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Cantigas de escárnio e maldizer

São composições de caracter satírico em que eram tecidas criticas a alguém


de forma direta ou indireta. Tem por assunto, na sua maioria, certos aspetos
particulares da vida da corte e da boémia. Parodiam o amor cortes e as normas
socialmente instituídas.

Escárnio: Critica feita de forma encoberta, isto é, o nome dessa pessoa não
aparecia na cantiga, recorrendo ao duplo sentido ou ambiguidades. Não se
sabe o nome da dona que é criticada. Objetivo de criticar e ridicularizar. Nas
cantigas de escárnio eram cheias de ambiguidades, trocadilhos e jogos de
palavras, onde se destacam a ironia e o sarcasmo nas obras dos autores.

Maldizer: Critica aberta e diretamente uma pessoa ou um aspeto da realidade.


Nas cantigas de maldizer, os autores faziam criticas diretas, e nessas sátiras
chegavam a fazer uso de palavrões e agressões verbalizadas. As cantigas de
maldizer são mais agressivas. Nas cantigas de maldizer eram abordados
temas como a prostituição, o adultério, a imoralidade dos religiosos, entre
outros assuntos. Nesse tipo de cantiga, o nome da pessoa que era satirizada
poderia aparecer de maneira explicita e não se verificava o uso do duplo
sentido.

Essas composições satíricas circulavam por lugares públicos como feiras,


colheitas, tabernas, periferias urbanas, caracterizando uma literatura marginal,
mas, mesmo por isso, de importância histórica pelo registo social feito.
Cantiga de escárnio

Ai, dona fea, fostes-vos queixar

que vos nunca louv[o] em meu cantar;

mais ora quero fazer um cantar

em que vos loarei toda via;

e vedes como vos quero loar:

dona fea, velha e sandia!

Dona fea, se Deus mi pardon,

pois avedes [a]tam gran coraçon

que vos eu loe, em esta razon

vos quero ja loar toda via;

e vedes qual sera a loaçon:

dona fea, velha e sandia!

Dona fea, nunca vos eu loei

em meu trobar, pero muito trobei;

mais ora ja un bon cantar farei,

em que vos loarei toda via;

e direi-vos como vos loarei:

dona fea, velha e sandia!

mais ora (verso 3) – mas agora.

loarei (verso 4) – louvarei; elogiarei.


toda via (verso 4) – de qualquer modo.

sandia (verso 6) – louca; insensata.

[a]tam gram coraçom (verso 8) – tão grande desejo.

em esta razom (verso 9) – por este motivo.

pero (verso 14) – ainda que.

Sujeito poético: Trovador com uma atitude trocista


Alvo da critica: Mulher a quem falta beleza, mas que mesmo assim deseja ser
cantada.
Assunto/tema: Os dois primeiros versos, introduzem o assunto da cantiga. As
queixas da mulher por não ser louvada.
Louvor sarcástico: O sujeito poético pretende concretizar o desejo da dona,
louvando-a no seu cantar, mas ridiculariza por ela ser feia, velha e louca e
pretender, ainda assim, ser cantada.
Refrão: Destaque dos atributos negativos da mulher;
Sátira: Desta forma é ridicularizado o amor cortês. Realce das características
inversas a da “senhor”, aquelas que são enaltecidas nas cantigas de amor.

Estrutura formal:
Cantiga de refrão, ou seja, cantiga com verso repetido no final de cada estrofe.
Cada estrofe tem 6 versos, chamadas sextilhas.
Métrica: decassílabos, eneassilábicos e octossílabos.
Rima: Emparelhada nos três primeiros versos
e cruzada nos versos seguintes.
Modelo: aaabab/ cccbc/ dddbdb
Exemplo de cantiga de maldizer

Marinha, o teu folgar


tenho eu por desacertado,
e ando maravilhado de te não ver rebentar;
pois tapo com esta minha boca,
a tua boca, Marinha;
e com este nariz meu,
tapo eu, Marinha, o teu;

com as mãos tapo as orelhas,


os olhos e as sobrancelhas,
tapo-te ao primeiro sono;
com a minha **** o teu cono;
e como o não faz nenhum, com os ****** te tapo o cu.
E não rebentas, Marinha?

Diretas, sem equívocos: “ Marinha, o teu folgar”


Intenção difamatória: “E não rebentas, Marinha?”
Palavrões: “com os **** te tapo o cu”

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