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TEORIA MACROECONÔMICA III

A TEORIA GERAL DE KEYNES


CRÍTICA À TEORIA CLÁSSICA POR KEYNES

Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, por Keynes – Capítulo 3

Primeiramente, nesta obra, Keynes irá refutar as hipóteses da economia clássica. Em segundo,
propõe soluções alternativas.

Os três pontos de partida da “estrutura do modelo neoclássico agregado”:

1) Modelo dicotômico: (dicotomia significa quando se divide um campo de estudo em dois


subcampos que tem nada em comum.) O modelo neoclássico é um modelo dicotômico, pois
impõe uma relação de dicotomia entre o real e o monetário, determinando a existência da
primazia do real, que explica a neutralidade da moeda. A primazia do real significa que o que
é determinante são os movimentos reais e não os monetários. A moeda, para estes, é um
instrumento totalmente neutro, que apenas facilita as trocas. Por isso que quando os
neoclássicos analisam o mercado de trabalho dividem a taxa de salário nominal pelo índice
geral dos preços, além do produto ser o produto real (tira todos os efeitos provenientes da
variação dos preços). Salário real (W/P) é o equivalente ao que se pode comprar com um certo
salário.

2) Hierarquia - neutralidade da moeda: No primeiro momento, o equilíbrio ocorre no mercado


de trabalho. No segundo momento, o equilíbrio é realizado no mercado dos bens e serviços.
Esta é a hierarquia.
Supondo que o mercado de trabalho é concorrencial, a demanda por trabalho – quantidade
de trabalho que os empresários vão utilizar para maximizar a sua função de lucro - é
determinada até o custo marginal do trabalho ser igual à sua produtividade marginal. Já a
oferta de trabalho, para o assalariado maximizar a sua função de utilidade, é determinada pela
maximização da função de utilidade realizada pelo trabalhador. Quando a desutilidade
marginal do trabalho for igual a utilidade marginal ligada ao que ele vai receber pela última
hora de trabalho vendida – igualar a desutilidade marginal do trabalho com a utilidade
marginal da renda que ele irá obter a partir da última unidade de trabalho que ele vende,
assim, maximizando a sua função de utilidade. A partir disso vai ser determinado o equilíbrio
do mercado de trabalho, no qual a oferta é igual a demanda que corresponde a um nível de
salário real (W/P) – raciocinando em termo de poder de compra do salário.
A medida que haja concorrência pura e perfeita no mercado de trabalho, não pode haver
desemprego involuntário – desemprego por não achar demanda de trabalho pela taxa de
salário real determinada no mercado – isto, pois, qualquer desemprego se traduz por um
deslocamento da curva de oferta para a direita, o que corresponde por uma queda do salário
real, que vai diminuir de tal maneira até que o salário real seja aquela que corresponda ao
pleno emprego. O único desemprego que pode haver, pela lógica neoclássica é o desemprego
voluntário – trabalhador que se recusa a trabalhar pelo salário real determinado pelo mercado
de trabalho. Tudo em termos reais, pois se analisa pela lógica neoclássica.
Este é o primeiro momento, em que o equilíbrio é determinado pelo mercado de trabalho:
oferta e demanda determinados de maneira independente e a medida que haja um estado
de concorrência pura e perfeita não pode haver desemprego involuntário permanente.
No segundo momento, uma vez determinado o equilíbrio no mercado de trabalho, haverá a
determinação do equilíbrio no mercado dos bens e serviços. Neste mercado, será utilizada a
função de produção Cobb-Douglas – o produto real é função da quantidade de capital utilizado
e da quantidade de trabalho utilizado f(d.K, d.L) = d.Y. Essas funções tem duas características:
elas verificam a lei da produtividade marginal do trabalho decrescente / a quantidade de
capital aumenta em relação a quantidade de trabalho – o aumento da produção devido ao
aumento da quantidade capital será cada vez menor, assim quando a quantidade de trabalho é
constante, o único fator que aumenta é o capital, ou seja, a produtividade marginal do
trabalho é decrescente. Em segundo o rendimentos de escalas são constantes – a medida em
que haja um equilíbrio, este vai corresponder a uma renda de equilíbrio. Isto explica a
hierarquia e da neutralidade da moeda.
No segundo momento, assim, é a esfera monetária, que corresponde a seguinte leitura da
teoria quantitativa da moeda:
M (massa monetária) = k (constante) x P (preços) x Y (nível de produto).
As variáveis monetárias são M e P e as reais é Y. Existe neutralidade da moeda à medida que
uma variação de M corresponde a uma variação equivalente em P, assim, variação em M não
irá modifica Y, justamente por ter uma primazia da esfera real – o real não é influenciado pelo
monetário (mais tarde há uma flexibilização dessa teoria que diz que isso é verificado no longo
prazo, mas não necessariamente no curto prazo). Assim, explica-se a neutralidade da moeda.
3) Teoria dos fundos de empréstimo: existe uma taxa de juros real (taxa de juro/índice de
preços) e existe o mercado dos fundos de empréstimos. A oferta de fundos dentro desse
mercado é iguala poupança. A oferta de fundos disponível depende da taxa de juros –
quanto maior a taxa de juros determinado pelo mercado, maior será o preço e a oferta de
fundos, ou seja, maior a poupança. A demanda de fundos é determinada pelo investimento –
quando maior o preço, menor a demanda por fundos. Assim, haveria uma determinação
endógena da taxa de juros, dentro do modelo agregado neoclássico. Sendo o equilíbrio
macroeconômico uma situação em que a oferta global – lógica da distribuição da renda, em
que se traduz que parte desta renda será consumida e a outra poupada - é igual à demanda
global – lógica de gastos a partir dos consumos da família ou os gastos realizados a título de
investimento. A teoria dos fundos de empréstimos determina que, obrigatoriamente, nesse
mercado, haverá um equilíbrio no qual a quantidade determinada está sendo emprestada para
uma taxa de juro de equilíbrio ou taxa de juro natural.
Assim, toda a renda distribuída, no que diz respeito aos componentes da oferta, é
diretamente ou indiretamente gasta, parte consumida e parte poupada, sendo que esta
última que permite investir. Assim, oferta cria a sua demanda. O ajustamento global dentro
dessa teoria se da dentro da teoria do fundo de empréstimo, tudo que é distribuído
corresponde aos gastos. A poupança financia o investimento – o papel do sistema bancário,
para todos os neoclássicos, refuta a existência de qualquer movimento especulativo. A função
do sistema bancário consiste em coletar poupança, para que esta financie o investimento. Por
outro lado, a demanda global é igual a oferta global para qualquer nível da renda. Desse
modo, o equilíbrio macroeconômico (oferta global = renda global) é realizado para qualquer
nível da renda – isto justifica o pleno emprego – a renda vai aumentar até alcançar o nível
que corresponde ao pleno emprego.
Keynes refuta tudo isso, já que para ele o equilíbrio é realizado para um nível especifico da
renda e nada indica que o nível da renda seja aquela que corresponde ao pleno emprego –
há várias possibilidades de que corresponda ao desemprego, permanente ou involuntária. É a
partir daqui que Keynes desconstrói toda a macroeconomia neoclássica. Para Keynes, no
mercado de trabalho, equilíbrio macroeconômico é aquele no qual não está havendo demanda
igual à oferta, mas sim desemprego involuntário – excesso permanente de oferta de trabalho
em relação à demanda.

O modelo neoclássico, a variável determinante na macroeconomia é a oferta. A demanda


deve se adaptar a qualquer variação inicial da oferta.

A taxa de juros: ainda sobre a Teoria dos fundos de empréstimo, para os economistas
neoclássicos, a priori, a partir dos filósofos utilitaristas, o ser econômico teria uma preferência
pelo presente – gastar hoje é mais útil que gastar mais tarde. Isso significa que, a taxa de juros
é uma compensação a renuncia do consumo presente. É uma taxa de desconto que permite
atualizar a renda em função desse conceito de utilidade. Keynes refuta, pois dentro dessa
lógica neoclássica a função de poupança depende da taxa de juro, e quando esta taxa
aumenta a poupança aumenta, pois a oferta de fundos aumenta. É preciso ter uma poupança
prévia para financiar o investimento. Para Keynes, a poupança é essencialmente determinada
pela renda, e não pela taxa de juro.
Para os neoclássicos, segundo a lei de Solow, a poupança é uma escolha intertemporal de
consumo. Assim, supondo hoje uma renda constante, se aumentar a poupança
obrigatoriamente diminuirá o consumo. A compensação para realizar essa poupança é a taxa
de juros. Porém, com essa poupança se resolve financiar um investimento, em nível
agregado, e esse investimento corresponderá ao aumento do produto e do consumo no
futuro. Então, uma decisão agregada de poupança nesta lógica, é uma escolha intertemporal
de consumo. Ou seja, em nível agregado, a diminuição do consumo hoje consumo hoje
corresponde ao aumento do consumo futuro via financiamento do investimento a partir da
poupança. Para Keynes, a taxa de juros não corresponde a compensação para a renúncia do
consumo – deixar de consumir rende em nada. Para ele, a taxa de juros é a compensação a
renuncia à liquidez.
Para os neoclássicos, existe uma determinação endógena e real da taxa de juros, isto, pois, a
determinação é essencialmente ligada a primazia do real. A poupança existe em função do
investimento, de um mecanismo real. Assim, a poupança financia o investimento, e daí vem a
taxa e juro. Keynes refuta isso, pois para eles existe uma determinação exógena da taxa de
juro e dentro disso existe uma determinação essencialmente monetária da taxa de juros.
Desse modo, refuta a dicotomia do real sobre o monetário, adotado pela economia
neoclássica.

O mecanismo geral

Investimento: O investimento é igual à diferença entre a eficiência marginal do capital e da


taxa de juros. A eficiência marginal do capital é um conceito keynesiano que mede a
expectativa de lucro ligada ao investimento e a taxa de juros, que para Keynes, é uma
remuneração para quando um agente empresta um certo valor. Assim, a ideia é de quando o
investimento vai ser realizado se o retorno previsto do investimento produtivo for maior que a
taxa de juro. Quanto maior a diferença entre a eficiente marginal do capital e a taxa de juro
maior será o investimento produtivo – investimento na produção.
I =  1 [ e – r]

Poupança: a poupança, para Keynes, depende da renda, ou pode depender simultaneamente


da renda e da taxa de juros. O equilíbrio se dá quando o investimento é igual à poupança. Pra
isso, é preciso igualar o numero de equações com o numero de incógnitas (da equação acima e
abaixo as incógnitas são e, r e Y).
S =  2 (Y)
Para os neoclássicos é preciso eliminara uma incógnita para poder resolver este sistema – já
que são três incógnitas e duas equações. Esta solução consiste em tornar exógena a renda (Y),
pois para eles a renda é determinada na esfera real. A partir disso e da teoria dos fundos de
empréstimos, a eficiência marginal e a taxa de juros são determinadas de maneira endógena,
ou seja, pelo próprio funcionamento do sistema. A variável determinante é a renda, por ser
real, e as variáveis determinadas são a eficiência marginal do capital e a taxa de juros.
Já Keynes, propõe que existe uma determinação exógena da taxa de juros, em função de
variáveis monetárias. Assim, a taxa de juros é concebida como varável determinante.
Consequentemente, as variáveis determinadas são a eficiência marginal do capital e a renda.
Assim, a renda tem uma determinação monetária.
A teoria neoclássica vai afirmar a neutralidade da moeda, enquanto a keynesiana vai afirmar a
não neutralidade da moeda. Neutralidade da moeda entende-se como quando a variável
monetária tem nenhum impacto na variável real, neste caso o produto. Para os neoclássicos o
produto não depende de uma taxa monetária, enquanto para os keynesisnos o produto
depende de uma variável monetária (taxa de juros). O equilíbrio é realizado quando o
investimento é igual a poupança, este equilíbrio, dentro da teoria keynesiana, é realizado ex-
post, depois da reação dos agentes, a partir de uma variação da renda. Assim, poupança não
pode financiar o investimento, pois existe um multiplicador de gasto keynesiano (d.Y = k.d.I).
Isto, pois, o investimento é realizada em t. Em t+1 esse investimento gera um aumento da
renda e este gera aumento da poupança (poupança depende da renda). Desse modo, não
pode financiar um investimento em t, a partir de um valor que só aparece em t+1.
Keynes crítica a teoria neoclássica a partir de dois níveis: primeiro propõe outra definição da
taxa de juros, e em segundo refuta a teoria dos fundos de empréstimos. O fato de refutar a
teoria leva-o a ressaltar a teoria monetária da taxa de juros.

Como visto, dentro do modelo neoclássico, a variável exógena (variável determinante) é o


produto – primazia da esfera real, o produto é determinado na esfera real,
independentemente de qualquer movimento na esfera monetária. As variáveis endógenas
(variáveis determinadas) são as taxa de juros e a eficiência marginal do capital. Como o
produto é determinado na esfera real, existe uma determinação real do produto. Como o
investimento é igual a poupança, o equilíbrio macroeconômico é realizado a partir de uma
variação da taxa de juros. No mercado de fundo de empréstimos, supondo uma situação inicial
de desequilíbrio, no qual a poupança é superior ao investimento, em que a oferta de fundos
será superior à demanda. Desse modo, haverá uma queda do preço, uma queda da taxa de
juros, assim, ocorrerá uma diminuição da poupança, da oferta, e do aumento do investimento,
da demanda, até que os dois se igualarem. Ou seja, o equilíbrio macroeconômico, a igualação
entre IS, é realizado a partir de uma variação na taxa de juros. Dentro dessa lógica, a poupança
financia o investimento.

Na teoria geral existe outra hierarquia, pois nesta não existe mercado de trabalho no sentido
neoclássico. O trabalhador não vai determinar a quantidade de trabalho que ele vai querer
oferecer, pois quem determina esta quantidade de trabalho empregado são os empresários
que possuem o poder do investimento que eles realizam baseados nas expectativas de longo
prazo. Assim, os empresários tem um papel importante para determinar o investimento e o
nível de emprego. Desse modo, o salário é a quantidade de trabalho efetivamente empregada
não depende de uma lógica de mercado dentro da lógica keynesiana. Outra diferença é que na
teoria geral não há dicotomia, pois as variáveis reais são em parte determinadas por variáveis
monetárias. Existe outra natureza da poupança: para Keynes, ela não financia o investimento.
Mankiw

Para Mankiw, o equilíbrio no mercado de bens e serviços é representado pelas duas equação:
Y = c (Y-T) + I (r) + G
• Primeiro componente – consumo das famílias - esfera real
Y = renda
c = propensão marginal a consumir
T = impostos a pagar
• segundo componente - o investimento, que depende da taxa de juros
I = Investimento
r = taxa de juros real
• Terceiro componente – gastos do Estado
G = gastos do governo

M/P (massa monetária/índice dos preços ou oferta de moeda) depende da demanda por
moeda, que depende da taxa de juros, e da renda.
M/P = L (r,Y)

Três incógnitas em ambas equações: r, Y e P.

Nos anos 1990, houve um debate entre os novo keynesianos e os novos clássicos.

• Os novos keynesianos: Para eles, se há duas equações e três incógnitas não se poderia
resolver o sistema. Assim, devera-se eliminar uma incógnita. Nisso, Mankiw elimina P,
acreditando que o nível dos preços seja constante no curto prazo. Isto implica considerar que
Keynes considera preços rígidos no curto prazo. Desse modo, r, a taxa de juros, deve ser
determinada de maneira endógena.

• Os novos clássicos: a partir da teoria das expectativas racionais exogeinizam Y. A renda seria
constante, pois é objeto de uma determinação exógena. Desse modo, há uma determinação
endógena de r e de P.

Essas teorias não podem ser consideradas keynesianas, pois Keynes, ao contrário, mostra que
precisa haver uma determinação exógena e monetária da taxa de juros. Toda a problemática
dos novos keynesianos, do tipo Mankiw, é a de que no curto prazo o nível dos preços são
constantes, assim a função de oferta é horizontal; a qualquer medida que é horizontal, a
qualquer variação da demanda corresponde a uma variação da quantidade. Segundo Mankiw,
isso seria o componente keynesiano. Porém, no longo prazo, a função de oferta é vertical,
assim, a qualquer variação da demanda corresponde a uma variação dos preços, enquanto as
quantidades permaneçam constantes. Isso é como Mankiw interpreta Keynes: a teoria
keynesiana teria um impacto sobre a renda apenas no curto prazo, enquanto no longo prazo o
sistema permaneça em seu nível de equilíbrio determinado na esfera real. Isso tudo implica
em Past Dependence: o valor da posição de longo prazo não depende das modificações que
ocorrem no curto prazo (estudos atuais refutam isso).

Interpretações diferentes da Teoria Quantitativa da Teoria da Moeda: M = k.PY. A versão mais


rígida diz que uma variação na massa monetária não provocará impacto sobre a renda. A
versão menos rígida diz que uma variação na massa monetária pode impactar a renda no curto
prazo, porém isso desaparece no longo prazo.

Em Mankiw há uma limitação do valor explicativo da teoria keynesiana no curto prazo e no


longo prazo os resultados da macroeconomia walrasiana que estão sendo realizados – em
função disso eliminou vários elementos fundamentais da teoria geral.

O professor não vê muita diferença entre Mankiw e a teoria das expectativas racionais.

Ergosticidade e expectativas

No universo neoclássico não existe incerteza – ergosticidade, todos os agentes econômicos


podem avaliar com certeza o futuro. Isso implica na Teoria dos Mercados Contingentes: os
agentes tem conhecimento perfeito tanto do estado dos mercados no passado quanto no
presente e futuro. Nessa ergosticidade, se pode quantificar o futuro a partir de um cálculo de
termo de probabilidade.

Assim, deve-se verificar a lei dos grandes números: a probabilidade do evento A converge para
a frequência de A quando o número de experiências é muito grande - P(A) converge f(A) n.
Pode-se repetir o mesmo evento e cada vez que for repetir esse evento, deve haver as
mesmas condições iniciais, assim, existe uma homogeneidade dos eventos.

Keynes, antes da teoria geral, escreveu o Tratado de Probabilidade. Neste ele vai contestar
isso, dizendo que não existe homogeneidade nos eventos, pois afirmar que sempre pode se
repetir o mesmo evento nas mesmas condições, implica na historicidade. Ou seja, cada evento,
assim, é único, o que ressalta a historicidade do evento. Se cada análise é única não se pode
quantificar o futuro a partir de um cálculo em termo de probabilidade. A incerteza forte é a
ressalta desta impossibilidade.

A complexidade disso é de que o único elemento que os empresários tem para realizarem o
investimento são as suas expectativas elaboradas em um contexto que se caracteriza por uma
incerteza forte.

A relação entre a incerteza e a moeda é dupla: primeiro, tendo o esquema do Keynes, a moeda
está cumprindo função de reserva de valor – a moeda permite manter o poder de compra no
tempo, não haveria inflação. A medida que os agentes avaliam a incerteza forte o empresário
conclui se vai investir ou não. Supondo que um empresário decide não investir, ele reterá
moeda. O fato de reter moeda torna a moeda um ativo que permite se prevenir contra a
incerteza: quanto maior a quantidade de incerteza maior será a quantidade de moeda retida.

Os neoclássicos refutam tudo isso, pois para eles não existe incerteza e os agentes são
racionais, assim, não vão guardar moeda a não ser aquelas para efetivarem as trocas. Isso,
pois, se guardassem moeda, deixariam de ganhar aquilo que ganhariam se emprestassem esse
valor. Como os agentes são racionais eles vão querer maximizar sua utilidade e os ganhos que
eles têm.
Isto explica o que Keynes chama de preferencia pela liquidez: os agentes quererem reter
moeda não se trata do agentes serem irracionais, mas pelo contrário. No período em que há
muita incerteza, seria irracional investir neste período. Assim, a moeda é um ativo que permite
se prevenir da incerteza. Isso mostra porque a existência da incerteza explica a função da
moeda: reserva de valor para a prevenção da incerteza. Existe moeda por que existe incerteza.
Mas também existe incerteza por que existe moeda.

Isso não acontece numa economia de escambo, apenas numa economia monetária de
produção, em que os salários são pagos em moeda, e não em mercadorias. A partir do
momento em que a renda de diferentes grupos sociais são pagos em moedas, não se sabe
quando e quanto essa renda vai ser gasta. Então os empresários não podem determinar qual
vai ser a demanda e quando ela irá ocorrer se se pode guardar moeda sem gastar ou se pode
gastar quando se quiser, mas sem gastar toda moeda que recebe. Neste caso existe incerteza
pelo fato de haver moeda. Isso implica: a oferta global em Keynes é igual ao consumo mais
poupança e entesouramento (Og = C + S +E), enquanto a demanda global é igual ao consumo
mais o investimento (Dg = C + I).

É preciso diferenciar poupança e entesouramento: a poupança é o que serve para financiar o


investimento, é o valor que continua dentro do circuito econômico, já o entesouramento é a
moeda ociosa, uma moeda que sai do circuito econômico, e a mediada que existe esse terceiro
componente, Keynes demonstra que nada implica que a oferta seja sistematicamente igual a
demanda, mas isso vai depender do entesouramento (entesouramento positivo resulta numa
insuficiência da demanda, o equilíbrio não será realizado, ou será mas comum mercado em
que a oferta não é igual a demanda).

O entesouramento é uma parte da moeda que sai do circuito e tem por função de reserva de
valor que permite os agentes de se prevenir contra a incerteza. A diferença entre a moeda e o
bem de investimento é: a medida em que o investimento produto aumenta, a renda, o
produto e quantidade de trabalho realizado vão aumentar, junto com o investimento
produtivo e o nível de emprego. Se os agentes preferem reter mais moeda pode-se dizer que a
demanda por oferta vai aumentar e a demanda por investimento produtivo vai aumentar. Mas
o fato de se aumentar a oferta de moeda não se traduz por um aumento de quantidade de
trabalho utilizado. Então o trabalho rendido no setor produtivo não vai ser compensado pelo
trabalho que no setor da oferta de moeda, pois para aumentar a moeda não se precisa
aumentar a quantidade de trabalho empregado, enquanto para aumentar a quantidade de
bens e serviços é necessário aumentar a quantidade de trabalho. Isso explicaria também o fato
do equilíbrio macroeconômico keynesiano com estabilidade é o equilíbrio sem o pleno
emprego.

A macroeconomia keynesiana e neoclássica são bem distintas: em um existe incerteza no


outro não, a moeda cumpre funções diferentes e o próprio conceito de equilíbrio é diferente
(em Keynes o equilíbrio não está associado ao fato da demanda ser igual a oferta, enquanto
para os neoclássicos sim).
Capítulos 13 e 14

Nos capítulos 13 e 14 Keynes refuta as teorias neoclássicas: no capítulo 13 Keynes vai refutar a
concepção neoclássica da taxa de juros e no capítulo 14 vai totalmente refutar a teoria dos
fundos de empréstimo e a partir disso ele vai propor uma solução alternativa.

Um ponto de diferenciação entre a teoria neoclássica e a teoria keynesiana é o papel da


moeda. Como já vimos, dentro do keynesiaismo a moeda tem uma função fundamentar de
reserva de valor, partindo isto da hipótese de que, segundo Keynes, a moeda permite manter
o poder de compra no tempo, e a medida em que existe incerteza os agentes vão para de
investir e vão reter a moeda para se prevenis da incerteza. Assim, existe a moeda, pois existe a
incerteza, já que sua existência é para prevenir os agentes da incerteza. Mas também, existe
incerteza, pois existe moeda, já que Keynes diferencia uma economia de escambo, em que a
moeda possui nenhuma função, e uma economia monetária de produção. A diferença de
ambos é que na primeira uma mercadoria é trocada por outra mercadoria – o valor do salário
é o valor dos bens de que os assalariados vão consumir – já na segunda, que é uma economia
capitalista moderna, o assalariado recebe sua remuneração em moeda, e é isto que cria a
incerteza. Isto, pois, uma vez que os assalariados receberam seus salários, não se sabe quais
são os bens que eles irão consumir e quando irão consumir, além de qual parte desse salário
será gasta, o gera incerteza quanto ao nível futuro da demanda. É na economia monetária de
produção que a moeda cumpre a função de reserva de valor.

A diferença entra a moeda e uma mercadoria, um investimento produtivo: se você aumenta


o investimento produtivo, aumentará a produção de mercadoria que resultará no aumento da
quantidade de trabalho demandado. Ao contrário, se diminui o investimento produtivo e
aumenta a demanda por moeda, não se traduz por um aumento diretamente do produto, do
investimento e do emprego. Então o emprego que foi perdido no setor real, dos bens, no setor
produtivo, não será compensado pelo aumento da oferta de moeda.

O que representa a taxa de juros dentro da problemática neoclássica: a taxa de juros dentro
da teoria neoclássica padrão é a compensação pela renuncia ao consumo presente, pois o
homus economicos tem uma preferência pelo hoje. Consumir menos hoje para consumir mais
no futuro – para Keynes o fato de deixar de consumir não gera valor, assim não deveria haver
uma remuneração para isto.

As variações do valor do título e as variações da taxa de juros: Para Keynes, uma obrigação é
uma entidade econômica que joga no mercado um título que é dinheiro emprestado. O título
primeiro vai ser emitido no mercado primário – se você quiser emprestar x reais, quem
comprar esse título de x reais terá de pagar num período determinado no contrato um retorno
que será a taxa de juros sobre o valor x. No mercado secundário, os títulos e obrigações estão
sendo negociados uma vez que já foram emitidos no mercado primário. Nos mercados
secundários, a relação que existe entre as variações do valor do título e as variações da taxa de
juros: o título é emitido num valor de 100 reais e está estipulado no contrato que durante um
período determinado a taxa de juros será de 10%. Para quem comprou o título no mercado
primário significa que naquele período ele irá receber 10% de 100, ou seja, 10. Porém, este
título pode ser revendido no mercado secundário. O rendimento também terá que ser 10%,
então se a taxa de juros aumenta de 10% para 20%, o valor do título será igual a 50, assim, o
valor do título diminui para que o rendimento permaneça como estava previsto inicialmente
(10%). Mas se a taxa de juros diminuiu de 10% para 5%, o valor do título terá que aumentar,
pois o rendimento será sempre de 10 – aquele que comprou o título tem que receber os 10 no
mercado primário. Assim, se se resolve revender o título o valor dele depende das variações da
taxa de juros, para que o rendimento sempre será de 10, como está no contrato. Para manter
a estabilidade é preciso haver uma relação inversa entre o valor do título e a taxa de juros.

Por isso que geralmente há uma crise econômica depois de uma crise financeira, pois
está havendo um aumento não esperado da taxa de juros. Quando a taxa de juro
aumenta isso gera uma queda no valor dos títulos.

A finança produtiva e finança especulativa: Esse tipo de mecanismo fez Keynes diferenciar
dois tipos de finanças: finança produtiva e finança especulativa.

A finança produtiva é aquele que compra o título e não revende, continua permanentemente
como seu proprietário recebendo o rendimento como está no contrato. Isto é uma lógica de
longo prazo, pois guardará esse título durante todo o período estipulado. Além disso, o
rendimento é certo - é uma certeza que em cada período ganhará os 10% de 100. A função
desta finança consiste em financiar o investimento produtivo, pois é um empréstimo que está
sendo feito cuja função consiste em financiar o investimento produtivo. A partir do
multiplicador de gasto isso vai gerar o aumento do produto e do nível de emprego, se
caracterizando pela estabilidade, já que não há incerteza – se tem certeza do retorno que irá
receber no final de cada período, com o financiamento de um investimento tendo em vista o
investimento numa estratégia de longo prazo. Esse tipo de finança, a produtiva, tem como tem
como único objetivo o financiamento do investimento, a teoria dos fundos de empréstimos.

Já na finança especulativa, o que vale na especulação é uma lógica de curto prazo, pois o
rendimento neste caso a sua principal fonte não são os bens. A especulação consiste em
comprar o título quando o valor está baixo e revender o título quando o valor estiver alto.
Neste caso o principal componente do retorno não vai ser a taxa de juro, mas sim a mais valia
financeira realizada sobre o título. Se o especulador comprou o título em 50 e revender por
200 a mais valia financeira será de 150. A principal fonte de retorno do especulador se dá a
partir da variação do valor dos títulos, que depende das variações de curto prazo da taxa de
juros, numa lógica de curto prazo, pois são movimentos que se dão no curto prazo a partir de
variações de curto prazo da taxa de juros. Isso implica que a função da finança especulativa
não está ligada ao setor produtivo. O especulador não se preocupa no financiamento do
investimento, mas apenas em comprar barato para vender cara e realizar a mais valia
financeira. Isto gera uma fragilidade financeira, pois se financia um investimento no longo
prazo com elementos que tem estabilidade muito forte e cujo valor varia no curto prazo. Isso é
um dos paradoxos das políticas econômicas, por exemplo quando o governo quer diminuir a
pressão fiscal sobre as empresas.
Assim a finança produtiva tem estabilidade do rendimento, este depende de uma taxa de juros
já prefixada sobre o valor de emissão e uma lógica de longo prazo, além de haver uma conexão
direta com o setor produtivo, pois mobiliza os fundos para financiar o investimento. Já a
finança especulativa existe uma incerteza no que diz respeito aos investimentos, pois participa
de uma estratégia de curto prazo, já que a maior parte dos retornos que se obteve das
variações do curto prazo da taxa e juros que se traduz por variação do curto prazo dos valores
do título, a maior parte do retorno consiste na realização da mais valia financeira. Isto implica
que existe uma desconexão entre o setor financeiro e o produtivo, o que resulta na
fragilidade financeira perante a incerteza grande e com as variação e instabilidade dos
fundos que financiam o investimento.

Demanda por moeda por motivo de especulação: Esses são os elementos que permitem
entender o componente da demanda por moeda por motivo de especulação: num primeiro
momento, se os especuladores têm expectativas vão sentir no momento futuro da taxa de
juros. Se eles esperam que haja um aumento da taxa de juros logo vão esperar também uma
queda do valor dos títulos, o que implica que se o valor dos títulos a partir destas expectativas
diminuírem amanhã, não irão querer moeda hoje para comprar títulos, mas sim amanhã. Ou
seja, a demanda por moeda por motivo de especulação vai diminuir hoje - não vão querer
moeda hoje para especular, pois vão querer a moeda amanhã para comprar os títulos cujo
valor será mais baixo. Isso corresponde pelo aumento da preferencia pela liquidez: hoje os
agentes podem escolher entre estes três tipos de ativos: o investimento, a moeda ou o título
financeiro. Geralmente escolhem o ativo que dá maior retorno. Se hoje a oferta de moeda
aumenta os agentes vão guardar a moeda, pois hoje não vão comprar títulos, retendo a moeda
hoje. Por isso que quando está havendo uma expectativa que corresponde ao aumento da taxa
de juros, se traduzirá imediatamente por uma queda da demanda por moeda por motivo de
especulação e por um aumento da preferencia pela liquidez, pois se os agentes tem que
escolher entre compra de títulos financeiros hoje e moeda, como eles querem comprar títulos
amanhã, a preferencia pela liquidez, pelo fato de reter moeda, vai aumentar hoje.

Se os agentes tem expectativas controlada, as expectativas são formuladas hoje em relação ao


futuro. As expectativas no sentido de uma queda na taxa de juros, ou seja, estão esperando
que o valor dos títulos aumente amanhã, se isto ocorrer eles comprarão hoje, enquanto o
valor dos títulos estão baixos. Assim, a demanda por moeda por motivo de especulação hoje
vai aumentar. Isto corresponde a uma queda da preferencia pela liquidez.

A especulação está ligada as variações de curto prazo da taxa de juros. A especulação se dá


unicamente no mercado secundário.

Se todos os agentes elaborarem o mesmo tipo de expectativa, por exemplo, se todos acham
que a taxa de juros no curto prazo vai aumentar, eles não vão querer comprar títulos hoje,
assim, não haverá demanda, e justamente neste caso haverá uma oferta, pois todos vão
querer ofertar - quem possui título vai querer vender, pois no futuro ele será de um valor mais
baixo. Todos os especuladores vão querer vender os títulos, mas ninguém vai querer comprar,
havendo uma oferta sem demanda. Isso não é um mercado. Mas se eles acha que haverá, ao
contrário, uma queda na taxa de juros, os valores dos títulos aumentarão no futuro, assim,
ninguém vai quere ofertar o títulos e todo mundo vai querer comprar os títulos, ou seja, uma
demanda sem oferta.

Um mercado é quando num mesmo ponto t haja o encontro entre uma oferta e demanda, e
para isso é preciso haver divergência entre as expectativas. No mesmo ponto deve haver
expectativas numa queda do valor dos títulos e outros com expectativas contrárias. Na teoria
neoclássica, na teoria das expectativas racionais, afirma que todos os agentes elaboram as
suas expectativas a partir do mesmo modelo, do Equilíbrio Geral, assim, neste caso, todos os
agente possuem as mesmas expectativas. Mas nisso não existiria mercado especulativo, pois a
condição necessária para a existência deste mercado é a divergência entre as expectativas dos
agentes.

A preferencia pela liquidez segundo Keynes: a moeda está cumprindo um papel de reserva de
valor, ela é uma maneira de se prevenir da incerteza. Para Keynes a taxa de juros é a
compensação pela renuncia a liquidez, a renuncia a segurança propiciado pelo fato de reter
moeda.
Pode-se raciocinar isto através da curva de diferença. Esta curva seria o nível de utilidade. Se
está na posição 1, se tem uma remuneração fraca, porém tem bastante segurança pelo fato de
reter bastante moeda. Se quer estimular os agentes a de desfazerem da moeda, é preciso
aumentar a remuneração, assim na posição 2 os agentes terão menos segurança, mas terão
remuneração maior que corresponde ao mesmo nível de utilidade. Esta é uma maneira de
entender o que consiste a renuncia de liquidez. Por meio da taxa de juros há uma estimulo aos
agentes deixarem de reter moeda, vai ter mais dinheiro, porém menos segurança, esta é uma
escolhe dentro da curva de diferença.

Mecanismos de ajustamento do mercado monetário: se a avaliação que os agentes fazem a


incerteza aumenta, os agentes vão querer reter moeda, para se prevenir da incerteza.
Supondo que isto resulta em que a demanda por moeda se torna superior a oferta por moeda,
ocorrerá na necessidade de que no segundo momento haja o aumento da taxa de juros para
que a demanda por moeda diminua para que haja novamente o equilíbrio no mercado da
moeda. Então o aumento da incerteza faz com que a taxa de juros aumente de tal maneira que
o mercado volte para uma situação de equilíbrio no qual a demanda de iguale a oferta. No
caso contrário, se está havendo uma diminuição da incerteza, os agentes vão querer reter
menos moeda, o que irá gerar uma situação no qual a demanda por moeda é inferior a oferta
ocorrendo uma queda na taxa de juros de tal maneira que a demanda por moeda aumente
para novamente voltar a posição de equilíbrio no mercado da moeda. Assim, as variações na
taxa de juros provocam variações na demanda por moeda. Ou seja, para Keynes, se pegar todo
esse mecanismo, o aumento da incerteza gera o aumento da taxa de juros e uma queda da
incerteza gera uma queda da taxa de juro. O aumento da incerteza gera o aumento da
preferência pela liquidez, que gera o aumento da moeda de tal maneira que inicialmente haja
excesso de demanda em relação a oferta no mercado da moeda, e é esse excesso que vai gerar
variações na taxa de juros que permite restabelecer o equilíbrio. Dentro do mecanismo
keynesiano a taxa de juros é determinada pela demanda por moeda.

Na teoria neoclássica, há a determinação monetária da taxa de juros, em Keynes não. Os


neoclássicos dizem que é a taxa de juros que determina a demanda por moeda, pois para eles
não existe incerteza, então a demanda por moeda se deve unicamente a elementos reais.
Ninguém vai querer reter moeda, fora as necessidades para efetivar as trocas, pois se a taxa de
juros aumenta, como os agentes econômicos são racionais, eles não vão deixar de ganhar
emprestando dinheiro, se desfazendo da moeda. Se se aumenta a taxa de juros, dentro da
lógica neoclássica, isso corresponderá a uma queda da demanda por moeda. Para Keynes, é a
demanda por moeda que determina a taxa de juros - variável determinante é a demanda por
moeda, via incerteza e preferência de liquidez, e a variável determinada é a taxa de juros. O
que diferencia ambas macroeconomias é que na keynesiana existe uma determinação
exógena da taxa de juros, a partir da demanda da moeda e preferencia da liquidez, enquanto
na neoclássica existe uma determinação endógena da taxa de juros. Além disso, para
Keynes, existe uma determinação monetária da taxa de juros, enquanto para as neoclássicos
existe uma determinação real da taxa de juros. Assim, para Keynes a demanda por moeda
está ligada a incerteza, uma variável monetária, e para os neoclássicos a demanda por
moeda está ligada a uma variável real que é uma determinação da taxas de juros.

No capítulo 13, Keynes afirma “deveria ser óbvio que a taxa de juros não pode ser um
rendimento da poupança ou da espera como tal, quando alguém que acumula suas economias
sobre a forma de dinheiro líquidos não ganha juros, embora economize tanto quanto antes.
Pelo contrário, simples definição da taxa de juros diz a nós literalmente de que ela é uma
recompensa pela liquidez por um período determinado”. Nisto ele contesta toda concepção
neoclássica da taxa de juros, pois ele diz que deixar de consumir para poupar não vai criar mais
riqueza. A taxa de juros é, na verdade, a compensação pela renuncia da liquidez. Se a taxa de
juros aumenta a preferencia da liquidez diminuirá, havendo substituição de mais dinheiro
futuro para menos segurança hoje. Logo depois Keynes diz “a taxa de juro não é o preço que
equilibra a demanda os recursos para investir, é a propensão de se abster do consumo
imediato. A taxa de juro é o preço mediante o desejo de manter a riqueza em forma liquida se
concilia com a quantidade de moeda disponível”, ou seja, primeiro esta afirmação contesta a
Teoria dos Fundos de Empréstimo, em que consiste numa teoria do qual seria um mercado dos
fundos pelo qual a poupança seria remunerada pela taxa de juros e a demanda por fundos
sendo o investimento (quando maior a taxa de juros, maior a poupança e menor o
investimento). Por outro lado, dentro da economia neoclássica está havendo uma
determinação endógena da taxa de juros que é concebida em termos reais. Tudo isto é feito
em termos reais, pois os agentes retém moeda apenas para financiar o investimento, então a
poupança é, pelo fato de reter moeda, um mecanismo que se explica por variáveis reais – não
existe nenhuma autonomia da moeda. A importância da Teoria do Fundo de Empréstimos para
a macroeconomia neoclássica se deve por ela mostrar que o equilíbrio é realizado para
qualquer valor da renda – tudo que é distribuído será gasto pelo consumo e a parte que não é
gasta pelo consumo será gasto a partir do investimento. Assim, quando Keynes refuta a Teoria
do Fundo de Empréstimos ele implica em uma refutação total de todos os mecanismos que
sustentam a macroeconomia neoclássica. Além disso, Keynes considera que a oferta de moeda
é totalmente controlada pelo governo, pelas autoridades monetários.

Teoria do Fundo de Empréstimos é o fato de que existe um mercado no qual há uma oferta
por fundos, que é a poupança, e uma demanda por fundos, que é o investimento. O preço de
oferta seria a taxa de juros. Isso implica que primeiro está havendo uma determinação
endógena da taxa de juros. A taxa de juros de equilíbrio é a taxa que determina o equilíbrio
entre a poupança de investimento. O preço é determinado pelo cruzamento da curva de oferta
e demanda, neste caso as curvas de poupança e investimento. Determinação endógena e
também real, pois a poupança financia o investimento, que é um mecanismo real. Além disso,
está é uma manifestação da Lei de Say, pois se tudo que é produzido é necessariamente gasto,
o equilíbrio será realizado em qualquer nível da renda. Por isso que para os neoclássicos o
equilíbrio ele é realizado com pleno emprego, pois a renda vai aumentar até alcançar o nível
do produto que corresponde ao pleno emprego, enquanto para Keynes o equilíbrio só se
realiza a um nível especifico da renda e do produto.

Quando Keynes cita que “a taxa de juro é o preço mediante o desejo de manter a riqueza em
forma liquida se concilia com a quantidade de moeda disponível” ele quer dizer que, repetindo
novamente, a taxa de juros é a compensação pela renuncia a liquidez a preferência pela
liquidez. A preferência pela liquidez é o fato de reter moeda para se prevenir da incerteza, é
uma segurança. A moeda, assim, compre a função de reserva de valor.

Curva de indiferença, nível de utilidade. O consumidor escolhe a maior segurança pelo fato de
reter mais moeda e uma taxa de juro menor, na posição 1, ou ele escolhe a posição dois em
que há menos segurança, porém com uma taxa de juros mais alta para ele se desfazer da
moeda que ele irá deter.

Ainda sobre o “preço mediante o desejo de manter a riqueza em forma liquida se concilia com
a quantidade de moeda disponível”, suponha que os agentes avaliem que haverá uma
intensificação da incerteza, assim, aumentam a preferência pela liquidez retendo mais moeda,
para se prevenir contra essa incerteza que eles sentem. O aumento da incerteza aumenta a
preferencia pela liquidez que se traduz no aumento da moeda de tal maneira que a demanda
de moeda se torna superior a oferta por moeda. Desse modo, é preciso haver um aumento da
taxa de juro para diminuir a preferência da liquidez para diminuir a demanda de moeda de tal
maneira que o sistema volte ao equilíbrio em que a oferta de moeda é igual a demanda por
moeda. Num segundo momento, supondo que os agentes avaliem numa queda da incerteza, a
preferencia da liquidez será menor, diminuindo a demanda por moeda de tal maneira de que a
demanda seja inferior a oferta de moeda. É preciso de uma queda na taxa de juro para que a
demanda aumente de tal maneira que o sistema volte ao seu ponto de equilíbrio, onde a
oferta é iguala a demanda. Keynes diz, aqui, as variações na taxa de juro são determinadas
pela demanda por moeda, ela mesma sendo determinada pela preferencia pela liquidez. É a
demanda de moeda que determina a taxa de juro. No sistema neoclássico, é a taxa de juro que
determina a demanda por moeda, para Keynes é o contrário.
Keynes vai inferir os diferentes motivos pelos quais existe essa demanda por moeda:

Motivo de transação: é a necessidade de moeda para as operações correntes de


trocas pessoais e comerciais.

Motivo de precaução: desejo de segurança com relação ao equivalente do valor


monetário futuro, exceto a parte dos recursos totais.

Motivo de especulação: o propósito de se obter lucro para saber melhor o que


mercado que trará o futuro.

Assim, no mercado de moeda há dois componentes: Om = L1(Y) + L2(r)

L1: demanda por moeda que corresponde ao motivo de transação e de precaução. A demanda
por moeda por estes dois motivos depende diretamente da renda. A medida que depende da
renda ele traduzirá na neutralidade da moeda, a demanda da moeda depende do que está
acontecendo com uma variável real que é o produto.

L2: demanda da moeda por motivo de especulação. Quando a taxa de juros aumenta a
demanda por moeda por motivo de especulação diminui, há uma relação inversa. Ligada a
incerteza.

O primeiro componente L1 (Y) dá conta da neutralidade da moeda, pois esta parte da


demanda da moeda depende apenas da renda e do fator real. Quando Y aumenta L1(Y)
aumenta.

Já em L2 (r) ocorre que quando r aumenta a demanda por moeda por especulação vai diminuir
e quando r diminuir a demanda por motivo de especulação vai aumentar. Relação inversa
entre r e L2 (r). Isto, pois, os agentes que estão aguardando o aumento da taxa de juro,
significa que também estão esperando uma queda no valor dos títulos, e logo o especulador
vai querer comprar títulos amanhã, num futuro próximo, assim, hoje a demanda por moeda
vai diminuir. Quando os agentes estão aguardando uma queda da taxa de juro, esperam o
aumento dos valores dos títulos, então os compram hoje para revender amanhã quando o
valor estiver alto, assim, o valor da moeda por motivo de especulação aumenta.

“Na ausência de um mercado organizado a preferência pela liquidez devido ao motivo de


precaução aumentaria muito ao passo que a existência de um mercado organizado
proporcionaria a oportunidade de ampla flutuação da preferencia pela liquidez devido ao
motivo de especulação”. Keynes quer dizer que sem um mercado organizado haveria um
aumento da demanda de moeda por motivo de precaução, e ao contrário, na existência de um
mercado organizado, a demanda por moeda pela preferência de liquidez aumentaria muito. O
mercado organizado é definido como um mercado secundário, um mercado no qual há
revenda e compra de títulos que já foram vendidos no mercado primário. Ou seja, quando ele
diz que “na ausência de um mercado organizado a preferencia pela liquidez devido ao motivo
de precaução aumentaria muito”, se não está havendo mercado organizado, a demanda por
moeda por motivo de especulação é igual a zero, pois a especulação só é possível quando se
está havendo a renegociação de títulos no mercado secundário. A especulação consiste em
recomprar o valor de um título já vendido quando este valor estiver baixo e revender este
título quando o valor estiver alto. Para que isto tenha condições de existir é preciso ter o
mercado secundário, que Keynes chama de mercado organizado – uma bolsa de valores no
qual os títulos são renegociados depois de sua emissão no mercado primário. Assim, na
ausência do mercado organizado a preferencia de liquidez aumentaria muito pelo motivo de
precaução, a demanda por moeda é igual a L1(Y) e depois ao passo em que há a presença de
um mercado organizado, proporcionaria ampla flutuação da preferência pela liquidez devido
ao motivo de especulação.

“Num instante se houver uma procura insignificante de moeda para satisfazer o motivo de
especulação, o aumento da quantidade de moeda deve baixar a taxa de juro num grau
necessário para levar o nível de emprego e o nível de salário numa medida suficiente para que
a moeda adicional seja absorvida pelos motivos de transação e precaução”. Assim, no caso de
não haver demanda por moeda por motivo de especulação, o aumento da quantidade de
moeda deve diminuir a taxa de juro de tal maneira de que o produto e o nível de emprego
aumentem. Isto é diretamente e a origem da curva de IS-LM. A curva IS representa as
combinações da taxa de juro e produto, e as condições de equilíbrio no mercado de bens e
serviços (investimento igual a demanda). A curva LM representa as combinações da taxa de
juro e produto que corresponde o equilíbrio do mercado da moeda em que a oferta por
moeda é igual a demanda por moeda. Quando se estuda a curva LM ela possui três partes, a
primeira chamada de armadilha de liquidez, constituído por demanda por moeda pelo motivo
de especulação, na segunda parte é a parte média, em que a demanda por moeda é
constituída por L1 e L2 e a terceira parte na qual a demanda por moeda é unicamente
constituída pelo motivo de precaução, de transação.

Por outro lado, uma política monetária para aumentar a oferta por moeda consiste no
deslocamento da curda LM 1 para LM 2. Na zona 1 o aumento da oferta por moeda não gera a
queda da taxa de juro e o ponto de equilíbrio se mantém o mesmo a oferta se alterando, com
o deslocamento de LM. Na zona 2 quando IS corta LM, o aumento da oferta por moeda é
médio, existe uma queda na taxa de juros, devido o aumento da oferta de moeda e o aumento
médio do produto. As políticas monetária com maior eficiência são na zona 3, quando a curva
IS corta a curva LM no ponto no qual a demanda por moeda é unicamente constituída por
motivo de precaução e transação, neste caso o aumento correspondente do produto é
máximo. Ou seja, na zona 1 as politicas monetárias são ineficientes, na zona 2 com eficiência
média e na zona 3 a maior eficiência das políticas monetárias. Essa eficiência é medida a partir
de uma queda da taxa de juro que vai gerar um aumento do produto. Na zona 1 tem armadilha
da liquidez, pois qualquer aumento da oferta por moeda vai ser absorvido pela preferência
pela liquidez que provém da demanda de moeda por motivo de especulação. Isso faz com que
a taxa de juro não diminua, e assim, haverá o no aumento do produto. Isso se explica
justamente a partir da demanda da moeda por motivo de especulação: com o nível da taxa de
juro baixo praticamente todos os especuladores criam expectativas no aumento da taxa de
juro – já que está muito baixa a taxa -, com isso, preveem também uma queda do valor dos
títulos, e logo não compram títulos hoje, mas guardam a moeda para comprarem o titulo num
futuro quando o valor estiver baixo. Tendo em vista que os especuladores estão aguardando
queda da taxa de juros, isso faz com que a demanda por moeda por motivo de especulação
diminui e a preferência pela liquidez dos especuladores aumente, pois estão guardando a
moeda para se comprar títulos no futuro. A conclusão é que o aumento da oferta de moeda
quando as das curvas se cruzam na zona 1 não gera impactos em termo de queda da taxa de
juro, aumento de futuro e aumento de emprego. As políticas monetárias devido a está
armadilha de liquidez são totalmente ineficientes. Isto ressalta o fato de que a especulação
para Keynes é incompatível a ideia de um bem estar social num sentido de diminuir a taxa de
desemprego, ou seja, aumentar o nível de produto e do emprego.

Quando as curvas se encontram na zona 3, há um aumento da quantidade de moeda, sendo


necessário abaixar a taxa de juro em um grau necessário para gerar um aumento do produto e
um aumento consequente do nível do emprego.

Por outro lado Keynes cita a respeito da especulação que “as expectativas quanto ao futuro da
taxa de juro fixada pela psicologia da preferência de liquidez”. A especulação para Keynes é o
fato que determinados agentes, os especuladores, vão adivinhar antes do que eles chamam a
massa ou vão ser as reais variações da taxa de juro. Supondo que os especuladores preveem
uma queda da taxa de juro e logo o aumento dos valores dos títulos, assim compram títulos
hoje, enquanto o valor está baixo. A massa, o grande público, vai imitar o comportamento dos
especuladores, mas com uma defasagem temporal. A massa vai comprar o valor do título
depois que os especuladores já compraram, com o valor do título já estiver mais alto. Numa
situação de crise os especuladores vão vender os títulos antes da crise, já a massa depois, pois
não conseguem desenvolver suas expectativas a tempo. Os especuladores são aqueles que
conseguem antecipar o que o mercado vai escolher, já a massa copiam os especulares depois
que o valor dos títulos já se alteraram, sendo assim prejudicados. A assimetria da informação,
não é o fato de que os especuladores tem a informação privilegiado, na verdade a informação
passa dos especuladores para o grande público, mas a diferença é que há uma
intertemporalidade, pois o especulador adquire a informação certa antes do grande público, o
que torna possível a realização da mais valia financeira.

Keynes cita no capítulo que “o conceito de entesouramento pode ser considerado como a
primeira aproximação do conceito de preferencia pela liquidez”. O entesouramento é
totalmente diferente da ideia neoclássica de poupança. O entesouramento não é o que se
deixa de consumir. A poupança, dentro da lógica neoclássica, permanece no circuito
econômico e serve para financiar o investimento. O entesouramento é uma quantidade de
moeda que sai do circuito econômico, chamado de moeda ociosa, pois sua função não consiste
em financiar o investimento, mas sim em se prevenir da incerteza.

Reforçando, no capítulo 14, Keynes elabora uma crítica da Teoria do Fundo de Empréstimos.
Neste ponto ele estabelece uma ruptura fundamental a teoria neoclássica, pois é a Teoria do
Fundo de Empréstimos que faz com que a demanda global seja igual a oferta global, para
qualquer nível da renda. A demanda global nesta teoria é numa lógica de gastos: os gastos
realizados ao título do consumo das famílias e a título do investimento. A oferta global é uma
lógica de distribuição de renda: a renda está sendo distribuída pelos diferentes agentes
econômicos. Dizer que poupança é igual a investimento a qualquer nível da renda faz com que
a demanda global seja igual a oferta global para qualquer nível da renda. Isto é uma das
manifestações de Lei de Say: a qualquer variação da oferta corresponde a uma variação igual
na demanda, ou seja, o sistema se ajusta a partir das variações iniciais da oferta. A oferta cria
sua demanda. Isso implica que a Teoria do Fundo de Empréstimos funciona da seguinte
maneira: existe um jogo de oferta e demanda, a oferta por fundos é a poupança, a demanda
por fundos é o investimento, e seja a oferta igual a demanda, a igualação se dá na posição que
determina uma taxa de juro natural. Existe uma determinação endógena da taxa de juro. Isso é
o fato em que Keynes refuta a Teoria e todos as modalidades de ajustamento da
macroeconomia neoclássica. Para Keynes o equilíbrio, a oferta igual a demanda, só existe para
um valor determinado do nível de produto, e não qualquer valor. O que explica que o
equilíbrio em Keynes seja associado ao desemprego involuntário, ao contrário dos
neoclássicos, que acreditam no ajustamento até se alcançar sempre o pleno emprego.

“É bastante claro, no entanto, que se considera a taxa de juro como o fator que equilibra a
demanda e investimento com a oferta para a poupança”. Keynes diz que o raciocínio
neoclássico só se pode aplicar quando a renda é dada. Renda é igual ao consumo mais a
poupança. Se a renda é dada, para aumentar a poupança vai ter que diminuir o consumo e
aumentar o investimento. Este aumento do investimento vai se traduzir por um aumento
futuro do consumo, consequentemente, dentro da lógica neoclássica, isso funciona, quando a
renda é dada, quando Y é constante. O aumento implica em uma escolha intertemporal do
consumo – se escolhe consumir menos hoje para financiar um investimento e consumir mais
no futuro – e a taxa de juros é que vai influenciar os agentes a realizarem uma poupança – a
taxa de juro é uma compensação a renunciar do consumo presente - determinação endógena
da taxa de juros. Para Keynes isso não faz sentido, pois isso funciona se a renda foi dada, mas
como o investimento aumenta, pelo multiplicador do investimento (d.Y = k.d.I), isso vai gerar
um aumento mais que proporcional da renda. Assim, para que o sistema neoclássico funcione
a renda tem que ser constante, mas o fato de financiar um investimento implica que haverá
um aumento do produto, então é impossível conciliar a existência do investimento junto com
o fato do nível da renda ser constante. A partir disto Keynes elabora sua critica Teoria do
Fundo de Empréstimos, e logo aos mecanismos que governa toda a macroeconomia
neoclássica.

Na teoria neoclássica o equilíbrio macroeconomia é representado por duas equações, do


investimento e diferença de eficiência marginal do capital e taxa de juro. A eficiência marginal
do capital vai medir as expectativas de retorno do investimento. Então a teoria do Keynes vai
comparar as expectativas de retorno do investimento com a taxa de juro, a medida que for
superior a zero haverá investimento. Por outro lado a poupança depende da renda. São duas
equações e três incógnitas, é preciso igualar o numero de equações com o numero de
incógnitas. A solução neoclássica para isto é de torar exógena Y, justificando que Y é
determinado na esfera real, e desse modo, e e r (taxa de juro) terão determinação endógenas.
Para Keynes o que é exógena é a taxa de juro, pois ela é determinada pela preferência pela
liquidez e esta pela avaliação que os agentes fazem da incerteza. Nisso, existe uma variação
uma variação endógena da variação da eficiência marginal do capital e do produto. Como a
taxa de juro, para Keynes, tem uma determinação monetária, variável determinante, existe
uma determinação monetária do produto via a determinação exógena da taxa de juro.

Por outro lado, em ambos os casos o equilíbrio se caracteriza pelo fato do investimento global
ser igual a poupança global. Mas para os neoclássicos o equilíbrio é com pleno emprego,
enquanto o equilíbrio keynesiano não corresponde sistematicamente a um equilíbrio com
pleno emprego, mas a um equilíbrio sem pleno emprego. Além disso, as modalidades de
ajustamento que permitem chegar a poupança global igual a demanda global são diferentes.
Para os neoclássicos, supondo que o investimento seja superior a demanda implica que haverá
um aumento da taxa de juro de tal maneira que a poupança aumenta e o investimento diminui
até novamente chegar a uma posição de equilíbrio, assim, o equilíbrio é realizado a partir de
uma variação da taxa de juro, ex-ante. Para Keynes, o equilíbrio é realizado ex-post a partir de
uma variação da renda, ou seja, existe uma variação do investimento que gera uma variação a
renda que gera uma variação da poupança obrigatoriamente iguala a variação inicial do
investimento, assim a poupança global ainda será igual ao investimento global. Isso mostra
que dentro do esquema keynesiano a poupança não pode financiar o investimento, pois a
poupança é o produto da variação da renda que se explica da variação real do investimento.
A poupança aparece depois do investimento, é realizado depois do investimento, não se pode
financiar um investimento hoje com um valor que vai aparecer no futuro.

Para Keynes, a variável determinante é a taxa de juro, com sua determinação exógena e é
esta que vai determinar a eficiência marginal do capital e do produto, e consequentemente,
o nível do emprego. Existe uma determinação monetária do produto, pois existe uma
determinação monetária da taxa e juro. O equilíbrio é realizado a partir de uma variação da
renda e dentro desse mecanismo a poupança não pode realizar o investimento.

Para os neoclássicos, a variável determinante é o produto, que é determinado na esfera real.


As variáveis determinadas são a taxa de juro e a eficiência marginal do capital. Assimilam a
eficiência marginal do capital com a produtividade marginal do capital, o que significa que
está havendo uma determinação real do produto, pois o produto, dento em vista a
neutralidade da moeda, é determinado na esfera real – a moeda tem nenhum impacto sobre
o produto. O equilíbrio é realizado a partir de uma variação da taxa de juro, o que remete a
uma determinação endógena da taxa de juro. Dentro desse esquema a poupança financia o
investimento.

No capítulo 2, Keynes diz sobre dois postulados da teoria neoclássica: “o salário igual ao
produto marginal do trabalho” e “a utilidade do salário quando o desemprego é determinado
pelo volume do trabalho é igual a desutilidade marginal desse mesmo volume de emprego”. O
primeiro postulado provem da maximização do lucro por parte dos empresários. Os
empresários vão aumentar a quantidade de trabalho até o custo marginal de trabalho (o
preço a ultima hora de trabalho empregado) se igualar com sua produtividade marginal. No
segundo postulado ele analisa os componentes da oferta de trabalho, dizendo como o
trabalhador vai maximizar sua utilidade, tendo em vista que o trabalho é visto como uma
desutilidade. O trabalhador vai aumentara quantidade de trabalho ofertada até a utilidade
marginal propiciada que ele vai obter se igualar com a desutilidade do trabalho. Assim,
Keynes diz que a medida que existe uma estrutura de concorrência pura e perfeita não pode
haver desemprego involuntário, os únicos desempregos que pode haver é o desemprego
voluntário ou o friccional. O desemprego voluntário é o fato do trabalhador se recusar a
trabalhar por um salário real que se definir no mercado de trabalho. O friccional é o
desemprego que provém do trabalhador que saiu do desemprego e logo ocupa outro cargo.
Estes são os dois únicos desempregos que são compatíveis com a teoria neoclássica.

Mas Keynes demostra que o sistema no equilíbrio haverá o desemprego involuntário, que é
determinado numa situação no qual a utilidade do salário real permanece superior a
desutilidade do trabalho. O trabalhador quer vender mais horas de trabalho, mas não tem a
demanda que corresponde a essa variação da oferta. Assim, existe o desemprego involuntário.

Outro fundamento da critica de Keynes é que dento a lógica neoclássica haveria uma igualação
entre a utilidade marginal do salário e a desutilidade do trabalho, mas no contrato de trabalho
o trabalhador não conhece, ex-ante, o seu salário real e a inflação que vai ter durante o
período coberto pelo contrato. Assim, para Keynes, o trabalhador não pode modificar sua
quantidade de trabalho cada vez que o nível dos preços varia diferentemente dos níveis dos
salários nominais. Desse modo, o trabalhador não pode igualar utilidade marginal da renda -
pois não sabe a quantidade de bens que vai comprar - com a desutilidade do trabalho.
O PRINCÍPIO DA DEMANDA EFETIVA

Capítulo dois - Demanda efetiva

No primeiro momento, Keynes vai enunciar os dois postulados da teoria neoclássica. O


primeiro é que o salário é igual ao produto marginal do trabalho. O segundo é a utilidade do
salário é igual a desutilidade marginal desse mesmo volume de emprego. No primeiro
postulado os empresários aumentam a demanda de trabalho até o custo marginal do trabalho
se igualar com sua produtividade marginal, Keynes aceita esse primeiro postulado. O segundo
se relaciona a oferta de trabalho; numa situação de pleno emprego, no sentido neoclássico, se
caracteriza pelo fato do assalariado ofertar trabalho até a utilidade marginal da renda que
provém da última hora de trabalho vendida se iguale com a desutilidade marginal do trabalho,
Keynes refuta esse postulado. Keynes vai explicar pelo fato de que a demanda efetiva é um
equilíbrio que não verifica uma situação de pleno emprego.

Na economia neoclássica são dois tipos desempregos que podem aparecer: o voluntário, em
que o trabalhador que se recusa a trabalhar por um salário real, definido pelo jogo da oferta e
demanda no mercado de trabalho, e o friccional, em que o trabalhador deixa o emprego e irá
encontrar outro - porém no momento em que se observa a situação do mercado de trabalho
ele está desempregado, é um desemprego temporário. Mas para Keynes existe no equilíbrio
um desemprego involuntário, em que a utilidade do salário é superior a desutilidade do
salário, ou seja, o trabalhador quer ofertar mais trabalho, mas não há demanda por trabalho
suficiente para absorver toda a oferta de trabalho. Assim, aceita o primeiro postulado e
refuta o segundo.

Assim, a teoria neoclássica, no que diz respeito a determinação da oferta de trabalho, que o
trabalhador iguala a utilidade marginal da renda com a desutilidade marginal do trabalho. No
raciocínio de Keynes quando está sendo realizado o contrato de trabalho, este é negociado em
termos nominais, salário nominal que está sendo determinado, e não o salário real (salário
nominal divido pelo índice geral dos preços, ou seja o poder de compra do salário). O
assalariado não pode haver uma determinação ex-ante do salário real, pois ele não consegue
prever a variação do índice geral dos preços que será vigente durante todo o período coberto
pelo contrato, as negociações são baseadas no salário nominal.

Novamente Keynes volta a refutar a posição neoclássica segundo a qual o aumento da


poupança obrigatoriamente implica uma diminuição atual do consumo para poder permitir um
consumo futuro. O fato de se abster de consumir hoje não quer dizer que o consumo futuro
será maior e não significa que a poupança financia obrigatoriamente o investimento. Aqui
reforça sua crítica a Teoria dos Fundos de Empréstimos, ou seja, as variações da oferta não
determinam para um mesmo valor as variações da demanda, o que significa uma das várias
objeções que Keynes faz a Lei de Say. A oferta não é igual a demanda para qualquer nível da
renda.
Ele conclui o capítulo dizendo que a teoria clássica depende das seguintes hipóteses: primeiro
de que o salário real é igual a desutilidade marginal do trabalho existente, ou seja, a ausência
de um desemprego involuntário; segundo não existe desemprego involuntário no seu sentido
restrito; o terceiro é que a oferta cria sua própria demanda, no sentido de que o preço de
demanda agregada é igual ao preço de oferta agregado para todos os níveis de produção e
emprego. Estas são as três hipóteses que Keynes refuta para criar uma teoria alternativa
baseada na sua concepção da demanda efetiva.

Capítulo três - Modalidades de elaboração da demanda efetiva

Quando Keynes constrói o princípio da demanda efetiva, nada tem relação com a curva de
demanda global no sentido neoclássico. O próprio termo demanda efetiva tem ambiguidade.
Há duas concepções possíveis do que é a demanda efetiva. Há a ideia de que a demanda
efetiva é a demanda real, mas aqui não é a demanda global.

Keynes explica o que é a demanda efetiva da seguinte maneira: primeiro existe uma primazia
nas decisões dos funcionários, o que determina o nível do emprego no longo prazo são os
investimentos realizados pelos empresários. As decisões tomadas pelos empresários são
baseadas em expectativas num ambiente baseado na incerteza, por isso que as expectativas
são frágeis no sentido de que elas não vão ser sistematicamente realizadas, mas mesmo assim
o único elemento disponível para os empresários analisarem se investem ou não são estas
expectativas. Assim, a única coisa efetiva nessa lógica são os gastos que os empresários
realizam em função de suas expectativas. Os gastos, no que diz respeito a uma modificação da
quantidade de trabalho empregada, são os gastos que se relacionam com as compram que
eles fazem para os outros empresários. Ou seja, a única coisa real são estes gastos realizados
baseados nas expectativas que são incertas.

Por isso que importa qual vai ser o impacto de uma política econômica. O impacto depende da
capacidade que tem essa política econômica para modificar as expectativas de longo prazo
dos empresários. Se está havendo uma modificação nas expectativas de longo prazo vai haver
uma modificação nos gastos efetivamente realizados pelos empresários.

O próprio principio da demanda efetiva é que vai determinar uma posição de equilíbrio, mas
sem haver uma igualação entre a oferta e a demanda. O que caracteriza a demanda efetiva de
Keynes e o que diferencia o equilíbrio macroeconômico keynesaino no equilíbrio neoclássico é
o fato de que neste último a demanda será igual a oferta e logo não haverá desemprego, já
para o equilíbrio de Keynes a demanda é igual a oferta, mas vai haver um excesso de oferta de
trabalho no mercado. Para os neoclássicos não existe racionamento, não há excesso de
oferta e demanda no equilíbrio, enquanto para Keynes no equilíbrio pode haver, no caso do
mercado de trabalho, excesso de oferta que explica a existência de um desemprego
involuntário.
Diferentes elementos que permitem elaborar a demanda efetiva

“Em determinada situação o emprego de certo volume de mão de obra impõe ao empresário
duas espécies de gasto. A primeira é o montante que para aos fatores de produção, fora
aqueles que pagam a outros empresário, que denominamos custos e fatores. A segunda são os
montantes que pagam aos outros empresários pelo o que eles compram justamente pelo
sacrifício que faz utilizando seu equipamento em vez de deixá-lo ocioso”.

O custo dos fatores de produção é o custo do trabalho. Por outro lado, o produto menos o
custo dos fatores menos os custo de uso é igual ao lucro. Então, todos empresários vão tentar
maximizar o lucro ligada as atividades de produção - na verdade vão maximizar as expectativas
de lucro, o que é diferente, pois o ponto da demanda efetiva não é o ponto no qual o lucro
realmente está sendo realizado, são as expectativas de lucro que correspondem a
maximização de lucro. Consequentemente, ponto de demanda efetiva corresponde ao ponto
no qual as exceptivas de lucro são maximizadas.

A primeira definição de Keynes é o preço, a função de oferta agregada. A oferta agregada


depende da quantidade de trabalho realizado. “É o produto esperado que é exatamente
suficiente para que os empresários consideram vantajoso oferecer o emprego em questão”.
Isso quer dizer que na verdade são as expectativas de lucro que vão fomentar o empresário a
investir, a implementar gasto em termo de trabalho e capital. A função da oferta agregada Z
representa todas as possibilidades de maximização do lucro, em função da quantidade de
trabalho.

A demanda agregada “é o produto que os empresários esperam receber do emprego”. Keynes


define duas funções a de oferta agregada e a de demanda agregada. A da oferta agregada
representa todas as expectativas de lucro pelos empresários, pelo fato deles implementarem
gastos em termo de trabalho e capital, para esse nivele de expectativa recente vai
corresponder a uma maximização de lucro. A demanda agregada é o que os empresários
esperam receber. Assim, o ponto de demanda efetiva é o ponto no qual as duas curvas se
cruzam, ou seja, o que os empesados esperam receber em termo de produto corresponde ao
valor que se eles desejam receber, por isso que haveria uma estabilidade. Corresponde a um
único nível efetivo de emprego.

Esse ponto é único, ou seja, a demanda efetiva corresponde a um único nível de produto. A
oferta é igual a demanda para um único nível de produto, enquanto para os neoclássicos a
demanda global é igual a oferta global para qualquer nível do produto, seguindo a Lei de Say.
Ceteris paribus, clausula em que se analisa um mecanismo considerando que todos os outros
mecanismos permanecem constantes. Com está clausula vemos por que equilíbrio,
representada pela demanda efetiva, apresenta uma estabilidade. Para Keynes não existe
motivo para haver um equilíbrio estável. Keynes no primeiro momento refuta toda teoria
neoclássica, por outro lado isso significa que ele tem que realizar está critica no mesmo nível
dos neoclássico, em que as teorias destes estão baseadas em todo um conceito de equilíbrio
que tem unicidade e estabilidade. Então Keynes se põe no mesmo nível destes, de equilíbrio
estável, para mostrar que a própria natureza do equilíbrio é diferente, que ele não é um
equilíbrio que corresponde sistematicamente ao pleno emprego. Ele faz um sistema dinâmico.

Outro ponto de diferença entre ambas teorias do equilíbrio é a de que Keynes apresenta o que
ponto de demanda efetiva é único, e pelo fato de ser único nada garante que a quantidade de
trabalho seja aquela que corresponde ao pleno emprego. Ou seja, a oferta agregada é igual a
demanda agregada para um nível de produto e para um nível de quantidade de trabalho
trocada no mercado, enquanto para os neoclássicos eles se igualam a qualquer nível do
produto, isso significa que o produto vai aumentar, a medida que haja uma situação de
concorrência pura e perfeita, até alcançar naturalmente a situação de pleno emprego. Para
Keynes só existe um ponto em função da inclinação respectiva das curvas - podem ser curvas
ou retas. A inclinação das curvas da oferta agregada e demanda agregada são tais que se
cruzam em apenas um ponto. A curva de oferta agregada tem essa inclinação, pois se relaciona
no longo prazo – o que diferencia o longo prazo do curto prazo é que na primeira tanto a
quantidade de trabalho quanto a quantidade de capital podem variar, enquanto no curto o
único fator que varia é o fator trabalho, o estoque de capital permanece constante -, além de
interpretar a curva de oferta agregada a partir de uma situação no qual os rendimentos de
escala são decrescentes. O rendimento de escala decrescente é caracterizado por se se
multiplica na função de produção o capital e o trabalho por alfa, o produto será multiplicado
por algo inferior a alfa. Isso significa que o produto cresce proporcionalmente menos do que a
quantidade dos fatores utilizadas, neste caso o capital e trabalho. A função de oferta agregada
representa todas as expectativas que maximizam o lucro, assim se está em escala descrente,
significa que o produto aumenta menos que a quantidade de trabalho e capital. Assim, para
manter as condições de maximização do lucro, as receitas tem que aumentar
proporcionalmente mais que os fatores de produção utilizada. Isso justificaria a inclinação da
curva que representa a oferta agregada.

A própria definição da curva de oferta agregada representa todas as expectativas que


correspondem a maximização do lucro. Todos os pontos da curva são expectativas do
empresário em maximizar o seu lucro, na verdade são as expectativas de lucro. Então por que
tem que ter essa inclinação? Pela seguinte razão: se o produto aumenta menos que a
quantidade de trabalho e a quantidade de capital utilizada, para manter as condições de
maximização do lucro, é necessário uma compensação pelo fato das receitas aumentarem
proporcionalmente mais que a quantidade de trabalho e capital utilizado, o que explica a
inclinação da curva de oferta. As expectativas de receita aumentam mais que a quantidade de
trabalho e capital utilizado. Se ao contrário os rendimentos de escala fossem decrescente a
curva de oferta agregada teria a mesma inclinação da curva de demanda agregada e
provavelmente jamais se cruzariam. Justamente Keynes coloca uma curva que se caracteriza
pelo fato dos rendimentos de escala serem decrescentes. Assim, para manter as condições de
maximização do lucro, as receitas esperadas precisam crescer proporcionalmente mais que a
quantidade de fatores, ao contrário não haveria a manutenção das expetativas de lucro, o que
está sendo representado pela inclinação da curva da oferta agregada.

A curva de demanda agregada é assimilada a lógica de curto prazo, ou seja, o único fator que
vária é o fator trabalho, o estoque de capital permanece constante. No primeiro postulado
da teoria neoclássica, que Keynes concorda, diz sobre a produtividade marginal decrescente.
Isso significa que, neste caso, o estoque de capital é constate e vai aumentar a quantidade de
trabalho, concluindo que a produtividade marginal do fator de produção variada vai ser
decrescente, assim, a produtividade marginal vai ser cada vez menor a medida que aumenta a
quantidade de trabalho aplicado. Isto faz com que na hora de elaborar suas expectativas, os
empresários vão incorporar esta lei da produtividade marginal decrescente, pois se mantém o
estoque de capital e aumenta a quantidade de trabalho aplicada, a produtividade marginal do
trabalho vai ser decrescente. Pela próprio inclinação da curva, a medida que a quantidade de
trabalho aumenta o produto aumenta cada vez menos.

Desse modo, é a partir justamente da justificativa das inclinações da curva que se explica por
que está havendo apenas um ponto de demanda efetiva. Considerando que tudo é medido
em termo de expectativa, o ponto de demanda efetiva é definido para Keynes quando cita
que “o volume de emprego é determinado pelo ponto de interação de demanda agregada e
função da oferta agregada”, ou seja, neste ponto que as expectativas de lucro dos
empresários serão maximizados. Para toda economia keynesiana, não se consegue maximizar
uma função, consegue elaborar uma expectativa de maximizaria o lucro, o lucro só é
maximizado na base das expectativas, porém concretamente isso não acontece, pois as
expectativas não se realizam sistematicamente e assim o lucro não é maximizado, mas sim as
expectativas de lucro.

→ Em Keynes não existe mercado de trabalho no sentido neoclássico, pois a quantidade de


trabalho não é determinado pela oferta e demanda de trabalho, além disso o que determina a
quantidade de trabalho efetivamente empregado são as expectativas dos empresários. Ou
seja, é a oferta de trabalho que vai determinar a quantidade de trabalho efetivo. Nada aqui
garante o pleno emprego. Existe uma primazia de quem determinada toda condição da
dinâmica em termo da variação do produto, em termo no nível de emprego, não são os
trabalhadores, mas os empresários na base dos investimentos realizados a partir das
expectativas de longo prazo.
Keynes considera que existe estabilidade no ponto de demanda efetiva quando as expectativas
dos empresários são constantes, ou seja, o fato das expectativas de longo prazo serem
constantes implica que haja estabilidade da curva de oferta agregada. Neste caso vai haver
convergência para o equilíbrio, pois, se por acaso, o sistema se situa a esquerda deste ponto,
os empresários vão aumentar a quantidade até chegar no ponto pelo qual as expectativas são
maximizadas; se o ponto se situa a direita vai haver o movimento contrário, os empresários
vão reduzir a quantidade de trabalho utilizado para voltar ao ponto. O equilíbrio tem
estabilidade quando a curva de oferta permanece constante, o que é o mesmo que afirmar
que as expectativas permanecem constantes. Repetindo, para determinada expectativa de
longo prazo existe apenas um ponto de equilíbrio com determinado produto e nível de
emprego.

Se as expectativas de longo prazo se modificam, vai haver uma modificação no ponto de


demanda efetiva. Se inicialmente o sistema está em um ponto de equilíbrio, mas se durante
este processo ocorre modificações nas expectativas de longo prazo, a própria posições de
equilíbrio no longo prazo vai se modificar, se deslocando no gráfico, assim como o equilíbrio da
demanda efetiva. O fundamental dentro dessa perspectiva são as expectativas de longo prazo.
Se as expectativas são constantes, há apenas um ponto de demanda efetiva, mas se as
expectativas se modificarem haverá modificação no ponto de demanda efetiva que
corresponde a tal nível de emprego.

Keynes raciocina isso em termo estático, pois se trata de um equilíbrio único, estável e
convergente. Ele trata isso em termo estática para se contrapor a toda teoria neoclássica, que
também raciocinam em termo estático. Mas na verdade esse equilíbrio dá para “relaxar” a
hipótese das expectativas de longo prazo constante e elaborar modelos dinâmicos. Tudo na
teoria geral é feito em termo de equilíbrio estático.

Isso traz um problema em termos de path dependence. Se por acaso as flutuações de curto
prazo modifica a posição de longo prazo, vai haver uma modificação da posição de equilíbrio
que o sistema vai alcançar. Por isso que Keynes não considera path dependence, pois para ele
a curva de oferta agregada permanece a mesma. Por isso que ele inventou a teoria do animal
spirit, que seria um choque que explicaria as mudanças das expectativas de longo prazo, que
seria a vontade irracional dos empresários de realizarem investimento (o professor não
concorda com isto, para ele dentro de uma perspectiva dinâmica, parte das expectativas de
longo prazo é determinada de uma maneira endógena, dentro do sistema).

Dentro dessa perspectiva, o curto prazo se caracteriza pelo estoque de capital ser constante e
pelo fato dos custos serem reversíveis – os empresários esperam o aumento da demanda, mas
não esperam se esse aumento vai permanecer, assim não vão aumentar o estoque de capital,
mas empregar hora extra. Se observam que a demanda volta ao seu nível anterior, mais baixo,
ocorre que eles vão deixar de utilizar hora extra por parte dos seus assalariados, ou seja, os
custos implementados são reversíveis - , assim não existe incerteza. No longo prazo se os
empresários observam que no curto prazo a demanda aumenta no inicio vão atender esse
aumento da demanda por meio de horas extra e depois, achando que esse aumento vai
permanecer, realizam investimento em capital. O que diferencia os custos de trabalho e os
custos de capital é que o primeiro pode ser em maior parte reversível, mas os custos de capital
são intrinsecamente irreversíveis. Por isso que existe incerteza no esquema keynesiano. A
incerteza se manifesta essencialmente no longo prazo pelo fato dos custos ligado ao capital
ser irreversível, enquanto a incerteza no curto prazo é desprezível. Existe incerteza por que
existe irreversibilidade – se pudesse se desfazer do que se fez não haveria incerteza. Por isso
que a incerteza keynesiana é diretamente ligada a irreversibilidade de custos ligado ao
investimento.

Resumidamente, a maneira como Keynes apresenta a demanda efetiva na teoria geral é um


abordagem estática, ou seja, o equilíbrio é único, com estabilidade e convergência. O ponto de
demanda emética é único, o que significa que a oferta global igual a demanda global em
apenas um ponto - isso não é verificado em todos os níveis de produto, mas apenas em um
que é determinado a partir das expectativas de longo prazo elaborado pelos empresários. Isso
mostra que o equilíbrio não é sistematicamente com pleno emprego, refutando a Lei de Say.
Além disso, Keynes enfatiza o papel das expectativas de longo prazo na determinação do
ponto de demanda efetiva. O ponto de demanda efetiva e consequentemente o nível do
produto real e do desemprego real depende diretamente das expectativas de longo prazo dos
empresários - se está havendo um deslocamento da demanda efetiva, haverá deslocamento
do nível de emprego. Isso ressalta também o problema da path dependence: dentro do
modelo apresentado na teoria geral o equilíbrio é estacionário, que é quando as expectativas
de curto prazo se modifica e a modificação dessas não geram modificações das expectativas de
longo prazo. Agora se pode relaxar o ceteris paribus e afirmar que as expectativas de longo
prazo são parcialmente determinadas pelas variações das expectativas de curto prazo. Por
exemplo, quando o empresário observa que a demanda aumenta nos primeiros meses, ele
mantem nesses primeiros meses o estoque de capital e depois investe; assim o curto prazo
determinou o longo prazo. Para o professor a argumentação de Keynes quanto ao animal spirt
é insatisfatória, pois toda teoria neoclássica afirma que o sistema determina naturalmente um
equilíbrio estável com convergência e unicidade, e qualquer afastamento em relação ao ponto
e equilíbrio, se deve a uma causa fora do sistema, uma variável endógena. Nesse caso, do
animal spirit, essa variável seria um choque psicológico, em que os empresários resolvem ser
otimistas ou pessimistas. Dentro do keynesianismo, a principal variável é o investimento
baseado nas expectativas de longo prazo. Assim, para o professor, se se quiser se opor a teoria
neoclássica não deveria utilizar a mesma metodologia de Say que gera instabilidade.
A FUNÇÃO DE INVESTIMENTO E A EFICIÊNCIA MARGINAL DO CAPITAL

No capítulo 11, Keynes vai definir a função de investimento a partir da comparação da


eficiência marginal do capital e pela taxa de juros. A análise de Keynes é feita pela análise dos
ativos, assim, a comparação eficiência marginal do capital e da taxa de juros é uma
comparação entre o retorno dos dois ativos. A eficiência marginal do capital mede as
expectativas de retorno do investimento produtivo e a taxa de juro mede o retorno de um
título financeiro do tipo obrigação. A medida que o retorno do ativo produtivo, ou seja, a
eficiência marginal do capital, for maior que a taxa de juro, isso significa que é mais
vantajoso realizar o investimento produtivo.

A partir disso Keynes define dois conceitos: o primeiro é o preço de oferta, “o preço de oferta
é o preço que bastaria para induzir o fabricante a produzir uma nova unidade suplementar
desse capital”, isto é aquilo que por vez se chama de custo de reposição. Um custo de posição
é: no período t será avaliado o valor desse capital, este valor não é o valor pelo qual o
investimento foi realizado, mas é o valor que esse capital vale em determinado período. Custo
de reposição é o valor do capital produtivo no período t+1.

Eficiência marginal do capital, “é a taxa de desconto que tornaria o valor presente do fluxo de
anuidade das rendas esperadas desse capital exatamente igual ao seu preço de oferta”. Isso
significa a relação 1 que diz que precisa igualar o preço de oferta – o custo de capital de
determinado período – com o conjunto das rendas, das receitas, dos retornos atualizados
desse mesmo capital. Isto parece a igualação do custo do marginal do capital, representado
pelo preço de oferta, e sua receitas marginais, porém é diferente, pois o preço de oferta é o
preço de reposição, e não o valor pelo qual o capital foi comprado, mas o valor que o capital
vale hoje, e a as receitas marginais, ligada ao investimento, são as expectativas de receitas
marginais, e não as receitas marginais efetivas. Assim, a partir disso, a eficiência marginal do
capital é aquele que corresponde a maximização do lucro esperado, a partir da relação 1.

Keynes define o preço de oferta é o preço de oferta corrente, ou seja, é o preço que vale esse
capital em determinado período do tempo, e não o preço pelo qual esse capital foi comprado.
Ou seja, quandoo capitalista compra hoje um capital e realiza o investimento, o preço de
oferta em t+1 não é igual ao preço que ele comprou o capital, no período t, mas sim o preço
que vale esse capital no período t+1, diferente do preço corrente. Quanto maior o preço de
oferta para expectativas de receita dada, menor será a eficiência marginal do capital.

O segundo conceito é o de preço da demanda. Este se relaciona diretamente com o que rende
uma obrigação. O preço de demanda é o conjunto das receitas ligadas a, por exemplo, um
título financeiro que rende x% e a ação das receitas e tudo isso atualizada a taxa de juros
corrente. A decisão de investimento se define da seguinte maneira: quando o preço de oferta
for superior ao preço de demanda, isso indica que a eficiência marginal do capital é inferior a
taxa de juros. Então, neste caso, o investimento produtivo não vai ser realizado. Ao contrário,
quando o preço de oferta é inferior ao preço de demanda, isso significa que a eficiência
marginal do capital é superior a taxa de juros. Então, neste caso, haverá o investimento
produtivo.

Desse modo, a partir dessas definições do preço de oferta e de demanda, a decisão de


investimento ocorre a partir de uma comparação da eficiência marginal do capital e da taxa de
juros. I = f (e - i).

Após, Keynes vai ressaltar uma relação inversa entre o volume do investimento realizado e a
eficiência marginal do capital (sua rentabilidade). Keynes diz “quando o investimento, em
dado tipo de capital, aumenta durante certo período, a eficiência marginal desse capital
diminui a medida que o investimento aumenta. Em parte por que a renda prospectiva baixará
conforme suba a oferta desse capital e em parte por que a pressão sobre as fábricas
produtoras desse capital causará novamente uma elevação do seu preço de oferta. Sendo que
o segundo desses fatores é geralmente o mais importante para estabelecer o equilíbrio no
curto prazo, embora quanto mais longo for o período que se considera, maior a importância
do primeiro fator”. Keynes quer dizer que o primeiro mecanismo ressaltado é que quando o
investimento aumenta, o volume do capital aumenta, a eficiência marginal do capital diminui.
Depois ele diferencia o curto prazo do longo prazo, dizendo que no curto prazo as expectativas
de receitas são dadas. Ocorre que a demanda por bens de capital vai aumentar, mas a curto
prazo a oferta de bens de capital não pode aumentar, as empresas não podem atender a esta
demanda. Desse modo, a oferta permanece constante, pois para este aumentar é preciso de
tempo para gerar os ajustamentos em termo de oferta. As expectativas permanecem
constantes. Assim, no curto prazo a demanda por bens de capital aumenta e oferta permanece
constante. Ou seja, no curto prazo a eficiência marginal do capital diminui em função do
aumento do preço de oferta do capital – a pressão dos empresários por parte da demanda por
esses bens. No longo prazo, está havendo equilíbrio, no seu nível mais baixo - o preço de
oferta é igual ao preço de demanda. O preço de oferta já abaixou, pois houve um aumento da
oferta dos bens de capital, o que gerou uma queda do preço de oferta desses bens de capital.
Por outro lado, Keynes diz que no longo prazo está havendo uma queda das expectativas de
receita ligada a este capital, pois vai haver mais empresa que ofertam esses bens, aumentando
a oferta e diminuindo as receitas ligada a esses novos investimentos. Neste caso é preciso que
ocorra uma queda na eficiência marginal do capital. Essa relação inversa é observada tanto no
curto quanto no longo prazo. Vai haver investimento enquanto eficiência marginal do capital
for maior que a taxa de juro, e haverá o investimento até o momento em que a eficiência
marginal do capital se igualar a taxa de juro, quando o retorno previsto do investimento
produtivo se iguala ao retorno do título financeiro.

Fazendo um paralelo com a Teoria da Renda Diferenciada de Ricardo. Ricardo considera que
está havendo várias qualidades de terra, Keynes considera que está havendo várias qualidades
de capital. Na sua teoria, Ricardo diz que no período t1 está havendo as terras de melhor
qualidade e de maior lucro. No momento t2 as terras de melhor qualidade se tornam escassas
e será preciso cultivar as terras de qualidade inferior e o lucro obtido pelas terras de melhor
qualidade será o mesmo produzido pelas terras de qualidade inferior, pois o lucro obtido nas
terras de melhor qualidade vai ser diminuído da renda, que é preciso pagar para alugar essas
terras. Isso significa, em referência ao valor do capital, que para Ricardo o valor do capital está
ligado ao lucro que este capital pode gerar. Então, o lucro que as terras de melhor qualidade
no período t1 é obrigatoriamente superior ao lucro que as terras de melhor qualidade vão
gerar no período t2, e assim, neste período haverá uma queda do lucro gerada pelas terras de
melhor qualidade. Desse modo, em Ricardo o valor do capital vai ter que ser reavaliado em
cada período.

Inicialmente, há o capital durante o período t1 e tem o capital de melhor qualidade – capital


que rende um melhor retorno. A eficiência marginal do capital vai diminuir a medida que o
investimento nesse tipo de capital aumenta. No período t2 vai ter que recorrer a um capital de
qualidade inferior, que gera uma taxa de lucro menor, além disso, o rendimento, a eficiência
marginal do capital no período t2 será o mesmo do período t1. A mesma coisa continua, com o
capital de qualidade inferior no período t3 e, como vai haver uma reavaliação do valor do
capital em cada período, o capital de qualidade 1 e 2 vão ter eficiência marginal do capital
menor e vai ser a mesma do capital de qualidade 3. Isso vai continuar até a eficiência marginal
do capital se igualar a taxa de juro e quando isto ocorrer não haverá mais investimento, pois,
caso haja o retorno do investimento produtivo, vai se tornar inferior ao retorno do título
financeiro.

Resumidamente, Keynes vai raciocinar para cada tipo de capital com determinada qualidade e
depois vai agregar tudo isso dizendo que a eficiência marginal do capital é geral e para poder
realizar essa agregação é preciso reavaliar o capital em todo período. Uma quantidade de
capital agregado a partir do momento em que tem qualidades diferentes o valor dessa
quantidade de capital não pode ser constante. Assim, para Keynes, no primeiro período o
investimento está sendo realizado no que diz respeito ao capital de melhor qualidade
Considerando a relação inversa entre o investimento e a eficiência marginal do capital, a
medida que o investimento realizado desse tipo de capital aumenta, a eficiência marginal do
capital vai diminuir até precisar utilizar capital de qualidade inferior. No segundo período vai
haver uma nova avaliação da eficiência marginal do capital de todas as qualidades. Neste
segundo período é preciso recorrer ao capital de qualidade inferior, ou seja, um capital que
possui eficiência marginal menor. O capital de qualidade 1 no período 2 vai ser igual a
eficiência marginal do capital do capital 2.

Isso significa que o valor do capital é determinada pelas expectativas de lucro que esse
capital vai propiciar para aquele que o compra. Assim, afirmar que esta havendo uma
reavaliação do capital em cada trabalho significa que o capital de cada período será
reavaliado em função das expectativas de longo prazo vigente naquele período. Por isso que
no inicio geralmente as expectativas de retorno são altas, mas a medida que o investimento
em capital para esse tipo de capital vai aumentando as expectativas de lucro vão diminuindo.
Isso vai ocorrer até a chegar no ponto em que é vantajoso explorar para gerar um
determinado lucro e a taxa de retorno for maior que a taxa e juros.

Assim, o nível da taxa de juro determina o último investimento rentável. A medida que está
havendo o aumento da taxa de juros, o investimento vai parar em um certo ponto
determinado pela taxa. E a medida que a taxa de juro diminui, o investimento, que não era
rentável com essa taxa de juros, será realizado na taxa de juros inferior. Essa é a explicação de
Keynes a função de investimento.

Resumindo, quando o investimento aumenta, há a queda da eficiência marginal do capital.


Obrigatoriamente, está havendo paralelamente uma reavaliação do valor do capital em cada
período, pois o valor do capital depende das expectativas de longo prazo ligada a esse capital e
com o aumento do investimento vai haver uma queda das expectativas de longo prazo, o que
faz com que cada período o valor de uma quantidade de capital é obrigatoriamente diferente,
assim, esse valor não pode ser constante. Para Keynes esse valor só poderia ser constante se
as expectativas fossem constantes, o que não acontece.

A partir disso se poderá explicar por que o sistema produz, de maneira endógena, flutuações
econômicas. Não é preciso invocar um choque exógeno para explicar as flutuações. Isto ocorre
pois haverá um excesso em investimento - a eficiência marginal do capital é superior a taxa de
juros, porém isso faz com que a eficiência marginal do capital diminua, se tornando inferior a
taxa de juros. Devido a esta queda, implica-se que vai haver investimento negativo, havendo
escassez do investimento. Depois dessa queda, há o aumento da eficiência marginal do capital.
A partir do momento em que a eficiência marginal do capital cresce, haverá também o
aumento do investimento. Como as variações do produto e do emprego são mais
proporcionais em relação ao investimento, isso gera as flutuações endógenas.

Keynes diferencia a produtividade física da produtividade de valor. Não é pelo fato de produzir
mais mercadorias com a mesma quantidade de fator que gera sistematicamente o aumento do
lucro, ou seja, as variações de quantidade física não corresponde a variações me valor.

As modalidades de ajustamento no equilíbrio macroeconômico Keynesiano

O que seria o multiplicador: há a propensão marginal a poupar que compara as variações da


poupança e as variações da renda. Ela é superior ou iguala zero e inferior a 1e aumenta em
função do nível de renda. A fórmula seria a variação do produto – e consequentemente do
emprego – é igual ao multiplicador pela variação do investimento. d.Y = 1/s.dI. Isso significa
que quanto maior a propensão marginal a poupar menor o multiplicador. Por isso que as
políticas macroeconômicas keynesianas consistem em redistribuir a renda de quem tem renda
mais alta para as de menor, pois a propensão marginal a consumir dos de renda menor será
maior e o efeito multiplicador será também maior.

A lógica do multiplicador keynesiano: a variação do investimento gera uma variação da renda,


e esta corresponde a uma variação no mesmo valor da poupança. Então se inicialmente o
investimento é igual a poupança, a partir do multiplicador as variações da poupança, vão ser
iguais aos valores das variações iniciais do investimento. Então, o equilíbrio entre investimento
e poupança vai permanecer. As implicações são de que, primeiro, o ajustamento entre
investimento e poupança se dá a partir de uma variação da renda e não a partir de uma
variação da taxa de juro. Outra consequência é de que o investimento não pode ser financiado
a partir de uma poupança prévia, pois a renda que vai gerar a poupança não existe no período
pelo qual o investimento está sendo realizado. Isto, pois, a poupança é o produto da realização
do investimento. Por outro lado, no capítulo 6, Keynes diz que a renda é o consumo mais o
investimento - a oferta iguala a demanda. Já a poupança é a renda menos o consumo. A
poupança ex-post tem que ser igual ao investimento. Keynes vai fazer uma concepção residual
da renda, em que os agentes podem decidir quando vão consumir no futuro, mas não podem
decidir quanto vão poupar, pois a poupança depende da renda futura e hoje. Quando os
agentes elaboram suas expectativas, num ambiente que se caracteriza pela incerteza, eles não
conhecem qual a renda futura. Assim, a poupança é o que sobra da renda tendo em vista que
não se conhece ex-post o valor dessa renda. Se o consumo for maior que a renda haverá uma
despoupança, poupança negativa.

No capítulo 7, diz que, apesar de tudo, o investimento pode ser diferente da poupança.
Quando a poupança é superior ao investimento, a taxa de lucro se torna inferior a taxa de
lucro normal. Isso gera uma queda do produto, característica de uma recessão. Quando um
investimento é superior a poupança, a taxa de lucro efetiva é superior a taxa de lucro normal,
o que gera um aumento do produto e uma fase de expansão.

1/s é o multiplicador, sendo que s é a propensão marginal a poupar, ou seja, a variação da


poupança dividido sobre a variação a renda. O ajustamento na macroeconomia keynesiana se
dá ex-post a partir de uma variação da poupança. Assim, diferente dos neoclássicos, o
ajustamento entre o investimento e poupança, para Keynes, se dá a partir de uma variação da
renda e não da variação da taxa de juros. Se inicialmente um sistema ex-post está em
equilíbrio, a partir dos efeitos do multiplicador, a variação do investimento é igual a variação
da poupança. A diferença do modelo neoclássico é que o modelo keynesiano é realizado ex-
post a partir de uma variação da renda, enquanto para os neoclássicos o equilíbrio é realizado
ex-ante a partir de uma variação da taxa de juros. Além disso, o equilíbrio macroeconômico
keynesiano não está associado sistematicamente por um equilíbrio que se caracteriza pelo
pleno emprego, ou seja, pela ausência do desemprego involuntário, já para o conceito
neoclássico o equilíbrio corresponde obrigatoriamente a uma situação com a ausência de
desemprego involuntário, com pleno emprego. Outra característica, para Keynes a poupança
não pode financiar o investimento, pois a poupança é um resultado do investimento, assim,
não tem como financiar o investimento com um valor que não existe no momento em que o
investimento está sendo realizado. Ademais, para Keynes, não pode haver decisão de
poupança, a única decisão que se relaciona com o futuro que os agentes podem tomar é a
decisão de consumo. Isto, pois, a poupança depende da renda real, renda efetiva, que hoje os
agentes não conhecem devido a incerteza. Por isso que se fala de uma concepção residual da
poupança, pois a poupança é o que sobra da renda uma vez que o consumo já foi efetuado.

No capítulo 7, é exposto a polemica entre Keynes e Roberson(?). Para Keynes, em certos casos,
pode haver desigualdade entre investimento global e poupança global – a renda de hoje igual
ao consumo de ontem mais o investimento de ontem, enquanto a poupança de hoje é igual a
renda de hoje menos o consumo. Se se combina essas duas relações há uma terceira relação,
que ressalta que quando está havendo a diminuição do consumo é gerada uma fase de
recessão, ou seja, numa diminuição do produto, e inversamente quando está havendo o
aumento do consumo é gerada uma fase de expansão do curto prazo. Numa obra anterior a
Teoria Geral, Keynes diz que um excesso de poupança em relação ao investimento faz com que
a taxa de lucro efetiva seja inferior a taxa de lucro normal. Isso gera uma queda da renda em
função de uma queda da eficiência marginal do capital. Da mesma maneira, quando está
havendo um excesso de investimento em relação a poupança, a taxa de lucro real é superior a
normal, o que gera um aumento da eficiência marginal do capital.

O professor questiona o fato da poupança global ser igual ao investimento global. Neste
modelo o professor divide a economia em dois setores. O setor 1 é o que produz os bens de
capital e o setor dois os bens de consumo. Conclui que o excesso de oferta no setor um menos
o excesso de demanda no setor dois é igual a diferença entre a poupança global e o
investimento global. Isso implica que se a poupança é sistematicamente igual ao investimento
- o excesso de oferta no setor um é sistematicamente igual ao excesso de oferta no setor dois,
ou seja, a poupança global permanece igual ao investimento global, o que significa uma das
inúmeras manifestações da Lei de Say, pois nesse caso pode haver desequilíbrio setoriais, mas
isso não se traduz por um desequilíbrio global, já que os excessos se compensam. Ao contrário,
se a poupança for superior ao investimento, nos voltamos a Keynes, em que a oferta global
será superior a demanda global, e neste caso haverá uma queda na renda. Se o investimento
for superior a poupança, a demanda global é superior a oferta global, o que se traduz numa
fase de expansão, no aumento do produto. Conclui-se que o fato do investimento sempre ser
igual a poupança, implica que haja estabilidade do equilíbrio macroeconômico, ou seja, a
poupança global permanece igual ao investimento global. Mas quando a poupança global é
diferente do investimento global, isso implica que haja instabilidade do equilíbrio
macroeconômico (equilíbrio aqui segundo como conceituado pela Lei de Say).

Toda análise é feita considerando que apenas os capitalistas poupam e os trabalhadores não,
pois gastam a totalidade da sua renda.

O investimento global depende dos das expectativas de lucros dos capitalistas, o que explica o
próprio conceito da eficiência marginal do capital. A poupança depende do lucro efetivo, do
lucro realizado, pois os capitalistas realizam lucro e parte deste serve para implementar os
gastos dos capitalistas e a outra parte para poupar. Assim, o investimento depende de um
lucro previsto e a poupança do lucro efetivo. Para os neoclássicos, não existe incerteza, desse
modo o lucro previsto é sistematicamente igual ao lucro realizado. Então, na verdade, para
eles, o investimento e poupança depende da mesma variável e isso gera uma igualação
sistemática entre ambos. Já para Keynes, existe incerteza, assim o lucro previsto não é igual
sistematicamente ao lucro realizado, o que significa que o investimento e a poupança
dependem de varáveis independentes. Isso implica que não haja sistematicamente igualação
entre investimento e poupança, o que se traduz numa instabilidade do equilíbrio
macroeconômico. Isso abre a possibilidade de construir modelos dinâmicos a partir de
elementos expostos na teoria geral.

A maior parte dos mecanismos que estão sendo elaborados por Keynes são feitos a partir de
uma perspectiva estática, a partir do equilíbrio estacionária. Este é o equilíbrio pelo qual as
variáveis de curto prazo podem se modificar, mas essas modificações não geram modificações
nas variáveis de longo prazo. Aqui, então, Keynes raciocina de maneira estática e não de
maneira dinâmica. Isto, pois, como já mencionado, Keynes quer refutar toda economia
neoclássica, antes de propor outra explicação, e essa teoria raciocina a partir do conceito de
equilíbrio de Marshall e Walras.

MULTIPLICADOR KEYNESIANO

capítulo 10 - O multiplicador keynesiano

Para Keynes uma variação do investimento corresponde por uma variação


proporcionalmente maior da renda. De fato não esta havendo uma relação linear entre o
aumento do produto e do emprego, por exemplo, se o aumento da demanda é dirigido para
um setor com intensidade capitalística alta, isso vai ter um impacto relativamente fraco sobre
o nível de emprego, mas se o aumento da demanda se dirige ao setor que tem um coeficiente
capitalística fraco, isso terá um impacto maior em termo de emprego.

O multiplicador o multiplicador seria d.Y = 1/s.dI, em que s ( propensão marginal a poupar) = 1-


c (propensão marginal a consumir). k = 1/s

Haveria uma lei psicológica que atua de tal maneira que c fosse superior ou igual a 0 e inferior
a um, assim, o consumo aumenta proporcionalmente menos que a renda. Aqui se trata do
multiplicador do investimento, pois a partir desta formulação de c, 1/s é obrigatoriamente
superior a 1, quer dizer que o aumento da renda e o aumento correspondente do emprego, é
proporcionalmente superior ao aumento inicial do investimento, por isso que há o efeito
multiplicador, já que as variações iniciais da do investimento e renda são mais que
proporcionais.

A qualquer variação do emprego implica uma variação proporcional na renda. “Se a propensão
marginal a consumir não está longe da unidade, as pequenas flutuações no investimento
provocaram grandes variações no emprego, e consequentemente na renda”. “O aumento
relativamente pequeno no investimento bastará para causar o pleno emprego”. É pelo fato do
multiplicador ser altíssimo, que uma variação inicial do investimento será muito alto.

Paradoxo da abundancia: Quando a renda aumenta haverá também um aumento da


propensão marginal a poupar e consequentemente uma diminuição da propensão marginal a
consumir. Isso se verifica empiricamente no nível de cada grupo social e isso se verifica no
nível da totalidade da coletividade: nos países com PIB per capita mais alta, a taxa de
poupança é maior do que nos países que possuem PIB per capita menor. O paradoxo da
abundancia se refere à abundancia que se caracteriza pelo fato do PIB per capita aumentar, e
quando isto ocorre se s aumenta, e quando s aumenta o multiplicador vai diminuir (o
multiplicador é 1/s). Por isso é um paradoxo, já que quanto mais rica uma sociedade, maior
tem que ser a variação do investimento para gerar uma mesma variação do produto e do
emprego. Então, consequentemente, vai ser cada vez mais difícil a medida que o PIB per capita
aumenta, de chegar perto do pleno emprego, em função justamente da diminuição da
propensão marginal a consumir e do aumento da propensão marginal e média a poupar. Numa
sociedade pobre, de PIB per capita baixa, a qualquer variação do investimento corresponde a
uma variação muito mais impactante do pleno emprego, então é muito mais fácil diminuir o
desemprego nesta sociedade. Mas a medida que essa sociedade vai se tornar cada vez mais
rica, uma mesma variação no investimento vai gerar uma variação cada vez menor em termos
de aumento da renda e emprego.

A lógica do multiplicador é o fato de que o ajustamento se dá a partir da quantidade – existe


um variação do investimento que gera uma variação no produto. Isso ocorre quando a
sociedade está abaixo do pleno emprego. Keynes quer dizer que quando o pleno emprego é
alcançado, qualquer aumento do investimento vai se traduzir por um ajustamento, variação
dos preços, e não por uma variação das quantidades, pois não há mais emprego disponível e
logo não há mais como aumentar a renda. Abaixo do pleno emprego, os ajustamentos em
relação a uma variação inicial dos gastos, do investimento, se traduzem justamente em termo
de quantidade ( quantidade quer dizer variação do produto e de emprego).

Keyens discute sobre o que os neoclássicos chamavam de Eviction effect. Supondo que o
investimento público / autônomo aumente, isso pode gerar o aumento da taxa de juros e logo
em uma queda do investimento privado. Pode ser que em nível global o aumento do
investimento público, ou o investimento autônomo, seja compensado pela queda do
investimento global. Assim, nesse caso, haveria um multiplicador igual, não haveria um efeito
multiplicador, já que os efeitos benéficos em termo de aumento do produto e renda ligada na
realização do investimento público seria compensadas pela queda do investimento privado.

Voltando sobre o paradoxo da abundancia, Keynes diz que numa conclusão paradoxal de que
uma comunidade pobre, poupando uma pequena parte de sua rena, está mais exposta a
flutuações violentas do que uma comunidade rica, na qual a poupança apresenta uma
propensão maior da renda e, portanto, o multiplicador é maior. Assim, a instabilidade
econômica é muito maior em uma comunidade pobre. Além disso, a partir deste paradoxo, é
muito provável que o sistema consiga alcançar o pleno emprego, pois quando muito pobre, o
impacto do multiplicador será muito alto, devido a propensão marginal a consumir e media a
consumir alta, mas a medida que o investimento está sendo realizado o PIB per capita
aumenta, e nisso a propensão media a consumir vai diminuir, o que vai reduzir o valor do
multiplicador. Assim para gerar a mesma progressão do produto e emprego precisaria investir
cada vez maior, pois o multiplicador esta cada vez mais diminuindo.

As politicas macroeconômicas keynesianas vão enfatizar o papel positivo do consumo sobre


o aumento da renda e o aumento do emprego. Essa é a razão pela qual as politicas
keynesianas consistem em redistribuir renda das populações mais ricas para a mais pobre,
pois quanto mais pobre o grupo social, maior a propensão marginal a consumir e maior o
multiplicado; e inversamente quanto menor a renda, menor a propensão marginal a consumir
e menor o multiplicador. Num país, numa coletividade, que se caracteriza por uma distribuição
de renda desigual, o efeito do multiplicador será fraco. Quando menor a desigualdade da
renda maior o efeito do multiplicador.
Um neoclássico raciocinaria isto a partir do ótimo de pareto. Numa situação em que está
havendo uma distribuição da renda desigual não se poderia analisar isso a partir do ótimo de
pareto, pois vai aumentar a utilidade dos mais pobres, mas vai diminuir a utilidade dos mais
ricos, quebrando a lógica do ótimo de pareto.

Sobre dívida pública, supondo que todo investimento píblico seja financiado pelo
endividamento – o Estado emite as obrigações públicas para financiar o investimento. Além
disso, as receitas fiscais, que são as receitas que voltam aos atores públicos, seja diretamente
proporcional as variações da renda – quanto maior o crescimento da renda, maior as receitas
fiscais. O multiplicador dirá que a variação da renda é proporcionalmente superior a variação
do investimento. K superior a 1. Mas isso significa que as receitas fiscais crescem mais que as
dividas inicialmente contratada. Ou seja, automaticamente haverá um desaparecimento da
divida, já que o Estado terá cada vez mais recursos para reembolsar o valor que foi
emprestado. Isso é um dos motivos para justificar o endividamento – em função do valor
especifico do multiplicador, essa divida vai desaparecer a medida que os recursos do Estado
crescem mais que os custos de cada divida. Esse mecanismo também pode ser utilizado pelas
empresas privadas. Isso só se torna possível quando não está havendo vazamento, como a
corrupção e a compra de ativo especulativo, que é um dinheiro público que não gera o
aumento do produto e do emprego em nível nacional. Mas se o investimento permite
aumentar a oferta de bens e serviços, isso vai gerar um aumento proporcionalmente maior do
produto e do emprego. Mas se o investimento público se traduz pelo aumento do consumo de
ativos financeiros, especulativos, para aumentar a oferta de ativo especulativo não se traduzirá
pelo aumento do produto nem do emprego. Outra forma de vazamento é o que está havendo
no setor externo: se aumenta a demanda com relação aos produtos importados, isso não irá
gerar beneficio para aquela coletividade.

Keynes e Kalecki vs economia da oferta (neoclássicos): os neoclássicos se baseiam em uma


economia analisando pelos custos. Keynes e Kalecki privilegiam os gastos, em que, a partir do
multiplicador, as receitas vão ser maiores que os gastos. Assim, se os gastos geram receitas
não faria sentido limitar os gastos, enquanto para os neoclássicos a diminuição dos gastos que
geram os aumentos das receitas.

No capítulo 5, Keynes diz que em todo esquema keynesiano existe uma defasagem entre as
atuações dos agentes: os custos são realizados hoje, com t, em função das expectativas de
receita. Além disso, existe incerteza, ou seja, pelo fato de haver incerteza as expectativas não
se realizam sistematicamente. Enquanto no esquema neoclássico tudo acontece no mesmo
período de tempo e não há incerteza, então é possível igualar custo marginal com receita
margina / produtividade marginal do capital. Já na economia keynesiana existe defasagem, os
custos se relacionam com t e as receitas do investimento com t+1, t+2,... Assim, na economia
keynesiana, não tem como efetivamente igualar custo marginal com a receita margina.

Dicotomia do curto prazo e longo prazo: o curto prazo se relaciona com uma situação em que
o estoque de capital é constante, o único fator que pode mudar é o fator trabalho – Marshal.
Enquanto o longo prazo se relaciona com uma situação na qual o estoque de capital varia.
Keynes considera aqui que o curto prazo se relaciona com custos reversíveis e o longo prazo
com custos irreversíveis. A incerteza keynesiana se explica a partir da irreversibilidade dos
gastos. Custos reversíveis implicam na ausência de incerteza. O investimento produtivo é um
custo irreversível, pois o empresário investe a partir de determinada expectativa de longo
prazo, que são elaboradas hoje. Se depois ele percebe que errou ele ainda terá que financiar o
investimento que realizou no passado. Não existe incerteza no curto prazo.

Além disso, pode haver o mecanismo de Past Dependence: as expectativas de curto prazo
podem gerar modificações das expectativas de longo prazo. Assim, as expectativas de longo
prazo são em parte determinadas pelas expectativas de curto prazo e a incerteza se manifesta
essencialmente no longo prazo pelo fato dos custos implementados no longo prazo, para o
investimento produtivo, serem irreversíveis.

“Os resultados efetivamente realizados na produção só terão influência no desemprego a


medida que modificam as expectativas subsequentes”. Uma politica macroeconomia aumenta
o produto, pois elas tem condições de mudar as expectativas de longo prazo influenciando os
empresários a decidirem investir.

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