -ME (REU) CARLOS FERNANDO DE SIQUEIRA CASTRO (ADVOGADO)
MPRN - 31ª Promotoria Natal (CUSTOS LEGIS)
Documentos
Id. Data Documento Tipo
103177313 11/07/2023 Sentença Sentença
13:25
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

14ª Vara Cível da Comarca de Natal

Rua Doutor Lauro Pinto, 315, Candelária, NATAL - RN - CEP: 59064-250

Processo: 0816992-08.2020.8.20.5001

Ação: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7)

AUTOR: F. T. G. D. M., LARISSA TAVARES DE MEDEIROS MELO, D. A. F., FRANCISCO ERLON DE ALMEIDA
FERNANDES, B. H. O. G., MAXIMILIANO HUGUENIN SILVEIRA GOMES, J. R. Q., CARLOS ALBERTO MELO
QUEIROZ

REU: CENTRO DE EDUCAÇÃO DO RN EIRELI -ME

SENTENÇA

I. RELATÓRIO

Tratam os autos de ação de obrigação de fazer c/c pedido de tutela antecipada formulado por F.T.G.D.M., D.A.F.,
B.H.O.G. e J.R.Q., representados por seus respectivos genitores, em desfavor de CENTRO DE EDUCAÇÃO DO RN EIRELI –
ME, qualificados.

Em Id. 55930199, a parte autora informou que o Réu suspendeu as aulas presenciais, em cumprimento às medidas de
enfrentamento a pandemia do COVID-19, tendo como último dia de aula presencial o dia 17/03/2020, mediante comunicado
encaminhado aos pais dos alunos.

Citou que, entre os dias 18/03/2020 a 27/03/2020, o conteúdo proposto pela escola foi dado através de um Plano de
Estudo com atividades programadas para cada dia, e em 01/04/2020 foi estabelecido pela instituição de ensino o início das aulas
no formato on-line, através da plataforma do GOOGLE MEET, um sistema de videoconferência e chamada de voz.

Mencionou que o Réu antecipou o período de férias do meio do ano, dos dias 15/04/2020 a 11/05/2020 (data provável
do retorno), conforme comunicado da própria escola e que no dia 06/05/2020, o Requerido surpreendeu a todos os Autores com a
informação de que estaria encerrando a turma do Ensino Infantil Nível V matutino, turno esse, nominado pela instituição como
BRAVO, cujo comunicado, além de causar reações contrárias, afrontou ao que foi pactuado no Contrato de Prestação de Serviços
Educacionais, mesmo este sendo do tipo de adesão, saliente-se que não é uma medida de enfrentamento para este período
pandêmico, tal encerramento será definitivo.
Argumentou que a citada decisão tomada pela instituição, no fechamento da turma Nível V – Matutino/BRAVO, de forma
unilateral e sem prévia consulta ou concordância dos pais, trouxe como principal consequência, a migração de todos os alunos
para o turno Vespertino/QUEBEC, impactando diretamente na rotina das crianças e no planejamento dos pais.

Ao final, requereu a concessão do pedido liminar para fins de que seja determinado ao Réu a manutenção da Turma
Nível V – Bravo no turno matutino, sob pena de multa por dia de descumprimento.

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Pleiteou, subsidiariamente, caso o Réu insista na decisão de encerrar a turma do turno matutino e transferir as crianças
para o turno vespertino que arque com todos os custos gerados por sua decisão, como devolução de matrícula, valores pagos por
material didático e mensalidade dos períodos em que os alunos não tiveram aula, bem como a devolução dos materiais coletivos,
para possibilitar o ingresso em nova instituição, sem o impacto dos custos iniciais já investidos. Suplicou pelos benefícios da
gratuidade judiciária.

Concedidos os benefícios da gratuidade judiciária (Id. 55974737).

Citada, a ré contestou em Id. 57566950. Não suscitou preliminares. No concernente ao mérito, defendeu que houve a
incidência da teoria da imprevisão, a justificar a conduta da requerida, o que desencandeou onerosidade excessiva por sua
contraprestação.

A parte autora apresentou réplica em Id. 58771128.

Tutela antecipada indeferida em primeiro grau (Id. 58967027).

Antecipação de tutela recursal concedida, conforme Agravo de Instrumento provido (Id. 75902729).

Audiência de instrução (Ata de Id. 83273756), realizada sem a presença dos autores.

Nova audiência de instrução realizada (Ata de Id. 84455647), dessa vez, com a presença de todos.

Parecer Ministerial de Id. 98741047, pela procedência da pretensão.

Documentos juntados por parte a parte. Formalidades observadas no feito. Era o que importava relatar. Passo a decidir.

II. FUNDAMENTAÇÃO

Ausente matéria processual ou preliminares a apreciar, DECLARO o feito saneado e passo ao julgamento.

- Da natureza da relação estabelecida

DECLARO, ainda, em primeiras linhas, a natureza da relação entabulada como de consumo, visto que autores e ré se
encaixam nos conceitos delimitados de destinatários finais e fornecedora dos serviços, respectivamente.

Quanto ao cerne da pretensão, passo a analisá-lo.

-Do mérito em si

Assiste razão à parte autora, diante da prova documental, especialmente os contratos de prestação de serviços (Id.
55930223, Id. 55930227, Id. 55930830 e Id. 55930832) corroborada pelos depoimentos colhidos em instrução.

Nada obstante a ré tenha apresentado contestação, afirmando que a manutenção do turno matutino geraria onerosidade
excessiva por seu lado, não provou porque teria que necessariamente extinguir o turno matutino de aulas, modalidade sob a qual se
matricularam os autores e teriam de agora serem obrigados a estudar no turno vespertino.

Conquanto se admitam temperamentos, diante do momento de pandemia que se instaurou no país e que, de fato, seja
um evento extraordinário e imprevisível, é certo que a escola, ao efetuar a mudança, extirpando o turno matutino, unilateralmente,
gerou embaraços na organização e planejamento que os pais haviam realizado para que seus filhos estudassem naquele horário
específico da manhã.É dizer, muito embora autonomia administrativa de que desfruta o colégio réu, não ficou demonstrada a
razoabilidade em extinguir um turno de ensino, sob o qual estavam matriculados os autores, menores impúberes, e
necessariamente obrigá-los a migrarem para o turno vespertino ou modalidade online, ainda que sob a oferta de desconto nas
mensalidades. A despeito das dificuldades trazidas pela pandemia, compreensíveis, é certo que o fiel da balança, nesse caso, pende
para os requerentes, visto que haviam organizado toda uma logística prévia para se matricularem no turno matutino e não
vespertino.

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Saliento, ainda, que o julgador não está obrigado a analisar, um a um, os fundamentos das partes, podendo julgar,
fundamentadamente, quando encontrar motivo suficiente para fundamentar sua decisão, à luz da remansosa jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça. São alguns os precedentes: AgRg no AREsp 342924/RJ. STJ. Quarta Turma, Rel. Min. Raul Araujo,
j. em 07/10/2014; AgRg no Ag 1422891/RJ. STJ. Segunda Turma, Rel. Min. Humberto Martins, j. em 04/10/2011; REsp
146338/MG. STJ. Segunda Turma, Rel. Min. Castro Meira, j. em 13/12/2005.

III. DISPOSITIVO

Diante o exposto, após apreciar o seu mérito, na forma do art. 487, inc. I do Código de Processo Civil, JULGO
PROCEDENTE a pretensão formulada por F.T.G.D.M., D.A.F., B.H.O.G. e J.R.Q., representados por seus respectivos genitores,
em desfavor de CENTRO DE EDUCAÇÃO DO RN EIRELI – ME, em razão do que:

(i) CONDENO a ré na obrigação de fazer para manter a Turma Nível V – Bravo no turno MATUTINO, sob pena da
mesma multa cominatória fixada em antecipação de tutela recursal;

(ii) CONDENO a ré a suportar as custas e com os honorários advocatícios de sucumbência. Fixo o percentual de 10%
(dez por cento) sobre o valor atualizado da causa, sopesados os critérios do art. 85, §2°, do Código de Processo Civil.

Para os honorários advocatícios de sucumbência: CORREÇÃO MONETÁRIA sob o INPC a partir da sentença e
JUROS DE MORA de 1% (um por cento) ao mês a partir do trânsito em julgado (art. 85, §16, do Código de Processo Civil).

Com o trânsito em julgado, ARQUIVE-SE, observadas as cautelas de praxe, sem prejuízo de posterior desarquivamento
para cumprimento de sentença.

P.R.I. DÊ-SE CIÊNCIA DA SENTENÇA AO MINISTÉRIO PÚBLICO.

NATAL /RN, 11 de julho de 2023.

THEREZA CRISTINA COSTA ROCHA GOMES

Juiz(a) de Direito

(documento assinado digitalmente na forma da Lei n°11.419/06)

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