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As primeiras medidas tomadas pelos dirigentes governamentais naquela seca de 1877 e nas

demais que se seguiram até meados do século seguinte foram no sentido de isolar e controlar
os flagelados, como já nos referimos no início deste capítulo. De fato, a leva de migrantes do
sertão fora mantida na periferia da Capital cearense em estruturas precárias de cercados,
“abarracamentos” ou “campos de concentração”, tudo isto sob severa vigilância. Essa ação
passou a ser cada vez mais utilizada, não só em Fortaleza, mas também em municípios perto
das regiões de onde mais ocorriam os flagelados, notadamente em cidades próximas às
estações de trem. Assim, com o intuito de que os famintos não chegassem à Capital, foram
erguidos vários outros “campos de concentração” durante a seca de 1932.

MEDIDAS DE INTERVENÇÃO DO ESTADO

Se os “campos de concentração”, expressão que perdurou até antes da Segunda Guerra


Mundial, se constituíram em espaços de controle dos flagelados da seca, também logo
tratariam de ser o depositário de força de trabalho barata que era usada em obras públicas e
particulares. Neste caso, era a própria sociedade que cobrava as medidas corretivas do
trabalho em troca dos gastos que o poder público tinha com aquela população indesejada
(NEVES, 2000b, p. 82). Os retirantes foram ocupados na limpeza, remodelação e construção de
praças, pavimentação e alargamentos das ruas da Capital, em obras de calçamento e na
construção de prédios públicos, tal como ocorreu em outras cidades cearenses.

a estratégia básica de intervenção do Estado nas problemáticas sociais das secas que
atravessaram o século XX FORAM AS FRENTES DE SERVIÇO

tinham ordem de dar ração ao retirante unicamente no dia da chegada. No dia seguinte, se
queria ter direito a socorro, deveria ir à pedreira do Mucuripe, a uma légua de distante,
carregar pedras [...] no início a mulher era sustentada pelo estado nos abarracamentos [...]
depois precisou fazer uma viagem de doze quilômetros carregando pedra do Pici para o
calçamento do Soure, a fim de ter direito a ser alimentada. Para os que permaneceram no
interior, o Governo mandava orientar o trabalho para o reparo de edifícios públicos e a
construção de cadeias, escolas e açudes. (ARAÚJO, 2000, p. 59-60).

a estratégia básica de intervenção do Estado nas problemáticas sociais das secas que
atravessaram o século XX FORAM AS FRENTES DE SERVIÇO

POR VOLTA DE 1950. Nesse período, as lutas sociais pela reforma agrária progrediram
bastante, com a participação decisiva de novos sujeitos que passaram a tensionar o espaço
rural: as Ligas Camponesas, a Igreja Católica e o Partido Comunista Brasileiro.

o Estado criou um conjunto de instituições e recursos voltados ao planejamento e


financiamento do desenvolvimento regional (Superintendência para o Desenvolvimento do
Nordeste – Sudene, Banco do Nordeste do Brasil – BNB, Fundo Constitucional do Nordeste –
FNE) com vistas à superação do quadro tradicional de dependência do Nordeste, bem como o
controle da tensão social própria daquela época. Assim financiando obras em grande maioria
propriedades rurais privadas, fortalecendo o acordo entre o estado e os flagelados.
entre fins do século XIX e meados do século XX, adotou-se a terceira medida para combater os
efeitos das secas. Essa consistia em estimular os sertanejos a migrarem para outras regiões, ou
mesmo fazerem a transferência dos flagelados sem o seu consentimento ou sequer
conhecimento. Isto foi mais claro no conhecido episódio da seca de 1877, que registra forte
fluxo migratório tanto para o centro-sul do País como para a Amazônia. No primeiro caso a
força de trabalho foi empregada nos cafezais, enquanto outros migrantes que partiram para
a Amazônia foram usados como mão de obra para a extração do látex nos seringais no
primeiro ciclo da borracha.

Mais tarde, na seca de 1942, já com o Brasil envolvido na Segunda Guerra Mundial, o Governo
Federal desenvolveu ampla política de recrutamento e envio de cearenses para a produção da
borracha requisitada pelo esforço de guerra.6 Esse recrutamento em massa criou o famoso
“exército da borracha”, que continuou a ser organizado mesmo com o retorno das chuvas.

A quarta medida adotada pelos governos para enfrentar as migrações do sertão para as
cidades implicou a criação de órgãos públicos voltados para a chamada “solução hidráulica” e
que se sustentou na construção de açudes pelas “frentes de serviço”.

Por fim, devemos ressaltar, como quinta forma de intervenção estatal no combate às
consequências da seca, a criação de instituições voltadas para a assistência aos mendigos e
outras vítimas de tal calamidade.
Ainda em 1951, havia sido criado o Serviço de Socorro e Assistência às Vítimas da Seca
(SSAVS), com o objetivo de remanejar os migrantes para terras agrícolas (ARAÚJO,2000, p.
78). Toda essa ação era feita em “parceria” com a Prefeitura de Fortaleza e a Polícia Militar.

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