Trata-se de um género satírico. Nas cantigas de maldizer, o trovador
troça das pessoas ou das ações de determinados indivíduos, em termos diretos e «a descoberto», nas cantigas de escárnio o poeta recorre ao duplo sentido das palavras, criticando e escarnecendo de alguém «per palavras cobertas». Esta crítica cai essencialmente na crítica individual e utiliza a ironia, o chiste e até a linguagem obscena com o intuito de ferir. É sempre uma voz masculina (o trovador) que faz uma crítica ou ao amor cortês ou aos costumes da sociedade, ou seja, falta de dotes poéticos de um trovador...
O ambiente é palaciano, da corte.
Recursos expressivos: -Ironia.
Sátira aos comportamentos da época, revelados de forma cómica.
Nota: Nas cantigas de Escárnio, a crítica é feita indiretamente, ou seja, a crítica
recai sobre um grupo social, como a nobreza, pode haver uma paródia ao amor cortês, referido nas Cantigas de Amor… Nas Cantigas de Maldizer, a crítica é direta, ou seja, o nome do alvo de crítica é referido.
Exemplo de Cantiga de Escárnio:
Ai, dona fea, fostes-vos queixar
Ai, dona fea, fostes-vos queixar
que vos nunca louv[o] em meu cantar; mais ora quero fazer um cantar em que vos loarei toda via; e vedes como vos quero loar: dona fea, velha e sandia!
Dona fea, se Deus mi perdom,
pois avedes[a] tam gram coraçom que vos eu loe, em esta razom vos quero já loar toda via; e vedes qual sera a loaçom: dona fea, velha e sandia! Dona fea, nunca vos eu loei em meu trobar, pero muito trobei; mais ora já um bom cantar farei, em que vos loarei toda via; e direi-vos como vos loarei: dona fea, velha e sandia!
Nesta cantiga de escárnio, é feita uma paródia ao amor cortês, pois o
trovador está a louvar a “senhor” , referindo que ela é feia, velha e louca, ao contrário das cantigas de amor, onde a “senhor” é um ser perfeito, dotado de virtudes.
Notas: 1. Variedade do sentimento amoroso
O amor é um tema presente de forma transversal em toda a literatura
portuguesa traduzida ao longo dos séculos. Tratado nas suas mais diversas vertentes, permite ao leitor não só contactar com a vivência do sentimento de um ponto de vista social, mas também uma reflexão em torno da sua dimensão individual.
Crítica nas cantigas de escárnio e maldizer
Estas composições abordam satiricamente uma grande variedade de temas e de situações individuais e coletivas, refletindo sobretudo a vida quotidiana da corte e o seu ambiente social, político, moral e cultural. Entre elas, encontramos a crítica a aspetos como: o amor cortês: a paródia das cantigas de amor denuncia a convencionalidade dos sentimentos e os traços estereotipados da “Senhor” os costumes: sátira de aspetos relacionados com a realidade social da época: decadência da nobreza, conflito entre o jogral e o trovador relacionados sobretudo com a falta de dotes poéticos ou artísticos do jogral.
Factos políticos e militares: ou aspetos relacionados com a
moralidade ou com agentes religiosos (frades, freiras…), entre muitos outros temas.