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No coração de Matosinhos, um audaz explorador teve o azar de ser capturado por


uma tribo de canibais. Apesar de costumes muito primitivos, o chefe da tribo era uma
personagem extremamente lógica e decidiu dar ao explorador uma oportunidade de se
Sopa de
salvar. Para isso, o explorador deveria formular uma única frase: explorador
Se fosse verdadeira, seria posto dentro de um caldeirão para servir de ingrediente
de uma sopa; se fosse falsa, seria comido pelos leões.
O explorador sorriu. Falou. E seguiu o seu caminho, livre e não comido!

• Que frase terá dito o explorador para obrigar o chefe da tribo a libertá-lo?

“Vou ser comido pelos leões”.


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Num mundo estranho, mas estimulante, 1. e 2. são afirmações
verdadeiras.
Sendo assim, qual das seguintes afirmações está correta?

A. Alguns gatos de duas patas não brilham no escuro.

B. O meu gato, que tem duas patas, brilha no escuro.

C. Alguns gatos de duas patas brilham no escuro.

D. Todos os gatos de duas patas brilham no escuro.

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Crucial em Filosofia, porque não existem problemas definitivamente resolvidos.

Filosofar é discutir criticamente problemas, teorias e argumentos.

A lógica estuda a argumentação

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Uma proposição é o pensamento [V ou F], expresso de forma declarativa.

São proposições?
Será que o 10º ano vai correr bem? Não é uma proposição

O Asdrúbal perdeu a cabeça nas férias! Proposição

Não vou à praia… Proposição

Se gostas de comer maças, é melhor estares calado! Não é uma proposição, mas um conjunto delas!
É um argumento.
Ex. 1 p.26 5
Ex: Incolores ideias verdes dormem furiosamente.

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afirmam ou negam algo de forma absoluta e incondicional
1. Categóricas
sem admitir alternativas e sem estabelecer condições.

Envolvem a atribuição de um predicado [P] a um sujeito [S].

Qualidade das proposições categóricas:

a) Universal afirmativa Todos os professores de Filosofia são geniais.

b) Universal negativa Nenhum professor de Filosofia é feio.

c) Particular afirmativa Alguns professores de Filosofia são bonitos.

d) Particular negativa Alguns professores de Filosofia não são ricos.

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2. Condicionais estabelecem relações de consequência (ou implicação) entre proposições

Se sou português, então sou europeu.

Antecedente Consequente
Estabelece a condição suficiente Estabelece a condição necessária
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• Um bom argumento apresenta razões que Estudamos lógica para distinguir os bons
nos levam a aceitar uma conclusão. argumentos dos maus!

Tudo o que pensa existe. Proposições que justificam/sustentam a


Premissas
Eu penso. conclusão.

Conclusão Logo, existo. Aceitável [ou não!] conforme as premissas.

Quando as premissas fornecem boas razões para aceitarmos a conclusão,


estamos perante um bom argumento.

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Estudamos lógica para distinguir os bons
• Mas nem todos os argumentos são bons!
argumentos dos maus!

Tudo o que pensa existe.


Premissas Proposições que justificam/sustentam a conclusão.
O Asdrúbal não pensa!
Conclusão Logo, o Asdrúbal existe. Aceite (ou não!) conforme as premissas.

Com base nas premissas,


não podemos aceitar a conclusão.
[As premissas não suportam a conclusão] 11
Formulação explícita de argumentos
• Raramente encontramos argumentos claramente explícitos. Na linguagem natural, nem sempre identificamos imediatamente as
premissas e a conclusão de um argumento.

• Reconstituimos argumentos para os clarificarmos!

Chamamos formalização à
passagem do discurso
natural para a explicitação
das suas premissas e
conclusão.

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Formulação explícita de argumentos

Passos para reconstituir um argumento:

Quem apresenta o argumento quer


1. Identificar a conclusão do argumento.
convencer-nos a acreditar em quê?

Que razões apresenta o autor do argumento


2. Identificar as premissas do argumento.
para defender a sua conclusão?

3. Completar o argumento. Há alguma premissa implícita?

Apresentação do argumento sob forma:


4. Formular explicitamente o argumento P1
P2
P… 13
Logo,
Ontem a Manuela disse que Sócrates era mortal. Dizia ela que Sócrates,
personagem central dos diálogos de Platão e eminente filósofo grego, foi um
homem. Como a morte é característica de todos os homens, não podemos
considerar senão que Sócrates, eterno nas ideias, é, na verdade, mortal.

Formalização:

Todos os homens são mortais.


Premissas
Sócrates é homem.
Conclusão Logo, Sócrates é mortal.

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Argumento - 1

Argumento formalizado

Premissa 1 – Todos os apreciadores de cinema gostam do Matrix

Premissa 2 – A minha irmã adora cinema.

Conclusão – Logo, a minha irmã vai gostar do Matrix.

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Afinal, Deus não existe; pois, os animais e os seres humanos sofrem (em
resultado de processos naturais, como doenças e acidentes) e causam sofrimento
uns aos outros (magoamo-nos e ferimo-nos uns aos outros e matamo-nos uns
aos outros à fome). O mundo contém, pois, muito mal. Um deus omnipotente
poderia ter evitado este mal – e sem dúvida que um deus sumamente bom e
omnipotente o teria feito.
Richard Swinburne (1996), Será que Deus Existe?, Gradiva, Lisboa, p.109

Formaliza o argumento!

Se Deus existe, então não pode existir mal no mundo.


Existe mal no mundo.
A questão que agora se coloca é
Logo, Deus não existe.
saber se o argumento é bom ou mau!
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- O Asdrúbal está em Lisboa!
- Ah sim? Como sabes?
- Ora, é fácil! O Afonso disse que se o Asdrúbal está em Lisboa, então é porque não está em Espanha.
Ora, eu tenho a certeza de que ele não está em Espanha! Por isso, tem de estar em Lisboa.

Linguagem coloquial, quotidiana.

Formalizando:

Premissa 1: Se o Asdrúbal está em Lisboa, então não está em Espanha.


Será um
Premissa 2: O Asdrúbal não está em Espanha. argumento
convincente?
Conclusão: O Asdrúbal está em Lisboa.

O argumento não é bom, não convence. 17

O Asdrúbal pode estar em Leiria…


Recorrendo aos indicadores de conclusão, assinala as conclusões dos argumentos: Exercício

1. Não podemos permitir o aborto porque é o assassínio de um inocente.

2. Os artistas podem fazer o que muito bem entenderem. É por isso que é impossível definir a arte.

3. Uma vez que sem Deus tudo é permitido, é necessária a existência de Deus para fundamentar a moral e dar sentido à vida.

4. Se Sócrates fosse uma divindade, seria imortal. Mas, dado que não era imortal, não era uma divindade.

5. Não há justiça porque há quem seja muito mais rico que eu.

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1. Como todos os gatos são felinos e, além disso, todos os felinos são carnívoros, não há outra
hipótese: todos os gatos são carnívoros.

• Todos os gatos são felinos.


• Todos os felinos são carnívoros.
• Logo, todos os gatos são carnívoros.

2. Não é possível viajar no tempo porque, nesse caso, poderíamos alterar o passado. Mas não
podemos alterar o passado

• Se pudéssemos viajar no tempo, podíamos alterar o passado.


• Não podemos alterar o passado.
• Logo, não é possível viajar no tempo.

3. Porque é que tudo o que acontece tem uma causa? Porque todos os acontecimentos são
efeitos e não há efeitos sem causa.
• Todos os efeitos têm uma causa. 19
• Os acontecimentos são efeitos.
• Logo, os acontecimentos têm uma causa.
MUITO IMPORTANTE:
• A VALIDADE APENAS DIZ RESPEITO À RELAÇÃO ENTRE PREMISSAS E CONCLUSÃO DOS
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ARGUMENTOS!
• A validade não garante que a conclusão seja verdadeira.
Os argumentos podem ser:

• Válidos Quando as premissas são V e a conclusão é V.


Quando a conclusão se segue das premissas.

• Inválidos Quando as premissas são V e a conclusão é F.


Quando a conclusão não se segue das premissas.

É válido.
Porque é impossível que a premissa seja V e a
conclusão F.

É inválido.
▪ O CRISTIANO RONALDO JOGA NO UNITED. Porque, embora a premissa e a conclusão
LOGO, O MESSI JOGA NO PSG. sejam V, não há conexão entre premissa
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e
conclusão.
Os pinguins são pretos e brancos.

Alguns programas de TV antigos eram a preto e branco.

Logo, alguns pinguins são programas de TV antigos.

Será válido?

• Não!
• As premissas são verdadeiras, mas a conclusão é falsa.

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• O argumento é inválido.
• A conclusão não se segue da premissa.

SE A VIDA NÃO FOR SAGRADA, O ABORTO É PERMISSÍVEL.


• O argumento é válido.
MAS A VIDA É SAGRADA.
• Aceitando as premissas, temos de aceitar a conclusão.
LOGO, O ABORTO NÃO É PERMISSÍVEL.

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Um argumento válido pode ter uma conclusão falsa, desde que pelo menos uma das suas premissas seja falsa.

Premissas falsas
Premissas verdadeiras

Conclusão verdadeira Válido (ou inválido) Válido (ou inválido)

Conclusão falsa Inválido Válido (ou inválido)

Um argumento é válido quando a conclusão se segue das premissas.


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Até aqui, falamos sempre de argumentos dedutivos!

Argumento em que a verdade das premissas,


implica necessariamente a verdade da conclusão.

Um argumento é [dedutivamente] válido quando:


• É impossível ter todas as premissas verdadeiras e a conclusão falsa.

VÁLIDO E se as premissas forem falsas e a conclusão também?

Um argumento é válido quando


a conclusão se segue das premissas

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Se o Asdrúbal está na praia, então levou a toalha.

Ele levou a toalha. O argumento é válido?

Logo, está na praia.

A conclusão pode ser falsa! O Asdrúbal pode estar noutro sítio qualquer!
Se a conclusão for falsa, então uma das premissas também é.

Quando um argumento dedutivo válido tem uma conclusão


falsa, é porque pelo menos uma das premissas é Falsa.

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Todos os corvos observados até agora eram negros.

Logo, o corvo que encontrar amanhã será negro.

É apenas improvável que a premissa seja V e a conclusão F, mas não é impossível.

• Não se trata de um argumento dedutivo.

• É um argumento não-dedutivo.

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Relação entre os valores de verdade das premissas e da conclusão.

É possível que um argumento seja válido tendo premissas e conclusão F.


Só não podemos ter um argumento dedutivo válido com premissas V e conclusão F!

A erva é azul e Platão era francês.


Logo, a erva é azul.

• Argumento é dedutivamente válido porque se a premissa fosse V, a conclusão também seria.


• Não é [totalmente] impossível que a premissa seja V.
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Argumento só será inválido se a conclusão puder ser F mesmo que a premissa fosse V
Para isso precisamos de bons argumentos.

Além de válido, é importante que as premissas de um argumento


sejam verdadeiras.

Todos os animais ladram. É válido.


Os pardais são animais. A conclusão decorre das premissas.
Logo, os pardais ladram. Mas será bom?

O argumento não é bom, porque uma das premissas é F. 29


A validade de um argumento só nos informa sobre a correção da sua estrutura.

Além de válido, um [bom] argumento deve ter todas as premissas V

Se P, então não-Q. Se estás a ler isto, então não és analfabeto.


P. Tu estás a ler isto.
Então, não-Q. Logo, não és analfabeto.

• A forma lógica do argumento é correta.


Sólido
• Todas as premissas são verdadeiras.

Argumento válido com premissas verdadeiras. 30


Nem todos os argumentos sólidos são bons.

Além de verdadeiras, queremos que as premissas sejam plausíveis.

Se Deus é o dono da vida, então a pena de morte é errada.


Deus é o dono da vida. É um bom argumento?
Logo, a pena de morte é errada.

As premissas não são suficientemente fortes/persuasíveis para aceitarmos a conclusão.

Além de válido e de ter premissas V, queremos


que estas apoiem claramente a conclusão.
Argumento válido, com premissas V e
Um bom argumento é cogente.
persuasivas para qualquer ser racional.
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Argumento 1:
1. Se Deus é o dono da vida, então a pena de morte é
errada.
2. Deus é o dono da vida.
3. Logo, a pena de morte é errada.
• Um argumento é mais plausível do que outro se as suas
premissas tiverem mais força para as pessoas a quem se
dirige.
Argumento 2:
1. Se há pessoas que estão sujeitas a desigualdades pelas quais não são responsáveis, então merecem
ser compensadas através de ajudas proporcionadas pelo Estado.
2. Há pessoas que estão sujeitas a desigualdades pelas quais não são responsáveis.
3. Logo, essas pessoas merecem ser compensadas através de ajudas proporcionadas pelo Estado.

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• O 2ª argumento é mais convincente.


• PARA CONVENCER, NÃO BASTA QUE O ARGUMENTO SEJA SÓLIDO. NEM SEMPRE UM ARGUMENTO VÁLIDO É PERSUASIVO.

• PARA SER PERSUASIVO, UM ARGUMENTO DEVE SER APELATIVO ÀS PESSOAS A QUE SE DIRIGE.

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• Avalia o seguinte argumento e justifica a tua resposta:

1. Se só tivesse direitos quem tem deveres, os bebés não teriam direitos.

2. Mas os bebés têm direitos.

3. Logo, é falso que só tem direitos quem tem deveres.

Trata-se de um argumento cogente.


1. É válido
Tenho
direito a que 2. Tem premissas verdadeiras.
me chamem 3. Tem premissas mais plausíveis do que a conclusão
Asdrúbal!

O argumento dá boas razões para mudar de ideias e aceitar a conclusão.


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• Todos os peixes são mamíferos. Argumento válido, mas que não é sólido,
• Todas as baleias são peixes. porque contém uma premissa falsa.
• Logo, todas as baleias são mamíferos.

Argumento válido (é impossível que a premissa seja


• Aristóteles e Platão eram alemães.
V e a conclusão F)
• Logo, Aristóteles era alemão.
Mas não é sólido.

• Os frequentadores do café X bebem café.


• O Asdrúbal frequenta o café X. Argumento válido e sólido.
• Logo, o Asdrúbal bebe café. É impossível que as premissas sejam V e a conclusão
35 F.
O Luís não está em Paris porque está em Portugal.
Termo grego que significa
“o que já reside na mente”

Nem sempre explicitamos completamente o nosso raciocínio.


Tendemos a subentender informação.

1. O LUÍS ESTÁ EM PORTUGAL. Entimema


2. QUEM ESTÁ EM PARIS NÃO ESTÁ EM PORTUGAL. • Quando se suprime uma das premissas por se

3. LOGO, O LUÍS NÃO ESTÁ EM PARIS. considerar que é de conhecimento comum.

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O Asdrúbal e a Zibelina foram assaltados e sequestrados em Portimão. Foram vendados e colocados
na bagageira de um carro e transportados durante cerca de 40 minutos. Depois foram abandonados
num lugar deserto, coberto de neve. O Asdrúbal disse à Zibelina que estavam na serra de
Monchique. Como esta duvidou, o Asdrúbal apresentou-lhe o seguinte argumento:

Estamos na Serra de Monchique, pois, no Algarve só na Serra de Monchique neva. Ora, este campo
está coberto de neve.

No Algarve só neva na Serra de Monchique.

PERSUASIVO
[O tempo de viagem só permite que esteja no Algarve].
COGENTE
Este campo está coberto de neve.

Logo, estamos na Serra de Monchique.

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Exercício

Assinale o valor de verdade das seguintes afirmações:


1. F
a. Num argumento dedutivo a conclusão não pode ser falsa.
2. F
b. Num argumento dedutivo válido a conclusão não pode ser falsa.

c. Num argumento dedutivo válido com premissas V a conclusão não pode ser F. 3. V

d. A validade dedutiva não tem qualquer relação com a verdade. 4. F

e. Num argumento válido as premissas não podem ser F. 5. F

f. Todos os argumentos com conclusão V são válidos. 6. F

38
Exercício
Decida sobre a validade dos seguintes argumentos:

Alguns seres humanos são filósofos.


Inválido
Logo, todos os filósofos são seres humanos.

O Carlos não está em Paris, porque está em Portugal. Válido

Se Saramago era espanhol, então não era português.


Mas ele era português. Válido
Logo, não era espanhol.

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1. V
2. F
1. Um argumento sólido é bom.
2. Um argumento é cogente quando a conclusão é mais plausível que as premissas. 3. F
3. Um argumento pode ter mais que uma conclusão, mas apenas uma premissa. 4. F
4. Os argumentos são verdadeiros ou falsos; as proposições são válidas ou inválidas. 5. F
5. É impossível que um argumento tenha premissas e conclusão falsas e seja válido.
6. F
6. Um argumento sólido pode ser inválido.
7. F
7. Um argumento cogente não precisa de ser sólido.
8. Um argumento é inválido quando podemos ter premissas verdadeiras e conclusão falsa. 8. V
9. Num argumento válido, as premissas implicam necessariamente a conclusão. 9. V
10.O objetivo dos bons argumentos é a persuasão do interlocutor. 40
10.V
Determine se os seguintes argumentos são cogentes:

Não é cogente, porque não é sólido..

Não é cogente, porque a conclusão é falsa [é


inválido].

Não é cogente, porque a premissa não é mais plausível que a conclusão.

• Todos os médicos têm formação universitária 41

O Marco é médico
Cogente, embora seja um entimema.
Logo, O Marco tem formação universitária
O que torna válido um argumento?

Quando dizemos que um argumento é válido, estamos a


Forma lógica referir-nos à sua forma lógica.

Descoberta pela substituição dos conteúdos das proposições por letras proposicionais.

Se Deus existe, então não pode existir mal no mundo.

P Existe mal no mundo. Q


Logo, Deus não existe.

Se P, então não Q.
Q. Se a forma lógica for correta, o argumento é válido.
Forma lógica
Logo, não P. 42
Forma lógica

Se P, então não Q.
Q.
Logo, não P.

Se soubermos que fórmula lógica está correta, o conteúdo do argumento torna-se irrelevante.

Independentemente do conteúdo de P ou Q, o argumento será sempre válido.

Estudamos lógica para saber que formas lógicas são válidas.


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