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Quatro modos de conversão (gestão) do

conhecimento
CARLA OLIVEIRA

Segundo Nonaka e Takeuchi (2008), o conhecimento é criado apenas pelos


indivíduos, pois uma organização não pode criar conhecimento por si mesma
sem os indivíduos.

Carvalho (2012) reforça a declaração acima quando afirma que o conhecimento


sempre começa com um indivíduo e que as relações que um indivíduo
estabelece com outro promovem a troca de alguma forma de conhecimento
tácito, como um know-how ou uma crença.

De acordo com Nonaka e Takeuchi (2008), a criação do conhecimento se inicia


com a socialização e passa através dos quatro modos de conversão do
conhecimento, formando uma espiral. Segundo eles, o conhecimento é
amplificado através dos modos de conversão como descrito abaixo.

1. Socialização: Compartilhar e criar conhecimento tácito através de experiências


diretas.
2. Externalização: Articular conhecimento tácito através do diálogo e da reflexão.
3. Combinação: Sistematizar a aplicar o conhecimento explícito e a informação.
4. Internalização: Aprender e adquirir novo conhecimento tácito na prática.

Conforme mencionado anteriormente, a primeira conversão do conhecimento


acontece com a socialização, onde ocorre a conversão do conhecimento
tácito para o conhecimento tácito. Em seguida, quando um grupo de
indivíduos se comoverem em torno do mesmo conhecimento, que ainda é tácito,
a tendência é que as conversas, discussões e reflexões levem a uma
externalização do conhecimento, ou seja, é a cristalização do conhecimento
tácito de cada um na criação de um novo conceito. Neste momento, ocorre
a conversão do conhecimento tácito em conhecimento explícito.

Segundo Nonaka e Takeuchi apud Carvalho (2012), a chave para a criação do


conhecimento encontra-se nessa conversão, pois é através dela que são criados
os conceitos explícitos a partir do conhecimento tácito. Contudo, esse processo
não é simples. Para os autores Nonaka e Takeuchi apud Carvalho (2012), a
eficácia e a eficiência dessa conversão dependem do cumprimento de três
etapas:
 Metáfora: Nessa etapa, são feitas associações livres entre conceitos, abstratos
ou não, nas quais se forma uma rede de novos conceitos. Esse processo criativo
e cognitivo revela incoerências e contradições devido às associações de
diversos conceitos, porém a partir dessa diversidade um novo conceito é
esboçado.

 Analogia: Nessa etapa, as contradições originadas na etapa da metáfora são


harmonizadas através de um processo de associação mais estruturado e lógico
que se baseia nas semelhanças estruturais e/ou funcionais entre duas coisas.
Nesse processo, o novo conceito desprende-se dos anteriores e ganha
autonomia, tornando-se explícito.

 Modelo: Após um novo conceito tornar-se explícito, ele pode ser finalmente
modelado, isto é, transformado em modelo lógico em que não ocorram
contradições e os conceitos e preposições sejam expressos em linguagem
sistemática e lógica coerente.

Dando continuidade à conversão do conhecimento, Carvalho (2012) explica que,


quando um grupo de indivíduos explicitou o conhecimento por meio de um novo
conceito, é de responsabilidade da organização disponibilizar esse
conhecimento explícito de modo que todos os outros grupos sejam capazes de
fazer combinações desse conhecimento explícito com outros que já existem em
seu ambiente interno e externo. Dessa forma, eles poderão combinar os
conjuntos de conhecimentos explícitos e sistematizar cada conceito em sistema
de conhecimento. Neste momento, ocorre a conversão do conhecimento
explícito em conhecimento explícito. De acordo com Carvalho (2012), esse
processo acontece com extrema frequência nas organizações, pois ocorre uma
troca e combinação de conhecimento por meio de documentos, telefonemas, e-
mails, reuniões etc. Neste contexto, Carvalho (2012) menciona que é importante
perceber que as redes de comunicação computadorizadas e as bases de dados
são ferramentas que podem facilitar muito todo esse processo.

Segundo Carvalho (2012), a combinação é um processo que viabiliza a


disseminação do conhecimento dentro da organização, porém para que isso
aconteça com sucesso é necessário que haja a internalização do conhecimento.
Isso quer dizer que a organização deve processar o conhecimento explícito e
capacitar o indivíduo de modo que ele seja capaz não só de assimilar esse
conhecimento, como também de incorporá-lo ao seu conhecimento tácito. Essa
fase do processo descreve o modo de conversão do conhecimento explícito em
conhecimento tácito.

Carvalho (2012) recomenda que nesta etapa da criação do conhecimento sejam


elaborados manuais e documentos para o processamento do conhecimento
explícito, ao passo que programas de treinamento e estágios ajudam na
capacitação do indivíduo, em que mais importante é o estabelecimento de uma
comunicação clara e direta para o processo como o todo.

Silva, Soffner e Pinhão (2004) a respeito dos modos de conversão do


conhecimento:

 DE TÁCITO PARA TÁCITO: Socialização – processo de criar conhecimento


tácito comum a partir da troca de experiência.

 DE TÁCITO PARA EXPLÍCITO: Externalização – processo de articular


conhecimento tácito em conceitos explícitos. Geralmente essa articulação é
efetuada através de metáforas, analogias, conceitos, hipóteses ou modelos.

 DE EXPLÍCITO PARA EXPLÍCITO: Combinação – processo de agregar


conhecimentos explícitos, novos ou já existentes, num sistema de conhecimento
como um conjunto de especificações para um novo produto ou serviço.

 DE EXPLÍCITO PARA TÁCITO: Internalização – processo de incorporar


conhecimento explícito em tácito. Está geralmente relacionado com aprender
fazendo.

Figura 1. Quatros processos de conversão do conhecimento.

Fonte: NONAKA e TAKEUCHI apud SILVA E NEVES (2004, p. 188)

De acordo com Carvalho (2012), podemos considerar que a Figura 3 e os quatro


modos de conversão do conhecimento como sendo o modelo SECI
(Socialização, Externalização, Combinação e Internalização) de Nonaka e
Takeuchi. Ele ainda enfatiza que é de suma importância deixar claro que a
dinâmica desse modelo não é nem em linha reta e nem é em círculo, mas ela
acontece em espiral.
Figura 2. Espiral do Conhecimento.

Fonte Nonaka e Takeuchi apud SCHONS e COSTA (2008)

Além dos modos de conversão do conhecimento, há os “níveis ontológicos”, os


quais Carvalho (2012) entende como sendo as entidades criadoras de
conhecimento:

(a) o indivíduo,

(b) o grupo,

(c) a organização

(d) a interorganização.

Observando essa sequência, pode-se identificar uma progressão do


conhecimento tácito para o explícito, porém o movimento de espiral pressupõe
uma volta constante, e portanto tal progressão não ocorre em linha reta.
Referências:

CARVALHO, Fábio. Gestão do Conhecimento. São Paulo: Editora Pearson.


2012.

CRUZ, Tadeu. Gerência do Conhecimento. São Paulo: Editora Cobra, 2002.

SILVA, Ricardo Vidigal da; SOFFNER, Renato; PINHÃO, Carlos. A Gestão do


Conhecimento. In: SILVA Ricardo Vidigal; NEVES, Ana. Gestão de Empresas
na Era do Conhecimento. São Paulo: Editora Serinews, 2004.

SCHONS, Cláudio Henrique e COSTA, Marilia Damiani. Portais corporativos


no apoio à criação de conhecimento organizacional: uma abordagem
teórica. Data Grama Zero, Revista de Ciência da Informação, v.9, n.3 ,
2008. Disponível em: http://www.dgz.org.br/jun08/Art_02.htm

TAKEUCHI, Hirotaka; NONAKA, Ikujiro. Gestão do Conhecimento. Tradução


por Ana Thorell. São Paulo: Editora Bookman, 2008.

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