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SISTEMAS,

MÉTODOS
E PROCESSOS
DE CONSTRUÇÃO
CIVIL

Diego da Luz Adorna


Processos e técnicas
construtivas de fundações
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Caracterizar as etapas de execução de fundações rasas.


 Descrever as etapas de execução de fundações profundas com estacas
escavadas.
 Listar as etapas de execução de fundações profundas com estacas
cravadas.

Introdução
Fundações são elementos estruturais cuja função é transmitir as cargas
atuantes sobre a superestrutura da edificação para o maciço de solo.
Portanto, o tipo de fundação utilizado depende das cargas transmitidas
pela estrutura e das características geotécnicas do maciço de solo. A
topografia do terreno e as características das construções vizinhas também
influenciam no projeto de fundações (VELLOSO; LOPES, 2010).
Assim, as fundações podem ser classificadas em rasas ou profundas.
Nas fundações rasas, a transmissão de cargas se dá nas primeiras ca-
madas do maciço de solo. Nas fundações profundas, por outro lado, a
capacidade de suporte necessária para resistir às cargas transmitidas pela
edificação somente é obtida em camadas mais profundas do maciço de
solo (SANTOS, 2017).
Neste capítulo, você vai conhecer as características dos principais
tipos de fundações rasas e profundas. Além disso, vai estudar quais são
os processos e as técnicas aplicados na execução das fundações.
2 Processos e técnicas construtivas de fundações

1 Fundações rasas
As fundações rasas — também denominadas superficiais — são aquelas em
que a transmissão de cargas ocorre logo nas primeiras camadas do maciço de
solo. De modo geral, considera-se como fundação rasa aquela executada com
até 2 m de profundidade. Fundações executadas com profundidades superiores
a 2 m são consideradas profundas.
Nas fundações rasas, as cargas são transmitidas diretamente ao terreno
pelas pressões distribuídas sob a base da fundação. Isso resulta na mobilização
de esforços resistentes exclusivamente na superfície de contato entre a base
da fundação e o solo (CINTRA; AOKI; ALBIERO, 2011). Desse modo, as
fundações rasas são classificadas como fundações diretas.
O projeto de fundações rasas deve satisfazer os seguintes critérios, de
acordo com Rebello (2008, p. 41):

- As camadas superficiais do maciço de solo devem possuir resistência su-


ficiente para resistir às cargas transmitidas pelos elementos de fundação;
- Os elementos de fundação devem ser executados com profundidade má-
xima de 2 m, visto que profundidades superiores elevariam os custos de
escavação e reaterro.

O projeto de fundações deve ser precedido de análise geotécnica do solo. O Standard


Penetration Test consiste no método de sondagem mais utilizado no mundo, permitindo
a identificação do tipo de solo e a estimativa da resistência mecânica das camadas.
No link a seguir, você pode ver quais os procedimentos do ensaio e como interpretar
os resultados obtidos.

https://qrgo.page.link/SEf8a

As fundações rasas podem ser divididas, de acordo com as suas carac-


terísticas estruturais, em quatro grupos principais: blocos, sapatas, vigas
de fundação e radiers. Veja no Quadro 1 as principais características de
cada grupo.
Processos e técnicas construtivas de fundações 3

Quadro 1. Principais grupos de fundações rasas

Grupo Descrição

Bloco Os blocos de fundação são elementos de base quadrada ou retan-


gular, executados em concreto simples, dimensionados de modo
que o concreto resista às tensões de tração a ele submetidas. O
bloco de fundação normalmente possui faces verticais, mas pode
ser executado com faces escalonadas.

Sapata As sapatas são Sapatas Cada elemento de fundação


elementos de isoladas recebe e transmite o carrega-
fundação executa- mento de um único pilar.
dos em concreto
Sapatas Cada elemento de fundação
armado, de modo
associadas recebe e transmite o carrega-
que as tensões
mento de dois ou mais pilares
de tração sejam
não alinhados. As sapatas
resistidas pelas
associadas são o resultado da
armaduras de aço.
sobreposição de duas ou mais
Em geral, possuem
sapatas isoladas.
base quadrada ou
retangular. A altura Sapatas Consiste em um elemento
do elemento pode corridas ou linear que recebe o carrega-
ser constante ou baldrames mento linearmente distribuído
variável. das paredes da construção.

Vigas de As vigas de fundação são elementos de fundação lineares, formados


fundação por vigas de concreto armado, que recebem vários pilares situados
no mesmo alinhamento. O cruzamento de várias vigas de fundação
resulta em uma estrutura denominada grelha de fundação.

Radier O radier consiste em um elemento de fundação em forma de placa,


executado em concreto armado, que recebe o carregamento de
todos os pilares e paredes da construção. A utilização do radier é reco-
mendada quando a área das sapatas projetada em planta for superior
a 50% da área total projetada em planta da construção.

Fonte: Adaptado de ABNT (1996).

Execução de fundações rasas


Antes de iniciar a execução das fundações, o profissional responsável deve
verificar se os seguintes serviços foram realizados:
4 Processos e técnicas construtivas de fundações

 estudo geotécnico do maciço de solo, determinando o tipo de solo, a


sua resistência e a existência e posição do lençol freático;
 projeto arquitetônico e estrutural, indicando as dimensões, posições e
alinhamentos dos elementos de fundação;
 limpeza do terreno, de modo a retirar a cobertura vegetal, resíduos e
dejetos orgânicos e não orgânicos da área onde a obra será executada.

Satisfeitas essas exigências, o profissional responsável pode dar início à


execução da obra, por meio da locação das fundações. A locação consiste
na demarcação, no terreno, da posição dos elementos de fundação, de acordo
com as informações constantes no projeto arquitetônico e estrutural.
Os procedimentos de locação variam de acordo com a complexidade da obra
e da disponibilidade de recursos humanos, materiais e financeiros. A locação
das fundações pode ser realizada por meio dos seguintes procedimentos:

a) Métodos dos cavaletes – nesse processo, os elementos construtivos


são locados por meio de fios de náilon amarrados a pregos fixados em
cavaletes opostos. Os cavaletes são formados por uma travessa pregada
a duas estacas fixadas ao solo. A principal desvantagem do método, de
acordo com Borges (2009), reside na facilidade de deslocamento dos
cavaletes, devido a choques de carrinhos de mão e pontapés. O método
dos cavaletes é recomendado para obras simples ou de pequeno porte.
b) Método das tábuas corridas – nesse processo, são fixados ao solo
pontaletes de pinho afastados 1,50 m entre si e 1,20 m em relação à
face externa do elemento de fundação. Nos pontaletes, são fixadas
tábuas sucessivas, delimitando a área a ser construída e permitindo
a locação dos elementos de fundação. A locação por tábuas corridas
implica maior gasto que o processo por cavaletes, mas confere maior
precisão e segurança à locação das fundações, devido à impossibilidade
de deslocamento dos pontos marcados (BORGES, 2009). O método é
utilizado em construções de pequeno e médio porte.
c) Equipamentos topográficos – em obras de maior complexidade e
com maior disponibilidade de recursos financeiros, a locação pode
ser realizada com o auxílio de equipamentos topográficos eletrônicos,
por exemplo, a estação total. A utilização desse processo demanda a
contratação de empresa especializada.
Processos e técnicas construtivas de fundações 5

As fundações rasas normalmente são dimensionadas de forma que o seu centro


coincida com o centro da seção dos pilares ou com o eixo das paredes. A locação
adequada das fundações é, portanto, fundamental para a execução da construção
conforme o projeto.

Após a locação dos elementos de fundação, providencia-se a escavação do terreno.


Nota-se que a escavação resultará em maior ou menor volume, dependendo do tipo
de fundação a ser executado. Na execução de blocos e sapatas isoladas ou associadas,
é necessária apenas a abertura de uma cava; já na execução de sapatas corridas e
vigas de fundação, é necessária a abertura de valas lineares. Para a execução de
radier, todo o solo sobre a construção deverá ser escavado, visto que o elemento de
fundação consiste em uma laje que recebe toda a estrutura da construção.
A escavação deve ser realizada até a cota de apoio da fundação, respeitando
uma folga de 20 cm na abertura, em relação à dimensão de projeto, de modo
a permitir a execução posterior das fôrmas de concretagem. A cota de apoio
não deve ser inferior a 70 cm, a fim de garantir a proteção do elemento de
fundação aos agentes atmosféricos e ao fluxo de água. A escavação é iniciada
a partir do elemento de fundação mais profundo (YAZIGI, 2009).
Borges (2009) alerta que a escavação em terrenos inclinados deve ser reali-
zada de forma escalonada, conforme apresentado na Figura 1a. A abertura de
valas inclinadas, conforme Figura 1b, resulta em um plano de escorregamento,
que pode acarretar patologias e risco de ruptura para a construção.

Figura 1. Escavação em terrenos inclinados.


Fonte: Adaptado de Borges (2009).
6 Processos e técnicas construtivas de fundações

A escavação deve ser realizada de modo a garantir o nivelamento do fundo


da vala. O nivelamento pode ser verificado por meio de nível a laser ou nível
de mangueira. Em seguida, o fundo da vala deve ser compactado e regulari-
zado, até 5 cm abaixo da cota de apoio, com um soquete de 5 kg ou com um
compactador mecânico do tipo sapo (YAZIGI, 2009).
Durante a escavação, o profissional deve sempre atentar para a existência de
formigueiros ou a presença de matéria orgânica. Formigueiros consistem em vazios
no maciço de solo que podem causar recalques imediatos e danificar a estrutura.
Solos com matéria orgânica tendem a apresentar menor resistência mecânica e
maior deformabilidade, prejudicando a segurança e estabilidade da estrutura.
Após a regularização, deve-se executar um lastro de concreto simples, com
5 cm de espessura, no fundo da vala. O lastro de concreto tem por objetivo
regularizar a superfície onde o elemento de fundação será executado e uni-
formizar a transmissão das cargas que descarregam na fundação.
Para a execução do elemento de fundação, confeccionam-se fôrmas de
madeira, que são construídas com sarrafos e tábuas de madeira. Yazigi (2009)
destaca que essas fôrmas devem ser escoradas em estacas de madeira apoiadas
no fundo e nas laterais da vala. O alinhamento, nivelamento e esquadro das
fôrmas deve ser verificado durante e após o seu posicionamento na vala.

A concretagem dos elementos de fundação nunca deve ser feita sem o uso de fôrmas,
visto que o contato do concreto fresco diretamente com o solo resultaria na perda
excessiva de água de amassamento, em função da porosidade do solo. Além disso,
haveria conformação inadequada do elemento de fundação e contaminação da
mistura de concreto por solo e matéria orgânica, prejudicando o desenvolvimento de
resistência mecânica, entre outras características do concreto endurecido.

Após o posicionamento das fôrmas, insere-se a armadura de aço, quando


necessário. Em geral, as sapatas possuem apenas armadura inferior e armadura
de cisalhamento, enquanto o radier e as vigas de fundação possuem armadura
inferior e superior, além da armadura de cisalhamento. A definição do diâmetro
e da disposição das armaduras de aço depende de projeto estrutural prévio.
Na Figura 2, você pode observar como é feita a disposição das armaduras na
sapata e como é realizada a amarração entre o pilar e o elemento de fundação.
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Figura 2. Disposição das armaduras de aço em uma sapata de fundação.


Fonte: Adaptada de Multistock/Shutterstock.com.

O concreto utilizado deve apresentar resistência compatível com as neces-


sidades do projeto. De acordo com a complexidade da obra e disponibilidade
de recursos, o concreto utilizado poderá ser produzido in loco ou em central,
sendo lançado por meio de bombeamento.

Os procedimentos de projeto, dimensionamento e execução de fundações rasas são


definidos pela Norma Técnica ABNT NBR 6.122/1996 – Projeto e execução de fundações.
8 Processos e técnicas construtivas de fundações

2 Fundações profundas com estacas escavadas


As fundações profundas são utilizadas quando as primeiras camadas do maciço
de solo não têm a capacidade de suporte necessária para resistir às cargas pro-
venientes da estrutura, ou seja, quando não é possível utilizar fundações rasas.
Assim, as fundações profundas são executadas com mais de 2 m de profundidade.
As fundações profundas se caracterizam por transmitir as cargas provenien-
tes da estrutura por meio da sua base (resistência de ponta), da sua superfície
lateral (resistência de fuste ou resistência de atrito lateral) ou da combinação
das duas (VELLOSO; LOPES, 2010). Desse modo, essas fundações são clas-
sificadas como indiretas. Veja na Figura 3 um esquema da distribuição de
esforços em uma fundação profunda.

Figura 3. Distribuição de esforços em uma fundação profunda.


Fonte: Rebello (2008, p. 69).

Sobre as fundações profundas, geralmente são executados blocos de funda-


ção, que têm a função de absorver os esforços provenientes da superestrutura e
distribuí-los para a estaca. Esse procedimento permite que mais de uma estaca seja
executada, de modo a atender a um mesmo pilar. As estacas são o tipo de fundação
profunda mais utilizado nas obras de construção civil, embora se destaquem, ainda,
os tubulões e os caixões como exemplos desse tipo de fundação. As estacas podem
ser classificadas, de acordo com o processo de execução, em escavadas e cravadas.
Processos e técnicas construtivas de fundações 9

As estacas escavadas — também denominadas estacas de substituição —


são aquelas cuja execução exige a escavação do solo, sendo o volume escavado
substituído pelo elemento de fundação. A seguir, você verá os principais tipos
de estacas escavadas.

Estaca broca
A estaca broca consiste em um tipo de fundação profunda em que a escavação
é realizada manualmente, com o uso de um trado rotativo, como representado
na Figura 4. O movimento de giro realizado pelo operário faz com que as
lâminas “rasguem” o solo, permitindo que este penetre no interior do cilindro
e viabilizando a escavação (REBELLO, 2008).

Figura 4. Esquema de trado rotativo.


Fonte: Rebello (2008, p. 70).

As estacas broca demandam pouco investimento com mão de obra e equi-


pamento, mas apresentam limitação quanto à profundidade máxima (6 m) e
não podem ser executadas abaixo do nível do lençol freático. A seguir, são
apresentadas as etapas de execução das estacas desse tipo.
10 Processos e técnicas construtivas de fundações

1. Inicialmente, é realizada a escavação do terreno com o uso do trado


rotativo, conforme esquematizado na Figura 5a, até se atingir a camada
de solo resistente.
2. Em seguida, com o uso de um pilão, faz-se o apiloamento do fundo
do furo, de modo a regularizar a superfície e reduzir a quantidade de
partículas soltas, conforme a Figura 5b.
3. O furo é, então, preenchido com concreto fresco, com trabalhabilidade
adequada, como na Figura 5c. Caso o projeto estrutural exija o uso de
armaduras de aço, estas devem ser inseridas e posicionadas no furo
antes da concretagem.
4. Por fim, como mostra a Figura 5d, são colocadas armaduras de espera no
topo da estaca, de modo a viabilizar a amarração com a superestrutura.
Rebello (2008) destaca que normalmente são utilizadas quatro barras
de aço de 6,3 mm de diâmetro e 2 m de comprimento.

Figura 5. Esquema de execução de fundação com trado rotativo.


Fonte: Rebello (2008, p. 71).
Processos e técnicas construtivas de fundações 11

Estaca tipo Strauss


As estacas tipo Strauss consistem em estacas de concreto simples ou armado,
de acordo com as especificações de projeto, executadas in loco, por meio da
perfuração do solo e posterior concretagem. A execução desse tipo de estacas
não produz vibrações significativas, implicando ainda um custo relativamente
baixo. Por outro lado, elas não são indicadas para execuções abaixo do nível
do lençol freático e não apresentam grande capacidade de carga.
A execução de estacas tipo Strauss demanda o uso de equipamentos simples,
conforme apontam Velloso e Lopes (2010): um tripé equipado com guincho,
um pilão ou soquete, uma ferramenta de escavação denominada sonda ou
“piteira”, e tubos metálicos de revestimento. Os procedimentos de execução
de estacas tipo Strauss estão detalhados a seguir.

1. Inicialmente, o pilão é lançado de determinada altura, até que o solo


seja perfurado até uma profundidade de até 2 m. Essa perfuração serve
de gabarito para a introdução do primeiro tubo de revestimento, dotado
de uma base cortante na extremidade, denominada “coroa”.
2. Em seguida, o pilão é substituído pela sonda, a qual é dotada de abertura
na extremidade inferior, permitindo a entrada do solo e viabilizando a
escavação, conforme você pode observar na Figura 6a.
3. À medida que a escavação se desenvolve, a coroa penetra no solo.
É necessário rosquear tubos metálicos sucessivamente, até que seja
atingida a cota de assentamento, conforme demonstra a Figura 6b. Os
tubos metálicos têm o objetivo de conferir estabilidade para as pare-
des do furo, impedindo que o solo desmorone durante a escavação ou
concretagem e estrangule a seção da estaca.
4. Atingida a cota de assentamento, é realizada a limpeza do furo, de
modo a retirar a lama que possa ter se acumulado ao longo do fuste. As
armaduras da estaca são inseridas, quando necessário, e é realizada a
concretagem. O furo é preenchido por 75 cm de concreto fresco, o qual
se espalha à medida que o revestimento metálico é retirado, como na
Figura 6c. A retirada dos tubos metálicos deve ser feita com cuidado,
a fim de impedir o desmoronamento do solo ou o desprendimento do
concreto já executado. Os tubos metálicos podem ser reaproveitados
em outras estacas. O procedimento é repetido até se atingir a cota de
arrasamento, como mostrado na Figura 6d.
12 Processos e técnicas construtivas de fundações

Figura 6. Esquema de execução de estaca tipo Strauss.


Fonte: Velloso e Lopes (2010, p. 206).

Estaca escavada com trado helicoidal


Conforme Rebello (2008, p. 75), o trado helicoidal consiste em “[...] uma
haste metálica montada sobre uma base incorporada a caminhões ou a chassi
metálico sobre rodas”. Logo, a utilização do trado helicoidal permite rápida
movimentação pelo canteiro de obras. Na Figura 7, você pode ver um trado
helicoidal incorporado a um caminhão.
Processos e técnicas construtivas de fundações 13

Figura 7. Trado helicoidal incorporado a um caminhão.


Fonte: Volodymyr_Shtun/Shutterstock.com.

A escavação do solo é realizada por meio do giro da haste metálica. A cada 2


m, a haste é retirada, sem giro, e posta a girar no sentido contrário, permitindo que
o solo escavado seja retirado. A escavação pode ou não fazer uso de revestimento
metálico ou estabilização com lama bentonítica (VELLOSO; LOPES, 2010). A
lama é resultado da mistura de um tipo de argila chamada de bentonita, a qual se
expande ao entrar em contato com a água. Ao ser injetada no furo, a lama bentoní-
tica se adere às paredes, formando uma proteção que impede o desmoronamento.
Uma vez atingida a cota de assentamento, deve-se inserir a armadura. A concre-
tagem é realizada a cada 50 cm, à medida que o revestimento metálico é retirado.
No caso de revestimento com lama, a diferença de densidade entre ela e o concreto
faz com que a lama seja empurrada em direção à abertura do furo, devendo ser
recolhida e descartada. Se não for utilizado revestimento, a concretagem é realizada
normalmente, devendo sempre ser verificada a trabalhabilidade do concreto.
As estacas escavadas com trado helicoidal são indicadas para a execução
de estacas com até 15 m de profundidade e possuem um custo acessível.
Contudo, não são indicadas para solos instáveis (arenosos) e não podem ser
executadas abaixo do nível do lençol freático.
14 Processos e técnicas construtivas de fundações

Estaca hélice contínua


A estaca hélice contínua, de acordo com Yazigi (2009), consiste em um tipo
de fundação profunda em que a escavação é mecânica. Esta é realizada por
uma hélice contínua fixada externamente a um tubo metálico com diâmetro
interno de 100 mm a 127 mm, conforme apresenta a Figura 8. A escavação
ocorre pela penetração da hélice contínua no solo. Diferentemente da escavação
com trado helicoidal, a hélice não é retirada durante o processo, penetrando
continuamente até atingir a cota de assentamento.
Na sequência, a hélice é retirada do solo sem giro, enquanto o concreto é
injetado no furo por meio do tubo metálico central da hélice. Rebello (2008)
destaca que a retirada da hélice concomitantemente à concretagem evita o
confinamento do solo e o possível estrangulamento da seção da estaca. Após
a retirada da hélice, a armadura de aço é mergulhada na massa, por meio de
gravidade ou com auxílio de um soquete.
A estaca hélice contínua apresenta alta produtividade e controle tecnoló-
gico durante a execução, permitindo a execução de fundações de até 30 m de
profundidade. Além disso, esse tipo de estaca pode ser executado abaixo do
nível do lençol freático.

Figura 8. Modelo de hélice contínua.


Fonte: B.Panupong/Shutterstock.com.
Processos e técnicas construtivas de fundações 15

Estaca raiz
As estacas do tipo raiz consistem em fundações profundas, escavadas por
meio de perfuração rotativa ou rotopercussiva. Apesar de apresentarem custo
elevado e resultarem em um grande impacto ambiental, as estacas do tipo raiz
permitem a execução de fundações com até 50 m de profundidade, em maciços
de solo compostos por matacões e rochas. Na Figura 9, são representados os
procedimentos de execução de uma estaca raiz.

Figura 9. Esquema de execução de estaca raiz.


Fonte: Rebello (2008, p. 87).

Inicialmente, é realizada a perfuração do maciço de solo, por meio da penetração


de um tubo rotativo dotado de uma base denominada sapata de perfuração. À
medida que a perfuração avança, são inseridos tubos metálicos de revestimento, que
têm por objetivo impedir o colapso do solo que forma as paredes do furo. Durante
a perfuração, é injetada água ou lama bentonítica através do tubo rotativo. Esse
procedimento permite a limpeza do furo, visto que as partículas de solo escavado
são expulsas para o exterior por meio da pressão da água ou lama.
Após se atingir a cota de assentamento, a armadura de aço é inserida
no interior do tubo e, na sequência, é feita a injeção de argamassa no furo.
Conforme a argamassa é injetada, os tubos de revestimento são retirados, e
golpes de ar comprimido são aplicados, de modo a garantir a compactação
da argamassa e o preenchimento dos vazios.
16 Processos e técnicas construtivas de fundações

3 Fundações profundas com estacas cravadas


As estacas cravadas — também denominadas estacas de deslocamento — são
aquelas cuja execução não demanda nenhum processo de escavação. Nesse tipo
de fundação, à medida que a estaca penetra no solo, ele se desloca horizon-
talmente. A seguir, são apresentados os principais tipos de estacas cravadas.

Estacas pré-moldadas
As estacas pré-moldadas são fabricadas em madeira, aço ou concreto ar-
mado/protendido. Elas também podem ser compostas pela combinação de
dois materiais diferentes, sendo denominadas estacas mistas. Essas estacas
normalmente são fabricadas em indústrias e transportadas já prontas para o
local da obra. No Quadro 2, você pode ver as principais características das
estacas pré-moldadas, de acordo com o tipo de material empregado.

Quadro 2. Principais características das estacas pré-moldadas

Tipo Descrição

As estacas de madeira são utilizadas hoje quase que exclusiva-


mente em obras temporárias (como cimbramento de pontes)
em função da deterioração que o material sofre, especialmente
Estaca de madeira quando exposto a ambientes sujeitos à variação de nível d’água. Es-
sas estacas devem ter diâmetro mínimo de 15 cm e uma proteção
metálica no seu topo, de modo que a queda do soquete, durante a
prensagem no solo, não danifique a estaca.

As estacas de aço são indicadas para situações em que o uso de


estacas de concreto não é recomendado, como no estaqueamento
próximo a construções vizinhas, em função da vibração excessiva,
Estaca de aço e em solos com atrito alto. Essas estacas são normalmente produ-
zidas com perfis I ou H. Como podem ser unidas entre si por meio
de soldagem, elas podem ser cravadas no solo em segmentos
menores que os demais tipos de estacas.

(Continua)
Processos e técnicas construtivas de fundações 17

(Continuação)

Quadro 2. Principais características das estacas pré-moldadas

Tipo Descrição

As estacas de concreto armado são produzidas em indústrias,


tendo comprimento máximo de 12 m. Caso seja necessário
um comprimento maior, deve-se emendar as estacas por meio
Estaca de con-
de soldagem de anéis metálicos previamente instalados. Essas
creto armado ou
estacas podem ser produzidas com seção quadrada, retangu-
protendido
lar ou circular. As estacas de concreto protendido apresentam
maior resistência mecânica e menor risco de fissuras durante a
cravação do que as de concreto armado.

Fonte: Adaptado de Rebello (2008).

As estacas pré-moldadas podem ser cravadas no solo por percussão ou por


prensagem. A cravação por percussão ocorre pela aplicação de golpes de
martelo no topo da estaca, conforme você pode observar na Figura 10, em que
estacas pré-moldadas de concreto com seção circular vazadas são cravadas no
solo com o auxílio de um equipamento denominado bate-estaca.

Figura 10. Cravação de estacas pré-moldadas com auxílio de


bate-estaca.
Fonte: HacKLeR/Shutterstock.com.
18 Processos e técnicas construtivas de fundações

No processo de prensagem, a cravação das estacas é feita com o auxílio


de macaco hidráulico, conforme o esquema apresentado na Figura 11. Esse
procedimento demanda a existência de uma carga no terreno, que funciona
como reação ao esforço proveniente da prensagem. Essa carga pode ser pro-
videnciada por meio de pesos, caixas de areia, entre outros, ou pela estrutura
já existente, como blocos de fundação.

Figura 11. Cravação de estacas pré-moldadas com auxílio de macaco hidráulico.


Fonte: Velloso e Lopes (2010, p. 231).

No Brasil, o procedimento apresentado é denominado estaca de reação


ou estaca mega. A estaca de reação é indicada para a execução de reforços
em fundações existentes, podendo utilizar a própria estrutura como carga
de reação. Além disso, o procedimento pode ser utilizado na execução de
fundações novas, visto que gera pouca vibração.

Estaca tipo Franki


A estaca tipo Franki consiste em um tipo de fundação profunda em que, com
o auxílio de um bate-estaca, um tubo metálico cilíndrico é cravado no solo.
O tubo metálico é dotado de um volume de concreto na sua base, o qual é
denominado bucha. A bucha tem a função de receber os golpes do bate-estaca e,
desse modo, promover a cravação do tubo, conforme você observa na Figura 12.
Processos e técnicas construtivas de fundações 19

Figura 12. Esquema representando a execução de uma estaca tipo Franki.


Fonte: Velloso e Lopes (2010, p. 207).

Após atingida a cota de assentamento, o tubo metálico é amarrado ao


bate-estaca, permitindo que a bucha seja desprendida do tubo por meio
de golpes do soquete, formando a base da fundação. As armaduras são
inseridas no tubo e a concretagem é iniciada, sendo realizada a cada 50
cm. O tubo metálico é retirado à medida que a concretagem se desenvolve
(REBELLO, 2008).
As estacas Franki possuem alta capacidade de carga e podem ser executadas
com grandes profundidades, podendo ser executadas também abaixo do nível
do lençol d’água. No entanto, esse tipo de estaca gera muita vibração durante
o processo de execução, podendo afetar as construções próximas.
20 Processos e técnicas construtivas de fundações

O projeto e a execução de fundações devem sempre ser embasados em conhecimento


técnico sobre as características do solo e da construção. Portanto, exigem a presença
de profissionais técnicos capacitados e habilitados.

ABNT. NBR 6122: projeto e execução de fundações – procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 1996.
BORGES, A. C. Prática das pequenas construções. 9. ed. São Paulo: Blucher, 2009. v. 1.
CINTRA, J. C. A.; AOKI, N.; ALBIERO, J. H. Fundações diretas: projeto geotécnico. São Paulo:
Oficina de Textos, 2011.
REBELLO, Y. C. P. Fundações: guia prático de projeto, execução e dimensionamento. 3. ed.
São Paulo: Zigurate Editora, 2008.
SANTOS, J. S. Desconstruindo o projeto estrutural de edifícios: concreto armado e protendido.
São Paulo: Oficina de Textos, 2017.
YAZIGI, W. A técnica de edificar. 10. ed. São Paulo: PINI, 2009.
VELLOSO, D. A; LOPES, F. R. Fundações: critérios de projeto, investigação do subsolo, fundações
superficiais, fundações profundas. 2. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2010.

Leitura recomendada
VIANA, D. Ensaio SPT: aprenda como interpretar os resultados. In: GUIA DA ENGENHARIA.
[S. l.: s .n.], 2018. Disponível em: https://www.guiadaengenharia.com/resultado-ensaio-spt/.
Acesso em: 11 fev. 2020.

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