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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE
SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CULTURAS POPULARES

ANDRÉ LUIZ SANTOS VALENÇA

O PAPEL DO ENSINO DE ARTE DIANTE DA QUEBRA DAS


CATEGORIA HIERARQUICA ENTRE O CULTO E O
POPULAR

SÃO CRISTÓVÃO/SE
2020
ANDRÉ LUIZ SANTOS VALENÇA

O PAPEL DO ENSINO DE ARTE DIANTE DA QUEBRA DAS


CATEGORIA HIERARQUICA ENTRE O CULTO E O POPULAR

Projeto de pesquisa apresentado à Comissão de Seleção


do Curso de Mestrado Acadêmico do programa de Pós-
Graduação Interdisciplinar em Culturas Populares –
Linha de Pesquisa2 – Culturas Populares: política,
memória e identidades.
Orientadora: Profª Dra.

SÃO CRISTÓVÃO/SE
2020
SUMÁRIO

RESUMO-------------------------------------------------------------------------------------------------00

INTRODUÇÃO------------------------------------------------------------------------------------------00

JUSTIFICATIVA----------------------------------------------------------------------------------------00

OBJETIVOS----------------------------------------------------------------------------------------------00

REVISÃO DE LITERATURA-------------------------------------------------------------------------00

REFERENCIAL TEÓRICO----------------------------------------------------------------------------00

METODOLOGIA----------------------------------------------------------------------------------------00

CRONOGRAMA----------------------------------------------------------------------------------------00

PROPOSTA DE ESCRITA DISSERTATIVA ------------------------------------------------------00

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS----------------------------------------------------------------00
RESUMO

O conhecimento artístico propicia ao ser humano entender a sua cultura e fazer um


intercâmbio com a cultura do outro. A imagem elemento constituinte do ensino de arte é uma
ferramenta poderosa de informação e construção simbológica cultural em que o ser humano
coloca significados desde de seus primórdios, porém é necessário saber interpretá-la de forma
crítica pois as campanhas publicitárias veiculadas nas mais diversas mídias, influenciam a
forma como o ser humano consome, comporta-se e pensa de forma a mudar estruturas
culturais e até mesmo classificar em fronteiras dicotômicas. Sendo assim, esta pesquisa
objetiva analisar de forma preliminar o papel da disciplina de arte perante a redução das
fronteiras entre as manifestações artísticas populares e culta. Para isso, durante o desenvolver
desta investigação será necessário: questionar as proposições sobre o problema, em seguida
pesquisa referências de autores que pudessem nortear e firmar um embasamento teórico sobre
as questões hierárquicas, educação artística, cultura popular, cultura culta e documento
normativos para a arte no ensino básico, em um momento final será comparado o papel do
professor conforme as orientações educacionais complementares aos parâmetros curriculares
nacionais (PCN+). linguagens, códigos e suas tecnologias, a base nacional comum curricular
e autores que se debruçam sobre o ensino de arte e a cultura popular.

Palavras-chave: Hierarquias. Educação. Cultura visual. Cultura popular.


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INTRODUÇÃO

Definir a cultura popular é complexo, o que devido a isso será necessário adotar um
significado amplo e que abarque diversos contextos socio culturais. Para isso, será
destrinchado o termo popular, segundo o livro “Introdução as culturas populares no Brasil”
dos autores Otávio Zucon e Geslline Giovan Braga (2013, p. 26) é designado pelo termo
“povo” que é uma vocábulo que não possui apenas um significado, em alguns momentos, esse
pode ser utilizado para conceituar a população de um país, já em outros parte das camadas
populares mais pobre ou o conjunto de trabalhadores e pequenos proprietários rurais e urbano.
Pode ser percebido que o conceito gira entorno das diferenças entre as classes sociais
populares, porém, nesse caso, é necessário entender que existem elementos que distinguem as
pessoas dentro das suas próprias classes sociais.

Ainda de acordo com os autores “O entendimento sobre o popular define-se com base
na concepção de diferença” (ZUCON; BRAGA, 2013, p. 26). Em virtude da singularidade e
peculiaridade existentes que distingui determinados grupos sociais como relações simbólicas,
os recursos técnicos materiais disponíveis para realizar a atividade e a maneira própria de
preparar determinado produto. Como exemplo os autores colocam grupos social como
pescadores, costureiros e operários e diz que cada um desses possui diversas características
que realizam durante sua atividade laboral. Ao mesmo tempo o autor menciona que é
necessário ter cuidado em categorizar uma cultura como popular ou de elite pois a cultura é
dinâmica e mutante.

Nesse sentido, é necessário mencionar, de acordo com o livro: “Introdução as culturas


populares no Brasil” que as estratificações categóricas, emergem a partir do momento em que
a expressão popular é aplicada ao termo cultura. Esta fragmentação origina-se dos Estados
Nacionais e transcorre na supervalorização do saber classificado como erudito, no qual é
proveniente das classes dominantes, em detrimento dessa mentalidade segregaria o
conhecimento das camas populares mais baixa são classificados como inculto e inferior,
ocasionando em um olha etnocêntrico (ZUCON; BRAGA, 2013, p. 24).

Consequentemente, causa uma postura etnocêntrica, na qual de acordo com o livro “O


que é Etnocentrismo” do autor Everardo P. Guimarães Rocha, “ é uma visão do mundo onde o
nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos ou outros são pensados e sentidos
através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência” (1984,
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p.06). Essa atitude propicia a gênese de conflitos sociais contra o que é diferente das suas
vivências ou práticas culturais.

O livro “Cultura um conceito antropológico” do autor Roque de Barros Laraia (1986,


p. 24), Coaduna com o pensamento do autor (ZUCON; BRAGA, 2013), mencionando que as
culturas foram estabelecidas em uma escala evolutiva em um processo discriminatório,
estabelecendo classificações hierárquicas de diferentes sociedades humanas, com
prerrogativas para a cultura europeia dominante

De acordo com o que foi visto anteriormente, pode-se ajuizar que existem formas
variadas de como as sociedades se organizam, engendrando múltiplas categorizações
culturais, um pensamento rígido e fixo não daria conta das formas de ver, pensar e do grande
número de disposições sociais em que as populações humanas se constituem. O “Plano
Setorial Para Culturas Populares” de dezembro de 2010, produzido pelo Ministério da Cultura
do Brasil, delineia que:

“Se pensarmos que a cultura serve como uma lente para ver e pensar, e que só se
consegue enxergar o mundo pela lente que se tem, a tendência é supervalorizar
nossa forma de ver. Ao fazer isso, é possível desvalorizarmos outras possibilidades
de enxergar o mundo, fixando nossa visão no centro de todas, como sendo a melhor,
a correta, a verdadeira, a real, a única possível.” (BRASIL, 2010, p.09)

Logo, o ser humano tende ver e pensar o mundo de modo diversificado, e, isso é algo
impressionante pois auxilia nas dificuldades vivenciadas em seu dia a dia. Mas, ao mesmo
tempo, a forma individual de observar o mundo, funciona, também, com contornos de
distanciamento, separação e desvalorização da cultura do outro. Por isso a finalidade da
pesquisa que aqui se esboça é entender que a educação e mais especificamente o ensino de
arte pode ser usado como ferramenta de compressão da diversidade cultural e valorização das
identidades locais.

Salienta-se ainda que, no livro “Invenção do Nordeste e outras Artes” do autor


Albuquerque JR. (2007), as imagens produzidas pela cultura visual como obras de arte
possuem significados e sentidos que reverberam no modo como a sociedade se vê, elas são
máquinas históricas de saber. Com isso, é necessário entender que as imagens são
representações que recebem contornos socioculturais individuais do seu autor, a interpretação
errônea dessas podem causar distanciamento e depreciação do outro. Assim, é imprescindível
pensar em uma escola que possa diminuir as fronteiras entre culto e popular nas diversas áreas
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do conhecimento. Consequentemente o projeto aqui exposto tem o papel de delinear um


estudo reflexivo sobre a redução das fronteiras dicotômicas entre o moderno e o tradicional
através do ensino de arte.

Em vista disso, os estudos que deveram ser delineados através deste projeto, tentarão
compreender qual é o papel e a função do ensino de arte diante da preservação identitária e
ampliação do repertório cultura e quais as prováveis práticas pedagógicas que o professor de
arte pode se utilizar para auxiliar no desenvolvimento de habilidades e competências nos
alunos para fomentar a diversidade cultural e o reconhecimento das complexas relações
culturais, com o intuito de dissolver as discriminações e preconceitos existentes entre cultura
erudita, popular e de massa.

JUSTIFICATIVA

Esta pesquisa parte de inquietações que tiveram sua gênese a partir de reflexões e
indagações. No ano de 2019, na realização da disciplina isolada Culturas Populares e
Linguagens Artísticas, realizada no programa de pós–graduação interdisciplinar em culturas
populares na Universidade Federal de Sergipe, no qual trouxe a oportunidade de observar e
compreender melhor sobre a articulação entre as linguagens artísticas e culturas populares de
forma a pensar sobre o papel da disciplina de arte perante a transmissão de conhecimento
dessas para o aluno.

A partir dessas intranquilidades com relação ao mundo da cultura popular e a sua


legitimação diante do que é dito culto nas diversas linguagens artísticas. Emergiram alguns
questionamentos sobre: qual o poder da imagem e da cultura visual perante a formação
identitária?, a dissolução da dicotomia existente entre culto e popular perante a disciplina de
arte e o que os alguns autores e documentos norteadores como PCN, Diretrizes e BNCC do
ensino médio expressão sobre as questões de cultura local e a quebra das categorias
hierárquicas entre culto e popular.

O projeto justifica sua viabilidade de execução pela originalidade do tema e por ser
uma investigação que possui a intenção de dar visibilidade as culturas populares locais dentro
do ensino de arte. De forma a valorizar as manifestações artísticas culturais local, nas diversas
linguagens artísticas e disseminar o conhecimento através de referências estéticas que partem
da memória e identidade da comunidade que cerca a escola coadunando também com a
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cultura produzida pela juventude contemporânea que é acessada através das redes de
informação.

A hipótese a ser tratada é que as culturas locais contribuem nos processos de ensino
artístico e na difusão e ampliação do repertório cultural, regional, nacional e global. Fazendo
com que os alunos percebam os processos cultuais; a diversidade, a pluralidade, a preservação
das culturas locais e suas identidades e memórias. De forma a articular esse conhecimento
com a cultura produzida nas redes de informação pela juventude na contemporaneidade.

Ao final da pesquisa, espera-se uma contribuição significativa, com uma produção


científica sobre a importância das culturas locais nos processos educacionais, que permeia o
ensino de arte, como elemento de dissolução dos preconceitos estéticos, artísticos, sociais e
econômico, de forma a provocar reflexão crítica sobre a relação entre cultura popular,
educação e arte no contexto educacional sergipano.

OBJETIVO GERAL

Mostrar as relações e distinções existentes entre a cultura popular, massa, erudita, de


forma a entender o papel do ensino de arte e da cultura visual na dissolução da hierarquização
entre alta e baixa cultura, considerando-a enquanto disseminadora do conhecimento sobre as
culturais locais e a preservação de suas identidades.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Demonstrar as relações hierárquicas dentro da cultura, disciplinas do ensino básico e


currículo de arte na educação básica.
 Inventariar as políticas públicas educacionais e de preservação do patrimônio cultural
popular, ponderando as relações entre os documentos normativos na ruptura das
relações de poder hierárquicas existentes na cultura.

 Entender de que forma o ensino de arte e a cultura visual pode ser uma ferramenta na
preservação da memória e identidade das culturas locais e a ampliação do repertório
cultural através dessa.
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REVISÃO DE LITERATURA

A disciplina de arte no ensino médio, de acordo com o livro “Orientações


Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN+). Linguagens,
Códigos e suas Tecnologias” (BRASIL, 2006, p.179), permite o acesso aos mais diversos
conhecimento artísticos e estéticos os quais são imprescindíveis para que o aluno compreenda
e interprete o mundo de forma consistente e crítica e tenha um desenvolvimento pessoal, o
qual que poderá auxiliar e promover a formação de sua identidade diante da sociedade que o
cerca de forma crítica.

Ainda conforme o livro citado acima, a arte é um conhecimento humano que articulam
sensibilidade, percepção e cognição. Através dela é possível entender significados estéticos,
técnicas de criação e comunicação sobre o mundo da cultura e da natureza.

É possível entender os significados intrínsecos nas diversas manifestações culturais e


artísticas, através do ato de observar, analisar e criar imagens, pode-se chegar à conclusão de
que o ensino da arte é um viés de aprendizagem sobre o mundo o qual o cerca.

Rossi (2009, p.09) em seu livro “Imagens que Falam: leitura da arte na escola”,
informa que a imagem tem um poder persuasivo, pois ela representa o mundo. Na atualidade
existem imagens por toda parte devido os avanços tecnológicos no modo de produção, as
crianças desde cedo interagem com a cultura visual através de videogame, computador e
smartphone, no qual encontram-se publicidades que moldam comportamentos e pensamentos.
Sendo assim, a autora defende uma educação capaz de analisar e criticar tais produções
imagéticas, de forma a propor uma leitura crítica e consciente a essas que pretendem impor
valores, ideias e comportamentos não elegíveis.

No texto “Currículo dentro e fora da escola: representações da arte na cultura visual” ,


inserido no livro “Arte/Educação Contemporânea: Consonâncias Internacionais”
(BARBOSA, organizadora, 2008, p.126) corrobora com ideias acima é mencionado que as
imagens são representações poderosas. Mas, é necessário perceber que essas carregam não
somente beleza estética e também significados que emergem através da interpretação da
relação entre o que é representado e sua representação. Ainda é mencionado no texto que, as
imagens publicitárias são carregadas de elementos políticos ideológicos e que, por meio delas,
são levadas mensagens sobre identidade, desejo e poder e se moldam a consciência de classe.
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O autor Burke (2004, p.16,17) em seu livro “Testemunho do Ocular: História e


Imagens”, coaduna com o pensamento dos textos citados acima, no sentido do potencial que a
imagem exerce sobre uma sociedade e também na forma de como ela pode ser vista e
imaginada através de suas imagens como esculturas, pinturas, publicidades, entre outros. Pois
essas produções imagéticas não estão livres da visão do autor e de suas expectativas e até
mesmo preconceitos, carregando assim apenas uma visão sobre os fatos registrados.

Sendo assim - articulando os pensamentos dos autores acima - pode-se chegar à


conclusão de que é necessário ter uma educação crítica voltada para o olhar sobre as imagens
do presente e do passado. De forma a entender que os registros imagéticos constroem
narrativas visuais e discursos que coadunam com a realidade de forma parcial.

Da mesma forma, o autor Albuquerque JR. (2007, p.38) indica que a imagem está
intimamente ligada ao ato de viver e que a definição de territórios e localidades culturais são
puramente imagéticos, essas são apreendidas através do contato social e da educação.

Tendo em vista o que foi mencionado acima, a disciplina de arte é uma grande aliada
na construção de uma educação crítica sobre o discurso da imagem. De acordo com Rossi
(2009, p.09) “Após décadas de ausência na escola, a imagem retorna para ocupar um lugar
central nas aulas de arte. Já é consenso a ideia de que todo aluno deve ter a oportunidade de
interpretar os símbolos da arte, pois a dimensão estética é constituída do potencial humano”.

Dessa forma, é necessário aumentar o arcabouço imagético dos educandos, para que os
mesmos construam uma interpretação de mundo amplo e múltiplo em várias direções,
compreendam que para além de absorver informações através das imagens, tem-se a
necessidade de produzir arte utilizando-se da articulação das linguagens artísticas e
manifestando a realidade local em que ele se insere de forma associada a cultura visual
regional, internacional e global.

No livro “Arte/Educação Contemporânea: Consonâncias Internacionais” (BARBOSA,


organizadora, 2008, p.137,138) é aludido que dentro do conhecimento artístico é necessário
que o educador esboce para o aluno várias formas de cultura visual, sendo esse, um aspecto
importante para a aprendizagem sobre a arte. As referências para o currículo da arte devem vir
de vários lugares, de dentro ou fora da escola.

Ainda com um olhar debruçado sobre o ensino de arte e sua importância para
formação crítica e integral do educando sobre a cultura visual, é necessário pensar em um
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direcionamento do olhar do aluno para as produções imagética globais, nacionais, regionais e


principalmente local. Sendo capaz de desfazer estereótipos imagéticos e amplificando o
conhecimento do aluno sobre a diversidade do discurso da imagem. Pode-se observar esse
caráter através do livro “Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN+). Linguagens, Códigos e suas Tecnologias” que profere sobre

Singularidade e diversidade: conceitos fundamentais para a pesquisa, o


reconhecimento e a análise dos fatores responsáveis pela diversidade e pela
individualidade de manifestações artísticas e concepções estéticas de diferentes
culturas, épocas e regiões. O estudo e a valorização da produção cultural de cada
região favorece a conscientização sobre o patrimônio natural e oç construído, além
de propiciar a fruição desse patrimônio e o respeito a ele. (BRASIL, 2006, p.188)

De acordo com o que foi discorrido, é necessário, na aula de arte, dar conta da
diversidade e das singularidades locais, para promover o aprendizado do aluno sobre a
produção artística imagética, de forma ampla e democrática. Destarte, é necessário legitimar
através da aula de arte, o modo de fazer e o discurso imagético dos setores populares, o livro
“Culturas Híbridas” pronuncia que:

O popular é nessa história o excluído : aqueles que não têm patrimônio ou não
conseguem que ele seja reconhecido e conservado; os artesãos que não chegam a ser
artistas, a individualizar-se, nem a participar do mercado de bens simbólicos
“legítimos”; os espectadores dos meios massivos que ficam de fora das universidade
e dos museus, “incapazes” de ler e olhar a alta cultura porque desconhecem a
história dos saberes e estilos.(CANCLIN, 2013, p.205)

Diante do que foi exposto acima, as camadas populares são excluídas do mercado dos
bens simbólicos, sendo renegadas apenas a espectador, de acordo com o sistema de ideias
dominante. Nesse sentido, a disciplina de arte deve ter a intenção de promover ao aluno a
formação da cultura identitária ampla, e, capaz de desfazer as relações de poder e
categorização hierárquica proferidas por Canclin (2013, p.205,206) existentes entre o
moderno e o tradicional; culto e popular; hegemônico e subalterno. Para isso é necessário
educar o olhar e abri-lo para uma cultura visual local, regional, nacional e global de forma a
proporcionar um conhecimento artístico plural.

A heterogeneidade é vista naquilo que o ser humano produz culturalmente desde o


surgimento das sociedades primitivas. Todavia, as ambuiguidades podem ser observadas em
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diversos períodos da história, mas segundo o livro “O que é Cultura Popular?”, escrito por
Arante (1990, p.13,14) essa se acentua nas sociedades industriais e capitalistas, na qual o
trabalho intelectual e manual são vistos como distintos e distantes. Havendo discrepâncias
entre salários, classes e a dissociação entre saber e fazer.

As percepções, constatadas acima, podem ser entendidas através das produções


artísticas brasileiras e consequentemente dentro do ensino de arte. No livro “Arte-Educação
no Brasil” da autora Barbosa ( 2009,p.152,153) é comentado que o preconceito contra a arte e
o seu ensino são reflexos históricos, que reverberam na sociedade brasileira, como exemplo
ela cita que no Brasil a arte no período barroco teve seus primeiros indícios no século XVI e
se prolongou até o século XIX, a produção desse estilo artístico, por sua vez, era
executada ,em sua maioria, por pessoas de origem popular e mestiços, sendo considerada
pelas camadas superiores da sociedade como algo feito por artesões.

Quando a missão artística francesa chega ao Brasil no século XIX, alguns


preconceitos, de ordem estética, foram instaurados, outros acentuados na produção artística e
no ensino de arte no Brasil. Com a implantação dos moldes nitidamente neoclássicos e
provenientes das academias de arte francesas foi acentuada as divisões dentro do campo
artístico, mesmo assim a arte clássica instaurada no Brasil ganha um caráter ornamental e é
vista como acessório na representação da aristocracia brasileira.

Ao comparar a produção artística visual com a literatura na sociedade daquela época,


nota-se que a segunda possui mais prestígio, assim pode-se observar que as atividades
consideras manuais eram renegadas e sofriam grande preconceito já as atividades
consideradas intelectuais possuíam notoriedade diante do corpo social.

Ao observa os parágrafos anteriores, pode se entender sobre como as manifestações


artísticas visuais sofriam um preconceito de ordem social devido ao seu caráter manual, sendo
subjugada diante das outras manifestações, pois ela no período colonial era praticada por
camada mais pobres e com menor prestígio dentro da organização social, esse contexto foi a
base que sustentou a construção da ideia e os reflexos sobre o ensino da disciplina arte no
ensino básico brasileiro.

Como resultado desse processo histórico sobre a disciplina arte os Parâmetros


Curriculares Nacionais -Arte (BRASIL, 1997, p.24) esboça o seguinte:
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Mas o lugar da arte na hierarquia das disciplinas escolares corresponde a um


desconhecimento sobre o poder da imagem, do som, do movimento e da percepção
estética como fontes de conhecimento e de simbolismo cultural. Até os anos 60,
existiam pouquíssimos cursos de formação de professores nesse campo, e
professores de quaisquer matérias ou pessoas com alguma habilidade na área
(artistas e estudiosos de cursos de belas-artes, de conservatórios, etc.) poderiam
assumir as disciplinas de Desenho, Desenho Geométrico, Artes Plásticas e Música.

Através de Duarte (1953) sobre a lei 5692/71 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação),
aponta que ela foi promulgada apenas com o objetivo de propagar o padrão de
desenvolvimento industrializado adotado pelo país. Embora a lei contemple algumas linhas ao
ensino de arte a matéria fica resumida a uma função meramente decorativa e manual, levando
a arte a ser encarada como distração, pois as disciplinas ditas “sérias” possuem maior
importância. De acordo com Fusari e Ferraz (1999) o currículo dessa época tinha em sua
concepção uma valorização tecnicista, no qual é observado que as atividades propostas em
sua maioria eram desvinculadas do saber artístico verdadeiro.

Ainda de acordo com as autoras, pode-se observar esse caráter desenvolvimentista e


tecnológico e a submissão da arte a função decorativa, em vários episódios da história do
ensino de arte no Brasil. Através do decreto de número 981, de 8 de novembro de 1890, que é
observado a inserção no ensino primário de disciplinas ligadas a área de arte como: Desenho,
Elementos de música; Trabalhos manuais (para os meninos) e Trabalhos de agulha (para as
meninas).

Para além da intangibilidade hierárquica existentes dentro do currículo escolar do


ensino básico, é necessário entender que a compartimentação nas relações entre superior e
inferior, permeia diversos campos da sociedade moderna e são mecânicos de perpetuação
através de discursos e narrativas engendradas nas práticas sociais e suas diversas
ramificações.

Nesse sentido será necessário de forma preliminar esboçar algumas considerações com
relação as ramificações inerente a cultura, de acordo com o livro “O que é indústria cultural”
do autor Teixeira Coelho (1993,p.8,9) é mencionado que existem três formas de
manifestações culturais a superior, a média e a de massa, no qual a primeira são todos os
produtos aprovado e legitimado pela crítica erudita como, o segundo é remetido ao universo
dos valores dos pequenos burgueses e o terceiro é aquilo que é produzido pela indústria
cultural.
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Mesmo esboçando uma definição introdutória sobre as ramificações culturais é


necessário entender que essa não é objetiva e nem definitiva, pois de acordo com o contexto
histórico e com os autores que se debruçaram sobre o assunto essa pode sofrer alterações
significativas, diante das sociedades e práticas sociais, as divisões culturais não são
categóricas, havendo absorção, articulação, junções apropriações e cada vez mais essas
tornam-se heterogêneas, porém ainda existe uma separação e fragmentação diante da
produção cultura no imaginário social entre erudito, popular e de massa .

Certamente de acordo com o que foi visto anteriormente, é necessário que o professor
de arte esteja atento a desmistificar essas ramificações culturais, através da valorização
daquilo que é produzido culturalmente pela comunidade local. De acordo com Duarte (1953,
p.70,71), um dos grandes problemas enfrentados pelo professor de arte diante dos alunos é o
emprego de demonstrações artísticas distantes do cotidiano o que dificulta a aprendizagem.
Para isso, é necessário lembrar o intuito maior da disciplina que é a expressão individual dos
valores, sentimentos e significações a partir da cultura local do indivíduo.

O professor de arte deve aguçar o olhar, no sentido de compreender as manifestações


artísticas culturais populares envoltas na atmosfera da escola em que ele está inserido,
ampliando o reportório cultural imagético através das experiências pessoais do aluno de forma
a construir uma valorização da sua identidade e o respeito a diversidade cultural.

Com relação a esse aspecto, Ana Mae Barbosa prescreve que o ensino de arte
amplia a capacidade crítica de analisar a realidade em que o indivíduo vivi, fazendo com que
esse possa mudar de maneira criativa. Ela ainda menciona que o conteúdo veiculado pela
produção artística permite relacionar com aspectos inerentes a arte e a outras áreas do
conhecimento, permitindo uma compreensão alargada dos aspectos sociais pois “Por meio da
Arte é possível desenvolver a percepção e a imaginação, apreender a realidade do meio
ambiente, desenvolver a capacidade crítica, permitindo ao indivíduo analisar a realidade
percebida e desenvolver a criatividade de maneira a mudar a realidade que foi
analisada.”(BARBOSA,2003,p.18).
Com relação a desenvolver no aluno uma percepção sobre a produção artística
cultural popular de sua localidade, de forma a promover o processo de forma identitária e
ampliar o seu repertório cultural a “Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio” em
sua competência específica de número dois da área de linguagens e suas tecnologias, discorre
que
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Compreender os processos identitários, conflitos e relações de poder que permeiam


as práticas sociais de linguagem, respeitar as diversidades, a pluralidade de ideias e
posições e atuar socialmente com base em princípios e valores assentados na
democracia, na igualdade e nos Direitos Humanos, exercitando a empatia, o diálogo,
a resolução de conflitos e a cooperação, e combatendo preconceitos de qualquer
natureza. (BRASIL,2017, p.481)

Na habilidade (EM13LGG203) “Analisar os diálogos e conflitos entre diversidades e


os processos de disputa por legitimidade nas práticas de linguagem e suas produções
(artísticas, corporais e verbais), presentes na cultura local e em outras culturas.”
(BRASIL,2017, p.484). Também é possível observar esse processo de buscar das referências
culturais locais, sendo assim como foi falado anteriormente, o professor deve estar preparado
para introduzir em suas aulas elementos culturais locais, no qual deve conter manifestações
culturais populares, posteriormente ampliar o repertório para a cultura regional, nacional e
global.

Em diversas habilidade e competências da área de linguagens e suas tecnologias,


contidas na BNCC do ensino médio, encontram-se termos como identidade, identitário,
cultura local, experiências individuais e pessoais aparecem para reforçar que dentro do
processo de ensino e aprendizagem das linguagens artísticas é necessário que o professor
possa buscar referências culturais nas experiências pessoais do aluno.

Para além dos termos citados acima, tem-se também as seguintes terminologias:
coletivos, heterogêneo, diversidade, pluralidade, outras culturas, regional e global. Esses
condizem com o pensamento dos autores citados acima, no sentido de focar na realidade
cultural local, no qual é necessário valorizar as manifestações culturais populares coletivas e
individuais do aluno e ampliar o conhecimento para outras culturas, de forma a desenvolver o
conhecimento sobre a diversidade e pluralidade cultural diminuindo os preconceitos e
estereótipos.

Fazendo com que o aluno reflita e entenda que as manifestações artísticas culturais
locais e individuais, possuem variadas influências engendradas através de outras culturas,
sendo assim o repertório individual é uma construção multicultural. O livro “Invenção do
Nordeste e outras Artes” o autor Albuquerque JR. (2007, p.38) menciona que a ideia de
identidade é superficial e que na verdade, falar em identidade nacional e regional é sintetizar,
abstrair e generalizar algo que é amplo e variado em que é vivido através de experiências
afetivas através da cultura.
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METODOLOGIA

O projeto de pesquisa aqui apresentado, procura estabelecer articulações entre o ensino


de arte e as culturas locais, de forma a proporcionar um engajamento da comunidade escolar.
Dessa forma, o texto que deverá ser apresentado ao final desta pesquisa poderá servir como
alternativa de reflexão sobre as metodologias de ensino e do currículo sergipano de arte no
ensino básico. Durante o desenvolvimento dessa investigação será seguido uma abordagem
metodológica que articula o quantitativo e o qualitativo, dentro de uma ótica descritiva,
indutiva e de observação que considera as particularidades dos fenômenos inerentes ao objeto
de estudo.

De acordo com Cervo (2007, p.29) “O método científico aproveita a observação, a


descrição, a comparação, a análise e a síntese, além dos processos mentais da dedução e
indução, comuns a todo tipo de investigação, quer experimental, quer racional”. Dessa forma
o trabalho obedecerá a procedimentos metodológicos sistemáticos de execução, no qual em
um primeiro momento será necessário reavaliar os questionamentos, proposições e problemas
elencados aqui. De forma a estabelecer ações investigativas para levantar hipóteses através da
pesquisa bibliográfica inicial, observando as principais referências sobre a referida temática
como: leis, normativas, planos, livros, artigos e outros diversos tipos de fontes de informação
que poderão nortear a pesquisa.

Em um segundo momento, no decorrer dessa pesquisa, será demonstrado de acordo


com as referências inventariadas as relações hierárquicas existente dentro da cultura, das
disciplinas do ensino básico e do currículo das disciplinas de arte. De forma a compreender
sobre essas classificações e hierarquizações e suas influências sobre os setores da cultura e da
educação.

Em um terceiro momento, de acordo com as políticas públicas do setor cultural e


educacional e os documentos normativos. Será feita analises e ponderações, com a finalidade
de averiguar dentro das informações documentais, sobre a valorização da cultura local e sua
identidade, simbologia e práticas sociais. No quarto momento, sobre uma ótica voltada para o
ensino de arte e da cultura visual, será averiguada de que forma a disciplina arte pode auxiliar
na preservação da identidade das culturas locais, de forma a possibilitar para o aluno
conhecimento sobre suas práticas culturais locais e também a ampliação do repertório
cultural.
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CRONOGRAMA

Atividades Período de Execução

2021.1 2021.2 2022.1 2022.2


Cumprimento de
créditos X X

Pesquisa de campo X
Realização de
entrevistas X
Aplicação de
questionários X
Análise e
interpretação dos X X
dados obtidos
Participação em
eventos na área X X X X
Construção da
Dissertação X X

Qualificação X
Defesa da
Dissertação X
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REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE JR, Durval Muniz de. A Invenção do Nordeste e outras Artes. 4ª ED.
Recife: FJN; ED. Massangana; São Paulo: Cortez, 2009.
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