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Universidade de São Paulo

Escola de Engenharia de São Carlos


Departamento de Engenharia de Estruturas

Notas de aula da disciplina SET0408 - Estruturas de Fundações

Elementos Estruturais de Fundações

Prof. Dr. Ricardo Carrazedo

São Carlos, 2022


APRESENTAÇÃO

Esta apostila, intitulada “Elementos Estruturais de Fundações”, foi originalmente elaborada pelo
Prof. Dr. Ricardo Carrazedo, com o auxílio do doutorando Diogo Silva de Oliveira. O texto original
foi revisado pelos colaboradores Profa. Dra. Alessandra Lorenzetti de Castro, Prof. Dr. Libânio
Miranda Pinheiro, doutorandos Gustavo de Miranda Saleme Gidrão, Mariana Lavagnolli Rossi e
Paula de Oliveira Ribeiro.

Elementos Estruturais de Fundações


SUMÁRIO

1 Introdução ........................................................................................................................ 1
2 Tipos de fundação............................................................................................................ 2
2.1 Fundações superficiais............................................................................................. 2
2.1.1 Sapatas .............................................................................................................................. 2
2.1.2 Blocos de fundação ........................................................................................................... 4
2.1.3 Radiers ............................................................................................................................... 4
2.2 Fundações profundas............................................................................................... 5
2.2.1 Tubulões ............................................................................................................................ 5
2.2.2 Estacas .............................................................................................................................. 7
2.2.3 Blocos sobre estacas ou tubulões ................................................................................... 10
2.3 Escolha da fundação .............................................................................................. 11
2.4 Esforços na fundação............................................................................................. 12
2.4.1 Dimensionamento geotécnico da fundação..................................................................... 12
2.4.2 Dimensionamento dos elementos estruturais.................................................................. 12
2.5 Materiais e critérios de detalhamento e durabilidade ............................................. 14
3 Referências .................................................................................................................... 16

Elementos Estruturais de Fundações


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1 Introdução

O projeto de uma fundação envolve dois processos de dimensionamento distintos. O primeiro


deles está relacionado ao dimensionamento da fundação do ponto de vista do projeto
geotécnico e/ou geológico, definindo capacidade portante da fundação e a previsão dos
recalques. Esse projeto deve ser realizado seguindo as recomendações da NBR 6122:2019
(ABNT, 2019).

O segundo processo trata do dimensionamento dos elementos estruturais presentes nessa


fundação, que podem ser elementos de concreto simples, armado ou protendido, aço ou
madeira, devendo ser consultadas as referências normativas pertinentes conforme o material
empregado. No caso do dimensionamento de elementos estruturais de concreto armado,
assunto ao qual este texto se propõe apresentar, o projeto é realizado de acordo com as
recomendações da NBR 6118:2014 (ABNT, 2014).

Elementos Estruturais de Fundações


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2 Tipos de fundação

As estruturas de fundações podem ser divididas em dois grupos básicos: as fundações


superficiais e as fundações profundas, como descrito a seguir.

2.1 Fundações superficiais

De acordo com a definição da NBR 6122:2019 (ABNT, 2019), nos elementos estruturais de
fundação superficiais a carga é transmitida diretamente ao terreno pelas tensões distribuídas
sob a base da fundação. Esse esquema estrutural é possível quando as camadas superficiais
do solo são resistentes o bastante para resistir às tensões impostas pela fundação. Como
critério de geometria, nas fundações superficiais a profundidade de assentamento em relação
à superfície do terreno adjacente é inferior a duas vezes a menor dimensão em planta da
fundação. Neste tipo de fundação incluem-se as sapatas, blocos e radiers.

2.1.1 Sapatas

As sapatas são elementos de fundação superficial em concreto armado, dimensionados de


modo que as tensões de tração resultantes sejam resistidas pelo emprego de barras de aço,
desprezando-se a resistência à tração do concreto. Existem basicamente quatro tipos de
sapatas: isoladas, corridas, associadas e de divisa.

2.1.1.1 Sapatas isoladas

As sapatas isoladas são aquelas que servem de apoio para apenas um pilar (Figura 2.1).
Podem ter base circular, quadrada ou retangular, e a altura pode ser constante ou variável
(“chanfrada” ou em “degraus”).

(a) (b) (c) (d)


Figura 2.1 - Tipos de sapata isolada: (a) base quadrada e altura “chanfrada”; (b) base quadrada e altura
constante; (c) base quadrada e altura em “degraus” e (d) base circular e altura chanfrada

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2.1.1.2 Sapatas corridas

As sapatas corridas são aquelas sujeitas a uma força linearmente distribuída, como,por
exemplo, quando a sapata serve de apoio para uma parede ou muro (Figura 2.2). É uma
solução muito utilizada em edifícios de paredes estruturais, pois se aproveita a disposição das
cargas linearmente distribuídas.

Figura 2.2 - Sapata corrida sob parede de alvenaria

2.1.1.3 Sapatas associadas

As sapatas associadas são aquelas comuns a dois ou mais pilares (Figura 2.3). Esta solução
estrutural pode ser utilizada quando os pilares são muito próximos, caso em que as sapatas
isoladas iriam se sobrepor. É comum utilizar uma viga de rigidez para distribuir linearmente
na sapata as forças pontuais provenientes dos pilares. Neste caso a sapata passa a ter o
comportamento estrutural semelhante ao de uma sapata corrida.

Figura 2.3 - Sapata associada com viga de rigidez

2.1.1.4 Sapatas de divisa

As sapatas de divisa são necessárias em situações nas quais o pilar está muito próximo à
divisa do terreno, impossibilitando a localização do pilar no centro da sapata. Por conta dessa
excentricidade, surgem momentos fletores e forças cortantes que precisam ser absorvidos
por uma viga de equilíbrio que se une a um pilar interno, como mostrado na Figura 2.4.

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Figura 2.4 - Sapata de divisa com viga de equilíbrio

2.1.2 Blocos de fundação

Os blocos de fundação constituem elementos de concreto simples. Diferentes das sapatas,


os blocos possuem maior altura, fazendo com que o espraiamento das tensões acarrete em
menores valores de tensões de tração na porção inferior do bloco. Por serem menores, essas
tensões acabam sendo resistidas pelo próprio concreto, sem a necessidade de
armaduras.Assim como as sapatas, os blocos podem ter altura constante ou variável
(“chanfrada” ou em degraus), como mostrado na Figura 2.5. Por conta do grande volume de
concreto, os blocos de fundação se tornaram uma solução estrutural pouco utilizada.

(a) (b) (c)


Figura 2.5 - Bloco de fundação: (a) bloco de base quadrada e altura “chanfrada”; (b) bloco de base quadrada e
altura constante e (c) bloco de base quadrada e altura com “degraus”

2.1.3 Radiers

Os radiers são lajes que servem de suporte para as paredes ou pilares de uma estrutura,
distribuindo os carregamentos no solo. Assim como as sapatas corridas, o radier é uma
solução bastante utilizada em edificações de paredes estruturais por conta da distribuição
linear das cargas. Na situação de radier sob pilares, é possível utilizar vigas ou capitéis para
auxiliar na distribuição das cargas pontuais dos pilares para o radier, como mostrado na Figura
2.6.

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(a)

(b) (c)
Figura 2.6 - Radier: (a) sob paredes de alvenaria estrutural; (b) sob pilares com vigas de distribuição e (c) sob
pilares com capitéis.

2.2 Fundações profundas

A NBR 6122:2019 (ABNT, 2019) classifica como elementos de fundação profunda aqueles
em que a transmissão da carga ao terreno é feita pela base (resistência de ponta) e/ou
superfície lateral (resistência de fuste), devendo sua ponta ou base estar assentada em
profundidade superior a oito vezes a sua menor dimensão em planta e, no mínimo, 3,0 m.

Esta solução estrutural é necessária quando as camadas superficiais do solo não têm
resistência suficiente para resistir às cargas provenientes da estrutura, situação comum em
edifícios de múltiplos pavimentos e obras de grande porte. Neste tipo de fundação incluem-se
os tubulões e as estacas.

2.2.1 Tubulões

Os tubulões são construídos por meio da concretagem de um poço aberto no terreno, que
pode ter as paredes revestidas ou não. A base do tubulão pode ser alargada, com forma
circular (Figura 2.7) ou de falsa elipse (parte central retangular associada a dois semicírculos
nas extremidades). O mecanismo resistente se dá pela resistência de ponta. Diferenciam-se
das estacas porque em pelo menos na sua etapa final há a descida de um operário para
completar a geometria da escavação, fazer a limpeza e inspeção do solo. Para que isso seja
possível, o diâmetro mínimo do fuste precisa ser de pelo menos 70 cm. Deve-se evitar o
emprego de tubulões em solos arenosos por conta do risco de desabamento.

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Figura 2.7 - Tubulão com base alargada circular

Os tubulões dividem-se em dois tipos básicos: a céu aberto (normalmente sem revestimento)
e a ar comprimido (Figura 2.8). Os tubulões a ar comprimido são sempre revestidos, e esse
revestimento pode ser constituído por um anel de concreto armado ou de aço (metálico). Esse
anel também é conhecido como camisa, que pode ser recuperada ou perdida durante a
concretagem do tubulão.

Figura 2.8 - Tubulão a ar comprimido.

É necessário salientar que o uso de ar comprimido é necessário quando a base do tubulão


fica abaixo no nível do lençol freático, e que esse tipo de tubulão exige sérios cuidados com
relação à saúde dos operários, que trabalham sob fortes pressões. O alto custo financeiro faz
com que essa solução estrutural geralmente seja associada a obras de grande porte.

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2.2.2 Estacas

Diferentes dos tubulões, as estacas (Figura 2.9) são executadas inteiramente por
equipamentos ou ferramentas, sem que seja necessária a descida de pessoas em qualquer
fase da execução. Nas estacas, o mecanismo resistente se dá pela resistência de ponta, na
base da estaca, e pela resistência por atrito ao longo do fuste. A proporção entre essas duas
parcelas de resistência varia conforme o tipo de estaca e a classificação do solo ao longo da
altura da estaca.

Figura 2.9 - Esquema de pilar nascendo em bloco sobre estacas

De acordo com Hachich et al. (1998), as estacas usuais podem ser classificadas em duas
categorias: estacas de deslocamento e estacas escavadas.

As estacas de deslocamento são aquelas introduzidas no terreno através de algum processo


e, que não haja a retirada de solo. No Brasil, têm-se como exemplos as estacas pré-moldadas
de concreto armado, estacas metálicas e estacas tipo Franki (HACHICH et al., 1998), entre
outras.

As estacas escavadas são aquelas executadas “in situ” através da perfuração do terreno por
um processo qualquer, com remoção de material, com ou sem revestimento. Nessa categoria
enquadram-se, entre outras, as estacas tipo broca, tipo hélice contínua e Strauss (HACHICH
et al., 1998).

2.2.2.1 Estaca pré-moldada de concreto armado

Este tipo de estaca é constituído de segmentos de concreto pré-moldado introduzido no


terreno por golpes de martelo de gravidade, de explosão, hidráulico ou martelo vibratório
(Figura 2.10). A cravação das estacas pré-moldadas pode causar fortes vibrações no terreno
por conta dos golpes para gravação. Em contrapartida, a pré-fabricação dos segmentos de
estaca permite alto controle de qualidade para o concreto, e o processo de cravação, que se
dá por deslocamento da estaca no solo, possibilita o desenvolvimento de grande resistência

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lateral e de ponta. A profundidade de cravação independe do nível do lençol freático e é capaz


de atingir grandes profundidades.

Figura 2.10 - Cravação de estaca pré-moldada de concreto armado

2.2.2.2 Estaca tipo Franki

Estaca moldada no local e executada por cravação, por meio de sucessivos golpes de um
pilão em uma bucha seca de pedra e areia aderida ao tubo. Atingida a cota de apoio, procede-
se a expulsão da bucha e execução da base alargada, instalação da armadura e execução
do fuste de concreto apiloado com a simultânea retirada do revestimento (Figura 2.11). Os
diâmetros variam de 30 cm a 70 cm e a profundidade independe do nível do lençol freático,
podendo atingir grandes profundidades. Sua cravação gera grandes vibrações no terreno.

2.2.2.3 Estaca metálica

Consiste em estaca cravada capaz de atingir grandes profundidades e fornecer grande


capacidade de carga, principalmente por conta da resistência lateral. Pode ser constituída de
perfis laminados ou soldados, simples ou múltiplos, tubos de chapa dobrada, tubos com ou
sem costura e trilhos.

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Figura 2.11 - Sequência de execução das estacas tipo Franki.


[Fonte: HACHICH et al., 1998]

2.2.2.4 Estaca tipo hélice contínua

Esta estaca de concreto moldada no local é executada mediante a introdução, por rotação,
de um trado helicoidal contínuo no terreno e injeção de concreto pela própria haste central do
trado, simultaneamente com sua retirada, sendo a armadura posicionada após a concretagem
da estaca. A rapidez de execução, a ausência de vibrações no terreno e a grande capacidade
de carga fazem com que esse tipo de estaca seja largamente utilizado nas últimas décadas.

2.2.2.5 Estaca tipo broca

As estacas tipo broca são escavadas manualmente com trado em forma de conchas,
conforme a Figura 2.12. São de uso limitado, pois são aplicáveis em situações de fundação
acima do nível do lençol freático. A perfuração manual restringe a utilização dessas estacas
a pequenas cargas por conta da pequena profundidade que se consegue alcançar (da ordem
de 6 m a 8 m) e também pela dificuldade de se manter a verticalidade do furo.

Figura 2.12 - Equipamento manual para perfuração de estaca tipo broca

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2.2.2.6 Estaca escavada com trado mecânico

As estacas escavadas mecanicamente com trado helicoidal são executadas por meio de uma
haste de perfuração, podendo esta ser helicoidal em toda a sua extensão ou constituída de
trado helicoidal apenas em sua extremidade. A perfuração do solo é feita por meio de
prolongamento telescópico da haste. O processo constitui na perfuração até a cota desejada
e o posterior lançamento do concreto. Seu emprego é restrito a perfurações acima do nível
do lençol freático e não causa vibrações no terreno.

2.2.2.7 Estaca tipo Strauss

As estacas moldadas no local tipo Strauss foram consideradas, inicialmente, como uma
alternativa às estacas pré-moldadas cravadas por percussão, evitando a ocorrência de
vibrações no terreno. O processo de execução consiste na retirada da terra com uma sonda
ou piteira e a simultânea introdução de tubos rosqueáveis entre si até atingir a profundidade
desejada, e posterior concretagem com apiloamento e retirada da tubulação.

2.2.3 Blocos sobre estacas ou tubulões

No caso da utilização de fundações profundas, é necessário dispor de um elemento estrutural


para transferir os esforços dos pilares para as estacas ou tubulões, que são os blocos sobre
estacas ou tubulões. Quando o bloco está sobre apenas uma estaca e mais comumente sobre
um tubulão, costuma-se chamá-lo de bloco de transição. O número de estacas varia em
função da capacidade estrutural e geotécnica do tipo de estaca utilizado e da magnitude dos
esforços no pilar, podendo-se dimensionar um bloco sobre várias estacas (Figura 2.13).

Figura 2.13 - Bloco sobre quatro estacas

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2.3 Escolha da fundação

Após terem sido apresentados os tipos de fundação mais usuais, percebe-se que cada um
possui características peculiares que abrangem desde aspectos estruturais até aspectos
financeiros e de execução. Essas características fazem com que a escolha do tipo de
fundação seja na verdade um estudo de viabilidade que vai conduzir ao tipo de fundação mais
adequado para cada obra específica. E para isso, alguns aspectos devem ser analisados,
como descrito a seguir.

- Topografia do terreno – É necessário verificar se a topografia do terreno possibilita


o acesso do equipamento com o qual será executada a fundação. Além disso, é
necessário verificar se a fundação irá solicitar o solo em uma região de corte ou de
aterro. As fundações rasas devem ser evitadas em regiões aterradas, dando
preferência às fundações profundas que atravessem o perfil do solo de aterro,
alcançando o solo virgem.

- Tipo de solo –Além de estar relacionado com a resistência, indicando a escolha entre
fundações rasas ou profundas, o tipo de solo também se torna um fator condicionante
do ponto de vista da execução, sendo necessário verificar se a coesão é capaz de
manter o solo estável durante o processo de escavação.

- Sistema estrutural e porte da obra – É imprescindível considerar a maneira que o


sistema estrutural irá descarregar as cargas na fundação, seja de modo distribuído ou
por cargas pontuais. Deve-se dar atenção também para a magnitude das forças em
relação às características geotécnicas do solo.

- Nível do lençol freático – É necessário verificar se a profundidade da fundação ficará


acima do nível do lençol freático, garantindo as condições de execução. Caso esteja
abaixo, deve-se verificar se a execução da fundação não está limitada por esse fator
ou se serão utilizados mecanismos para rebaixar o nível do lençol freático durante a
execução.

- Comparação entre custos e prazos – É necessário analisar se o custo associado à


execução da obra é economicamente viável e avaliar o prazo disponível para
execução.

- Disponibilidade no mercado regional – A execução de alguns tipos de fundação


geralmente está condicionada à mão-de-obra especializada e a equipamentos

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específicos. Logo, faz-se necessário verificar as empresas disponíveis na região, uma


vez que o deslocamento dos equipamentos possui um custo agregado.

- Edificações vizinhas – É necessário avaliar as condições estruturais das edificações


vizinhas. Para executar uma fundação por cravação de estacas, é necessário analisar
se as vibrações podem gerar fissuras na edificação vizinha. No caso da fundação ser
executada por escavação, é necessário avaliar o tipo e a profundidade da fundação
vizinha, para garantir a estabilidade do perfil escavado.

2.4 Esforços na fundação

2.4.1 Dimensionamento geotécnico da fundação

Para a consideração dos esforços e dimensionamento das fundações do ponto de vista


geotécnico, a NBR 6122:2019 (ABNT, 2019) permite considerar a verificação de duas
maneiras distintas: a primeira delas é por meio de coeficientes globais que, por meio de um
tratamento determinístico, fornecem valores admissíveis para o solo. A segunda maneira é
por meio da consideração dos coeficientes parciais (Estados Limites), um método
semiprobabilístico.

O dimensionamento geotécnico do elemento de fundação não está no escopo deste curso.


Supõe-se que uma análise geotécnica preliminar tenha determinado a capacidade de carga
do solo da fundação. Conhecidos os valores característicos dos esforços atuantes, esses
devem ser comparados com os valores admissíveis, que são os valores resistentes
característicos minorados por um coeficiente de segurança global. Logo:

Rk
Fk   Radm 2.1
C

Sendo:
Fk - Força solicitante com seu valor característico;
Rk - Força resistente com seu valor característico;
C - Coeficiente de segurança global;

Radm - Força admissível.

2.4.2 Dimensionamento dos elementos estruturais

Uma vez realizado o dimensionamento geotécnico da fundação, parte-se para o


dimensionamento dos elementos estruturais. Se esses elementos estruturais forem de

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concreto armado, a consideração das ações é feita pelo método semiprobabilístico dos
Estados Limites, descrito de maneira completa pela NBR 8681:2003 (ABNT, 2003), e de
maneira mais específica, para as aplicações em estruturas de concreto armado, pela NBR
6118:2014 (ABNT, 2014).

As verificações de Estado Limite Último devem satisfazer combinações de ações normais,


especiais ou de construção e excepcionais. Por brevidade, será apresentada apenas a
equação para as combinações normais, recomendando a consulta da NBR 6118:2014 (ABNT,
2014) no que se refere às outras situações de projeto. Logo, a combinação normal para as
ações é feita pela seguinte equação:

Fd   g Fgk   q ( Fq1k   F )  FRd


0 j qjk 2.2

Sendo:
Fd - Valor de cálculo das ações para combinação última;
 g - Coeficiente de majoração das ações permanentes diretas, tomado igual a 1,4 para o caso
de ação desfavorável (conforme Tabela 11.1 da NBR 6118:2014);
Fgk - Ações permanentes diretas;

 q - Coeficiente de majoração das ações variáveis diretas, tomado igual a 1,4 para o caso de
ação geral (conforme Tabela 11.1 da NBR 6118:2014);
Fq1k - Ação variável direta, tomada como a principal;

 0 j - Coeficiente de ponderação das ações variáveis diretas, cujo valor deve ser consultado
na Tabela 11.2 da NBR 6118:2014;
Fqjk - Ações variáveis diretas, tomadas como secundárias;

FRd - Esforço resistente de cálculo.

Além de obter os valores das ações em termos de valores de cálculo, a NBR 8681:2003
(ABNT, 2003) recomenda a consideração de um coeficiente adicional (𝛾𝑛 ) para casos
especiais. Como os elementos estruturais de fundação têm grande responsabilidade para o
suporte de toda a estrutura, 𝛾𝑛 pode ser devidamente aplicado a este caso. Assim, tal
coeficiente é definido por meio de duas parcelas, como mostrado a seguir.

 n   n1   n2 2.3

Sendo:

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 n1  1,2 em função da ductilidade de uma eventual ruína;

 n2  1, 2 em função da gravidade das consequências de uma eventual ruína.

2.5 Materiais e critérios de detalhamento e durabilidade

Além dos critérios indicados pela NBR 6118:2014 (ABNT, 2014) para consideração das
propriedades mecânicas do concreto e do aço, aos quais todos os elementos estruturais de
concreto armado devem satisfazer, os elementos estruturais de fundação precisam também
atender a requisitos adicionais.

No caso das fundações profundas moldadas no local, a NBR 6122:2019 (ABNT, 2019)
estabelece que, mesmo sendo empregada uma classe de resistência maior para o concreto,
para fins de dimensionamento, essa resistência deve ser limitada em função do tipo de
elemento de fundação, indicando também coeficientes específicos para ponderar as
resistências dos materiais, de acordo com a classe de agressividade ambiental definida pela
NBR 6118:2014 (ABNT, 2014), como indicado na Tabela 2.1.

Tabela 2.1 - Parâmetros para o dimensionamento de fundações rasas e profundas


[Adaptado da NBR 6122:2019 (ABNT, 2019)]

CAA Classe de
Tipo de fundação
(NBR 6118:2014) concreto (fck) c s
I, II 30 2,7
Hélice contínua 1,15
III, IV 40 3,6
I, II 25 3,1
Escavadas sem fluido 1,15
III, IV 40 5,0
I, II 30 2,7
Escavadas com fluido 1,15
III, IV 40 3,6
Strauss I, II 20 2,5 1,15
Franki I, II, III, IV 20 1,8 1,15
Raiz I, II, III, IV 20 1,6 1,15
Microestacas I, II, III, IV 20 1,8 1,15
Estaca trado vazado segmentado I, II, III, IV 20 1,8 1,15
Estacas pré-moldadas - 40 1,4 1,15
I, II 25 2,2
Tubulões não encamisados 1,15
III, IV 40 3,6
Tubulões encamisados com concreto - - 1,4 1,15
1,5 (ELU) 1,15
Tubulões encamisados com aço - -
1,3 (ELS) 1,15

Continua

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Tabela 2.2 - Parâmetros para o dimensionamento de fundações rasas e profundas (continuação)


[Adaptado da NBR 6122:2019 (ABNT, 2019)]

CAA Classe de
Tipo de fundação
(NBR 6118:2014) concreto (fck) c s
Sapatas - 1,4 1,15

Blocos de transição
- - 1,4 1,15
ou blocos sobre estacas

Vigas de equilíbrio - - 1,4 1,15

Sendo: c o coeficiente de ponderação da resistência do concreto; s o coeficiente de ponderação da


resistência do aço; CAA a classe de agressividade ambiental, de acordo com a NBR 6118:2014.

Em relação ao cobrimento para as armaduras e elementos estruturais de concreto armado


em contato com o solo, a NBR 6118:2014 (ABNT, 2014) recomenda valores mínimos de
cobrimento em função da classe de agressividade ambiental do meio, conforme apresentado
na Tabela 2.2.

Tabela 2.2–Especificação do cobrimento em função da classe de agressividade ambiental


[Adaptado da NBR 6118:2014 (ABNT, 2014)]

Classe de agressividade ambiental I II III IV

Agressividade Fraca Moderada Forte Muito forte

Industrial
Rural Marinha
Tipo de ambiente Urbana Respingos de
Submersa Industrial
maré

Risco de deterioração Insignificante Pequeno Grande Elevado

Cobrimento (mm) 30 30 40 50

A NBR 6122:2019 (ABNT, 2019) indica que nas estacas sujeitas à tração e/ou flexão deve ser
feita a verificação da fissuração considerando os Estados Limites de Serviço. No entanto,
como maneira simplificada de atender a esse requisito referente à proteção da armadura,
pode-se proceder ao dimensionamento, considerando uma redução de 2 mm no diâmetro das
barras longitudinais, como espessura de sacrifício. No entanto, para o caso de estacas pré-
moldadas deve ser seguindo os critérios da NBR 16258:2014 (ABNT, 2014).

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3 Referências

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. (2014) NBR 16258: Estacas pré-


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