Você está na página 1de 7

MÓDULO: HIGIENE DO TRABALHO IV

Belém, 24 de novembro de 2023.


Alunos:
Sérgio Murilo da Cunha Salimos-Matrícula: 202208109926
Claudio dos Santos costa-Matrícula: 202208554644
Professor: Augusto Gonçalves
Turma: Pós-graduação em engenharia de segurança do trabalho – 2022 2ª

Acidente de contaminação na cidade de Juarez no


México cobalto 60 em 1984

Cobalto-60: o elemento-chave da esterilização por radiação:

Cobalto-60 (60Co) é um isótopo radioativo sintético de cobalto com meia-vida de


5,2713 anos, é produzido artificialmente em reatores nucleares e sua produção industrial
deliberada depende da ativação de nêutrons de amostras a granel do isótopo de cobalto
monoisotópico e mononuclídeo 59Co. Quantidades mensuráveis também são produzidas como
subproduto da operação típica de uma usina nuclear e podem ser detectadas externamente
quando ocorrem vazamentos. Neste último caso (na ausência de cobalto adicionado), o produto
incidentalmente produzido de 60Co é em grande parte o resultado de múltiplos estágios de
ativação de nêutrons de isótopos de ferro nas estruturas de aço do reator através da criação
de seus 59Co precursores e o caso mais simples deste último resultaria da ativação de 58Fe.
60Co sofre decaimento beta para o isótopo estável níquel-60 (60Ni).

Um acidente de contaminação radioativa ocorreu em 1984 na Ciudad


Juárez, Chihuahua, México, originado de uma unidade de radioterapia comprada ilegalmente
por uma empresa médica privada e posteriormente desmontada por falta de um pessoal para
operá-la. O material radioativo, cobalto-60, foi parar em um ferro-velho, onde foi vendido para
fundições que inadvertidamente o fundiram com outros metais e produziram cerca de seis mil
toneladas de vergalhões contaminados. Estes foram distribuídos em 17 estados mexicanos e
várias cidades nos Estados Unidos. Estima-se que 4.000 pessoas foram expostas à radiação
como resultado deste acidente.

1. Acidente
• Eventos:

Em novembro de 1977, o Centro Médico de Especialidades, um hospital privado em


Ciudad Juárez, Chihuahua, comprou uma unidade de radioterapia Picker C-3000 contendo
aproximadamente 6000 pastilhas de cobalto-60 de 2,6 GBq cada, que haviam sido introduzidas
no México sem cumprir com os regulamentos atuais. O equipamento ficou guardado por quase
seis anos porque o hospital não tinha pessoal qualificado para operá-lo. Vicente Sotelo Alardín,
então funcionário do centro médico, desmantelou a unidade em 6 de dezembro de 1983 para
vendê-la como sucata no ferro-velho Fénix, a pedido do gerente de manutenção do hospital.
Sotelo havia desmontado o cabeçote da unidade radioativa e extraído um cilindro contendo a
fonte de cobalto-60. Ele então carregou o material em seu caminhão, onde perfurou o cilindro,
fazendo com que alguns grânulos de cobalto-60 se derramassem na carroceria do veículo. O
caminhão, agora contaminado pelo cobalto-60, posteriormente sofreu uma falha mecânica no
retorno de Sotelo do ferro-velho e permaneceu imóvel perto de sua casa em Ciudad Juárez por
40 dias.

Enquanto isso, no ferro-velho, o uso de eletroímãs para manuseio da sucata fez com
que os grânulos de cobalto-60 se espalhassem pelo pátio. Os grânulos finos foram atraídos
pelos campos magnéticos de outros guindastes eletromagnéticos no pátio e eventualmente
misturados com outros metais. Essa sucata radioativa foi enviada para duas fundições: a
Aceros de Chihuahua (Achisa), uma fábrica de vergalhões para construção na capital do
estado de Chihuahua City, e a maquiladora Falcón de Juárez, fabricante de bases de
mesa.[4] Estima-se que, em janeiro de 1984, já tivessem sido exportados para os Estados
Unidos e para o interior do México.

2. Causas:

• Detecção de material radioativo:

Em 16 de janeiro de 1984, um detector de radiação no Laboratório Nacional de Los


Alamos, localizado no Novo México, Estados Unidos, detectou a presença de radioatividade
nas proximidades. O detector disparou porque um caminhão com vergalhões produzidos pela
Achisa fez um desvio acidental e passou pelo portão de entrada e saída da área técnica do
LAMPF do laboratório. As autoridades dos EUA perceberam que o vergalhão acionou o alerta
e notificaram rapidamente a Comissão Nacional de Segurança e Salvaguardas Nucleares do
México (CNSNS) em 18 de janeiro. A CNSNS confirmou que ocorreu uma ampla dispersão de
material radioativo e ordenou que a Achisa suspendesse a distribuição de vergalhões
fabricados até que se verificasse que não estava contaminado. As autoridades mexicanas
também fecharam o ferro-velho.

Em 26 de janeiro de 1984, os funcionários da CNSNS detectaram um caminhão


abandonado emitindo níveis de radiação de até mil Roentgen por hora. Como o veículo estava
em uma área densamente povoada, foi rebocado por um guindaste até o Parque El Chamizal.
Tendo descoberto o veículo, o CNSNS conseguiu localizar Vicente Sotelo, que confirmou a
propriedade e esclareceu que trabalhava no Centro Médico de Especialidades.

Após uma investigação mais aprofundada, a CNSNS concluiu que, além do ferro-
velho Fénix, Achisa e Falcon, três outras empresas receberam material contaminado: Fundival,
localizada em Gómez Palacio, Durango; Alumetales, em Monterrey, Nuevo León; e Duracero,
na cidade de San Luis Potosí, San Luis Potosí. Estima-se que o material contaminado chegou
a 30.000 bases de mesa e 6.600 toneladas de vergalhões. A ativação de alarmes em um centro
de pesquisa nuclear no sudoeste dos Estados Unidos foi a primeira indicação de que algo
estava errado.

Na rodovia que passa pelo Laboratório Nacional de Los Alamos, no Novo México
(Estados Unidos), viajava em janeiro de 1984 um caminhão de carga que acionou os detectores
de radiação daquele local, onde foi fabricada a primeira bomba atômica.

Uma câmera externa ajudou a detectar que o veículo, que estava passando ali por
simples coincidência, tinha um alto nível de radiação. A investigação de sua origem chegou a
Ciudad Juárez, no México, onde inadvertidamente já estava em andamento o maior acidente
nuclear desse tipo nas Américas, dada a extensão que atingiria.

Embora não tenha comparação com a explosão de um reator nuclear, o episódio


passou a ser chamado de "Chernobyl Mexicano". A contaminação que causou no México
provoca comparações com o acidente na União Soviética, e o que aconteceu foi que milhares
de toneladas de haste de construção foram contaminadas com cobalto-60 e esse material foi
comercializado em 17 dos 32 estados do México, o outro grande acidente de radiação na
América Latina foi em 1987, em Goiânia, no Brasil, com césio-137, uma substância altamente
radioativa. Foram pelo menos quatro mortes e várias pessoas com doenças crônicas.

No caso do México, cerca de 4 mil pessoas tiveram algum grau de exposição, apesar
do número elevado, até o momento não há certeza de quantas vítimas com doenças de longa
duração o incidente de 1984 deixou e não houve acompanhamento pelas autoridades de saúde
das pessoas mais expostas. "(Houve) uma grande aberração no manuseio de material
radioativo", diz Gerardo Espinosa, físico da Universidade Nacional Autônoma do México, que
participou da investigação acadêmica do caso. Como mostra a documentação do caso, vários
foram os erros que geraram a crise de contaminação dessa magnitude.
• Compra inutilizada e não relatada:
Uma investigação pela Comissão Nacional de Segurança Nuclear e Salvaguardas
(CNSNS) publicada em 1985 descreve como a situação começou: Em 25 de novembro de
1977, o Centro Médico Especializado de Ciudad Juárez adquiriu uma unidade de tratamento
com cobalto-60 fabricada nos Estados Unidos. Embora sua importação exigisse licença, o
CNSNS afirma que o material "nunca foi notificado" às autoridades e, portanto, não era
autorizado. Ao mesmo tempo, o hospital nunca teve uma equipe treinada para utilizá-lo, por
isso o armazenou indefinidamente em um espaço da clínica onde "os requisitos mínimos" de
segurança não eram cumpridos, segundo a CNSNS."O cobalto é um material radioativo
produzido em reatores e é usado para aplicações em física médica, para radioterapia. Hoje os
hospitais continuam a usar cobalto-60 para pacientes com câncer", explica Espinosa.

3. Consequências

• Recuperação e limpeza do material radioativo:

A descontaminação começou em 20 de janeiro de 1984, dois dias após a CNSNS ter


sido notificada pelas autoridades americanas. Entre 8 de fevereiro e 14 de abril, foram
realizados trabalhos de localização e isolamento de material contaminado no ferro-velho Fénix.
Também foram realizados trabalhos de descontaminação nas fundições Achisa e Falcon nesse
período, além do rastreamento de carregamentos com vergalhões contaminados que foram
despachados para 17 estados mexicanos.

A CNSNS conseguiu recuperar 2.360 toneladas de vergalhões não utilizados. Foi


visitado mais de 17.000 edifícios suspeitos de terem sido construídos com vergalhões
contaminados e determinou que 814 estruturas precisariam ser demolidas devido a níveis
inaceitáveis de radiação. A CNSNS também conseguiu recuperar todas as 30.000 bases de
mesas contaminadas, além de cerca de 90% das mil toneladas de vergalhões contaminados
que haviam sido exportados para os Estados Unidos. No entanto, em junho de 1984, mais de
mil toneladas de vergalhões contaminados permaneciam desaparecidas, tendo sido
embarcadas para os estados de Chihuahua, Sonora, Sinaloa, Baja California, Baja California
Sur, Coahuila,NuevoLeón,SanLuis
Potosí, Guanajuato, Jalisco, Zacatecas, Tamaulipas, Querétaro, Durango e Hidalgo.

O trabalho de recuperação do vergalhão radioativo era mais complicado nesses


estados, cerca de 434 toneladas de vergalhões foram identificadas em Sonora, espalhadas por
todo o estado, inclusive na capital Hermosillo. 80 toneladas de vergalhões foram enviadas para
Hidalgo e distribuídas entre nove municípios, enquanto 42 toneladas foram recuperadas das
cidades de Zacatecas e Fresnillo em Zacatecas, nesses estados, centenas de cercas e casas
construídas com material contaminado tiveram que ser demolidas.
• Armazenamento de material radioativo:

Em fevereiro de 1984, a CNSNS identificou um local no deserto de Samalayuca para


a construção de um "cemitério" conhecido como La Piedrera para abrigar o material radioativo,
onde o vergalhão coletado em Chihuahua acabou sendo armazenado em setembro de 1984.
O material coletado em outras áreas foi armazenado em instalações em Maquixco, Estado do
México (70 toneladas) e Mexicali, Baja California (115 toneladas)

Segundo dados do CNSNS, 2.930 toneladas de vergalhões contaminados, 1.738


toneladas de metal não processado contaminado, 200 toneladas de bases de mesa metálicas,
1.950 toneladas de sucata contaminada, 860 toneladas de contêineres com outros materiais
contaminados e 29.191 toneladas de solo contaminado, escória e gesso foram armazenados
em La Piedrera.

Em 2001, um relatório do El Universal informou que 110 toneladas de resíduos


radioativos do incidente de Ciudad Juárez foram mantidas ao ar livre. O material ficou
armazenado na Sierra de Nombre de Dios entre 1985 e 1998, sendo então transferido para
Samalayuca, onde foi depositado sem a devida blindagem. [11] Em 2004, uma análise da
Universidade Nacional Autônoma do México revelou que os níveis de radiação em Samalayuca
ainda eram alarmantes e criticou fortemente o fato de os resíduos terem sido armazenados
sem medidas de contenção adequadas.

• Exposição da população:

De acordo com o relatório do CNSNS de 1985, cerca de quatro mil pessoas foram
expostas à radiação de cobalto-60 como resultado do incidente. Estima-se que quase 80 por
cento das pessoas receberam uma dose inferior a 500 mRem (equivalente a 0,005 Sv); 18 por
cento, entre 0,5 e 25 rems (0,005-0,25 Sv); e apenas dois por cento (cerca de 80 pessoas)
receberam doses superiores a 25 rems (0,25 Sv).

Destes, cinco pessoas receberam uma dose entre 300 e 700 rems (3-7 Sv) durante
um período de dois meses. O CNSNS também examinou os vizinhos de Vicente Sotelo,
determinando que três deles haviam recebido uma dose acima de 100 rems (1 Sv). [12] Para
comparação, a radiação média de fundo nos Estados Unidos é de 310 (0,003 Sv) mRem por
ano. Doses crônicas acima de 20 rem (0,2 Sv) aumentam o risco de câncer. Doses agudas de
500 rem (5 Sv) matam metade das pessoas afetadas sem tratamento médico. Doses crônicas
(recebidas por um longo período de tempo) são menos prejudiciais do que doses agudas.

4. Medidas Propostas:

O esforço contínuo de décadas da Cidade do México para combater a poluição do ar


oferece às cidades do mundo todo estratégias eficazes para melhorar a qualidade do ar.
Desde a década de 1990, o governo mexicano adota uma abordagem abrangente
chamada ProAire1, compreendendo programas sucessivos que reduziram o dióxido de carbono
e outros poluentes de maneira significativa. Os esforços da Cidade do México lhe renderam o
prêmio de qualidade do ar 2013 do Grupo C40 de Liderança Climática das Cidades 2. O grupo
é uma rede internacional de 75 megacidades que enfrentam problemas ambientais
semelhantes e colaboram em soluções.

As emissões de gases de efeito estufa dos automóveis e da indústria — monóxido de


carbono, dióxido de enxofre, óxidos de nitrogênio, ozônio — são as principais fontes de poluição
do ar na Cidade do México, junto com partículas microscópicas , essas partículas líquidas e
sólidas provenientes de emissões veiculares e industriais, combustão, fuligem e poeira são
difíceis de serem removidas da atmosfera e têm impacto letal na saúde humana.

A poluição é intensificada pela geografia, a área metropolitana da Cidade do México


engloba a cidade e estados e cidades vizinhos do Vale do México, cerca de 21 milhões de
pessoas vivem a 2.240 metros de altitude em uma planície cercada por montanhas, na cratera
de um antigo vulcão que retém emissões, menos oxigênio nessa altitude reduz a eficiência dos
motores dos veículos; portanto, eles liberam mais poluentes do que em outros lugares , e, para
piorar, o ar quente acima do vale, chamado de “camada de inversão 3”, também retém a
poluição. C40 é uma rede global de prefeitos das principais cidades do mundo que estão unidos
em ação para enfrentar a crise climática.
Próximos passos:

A infraestrutura verde agora inclui edifícios que “comem” a poluição. A fachada


revestida de dióxido de titânio deste hospital da Cidade do México cria uma reação química
quando exposta à luz do sol, tornando os poluentes menos malignos.

As novas estratégias do ProAire vão até 2020 e incluem o aumento das frotas verdes
do transporte municipal, com um novo Metrobús e o programa “Ecobici” de bicicletas
compartilhadas. O reflorestamento e a criação de áreas verdes ajudarão a limpar o ar, assim
como a energia renovável. E, para Velasco, a reestruturação da cidade, para que as pessoas
“moram mais perto de onde trabalham”, também ajudará.

Pesquisas mostram que as pessoas são grandes poluidoras, não muito atrás dos
veículos e das fábricas industriais. Educar as pessoas sobre como elas podem,
individualmente, reduzir a poluição do ar também será uma prioridade, segundo Velasco.

A menos que as estratégias sejam implementadas com rigor, “a coisa mais realista
que veremos será a qualidade do ar ficar como está. Não vai deteriorar, mas não vai melhorar”,
diz Velasco. Desenvolvimentos tecnológicos como combustíveis alternativos são parte da
solução; mas, segundo ele, para manter o ímpeto, “precisamos de ações bastante ousadas
agora”.

Você também pode gostar