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Thaís Diniz dos Santos

Nº USP 12518347
Antiga I - Marcelo Rede

Relatório - Seminário 3

a) Narrativa bilíngue da criação, 1-41 - Biblioteca de Tiglat-falasar I - 1115-1077


Já nas duas primeiras linhas do documento (“Quando o céu foi separado da terra - até
então tidos solidamente unidos”), identifica-se o elemento fundamental da cosmogonia
mesopotâmica: o caos (a não ordem) é superado pelo cosmos (um ordenamento que foi
colocado). Essas duas primeiras frases permitem delimitar a necessidade de separação para
que haja a nomeação. Dar ordenamento é superar um estágio anterior das coisas e os
princípios organizadores de tudo são uma entidade fundamental. Posteriormente, o rei será o
mantenedor da ordem cósmica na terra.
Nas linhas 6 e 7, a água apresenta-se nessa cosmologia como elemento fundamental
tanto antes da criação como para o fim (o dilúvio) e aparece como elemento material no texto
através da menção dos rios Tigre e Eufrates e do sistema de irrigação.
São citados os deuses An, o deus soberano em um primeiro momento, mas
ultrapassado pelas gerações de deuses; Ninmah, a deusa mãe; Enki (Éa), o responsável por
dar a ideia de criar a humanidade, possuindo relação particular com esta; e Enki, que
substituiu o deus An posteriormente. Estes são classificados como “os deuses maiores”, ao
lado dos Anunna, os grandes deuses. Quando Anunna e Igigu aparecem em oposição, os
primeiros são os deuses maiores e o segundo são os deuses menores.*
“DUR.AN.KI” significa relação eterna entre o céu e a terra - a cidade onde os deuses
usualmente se reúnem e distribuem os destinos. O tablete dos destinos é um tablete em que se
diz o que acontecerá nos futuros. A assembléia dos deuses serve de base para a teoria da
democracia primitiva
Os “Allas divinos” são seres divinos, porém mortais. Houve o sacrifício desses seres
divinos para criação do homem, fazendo com que este tenha ligação com o divino devido a
isso. No entanto, o sacrifício representa um elemento traumático para a criação do homem.
Há uma visão antropocêntrica da criação, uma antropogonia em que sangue e argila
fizeram o homem. Os Deuses Anunna preocupam-se, pois ficam sem as oferendas devido ao
conflito com os Igigu. A criação do humano surge como uma solução para o conflito, para
produzir para os deuses e nutri-los. A cosmologia mesopotâmica coloca a produção como o
motivo para o nascimento dos homens.
b) Mito de Anzu (II, 16-III, 33)
Anzu é uma águia com cabeça de leão. Na conversa entre o Príncipe e Enlil, o
Príncipe menciona a água antes da separação dos rios ( a “água do dilúvio”) e as águas
cristalinas (“Apsu”). Enquanto Apsu é a água doce, que cria a vida, é um elemento
masculino; Tiamat é a água salgada, negativa, vinculada à figura feminina.
Anzu decide tomar o Tablete dos Destinos (o registro, por escrito, da palavra e que
guarda o destino de todas as coisas). Quando este é roubado, há a ausência da palavra, a
imobilidade e a instauração do silêncio, pois a palavra indica criação, ordenamento e
movimento. Ocorre o bibbulum: retorno às águas salgadas, às águas originais.
Anzu aparece de modo monstruoso, com forma monstruosa. Algo que não se encaixa
em uma classificação, que transita entre as categorias definidas (ordenamento), é
problemático e vai contra a palavra. Isso entra em contraste com a representação dos deuses
mesopotâmicos, que possuem forma antropomórfica. No final de sua fala, Anzu diz que
comandará todos os Igigu - neste caso, em que Igigu aparece como termo genérico, refere-se
a todos os deuses.

c) Epopéia de Gilgamesh, XI,8-112 - Narrativa do Dilúvio - cópia da biblioteca de


Assurbanipal - séc. VII
A epopeia de Gilgamesh é o texto mais conhecido da literatura mesopotâmica. É um
texto tardio da época assíria e há a tradução para o português. Gilgamesh conta a história da
cidade de Uruk e o Rei parte para aventuras com seu amigo Enkidu, enviado pelos deuses,
para auxiliá-lo. Gilgamesh se recusa a ter relações com a deusa Ishtar e ela pede a seu pai
para soltar o touro sagrado para matar Enkidu. No conflito, o touro morre e Enkidu também.
Ao se ver face à sua mortalidade, Gilgamesh parte em busca da receita da vida eterna, pois
recusa-se a morrer como Enkidu. Ele vai conversar com os sobreviventes do dilúvio para
saber como sobreviver. “Abzu de Enlil” significa palácio de Enlil e Adad é o deus da
tempestade.

Conclusão
O primeiro texto aborda criação, cosmogonia e antropogonia. No segundo, são
mostradas brechas no ordenamento: o processo pode ser revertido por Anzu, havendo o caos
na cosmogonia. O terceiro documento aborda a mitologia do medo, do terror. O universo
pode ser tumultuado e a própria humanidade apagada pelo mar.
A mitologia cria um espectro positivo da existência, mas deixa na berlinda que esta
existência pode ser apagada, havendo o retorno ao estado original. O dilúvio significa a
instrumentalização das águas, o retorno às águas primordiais, deixando a porta aberta para a
destruição. Ao humano, cabe entreter este universo e cosmos através do trabalho,
característica inerente ao ser humano. Há a criação de uma ética do trabalho relacionada ao
humano com o sustento dos deuses e uma série de elementos que serão incorporadas à
ideologia da lógica palaciana. Um circuito cíclico de que tudo acaba onde começa.

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