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INTUIÇÃO E AS ARTES

Para abordarmos a interrelação entre intuição e arte vamos entrar num campo
polêmico que é o confronto entre aquilo que podemos ver , sentir, comprovar,
medir e registrar, e aquilo que acreditamos existir através de experiências
pessoais, porém nem sempre fácil de explicar e demonstrar.
Nosso intuito não é radicalizar nem polarizar o assunto, mas tão somente,
dentro do espírito deste seminário e do tempo disponível, mostrar rapidamente
alguns fatores e definições que nos ajudem a tecer um raciocínio a respeito.
O conceito de intuição nos vem à mente de forma natural e expontânea, e na
maioria das vezes não respaldada por critérios científicos.
Assim, vamos recordar algumas palavras relacionadas com o tema e que
pertencem, ora ao vocabulário comum, ora ao glossário da psicologia. Iremos
também apresentar alguns exemplos práticos para induzir a questionamentos à
medida que formos desenvolvendo o assunto.
Iniciemos pela própria palavra tema deste trabalho:
Intuição (do lat. intuere)
Contemplação , sensação ou sentimento pelos quais se atinge ou se apreende
em toda a sua plenitude uma verdade de ordem diversa (mas nem sempre)
daquela que se atinge pela razão ou pelo conhecimento discursivo ou analítico.
De intuir : ver prontamente com o intelecto sem necessidade de racionalização
ou prova.
Não devemos confundir com intuicionismo que é a doutrina filosófica segundo a
qual somente a intuição permite apreender a realidade absoluta.
Imaginação (do lat. imaginatione)
Faculdade que tem o espírito de representar imagens
Faculdade de evocar imagens de objetos que já foram percebidos
Faculdade de formar imagens de objetos que não foram percebidos, ou de
realizar novas combinações de imagens. (Posso nunca ter visto um
elefante ,mas posso imagina-lo baseado em leituras, imagens gráficas ou
simplesmente ter ouvido a respeito).
Faculdade de criar mediante a combinação de idéias.
Inspiração (do lat. inspiratione)
Ato de inspirar-se ou de ser inspirado, Resultado de uma atividade inspiradora,
Pessoa ou coisa que inspira, Entusiasmo poético, Estro, engenho poético,
imaginação criadora, talento
Criação (do lat. creatione)
Ato ou efeito de criar, o conjunto dos seres criados, obra, invento, produção.
Criatividade
Qualidade de criativo, capacidade criadora, engenho, inventividade
Premonição (do lat. praemonitione)
Sensação ou advertência antecipada do que vai acontecer, pressentimento
Circunstância ou fato que deve ser tomado como aviso; presságio.
Vale aqui lembrar do verbo Monir (do lat. monere), existente em português
significando avisar para vir depor sobre matéria de uma monitória (que é um
aviso com que se convida o público a ir dizer o que souber acerca de um
crime).
Advertir, admoestar. Assim, pré-monição é um aviso prévio do que vai
acontecer.
Cognição (do lat. cognitione)
Todas as atividades mentais associadas com o pensamento, conhecimento e
recordação.
Aquisição de um conhecimento. Conhecimento, percepção.
A atividade mental associada com o processamento, compreensão e
comunicação de informação.
Consciência (do lat. conscientia)
Atributo altamente desenvolvido na espécie humana por meio do qual o homem
se percebe interagindo entre si e com seu ambiente.
A percepção de nós mesmos e do nosso ambiente.
Pressentimento.
Ato ou efeito de pressentir
Sentimento intuitivo e alheio a uma causa conhecida, que permite a previsão
de acontecimentos futuros.
Intuição, palpite, presságio.
Percepção (do lat. perceptione)
Ato efeito ou faculdade de perceber.
Perceber (do lat. percepire)
Adquirir conhecimento de algo , por meio dos sentidos.
Formar a idéia de alguma coisa, abranger com a inteligência, entender,
compreender.
Ver ao longe, divisar, enxergar.
Psicometria é o registro e medida dos fenômenos psíquicos por meio de
métodos experimentais padronizados.
Percepção extrasensorial PES)
É a percepção sem o uso dos sentidos e os fenômenos por ela tratados são
denominados de “paranormais”.
As alegações de fenômenos paranormais incluem as previsões astrológicas, a
cura psíquica, a reencarnação, a comunicação com os mortos, as viagens
freqüentes para fora do corpo.
Destas, as consideradas mais “respeitáveis” no meio científico, testáveis e
relevantes para o estudo sobre PES, são as seguintes :
Telepatia - ou comunicação mente a mente, uma pessoa enviando
pensamentos para outra ou percebendo os pensamentos de outra.
Clarividência - ou seja, perceber eventos remotos, como sentir que a
casa de um amigo está em chamas.
Pré-cognição - ou perceber eventos futuros, como a morte de um político
ou o resultado de uma competição esportiva.
Ligadas a essas temos a “psicocinese”, ou o domínio da mente sobre a
matéria, como fazer levitar uma mesa ou influenciar o lançamento de dados.
Alguns dados são expostos a seguir não com o objetivo de negar a intuição em
si, mas para dizer da importância de se realizarem estudos que possam levar a
conclusões embasadas em fatos comprováveis.

As análises de visões psíquicas oferecidas aos deptos de polícia dos E.U.A


revelam que elas não são mais acuradas do que os palpites dados por outras
pessoas (Reiser, 1982 citado por Myers,David 1999).
96% dos cientistas da National Academy of Science são céticos em relação `a
ocorrência desses fenômenos.

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O mágico James Randi, ofereceu US$ 10.000 a qualquer pessoa que pudesse
demonstrar “ qualquer capacidade paranormal” diante de um grupo de
especialistas. Essa soma foi elevada em 1996 para US$1 Milhão para
qualquer que provar possuir um poder psíquico genuíno sob condições
apropriadas de observação. Esse desafio é feito há 35 anos sem que ninguém
tenha conseguido resultados comprovados.
Assim, para haver credibilidade o fenômeno deve ser reproduzível e ter uma
teoria para explicá-lo. Esse mesmo mágico, nesta semana que passou,
submeteu especialistas em Homeopatia a testes de laboratório e estatísticos
visando provar a eficácia constante dessa prática médica, que é muito
difundida e tem inúmeros defensores e seguidores. No final, o prêmio não pode
ser pago mais uma vez, em vista dos resultados negativos.
O fenômeno da Intuição , assim, é muito polêmico e as partes continuam cada
uma a pesquisar e a apresentar suas razões.
A intuição ou a percepção, no entanto, nem sempre nos são fieis, como
podemos ver nas duas situações seguintes:
Imagine alguém dobrar 100 vezes, sucessivamente, uma mesma folha de
papel que tenha 0,1mm de espessura . Qual seria sua espessura final ? A
resposta é o número 1 seguido de 30 zeros, equivalente a 800 trilhões de
vezes a distância entre a Terra e o Sol.
O tabuleiro de xadrez possui 64 casas entre brancas e pretas.Se colocarmos 1
grão de trigo na primeira casa, o dobro desta na segunda, o triplo desta última
na terçeira e assim sucessivamente, quantos grãos teremos na última casa? A
resposta é o número 9 com 17 zeros à sua direita
Muitos consideram a intuição como um evento externo quase que sobrenatural,
em que alguém passa a ter uma compreensão repentina sobre algo, de forma
que esse alguém não tenha nenhuma interferência sobre o ato.
Porém os psicólogos em geral apontam dois fenômenos que ocorrem
freqüentemente e que podem ser registrados e acompanhados:
A distorção denominada tendenciosidade da racionalização a posteriori. É
como se disséssemos: “Já sabíamos desde o início”. Como exemplo podemos
citar os economistas que via de regra acomodam suas análises àquilo que
efetivamente ocorreu na economia.
O excesso de confiança no julgamento. Como exemplo, ao serem colocadas
para decifrarem um anagrama (que são palavras com letras embaralhadas), as
pessoas se comportam de duas maneiras distintas:
Quando já sabem a palavra chave, ao serem perguntadas dizem que
solucionariam o problema em torno de 10 segundos.
Sem saberem antecipadamente a palavra chave, a média das pessoas resolve
o problema em 3 minutos.

Agora que já falamos um pouco sobre a intuição e processos correlatos, vamos


ver sua interrelação com a arte.
A origem da palavra Arte pode ser constatada na seguinte frase de Machiavel
em sua obra “ História de Florença”: “Estes, assim que se reuniram, dividiram a
cidade toda em Artes, e perante cada uma delas colocaram um magistrado que
administrasse justiça aos seus integrantes; além disso, a cada Arte deram uma
bandeira para que cada homem ali acudisse armado quando a cidade
necessitasse”.

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Arti, plural de Arte, eram,pois organizações juramentadas de pessoas da
mesma profissão, em geral ligados ao artezanato que teriam surgido para
defendê-los de um patriciado comercial então existente. Estabeleciam vários
controles, entre os quais preços, salários, pesos e medidas e a qualidade dos
produtos.
A Arte no sentido mais comum pode ser entendida como a criação humana de
valores estéticos, tais como beleza, equilíbrio, harmonia, revolta, que sintetizam
as suas emoções, sua história, seus sentimentos e sua cultura.
Cabe lembrar aqui a lenda mitológica de Mnemósyne, mulher de Titan, a filha
do primitivo Deus do Céu, Uranus com a deusa Terra, Ge. Seu nome significa
memória. Zeus, Deus supremo que residia no monte Olimpo, faz amor com ela
por nove vezes consecutivas e ela dá à luz nove musas, que se tornam as
deusas das finas artes, da música e da literatura.
Mas desde muito tempo antes da civilização grega o ser humano vem
manipulando cores, formas, gestos, espaços, sons, silêncios, superfícies,
movimentos e luzes com a intenção de dar sentido a algo, de comunicar-se
com os outros. Para isso ele se utiliza de símbolos ou signos. A metáfora,
assim formada com esses símbolos possibilita a criação representacional da
idéia artística. A metáfora significa transposição, translação; consiste no uso de
alguma coisa no lugar de outra. Exemplos:
Cruz por cristianismo
A cor vermelha significando pare (no trânsito)
O desenho de uma pegada, significando a passagem de alguém ou relativo a
pedestre.
A arte abrange todas as atividades e aspectos de uma cultura em que se
trabalha o sensível e o imaginário, com o objetivo de alcançar o prazer e
representar ou desenvolver a identidade de um povo ou de uma classe social,
seja mantendo a visão comum, seja apresentando uma imagem
transformadora.
As produções artísticas são ficções reveladoras, criadas pelos sentidos,
imaginação, percepção, sentimento, pensamento e a memória simbólica do ser
humano. Assim, a liberdade de expressão é relativa, pois somos livres dentro
de nossos próprios limites, condições e contexto, de forma consciente ou
inconsciente.
Sabe-se hoje que o sentido da visão não depende somente do olho e do objeto
focado. Depende também de toda a memória existente no cérebro humano.
Esta matéria foi transmitida meses atrás pelo programa Fantástico da Rede
Globo, através do Dr. Dráusio Varela.
E assim se dá com os nossos demais sentidos.
Mais do que a reprodução de animais selvagens reais , os desenhos e pinturas
da arte rupestre nos falam da sensibilidade e da capacidade de abstração do
homem pré-histórico. São imagens poéticas que expressam a sua percepção
daquele mundo orientada pela imaginação.
E para efetivar sua representação do que está em sua imaginação, o ser
humano utiliza-se de símbolos ou signos traduzidos em várias formas de
linguagem para saber, compreender, produzir conhecimento e mostrar sua
percepção do mundo.
Essas linguagens, verbais e não verbais, podem ser:
Oral, Gráfica, Tátil, Auditiva, Gustativa,

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Artísticas tais como
Cênicas- Teatro,dança
Musical- Música, canto
Visual- Desenho, pintura,escultura,
fotografia,cinema
Temos a Literatura, a Arquitetura e o Artezanato. E não devemos nos esquecer
da Arte eletrônica.
Como mencionamos no início a faculdade de percepção, e arte envolve
percepção, vamos abordar o que se chama de adaptação perceptiva do ser
humano.
Quando usamos óculos novos normais nos sentimos um pouco incomodados,
porém dentro de pouco tempo nos adaptamos ao novo grau.
O que ocorrerá no entanto se usarmos óculos alterados de forma a transferir a
localização dos objetos, por exemplo, para 40 graus à direita ?
Se estivermos jogando bola, faremos os lançamentos bem para a direita.
Os pintos de galinha nessas condições não se adaptam e, ao se alimentarem,
continuam a bicar onde os grãos parecem estar
O ser humano ao contrário em bem pouco tempo se habitua e passa a jogar a
bola na direção correta.
O que aconteceria se efetuássemos uma alteração ainda maior, como por
exemplo fazer com que o chão ficasse em cima e o céu em baixo? Peixes, rãs
e salamandras não conseguem se adaptar. No entanto gatos, macacos e
humanos podem adaptar-se a um mundo invertido. Em 1896 o psicólogo
George Stratton inventou e usou por 8 dias um equipamento ótico que
transferia a esquerda para a direita e a parte de cima para baixo. Tornou-se
assim, a primeira pessoa a experimentar uma imagem invertida quando estava
de pé. Passou por dias de desconforto e náuseas, mas no oitavo dia já
conseguia estender a mão para pegar alguma coisa na direção correta.
E para terminar, deixo aqui , para reflexão, algumas frases que ligam as coisas
etéreas à razão, à arte e em particular à matemática:

VOLTAIRE (1694 - 1778) – “Nota-se entre os matemáticos uma imaginação


assombrosa... Repetimos: havia mais imaginação na cabeça de
Arquimedes do que na de Homero”
SANTO AGOSTINHO (354 - 430) – “Sem a matemática não nos seria
possível compreender muitas passagens das Santas Escrituras”.
SÃO JERÔNIMO (342 - 420) – “Possui a matemática uma força
maravilhosa capaz de nos fazer compreender muitos mistérios de nossa fé”.

Dessa forma, muitos são os fenômenos que ainda não compreendemos


inteiramente e que aguçam nossa curiosidade, servindo ao mesmo tempo
como motivação para continuarmos a pesquisar, rumo ao nosso destino
traçado pelo G\A\D\U\

E termino com a frase de MÁXIMO GORKI:

“A ciência é a razão do mundo. A arte é sua alma”.

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Bibliografia
Intuição e Maçonaria (pág.73, Intuição e as Artes)
Gregório, Fernando César
Editora Maçônica A Trolha Ltda - Londrina/PR

A Língua no Mundo-Ensino de Arte


Martins, Miriam Celeste
Picosque, Gisa
Guerra, M.Terezinha Telles Guerra
Editora FTD S.A - São Paulo/SP

Introdução à Psicologia Geral


Myers, David
LTC-Livros Técnicos e Científicos EdItora S.A

Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa


2ª Edição 36ª impressão
Holanda Ferreira, Aurélio Buarque
Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro/RJ

Dizionario etimológico della lingua italiana


Ristampa 1998
Cortelazzo, Manlio e Zolli, Paolo
Zanichelli, Bologna

O Homem que Calculava


Than, Malba 44ª Edição
Editora Record – RJ /SP

História de Florença
Nicolo Machiavelli
Tradução de Nelson Canabarro
Musa Editora Ltda
São Paulo/SP

Who’s Who in Classical Mythology


Jessica Hodge
Smithmark,Publishers Inc
USA/New York
Printed in Hong Kong

Web Site www.históriadaarte.com.br


por Simone R.Martins/Margaret H. Imbroisi
e Márcio Lopes

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