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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Instituto de Filosofia e Teologia


Departamento de Teologia

Aluno: Bruno Pereira Matias


Disciplina: Mariologia
Prof.: Dr. Me. Evandro Campos Maria
8° período - manhã

DOGMA DA MATERNIDADE
O Dogma da Maternidade de Maria é uma crença central na fé católica que afirma que
Maria é verdadeiramente a Mãe de Deus (Theotokos). Num contexto de hegemonia cultural
religiosa entre Constantinopla e Alexandria este dogma foi formalmente definido no Concílio
de Éfeso, em 431 d.C., em resposta às controvérsias teológicas da época (BOFF, 2006, p.
330). Este dogma proclama que Maria gerou e deu à luz Jesus Cristo, que é simultaneamente
totalmente divino e totalmente humano, tornando Maria a Mãe de Deus.
Os próprios evangelistas deixam explícito que Maria era a Mãe de Deus, isso já era
claro em suas consciências: (Mc 6,3) mostra que o povo se referia a Jesus como filho de
Maria. (Mt 1,18) narrando a genealogia de Jesus chama Maria, sua mãe. (Lc 1,26-38) narra a
anunciação do anjo a Maria, mãe de Jesus e (Jo 2,1) diz diretamente, a mãe de Jesus
(MURAD, 2012, p. 135). Dito isso, o Dogma da Maternidade Divina de Maria enfatiza a
natureza dual de Jesus Cristo como Deus e homem. Esta união hipostática, como é conhecida
na teologia, é central para a compreensão cristã da redenção e da salvação. Acreditar que
Maria é a Mãe de Deus é afirmar a verdadeira divindade de Jesus, um princípio essencial do
cristianismo. Também, é reconhecer Maria como a perfeita discípula que ouve, medita e
frutifica a Palavra; a peregrina na fé; a mulher perseverante no amor de Jesus até a cruz, a
guia e mãe da comunidade.
O Dogma da Maternidade de Maria tem implicações profundas não apenas na
teologia, mas também nas questões sociais que permeiam a fé cristã. Ao reconhecer Maria
como a Mãe de Deus, a teologia católica destaca a importância da maternidade e da dignidade
da mulher, oferecendo uma lente através da qual as questões sociais relacionadas às mulheres
podem ser consideradas.
A doutrina da maternidade de Maria nos lembra da capacidade humana de dar à luz
não apenas fisicamente, mas também espiritualmente. “Podemos dizer que a maternidade
divina revela uma potencialidade humana radical: o fato de poder ‘gerar a Deus’ (BOFF,
2006, p. 334). Ela destaca que, assim como Maria acolheu o Filho de Deus em seu ventre, os
seres humanos podem gerar a presença de Deus em suas ações, palavras e pensamentos. Isso
nos leva a refletir sobre a importância de nutrir virtudes como bondade, generosidade e
compaixão, que são manifestações do divino em nosso mundo.
Além disso, essa doutrina nos convida a reconsiderar nossa compreensão do sagrado.
Em vez de ver o divino como algo distante e inatingível, o Dogma da Maternidade Divina de
Maria nos ensina que Deus pode habitar em meio à humanidade. Ele nos recorda que a
espiritualidade não está separada da vida cotidiana, mas está intrinsecamente entrelaçada com
nossas interações, nossas escolhas éticas e nossa busca pela verdade.
O sentido antropológico da maternidade de Maria transcende as fronteiras da fé e
ressoa profundamente com a experiência humana, independentemente do contexto cultural ou
religioso. A figura de Maria como mãe tem um significado antropológico universal, pois toca
em aspectos fundamentais da condição humana, da identidade, da conexão e da compaixão.
Agora, especificamente para a fé católica, nós somos acolhidos pelo batismo na comunidade
dos cristãos e a comunidade nos recebe como mãe. Assim, “a Igreja-mãe gera novos filhos
pela fé, pelo batismo e pelo amor solidário (MURAD, 2012, p. 140). Maria é vista como uma
mãe que compreende as dores e as alegrias de seus filhos, uma figura que oferece consolo nos
momentos de tristeza e celebração nos momentos de alegria. Esse aspecto da maternidade de
Maria ressoa com a necessidade humana de se sentir compreendido e amado, fortalecendo os
laços sociais e comunitários.
Outro ponto forte que vale ressaltar sobre o dogma da Theotokos se refere aos pobres.
Maria não pertencia uma classe social alta, pelo contrário era pobre, humilde e simples. Sua
história é parte do projeto salvífico de Deus. Podemos perceber claramente nas Escrituras
como que Deus faz uma opção preferencial pelos pobres. “Essa opção pertence ao coração do
Mistério de Deus mesmo, enquanto mistério de graça e amor. Ele se inclina sempre para o
mais fraco, a fim de revelar, desse modo, a sua força única (BOFF, 2006, p. 335). Quando
conectamos o dogma da maternidade de Maria com a opção preferencial pelos pobres,
encontramos um chamado profundo à compaixão e à ação. Maria, como mãe dos pobres, nos
inspira a ver o rosto de Cristo nos necessitados ao nosso redor.
“Como a pobre do Senhor, os pobres deste mundo também são o instrumento
privilegiado por meio dos quais Deus concede vida nova e salvação” (BOFF, 2006, p.335).
Maria nos ensina a acolher, a amar e a cuidar daqueles que vivem à margem da sociedade. Ao
imitar sua compaixão, os cristãos são instigados a se engajar em obras de caridade, a lutar por
políticas justas e a promover a dignidade humana para todos, independentemente de sua
condição social. Assim, a maternidade de Maria e a opção pelos pobres se entrelaçam em um
chamado universal à solidariedade. Reconhecendo Maria como mãe dos pobres, os cristãos
são desafiados a agir em favor dos menos afortunados, construindo um mundo onde o amor, a
compaixão e a justiça prevaleçam, tal como exemplificado na vida e no ensinamento de Jesus
e na ternura maternal de Maria.
A parte existencial do dogma da maternidade de Maria transcende as dimensões
teológicas e toca profundamente a experiência humana. Esse dogma não é apenas uma
afirmação doutrinal, mas também uma expressão da condição humana e da jornada espiritual
que todos enfrentamos, em especial a mulher, que hoje sobre inúmeras violências e atentados
contra suas vidas. “no Mistério de Maria encontramos a afirmação culminante e insuperável
da eminente dignidade da mulher. A pessoa que chegou ao grau supremo de realização
humana não é do gênero masculino, mas sim do gênero feminino” (BOFF, 2006, p. 336).
Maria se torna um símbolo da presença materna de Deus na vida de cada pessoa, oferecendo
conforto e esperança em meio às lutas e desafios da existência.
A maternidade de Maria ressoa de maneira poderosa no âmbito existencial, pois
representa a conexão fundamental entre a divindade e a humanidade. Ao conceber e dar à luz
o Filho de Deus, Maria experimentou a alegria e a dor da maternidade de uma maneira única.
Sua jornada como mãe não foi apenas um evento histórico, mas também um exemplo de
amor, sacrifício e entrega incondicional, aspectos inerentes à experiência existencial de todos
os pais.
Sendo assim, no cerne do dogma da maternidade de Maria está a mensagem de que,
através da maternidade de Maria, Deus escolheu entrar plenamente na condição humana. Essa
escolha divina valida e santifica a experiência humana, incluindo todas as alegrias, tristezas,
triunfos e desafios que enfrentamos ao longo de nossa jornada. Portanto, a parte existencial
desse dogma nos lembra que, em meio às complexidades da vida, somos amados, aceitos e
sustentados pela graça divina, personificada na figura de Maria, a Theotokos.

APRECIAÇÃO
Uma das principais apreciações do dogma da maternidade de Maria está relacionada à
compreensão da dignidade e do papel das mulheres na fé cristã. Maria, como a Mãe de Deus,
é vista como um modelo de virtude, humildade e fé. Ela representa a capacidade das mulheres
de desempenhar papéis significativos na história da salvação e na vida da Igreja. Esse dogma
também destaca a importância da maternidade e da família, reconhecendo o valor sagrado das
relações familiares e da responsabilidade dos pais na criação e educação de seus filhos.
Além disso, o dogma da maternidade de Maria ressalta a encarnação, um dos pilares
fundamentais da teologia cristã. A aceitação de Maria como Mãe de Deus enfatiza a crença de
que Deus se fez humano em Jesus Cristo, compartilhando plenamente nossa humanidade.
Esse mistério da fé fortalece a conexão espiritual entre Deus e a humanidade, proporcionando
conforto e esperança aos crentes, que veem em Maria não apenas uma figura histórica, mas
também uma intercessora celestial e uma mãe espiritual.
Estudar, compreender e rezar sobre este dogma da maternidade de Maria me fez
refletir e intensificar na minha vida algumas virtudes. Por exemplo, a obediência e a
humildade. Maria é um modelo de obediência à vontade de Deus e de humildade. A
compaixão e a esperança. Maria é vista como uma mãe compassiva que compreende as lutas e
desafios da vida humana. E por fim, sua relação íntima com Jesus. Maria nos desafia a
desenvolver uma relação mais profunda com seu Filho. Comtemplar sua maternidade,
lembramos também do amor divino manifestado em Jesus e isso nos incentiva a uma
aproximação mais íntima com Ele, tendo uma fé mais sólida e cheia de sentido.

REFERÊNCIAS
BOFF, Clodovis. Mariologia social: o significado da Virgem Maria para a Sociedade. São
Paulo: Paulus, 2006. p. 331-340

MURAD, Afonso Tadeu. Maria, toda de Deus e tão humana: compêndio de Mariologia.
São Paulo: Paulinas, 2012. p. 135-146.

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