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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA
MECÂNICA

RELATÓRIO DA DISCIPLINA SEM0397 – MODELAGEM E SIMULAÇÃO


DE SISTEMAS TÉRMICOS

PROJETO DE DIMENSIONAMENTO E ANÁLISE ECONOMÉTRICA


DE UMA UHE

ALUNOS:
Heitor Tiburcio 10309097
Henrique Rosa 10309906
Leonardo Zanetti 9784721
Lucas Amparo 10309948
Lucas Felix 10311955
Vitor Ferreira 10308989

Orientação: Professores C. B. Tibiriça e P. Seleghim Jr.

São Carlos, dezembro de 2020


2
PROJETO DE DIMENSIONAMENTO E ANÁLISE ECONOMÉTRICA
DE UMA UHE

Relatório da Disciplina SEM0397 – Projeto de


modelagem de sistemas térmicos e fluídicos, sob a
orientação dos Professores C. B. Tibiriça e P. Seleghim Jr.

São Carlos, dezembro de 2020.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Consumo de eletricidade mundial por setor entre 1974 e 2018 [1]. ............... 8
Figura 2: Produção mundial de eletricidade percentual por cada fonte entre 1974 e 2019
[2]. .............................................................................................................................................. 9
Figura 3: Geração de energia entre janeiro de 2000 e janeiro de 2020 no Brasil [3] ... 10
Figura 4: Previsão do panorama da matriz energética brasileira para 2024 [4] ........... 11
Figura 5: Esquematização de uma turbina do tipo Pelton [5]. ..................................... 13
Figura 6: Esquematização de uma turbina do tipo Francis eixo horizontal [5]. ........... 14
Figura 7: Esquematização de uma turbina do tipo Hélice [5]. .................................... 14
Figura 8- Esquematização de uma turbina do tipo Kaplan [8]. .................................... 15
Figura 9: Corte representativo de uma usina hidrelétrica de reservatório Adaptado de
[12]. .......................................................................................................................................... 18
Figura 10:Diagrama para seleção do tipo de turbina hidráulica [9]. ............................ 20
Figura 11: Ilustração de uma turbina Francis. Adaptado de [13]. ................................ 27
Figura 12: Esquema de cotas da tubulação de sucção [9]. ........................................... 28
Figura 13: Dimensões principais da caixa espiral para turbina Francis de eixo vertical
[9]. ............................................................................................................................................ 29
Figura 14: Custo unitário da turbina Francis de eixo vertical em função da razão de kW
pela velocidade síncrona [9]. .................................................................................................... 34
Figura 15: Custo do gerador em função do torque magnético desempenhado pelo mesmo
[9]. ............................................................................................................................................ 34
Figura 16: Custo do conduto por unidade de comprimento em função da vazão máxima
turbinada [9]. ............................................................................................................................ 35
Figura 17: Variação da taxa básica de juros SELIC em 2020 [18].. ............................ 39
Figura 18: Variação da taxa básica de juros SELIC desde 2010 [18]. ......................... 40
Figura 19: Cotas principais da caixa espiral da turbina Francis de eixo vertical. ........ 44
Figura 20: Cotas principais da tubulação de sucção da turbina Francis de eixo vertical.
.................................................................................................................................................. 45
Figura 21: Gráfico do fluxo de caixa acumulado durante o período de vida útil da UHE.
.................................................................................................................................................. 48

4
Figura 22: Comportamento do valor presente líquido frente a variações da taxa básica
de juros. .................................................................................................................................... 49
Figura 23: Influência do diâmetro do conduto forçado na potência elétrica gerada por
uma unidade geradora e na perda de carga atuante no conduto. .............................................. 51
Figura 24: Potência elétrica por unidade e custo material em função do diâmetro do
conduto forçado. ....................................................................................................................... 52
Figura 25: Variação do índice benefício custo do conduto forçado em função do
diâmetro do mesmo. ................................................................................................................. 53
Figura 26: Índice benefício custo, considerando os custos totais dos componentes
dimensionados para a usina, em função do diâmetro do conduto forçado. .............................. 54

5
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Dados referentes aos níveis operacionais do reservatório [10]. ................... 16


Tabela 2: Hipóteses simplificadoras. ............................................................................ 18
Tabela 3: Valores para o coeficiente arredondador [9]. ............................................... 22
Tabela 4: Propriedades físicas da água e valor da aceleração da gravidade. ............... 23
Tabela 5: Preço da chapa metálica [9]. ......................................................................... 35
Tabela 6: Custo médio unitário por faixa de potência considerando cotação média do
dólar em dez/2015 [15]. ........................................................................................................... 36
Tabela 7: Fator de depreciação da UHE [9]. ................................................................ 36
Tabela 8: Horizontes temporais considerados para a usina hidrelétrica [15][16]. ....... 37
Tabela 9: Preços médios realizados no leilão de energia na data 18/10/2019 [17]. ..... 37
Tabela 10: Taxas básicas de juros em termos anuais e mensais................................... 39
Tabela 11: Principais quedas de projeto para a UHE localizada no rio Paraibuna. ..... 42
Tabela 12: Parâmetros iniciais para o dimensionamento da UHE. .............................. 42
Tabela 13: Dados correspondentes ao dimensionamento das turbinas utilizadas na UHE
projetada. .................................................................................................................................. 42
Tabela 14: Vazões turbinadas e rendimento atualizado para cada turbina. .................. 43
Tabela 15: Potência e rendimento atualizado para cada gerador projetado para a UHE.
.................................................................................................................................................. 43
Tabela 16: Velocidades operacionais. .......................................................................... 43
Tabela 17: Número de pólos e torque magnético para os geradores dimensionados. .. 44
Tabela 18: Diâmetro de saída do rotor das turbinas. .................................................... 44
Tabela 19: Valores assumidos por hipótese no dimensionamento do conduto forçado.
.................................................................................................................................................. 45
Tabela 20: Resultados do dimensionamento do conduto forçado. ............................... 46
Tabela 21: Custos dos equipamentos dimensionados. ................................................. 46
Tabela 22: OPEX mensal sem depreciação e CAPEX para o empreendimento avaliado.
.................................................................................................................................................. 47
Tabela 23: Payback do investimento referente à usina hidrelétrica projetada. ............ 47
Tabela 24: Métricas de análise de investimentos para o empreendimento da UHE no rio
Paraibuna. ................................................................................................................................. 49

6
SUMÁRIO

SUMÁRIO .................................................................................................................................. 7

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 8

1.1. Contextualização ............................................................................................... 8

1.2. Principais Elementos de uma Usina Hidrelétrica ........................................... 11

1.3. Objetivos ......................................................................................................... 15

1.4. Parâmetros De Entrada E Requisitos De Projeto ............................................ 16

2. METODOLOGIA DE DIMENSIONAMENTO .......................................................... 17

2.1. Determinação das Principais Quedas .............................................................. 19

2.2. Dimensionamento do Conjunto Turbina e Gerador ........................................ 19

2.3. Dimensionamento do Conduto Forçado ......................................................... 30

3. PRÉ DIEMENSIONAMENTO .................................................................................... 33

3.1. Cálculo de Custos ........................................................................................... 33

3.2. Análise de Viabilidade Econômica ................................................................. 38

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................................ 41

5. ANÁLISE DO DIÂMETRO DA TUBULAÇÃO DE ADUÇÃO ............................... 50

6. CONCLUSÃO .............................................................................................................. 55

7. REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 56

APÊNDICE A .......................................................................................................................... 58

7
1. INTRODUÇÃO

1.1. Contextualização
O crescimento do uso de energia elétrica no mundo é um fenômeno visivelmente intenso
ao longo dos anos, principalmente a partir do início deste século. Não à toa, a sua aplicação é
amplamente importante para o funcionamento de muitas das atividades exercidas pela
humanidade. Indo além, o aumento populacional junto ao desenvolvimento da vida humana
relacionada à amplificação de tecnologias faz da energia elétrica uma fonte indispensável para
a manutenção de diversos setores da sociedade moderna. Os dados disponibilizados pela
Agência Internacional de Energia (IEA) expostos na Figura 1 ilustram todas essas preposições
em um panorama histórico do consumo de energia elétrica.

Figura 1: Consumo de eletricidade mundial por setor entre 1974 e 2018 [1].
Para suprimir esse crescente consumo, o ser humano busca constantemente encontrar
diferentes formas de gerar eletricidade. A partir de diferentes fontes existentes na natureza, a
utilização de tecnologias específicas, permite realizar uma série de transformações energéticas
para chegar à energia elétrica a partir da energia embutida na fonte. A Figura 2 mostra os
diferentes recursos utilizados para atender a demanda mundial ao longo dos anos.

8
Figura 2: Produção mundial de eletricidade percentual por cada fonte entre 1974 e
2019 [2].
Cada fonte pode, ainda, ser avaliada pelo seu grau de sustentabilidade. Hoje, a tendência
mundial é buscar por fontes energéticas que não degradem o meio ambiente e que sejam
renováveis. Entre elas, encontra-se a fonte hídrica da qual consegue-se obter eletricidade a partir
da transformação da energia do movimento e de quedas d'água, proporcionados pelos cursos de
rios, em elétrica. A manutenção do ciclo natural da água mantém a energia hídrica sempre
renovada.
No panorama mundial, percebe-se que a utilização desta fonte específica não ultrapassa,
segundo a IEA, os 15% de toda a matriz energética. No Brasil, o panorama é diferente pois,
devido ao seu extenso potencial natural, a grande maioria da geração de energia elétrica é
derivada de fontes hídricas. De acordo com dados fornecidos pelo Operador Nacional do
Sistema Elétrico (ONS) e ilustrados na Figura 3, nota-se o uso extensivo das fontes energéticas
de origem hidroelétrica.

9
Figura 3: Geração de energia entre janeiro de 2000 e janeiro de 2020 no Brasil [3]
Os motivos que moldaram esta atual realidade do setor elétrico brasileiro derivam-se
das condições naturais do país, como dito anteriormente, e das vantagens oferecidas pela
hidreletricidade. O Bê-á-Bá de Itaipu, publicado pela Assessoria de Comunicação Social da
Itaipu Binacional em novembro de 2012, endossa diversas vantagens da hidreletricidade. Entre
elas, pode-se destacar a estabilidade e confiabilidade que este tipo de fonte traz ao sistema
elétrico brasileiro por conseguir suprir as oscilações diárias e esporádicas dos níveis de tensão
de maneira mais eficaz do que outras fontes.
Para também realçar a importância futura para o sistema elétrico, o Bê-á-Bá promove a
longevidade e versatilidade de hidrelétricas. Por possuir uma média de vida de 50 a 100 anos e
poder incorporar novas tecnologias ao longo de sua existência, as hidrelétricas permitem
amparar muitas gerações futuras de maneira financeiramente e operacionalmente viável.
Por fim, a ONS concede uma previsão do panorama geral da matriz energética brasileira
com as fontes responsáveis pela geração da energia elétrica em circulação no sistema
interligado nacional, até 2024, o que pode ser observado na Figura 4. Percebe-se que, apesar de
uma relativa diminuição da participação da matriz hidrelétrica, esta continuará tendo domínio
no abastecimento elétrico nacional.

10
Figura 4: Previsão do panorama da matriz energética brasileira para 2024 [4]
1.2. Principais Elementos de uma Usina Hidrelétrica
Para compreender o funcionamento de uma hidrelétrica faz-se necessário elucidar como
é feita a sua classificação e quais são os seus elementos essenciais.
Existem diversas classificações para as usinas hidrelétricas, baseadas no tipo de regime
à qual está submetida (de reservatório ou a fio d’água), no tipo e material da barragem, tipo de
conjunto de turbina e gerador. Porém, de maneira geral, as hidrelétricas podem ser classificadas
em três tipos, de acordo com a capacidade de geração de energia: Central Geradora Hidrelétrica
(CGH), com menor capacidade de geração, Pequena Central Hidrelétrica (PCH) e Usina
Hidrelétrica (UHE), com maiores capacidades produtivas de energia.
Em relação aos principais elementos que compõem as usinas hidrelétricas, desde as de
menor capacidade de geração até as de grande porte, podemos citar:
• Barragem;
• Vertedouro;
• Canal de adução;

11
• Tubulação de adução;
• Turbina;
• Gerador;
• Casa de força.
As barragens mais comuns para PCHs são aquelas constituídas de terra ou
enrocamentos. Essas barragens podem também ser feitas em concreto, em alguns casos. Para
UHEs também podem ser utilizadas barragens de enrocamento, além de estruturas em concreto
e aço. Existem ainda as barragens de contraforte, de lajes e muros de concreto armado, da
mesma forma que barragens em arco, que usam essa geometria para garantir o melhor
aproveitamento do material da estrutura. É importante ressaltar que o tipo da barragem, sua
geometria e forma de construção são dependentes de uma série de fatores, que podem incluir o
tipo de solo, infraestrutura local, porte da unidade geradora de energia elétrica, entre muitas
outras. A determinação da barragem ideal para cada aplicação constitui um estudo complexo
por si só [5].
Outro componente típico de uma UHE é o vertedouro, que pode ser definido como sendo
um orifício cujo perímetro molhado é constituído por uma linha aberta que se assemelha a
secção transversal de um canal de superfície livre. Existem alguns tipos de vertedouros que se
diferem com relação à forma geométrica da seção vertente, como: triangular, semicircular,
circular, trapezoidal, etc; os quais são utilizados para medições de descarga ou estudos de
hidrologia. Além disso, para vertedores aplicados em barragens de represas, têm-se que sempre
que a descarga a montante da represa for maior que a descarga turbinada, a represa se enche até
sua cota máxima. Após isso, a diferença ou excesso deve extravasar por meio do vertedor,
impedindo que o nível da água no reservatório suba acima da cota máxima prevista [5].
Com relação à maneira de se conduzir a água da barragem até a turbina, pode-se utilizar
dutos e canais de adução. Para se conseguir a condução adequada da água, utiliza-se sistemas
de canais e tubulações os quais serão dimensionados de acordo com a vazão desejada. Uma boa
prática para esse componente é dimensioná-lo da forma mais simples possível, por motivos de
economia. Para isso, é interessante realizar um estudo, mesmo que superficial, do terreno de
maneira a avaliar se as condições geológicas permitem a construção do canal [6].
Um dos principais componentes de uma UHE são as turbinas, que são equipamentos
hidráulicos que transformam a energia hidráulica em energia mecânica, que é o torque com o
qual o eixo da máquina gira. Elas podem ser classificadas com relação à direção com que o
fluxo d’água passa pelas pás do rotor, podendo ser radial (fluxo d’água que passa pelas pás do

12
rotor se efetua na direção radial), axial (fluxo d’água que passa pelas pás do rotor toma a direção
do eixo da máquina) ou ainda turbinas do tipo tangencial (quando a água incide nas pás na
direção tangente ao rotor). Além disso, podem ainda ser classificadas como de ação, quando a
turbina aproveita a energia cinética de um jato d´água incidindo sobre as pás e a transformação
se dá à pressão constante, ou de reação, quando a turbina aproveita a energia cinética de um
jato d´água incidindo sobre as pás e a transformação ocorre à pressão variável [7].
Existem alguns tipos de turbinas que são tradicionalmente utilizadas em UHEs, podendo
destacar as do tipo: Pelton, no caso das máquinas de ação, Francis, Hélice, e Kaplan, no caso
do tipo de reação, que serão ilustradas na sequência:
• Turbinas Pelton:
São classificadas como turbinas de ação, por transformarem a energia potencial de
queda em energia cinética no jato injetor. Posteriormente, esta energia cinética é convertida em
energia mecânica no rotor da turbina. São tradicionalmente utilizadas em locais onde há altas
quedas e pequenas vazões [7]. Um esquemático ilustrativo de uma turbina Pelton está disposto
na Figura 5.

Figura 5: Esquematização de uma turbina do tipo Pelton [5].

• Turbinas Francis:
É o tipo de turbina mais utilizada em quedas e vazões médias. Apresenta um elevado
rendimento e este rendimento é tão mais alto quanto maior for a potência, o grau de fabricação
e acabamento da turbina. Para as pequenas unidades, elas são geralmente previstas com o eixo
na posição horizontal, o que facilita a instalação e a manutenção do gerador correspondente.
Por outro lado, o eixo na posição vertical apresenta a vantagem de se poder colocar o gerador
acima do nível máximo de água, bem como ser utilizada em situações de pressões nominais
mais elevadas [7]. Um esquemático ilustrativo de uma turbina Francis está disposto na Figura
6.

13
Figura 6: Esquematização de uma turbina do tipo Francis eixo horizontal [5].

• Hélice:
Também são conhecidas como propulsoras, pois são fabricadas com as pás do rotor
fixas. Devido às suas características hidrodinâmicas, este tipo de turbina é indicado somente
para trabalhar a toda carga, permitindo pouca variação na vazão, de forma que não são muito
indicadas para uso em meio rural, devido a sua dificuldade de dimensionamento e fabricação.
Por fim, são turbinas indicadas para pequenas centrais com grandes vazões e baixas quedas [7].
Um esquemático ilustrativo de uma turbina de Hélice está disposto na Figura 7.

Figura 7: Esquematização de uma turbina do tipo Hélice [5].

• Turbinas Kaplan:
As Turbinas Kaplan podem ser consideradas como um aperfeiçoamento da turbina
Hélice. A diferença é que as pás da turbina Kaplan são móveis, enquanto as da turbina Hélice
são fixas. As turbinas do tipo Kaplan são indicadas para operar em baixas quedas – até 60
metros e grandes volumes de água [7]. Um esquemático ilustrativo de uma turbina de Hélice
está disposto na Figura 8.

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Figura 8- Esquematização de uma turbina do tipo Kaplan [8].
Dessa forma, resumidamente, hidrelétricas funcionam por meio de grandes turbinas que
giram devido à força das águas. A água passa por tubos que são interligados às turbinas,
fazendo-as girar. Cada turbina é acoplada a um equipamento chamado gerador, formando,
assim, a unidade geradora que faz a transformação da energia mecânica, do movimento das pás
da turbina, em energia elétrica. Desse modo, as casas de força são uma área destinada à
instalação dos grupos geradores (turbina-gerador) e à criação de uma área onde se possa ter um
espaço de montagem e manutenção [7].
Além disso a casa de força destina-se também à acomodação dos quadros de comando
e dos dispositivos de proteção. Outro aspecto interessante é a sua própria construção, que deve
ser de acordo com a potência a ser instalada na central [7].

1.3. Objetivos
Como diretrizes e objetivos do presente trabalho, tem-se o dimensionamento dos
principais componentes hidráulicos, bem como do gerador de uma usina hidrelétrica (UHE) de
potência instalada entre 80 e 90 MW, localizada na bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul,
mais precisamente no rio Paraibuna. Além da realização do dimensionamento destes
elementos, têm-se como objetivo a realização de uma análise de custo do empreendimento,
levantando os principais parâmetros econométricos e, assim, verificando a viabilidade
econômica do projeto.
Como objetivo específico do trabalho, busca-se a otimização de um dos componentes
dimensionados. Trata-se do dimensionamento do diâmetro da tubulação de adução da turbina.
Essa otimização baseia-se na análise da mecânica hidráulica e busca diminuir o custo desta
tubulação, de acordo com a modelagem adequada.

15
1.4. Parâmetros De Entrada E Requisitos De Projeto
A usina hidrelétrica a ser desenvolvida situa-se no rio Paraibuna, localizado na bacia
hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, próximo a região de São José dos Campos. Essa região
geográfica, bem como a bacia hidrográfica, foi selecionada dentre as existentes no estado de
São Paulo, devido a proximidade com os grandes centros urbanos, reduzindo as perdas
energéticas e os gastos associados às redes de transmissão. Além disso, o fato da localidade
apresentar um relevo bastante acidentado e não muito habitado facilita a implementação de uma
usina hidrelétrica com reservatório. O relevo em formato acidentado permite com que a área
alagada do reservatório seja diminuta, já a baixa taxa habitacional da região, implica em menor
necessidade de desapropriação de área urbanas e rurais, diminuindo assim os impactos sócio-
ambientais [9].
O escopo do presente do trabalho não aborda o estudo hidrológico necessário para a
construção de uma usina hidrelétrica. Para as obras civis associadas adota-se a existência prévia
de um reservatório no rio Paraibuna, bem como a de sua barragem. Os parâmetros hidrológicos
do reservatório e os níveis operacionais do mesmo são estipulados a partir da consulta
informacional da Usina Hidrelétrica Paraibuna, a fim de dotar o projeto de dimensionamento
da (dos componentes hidráulicos) UHE mais realista e representativo. Esses parâmetros estão
contidos na Tabela 1.
Condições de montante
Área da bacia hidrográfica 4.150 𝑘𝑚2
Área do espelho d’água (N.A. 714,00 m) 177 𝑘𝑚2
Área do espelho d’água (N.A. 716,50 m) 206 𝑘𝑚2
Volume morto 2.096 ∙ 106 𝑚3
Volume útil 2.636 ∙ 106 𝑚3
Volume reservado para cheia 458 ∙ 106 𝑚3
Barragem de terra
Comprimento no coroamento 595,00 𝑚
N.A. máximo maximorum 716,50 𝑚
N.A. máximo útil 714,00 𝑚
N.A. mínimo útil 694,60 𝑚
Vazão média de longo termo (MLT período 1931-1998) 69 𝑚3 /𝑠
Vazão máxima média diária observada (13/02/96) 1.547 𝑚3 /𝑠
Condições de jusante
N.A. máximo 626,40 𝑚
N.A. mínimo 625,00 𝑚
N.A. médio 626,00 𝑚
Vazão máxima dos vertedores (tulipa + válvulas) 781 𝑚3 /𝑠
Vazão máxima (válvulas + turbinas) 120 𝑚3 /𝑠
Tabela 1: Dados referentes aos níveis operacionais do reservatório [10].

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Como requisitos para o projeto da UHE, estipula-se que a mesma deve apresentar uma
potência instalada contida na faixa entre 80 e 90 MW, caracterizando, assim, uma usina
hidrelétrica de pequeno porte. E, ainda, possuir um reservatório para controle das instabilidades
hidrológicas, aumentando a estabilidade operacional da usina.

2. METODOLOGIA DE DIMENSIONAMENTO
O princípio básico de funcionamento de uma usina hidrelétrica consiste na conversão
sucessiva de energias, sendo a energia potencial do fluido (água) convertida em energia
mecânica rotacional, a qual é finalmente convertida em energia elétrica por meio de um gerador.
Um sistema fluídico, em qualquer instante, apresenta uma energia total constituída da
soma das parcelas referentes a energia potencial gravitacional, energia cinética e energia
interna. A porção da energia total do sistema, referente à energia cinética é expressa através do
movimento das partículas, dependendo, portanto, da sua velocidade macroscópica, já a parcela
referente à energia potencial gravitacional está relacionada à posição vertical das partículas em
relação a um Datum selecionado. A fração da energia total correspondente à energia interna,
por sua vez, está relacionada ao movimento microscópico dos átomos e das moléculas que
compõem o sistema.
A fim de se contabilizar todas as parcelas de energia, bem como trabalho e calor, pode-
se aplicar a primeira lei da termodinâmica, expressa através da Equação 1, para um volume de
controle contido no sistema fluídico.
𝝏
𝑄̇𝒆𝒏𝒕𝒓𝒂𝒅𝒂 − 𝑊̇𝑠𝑎í𝑑𝑎 = ∫ 𝑒 𝜌 ⅆ𝑉 + ∫ 𝑒𝜌𝑽 ⋅ ⅆ𝑨 (1)
𝝏𝒕 𝒗𝒄 𝒔𝒄

Tendo em vista a operação do sistema em regime permanente, a ocorrência de


escoamento unidimensional a Equação 1, pode ser simplificada, tendo como resultado da
simplificação por tais hipóteses a Equação 2.
𝑄̇𝑒 − 𝑊̇𝑡 + 𝑊̇𝐵
2
𝑃𝑠𝑎í𝑑𝑎 𝑉𝑠𝑎í𝑑𝑎
= [( + + 𝑔𝑧𝑠𝑎í𝑑𝑎 + 𝑢𝑠𝑎í𝑑𝑎 )
𝜌𝑠𝑎í𝑑𝑎 2
(2)
2
𝑃𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎 𝑉𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎
−( + + 𝑔𝑧𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎 + 𝑢𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎 )]
𝜌𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎 2

Para o caso particular de uma usina hidrelétrica, o sistema fluídico em questão apresenta
como fluido de trabalho a água, pode-se ainda assumir a hipótese de fluido incompressível, e

17
considerando que as perdas por cisalhamento produzem uma variação na energia interna, pode-
se obter a representação da equação da energia contida na Equação 3, sendo esta expressa em
termos métricos representando a energia por unidade de peso, ou “carga de fluido”. Na Equação
3 o termo hl representa a perda de carga no escoamento do fluido, estando esta associado às
perdas energéticas por cisalhamento, e os termos Hbomba e Hturbina representam por sua vez, as
cargas de bomba e de turbina associadas ao sistema [11].
2 2
𝑃𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎 𝑉𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎 𝑃𝑠𝑎í𝑑𝑎 𝑉𝑠𝑎í𝑑𝑎
+ + 𝑧𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎 + ℎ𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎 = + + 𝑧𝑠𝑎í𝑑𝑎 + ℎ𝑡𝑢𝑟𝑏 + ℎ𝐿 (3)
𝛾 2𝑔 𝛾 2𝑔
De posse da equação da energia em seu formato mais adequado à aplicação no sistema
fluídico da usina hidrelétrica, apresentada na Equação 3, faz-se necessário uma melhor
visualização do sistema fluídico que compõe a usina, de forma a permitir a seleção adequada
do volume de controle. A Figura 9 representa esquematicamente o corte de uma usina
hidrelétrica com reservatório.

Figura 9: Corte representativo de uma usina hidrelétrica de reservatório Adaptado de


[12].
Assim, conforme ilustrado pela Figura 9, os pontos entre os quais se irá aplicar a
equação de energia são os pontos A e B, representando respectivamente o nível do reservatório
à montante, e o nível de água a jusante da barragem. Estabelecidos os pontos entre os quais será
aplicada a Equação 3, faz-se necessário estabelecer hipóteses simplificadoras inerentes ao
volume de controle selecionado. Estas hipóteses adicionais, juntamente com as hipóteses
fundamentais, são ilustradas da Tabela 2.
Hipótese 1 Regime permanente
Hipótese 2 Escoamento unidimensional
Hipótese 3 Fluido incompressível
Hipótese 4 Reservatório de grandes proporções tanto a montante quanto à jusante da usina,
resultando em velocidades e variações de cota nulas nos pontos A e B
Hipótese 5 Propriedades do fluído constantes e tomadas à temperatura média de 25°C
Tabela 2: Hipóteses simplificadoras.
18
De posse das hipóteses simplificadoras contidas na Tabela 2, e considerando ainda que
os dois pontos de aplicação da equação da energia se encontram abertos ao ambiente, portanto
submetidos à pressão atmosférica, bem como considerando como Datum a cota de nível do
ponto B, obtém-se como equação da energia aplicada ao sistema da usina hidrelétrica a
expressão apresentada na Equação 4.
𝑧𝐴 = ℎ𝑡𝑢𝑟𝑏𝑖𝑛𝑎 + ℎ𝑙 (4)
A forma da equação da energia representada na Equação 4, pode ser utilizada para
realizar os dimensionamentos necessários para a usina hidrelétrica.

2.1. Determinação das Principais Quedas


Como observado no desenvolvimento da equação da energia para o volume de controle
que envolve a usina hidrelétrica, a altura de queda entre os níveis do reservatório a montante da
barragem, e o nível de água no canal de fuga, a jusante da barragem, é de extrema importância
e relevância no dimensionamento dos componentes hidráulicos e elétricos. Desse modo, torna-
se necessário determinar as principais quedas observadas em uma usina hidrelétrica.
As quedas são dadas em função das condições operacionais do reservatório e,
consequentemente, do canal de fuga. Que podem ser expressas, por sua vez, por meio dos níveis
máximos, médios e mínimos a montante e a jusante. As principais quedas são: queda bruta
máxima (HB1), queda bruta média (HB2), queda líquida máxima (H1), queda líquida média (H2).
Tais quedas são dadas respectivamente pelas Equações 5,6,7 e 8.
𝐻𝐵1 = 𝑁𝑎𝑚𝑎𝑥 − 𝑁𝑎𝑗 𝑚𝑒𝑑 (5)
𝐻𝐵2 = 𝑁𝑎𝑚𝑒𝑑 − 𝑁𝑎𝑗 𝑚𝑒𝑑 (6)
𝐻1 = 𝐻𝐵1 − ℎ𝑝 (7)
𝐻2 = 𝐻𝐵2 − ℎ𝑝 (8)

2.2. Dimensionamento do Conjunto Turbina e Gerador


Como ponto de partida para a metodologia de dimensionamento da turbina a ser
utilizada na usina hidrelétrica, é necessário estabelecer qual tipo de turbina deve ser empregada,
determinando a forma construtiva e o princípio de funcionamento, de reação ou de ação.
A seleção do tipo de turbina a ser utilizada na hidrelétrica tem como principais diretrizes
de selecionamento a queda líquida e a potência nominal da unidade geradora de energia. O
diagrama para seleção do tipo de turbina a ser utilizada em função da queda líquida e da potência
nominal da unidade pode ser visualizado na Figura 10.

19
Figura 10:Diagrama para seleção do tipo de turbina hidráulica [9].
Dessa forma, de posse dos níveis operacionais do reservatório e do canal de fuga, bem
como da faixa de potência instalada requisitada para o projeto da usina hidrelétrica, é possível
verificar que o tipo de turbina a ser utilizado na usina hidrelétrica fica restrito ao campo
determinado para turbinas Francis de Eixo Vertical, portanto fica definido que esta deve ser a
turbina a ser utilizada.
Estabelecido o tipo de máquina de fluxo a ser utilizado no projeto da usina hidrelétrica
localizada no rio Paraibuna, deve-se iniciar a determinação do número de unidades de potência
20
necessário para que a potência instalada inicial 𝑃′ atinja os valores requisitados no projeto. Para
realizar essa determinação, torna-se necessário estipular a potência total do conjunto de turbinas
𝑃𝑡′ a qual é dada em função da potência instalada inicial e do rendimento médio do gerador 𝜂𝑔
de acordo com a Equação 9.
1000𝑃′
𝑃𝑡′ = (9)
𝜂𝑔
A fim de realizar o pré-dimensionamento da potência total do conjunto das turbinas,
faz-se necessário assumir um valor médio inicial para o rendimento do gerador. Tal parâmetro
é assumido levando em consideração valores médios recomendados pela literatura. De acordo
com o Manual de Inventário Hidroelétrico de Bacias Hidrográficas, do Ministério de Minas e
Energia, tal rendimento pode ser assumido como sendo de 97% para os cálculos iniciais, ainda,
o manual acrescenta que um valor médio inicial de rendimento para a turbina 𝜂𝑔 é de cerca de
93% [9].
Com a potência total requisitada ao conjunto de turbinas, para que tais máquinas de
fluxo forneçam a potência instalada inicial, pode-se determinar o número de unidades geradoras
𝑁𝑔 necessários ao empreendimento. Esta quantidade de turbinas depende diretamente da
potência total do conjunto de turbinas bem como da potência unitária máxima da turbina para
a queda disponível 𝑃1𝑥𝑡 , como exemplificado na Equação 10.
𝑃𝑡′
𝑁𝑔 = ⅈ𝑛𝑡 ( + 0,999) ≥ 2
1000𝑃1×𝑡 (10)

A potência unitária máxima da turbina para queda disponível consiste em um parâmetro


diretamente associado ao tipo de máquina de fluxo a ser utilizado no empreendimento, e da
queda líquida máxima H1. Conforme já pré-determinado com o auxílio da Figura 10, para os
níveis operacionais de reservatório do projeto da usina em questão, tem-se que o tipo de turbina
a ser empregado consiste na turbina Francis de eixo vertical, sendo para tal categoria de
máquina de fluxo, a potência unitária máxima da turbina para queda líquida máxima disponível
é dada de acordo com o conjunto de relações dados através da Equação 11.
27 ≤ 𝐻1 ≤ 46𝑚: 𝑃1𝑥𝑡 = 1,55 ⋅ 10−10 ⋅ 𝐻17,3423
46 < 𝐻1 ≤ 110𝑚: 𝑃1𝑥𝑡 = 2,0076 ⋅ 𝐻11,2601
(11)
110 < 𝐻1 ≤ 200𝑚: 𝑃1𝑥𝑡 = 750
−1,20311
{ 200 < 𝐻1 ≤ 600𝑚: 𝑃1𝑥𝑡 = 440,01 ⋅ 𝐻1
Convém ainda mencionar que o número de unidades geradoras necessárias para o
empreendimento por recomendação um número superior ou igual a dois, sendo tal
21
recomendação realizada com o intuito de diminuir a dependência da UHE em relação a uma
única máquina de fluxo, de modo que em caso de falhas ou manutenções no componente, a
usina hidrelétrica não sofra paralisação completa de operação como aconteceria com apenas
uma unidade geradora instalada. Essa recomendação é representada na determinação do número
de unidades geradoras por meio da inequação contida na Equação 10.
De posse do número de unidades geradoras necessárias para o suprimento da potência
instalada determinada para a UHE, pode-se determinar a potência inicial de uma unidade
geradora 𝑃’1 , a qual depende da potência instalada inicial 𝑃’ e do número de unidades
geradoras 𝑁𝑔 , conforme evidenciado por meio da Equação 12.
𝑃′
𝑃1′ = ≥ 𝜂𝑔 ⋅ 𝑃1𝑛𝑡 (12)
𝑁𝑔
Entretanto, conforme pode ser visto na Equação 12, há uma restrição operacional para
as máquinas de fluxo, caracterizado por um valor de potência unitária mínima para a queda
disponível 𝑃1𝑖𝑛𝑡 , de modo que a potência inicial de uma unidade geradora deve ser superior a
este limite mínimo de potência multiplicado pelo rendimento médio do gerador. O conjunto de
relações, apresentados na Equação 13 caracteriza a relação entre a potência unitária mínima
para a turbina Francis de eixo vertical e a queda líquida máxima.
27 ≤ 𝐻1 ≤ 200𝑚: 𝑃1𝑛𝑡 = 5
1,2386
{ 200 ≤ 𝐻1 ≤ 350𝑚: 𝑃1𝑛𝑡 = 0,0071 ⋅ 𝐻1 (13)
350 ≤ 𝐻1 ≤ 600𝑚: 𝑃1𝑛𝑡 = 8,36 ⋅ 10−6 ⋅ 𝐻12,5312
Determinado a potência inicial de uma unidade geradora, pode-se estipular o valor final
da potência de uma unidade geradora 𝑃1 estando esta relacionada ao valor inicialmente
determinado e a um coeficiente arredondador 𝑘𝑝 . A Equação 14 ilustra a formulação
matemática para determinação deste valor de potência.
𝑃1′
𝑃1 = 𝑘𝑝 ⋅ ⅈ𝑛𝑡 ( + 0,5) (14)
𝑘𝑝
O coeficiente arredondador 𝑘𝑝 é dado em função do valor de da potência inicial de uma
unidade geradoras, sendo os valores deste coeficiente em função de 𝑃’1, apresentados conforme
a Tabela 3.
𝑘𝑝 Para

0,1 𝑃1 ≤ 10 𝑀𝑊
0,5 10 ≤ 𝑃1′ ≤ 80 𝑀𝑊
1,0 𝑃1′ > 80 𝑀𝑊
Tabela 3: Valores para o coeficiente arredondador [9].

22
De posse dos parâmetros de potência das unidades geradoras a serem utilizadas no
empreendimento, pode-se por fim, calcular o valor da potência instalada final 𝑃 na UHE. Este
valor de potência é determinado multiplicando a potência de cada unidade geradora pelo
número de unidades geradoras na UHE em questão, como apresentado na Equação 15.
𝑃 = 𝑃1 · 𝑁𝑔 (15)
Outro ponto fundamental no dimensionamento das turbinas consiste na análise de
velocidades e de vazão turbinada. Para realização de tais análises faz-se necessário determinar
um valor inicial para a vazão máxima turbinada pelas unidades geradoras 𝑄1 ’. Essa vazão é
dada em função da potência de uma unidade geradora 𝑃1 , de um coeficiente 𝑘’ relacionado a
aceleração da gravidade, a densidade de água e aos rendimentos da turbina e gerador, e da queda
líquida máxima 𝐻1 , conforme apresentado na Equação 16.
106 · 𝑃1
𝑄1′ = ′ (16)
𝑘 · 𝐻1

Como mencionado, o coeficiente 𝑘’ é dado em função de parâmetros físicos, como a


densidade e a aceleração gravitacional, cujos valores estão expostos na Tabela 4, bem como de
parâmetros operacionais da turbina e do gerador, conforme ilustrado pela Equação 17.
Densidade da água [𝑘𝑔/𝑚3 ] 1000
Aceleração da gravidade [m/𝑠 2 ] 9,81
Tabela 4: Propriedades físicas da água e valor da aceleração da gravidade.

𝑘 ′ = 𝜌 ⋅ 𝑔 ⋅ 𝜂𝑡′1 ⋅ 𝜂𝑔1 (17)


Os rendimentos inicialmente adotados para a turbina e para o gerador consistem em
valores médios que devem ser corrigidos para a aplicação específica. O valor atualizado do
rendimento do gerador 𝜂𝑔1 é dado em função da potência do gerador 𝑃2 , conforme a Equação
18.
𝜂𝑔1 = 0,92 ⋅ 𝑃20,01 (18)
A potência elétrica do gerador, por sua vez é determinada em função da potência de
cada unidade geradora e do fator de potência empregado de acordo a Equação 19. Segundo o
Manual de Inventário Hidroelétrico de Bacias Hidrográficas, do Ministério de Minas e Energia,
o fator de potência do empreendimento, pode ser adotado como 0,90 em situações em que não
se detenha mais informações a respeito do mesmo, assim, para o presente trabalho, assume-se
tal condição de fator de potência [9].

23
𝑃1
𝑃2 = (19)
𝑓𝑝
Entretanto, diferentemente do rendimento atualizado do gerador, a eficiência atualizada
da turbina depende da vazão turbinada pela unidade geradora de potência, desse modo, pode-
se considerar como aproximação inicial, que o rendimento da turbina 𝜂𝑡1 consiste no
rendimento médio da máquina de fluxo mencionado previamente. Desse modo, pode-se
determinar o valor do coeficiente 𝑘 ′ e assim, estipular um valor inicial para a vazão máxima
turbinada.
Com o valor inicial de vazão turbinada máxima calculado, pode-se determinar o
rendimento atualizado da turbina, conforme apresentado na Equação 20.
0,013
𝜂𝑡1 = 0,856 ⋅ 𝑄1′ (20)
De posse dos rendimentos atualizados, tanto do gerador, quanto da turbina, pode
atualizar também o valor do coeficiente para determinação da vazão máxima turbinada 𝑘 a
partir da expressão apresentada na Equação 21.
𝑘 = 𝜌 ⋅ 𝑔 ⋅ 𝜂𝑡1 ⋅ 𝜂𝑔1 (21)
Assim, calculado o valor atualizado do coeficiente para determinação da vazão máxima
turbinada, pode-se calcular o valor final da vazão máxima turbinada 𝑄1 em cada unidade
geradora, conforme ilustrado na Equação 22.
106 · 𝑃1
𝑄1 = (22)
𝑘 · 𝐻1
Uma vez determinada a vazão máxima atuante em cada máquina de fluxo da UHE,
pode-se iniciar o cálculo de parâmetros de caráter mais operacional desses elementos, como as
velocidades de rotação da turbina. A velocidade específica de uma máquina de fluxo consiste
na velocidade de rotação de uma turbina geometricamente similar que produziria potência
unitária, desconsiderando o diâmetro da turbina [9]. Assim, a velocidade específica inicial 𝑛𝑠 ´
para a turbina Francis de eixo vertical é determinado de acordo com o conjunto de relações
apresentado pela Equação 23.

24
𝑚3 592
𝑃𝑎𝑟𝑎 𝑄1 ≤ 20 𝑒 27 ≤ 𝐻1 ≤ 193𝑚: 𝑛𝑠′ = 117,6 · ln ( )
𝑠 𝐻1
𝑚3
𝑃𝑎𝑟𝑎 𝑄1 ≤ 20 𝑒 193 ≤ 𝐻1 ≤ 350𝑚: 𝑛𝑠′ = 3364 ⋅ 𝐻1−0,646
𝑠
𝑚3 1006 (23)
𝑃𝑎𝑟𝑎 𝑄1 > 20 𝑒 27 ≤ 𝐻1 ≤ 358𝑚: 𝑛𝑠′ = 95,2 · ln ( )
𝑠 𝐻1
𝑚3
{𝑃𝑎𝑟𝑎 𝑄 1 > 20 𝑒 𝑒358 ≤ 𝐻1 ≤ 600𝑚: 𝑛𝑠′ = 2772 ⋅ 𝐻1−0,568
𝑠

Determinado o valor da velocidade específica inicial, pode-se então estipular a


velocidade inicial de rotação da máquina 𝑛′ de fluxo em função da queda líquida máxima a ser
considerada no empreendimento 𝐻1 e da potência unitária da turbina 𝑃1𝑡 em KW, conforme
apresentado na Equação 24.
𝑛′ = 𝑛′ · 𝐻11,25 · 𝑃1𝑡−0,5 (24)
A velocidade de rotação da máquina de fluxo e vazão turbinada pela mesma influencia
de maneira direta as dimensões e parâmetros construtivo-operacionais do gerador elétrico
associado à turbina. Uma vez que devido aos níveis operacionais do reservatório e aos requisitos
de potência instalada, faz-se necessário implementar uma turbina Francis de eixo vertical,
implicando no uso de hidrogeradores de eixo vertical.
O primeiro parâmetro do hidrogerador a ser determinado consiste no número de pólos
𝑝, o qual é dado em função da velocidade inicial da máquina de fluxo e da frequência da rede.
Como a UHE a ser realizada encontra-se em solo brasileiro e é sabido, que a frequência na rede
de eletricidade nacional é de 60 Hz, adota-se tal valor para determinação do número de pólos
do hidrogerador. Ainda, a determinação do número de pólos do gerador depende também da
vazão máxima turbinada, assim, pode-se determinar a quantidade de pólos a ser utilizada no
gerador através do conjunto de relações apresentadas na Equação 25.

25
𝑚3
𝑃𝑎𝑟𝑎 𝑄1 ≤ 20 :
𝑠
𝑓 1
𝑛′ ≥ 1,2𝑓: 𝑝 = 2 · ⅈ𝑛𝑡 (120 · · + 0,999) 𝑒 ⅆⅈ𝑓𝑒𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 ⅆ𝑒 54, 74 𝑒 94.
𝑛′ 2

𝑓 1
𝑛 < 1,2𝑓: 𝑝 = 4 · ⅈ𝑛𝑡 (120 · · + 0,999)
{ 𝑛′ 4
𝑚3
𝑃𝑎𝑟𝑎 𝑄1 > 20 :
𝑠

𝑓 1 (25)
{𝑛 < 5𝑓: 𝑝 = 2 · ⅈ𝑛𝑡 (120 · 𝑛′ · 2 + 0,778)
𝑚3
𝑃𝑎𝑟𝑎 𝑄1 > 20 :
𝑠
𝑓 1
1,2𝑓 ≤ 𝑛′ < 5𝑓: 𝑝 = 2 · ⅈ𝑛𝑡 (120 · ′ · + 0,999) 𝑒 ⅆⅈ𝑓𝑒𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 ⅆ𝑒 54, 74 𝑒 94.
𝑛 2

𝑓 1
𝑛 < 1,2𝑓: 𝑝 = 4 · ⅈ𝑛𝑡 (120 · · )
{{ 𝑛′ 4

Realizada a determinação do número de pólos do gerador, pode-se então determinar a


velocidade síncrona de operação (n) do mesmo, a qual é dada em função do número de pólos e
da frequência da rede, conforme apresentado na Equação 26.
𝑓
𝑛 = 120 ( ) (26)
𝑝
De posse do número de pólos e da velocidade síncrona do gerador, é possível atualizar
o valor da velocidade específica do conjunto 𝑛𝑠 . Parâmetro esse que é de grande importância
nos dimensionamentos geométricos da unidade geradora. A Equação 27 fornece a velocidade
específica em função da queda líquida máxima e da potência unitária de uma turbina.
𝑛𝑠 = 𝑛 · 𝐻1−1,25 · 𝑃1𝑡0,5 (27)
Outro parâmetro operacional do gerador consiste no torque magnético (𝜆) desenvolvido
pelo equipamento. Este parâmetro é relevante não só na operação do equipamento, mas também
na determinação do custo relativo ao hidrogerador. O torque magnético é dado em função da
potência do gerador e da velocidade síncrona do mesmo, conforme apresentado na Equação 28.
𝑃2
𝜆= (28)
𝑛

Com os parâmetros operacionais definidos e especificados tanto para o gerador quanto


para a turbina Francis de eixo vertical, faz-se necessário realizar o dimensionamento geométrico
tanto das turbinas como da tubulação da caixa espiral e da tubulação de sucção. Tais condutos

26
se encontram, respectivamente, a montante e a jusante do rotor da turbina Francis conforme
ilustra a Figura 11.

Figura 11: Ilustração de uma turbina Francis. Adaptado de [13].


A determinação do diâmetro do rotor da turbina Francis de eixo vertical, bem
como posicionamento de tal elemento pode ser realizada através da utilização da velocidade
específica. O primeiro parâmetro a ser determinado consiste no coeficiente de velocidade
periférica 𝑘𝑢 , o qual é dado de acordo com a Equação 29.
𝑘𝑢 = 0,293 + 0,0027𝑛𝑠 (29)
De posse do coeficiente de velocidade periférica, pode-se, enfim, determinar o diâmetro
do rotor 𝐷3, o qual é dado em função do coeficiente de velocidade periférica, da queda líquida
máxima e da velocidade síncrona do gerador, conforme pode ser evidenciado na Equação 30.
𝐻10,5 1
𝐷3 = 0,01 ⋅ ⅈ𝑛𝑡 (84,5 · 𝑘𝑈 ⋅ ⋅ + 0,5) (30)
𝑛 0,01
Outro parâmetro a ser determinado é a altura de sucção ℎ𝑠 a qual é função do coeficiente
𝐾 que consiste em uma variável que pondera a pressão atmosférica e a pressão de vapor da
água, do coeficiente de Thoma, 𝜎, e da queda líquida máxima, H1, conforme apresentado na
Equação 31. A fim de ilustrar melhor a altura de sucção ℎ_𝑠 tem-se a Figura 12.
ℎ𝑠 = 𝐾 − 𝜎 ⋅ 𝐻1 (31)

27
Figura 12: Esquema de cotas da tubulação de sucção [9].

A altura de pressão 𝐾 é dada em função do nível d'água normal no canal de fuga 𝑁𝐴𝑓𝑢 ,
e da temperatura média da água no verão 𝑇, conforme pode ser observado na Equação 32. Para
o rio Paraibuna, situado na região do Vale do Paraíba, é estimado que a temperatura média da
água no verão esteja situada em torno de 25ºC.
𝐾 = 10,33 − 0,0012 · 𝑁𝐴𝑓𝑢 − 0,013 · 𝑇 (32)
Já o coeficiente de Thoma depende exclusivamente da velocidade específica da máquina
de fluxo, conforme indicado na Equação 33.

𝜎 = 7,54 · 10−5 ⋅ 𝑛𝑠−1,41 (33)


Realizado o cálculo da altura de sucção, é possível determinar a cota da linha de centro
do distribuidor da turbina 𝐸𝐼𝑑 , sendo tal parâmetro geométrico da máquina de fluxo dado em
função do nível d'água normal no canal de fuga 𝑁𝐴𝑓𝑢 ,, e da altura de sucção ℎ𝑠 , conforme
apresentado na Equação 34.
𝐸𝐼𝑑 = 𝑁𝐴𝑛𝑓𝑢 + ℎ𝑠 (34)
Uma vez determinado o adequado posicionamento do rotor da turbina Francis, bem
como o diâmetro do mesmo, pode-se estipular as dimensões principais da caixa espiral e da
tubulação de sucção necessárias para a correta operação da máquina de fluxo. A Figura 12
ilustra essas dimensões principais para a tubulação de sucção, enquanto a Figura 13 contém
essas dimensões para a caixa espiral.

28
Figura 13: Dimensões principais da caixa espiral para turbina Francis de eixo vertical
[9].
As Equações 35 a 41 fornecem o equacionamento matemático para determinação das
dimensões principais da caixa de espiral, enquanto as Equações 42 a 45 ilustram o procedimento
para estipular as dimensões da tubulação de sucção.

19,56
𝐴 = 𝐷3 · (1,2 − ) (35)
𝑛𝑠

54,80
𝐵 = 𝐷3 · (1,1 − ) (36)
𝑛𝑠

49,25
𝐶 = 𝐷3 · (1,32 − ) (37)
𝑛𝑠

48,80
𝐷 = 𝐷3 · (1,5 − ) (38)
𝑛𝑠

𝑅 = 𝐷3 · 1,3 (39)

𝐷3 · 𝑛𝑠
𝑆= (40)
−9,28 + 0,25 · 𝑛𝑠

29
33,8
𝑍 = 𝐷3 ∗ (2,63 + ) (41)
𝑛𝑠

1,7 𝑚, 𝑍 · 𝑅 ≥ 30𝑚
𝑈={ (42)
0 𝑚, 𝑍 · 𝑅 < 30𝑚

42
𝐷3 ∗ (−0,05 + ), 𝑛𝑠 ≤ 110
𝑛𝑠
𝐻2′ = (43)
𝐷3
, 𝑛𝑠 > 110
{ 3,16 − 0,0013𝑛𝑠
203,5
𝐷3 ∗ (1,54 + ), 𝑛𝑠 ≤ 240
𝑁={ 𝑛𝑠 (44)
𝐷3 · 2,4 , 𝑛𝑠 > 240

𝑌 = 𝐻2′ + 𝑁 (45)

Após a realização do dimensionamento geométrico da turbina, é necessário realizar o


projeto das tubulações de alta pressão, conhecidas também como conduto forçado.

2.3. Dimensionamento do Conduto Forçado


Como pode ser observado na Figura 11, o conduto forçado é responsável pela
alimentação d’água das unidades geradoras, assim, seu correto dimensionamento é de vital
importância para a adequada operação da usina hidrelétrica.
Inicialmente, faz-se necessário a determinação do número de condutos forçados 𝑁𝑡
necessários considerando o número de unidades geradoras por conduto forçado 𝑁𝑓. O número
de condutos forçados é dado de acordo com a Equação 46.
𝑁𝑔
𝑁𝑡 = (46)
𝑁𝑓
Ainda de posse do número de unidades geradoras por conduto forçado, é possível
determinar o diâmetro interno do conduto forçado 𝐷𝑏 , conforme apresentado na Equação 47,
que relaciona a potência da unidade geradora, a queda bruta máxima e o número de unidades
geradoras por conduto forçado com o valor em metros do diâmetro interno da tubulação do
conduto forçado.
0,43
(𝑁𝑓 · 𝑃1)
𝐷𝑏 = 14,2 · 0,65
(47)
𝐻𝑏1

30
A fim de determinar a velocidade média de escoamento no interior do conduto forçado,
faz-se necessário determinar a vazão máxima de cada conduto 𝑄1𝑓 esta é determinada de acordo
com a Equação 48.
𝑄1𝑓 = 𝑁𝑓 · 𝑄1 (48)
Após o cálculo da vazão máxima em cada conduto forçado, é possível determinar a
velocidade média do escoamento 𝑣𝑏 através da Equação 49.
4𝑄𝑖𝑓 7𝑚
𝑣𝑏 = ≤ (49)
𝜋 · 𝐷𝑏2 𝑠
Contudo, há uma limitação de velocidade de escoamento que deve ser respeitada no
interior do conduto forçado, de modo que a velocidade não deva ser superior a 7 m/s. Desse
modo, caso a velocidade calculada venha a exceder tal limite, torna-se necessário recalcular o
diâmetro interno do conduto, adequando o mesmo para a limitação de velocidade. Essa
determinação pode ser realizada por meio da definição de vazão, resultando na Equação 50.

4 𝑄1𝑓
𝐷𝑏 = √ ⋅ (50)
𝜋 7

Outro parâmetro essencial no dimensionamento do conduto forçado consiste na


espessura mínima da chapa de aço constituinte do mesmo. Esta espessura é dada em função do
diâmetro interno do conduto de acordo com a Equação 51. Nota-se que existe um limite inferior
para esta espessura consistindo em um quarto de polegada.
𝐷𝑏
𝑒𝑚𝑖𝑛 = + 0,127 ≥ 0,635𝑐𝑚 (51)
4
Uma análise de grande valia a ser realizada nas tubulações de alta pressão diz respeito
à influência da perda de carga do escoamento em relação à potência nas unidades geradoras,
como apresentado pela Equação 4. As perdas energéticas do escoamento, seja por cisalhamento
do fluido ou em detrimento da rugosidade da parede do conduto, são denominadas perdas de
carga principal. Uma maneira de determinar tal valor de perda de carga consiste na equação de
Darcy-Weisbach, ilustrada na Equação 52.
𝐿 𝑉2
ℎ𝐿 = 𝑓 (52)
𝐷 2𝑔
Nota-se que a queda de pressão e consequentemente a perda de carga é diretamente
proporcional ao comprimento do conduto 𝐿, ao fator de atrito 𝑓 e à carga de velocidade mas é
inversamente proporcional ao diâmetro do mesmo 𝐷. O fator de atrito 𝑓 é dependente do

31
regime de escoamento do fluido podendo este ser laminar ou turbulento. Uma maneira de
avaliar o regime em que se encontra o escoamento é através do número de Reynolds [11].
O número de Reynolds é um parâmetro adimensional que relaciona a força de inércia
do escoamento com a sua respectiva força viscosa, como pode ser observado na Equação 53. A
classificação do regime de escoamento em função do número de Reynolds para escoamentos
internos em dutos com comprimento característico correspondente ao diâmetro é feita
considerando a existência de uma faixa de transição do regime laminar para o turbulento em
torno de um valor de Reynolds igual a 2300, sendo que qualquer valor de número de Reynolds
acima deste, implica em um escoamento turbulento [11].
𝑓𝑜𝑟ç𝑎 ⅆ𝑒 ⅈ𝑛é𝑟𝑐ⅈ𝑎 𝜌𝑉𝐿
𝑅𝑒 = = (53)
𝑓𝑜𝑟ç𝑎 𝑣ⅈ𝑠𝑐𝑜𝑠𝑎 𝜇
Para o regime laminar, o fator de atrito é determinado de forma linear com o número de
Reynolds através da Equação 54. Entretanto, para escoamentos turbulentos a determinação do
fator de atrito torna-se mais complexa, podendo ser realizada através da consulta ao diagrama
de Moody, considerando a rugosidade relativa do conduto e o próprio número de Reynolds, ou
através de relações empíricas como a equação de Colebrook apresentada na Equação 55, válida
para todo o intervalo de escoamento turbulento.
64
𝑓= (54)
𝑅𝑒
⊥ 𝜀 ⁄𝐷 2,51 (55)
= −2 log ( + )
√𝑓 3,7 Re √𝑓

De posse da perda de carga e dos níveis operacionais do reservatório da UHE, pode-se


determinar a carga da turbina através da Equação 4. Esta carga, em termos métricos, pode ainda
ser convertida para unidades de potência através da manipulação matemática contida na
Equação 56.
Ẇturb = ηturbina · ρ · g · Q · hturb (56)
O conduto forçado, por sua finalidade em uma usina hidrelétrica, apresenta-se como
potencial fonte de perdas de carga para o sistema hidráulico do empreendimento, assim, torna-
se essencial realizar o dimensionamento do mesmo de forma a minimizar os efeitos dissipativos,
garantindo assim melhores condições operacionais. Desse modo, pode-se realizar uma análise
dos efeitos do diâmetro do conduto forçado na perda de carga do mesmo, bem como na potência
gerada pela unidade geradora e nos custos materiais despendidos para sua confecção.

32
3. PRÉ DIEMENSIONAMENTO

3.1. Cálculo de Custos


Apesar da inegável importância de um dimensionamento técnico completo dos
principais componentes constituintes de uma UHE, conforme abordado na metodologia de
dimensionamento, o projeto de uma usina hidrelétrica não se faz única e exclusivamente com
as especificações técnicas. Para que um projeto, portanto um empreendimento, seja
implementado faz-se necessário realizar um estudo econométrico, verificando sua viabilidade
econômica.
Como ponto de partida para a realização da análise econométrica do projeto da usina
hidrelétrica, é necessário realizar o levantamento e consequente determinação dos custos
envolvidos tanto na construção como na operação do empreendimento. Inicialmente, são
levantados os custos de aquisição e instalação relativos aos componentes que são
dimensionados, sendo estes no escopo do projeto a turbina, o gerador e o conduto forçado.
Todavia, vale ressaltar que a análise de viabilidade econômica é realizada considerando um
valor de investimento médio por kW instalado para o desenvolvimento de usinas hidrelétricas
no Brasil.
A determinação dos custos referentes à aquisição e instalação de cada turbina Francis,
utilizada na UHE, é feita a partir de um gráfico que fornece o custo da turbina, em milhares de
reais, com uma função da razão entre a potência de cada unidade geradora e sua respectiva
velocidade síncrona. O gráfico para determinação do custo da turbina Francis pode ser
visualizado na Figura 14.
Já para a realização de uma estimativa do custo total de aquisição e instalação de cada
gerador a ser utilizado na UHE, o método de determinação é análogo, no entanto utiliza-se um
gráfico específico para geradores, o qual fornece o custo total de cada gerador elétrico é dado,
em milhares de reais, com uma função do torque magnético. O gráfico para cálculo do custo de
cada gerador pode ser observado na Figura 15.

33
Figura 14: Custo unitário da turbina Francis de eixo vertical em função da razão de
kW pela velocidade síncrona [9].

Figura 15: Custo do gerador em função do torque magnético desempenhado pelo


mesmo [9].

34
Uma vez estipulado o custo de aquisição do gerador elétrico e da turbina hidráulica,
pode-se então calcular o custo dos equipamentos elétricos acessórios, sendo que o custo de tais
equipamentos é dado como 18% da soma dos custos da turbina do gerador [9].
A estimativa dos custos dos condutos forçados, que foram dimensionados na seção 2.3,
é feita de forma análoga à realizada para se obter os custos das turbinas e geradores. O custo do
conduto, em reais por unidade de comprimento, é fornecido como uma função da vazão
turbinada máxima, conforme ilustra o gráfico da Figura 16.

Figura 16: Custo do conduto por unidade de comprimento em função da vazão


máxima turbinada [9].
Um método alternativo para o cálculo do custo de aquisição do conduto forçado pode
ser feito por meio da determinação do custo de material utilizado em sua manufatura. Este custo
é determinado em função do volume de material e do custo da tonelada do mesmo. Como, de
modo geral, utiliza-se como material constituinte de condutos forçados o aço carbono, este
custo do material pode ser majorado de acordo com o preço da chapa metálica, valor este que
pode ser observado na Tabela 5.
Preço da chapa metálica por tonelada 𝑅$ 4.235,00/𝑡
Tabela 5: Preço da chapa metálica [9].
Estimados os valores de aquisição e instalação dos elementos dimensionados para a
usina hidrelétrica, pode-se então calcular as despesas de capital, na sigla em inglês CAPEX, do
empreendimento. Tal parâmetro econométrico, por definição, consiste no capital utilizado para
executar o projeto através da compra de máquinas, equipamentos, realização de instalações,
35
bem como demais despesas necessárias, constituindo assim, um custo inicial para
implementação do projeto [14].
O cálculo do índice CAPEX para o projeto da usina hidrelétrica a ser realizada no rio
Paraibuna, como previamente mencionado, será realizado considerando um custo médio de
implementação de UHE’s por kW instalado no empreendimento. Esse valor médio de custo de
implementação é determinado através da realização de médias dos gastos para instalação de
diversas usinas hidrelétricas contidas em um banco de dados. O valor de CAPEX para cada
faixa de potência instalada pode ser averiguado Tabela 6.
Porte da UHE UHE Potência CAPEX R$/kW CAPEX
Quantidade MW médio US$/kW médio
Pequeno até 300 MW 158 14.072 10.380 2.661
Médio
De 300 MW a 1000 24 12.957 7.085 1.816
MW Grande
Acima de 1000 MW 9 24.197 5.275 1.352
Tabela 6: Custo médio unitário por faixa de potência considerando cotação média do
dólar em dez/2015 [15].
Outro parâmetro do custo a ser avaliado no empreendimento diz respeito às despesas
operacionais, da sigla em inglês, OPEX. Tal índice econométrico leva em consideração gastos
com a manutenção de maquinário e instalações, bem como mão de obra necessária à operação,
envolvendo os custos variáveis diretos e indiretos da geração de eletricidade [14].
O OPEX para uma usina hidrelétrica pode ser determinado em termos anuais através de
uma expressão matemática que relaciona o mesmo com a potência instalada da usina. Essa
expressão matemática é ajustada através de informações coletadas pela ANEEL por meio da
aquisição de Tarifa de Energia de Otimização, durante o exercício de 2007. Esta relação é
observada na Equação 57.
𝑂𝑃𝐸𝑋 = 1000 · 87,343 · 𝑃 −0,3716 (57)
Entretanto, ao longo dos meses de funcionamento da usina, os custos de manutenção e
operação são incrementados constantemente devido à depreciação inerente dos equipamentos
instalações. Uma maneira de contabilizar os efeitos de depreciação é feita considerando-se um
fator de depreciação, a qual atua sobre o parâmetro OPEX de forma a incrementá-lo ao longo
do tempo a partir de um ano de operação da usina. De acordo com o Manual de Inventário da
Eletrobrás, um valor adequado a se considerar como fator de depreciação para usinas
hidrelétricas pode ser observado na Tabela 7.
Fator de depreciação mensal (𝑓𝑑 ) 3,5
Tabela 7: Fator de depreciação da UHE [9].

36
Desse modo, as despesas operacionais mensais do empreendimento, ou seja, o OPEX
para cada mês operacional da usina durante sua vida útil pode ser determinado ao implementar
a Equação 58.
𝑂𝑃𝐸𝑋 𝑚ê𝑠𝑖
𝑂𝑃𝐸𝑋𝑚ê𝑠,𝑖 = · [1 + 𝑓𝑑 · ] (58)
12 𝑇𝑣𝑖𝑑𝑎,𝑚ê𝑠
Com os custos operacionais e de implementação da UHE determinados, faz-se
necessário estipular os horizontes temporais para este empreendimento. Tais horizontes
temporais são contemplados pelo tempo de construção da usina hidrelétrica, bem como sua vida
útil. O tempo de construção de vida útil são estipulados em termos médios, considerando-se um
banco de dados, sendo tais valores, fornecidos pela ANEEL e pela Empresa de Pesquisa
Energética (EPE), dispostos na Tabela 8.
Tempo médio de construção 45 𝑚𝑒𝑠𝑒𝑠
Vida útil 30 𝑎𝑛𝑜𝑠
Tabela 8: Horizontes temporais considerados para a usina hidrelétrica [15][16].
Contabilizados os custos envolvidos na implementação e operação da usina, bem como
determinado os horizontes temporais da mesma, pode-se contabilizar a receita mensal
proveniente da venda da energia elétrica produzida. No mercado brasileiro de eletricidade, a
venda da energia ocorre por meio de leilões intermediados pela ANEEL e pela CCEE, sendo
vendida em tais eventos eletricidade proveniente de diferentes fontes e empreendimentos. Uma
maneira de se estimar uma perspectiva de receita para o empreendimento da usina hidrelétrica
em análise consiste na utilização de preços médios praticados em determinado leilão para a
fonte de geração hidrelétrica. O preço do MWh de energia hidrelétrica, bem como de diversas
outras fontes, praticados no leilão de 18 de outubro de 2019 pode ser observado na Tabela 9.
Fonte Preço Médio (R$/MWh)
UHE 157,08
PCH 232,72
CGH 232,05
Eólica 98,89
Solar fotovoltaica 84,39
Térmica a biomassa 187,90
Térmicas a gás natural 188,87
Tabela 9: Preços médios realizados no leilão de energia na data 18/10/2019 [17].
Tendo em vista o preço da energia hidrelétrica fornecida por usinas hidrelétricas (UHE)
em outubro de 2019, pode-se determinar a receita mensal do empreendimento no rio Paraibuna
por meio da Equação 59.
𝑅𝑒𝑐𝑒ⅈ𝑡𝑎𝑚ê𝑠 = 𝑃 · 𝑃𝑟𝑒ç𝑜𝑀𝑊 · ℎ𝑑𝑖𝑎 · ⅆⅈ𝑎𝑚ê𝑠 (59)

37
3.2. Análise de Viabilidade Econômica
Devido à magnitude do projeto a ser avaliado, é necessário ponderar a sua viabilidade
econômica considerando a previsão de custos e os retornos previstos após o início das
operações. No contexto de usinas hidrelétricas, a análise econométrica torna-se ainda mais
impactante pelo fato do tempo necessário para implementação, início de ganhos e de vida útil,
bem como do empreendimento inicial requerido. No caso, trabalha-se com um tempo necessário
para implementação e início de atividades de 45 meses e avaliação de fluxo de caixa durante o
período de vida útil da usina, o qual é, segundo a ANEEL, em média 30 anos [16].
Como uma primeira medida para a análise econométrica da viabilidade econômica do
empreendimento, é usual calcular o payback do investimento com base no fluxo de caixa
previsto para a UHE, utilizando alguns dos conceitos abordados previamente. O payback é o
ponto na análise temporal do fluxo de caixa a partir do qual o investimento dá retorno
financeiro. Considerando o CAPEX calculado durante a fase de análise de custos, pode-se
estimar o que esse custo é dividido de forma uniforme durante a fase de implementação.
Somando a este valor o custo operacional, sem depreciação mensal nos primeiros 12 meses
operacionais, tem-se o valor das despesas mês a mês. As receitas são dadas pela Equação 59.
Ao dispor-se graficamente o acumulado do fluxo de caixa, tem-se de forma ilustrativa
como será o retorno previsto do investimento ao longo do tempo. Com isso, é possível ilustrar
o ponto de payback.
Quando se trabalha com investimentos de longo prazo, porém, é importante fazer uso
de ferramentas e parâmetros econômicos para analisar o investimento. A partir desses
indicadores, futuros investidores podem avaliar se o empreendimento para o projeto é
interessante ou não em comparação com outros tipos de investimentos, estudando os possíveis
retornos e riscos embutidos. Em outras palavras, a investigação econométrica permite, no tempo
presente, verificar a previsão de ganho financeiro do projeto em questão, mensurando os valores
com outros investimentos considerados mais seguros como a compra de títulos de governo. Ao
final, isso permite ao investidor ponderar os custos de oportunidades de cada opção e, assim,
tomar uma decisão.
De modo a tornar essa análise possível e condizente com a realidade econômica
projetada, são avaliados os parâmetros de taxa de juros, taxa de desconto, VPL, TIR e índice
Benefício-Custo.
Taxa de juros, ou taxa de crescimento do capital, é a taxa de lucratividade recebida num
investimento. De uma forma geral, é apresentada em bases anuais, podendo também ser

38
utilizada em bases mensais e representa o percentual de ganho realizado na aplicação do capital
em algum empreendimento. É bastante comum em projetos considerar uma taxa básica de juros
da economia, a taxa Selic, uma vez que esta influência todas as demais taxas de juros do Brasil,
como as cobradas em empréstimos, financiamentos e até de retorno em aplicações financeiras.
Para fins de cálculos, foi considerado uma taxa de juros anual baseada na Selic, conforme
Tabela 10.
Taxa Selic em termos anuais 2,00 %
Taxa Selic em temos mensais 0,17 %
Tabela 10: Taxas básicas de juros em termos anuais e mensais.
É importante lembrar que essas taxas não são fixas no tempo, conforme mostram as
Figuras 17 e 18, e assumi-las constantes é uma hipótese de projeto econométrico.

Figura 17: Variação da taxa básica de juros SELIC em 2020 [18]..

39
Figura 18: Variação da taxa básica de juros SELIC desde 2010 [18].
Já a taxa de desconto ou, neste caso a taxa de juros mensal, é um indicador utilizado
para comparar o retorno de um determinado investimento e se refere ao valor de antecipação
da quantia que será investida. Além disso, a taxa de desconto também pode ser entendida como
o oposto da taxa de juros, na medida que os juros funcionam como uma remuneração de um
capital investido, enquanto que a taxa de juros mensal é uma forma de ver se o valor projetado,
por exemplo, como o fluxo de caixa, é viável se comparado com o cenário presente. Assim, a
taxa de desconto reflete o grau de risco de um investimento, pois ajuda o investidor a ter mais
certeza sobre a possibilidade de retorno oferecida pelo ativo, no caso, investindo no projeto de
uma UHE.
Tendo essas taxas definidas, uma análise da viabilidade econômica de um projeto,
considerando os futuros custos e retornos financeiros, para embasar a decisão de aceitação ou
rejeição da implementação do investimento, pode ser realizada através da verificação do Valor
Presente Líquido (VPL). Este parâmetro permite mensurar no tempo presente qual será a
previsão de caixa após o início das operações do projeto, pois, em seu cálculo, são consideradas
taxas de descontos as quais podem depreciar os valores de lucros no tempo.
Para o contexto da viabilidade de uma UHE, a investigação do VPL se torna interessante
pelo fato de que foi possível estimar o fluxo de caixa da usina tanto durante a implementação
quanto após o início da operação, identificando os valores previstos das receitas e dos custos.
Com isso, tendo a taxa de juros mensal como a taxa de desconto, é possível prever a viabilidade
40
do projeto modelado. A Equação 60 mostra como é realizado o cálculo do VPL, em que 𝐹𝑐 é o
fluxo de caixa no período 𝑛 analisado e ⅈ é a taxa de desconto.
𝑛=𝑁
𝐹𝑐𝑡
𝑉𝑃𝐿 = ∑ (60)
(1 + ⅈ)𝑛
𝑛=1

Ainda considerando o fato de que os valores de fluxo de caixa para o projeto da UHE
podem ser estimados de antemão, um outro indicativo que pode ser utilizado para estudar a
viabilidade do projeto é a Taxa Interna de Retorno. Em linhas gerais, este parâmetro expressa
a rentabilidade ou o retorno do projeto em termos das taxas de juros.
Matematicamente, o valor da TIR corresponde ao valor da taxa de rentabilidade que
iguala o VPL a zero, o que pode ser observado na Equação 61. Por isso, no quesito de gestão
de projetos, a TIR pode ser comparada com a taxa de desconto a qual pode ser interpretada, no
presente caso, como o custo de oportunidade do projeto. A partir do momento que o custo de
oportunidade (ou taxa de desconto) é menor do que o TIR, o VPL é positivo conjecturando um
indicativo para aceitação do projeto. Esse valor é obtido de forma iterativo automático pelo uso
de fórmula em Excel®.
𝑛=𝑁
𝐹𝑐𝑡
𝑉𝑃𝐿 = 0 = 𝐼𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡ⅈ𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 + ∑ (61)
(1 + 𝑻𝑰𝑹)𝑛
𝑛=1

Por fim, de forma a não obter conclusões equivocadas de projeto, é necessário obter
uma razão de Benefício-Custo, a qual é calculada como a razão entre o VPL das receitas e o
VPL das despesas.
𝑉𝑃𝐿𝑟𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎𝑠
𝐵𝑒𝑛𝑒𝑓í𝑐ⅈ𝑜/𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 = (61)
𝑉𝑃𝐿𝑑𝑒𝑠𝑝𝑒𝑠𝑎𝑠

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Conforme abordado na seção Metodologia de Dimensionamento, os níveis de água a
montante e a jusante da barragem, e consequentemente, as quedas brutas e líquidas consistem
em aspectos fundamentais para o princípio operacional e dimensionamento da UHE. Desse
modo, a partir da adoção dos níveis operacionais da Usina Hidrelétrica Paraibuna como
estimativas para o projeto, pode-se determinar os valores das quedas principais, apresentados
na Tabela 11.

41
Queda bruta máxima 𝐻𝑏1 = 88 𝑚
Queda bruta média 𝐻𝑏2 = 74 𝑚
Perda de carga total ℎ𝑝 = 2,64 𝑚
Queda líquida máxima 𝐻1 = 85,36 𝑚
Queda líquida média 𝐻2 = 71,36 𝑚
Tabela 11: Principais quedas de projeto para a UHE localizada no rio Paraibuna.
Como já mencionado, para o dimensionamento dos componentes hidráulicos e do
gerador da usina hidrelétrica, faz-se necessário assumir, por hipótese, alguns parâmetros, sendo
estes apresentados na Tabela 12. É válido ressaltar que os valores assumidos encontram-se
fundamentados nas recomendações apresentadas no Manual de Inventário Hidroelétrico de
Bacias Hidrográficas, do Ministério de Minas e Energia. Ainda, convém mencionar que o valor
de potência inicial é assumido de modo atender a faixa de potência requisitada em projeto,
adotando-se, portanto, um valor intermediário de 85 MW.
Perda de carga na adução estimada percentual %ℎ𝑝 = 0,03
Fator de potência 𝑓𝑝 = 0,90
Frequência 𝑓 = 60 𝐻𝑧
Potência instalada inicial 𝑃′ = 85 𝑀𝑊
Rendimento médio do gerador 𝜂𝑔 = 0,97
Rendimento médio da turbina 𝜂𝑡 = 0,93
Tabela 12: Parâmetros iniciais para o dimensionamento da UHE.
Após a adoção dos parâmetros iniciais, o projeto da usina considerado no presente
trabalho, é direcionado ao dimensionamento das turbinas. De acordo com o que foi abordado
na seção Metodologia de Dimensionamento, tendo como parâmetro de seleção o diagrama
apresentado na Figura 10, determinou-se que as turbinas a serem empregadas na hidrelétrica
projetada no rio Paraibuna devem ser do tipo Francis e com eixo vertical. Tendo-se determinado
o tipo de turbina a ser utilizado, pode-se efetuar o dimensionamento dos parâmetros
operacionais da mesma. Todos os parâmetros operacionais, calculados para a turbina de acordo
com a metodologia abordada no referente dimensionamento deste documento, podem ser
observados na Tabela 13.
Potência total do conjunto de turbinas 𝑃𝑡′ = 87628,87 𝑘𝑊
Potência unitária máxima da turbina para a queda disponível 𝑃1𝑥𝑡 = 544,82 𝑀𝑊
Número de unidades geradoras 𝑁𝑔 = 2

Potência inicial da unidade geradora 𝑃1 = 42,5 𝑀𝑊
Coeficiente arredondador 𝑘𝑝 = 0,5
Potência de uma unidade geradora 𝑃1 = 42,5 𝑀𝑊
Potência instalada final 𝑃 = 85 𝑀𝑊
Potência de uma turbina 𝑃1𝑡 = 43814 𝑘𝑊
Tabela 13: Dados correspondentes ao dimensionamento das turbinas utilizadas na
UHE projetada.
42
Nota-se, ao se observar a Tabela 13, que o número de unidades geradoras constituídas
de turbinas Francis de eixo vertical, necessárias para que a potência instalada de projeto seja
atendida é igual a 2. Este fato, conforme já apresentado na seção Metodologia de
Dimensionamento, é devido à não recomendação da utilização de uma única unidade geradora
e sim a adoção do número mínimo de duas unidades. Desse modo, apesar do resultado numérico
indicar a utilização de uma única turbina, segue-se a recomendação e adota-se para o projeto a
utilização de duas unidades geradoras de potência.
Realizada a adequada seleção das turbinas Francis de eixo vertical e determinação dos
seus principais parâmetros de potência, é então necessário realizar o cálculo das vazões
turbinadas e do rendimento atualizado da turbina, uma vez que uma estimativa inicial foi
adotada para tal eficiência, sendo necessário redimensioná-lo de acordo com a turbina
determinada. A Tabela 14 apresenta os resultados das vazões e do rendimento atualizado para
a turbina.
Vazão turbinada inicial 𝑄1′ = 56, 26 𝑚3 /𝑠
Vazão turbinada 𝑄1 = 58,85 𝑚3 /𝑠
Rendimento da turbina atualizado 𝜂𝑡1 = 0,90
Tabela 14: Vazões turbinadas e rendimento atualizado para cada turbina.
A partir dos dados de potência mecânica para cada turbina da UHE projetada, bem como
de posse do valor do fator de potência pode-se estimar a potência necessária em cada
hidrogerador associado à turbina, ainda, é possível realizar a atualização do rendimento destes
equipamentos. Estes valores de potência e rendimento para cada hidro gerador do conjunto
utilizado na UHE pode ser visualizado na Tabela 15.
Potência nominal do gerador 𝑃2 = 47, 22 𝑀𝑉𝐴
Rendimento do gerador atualizado 𝜂𝑔1 = 0,96
Tabela 15: Potência e rendimento atualizado para cada gerador projetado para a UHE.
De posse da potência elétrica de cada gerador, pode-se determinar as velocidades de
operação destes elementos, sendo os valores obtidos apresentados na Tabela 16.
Velocidade específica inicial 𝑛𝑠′ = 234,85

Velocidade inicial 𝑛 = 291,1 𝑟𝑝𝑚
Velocidade síncrona 𝑛 = 300 𝑟𝑝𝑚
Velocidade específica do gerador 𝑛𝑠 = 242,02
Tabela 16: Velocidades operacionais.
Além das velocidades síncrona e específica do gerador, o torque magnético, e o número
de pólos são parâmetros essenciais para a correta especificação e dimensionamento destes
equipamentos, sendo o valor destas duas grandezas, para cada gerador elétrico dimensionado
para a usina hidrelétrica, fornecidos na Tabela 17.
43
Número de pólos do gerador 𝑝 = 24
Torque magnético do gerador 𝜆 = 0,16
Tabela 17: Número de pólos e torque magnético para os geradores dimensionados.
Realizado o dimensionamento dos parâmetros operacionais tanto da turbina quanto do
gerador, pode-se então calcular as dimensões físicas da turbina a ser empregada no projeto, bem
como dos condutos associados a mesma.
O dimensionamento geométrico da caixa espiral e da tubulação de sucção
associados a cada turbina do conjunto instalado na UHE em dimensionamento é realizado a
partir da velocidade específica deste componente. Um dos principais componentes mecânicos
da turbina consiste no rotor, cujas dimensões estão diretamente associadas à potência gerada
em cada turbina. Desse modo, o correto dimensionamento deste componente afeta diretamente
as geometrias da caixa espiral e da tubulação de sucção. O valor do diâmetro de saída do rotor
das turbinas da UHE em desenvolvimento pode ser observado na Tabela 18.
Diâmetro de saída do rotor da turbina 𝐷3 = 2,46 𝑚
Tabela 18: Diâmetro de saída do rotor das turbinas.
Assim, a partir do diâmetro de saída do rotor da turbina é possível calcular as dimensões
principais da caixa espiral, de modo que os as dimensões de tal componente são apresentadas
juntamente dos respectivos valores na Figura 19.

Figura 19: Cotas principais da caixa espiral da turbina Francis de eixo vertical.

44
Pode-se ainda, determinar as dimensões referentes à tubulação de sucção associada à
turbina Francis de eixo vertical, sendo que essas dimensões de tal componente se encontram,
juntamente dos respectivos valores, apresentadas na Figura 20.

Figura 20: Cotas principais da tubulação de sucção da turbina Francis de eixo


vertical.
Outro dimensionamento hidráulico pertinente ao projeto da usina hidrelétrica consiste
no projeto do conduto forçado responsável por transportar a água do reservatório até a entrada
da caixa espiral. O conduto forçado depende diretamente das dimensões e do tipo da barragem,
bem como da topografia do local em que se instala a usina. Assim sendo, faz-se
necessário estimar o comprimento do mesmo, uma vez que a localização exata de instalação,
bem como o estudo da topografia local não fazem parte do escopo do presente trabalho, assume-
se, por hipótese, um comprimento aproximado da tubulação ou do conduto forçado. Ainda,
outra hipótese assumida para o dimensionamento do conduto forçado, diz respeito ao número
de unidades geradoras associadas a cada conduto forçado, em que se assume uma única unidade
geradora associada a cada conduto forçado. A Tabela 19 apresenta de forma numérica as
hipóteses assumidas no dimensionamento do conduto forçado.
Número de unidades geradoras por conduto forçado 𝑁𝑓 = 1
Comprimento do conduto forçado 𝐿 = 120 𝑚
Tabela 19: Valores assumidos por hipótese no dimensionamento do conduto forçado.

45
Estabelecidas as hipóteses para o dimensionamento do conduto forçado, realizou-se
todos os cálculos inerentes ao processo conforme apresentado na seção Metodologia de
Dimensionamento, sendo os resultados obtidos disponibilizados na Tabela 20.
Número de condutos forçados 𝑁𝑡 = 2
Diâmetro interno do conduto forçado 𝐷𝑏 = 3,88 𝑚
Velocidade média do escoamento 𝑉𝑏 = 4,98 𝑚
Vazão máxima em cada conduto forçado 𝑄1𝑓 = 58,85 𝑚3 /𝑠
Diâmetro recalculado 𝐷𝑏 = 3,88 𝑚
Tabela 20: Resultados do dimensionamento do conduto forçado.
Realizado o dimensionamento do conduto forçado, completa-se o dimensionamento dos
componentes hidráulicos e elétricos (geradores) contemplados no escopo do presente trabalho.
Assim, pode-se realizar a análise econométrica do empreendimento, pois, garantido o correto
dimensionamento do mesmo, faz-se necessário avaliar se tal projeto se mostra viável
economicamente, permitindo assim, sua implementação.
Inicialmente, são calculados os custos individuais dos componentes da usina hidrelétrica
que foram dimensionados, a fim de se estimar o custo de aquisição e instalação dos mesmos.
No contexto do presente trabalho, estes custos individuais correspondem aos custos da turbina
Francis de eixo vertical, do gerador, do conduto forçado e dos equipamentos elétricos
acessórios. Os resultados obtidos nos cálculos destes custos são disponibilizados na Tabela
21.
Custo das turbinas Francis 𝑅$ 15.126.688,56
Custo dos geradores 𝑅$ 33.780.135,98
Custo dos equipamentos elétricos e acessórios 𝑅$ 8.803.228,42
Custo dos condutos forçados 𝑅$ 3.055.982,08
Custo total dos equipamentos dimensionados 𝑅$ 60.766.035,04
Tabela 21: Custos dos equipamentos dimensionados.
Entretanto, conforme previamente mencionado no desenvolvimento teórico, a
implementação de uma usina hidrelétrica envolve a aquisição de diversos outros componentes,
bem como a construção de grandes obras civis. Logo, vários outros custos estão envolvidos no
projeto da UHE. Dessa forma, a fim de tornar o projeto da usina hidrelétrica e análise de
viabilidade econômica mais realista, utiliza-se para determinação das despesas de capital um
valor médio de despesa relacionada à potência, em kW, instalada na usina, determinado através
de um banco de dados, conforme apresenta a Tabela 6.
Por sua vez, as despesas operacionais, na sigla em inglês OPEX, que envolve todos os
custos de operação e manutenção do empreendimento durante toda sua vida útil, é determinado
de acordo com a expressão matemática fornecida na Equação 57. Essa expressão matemática é

46
ajustada através de informações coletadas pela ANEEL por meio da aquisição de Tarifa de
Energia de Otimização, durante o exercício de 2007. Desse modo, os valores do OPEX mensal
sem depreciação e do CAPEX na usina hidrelétrica em questão podem ser observados na Tabela
22.
CAPEX 𝑅$ 882.300.000,00
OPEX 𝑅$ 118.710,39
Tabela 22: OPEX mensal sem depreciação e CAPEX para o empreendimento avaliado.
Entretanto, ao decorrer da vida útil do empreendimento os custos operacionais tendem
a se elevar devido à depreciação dos equipamentos. Dessa forma, pode-se adotar um fator de
depreciação que tem por objetivo ajustar os gastos de capital com a operação da usina ao longo
da sua vida útil. Assim, o OPEX mensal do empreendimento ao considerar a depreciação pode
ser determinado de acordo com a Equação 58. Convém, contudo, mencionar que, a fins de
modelagem econométrica, é considerado como hipótese que os equipamentos da usina só
sofrem efeito de depreciação a partir de um ano de operação.
Ainda, partindo da hipótese que as despesas construtivas da usina são distribuídas de
forma igualitária durante os 45 meses de implementação do projeto, bem como, considerando
que a usina só passe a operar, e portanto, gerar custos operacionais e receita da venda de energia
elétrica no final do período de implementação, pode-se estipular um fluxo de caixa previsto
para o empreendimento em análise.
A partir desse desenvolvimento, é possível estipular o fluxo de caixa acumulado. Este
pode ser disposto graficamente conforme o mostrado na Figura 21.
Da análise do gráfico apresentado na Figura 21, determina-se parâmetros de suma
importância para a análise de viabilidade do empreendimento. Dentre eles, destaca-se o
payback, ou tempo de retorno do investimento inicial, o qual o ganho acumulado iguala-se ao
valor inicialmente investido. A Tabela 23 fornece o valor do payback relativo à análise do
empreendimento em questão.
Payback 139 𝑚𝑒𝑠𝑒𝑠
Tabela 23: Payback do investimento referente à usina hidrelétrica projetada.
Ao avaliar o payback esperado para o investimento na implementação da usina
hidrelétrica no rio Paraibuna, pode-se concluir que, dados as proporções do investimento
realizado, é relativamente curto. Outro ponto a ser destacado em relação ao payback é o fato do
mesmo apresentar um valor curto quando comparado ao tempo total de vida útil do
empreendimento.

47
Figura 21: Gráfico do fluxo de caixa acumulado durante o período de vida útil da
UHE.
Outro método de análise de investimento que pode ser aplicado ao caso da análise de
viabilidade econômica da usina hidrelétrica consiste no valor presente líquido (VPL). Este
parâmetro traz para o tempo presente os fluxos de caixa (positivos e negativos) do projeto de
investimento durante a vida útil considerada. O valor presente líquido calculado para o
empreendimento em análise pode ser encontrado na Tabela 24.
Ainda, pode-se utilizar como métrica de avaliação do investimento a taxa interna de
retorno (TIR). Este parâmetro fornece informações sobre a resiliência do investimento perante
variações na taxa de desconto e tem como significado um valor de taxa que implica em um
valor presente líquido nulo, de modo que o investimento não apresente lucro ou prejuízo. Tal
valor pode ser determinado tanto em termos mensais quanto em termos anuais e seus
respectivos valores podem ser encontrados na Tabela 24.
Por fim, um último parâmetro utilizado como métrica de avaliação do investimento
consiste na relação Benefício-Custo do projeto. Entre outros significados, este parâmetro
simboliza a razão entre os lucros e despesas durante a vida útil do empreendimento trazidos
para o tempo presente. Tal razão pode ser observada na Tabela 24.

48
VPL 𝑅$ 1.488.079.767,86
TIR mensal 0,83 %
TIR anual 10,47 %
Benefício/Custo 2,60
Tabela 24: Métricas de análise de investimentos para o empreendimento da UHE no
rio Paraibuna.
Como pode ser observado na Tabela 24, o valor presente líquido do empreendimento
(VPL) é bastante superior ao montante de capital investido, o que ilustra um ganho monetário
aparente ao se implementar o empreendimento de modo que o investimento se apresenta como
rentável, no entanto, para se classificar o empreendimento como economicamente viável é
preciso analisar ainda sua taxa interna de retorno e a relação Benefício-Custo.
A análise da taxa interna de retorno permite avaliar a resiliência do investimento, uma
vez que quanto maior a taxa interna de retorno frente à taxa de juros vigente, menor será o risco
do investimento se tornar inviável devidos a situações econômicas que resultem no crescimento
da taxa básica de juros. Desse modo, observando-se o valor da TIR apresentado na Tabela 24,
conclui-se que o investimento representado pela construção da usina hidrelétrica é bastante
resiliente, dado bastante superior (8,47 p.p.) à taxa básica de juros considerada no período de
avaliação.
Ainda, a taxa interna de retorno elevada garante que o valor presente líquido se
mantenha positivo e satisfatório para um maior intervalo de variação da taxa básica de juros,
uma vez que o VPL diminui com o aumento desta taxa. O comportamento do valor presente
líquido para a o investimento na UHE em função da taxa básica de juros é ilustrado na Figura
22.

Figura 22: Comportamento do valor presente líquido frente a variações da taxa


básica de juros.
49
Portanto, determinados as principais métricas de avaliação de viabilidade do
investimento como o payback, o VPL e a TIR, que apresentam valores satisfatórios, a fim de
determinar de forma definitiva a viabilidade econômica do empreendimento pode-se utilizar a
razão Benefício-Custo do investimento. Como apresentado pela Tabela 24, a relação Benefício-
Custo para a UHE no rio Paraibuna consiste em 2,60, e, uma vez que a mesma se apresenta
demasiadamente superior ao valor unitário, pode-se concluir que os benefícios presentes de se
implementar o projeto são superiores aos custos, de modo que a implementação do projeto
torna-se economicamente viável.

5. ANÁLISE DO DIÂMETRO DA TUBULAÇÃO DE ADUÇÃO


Dentre todos os elementos dimensionados para a usina hidrelétrica, o conduto forçado
é o componente que propicia uma melhor análise acerca do dimensionamento. Isso se dá, pois
este componente está diretamente relacionado às perdas envolvidas no processo de geração de
energia hidrelétrica, ainda, o conduto forçado corresponde a uma parcela significativa dos
custos dos equipamentos dimensionados, conforme pode ser visto na Tabela 14. Desse modo,
um dimensionamento equivocado de tal componente pode, além de elevar os custos de
implementação do empreendimento, reduzir a quantidade de energia gerada, resultando em uma
redução de receita para a UHE. Vale ressaltar que, a fim de facilitar a análise paramétrica, como
a interpretação gráfica dos resultados, fez-se o uso do código desenvolvido para o software
EES, o qual pode ser encontrado no Apêndice A.
A análise do conduto forçado consiste, essencialmente, em uma verificação ótima, na
qual se avalia a influência do diâmetro da tubulação de adução em diversos parâmetros. O
primeiro destes consiste na perda de carga, que modela as ineficiências energéticas do
escoamento devido ao cisalhamento, implicando diretamente na redução da potência elétrica
gerada em cada unidade geradora. A Figura 23 ilustra o comportamento da potência elétrica
produzida por um conjunto turbina hidrogerador, bem como o comportamento da perda de carga
em função do diâmetro da tubulação de adução.

50
Figura 23: Influência do diâmetro do conduto forçado na potência elétrica gerada por
uma unidade geradora e na perda de carga atuante no conduto.
Ao analisar o comportamento da potência elétrica por unidade e da perda de carga
atuante no conduto forçado, em função da variação do diâmetro, nota-se que existe um uma
relação inversa entre as duas grandezas analisadas. À medida que o diâmetro do conduto
forçado aumenta, tem-se um respectivo aumento da potência elétrica gerada por um conjunto
de turbina e hidrogerador, até que se atinja um patamar de estabilidade na potência gerada, o
qual tem início em um diâmetro de 3,75 m para o conduto forçado. Nota-se ainda, que o valor
de potência elétrica no patamar corresponde ao valor de potência requerido para a unidade
geradora,o qual foi determinado previamente e corresponde a 42,5 MW.
Já a perda de carga apresenta um comportamento decrescente quando observa-
se um aumento do diâmetro do conduto forçado, indicando assim uma redução das perdas
energéticas no escoamento da água em condutos forçados de maiores diâmetros. Esse
comportamento pode ser explicado através da análise da Equação 52, que ilustra um
comportamento inversamente proporcional entre a perda de carga e o diâmetro da tubulação.
Pode se observar ainda, que assim como o ocorrido para a potência elétrica por unidade
geradora, tem-se a presença de um patamar na curva da perda de carga em função do diâmetro

51
do conduto forçado, que também tem início em torno de um diâmetro de 3,75 m, sendo o valor
de perda de carga neste patamar praticamente nulo.
Outra análise pertinente, consiste em avaliar simultaneamente a potência elétrica gerada
em uma unidade e o custo material do conduto forçado, em função do diâmetro da tubulação.
O comportamento da potência elétrica gerada por um conjunto turbina hidrogerador foi
apresentado e analisado previamente, já o comportamento do custo material despendido no
conduto forçado pode ser observado na Figura 24.

Figura 24: Potência elétrica por unidade e custo material em função do diâmetro do
conduto forçado.
Como pode ser observado no gráfico contido na Figura 24, o custo de aquisição do
material utilizado no conduto forçado, apresenta um comportamento crescente conforme
aumenta-se o diâmetro do mesmo. Este comportamento é previsível, dado que o custo material
é diretamente proporcional ao volume de material, e este, por sua vez, varia com o quadrado do
diâmetro do conduto forçado, resultando assim em uma curva quadrática do custo material em
função do diâmetro.
Uma forma de analisar o dimensionamento adequado do diâmetro do conduto forçado
consiste em avaliar sua influência nos custos da usina. Primeiramente, pode-se verificar o
comportamento do diâmetro da tubulação de adução em relação à razão entre a receita obtida

52
da venda de energia elétrica produzida em uma unidade geradora pelo custo material
despendido na aquisição do conduto forçado. Essa análise pode ser observada através do gráfico
da Figura 25.

Figura 25: Variação do índice benefício custo do conduto forçado em função do


diâmetro do mesmo.
Através da análise da influência do diâmetro da tubulação apresentada pela Figura 25,
pode-se notar que existe um ponto de máxima relação benefício custo, o qual ocorre em torno
de um diâmetro equivalente a 1,75 m. Entretanto, é válido ressaltar que, mesmo que este
diâmetro represente um ponto de ótimo, a análise efetuada leva em conta apenas os custos da
tubulação. Assim, uma análise mais realista deve ser feita levando em consideração todos os
custos relativos aos equipamentos utilizados diretamente para a geração de energia. O
comportamento da relação entre a receita obtida com a venda de energia produzida por uma
unidade geradora e os custos totais envolvidos com a mesma pode ser observado através do
gráfico da Figura 26.

53
Figura 26: Índice benefício custo, considerando os custos totais dos componentes
dimensionados para a usina, em função do diâmetro do conduto forçado.
Por meio da análise do gráfico ilustrado na Figura 26, pode-se notar que ao considerar
os custos dos demais componentes dimensionados, tem-se uma modificação do diâmetro ótimo
a ser empregado, o qual se encontra próximo a 3,6 m.
Dessa forma, ao realizar uma análise global do diâmetro do conduto forçado,
considerando os gráficos apresentados, nota-se que o diâmetro do mesmo deve ser superior a
3,75 m, para que a potência nas unidades geradoras atinja o valor previsto em projeto, ao mesmo
tempo que a perda de carga na tubulação de adução mantenha-se mínima. Ainda, ao realizar
uma análise do benefício custo envolvendo os custos dos componentes dimensionados, nota-se
que o valor do diâmetro do conduto forçado deve estar o mais próximo possível de 3,6 m, de
modo a maximizar os ganhos com a venda da energia produzida em cada unidade geradora da
usina.
Desse modo, ao unir as restrições e recomendações conclui-se que o diâmetro do
conduto forçado determinado e com valor igual a 3,88 m atende aos requisitos de projeto, ao
passo que o mesmo se encontra em uma região de valores maximizadores da razão benefício
custo para a usina hidrelétrica em questão.

54
6. CONCLUSÃO
Conforme proposto nos objetivos do trabalho, projetou-se uma UHE com potência
instalada de 85 MW localizada no rio Paraibuna, e próximo a região de São José dos Campos.
Na concepção de tal projeto, dimensionou-se a turbina hidráulica, o gerador e a tubulação de
adução, de acordo com as recomendações do Manual de Inventário Hidroelétrico de Bacias
Hidrográficas, do Ministério de Minas e Energia. Tendo-se dimensionado os principais
elementos hidráulicos e elétricos para a usina hidrelétrica, fez-se uma análise econométrica do
empreendimento a fim de avaliar sua viabilidade econômica, sendo esta viabilidade confirmada
durante a análise. Por fim, foi realizada uma análise de ponto ótimo do diâmetro do conduto
forçado, com o intuito de avaliar se o dimensionamento do mesmo se encontra adequado. O
resultado de tal análise comprova que o dimensionamento da tubulação de adução se mostra
adequada, de forma a otimizar a produção energética da UHE.

55
7. REFERÊNCIAS
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consumption by sector between 1974-2018. Online: IEA, 2020. Disponível em:
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production by source, 1974-2019 provisional. Online: IEA, 2020. Disponível em:
https://www.iea.org/reports/electricity-information-overview. Acesso em: 27 nov. 2020
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em MWmed entre 2000 e 2020. Online: ONS, 2020. Disponível em:
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operacao/geracao_energia.aspx. Acesso em: 27 nov. 2020.
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CAPACIDADE INSTALADA NO SIN - DEZ2020/ DEZ2024. Online: ONS, 2020.
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renováveis brasileiras. São Carlos: EESC/USP, 2017. Disponível em:
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Paulo: Escola Politécnica da USP, 2018. 72 slides, color. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4927951/mod_resource/content/2/PEA3560%20-
%20Gerac%C3%A3o%20Hidrel%C3%A9trica%20Parte%201.pdf. Acesso em: 01 dez. 2020.
[7] TIAGO FILHO, Geraldo Lúcio; BARRETO, Eduardo José Fagundes. Pequenos
Aproveitamentos Hidroelétricos: soluções energéticas para a amazônia. Brasília: Ministério
de Minas e Energia, 2008. 218 p. Disponível em:
https://www.mme.gov.br/luzparatodos/downloads/Solucoes_Energeticas_para_a_Amazonia_
Hidroeletrico.pdf. Acesso em: 01 dez. 2020.
[8] FLUID Machinery. 2020. Disponível em:
https://nptel.ac.in/content/storage2/courses/112104117/chapter_7/7_11.html. Acesso em: 01
dez. 2020.
[9] BRASÍLIA. Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Energético. Ministério
de Minas e Energia (org.). Manual de Inventário Hidroelétrico de Bacias Hidrográficas.
2007. ed. Brasília: E-Papers Serviços Editoriais Ltda, 2007. 686 p. Disponível em:
http://www.mme.gov.br/web/guest/secretarias/planejamento-e-desenvolvimento-
energetico/publicacoes/manual-de-inventario-hidroeletrico-de-bacias-hidrograficas/. Acesso
em: 30 nov. 2020.
56
[10] FUNDAÇÃO COPPETEC LABORATÓRIO DE HIDROLOGIA E ESTUDOS
DE MEIO AMBIENTE. Plano de Recursos Hídricos da Bacia do Rio Paraíba do Sul -
Resumo: Análise dos Impactos e das Medidas Mitigadoras que envolvem a Construção e
Operação de Usinas Hidrelétricas. Rio de Janeiro: [s. n.], 2007.
[11] HIBBELER, R. C. Mecânica dos fluidos. São Paulo: Pearson Education, 2016.
ISBN:9788543016269.
[12] SILVA FILHO, Donato da. Dimensionamento de usinas hidroelétricas através
de técnicas de otimização evolutiva. 2003. Tese (Doutorado em Engenharia Elétrica) - Escola
de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2003.
doi:10.11606/T.18.2003.tde-01062004-133323. Acesso em: 2020-11-30.
[13] ITAIPU, Assessoria de Comunicação Social de (ed.). BÊ-Á-BÁ de Itaipu. Foz do
Iguaçu – Pr: Assessoria de Comunicação Social, 2012. Disponível em:
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[14] REIS, Tiago. Capex e Opex: conheça a diferença entre estes custos. Suno
Research, São Paulo, ago. 2020. Disponível em:
https://www.sunoresearch.com.br/artigos/capex-e-opex/. Acesso em: 30 nov. 2020.
[15] MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA. Premissas e Custos da Oferta de
Energia Elétrica: no horizonte 2050. Rio de Janeiro: [s. n.], 2018.
[16] BRASÍLIA. Agência Nacional de Energia Elétrica. Ministério de Minas e Energia
(org.). Relatório de Acompanhamento da Implantação de Empreendimentos de Geração.
Brasília: Aneel, 2018. 23 p. Disponível em:
https://www.aneel.gov.br/documents/655816/14483518/Relat%C3%B3rio+de+Acompanham
ento+da+Implanta%C3%A7%C3%A3o+de+Empreendimentos+de+Gera%C3%A7%C3%A3
o+N11+Mar%C3%A7o+2018/c74e72f2-cc88-3ea6-5608-d596a4a33154?version=1.1. Acesso
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[17] ANEEL (org.). Leilão de energia garante investimento de R$11,2 bilhões:
certame contratou 91 empreendimentos em todas as regiões do Brasil. Certame contratou 91
empreendimentos em todas as regiões do Brasil. Disponível em: https://www.aneel.gov.br/sala-
de-imprensa-exibicao/-/asset_publisher/XGPXSqdMFHrE/content/leilao-de-energia-garante-
investimento-de-r-11-2-bilhoes/656877?inheritRedirect=false%20-%20m%C3%A9dia.
Acesso em: 30 nov. 2020
[18] Banco Central do Brasil (org.). Estatísticas. Disponível em:
https://www.bcb.gov.br/estatisticas. Acesso em: 30 nov. 2020.

57
APÊNDICE A
"Configurando o separador numérico para o padrão americano"
$Keyboard US
"Configurando o sistema de unidades"
$UnitSystem SI K kPa kJ Mass Radian
$Tabstops 0.2 0.4 0.6 3.5 in

"Dados de Entrada"
Q=58.85 [m^3/s] "Vazão volumétrica turbinada"
P_atm=1 [atm]*convert(atm, kPa) "Pressão atmosférica"
g=9.81 [m/s^2] "Aceleração da gravidade"
H_nominal=85.36 [m] "Queda nominal"
L=120 [m] "Comprimento de condutos
forçados"
T_agua=converttemp(C, K, 25 [C]) "Temperatura"

rho=Density(Water,T=T_agua,P=P_atm) "Densidade"
mu=Viscosity(Water,T=T_agua,P=P_atm) "Viscosidade"
epsilon=0.045 [mm]*convert(mm, m) "Rugosidade"
eta_turbina=0.90 [-] "Eficiência da turbina"
eta_gerador=0.96 [i] "Eficiência do gerador"
rho_aço=7800 [kg/m^3] "Densidade do aço"
custo_tonelada=4235 [$/ton] "Custo de aço por tonelada"

$ifnot ParametricTable
D=2 [m] "Diâmetro"
$endif

"Determinação do fator de atrito"


RR=epsilon/D "Rugosidade relativa"
A=(pi*D^2)/4 "Área transversal"
Q=V*A "Vazão volumétrica"
Re=(rho*D*V)/mu "Número de Reynolds"
f_moody=MoodyChart(Re, RR) "Fator de atrito de Darcy"
1/sqrt(f_colebrook)=-2*LOG10(RR/3.7+2.51/(Re*sqrt(f_colebrook)))

"Perda de carga"
h_L_moody=f_moody*(L/D)*((V^2)/(2*g)) "Perda de carga distribuída"
h_L_colebrook=f_colebrook*(L/D)*((V^2)/(2*g)) "Perda de carga distribuída"

"Equação da energia"
H_nominal=h_turb+h_L_moody
W_dot_turb=eta_turbina*rho*g*Q*h_turb*convert(W, MW) "Potência em uma turbina"
W_dot_eletrica_turbina=W_dot_turb*eta_gerador "Potência elétrica por turbina"

"Análise de custo"
e_min=(D/4+0.127)*convert(cm, m) "Espessura mínima da tubulação"
D_ext=D+2*e_min "Diâmetro externo do conduto"
A_conduto=(pi*(D_ext^2-D^2))/4 "Área de material no tubo"
Volume_mat=A_conduto*L "Volume de material utilizado"
m_aço=Volume_mat*rho_aço*(1E-3) "Massa de aço utilizada"
Custo=custo_tonelada*m_aço "Custo de material da tubulação"

Custo_total = Custo+15126688/2+33780000/2+4400000 "Custo de material da


tubulação+turbina+gerador"
Preco_MWh = 157.08 [$/MWh] "Preço médio do MWh vendido em
18 de outubro de 2019"
tempo_usina = 30*365*24 "Estima-se o tempo de
funcionamento da UHE em 30 anos"
58
CB_total = (W_dot_eletrica_turbina*tempo_usina*Preco_MWh)/Custo_total "Razão Beneficio-
Custo Global (Receita-Custo) em função do Diâmetro da tubulação"
CB_perdadecarga = (W_dot_eletrica_turbina*tempo_usina*Preco_MWh)/Custo "Razão Beneficio-
Custo pontual, analisando apenas o custo da tubulação"

59

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