Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MENSAGENS
PORTUGUÊS 12.º ANO
MENSAGENS
EM EXAME
Sistematização dos conteúdos
da Educação Literária
de 10.o, 11.o e 12.o anos
MENSAGENS EM EXAME
PREPARAÇÃO PARA O EXAME
ÍNDICE
POESIA TROVADORESCA
AS CANTIGAS DE AMIGO:
origem, sentimentos e confidentes
CANTIGAS DE AMIGO
Autor Trovador
• As cantigas de amigo são composições poéticas nas quais o sujeito poético é uma
donzela apaixonada, saudosa, inocente e, muitas vezes, ingénua, que, dirigindo-se à
mãe, às amigas ou à natureza como confidentes, exprime os seus sentimentos face
à ausência do seu amado.
Tema
• São designadas de amigo, pois, em geral, a palavra amigo aparece com o significado
de pretendente ou namorado.
• O trovador imaginava os sentimentos de jovens donzelas apaixonadas e escrevia
como se fosse uma mulher enamorada pelo seu amigo.
Simples e repetitiva; predomínio de alguns recursos expressivos como a apóstrofe,
Linguagem
a anáfora, a personificação e a metáfora
Coplas ou estrofes breves, com refrão e paralelismo (perfeito, imperfeito, anafórico
Estrutura
e semântico)
AS CANTIGAS DE AMOR:
a coita de amor e o elogio cortês
CANTIGAS DE AMOR
Autor Trovador
Sujeito poético Trovador
Objeto A «senhor»
Sentimentos Amor (coita de amor), saudade, nostalgia
Ambiente Palaciano
Origem Provençal
• As cantigas de amor são composições poéticas em que o trovador apaixonado presta
vassalagem amorosa à mulher como ser superior, a quem chama a sua «senhor».
• Nas cantigas de amor, é no ambiente aristocrático que podemos entrever a aspiração
Tema do trovador a uma mulher inatingível, a «senhor», que, por vezes, era casada ou de
condição social superior. Por isso, o trovador imaginava a dama como um suserano e
coloca-se numa posição submissa de vassalagem, evidenciando a coita (sofrimento)
e prometendo-lhe amor.
Simples e repetitiva; predomínio de alguns recursos expressivos como a apóstrofe,
Linguagem
a anáfora, a personificação e a metáfora
Coplas ou estrofes breves, com refrão e paralelismo (perfeito, imperfeito, anafórico
Estrutura
e semântico)
• A palavra crónica tinha um significado diferente daquele que lhe atribuímos atual-
Crónica mente, pois era uma narrativa historiográfica, baseada em documentos escritos e
testemunhos orais, que respeitava a ordenação cronológica dos factos.
• Fernão Lopes nasceu entre 1380 e 1390, existindo escassos registos da sua biogra-
fia. Sabe-se, no entanto, que aprendeu a arte de escrever e algumas línguas, dedicou-
se à profissão de tabelião (escrivão público) e foi guarda-mor da Torre do Tombo, lugar
onde se encontravam os documentos oficiais do Reino.
Contextualização
• Em 1434, D. Duarte confiou-lhe a importante missão de escrever a história dos reis
histórico-literária
de Portugal, criando, deste modo, o cargo de cronista-mor do Reino.
• A obra de Fernão Lopes situa-se, pois, na Época Medieval, período dos cronistas, e
constitui-se como um precioso documento literário e histórico, uma vez que o cronista
faz um relato de factos históricos, numa prosa verdadeiramente inovadora e artística.
• Gil Vicente viveu já na época da tipografia, pelo que o primeiro documento impresso
da atividade literária do dramaturgo data de 1516, figurando a sua obra pela primeira
vez numa publicação póstuma, organizada por Luís Vicente, filho do autor, e intitu-
lada de Copilaçam de todalas obras.
A Farsa de Inês Pereira, apresentada em 1523 ao rei D. João III, parte do argu-
mento «mais quero asno que me leve que cavalo que me derrube», porque existiam
pessoas que duvidavam que Gil Vicente fosse o autor das suas obras.
A peça inicia com um monólogo da protagonista, Inês Pereira, que reclama das
tarefas domésticas que tem de realizar, sendo interrompida pela Mãe, que chega
da missa e não se surpreende com o facto de Inês não estar a bordar. Perspicaz e
experiente, a Mãe adverte a filha para o facto de ser difícil que a jovem case com
fama de preguiçosa e aconselha-a a não ter pressa de se casar, mas não a con-
vence. Este diálogo é interrompido com a chegada de Lianor Vaz, uma alcoviteira
que é portadora de uma carta de Pero Marques, um homem rústico que pretende
casar com Inês. As palavras da carta de Pero Marques são ridicularizadas por Inês,
embora esta aceite a sua visita.
Resumo Pero Marques vai a casa de Inês e todas as suas palavras e atitudes revelam inge-
da Farsa nuidade e simplicidade, sendo, por isso, recusado por Inês, que quer um homem
de Inês Pereira que saiba tocar viola e que saiba bem falar.
INÊS PEREIRA
(rapariga ambiciosa e sonhadora; pequena burguesia)
Inês é ociosa, despreza a vida rústica do campo. O seu quotidiano é entediante: cos-
tura, borda e fia. É alegre, quer sair e divertir-se, mas é contrariada pela mãe.
É ambiciosa, idealista, quer casar-se com um homem que, ainda que pobre, seja «avi-
Solteira sado» (discreto), meigo e saiba cantar e tocar viola, para fugir à vida que tem, viver
alegremente e ascender socialmente.
A carta que recebe de Pero Marques não lhe agrada, considerando-o disparatado e
simplório. Troça de Pero Marques, quando este a visita, e rejeita-o.
Inês casa com Brás da Mata, o Escudeiro, sem saber que ele é pobre e interesseiro.
Fica a viver em casa da mãe, que se retira para viver num casebre. É infeliz, pois o
marido é tirano, não a deixa cantar e prende-a em casa. Fica sozinha quando o seu
marido vai para Marrocos lutar contra os Mouros, sendo vigiada pelo Moço, durante
a ausência do marido. Reconhece que errou ao rejeitar Pero Marques e, ao casar-se
Casada e viúva com o Escudeiro, deseja a sua morte, jurando que se casará uma segunda vez com
um marido que seja submisso, para gozar a vida e vingar-se das provações sofridas
enquanto casada com o Escudeiro.
Não se comove com a morte do marido, pelo contrário, sente-se livre. É hipócrita ao
chorar pelo marido morto e ao dizer que está triste. Reconhece que a experiência de
vida ensina mais do que os mestres.
Materialista, pragmática e calculista, decide casar-se com Pero Marques. Canta e,
livre, sai de casa com o consentimento do marido. Inicialmente, não reconhece o
Casada em Ermitão como um apaixonado do seu passado, mas tenciona cometer adultério com
segundas núpcias ele.
Abusa da ingenuidade do segundo marido e pede-lhe para a acompanhar à ermida,
para ter um encontro amoroso com o ermitão.
Pero Marques Apresenta-se como um homem de bem, honesto e de boas intenções. É um homem
(lavrador rústico, desconhecedor das regras de convivência social, ignorante e ingénuo. Cai
abastado – povo) no ridículo pela maneira como se veste e pela maneira de falar e de agir. Sofre com
a rejeição e promete não se casar até que Inês o aceite.
Após a morte do Escudeiro, casa-se com Inês Pereira. Concede liberdade total a
Inês e é traído por ela. Representa o papel de «asno» que leva literalmente a mulher
às costas para «visitar» o Ermitão.
Conhecida da mãe de Inês, quer que Inês case com Pero Marques. Aparentemente
Lianor Vaz honesta e desinteressada pelo dinheiro que poderá ganhar com o seu casamento. Sen-
(alcoviteira sata e boa conselheira, avisa Inês de que ela não deverá esperar o marido, mas aceitar
casamenteira – o pretendente que lhe aparecer. Amiga, mostra-se preocupada com o futuro de Inês.
povo)
Depois da morte do Escudeiro, persuade Inês a casar-se com Pero Marques
É religiosa. É autoritária, não permite que Inês saia de casa e obriga-a a trabalhar.
Defende o casamento de Inês com Pero Marques. Conselheira e preocupada com
Mãe o futuro da filha. Não aprova a relação da filha com o Escudeiro, fruto do idealismo
(mulher simples – e da leviandade de Inês.
pequena burguesia)
Resignada, acaba por aceitar a opção de Inês se casar com Brás da Mata, aben-
çoando-os e dando-lhes a sua casa.
Têm a missão de encontrar o marido ideal para Inês. Sem escrúpulos e oportunis-
tas, visam apenas uma recompensa material. Exageram as qualidades do Escudeiro
Os Judeus: e de Inês para atingirem o seu objetivo. São desonestos, falsos, materialistas e
Latão e Vidal astutos.
(alcoviteiros
casamenteiros) Operam como uma única personagem, visível no seu discurso, que confere comici-
dade à obra: «Tu e eu não somos eu?»
Contribui para a sátira presente na obra pela denúncia do verdadeiro caráter do seu
amo: a pelintrice, as manias de grandeza, as privações e o sonho de atingir uma
Moço: Fernando situação económica confortável através do casamento com Inês.
(criado do Queixa-se da pobreza e da fome a que o Escudeiro o sujeita. É responsável por vigiar
escudeiro – povo) Inês, quando o seu amo parte para Marrocos, trancando-a em casa e deixando-a sozi-
nha, enquanto ele se vai «desenfadar» com as moças. Fica triste ao receber a notícia
da morte do seu amo em Arzila. É dispensado por Inês, depois da morte do Escudeiro.
• Gil Vicente apresenta a sociedade do seu tempo, criticando os vícios e os defeitos dos seus
Dimensão contemporâneos, nomeadamente a hipocrisia e a oposição entre o ser e o parecer.
satírica • Os tipos vicentinos da Farsa de Inês Pereira representam alguns aspetos negativos dessa
época.
A Farsa de Inês Pereira reflete aspetos da vida quotidiana da sociedade de transição entre
a Idade Média e o Renascimento:
• a prática religiosa (ida à missa);
• o hábito de recorrer a casamenteiros (Lianor Vaz e os Judeus);
• a falta de liberdade da rapariga solteira, confinada à casa da mãe e a viver sobre o
jugo desta;
• a ocupação da mulher solteira em tarefas domésticas (bordar, coser);
Representação do • o casamento como meio de sobrevivência e de fuga à submissão da mãe;
quotidiano • a tradição da cerimónia do casamento, seguida de banquete;
• a submissão ao marido da mulher casada e o seu «aprisionamento» em casa;
• a inércia da nova burguesia que nada fazia para adquirir mais cultura;
• a decadência da nobreza que procurava enriquecer através do casamento e buscava
o prestígio perdido na luta contra os mouros;
• a devassidão do clero;
• a corrupção moral das mulheres que se deixavam seduzir por elementos do clero;
• o adultério.
FORMAS POÉTICAS
Medida velha Poema composto por um mote de quatro ou cinco versos e glosas de oito,
(corrente Cantiga nove ou dez versos, com a repetição total ou parcial do último verso do
tradicional) mote no final de cada volta.
Esparsa Composição de uma única estrofe, que varia entre oito e dezasseis versos.
10
LÍRICA CAMONIANA
11
OS LUSÍADAS
• Camões pretende que o seu povo se torne divino pela fortaleza de ânimo e pela prá-
tica de nobres virtudes, de modo a que substituam a fama dos heróis da Antiguidade.
12
OS LUSÍADAS (cont.)
• Na Invocação, o poeta pede às Tágides que lhe concedam um novo estilo grandioso,
diferente do verso humilde, tantas vezes celebrado por ele nos textos líricos. Impõe-
se uma inspiração adequada ao género épico e, por isso, sublime e grandiosa.
Sublimidade
do canto • O poeta tem consciência de que a elaboração da sua epopeia pressupõe um novo
engenho ardente, um som alto e sublimado, um estilo grandíloco, ingredientes que
possibilitarão a glorificação dos portugueses e a emoção do leitor («Que o peito
acende e a cor ao gesto muda»).
• Herói: indivíduo notabilizado pelos seus feitos guerreiros, a sua coragem, tenaci-
dade, abnegação, altruísmo…
• Os portugueses são enaltecidos desde o início de Os Lusíadas, considerando o poeta
que suplantaram os feitos dos heróis da Antiguidade Clássica.
Mitificação • A divinização ou imortalização dos lusos na «Ilha dos Amores» é alcançada especial-
do herói mente através da união física dos nautas com as ninfas, que são divinas.
• Simbolicamente, a entrega das ninfas aos navegadores representa o nascimento de
uma geração que sabe amar bem, promovendo a harmonia no universo.
• Os deuses descem à condição de humanos e os navegadores elevam-se à condição
de deuses, prémio merecido pela sua coragem e ousadia.
• No Canto V, o poeta incide na defesa da conciliação das armas e das letras, aspeto
que se relaciona com a importância que os humanistas atribuíam à formação integral
Reflexões do poeta do indivíduo, num momento em que a aristocracia, empenhada nas trocas comer-
ciais, descurava o apoio às artes e às letras.
• No Canto VII, o poeta retoma a importância da conciliação das artes e das letras,
numa perspetiva autobiográfica («Nua mão sempre a espada e noutra a pena»), e
manifesta cólera e indignação perante a ingratidão daqueles que ele cantava.
• No Canto VIII, Camões reflete sobre o poder do dinheiro, o vil metal que leva a mor-
tes, traições, corrupção, tirania e inimizades.
13
14
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO-LITERÁRIA
BARROCO
(Fim do séc. XVI – início do séc.XVIII)
Período literário caracterizado pela complexidade, contraste, dilema e exuberância.
Conceptismo Cultismo
Vive do jogo de ideias, conceitos. Atitude intelectual Vive do jogo de palavras, da exploração fónica e
e lógica – conteúdo do discurso. rítmica. Manejo plástico das palavras – forma do
discurso.
SERMÃO
(discurso sagrado, pregação com um fim moral)
• exórdio
> capítulo I – exposição do tema
• exposição/confirmação
Estrutura do > capítulo II – louvores em geral
Sermão de Santo > capítulo III – louvores em particular
António aos Peixes > capítulo IV – repreensões em geral
> capítulo V – repreensões em particular
• peroração
> capítulo VI – conclusão – julgamento
OBJETIVOS DA ELOQUÊNCIA
15
LINGUAGEM E ESTILO
16
• Invasões Francesas.
17
Quanto à estrutura externa, Frei Luís de Sousa organiza-se em três atos, sendo o primeiro e o terceiro com-
postos por doze cenas e o segundo por quinze cenas. Podemos dividir a estrutura interna em Exposição,
Conflito e Desenlace. Salientamos alguns tópicos a considerar:
• Decorre no palácio de Manuel • Decorre no palácio de D. João • Decorre na parte baixa do palá-
de Sousa Coutinho, em Almada. de Portugal, em Almada. cio de D. João de Portugal e na
capela da Senhora da Piedade,
• D. Madalena encontra-se a ler • Destacam-se grandes e pesa-
que com ela comunica.
o episódio de Inês de Castro dos retratos de D. Sebastião,
(Os Lusíadas) na 1.ª cena. de Camões e de D. João de • O ato segundo é separado do
Portugal. terceiro por apenas algumas
• A ação situa-se no final do séc.
horas.
XVI e início do XVII. • Entre o ato primeiro e o ato
segundo decorre uma semana. • Referência aos factos ocorridos
• Evocação da batalha de Alcácer
após a identificação de D. João
Quibir (4 de agosto de 1578). • Referência aos factos ocorridos
de Portugal.
após o incêndio.
• Alusão ao domínio filipino, ini-
• Decisão da tomada de hábito por
ciado em 1580. • Pânico de D. Madalena ao depa-
Manuel de Sousa e D. Madalena.
rar com o retrato do primeiro
• Decisão da mudança de palácio
marido, em contraste com o • Morte de Maria.
e tomada de consciência das
outro retrato queimado.
consequências. • A ação termina na madrugada
• Ausência de Manuel de Sousa de 5 de agosto.
• Incêndio do palácio e terror de
Coutinho naquela sexta-feira de
D. Madalena ao ver o retrato
aniversário (do primeiro casa-
do marido consumido pelas
mento e da paixão pelo segundo
chamas.
marido).
• Anúncio da chegada de um
Romeiro.
18
19
Frei Luís de Sousa, sendo um texto dramático escrito em prosa, apresenta marcas fun-
damentais do diálogo, com estruturas frásicas e discursivas características da oralidade
e da coloquialidade.
• Coexistência dos registos informal e formal.
• Vocabulário corrente e acessível.
• Vocábulos e construções em desuso no séc. XIX, conferindo o tom epocal do séc. XVI.
• Nomes e adjetivos próprios da expressão de sentimentos e de emoções.
• Interjeições e locuções interjetivas, a exprimir a ansiedade e a angústia das personagens.
Linguagem e estilo • Frases inacabadas, a traduzir as hesitações e/ou a intensidade das emoções das
personagens.
• Diálogos vivos: falas curtas, palavras soltas, sequências de monossílabos, interrupções.
• Diálogos entrecortados de subentendidos.
• Monólogos pouco extensos.
• Pontuação expressiva: a frequência do uso de reticências e de pontos de exclamação,
a sugerir a tensão emocional e dramática.
• Pausas, que se manifestam nas frases inacabadas, a traduzir a dor, os constrangimen-
tos e as hesitações das personagens.
20
SUGESTÃO BIOGRÁFICA
NARRADOR SIMÃO
O herói romântico é, em geral, um ser dotado de idealismos, de honra e de coragem. Cedendo aos apelos
do coração ou da justiça, põe frequentemente a própria vida em risco. A sua ação revela a natureza de um
sujeito em permanente tensão consigo mesmo e com a sociedade, de acordo com os valores paradoxais do
Romantismo.
• Destaque na luta pela liberdade do ser humano: ideais jacobinos assumidos publicamente.
• Comportamentos de rebeldia na busca desses ideais.
• Busca do absoluto no âmbito amoroso.
• Defesa incondicional da honra.
• Força anímica na superação de barreiras e interdições (revolta contra o poder patriarcal; eliminação do rival).
• Egocentrismo: o seu idealismo leva-o ao isolamento, à ação individual.
• Recusa das soluções apresentadas pela sociedade por significarem a assunção da derrota (automarginalização).
• Destruição física e moral que conduz à destruição de outros: Teresa e Mariana.
21
A nobreza de sangue • Lisboa: a capital moderna, marcada pelas hierarquias sociais; a vida na corte.
e a alteração simbólica
• Província: espaço rural atrasado, no qual persistem os valores tradicionais; deca-
da aristocracia:
Lisboa vs Província dência da nobreza provinciana comparada com a plebe lisboeta.
«Amou, perdeu-se e morreu amando» – o amor paixão no sentido romântico da expressão só pode ter como
fim «a perdição».
Mariana ama Simão, perde-se por amor (abdicação da família e da felicidade) e mata-se por
Mariana
amor a Simão.
Simão Simão ama Teresa, perde-se por amor (assassínio, prisão, degredo) e morre a amar Teresa.
Teresa Teresa ama Simão, perde-se por amor (clausura por não abdicar do amor) e morre por amor.
22
OUTRAS PERSONAGENS
Domingos Botelho, • Representam o antagonismo motivado por um preconceito de honra social.
D. Rita Preciosa
• São pais tiranos e insensíveis e posicionam-se como defensores do sobrenome, da
e Tadeu de
posição social familiar (facto ironicamente ridicularizado pelo narrador).
Albuquerque
LINGUAGEM E ESTILO
Diálogos
(estratégia • Concisos.
discursiva: • Vivos e espontâneos: gente do povo (léxico popular).
introdução de várias • Convencionais: nobres (léxico cuidado).
«vozes» no discurso)
• Extensão moderada.
TÉCNICA
• Simplicidade e clareza de estilo.
NARRATIVA As cartas
• Subjetivismo (tom confessional, centrado no eu).
(género epistolar)
• Linguagem sentimentalista.
• Abundância de recursos e pontuação expressiva.
23
Visão global da • Caetano da Maia fora adepto de D. Miguel: «Caetano da Maia era um português
obra: título e antigo (…), dera ele o seu amor ao senhor infante D. Miguel», o que significa que
subtítulo fora adepto do Absolutismo, em Portugal.
• Afonso da Maia integra-se na geração de 1820, adepto de ideais do Liberalismo, o
que levava o pai a acusá-lo de ser jacobino.
• Pedro da Maia faz parte da geração de 1840, aquando do início da Regeneração.
• Carlos da Maia (e Maria Eduarda) já fazem parte da geração de 1870 e, por isso,
podemos inferir que é a época contemporânea do autor do romance.
24
• Na ação da obra Os Maias é imprescindível considerar a intriga principal e a intriga secundária, ambas
associadas à história de uma família pouco numerosa.
• A intriga secundária decorre nos capítulos I e II. Após uma analepse que apresenta a juventude e o casa-
mento de Afonso da Maia, o narrador dá-nos a conhecer a infância e educação tradicional portuguesa de
Pedro da Maia, fase da vida da personagem que influenciou o seu comportamento emocional instável, na
juventude e vida adulta. Nos capítulos seguintes, conhecemos Carlos da Maia e João da Ega, sendo possí-
vel identificar as representações do sentimento e da paixão destas três personagens masculinas.
25
• Advertido por Vilaça de que as paredes do Ramalhete «eram sempre fatais aos
Maias», quando decidiu instalar-se em Lisboa, após a conclusão do curso de Carlos.
• Afonso da Maia tentou evitar que o neto tivesse o mesmo percurso de Pedro da
Maia, mas a força inexorável do destino (ananké) abateu-se sobre a família, apro-
Afonso da Maia
ximando os seus dois netos, Carlos Eduardo e Maria Eduarda.
• A morte de Afonso, após o reconhecimento da relação incestuosa entre os seus
netos, provoca sofrimento (pathos) e desperta sentimentos de terror e piedade no
leitor.
• Nome que indicia desgraça, porque lhe tinha sido atribuído pela mãe que, na
altura do seu nascimento, estava a ler uma «novela de que era herói o último
Stuart, o romanesco príncipe Carlos Eduardo; e, namorada dele, das suas aven-
turas e desgraças».
Carlos da Maia
• Carlos da Maia desafia (hybris) o destino, envolvendo-se com uma mulher que
ele supunha ser casada, cometendo o incesto, primeiro inconsciente e, por fim,
consciente, porque já se tinha dado o reconhecimento (anagnórise) das origens
de Maria Eduarda.
Maria Eduarda • Afastada da família pela mãe, é vítima do destino e da fatalidade.
26
Sensação de autenticidade da ficção queirosiana – naturalidade do diálogo e descrição dos espaços cénicos
urbanos (interiores e exteriores), através de:
• Sensações visuais, auditivas, olfativas, tácteis e gustativas: dinamismo descritivo e vivacidade da narrativa;
descrição mais sugestiva do real; recriação de espaços e de personagens e da ambiência que os rodeia;
transporte do leitor para «dentro» da narrativa (emoções e instintos); expansão da perceção da obra
literária;
• Recursos expressivos: sinestesia, comparação, metáfora, uso expressivo do adjetivo e do advérbio.
27
• Os Sonetos estão divididos em ciclos, sem título algum, apenas com data, corres-
pondendo às fases cronológicas da vida do autor, ficcionadas ou não.
• Influência de Camões e de Bocage.
Soneto
• Estilo clássico: unidade de conteúdo (uma só ideia desenvolvida em partes e
resumida num final); simplicidade na forma; coerência entre quadras e tercetos
(rigorosa coerência literal que a «unidade final» põe em destaque).
• A poesia como prolongamento ou complemento da reflexão filosófica.
• Materialização da palavra em conceito (muitas vezes maiusculada).
Discurso conceptual • Complexidade e abstração de conceitos.
• Discurso dialogado com personagens alegóricas: Ideia, Razão, Noite, Morte.
• Eixo horizontal (relação Eu/Mundo) e vertical (Eu/Deus).
28
29
TEMAS
30
TEMAS
32
ALBERTO CAEIRO
TEMAS
RICARDO REIS
TEMAS
33
TEMAS (cont.)
ÁLVARO DE CAMPOS
• Rutura com os cânones literários aristotélicos e com o lirismo subjetivo tradicional:
representante insubmisso e rebelde das vanguardas do início do séc. XX.
34
TEMAS (cont.)
35
Mensagem foi a única obra publicada em vida de Fernando Pessoa, no ano de 1934. O livro contém
um conjunto de poemas escritos entre 1913 e 1934, apresentando características épico-líricas, pois
evidencia uma atitude introspetiva e, simultaneamente, um sopro de patriotismo e de heroicidade.
Mensagem contém uma estrutura tripartida – «Brasão», «Mar Português» e «O Encoberto» – que se
pode associar ao ciclo de vida da Pátria: os fundadores ou o nascimento; a realização ou a vida e o
fim/morte/ressurreição, anunciando um novo ciclo que corresponde à possível vinda do Quinto Império.
ESTRUTURA SIMBÓLICA
MENSAGEM
AS FASES DA EXISTÊNCIA
Morte e Renascimento
Nascimento/génese Realização (vida)
(ressurreição)
36
O SEBASTIANISMO
O QUINTO IMPÉRIO
• Império construído na esfera de uma identidade cultural, um império que a vontade e a esperança transfor-
madora hão de por força (re)criar contra a decadência presente, contra a Nação adormecida.
• Império civilizacional, de paz universal, espiritual, tendo como centro Portugal, que pressupõe o regresso de
um Messias: o D. Sebastião mítico, coordenada simbólica da sua edificação.
• Representação mental, uma atitude perante a nação e a nossa própria existência: a procura do nosso ser no
mundo, como indivíduos e como Povo historicamente predestinado a recuperar o prestígio perdido.
O IMAGINÁRIO ÉPICO
Pátria = nação: conjunto humano unido por instituições comuns, tradições históricas e,
acima de tudo, uma língua comum.
• Intenção do poeta: transformação da sua pátria (decadente, incapaz de agir coletiva-
mente e virada para um passado glorioso) em «nação criadora de civilização» através
do poder do sonho.
• Processo: evocação, com os olhos postos no futuro, dos heróis passados de Portu-
Exaltação patriótica gal, exemplos da vontade de mudança e da capacidade de ação, de modo a influen-
ciar os portugueses, transformando-os em agentes de construção do Portugal futuro.
Mensagem:
• «Brasão»: a origem predestinada e o património divino a defender.
• «Mar Português»: a capacidade criadora de Portugal.
• «O Encoberto»: envolto em nevoeiro, mas símbolo do espírito do homem das desco-
bertas que cada português encerra em si.
37
Herói: aquele que se eleva acima da medida humana comum na defesa de um ideal,
pela sua energia, coragem e sabedoria.
Mito: conjunto de valores que não tem tempo nem espaço, contrariamente ao facto
histórico concreto, e que tipifica uma situação existencial comum a um povo.
• Transformação do mito em História: o modo como recria e sonha a vida de um grupo
(Ulisses transformou-se em História para os portugueses por aquilo que representa
na sua vivência interior; D. Sebastião permanece vivo na nossa memória coletiva
como exemplo, como alma representativa de um conjunto de valores essenciais à
construção do futuro).
Dimensão simbólica
do herói • Reconhecimento de um povo nos seus mitos: contributo para a construção de uma
memória coletiva e de uma identidade própria, aspetos que prefiguram também um
futuro comum.
Dois tipos de herói:
> o que age por instinto sem apresentar consciência do alcance dos seus atos no
futuro;
> voluntário, consciente dos seus atos e de ter cumprido um dever contra o Destino.
Aspeto comum aos heróis: encontram-se envoltos por um misticismo de algo a cum-
prir, existem em função do futuro que nebulosamente prenunciam.
• Discurso lírico:
> expressão da subjetividade: presença «dominante» da primeira pessoa do presente;
> interiorização, mentalização da matéria épica que é reduzida a imagens simbólicas
através das quais o sujeito poético se exprime;
> confluência íntima entre o eu e o mundo, o tempo e o espaço;
> aproximação do sujeito poético ao sujeito real da criação lírica: autenticidade emo-
cional e mesmo de projeção biográfica.
38
CONTOS
MANUEL DA FONSECA,
«Sempre é uma companhia»
Solidão Convivialidade
Telefonia
ANTES DEPOIS
39
CONTOS
1.º Momento
• É expedita e uma trabalhadora incansável.
Mulher do Batola • Dominadora, é ela quem gere o negócio e controla tudo.
2.º Momento
• Submissa e dócil (faz antever uma mudança de caráter que se pode refletir na rela-
ção com o marido).
1.º Momento
• Corre «o mundo», viajando pelo Alentejo, e traz notícias dos sítios por onde passa.
Velho Rata
2.º Momento
• Tolhido pelo reumatismo, impossibilitado de viajar e profundamente solitário; acaba
por se suicidar.
1.º Momento
• Trabalhadores, cansados da faina, vão direito a casa e deitam-se cedo.
• A solidão é uma constante nas suas vidas.
Calcinhas
• De «fato de ganga», apenas acompanha o vendedor (não nomeado), auxiliando-o,
sem intervenção direta na venda.
Vendedores O vendedor
• «Bem vestido», é simpático e franco.
• Observador e dinâmico, tudo faz para conseguir concretizar a venda da telefonia.
• Revela uma personalidade alegre, persuasiva e perseverante.
40
CARACTERIZAÇÃO DO ESPAÇO
1.º Momento
• O espaço surge em uníssono com os protagonistas.
• A negatividade do espaço estende-se ao retrato das personagens.
• O espaço é opressivo.
Psicológico 2.º Momento
• Com a chegada da telefonia, tudo e todos se tornam mais próximos.
• A comunicação entre as pessoas leva a uma mudança de perspetiva sobre o espaço
– o que antes era longe parece agora mais perto.
• O espaço que aprisionava torna-se libertador.
LINGUAGEM E ESTILO
41
CONTOS
Diálogo
• Discurso sucinto marcado pela clareza das ideias e dos conceitos essenciais.
• Narrativa fotográfica que capta a fragmentação do tempo, do espaço e das personagens.
Linguagem, • Relevância das sensações.
estilo e
estrutura • Tom contido, mas irónico, perante a complexidade da natureza humana e suas fragilidades.
• Recursos expressivos recorrentes: comparação, elipse, repetição, interrogação retórica,
metáfora…
42
POETAS CONTEMPORÂNEOS
• O poeta surge ora com pudor • O poeta projeta, medindo cada • A poeta revela um
ora numa espécie de revelação. traço, o seu retrato, a sua descentramento do sujeito.
• Ser agónico ou homem própria imagem, como quem • Formas de enunciação ambíguas
Figurações revoltado, é efetivamente deixa um legado no poema. entre a ficção do eu e a sua
do poeta o retrato do poeta que é figuração.
desenhado nos seus poemas. • Indeterminação da figuração do
eu poético, que está «entre»,
numa tensão quase permanente.
• A espontaneidade da inspiração • O ato poético é o empenho total • A poesia assenta na associação
alia-se a um processo rigoroso do ser para a sua revelação. de termos que se reportam a
de trabalho sobre o poema. • O poeta é o sujeito criador, ações familiares e simples do dia
Arte poética • Matéria literária e modo de na medida em que procura a dia ao ato de criação artística.
expressão da poesia são transformar o mundo, dotando
indissociáveis. a palavra de várias significações
possíveis.
• Recolhe influências de outros • Poesia de temática lírica • Poesia que privilegia a temática
poetas e correntes, mas constrói amorosa por excelência, na amorosa, inscrevendo-se na
uma personalidade literária esteira da poesia de tradição longa tradição da lírica amorosa,
Tradição inconfundível. oral e de Camões sobretudo. mas que dela se distancia
literária • Aborda as contradições, que pela inovação formal e pelas
explora, a luta insensata com o associações inusitadas.
mundo, com as palavras e com
Deus.
• Todos os recantos da paisagem • Forte presença do mundo rural • Espaços, objetos e tarefas
portuguesa. e da natureza: árvores, rios e delimitados como «universo
• Espaços emblemáticos que flores. feminino».
Representações inspiram um sentimento de • A paisagem demarcada pelos • Todas as divisões de uma casa,
do plenitude. granitos, pelas oliveiras e pelos todas as tarefas domésticas.
contemporâneo • Lugares povoados de seres campos de trigo é mitificada. • Presença de coisas e situações
rústicos; espécie de natureza banais elevadas a objeto de
primitiva. atenção poética.
• Forte presença do telúrico.
• Importância do trabalho técnico • A palavra surge como • Desprezo pela rigidez da forma
do verso e do poema. mediadora entre o mundo que o impressa em estrofes, rimas e
• Presença de rima. poeta propõe e a nova recriação métricas.
Linguagem, • Oralidade e temporalidade. por parte do leitor. • Mobilidade do diálogo ou réplica
estilo e • Uso de imagens irradiantes: a • Presença de termos no poema.
estrutura semente, a seiva, a colheita, a dicotómicos que apresentam • Presença de vocabulário
água, a terra, o vento, o pão, o novos sentidos. ligado à casa e à cozinha:
parto, o pastoreio, Adão e Eva. • Uso abundante do termo «silêncios», «armários», «cebolas
«palavra» e do termo «nome». perturbantes».
43
REPRESENTAÇÕES DO AMOR
Lídia Marcenda
• Homónima da musa mais referida nas odes de Ricardo • Nome «gerundivo», original e fatídico («aquela
Reis, cuja beleza o atrai. que deve murchar»).
• Criada de hotel, trabalhadora, independente e respon- • Proveniente de Coimbra, de boas famílias; bela
sável (aceita as consequências dos seus atos). e débil.
• Representa a vida e a ligação com o mundo quoti- • A sua mão esquerda está paralisada desde a
diano e real. morte da mãe.
• É uma mulher excecional: apesar da sua condição • Submissa ao pai e incapaz de tomar as suas
sociocultural, produz juízos/comentários de valor próprias decisões, afigura-se como espelho de
singular. Ricardo Reis.
• Simboliza o amor incondicional, desinteressado e • Simboliza o amor imaterial e impossível de se
libertador. concretizar.
Ricardo Reis
44
45
LINHAS DE AÇÃO
«Era uma vez um rei que fez «Era uma vez um soldado
«Era uma vez um padre que
a promessa de levantar um maneta e uma mulher que
queria voar e morreu doido.»
convento em Mafra. Era uma tinha poderes.»
vez a gente que construiu esse
convento.»
46
(CONT.)
TEMPO HISTÓRICO
• Referentes temporais: 1711 – promessa do rei de construir um convento franciscano, em Mafra; 1717 – bên-
ção e lançamento da primeira pedra; 1730 – sagração do convento, pelo 41.º aniversário do rei.
TEMPO DA NARRATIVA
VISÃO CRÍTICA
47
DIMENSÃO SIMBÓLICA
• O final do romance – Blimunda… «Seis vezes passara por Lisboa, esta era a sétima.» Auto de fé: «São onze
os supliciados.» «Naquele extremo arde um homem a quem falta a mão esquerda.» «uma nuvem fechada
está no centro do seu corpo.» «Vem»
48
978-111-11-4394-7
9 781111 143947
www.leya.com www.texto.pt