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Diana Palmer - Homem Da Lei (Rainhas Romance 48)
Diana Palmer - Homem Da Lei (Rainhas Romance 48)
Lawman
Diana Palmer
Digitalização: Silvia
Revisão: Cassia
Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Irmãos Grier 02
Diana Palmer
Autora de mais de 95 romances, traduzidos para vários idiomas e publicados em todo o
mundo, Diana já foi laureada com diversos prêmios, incluindo o Romantic Times, o Ajfair de Coeur
e a Rita Award.
HARLEQUIN
BOOKS
2010
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Capítulo Um
A velha casa dos Jacob estava em péssimo estado. O antigo proprietário não se
preocupara muito com manutenção e, agora, havia uma goteira no gabinete de Garon.
Para falar a verdade, estava exatamente sobre o maldito computador.
Ele o fitou da porta, elegantemente vestido em um terno cinza. Acabara de chegar;
em Jacobsville vindo de Washington D.C., onde estivera cursando aulas de investigação
de homicídios em Quântico. Aquela área do trabalho policial era a sua nova
especialidade. Garon Grier era um agente do FBI de carreira. Ficava sediado no escritório
de San Antonio, contudo, recentemente, tinha se mudado de um apartamento para este
enorme rancho em Jacobsville. Seu irmão, Cash, era o chefe de polícia de Jacobsville. Os
irmãos passaram algum tempo estremecidos. Cash renegara a família devido ao fato do
pai ter se casado novamente poucos dias após sua adorada mãe ter morrido de câncer. A
longa briga acabara de terminar. Cash estava feliz, recém-casado com Tippy Moore
conhecida como "Vaga-lume da Geórgia", famosa no mundo da moda e do cinema. Ela
acabara de dar à luz o primeiro bebe dos dois, uma menininha.
Para Cash, a menina era mais linda do que as joias da coroa. Para Garon, ela
parecia mais uma ameixa vermelha com dois bracinhos agitados. Contudo, à medida que
os dias iam passando, ela, de fato, parecia estar ficando mais bonitinha. Ninguém teria
dito, mas Garon adorava crianças. Seu modo de ser era brusco e confrontador. Ele
raramente sorria e, normalmente, não era dado a amenidades, mesmo com as mulheres.
Especialmente com as mulheres. Perdera seu único e verdadeiro amor para o câncer, o
que quase o destruíra, e, agora aos 36 anos de idade, já se resignara a passar o resto da
vida sozinho. Era melhor assim, decidira, afinal não tinha muito a oferecer a uma mulher.
Vivia para o trabalho. Porém, gostaria de ter o próprio filho. Adoraria um menininho.
Contudo, não tinha vontade de arriscar o coração em uma empreitada dessas.
Atrás dele, a Srta. Jane Turner, a governanta que contratara, adentrou o recinto com
uma expressão resignada no rosto magro.
— Só consegui agendar os consertos para a semana que vem Sr. Garon — ela
disse com seu carregado sotaque; texano. — Por ora, acho melhor colocarmos um; balde
debaixo da goteira, a não ser que o senhor queira subir no telhado com um martelo e
pregos.
Ele lhe deu um olhar de superioridade.
— Eu não subo em telhados — disse em tom monótono.
Ela o fitou de alto a baixo, examinando-lhe o terno.
— Isso não me surpreende — murmurou, virando-se para ir embora.
Ele lhe lançou um olhar chocado. Ela devia estar achando que ele nunca usara nada
além de ternos, quando, na verdade, crescera em um vasto rancho na parte oeste do
Texas. Podia cavalgar qualquer coisa com quatro patas e, quando adolescente, ganhara
prêmios em competições de rodeio.
Agora sabia mais a respeito de revólveres e investigações do que sobre rodeio,
contudo, ainda era capaz de administrar um rancho. Na verdade, estava criando ali puros-
sangues Angus pretos e pretendia competir com o pai e os irmãos nas exibições de gado.
Sua idéia era dar início à sua própria criação de reprodutores campeões. Isso, é claro, se
conseguisse superar o obstáculo de conseguir caubóis qualificados para trabalharem para
alguém de fora. Cidades pequenas pareciam se fechar sempre que alguém vinha de outro
lugar para morar nelas. Jacobsville tinha menos de dois mil habitantes, e a maioria deles
parecia observar Garon por detrás das cortinas das janelas sempre que ele passeava
pela cidade. Ele era analisado, avaliado e, por ora, mantido cuidadosamente a certa
distância. As pessoas em Jacobsville não deixavam qualquer estranho que aparecesse se
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
unir à família, porque era isso que eles se consideravam, uma família de dois mil
integrantes.
Ele olhou para o relógio. Já estava atrasado para uma reunião com o seu esquadrão
de agentes no escritório da FBI de San Antonio, mas na noite anterior, seu vôo fora
inesperadamente retido na capital por algum problema de segurança. Já era de manhã
cedo quando o avião aterrissou em San Antonio. Tivera de dirigir até Jacobsville e mal
conseguira dormir. Ele saiu para a larga varanda da frente, feita de concreto, com seu
piso acinzentado, o balanço branco e a mobília de vime branco com suas almofadas.
Essas eram novas. Já estavam no fim de fevereiro, e a governanta disse que ele
precisava de algum lugar para as visitas se sentarem quando aparecessem. Ele lhe
dissera que não esperava ter visita alguma, porém ela bufou e ainda assim encomendou
os móveis. Ela era uma autoridade sobre o que estava ao seu redor. Ela provavelmente
também não demoraria a se tornar uma autoridade com relação a ele, mas ele lhe dissera
com todas as letras o que aconteceria se ela ousasse espalhar fofocas sobre sua vida
pessoal. A governanta apenas sorrira. Garon odiava aquele maldito sorriso. Se ao menos
tivesse conseguido arrumar qualquer outra solteirona com os talentos dela para cozinha
para trabalhar para ele...
Ele avistou um velho carro preto de data de fabricação desconhecida tossindo
fumaça enquanto descia lentamente a estrada. Devia ser a sua vizinha de porta, cuja
pequena casa de tábuas de madeiras brancas com detalhes em verde mal podia ser vista
através das árvores de nogueira- pecã que separavam a sua enorme propriedade do
pequeno terreno dela. O nome da moça era Grace Carver. Ela tomava conta da avó
idosa, que tinha sérios problemas cardíacos. A neta não tinha nada de muito especial.
Usava o cabelo em um comprido rabo de cavalo e, em geral, andava por ai usando
jeans folgado e camiseta, Garon teve a impressão de que ela era tímida. Na verdade,
parecia ter medo dele, o que era curioso. Talvez a reputação dele já houvesse se
espalhado.
Ele a conhecera quando o velho pastor alemão da moça lhe invadiu o pátio.
Escapara do seu canil cercado e ela viera procurá-lo, o tempo todo se desculpando
profusamente. Tinha olhos verdes, muito claros, e um rosto ovalado. Com a exceção da
boca bonita e da pele extraordinária, não tinha nenhum atrativo especial. Apenas se
demorara tempo o suficiente para pedir desculpas e se apresentar. Nem chegara perto de
lhe apertar mão e foi embora assim que pôde, quase arrastando o cão delinqüente atrás
de si. Desde então, não retornara. Cerca de uma semana mais tarde, a Srta. Jane
mencionou que o cachorro velho morrera. A Sra. Collier, a avó de Grace, jamais gostara
mesmo do cão. Garon comentara que a Srta. Carver parecera nervosa em sua presença
e Turner lhe dissera que Grace era "peculiar" em se tratando de homens. Só Deus
saberia o que isso queria dizer.
A Srta. Jane também disse que Grace não costumava sair muito. Ela não entrou em
mais detalhes e Garon não perguntou mais nada a respeito da moça. Não estava
interessado. De vez em quando, gostava de passar a noite fora na companhia de uma
mulher atraente, de preferencia, uma mulher moderna e culta. A Srta. Carver era o tipo de
mulher que jamais achara interessante.
Ele verificou o relógio, fechou a porta da frente e subiu no Bucar preto para dirigir até
San Antônio. Tinha direito a um Bucar, o termo usado pelo FBI para veículo, mesmo
tendo um Jaguar preto novinho estacionado na garagem ao lado do seu enorme Ford
Expedition. Guardava todo o seu equipamento e acessórios no Bucar. Por isso o usava
para trabalhar. Ia ser uma boa viagem todos os dias, mas não mais do que quarenta
minutos para ir e voltar. Além do mais, estava cansado de morar em apartamento. A Srta.
Turner era severa, mas era uma excelente cozinheira e cuidava da casa sem ficar
perturbando-o com seu falatório. Garon se considerava afortunado.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Ele arrancou pela estrada de acesso a casa, lançando um olhar curioso na direção
do veículo barulhento de Grace. Perguntou-se se a moça sabia que o carro dela tinha
problemas mecânicos e chegou á conclusão de que provavelmente não. De vez em
quando, Garon a via trocando a terra e podando suas rosas. Ela tinha vários canteiros.
Era a única coisa que tinham em comum. Ele adorava rosas e, durante o seu breve
casamento, cultivara uma variedade delas. Era um passatempo que realmente apreciava,
e ali no rancho, teria espaço de sobra para praticá-lo novamente. É claro que, como
estavam em fevereiro, não havia muitas rosas que floresceriam nessa época do ano.
— Se eu não for não preciso examinar toda aquela papelada amontoada sobre a
minha mesa — Garon retrucou, com secura. — Sente-se. Gostaria de um pouco de café?
— acrescentou, sorrindo logo em seguida. — É claro que teremos nós mesmos de ir
buscar, pois minha secretária é uma mulher liberada!
Ele ergueu a voz quando ela passou diante da porta.
— O computador está prestes a comer a sua carta para o Procurador-geral sobre a
nova legislação proposta — ela avisou, alegremente. — Lamento, mas estou certa de que
poderá preparar outra.
— Se algum dia você se casar, terei o maior prazer em entregá-la ao noivo!
— Se algum dia eu me casar, eu é que terei o maior prazer em entregar você! — ela
retrucou e continuou andando.
Ele se sentou atrás da escrivaninha com um som áspero na garganta.
— Minha governanta e ela devem ser irmãs — disse para o visitante. — Eu as
contratei, e elas me dizem o que fazer.
Marquez apenas sorriu.
— Fui informado de que é o chefe de um esquadrão que lida com crimes violentos
contra crianças — disse.
Garon se recostou na poltrona, e todo o humor desapareceu de seu rosto.
— Tecnicamente, chefio um esquadrão que lida com crimes violentos, englobando
tudo ate chegar a homicídios em série. Eu nunca trabalhei com assassinatos de crianças.
Marquez franziu a testa.
— Nesse caso, quem é que trabalha?
— O agente especial Trent Jones era nosso especialista em crimes contra crianças.
Mas ele foi transferido de volta para Quântico para trabalhar em um caso importante.
Ainda não tivemos tempo de substituí-lo. — Ele franziu a testa. — Pensei que Joceline
tivesse dito que estava trabalhando em um caso de pessoa desaparecida.
Marquez assentiu, com uma expressão tão solene quanto a de Garon.
— Começou como um caso de pessoa desaparecida. Agora é um homicídio. Uma
menininha de 10 anos de idade — ele disse baixinho. — Nós verificamos todo mundo
próximo a ela, inclusive os pais, e não descobrimos o responsável. Agora estamos
achando que pode ter sido um desconhecido.
Isso era um assunto sério. Os noticiários estavam cheios de notícias sobre crianças
abduzidas que haviam sido assassinadas por criminosos sexuais reincidentes por todo o
país. O caso, infelizmente, não era nada extraordinário.
— Tem alguma pista?
Marquez sacudiu a cabeça.
— Encontramos o corpo ontem. É por isso que estou aqui. Encontrei um caso
semelhante. Acho que é um crime em série. O que significa que posso pedir a sua ajuda.
Garon se recostou na poltrona.
— Quando ela foi levada?
— Três dias atrás — Marquez disse baixinho.
— Alguma latente no local?
— Não, e nossos criminologistas percorreram "de quatro" todo o quarto dela com
luzes azuis. Nada. Nem uma única impressão digital latente.
— Ele a raptou de dentro do quarto da menina? — Garon perguntou surpreso.
— No meio da noite, e ninguém escutou nada.
— Pegadas, marcas de pneus...?
O detetive sacudiu a cabeça.
— Ou o sujeito tem muita sorte...
—... Ou já fez isso antes — Garon completou por ele.
Marquez inspirou profundamente.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
— Exatamente. É claro que meu tenente não concorda. Ele acha que temos um
pedófilo que levou a menina embora e a matou. Eu lhe disse que esse é o segundo caso
de seqüestro de dentro do quarto que estamos vendo nos últimos dois anos. O último foi
em Paio Verde, e a criança foi assassinada de maneira similar. Eu encontrei o caso
listado no VICAP, o programa de apreensão de criminosos violentos do FBI. Mostrei para
o meu tenente, mas ele disse que eu estava caçando fantasmas.
Garon ergueu a sobrancelha.
— Por acaso procurou outros homicídios de crianças não solucionados?
— Procurei — Marquez respondeu melancolicamente. — Encontrei dois em
Oklahoma oito anos atrás. Eles aconteceram com a diferença de um ano, e as crianças
foram levadas de seus lares, mas durante o dia. Mostrei os casos para o meu tenente. Ele
disse que não passava de coincidência, que não havia nenhuma semelhança real, com a
exceção das crianças terem sido estranguladas e esfaqueadas.
— As vítimas. Quantos anos tinham?
Marquez tirou do bolso um Black Berry e acessou uma tela.
— Entre 10 e 12 anos de idade. Foram estupradas, estranguladas e esfaqueadas.
— Bom Deus! — Garon exclamou. — Que tipo de animal faz uma coisa dessas com
uma criança?
— Um animal da pior espécie — O detetive respondeu. — Tinha esperanças de que
a fita vermelha aparecesse nos registros do VICAP que se enquadravam nesse homicídio.
Mas não tive sorte.
Marquez desviou o olhar do Black Berry, enfiou a mão no bolso e tirou de lá um
envelope de evidencia. Ele o passou para Garon, que o abriu e olhou lá dentro.
— Uma fita de seda vermelha?
— A arma do crime — Marquez disse. — Os primeiros policiais no local eram do
Departamento de Polícia de San Antônio. Eles acharam isso amarrado com força ao redor
do pescoço da menina de 10 anos de idade. O corpo foi encontrado ontem, atrás de uma
pequena igreja ao norte daqui. Transportamos o corpo para cá, para que nosso legista o
examinasse. Ainda não liberamos para a imprensa a informação referente à fita vermelha.
Garon podia imaginar o porquê disso. Todos os detetives de homicídios mantinham
em segredo um ou dois fatos relacionados com o crime, para que pudessem eliminar
suspeitos em potencial que estavam mentindo sobre seu envolvimento no assassinato.
Cada departamento de polícia tinha, pelo menos, um maluco que tentava confessar um
crime violento, por motivos que apenas um psiquiatra poderia determinar.
Ele tocou na fita.
— Pode ter algo a ver com a fantasia dele — Garon cogitou, tendo participado de
seminários conduzidos pelo departamento de ciência comportamental do FBI, observando
os especialistas em traçar perfis trabalhando.
Modus operandi era o método usado para matar. Assinatura era uma característica
ligando todas as vítimas de um assassino em série de uma maneira que era importante
apenas para o assassino e que jamais variava. Alguns deixavam as vítimas em poses
obscenas, outros marcavam a vítima de algum modo particular, contudo, vários
assassinos em série deixavam algo que os identificava como suspeitos.
Garon olhou para o detetive.
— Procurou no banco de dados casos com fitas parecidas deixadas nas cenas de
outros crimes?
— Foi á primeira coisa que fiz quando vi a fita — ele respondeu. — Mas não dei
sorte. Se havia a tal fita, talvez não a tenham notado ou deliberadamente não a
mencionaram no relatório. Tentei entrar em contato com o departamento de polícia de
Paio Verde, no Texas, onde o último homicídio aconteceu, mas não responderam meus
telefonemas nem meus e-mails. É uma jurisdição minúscula.
— Boa idéia. E o que quer de nós?
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
— Um perfil seria um bom começo. Meu tenente não vai gostar muito, mas
conversarei com o nosso capitão e verei se ele pode fazer um pedido formal de ajuda. Foi
ele mesmo quem falou comigo sobre o perfil.
Garon sorriu.
— Vou avisar a um dos Assistentes do Agente Especial no Comando, para que ele
fique de sobreaviso.
— Por que não o Agente Especial no Comando?
— Ele está em Washington, tentando angariar fundos para um novo projeto que
estamos tentando começar, em pareceria com as escolas de ensino médio da região,
para desencorajar o uso de drogas entre as crianças.
— Ele provavelmente vai ter de pedir para alguém com mais dinheiro do que o
nosso governo parece ter. — Foi á resposta seca. — A um nível local, nosso próprio
orçamento já parece estar enxugado até o osso. Eu tive de comprar uma câmera digital
do meu próprio bolso para poder tirar minhas próprias fotos das cenas dos crimes.
Garon deixou escapar uma breve risada.
— Sei como é isso.
— É verdade que muitos casos jamais são listados no VICAP? — Marquez
perguntou.
— É. Os formulários são mais curtos do que antes, mas ainda leva cerca de uma
hora para preenchê-los. Alguns departamentos de polícia simplesmente não têm tempo
para fazê-lo. Se puder encontrar um segundo caso envolvendo uma fita vermelha, eu
talvez possa ajudá-lo a convencer o seu tenente de que há um assassino em serie à
solta. Antes que ele volte a matar — acrescentou, lúgubre.
— Se conseguirmos montar uma força-tarefa para caçar esse sujeito, será que
vocês podem dispor de um agente?
— Podemos dispor de mim. O resto do meu esquadrão está tentando; acabar com
uma quadrilha de ladrões de banco que usam armas automáticas nos seus assaltos. Não
sou essencial para a operação. Meu assistente pode chefiar o esquadrão na minha
ausência. Já trabalhei em casos de assassinatos em série e conheço agentes na Unidade
de Ciência Comportamental aos quais posso recorrer caso precise de ajuda. Terei prazer
em trabalhar com você.
— Obrigado.
— Deixe disso. Estamos todos no mesmo time.
— Você tem um cartão de visitas?
Garon pegou a carteira e retirou dela um cartão de visita branco, simples, com letras
pretas.
— O meu telefone de casa está na parte de baixo do cartão, junto com o número do
meu celular e o meu e-mail.
As sobrancelhas de Marquez se ergueram.
— Você mora em Jacobsville?
— Moro. Comprei um rancho por lá. — Ele riu. — Sei que não devemos ter qualquer
outro tipo de negócio fora do serviço, mas eu mexi alguns pauzinhos. Moro no rancho. O
capataz cuida da operação do dia a dia, de modo que não há conflitos.
— Eu nasci em Jacobsville — Marquez disse, sorrindo. — Minha mãe ainda mora lá.
Ela tem um café na cidade.
Só havia um café em Jacobsville. Garon já comera lá.
— O Barbara's Café? — perguntou.
— O próprio.
Ele franziu a testa. Não queria se meter na vida do homem, mas Barbara era loura.
— Está pensando que não pareço um homem com uma mãe loura, não é? —
Marquez sorriu. — Meus pais morreram em um assalto que não correu bem. Eram donos
de uma pequena casa de penhores na cidade. Na época, eu tinha apenas 06 anos de
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
idade. Barbara jamais se casou e não tinha família. Eu costumava levar comida do café
para os meus pais. Após o enterro, Barbara me tirou da custódia do estado e me adotou.
Uma mulher e tanto.
— Foi o que eu soube.
Marquez verificou o relógio.
— Tenho de ir. Eu ligo assim que tiver falado com o meu capitão.
— É melhor me mandar um e-mail — Garon retrucou. — Devo passar boa parte do
dia em reunião. Tenho um bocado de serviço para colocar em dia.
— Tudo bem. Até mais ver.
— Até.
Foi um bom dia, Garon pensou ao dirigir de volta para Jacobsville. O esquadrão
estava entrevistando testemunhas do último grande assalto de banco para encontrar
qualquer informação que pudesse favorecer a investigação. Homens com armas
automáticas eram um perigo para toda a comunidade de San Antonio. Ele conversara
com o Assistente do Agente Especial no Comando mais graduado sobre montar uma
força-tarefa em conjunto com os detetives da; Homicídios de San Antonio para trabalhar
no assassinato da menina. Conseguiu sinal verde. O agente superior tinha um amigo nos
Texas Rangers e deu o número do telefone dele para Garon. Iam precisar de toda a ajuda
que conseguissem.
Ao passar pela propriedade dos Carver, olhou em sua direção. O carro da moça
ainda estava estacionado diante da casa. Garon teve suas dúvidas se ela conseguiria dar
a partida nele novamente. Era um milagre que aquela sucata sequer funcionasse.
Ele pegou a estrada de acesso que levava à sua própria casa e quase bateu na
traseira de uma Mercedes conversível prateada. Uma morena de olhos escuros que lhe
pareceu conhecida desceu do veículo usando um conjunto preto com a saia na metade
das coxas, deixando à mostra as pernas bonitas. Garon a conhecia. Era a corretora que
começara a trabalhar para Andy Webb, o homem que lhe vendera o rancho. A tia dela era
rica. A velha Talbot, que morava em uma mansão na Main Street da cidade.
Qual era mesmo o nome dela? Jaqui. Jaqui Jones. Fácil de lembrar e, além do seu
trabalho, o corpo da moça era mais do que o suficiente para torná-la memorável.
— Oi — ela disse, quase ronronando ao descer do Jaguar. — Apenas pensei em dar
uma passada aqui para ver se ainda estava satisfeito com o seu rancho.
— Muito satisfeito — Garon respondeu, sorrindo.
— Ótimo! — Ela se aproximou. Era apenas um pouquinho mais baixa do que ele,
que tinha mais de lm80. — Darei uma festa na casa de minha tia na noite de sexta da
próxima semana — disse. — Adoraria se pudesse vir. Será uma boa maneira de conhecer
a alta camada social de Jacobsville.
— Onde e a que horas?
Ela sorriu.
— Vou anotar o endereço. Só um segundo.
Ela voltou para o carro e se curvou, oferecendo-lhe uma bela visão do seu corpo
enquanto pegava uma caneta e um bloco de anotações. Não foi necessário olhar duas
vezes para saber que ela estava disponível e interessada. Ele também estava. Estava na
secura havia um bom tempo.
Ela anotou o endereço e o passou para ele.
— Por volta das 18h — disse. — É um pouco cedo, mas podemos tomar um pouco
de uísque enquanto esperamos pelos outros.
— Eu não bebo.
Ela pareceu surpresa. Ele, obviamente, estava falando sério.
— Bem, nesse caso, podemos tomar um pouco de café enquanto aguardamos —
retificou, sorrindo, para que ele pudesse lhe ver os dentes revestidos de branco.
— Por mim, tudo bem. Até lá.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Ela foi embora antes que ele pudesse dizer algo mais. Ainda estava atônito com a
confissão dela. Pensando bem, o xerife de Jacobs County, Hayes Carson, recomendara a
Srta. Jane. Ela trabalhara temporariamente para ele até que o xerife conseguisse arrumar
a governanta de meio expediente que queria. Não era à toa que ela tinha medo do seu
trabalho antigo. Ele sacudiu a cabeça. Quando era criança, quem mandava nas salas de
aula eram os professores. Ao que tudo indicava um bocado de coisas havia mudado nas
cercas de duas décadas desde que se formara na escola e seguira para a faculdade.
Estava deitado, acordado, olhando para o teto, quando escutou; batidas frenéticas
na porta.
Ele se levantou e vestiu o roupão, descendo as escadas, descalço. A Srta. Jane
chegou lá embaixo antes dele e ligou as luzes da varanda antes de começar a abrir a
porta.
— Não abra sem saber quem é! — gritou para ela.
Ao alcançar a governanta, Garon estava com a mão sobre a Glock calibre 40 que
enfiara no bolso.
— Eu sei quem é — ela retrucou, abrindo rapidamente a porta.
A vizinha da casa ao lado, Grace Carver, estava ali de pé, usando um velho roupão
desbotado e sapatos surrados, seu cabelo louro e comprido preso em um rabo de cavalo
desmazelado, os olhos acinzentados arregalados e nervosos.
— Por favor, posso usar o seu telefone? — ela pediu ofegante mente. — Vovó está
sem fôlego e sentindo dores no peito. Receio que possa ser um enfarto. Meu telefone não
está funcionando e não consigo dar a partida no carro! — Lágrimas de fúria impotente lhe
escorriam pela face. — Ela vai morrer!
Antes de ela ter terminado a explicação, Garon já havia discado para a emergência,
dado para o despachante o endereço e informado as condições da mulher idosa.
— Espere por mim aqui — disse com firmeza para Grace. — Eu já volto.
Ele correu até o andar de cima, vestiu jeans e uma camisa e calçou as botas sem as
meias.
Pegou a jaqueta jeans, pois estava frio, e voltou em menos de cinco minutos.
— Você é rápido — Grace comentou.
— Ás vezes, recebo chamadas para sair nas piores horas possíveis — ele
respondeu, puxando-a pelo cotovelo. — Jane, eu não sei a que horas vou estar de volta.
Estou com a minha chave. Tranque tudo e vá para a cama.
— Sim senhor. Grace, eu estarei rezando por ela. Por você também.
— Obrigada, Srta. Jane — ela disse, com sua voz suave.
Ela tinha um ligeiro sotaque do sul do Texas, mas era suave e doce aos ouvidos.
Garon contornou o Bucar, destrancou o Jaguar preto e a ajudou a entrar. Grace se
sentiu pouco à vontade, não apenas por estar com sua roupa de dormir, mas também
porque não estava acostumada a ficar a sós com homens que mal conhecia.
Ele nada disse, apenas seguiu para a casa da avó dela, estacionou diante da casa e
desligou o motor. Grace subiu em disparada os degraus que levavam á casa, com Garon
vindo logo atrás dela.
A mulher idosa, a Sra. Jessie Coller, estava sentada em sua cama usando uma
grossa camisola azul que parecia ter sido confeccionada na década de 1920. Era uma
mulher grande, com o cabelo grisalho preso em um coque no topo da cabeça e olhos
verde-claros. Parecia estar com dificuldades para respirar.
— Grace, pelo amor de Deus, vá buscar meu roupão de banho! — ela arquejou.
— Sim, senhora.
Grace caminhou até o armário e começou a revirá-lo.
— Menina tola, nunca faz nada direito. — Ela fitou furiosamente Garon. — Quem é
você?
— Seu vizinho — ele retrucou. — A ambulância está a caminho.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
— Uma ambulância! — Ela olhou para Grace, que retornara com um robe grosso de
tecido atoalhado branco. — Eu lhe disse... Que íamos... De carro! Ambulâncias custam
dinheiro!
Grace fez uma careta.
— O carro se recusa a dar a partida, vovó.
— Você o quebrou, não foi? — a mulher idosa disse furiosamente. — Sua idiota...
Ela gemeu e levou a mão ao peito. Grace parecia angustiada.
— Vovó, por favor, acalme-se — implorou. — Você só vai piorar as coisas!
— Você ia adorar se eu morresse, não ia, mocinha? — a avó judiou. — Teria esta
casa toda só para você, sem precisar cuidar de uma velhota.
— Não fale assim — a mulher mais jovem disse; baixinho. — Sabe que eu amo
você.
— Humpf — foi á resposta bufada. — Pois eu não amo você — ela retrucou. —
Você me custou a minha filha, me humilhou publicamente, fazendo com que eu tivesse
vergonha de aparecer na cidade...!
— Vovó! — Grace exclamou seu rosto se contorcendo de dor.
— Quem me dera morresse — esbravejou arquejante, a mulher idosa. — E me
livrasse de você!
A ambulância chegou a toda velocidade pela estrada de terra com a sirene e as
luzes ligadas.
Grace deixou escapar um suspiro de alívio. Não queria que o vizinho escutasse tudo
aquilo.
Não era da conta dele. Estava constrangida demais para sequer olhar para ele.
— Eu vou trazê-los até aqui — disse ansiosa para escapar.
— Menina tola, arruinou a minha vida — resmungou a mulher idosa.
Garon sentiu uma onda de pura repulsa ao observar á idosa apertando o peito. A
moça estava fazendo tudo que podia pela avó, que parecia tão amorosa quanto uma
jararaca. Talvez fosse a doença a responsável por sua crueldade. A mulher de sua vida
morrera se desculpando com as enfermeiras por elas terem de erguê-la até a comadre.
Mesmo nas suas horas derradeiras, aquela mulher gentil, amorosa e doce fora um anjo.
Que contraste.
Os paramédicos vieram subindo as escadas logo atrás de Grace, trazendo uma
maca.
Cumprimentando Garon com um aceno de cabeça, começaram a trabalhar na idosa
Sra. Collier.
— É um enfarto? — Grace perguntou, preocupada. — Ela vai ficar boa?
Um dos paramédicos olhou para ela.
— Você é filha dela?
— Neta.
— Ela já se sentiu indisposta assim antes?
— Já. O Dr. Coltrain lhe dá comprimidos de nitroglicerina, mas ela se recusa a tomá-
los. Ele também receitou remédios para a pressão, mas ela também não os toma.
— Remédios custam dinheiro! — a mulher idosa rosnou para eles. — Tudo que
tenho é a minha pensão. Não poderíamos alimentar um rato com o que ela ganha,
trabalhando meio expediente naquela floricultura e cozinhando...
— Não posso deixá-la sozinha o dia inteiro, e teria de fazer isso para trabalhar em
tempo integral — Grace explicou; baixinho.
Ela não acrescentou que também teria de pagar para alguém ficar com a avó, e que
nunca alguém aceitaria o trabalho após conhecê-la.
— Boa desculpa, não? — resmungou a Sra. Collier. Ela gritou, subitamente, levando
a mão ao peito. — Ali!
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Capítulo Dois
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
— Pouco provável. Ela compreenderá. Além do mais, Jill, que trabalha no pronto-
socorro, é prima de Judy. Já vai ter contado o que aconteceu muito antes de você ligar
para ela — ele acrescentou, com um sorriso gentil.
— Obrigada, Dr. Coltrain — ela disse, ficando de pé.
— Seu vizinho ficou de lhe emprestar a Srta. Turner. Ela ficará com você está noite
— ele acrescentou.
— É muita gentileza da parte dele. — Grace fez uma careta. — Não consigo me
sentir muito à vontade com ele por perto.
Coltrain franziu ligeiramente a testa.
— Ele trabalha para a justiça. Na verdade, pelo que Cash, o irmão dele, me contou,
é muito bom em investigar homicídios...
— Tenho de ir — Grace interrompeu, evitando fitar o médico nos olhos.
— Não precisa gostar dele, Grace. Mas vai precisar de ajuda para atravessar essa
fase.
— A Srta. Turner se encarregará disso. — Ela se virou na direção da porta do
cubículo. — Obrigada.
— Você vai superar isso, Grace — ele disse baixinho. — Todos nós temos de
encarar a perda das pessoas de quem gostamos. Faz parte da vida. Afinal de contas,
ninguém sai deste mundo vivo — completou, juntando-se a ela no corredor.
Ela sorriu ligeiramente.
— É bom não se esquecer disso.
— É bom mesmo.
Garon estava aguardando com as mãos enfiadas nos bolsos do jeans, andando de
um lado para o outro. Ele ergueu a cabeça quando Grace e Coltrain reapareceram.
Parecia estar cansado e irritado.
— Estou pronta — ela disse, sem fitá-lo nos olhos escuros. — Obrigada por
aguardar.
Ele assentiu bruscamente.
— Eu ligo se houver alguma mudança — Coltrain garantiu. — Prometo.
— Tudo bem. Obrigada, Dr. Coltrain.
— De nada. Vá descansar um pouco.
Sem dizer outra palavra, ela seguiu para a porta. Esquecera-se de que o seu
telefone não estava funcionando, sendo assim, como Coltrain faria para ligar para ela?
Garon a seguiu, ainda com as mãos nos bolsos. Não dissera mais nada para
Coltrain, que ficou fitando-o até uma enfermeira lhe desviar a atenção.
Garon abriu a porta para Grace, que se acomodou no lugar do carona. Quando
deixaram o estacionamento, ela ainda não havia dito uma única palavra.
Ele lançou um olhar na direção dela enquanto dirigia.
— Você conhece bem o médico?
Ela assentiu, sem olhar para ele.
— Ele é brusco.
O roto falando do esfarrapado, Grace pensou, com certo humor, mas era tímida
demais para fazer qualquer comentário. Ela voltou a assentir.
Garon ergueu uma das sobrancelhas. Era como falar; consigo mesmo. Perguntou-se
por que Coltrain lhe dera uma injeção, em vez de algo que pudesse ser tomado por via
oral. Diabos; queria saber por que o medico estava tão preocupado com ela que queria
que alguém passasse a noite com a moça. Muitas pessoas tinham doenças graves na
família. A maioria lidava com isso sem tranqüilizantes. Especialmente uma mulher tão
jovem quanto esta parecia ser.
Bem, não era da conta dele, pensou. Pegando o celular, ligou para a Srta. Turner.
Obviamente ainda acordada, ela atendeu na mesma hora.
— Será que pode ir passar a noite com a Srta. Carver? — ele perguntou.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Contudo, na manhã seguinte, acordado e descansado, ele se sentiu mal pelo modo
como tratara Grace na noite anterior. Lembrou-se de como se sentira quando a mãe
morrera; porém, em particular, de quando a mulher que amava morrera. Lembrou-se de
como tais acontecimentos o deixaram triste e deprimido. Na ocasião, não tivera ninguém
para ajudá-lo a passar por tudo. Sua família estava no Texas, e ele estivera morando na
Geórgia, trabalhando em Atlanta, quando acontecera. Deveria ter se lembrado de como
se sentira sozinho. Não fora solidário com Grace.
Sendo assim, se levantou mais cedo do que de costume, preparou biscoitos, fritou
bacon e ovos mexidos. Telefonou para a casa dos Collier e só então se recordou de que o
telefone não estava funcionando. Usando suas roupas de trabalhar, subiu no carro e
seguiu para buscar Grace e a Srta. Turner.
Elas estavam descendo os degraus da varanda, já vestidas. Grace estava usando
novamente o jeans e a camiseta folgada, com o cabelo preso em um coque. Ambas
pareceram surpresas de vê-lo.
— Preparei o café da manhã — ele anunciou, sem mais preâmbulos. — Vamos.
— Mas não precisava ter feito isso — Grace protestou.
Ele fez menção de puxá-la pelo braço, na direção do carro, mas ela
instantaneamente deu um passo para trás, seus olhos arregalados, as faces rosadas.
Ele olhou sério para ela.
— É só um café da manhã. Não estou pedindo-a em casamento — acrescentou,
sarcasticamente.
As sobrancelhas dela se ergueram.
— Graças a Deus — retrucou com naturalidade. — Vou considerar que tive sorte em
escapar dessa. — Ela hesitou ante o olhar impassível de Garon. — Ou será que não
devia ter dito isso até depois do café da manhã?
Ele não sorriu, mas os olhos sim. Deixou escapar um som áspero da garganta,
evitou fitar nos olhos bem-humorados da Srta. Turner e seguiu para o carro
Aparentemente, Grace comeu com gosto, mas estava um pouco ressabiada com o
vizinho grandalhão e taciturno. Jamais conhecera alguém como ele. Se Garon tinha
algum senso de humor, devia estar escondido bem lá no fundo.
— Estava muito bom — disse ao terminar a última tira de bacon. — Importa-se se eu
usar o seu telefone para ligar para o hospital?
— Fique à vontade — ele respondeu. — Há uma extensão no corredor.
Ela se levantou, limpando gentilmente a boca com o guardanapo, e foi procurar o
telefone.
— Como ela está? — Garon perguntou á Srta. Turner.
— Vai ser um tremendo golpe para ela — a governanta respondeu. — A Srta. Collier
pode ser um pesadelo como substituta de mãe, mas Grace mora com ela a tanto tempo
que acho que ela simplesmente ignora o terrível mau humor da mulher.
— Eu notei que a velhota parece não gostar dela.
A Srta. Turner fez uma careta.
— É ainda pior do que parece. A Srta. Collier falhou com Grace justamente quando
ela mais precisava. Acho que é o sentimento de culpa que faz a avó tratá-la tão mal.
— O que houve? — ele perguntou com curiosidade.
— Não me cabe falar da vida de Grace — foi á resposta seca.
Garon suspirou e terminou o seu café. Aparentemente, segredos faziam parte da
vida na cidade pequena.
Grace retornou, desanimada.
— Ela está na UTI — disse, ao voltar a se sentar à mesa. — Ele não me disse isso
ontem à noite.
— Estou certo de que ele teve seus motivos. Vai trabalhar?
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
sempre visava criação com características específicas. Era meio que uma bênção o fato
dos antigos donos, a família Jacobs, terem sido rancheiros de cavalos, porque o celeiro
era bem cuidado e as cercas haviam sido construídas para durar; estavam quase novas.
Fora muito simples passar a cerca elétrica ao redor dos pastos existentes para garantir
que os animais não fugissem.
Ele chegou à varanda quando a Srta. Turner estava subindo a escada.
— Como está a avó dela? — perguntou quando a governanta se juntou a ele.
— Nenhuma mudança. — Ela sacudiu a cabeça. — Ela está agüentando bem, mas
acho que desmoronará caso a avó morra. Não está acostumada a ter de morar sozinha.
— Não me diga que ela tem medo do escuro — ele zombou.
Ela o fitou e não sorriu.
— Se a Sra. Collier morrer, eu terei de encontrar alguém para ficar com Grace por
algum tempo, só até ela se acostumar com a idéia. Ou, talvez ela vá até Victoria, ficar
com o primo Bob por alguns dias — disse, pensando em voz alta.
— Um dia de cada vez — ele disse. — Não vale á pena sofrer por antecipação.
— Talvez tenha razão. — Ela hesitou. — O carro dela desapareceu — disse, de
repente.
— Eu sei. Pedi para Brady trazê-lo até aqui para dar uma geral nele. Fiquei tentado
a mandá-lo para o ferro-velho, mas suponho que ele ainda consiga andar mais uns três
ou quatro quilômetros...
O telefone tocou insistentemente. Garon o atendeu antes que a Srta. Turner
pudesse fazê-lo.
— Grier — disse.
— Você roubou o meu carro! — Grace Carver acusou.
Capítulo Três
— Existe um ditado quanto a morder a mão que a alimenta... — ele começou a dizer
lentamente.
— Eu jamais morderia a sua. Não há como saber por onde ela andou!
Antes que Garon pudesse reagir, Grace agradeceu pela ajuda com o carro e
desligou rapidamente.
Ele bateu o telefone sem fio na base e murmurou algo inaudível.
Os olhos da Srta. Turner se arregalou. Ela jamais havia notado sinais de mau
temperamento no seu novo e taciturno patrão. Bem, pensou, ao caminhar na direção da
cozinha, pelo menos parecia ter mais vida do que de costume. Ela tentou imaginar o que
diabos Grace; poderia ter dito para provocar tal reação.
Enquanto isso, Grace estava se sentindo cruel. Seu vizinho lhe levara o carro com a
melhor das intenções, para que pudesse consertá-lo para ela. Também sabia que ele não
cobraria pelo serviço. Ela fez uma careta. Precisava parar de descontar suas frustrações
nele. Só porque estava fora de; si de preocupação com a vovó, não era motivo para sair
por aí magoando as pessoas. Não que ele parecesse ser o tipo de pessoa que pudesse
ser magoada...
Não estava trabalhando hoje, com a exceção de seu pequeno projeto pessoal que
lhe consumia tanto do tempo livre e do pouquinho da renda de que ela podia dispor. De
modo que, quando chegou a um ponto onde pôde parar, seguiu para a cozinha e
começou a cozinhar. Escutara a Srta. Turner comentar que Garon gostava de uma boa
torta de maçã, e ela era; famosa pela dela.
Costumava usar maças secas, que davam à sobremesa um gosto todo especial.
Naquela tarde, quando o capataz de Garon, Clay Davis, trouxe o carro de volta, ela
saiu para lhe agradecer com a torta em uma cesta.
Ele estava seguindo na direção de uma caminhonete dirigida por um de seus
homens, mas se deteve ao ver Grace chegando e sorriu, tirando o chapéu de aba larga.
— Srta. Grace — disse respeitosamente.
Ela sorriu.
— Oi, Clay. Será que pode me fazer o favor de levar isto para o seu patrão?
Ele olhou para a torta dentro da cesta.
— Cicuta ou beladona? — perguntou maliciosamente.
Ela o fitou com surpresa.
Clay deu de ombros.
— Bem, nós meio que ouvimos falar que vocês dois não se dão lá muito bem.
— É apenas uma gostosa torta de maçã — ela se defendeu. — Estava me sentindo
culpada por ter dito algumas coisas não muito gentis para ele. É meio que uma oferta de
paz.
— Direi isso para ele. Clay pegou a torta.
Grace sorriu.
— Obrigada por consertar o meu carro.
— A chave está dentro dele. E você precisa ficar de olho no medidor de óleo — o
capataz acrescentou. — Nós consertamos o vazamento, mas, por via das dúvidas, é
melhor não ir a nenhum lugar sem ter a certeza de que há óleo no motor. Se perceber
algum vazamento, nos avise. Nós consertaremos.
— Muito obrigada, Clay.
Ele deu de ombros.
— Vizinhos precisam ajudar uns aos outros.
— Eu sei, mas não há muito que eu possa fazer pelo seu patrão. Ele já tem toda a
ajuda de que precisa.
Clay sorriu.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
— Ele adora; doces embora a Srta. Turner não tenha lá muito talento para bolos e
tortas. Não conte para ela que eu disse isso — ele acrescentou. — Ela é uma cozinheira
de mão cheia.
— Ela apenas não é boa com doces — Grace completou para ele, devolvendo o
sorriso. — Não tem nada de mais. Eu não sei fritar um frango, nem fazer biscoitos.
— Todos nós temos os nossos dons — ele concordou.
— Mais uma vez, obrigada.
— Não tem de quê.
Ele foi embora com a torta ao seu lado no assento da caminhonete.
Naquela noite, Grace pegou seu carro e seguiu para o hospital. Ficou sentada do
lado de fora da UTI, na sala de espera, até bem tarde. Coltrain a encontrou ali; sozinha,
quando estava fazendo sua última ronda.
Ele cerrou os dentes.
— Grace, você não pode trabalhar o dia todo e passar a noite inteira aqui — ele
resmungou, postando-se diante dela.
Grace sorriu.
— Se fosse a sua avó, você estaria sentado aqui.
O médico suspirou.
— É eu estaria. Mas estou em melhor estado de saúde do que você...
— Não comece — ela retrucou, bruscamente. — Eu me cuido muito bem e tenho um
excelente médico.
— Lisonjas de nada adiantarão comigo. Pergunte a Lou.
Ela deu de ombros.
— Valeu á pena tentar. — Os olhos dela ficaram sérios. — A enfermeira disse que
não houve mudanças.
Ele se sentou ao lado dela, com uma expressão cansada.
— Grace, você sabe que o tecido cardíaco não regenera, não sabe?
Ela fez uma careta.
— Milagres ainda acontecem — disse com teimosia.
— Eu sei. Já presenciei alguns. Só que, nesse caso, a possibilidade é ínfima. Você
precisa se acostumar com a idéia de que sua avó pode não voltar para casa.
Lágrimas começaram a lhe arder nos olhos. Sobre o colo, ela apertou as mãos uma
na outra com força.
— Ela é tudo que eu tenho Copper.
Ele mordeu a língua, se esforçando para não falar o que estava pensando.
— Não a transforme em uma santa — disse bruscamente.
— Ela lamentou tudo — Grace lembrou ao médico, com os olhos úmidos e
arregalados. — Ela não quis ficar bêbada naquela noite. Eu sei que não. O fato de
mamãe ter ido embora sem dizer uma só palavra e me abandonado para ela cuidar era
uma grande fonte de sofrimento para ela.
— Foi isso que ela lhe disse — Coltrain sondou.
Grace amarrou a cara.
— Concordo que ela possa não ter sido do tipo maternal — foi forçada a admitir. —
No fundo, ela não gostava de crianças, e eu só lhe trazia problemas.
— Grace — o médico disse, gentilmente, — você jamais trouxe problemas para
ninguém. Era sempre você que fazia todo o trabalho na sua casa. Sua avó ficava sentada
assistindo novelas o dia inteiro e bebendo gim puro enquanto você fazia todo o resto. Foi
o gim que acabou com o coração dela.
Grace mordeu o lábio inferior.
— Pelo menos ela estava ali — retrucou asperamente. — Meu pai não queria filhos,
então, quando vim ao mundo, ele fugiu com alguma rainha da beleza de segunda e
jamais olhou para trás. Minha mãe me odiava por eu ser o motivo de meu pai ter ido
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
embora. E nenhum outro homem a queria com uma família a tiracolo, então ela também
foi embora.
— Você parecia com o seu pai — o médico lembrou.
— Eu sei, e é por isso que ela me odiava ainda mais. — Ela fitou as mãos
entrelaçadas. —Jamais pensei que ela ligasse para mim. O que ela fez foi uma surpresa
total.
— Imagino que tenha sido culpa. Como a sua avó, ela sempre tivera o nome da
família em alta estima. Esperava que o que aconteceu saísse em todos os jornais. E teria
mesmo saído se sua avó não tivesse apelado para o coração mole de Chet Blake e
implorado para que ele enterrasse o caso, para que ninguém soubesse exatamente o que
aconteceu. Mas, àquela altura, já era tarde demais para salvar sua mãe.
Ela engoliu em seco.
— Jamais o pegaram.
— Talvez tenha morrido — Coltrain retrucou bruscamente.
— Ou talvez tenha ido para a prisão por outro crime. Ela o fitou.
— Ou talvez tenha feito o mesmo com alguma outra menina — disse em tom
áspero.
— Não importava para a sua avó. Ela só queria ver a coisa toda abafada.
— O chefe Blake lamentou o que aconteceu com minha mãe — ela afirmou
distraidamente. — Caso contrário, acho que teria levado adiante o caso. Ele era um bom
policial.
— Era mais do que isso — Coltrain retrucou, com uma expressão solene. — O
criminoso achou que você estava morta. Chet achou mais seguro que ele continuasse
pensando assim. O desgraçado jamais quis que você sobrevivesse para testemunhar
contra ele, Grace.
Ela ficou toda arrepiada só de lembrar. Envolveu-se com os próprios braços.
— Acha que ele guardou o relatório?
— Aposto que sim, mas provavelmente está bem guardado. Duvido que Cash Grier
vá achá-lo sem mais nem menos, se é isso que a preocupa — ele acrescentou
gentilmente.
Ela fez uma careta.
— E é. De um modo meio contrariado e irritadiço, Garon tem sido muito gentil
comigo. Não quero que ele saiba a meu respeito.
— A culpa nunca foi sua, Grace — ele disse, com a voz suave e gentil, como se
estivesse falando com uma pequena criança.
Na verdade, fora Copper quem a tratara quando o policial a trouxe para o pronto-
socorro. Na época, ele era residente.
— Algumas pessoas dizem que eu pedi por isso — ela comentou.
— Diabos!
— Ele morava na região, e eu costumava usar short.
— Jamais crie desculpas para um ser como aquele. Nenhum homem normal fica de
olho em uma menina de 12 anos de idade!
Ela se esforçou para sorrir para ele.
— Você é tão bom para mim.
— Quem me dera fosse bom para a sua vida social, Grace — o médico retrucou. —
Você sequer sai com alguém. Tem 24 anos de idade, Grace. Deveria ter feito terapia e
aprendido a seguir com a própria vida. Eu culpo a sua avó por isso. Ela se recusava a ter
qualquer parente dela vinculado de qualquer modo á um psicólogo.
— Ela é muito antiquada.
— Ela é uma avestruz — Coltrain corrigiu, irritado. — Fingindo que nada aconteceu
para proteger o nome da família.
— Todo mundo sabe o que aconteceu — Grace argumentou.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
— Não é bem assim. A maior parte tem apenas uma noção do ocorrido.
— Ainda assim, todos cuidam de mim — ela retrucou, se sentindo à vontade e
protegida. — Somos todos; família em Jacobsville — acrescentou pensativa. — Como o
velho Sr. Jameson, que esteve na prisão por assalto e voltou para casa quando foi solto.
Ele pagou a sua dívida com a sociedade. Lamenta muito. E agora simplesmente é aceito.
Coltrain sorriu.
— É uma das coisas legais das cidades pequenas — teve de admitir.
— Você não acha que alguém contaria para Garon...?
— Ninguém faz fofoca a seu respeito — ele afirmou. — Nem mesmo a Srta. Turner.
Um ombro magro se ergueu.
— Mesmo o irmão dele sendo o chefe de polícia da cidade, ele é um desconhecido
por aqui. Não acho que as pessoas se disporiam a expor os podres.
— Você não é podre — retrucou com firmeza o medico.
Grace sorriu.
— Você é um ótimo médico. — Ela hesitou. — Será que não posso ver a vovó, só
por um minutinho?
Ele fez uma careta.
— Se me prometer que vai para casa depois.
Apesar de relutar em aceitar as condições, Grace queria muito ver a Sra. Collier.
— Tudo bem.
— Neste caso, venha.
Ele a conduziu até a UTI conversou brevemente com a enfermeira e acompanhou
Grace até um pequeno cubículo onde a avó dela, branca como um lençol e sem se dar
conta do que acontecia à sua volta, estava deitada na cama, imóvel.
Grace teve de morder a língua para se impedir de gritar. A mulher idosa já parecia
estar morta. Estava respirando de um jeito que Grace se lembrava vividamente do início
da sua infância.
O avô respirara do mesmo modo no dia em que morrera. Era um tipo de som
áspero, amedrontador.
Coltrain se posicionou ao lado dela.
— Grace, ajuda lembrar que isto é algo que todos nós teremos de enfrentar um dia.
Não é o fim. É o começo. Como o casulo que produz uma borboleta.
Ela o fitou com olhos que eram por demais brilhantes.
— Toda a minha família está morta.
— Você ainda tem o seu primo em Victoria, e ele a adora.
Embora o primo já tivesse quase 80 anos e fosse um semi-inválido, tinha de admitir
que Copper tivesse razão. Ela se aproximou da beirada da cama e lenta, hesitantemente,
tocou o ombro largo da avó.
— Amo você, vovó — disse baixinho. — Lamento... Ter sido tamanho fardo na sua
vida...
A voz dela falhou. Lágrimas escorreram pela sua face.
A avó se sobressaltou, como se houvesse escutado, mas não abriu os olhos. Após
um minuto, ficou imóvel novamente, e a respiração áspera piorou.
Coltrain, que sabia muito bem o que isso significava, tirou Grace para fora do
cubículo e de volta para a sala de espera.
A moça retirou um lenço da bolsa e enxugou os olhos.
— Desculpe.
— Não há do que se desculpar. Droga, Grace, você não deveria estar aqui sozinha!
Ele mal dissera as palavras quando as portas se abriram automaticamente, e Garon
Grier, usando um terno cinza de três peças, adentrou a sala de espera.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Coltrain o fitou boquiaberto. Grier era a última pessoa no mundo que ele esperara
ver, ainda mais levando em consideração a frieza com que o homem tratara Grace
quando a avó dela fora trazida para o hospital.
Garon se juntou a eles, seus olhos escuros fitando o rosto desolado de Grace.
— A Srta. Turner disse que provavelmente estaria aqui — ele disse bruscamente. —
Fui lhe agradecer pela torta de maçã, mas seu carro não estava lá.
— Você preparou uma torta de maçã para ele? — Coltrain perguntou surpreso.
Grace movia-se inquietamente.
— Fui grosseira com ele e me senti culpada — explicou. — Ele mandou um de seus
homens consertarem o meu carro.
— Que ela me acusou de roubar — Garon acrescentou. Ele ergueu uma das
sobrancelhas escuras. — Mas a torta compensou o insulto. É uma torta muito boa.
Ela sorriu por entre as lágrimas.
— Fico feliz que tenha gostado.
Ele olhou de relance para Coltrain.
— Pensei em acompanhá-la até em casa — disse para a moça. — Clay disse que o
carro ainda pode vazar óleo. Você mora em um trecho meio deserto da estrada.
Coltrain gostou da preocupação do homem, mas não quis demonstrar isso.
— Deixe que ele a acompanhe até em casa e fique por lá — aconselhou. — Não há
nada que possa fazer aqui, Grace.
Ela inspirou demoradamente.
— Suponho que não haja mesmo. — Ela se virou para Garon.
— Preciso dar uma passada rápida no toalete, depois, estarei pronta para ir.
— Eu aguardo.
Ela desceu o corredor. Quando estava longe o suficiente para não poder escutá-los,
Coltrain voltou sua atenção para Garon.
— A Sra. Collier não durará mais do que algumas horas — disse sem rodeios. —
Acho que Grace sabe disso, contudo, ainda assim, será um golpe duro.
Garon assentiu.
— Providenciarei para que ela não fique sozinha. Quando a avó dela se for, Grace
poderá ficar conosco no rancho por uma ou duas semanas, até que ela tenha se
recuperado um pouco. A Srta. Turner cuidará dela como se fosse a própria filha.
— Isso não é uma guinada de 180 graus para você? — Coltrain perguntou,
desconfiado. — No outro dia, sequer queria passar pelo incômodo de dar uma carona à
Grace.
Garon evitou fitá-lo nos olhos.
— Ela tem bom coração.
Coltrain hesitou.
— Ela é uma boa pessoa — complementou. Ele franziu a testa. — Trabalhando ate
tarde?
O agente federal assentiu.
— Temos uma criança assassinada ao norte daqui — explicou. — Como homicídio é
a minha especialidade, fui designado para o caso. — A expressão de seu rosto ficou mais
tensa. — Passei a maior parte da minha vida trabalhando no ramo. Normalmente, não há
muita coisa capaz de me chocar. Esse caso... — Ele sacudiu a cabeça. — O criminoso
levou a criança pela janela do próprio quarto dela. Encontramos sinais de violência no
aposento. — Os olhos dele brilharam furiosamente. — Esse homem é um animal. Precisa
ser pego.
— Encontraram alguma pista?
Ele sacudiu a cabeça.
— Ainda não. Mas sou como um míssil teleguiado. Só paro quando encontro o meu
alvo.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Coltrain sorriu.
— Nesse ponto, presumo que seja como seu irmão.
— Quando fazia parte dos Texas Rangers, Cash perseguiu um suspeito em um
assalto até o Alabama — ele confidenciou.
Coltrain riu.
— Eu acredito.
Garon sacudiu a cabeça.
— Se alguém tivesse me dito que ele se estabeleceria em uma cidade pequena e
teria filhos, eu teria me acabado de rir. Desde o nascimento da filha, no início do mês, ele
se tomou um dedicado homem de família.
Antes que Coltrain pudesse retrucar, Grace voltou pelo corredor, com uma aparência
tristonha e solitária.
Garon pôde lhe sentir a dor. A perda não era um sentimento desconhecido para ele.
— Venha — disse gentilmente. — Eu a acompanharei até em casa.
Grace hesitou. Ela olhou para Coltrain.
— Você me liga...? Ele assentiu.
— Eu ligo Grace.
Por sobre a cabeça dela, os olhos de Garon encontraram-se com os de Coltrain, e
uma mensagem silenciosa foi trocada entre os dois, Coltrain também ligaria para Garon.
Ele lhe dissera isso, sem proferir uma única palavra.
Grace encostou diante dos degraus da varanda, com Garon logo atrás dela. Ela
desceu hesitantemente do carro. Já fazia muito tempo desde a última vez em que estivera
sozinha com um homem à noite. Não confiava nos homens.
Hesitou diante dos degraus, virando-se na trilha de cascalho para observar Garon
descer do seu carro e se juntar a ela. Estava tensa como um elástico esticado, algo que
ele deve ter notado.
Seus olhos escuros se estreitaram.
— Quer que eu peça para a Srta. Turner vir passar a noite com você? — ele
perguntou.
— Não, eu ficarei bem. Obrigada — ela acrescentou, pouco à vontade.
Ele franziu a testa. No hospital, com Coltrain por perto, ela ficara mais relaxada.
Contudo, a sós com ele, parecia ter erguido uma barreira de espinhos e arame farpado.
Não era preciso ser um gênio para notar que ela estava pouco à vontade. Ele se per-
guntou se ela se portava do mesmo modo com outros homens.
— Você tem o nosso telefone — Garon lembrou. — Se precisar de nós basta; ligar.
— Obrigada. É muita gentileza.
Ele inspirou profundamente.
— Tenho dificuldades com qualquer tipo de relação — disse sem mais nem menos.
— Meu ramo de trabalho costuma assustar as pessoas em geral, ainda mais quando se
dão conta de que eu carrego uma arma o tempo todo, mesmo quando não estou de
serviço. Eu costumo deixá-las pouco à vontade.
Ela mordeu o lábio inferior.
— Também não estou acostumada a outras pessoas — confessou. — Vovó e eu
somos muito reservadas. Trabalho fora e tenho alguns amigos de ocasião — acrescentou.
— Mas ninguém muito chegado.
Ele inclinou a cabeça.
— Há algum motivo para isso?
— Há — ela respondeu com simplicidade. — Mas não falo sobre isso.
Ela lhe despertava a curiosidade. Notou que Grace ainda estava usando jeans,
camiseta e casaco. Nenhuma de suas roupas era nova, e os mocassins estavam surrados
e rasgados em alguns lugares. Ela devia viver à base de um orçamento muito apertado,
pensou.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
entrada. Vestiu um roupão grosso e se deteve para olhar através das pequenas vidraças
quadradas, após ligar a luz da varanda.
Franziu a testa. Era o vizinho, vestido para sair e com uma expressão solene. O
coração dela veio à boca. Só conseguia pensar em um motivo para ele estar ali.
Abriu a porta com um ligeiro soluço na voz.
— Não — disse roucamente. — Por favor, não...!
— Eu sinto muito — ele disse baixinho.
— Ela... Se; foi?
Garon assentiu.
Lágrimas rolaram pelas faces de Grace. Ela não deixou escapar um único som.
Apenas o fitou com uma expressão trágica no rosto, chorando desamparadamente.
Ele se adiantou para segurá-la pelos ombros. Era uma invasão de seu espaço
pessoal que a chocava e a amedrontava. Ela se sacudiu nervosamente, porém, quando
as mãos dele se afrouxaram até mal repousarem sobre ela, Grace relaxou e se acon-
chegou em seus braços. Apesar de tão nova, ela não conseguia se lembrar da última vez
em que alguém a abraçara enquanto ela chorava.
Ele alisou-lhe o cabelo comprido com a mão grande, porém, gentil.
— As pessoas morrem Grace — disse gentilmente, usando pela primeira vez o
nome dela. — É algo pelo qual todos nós precisamos passar.
— Você perdeu a sua mãe — ela se lembrou, soluçando.
— Perdi.
Garon não acrescentou que ela não fora a única pessoa próxima a ele que perdera.
Não a conhecia bem o suficiente para se abrir com ela.
— Foi rápido? — ela quis saber.
— Coltrain disse que ela simplesmente suspirou e relaxou. Foi rápido e indolor. Ela
jamais recobrou a consciência.
Grace mordeu o lábio inferior.
— Bom Deus — soluçou. — Não sei nada a respeito dos preparativos para o enterro
dela. A própria vovó foi até a funerária e preencheu todos os documentos. Ela tinha uma
pequena apólice... Não sei onde está.
Ela voltou a chorar, gostando da sensação de se apoiar nele. Jamais fora do tipo de
se apoiar em ninguém. Ele era forte e quente e, naquele instante, não era ameaçador.
— Eu a ajudarei com isso — Garon disse. — Só que você vai vir comigo para a
minha casa agora. Suba e troque de roupa, Grace. Amanhã, nós nos preocuparemos com
os preparativos. Qual é a funerária?
— Jackson e Williams.
— Ligarei para eles enquanto você se troca. Também vou ligar para o hospital — ele
acrescentou antes que a moça pudesse perguntar.
— Não sei como agradecer... — ela começou a dizer, erguendo para ele o rosto
dilacerado pela tristeza.
— Não precisa agradecer. Agora, vá.
— Tudo bem.
Ela se virou e seguiu para o seu quarto.
Garon a observou subindo as escadas com os olhos estreitados, Coltrain enfatizara
a necessidade de ficar de olho em Grace. Dissera que o golpe seria duro para ela e que a
moça precisaria de alguém por perto. O médico ruivo a conhecia havia muitos anos.
Talvez apenas fosse o tipo que se importava mais do que a maioria.
Garon pegou o celular e discou o número do serviço de informações.
Capítulo Quatro
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
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passou a mão pelo cabelo escuro e liso. — Meninas. Menininhas inocentes. E esse
monstro pode estar fazendo isso desde a década de 1990, em intervalos, sem ser
capturado. Daria o meu sangue para pegar este sujeito — Marquez acrescentou. Ele
esperou tempo suficiente para fazer o pedido para a garçonete e aguardar que ela lhe
servisse um pouco de café antes de falar novamente. — Ele deve ser um criminoso
sexual reincidente. E bom demais no que faz para ser um amador inexperiente. É preciso
um desgraçado astuto para tirar uma criança de seu próprio quarto, com a família dela
dentro de casa. E, se os casos realmente estão ligados, ele vem fazendo isso há anos
sem ser pego, ou mesmo visto.
— A fita vermelha. Deve ter algo a ver com a sua fantasia — Garon murmurou,
tomando um gole de café.
— Foi o que pensei — o homem mais novo disse. — O detetive que me contou
sobre o caso de Del Rio também se lembrou de já ter ouvido falar de um caso não
solucionado parecido, de 12 anos atrás, ou mais, mas não se recordava de onde ele
acontecera. Acha que foi no sul do Texas.
— Procurou esse caso no banco de dados?
— Procurei, mas o caso de Del Rio não estava lá. Deus sabe quantos outros não
estão especialmente se aconteceram em pequenas cidades rurais. — Marquez sorriu. —
Contei para o meu tenente do caso de Del Rio, e das outras duas crianças em Oklahoma
que foram levadas de suas casas e encontradas mortas. Eu lhe disse que precisávamos
envolver o FBI, para que vocês pudessem traçar um perfil do assassino para nós, e ele
riu. Disse que não havia ligação entre as mortes. Sendo assim, fui até o meu capitão, e
ele ligou para o seu AAEC. Obrigado.
— Não tem de quê. A maioria dos policiais veteranos odeia papelada e
complicações. Ninguém quer ter que procurar um assassino em série. Contudo, se formos
teimosos o suficiente, podemos pegar este.
Marquez franziu os lábios.
— Perguntei a seu respeito para um dos membros do seu esquadrão — disse. —
Ele disse que você é do tipo que persegue alguém até os portões do inferno.
Garon deu de ombros.
— Não gosto de deixar criminosos escaparem.
— Nem eu. Este sujeito é um assassino em série. Preciso que me ajude a provar
isso.
Garon aguardou enquanto os seus bifes estavam sendo servidos.
— De que tipo de semelhanças; estamos falando com o caso não solucionado em
Del Rio?
— Tudo que tenho são informações incompletas, mas o modo como as crianças
foram abduzidas é o mesmo, e eles restringiram os suspeitos a um desconhecido. A
vítima foi violada e esfaqueada. Não sei quanto a fitas vermelhas, incluí nosso caso no
formulário para o VICAP e me deparei com vários assassinatos de crianças em outros
estados. Contudo, nenhuma das crianças foi estrangulada e esfaqueada, o que pode
significar outro criminoso.
— Ou ele simplesmente pode ter mudado os seus hábitos. Talvez um revólver tenha
lhe dado mais poder na hora da abdução.
Como ambos sabiam, um assassino podia mudar o modo como matava, mas, se o
crime tinha uma assinatura, ela normalmente não variava de cena do crime para cena do
crime.
— Alguma fita vermelha nos outros casos não solucionados? — Garon perguntou,
visto que, em pelo menos um dos casos, a fita parecia exercer a função de assinatura.
— Não. Pelo menos nenhuma foi mencionada nas informações que eu acessei.
Como eu disse antes, sempre deixamos de divulgar para a mídia um ou dois detalhes.
Talvez os detetives dos casos tenham feito o mesmo.
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— Eles permitem que use coldres de axila? — Grier perguntou. — Nós não
podemos.
— Não sei se eu gostaria de trabalhar no Birô se não puder usar um coldre de axila.
Além do mais, vocês são transferidos para vários lugares diferentes. Eu gosto de ficar
perto de casa.
— Cada um tem seu gosto.
— Quem mais vai estar nesta força-tarefa que você está montando? — Marquez
perguntou.
— Temos o departamento do xerife, visto que o crime aconteceu fora da cidade, na
jurisdição do condado, assim como uma unidade K-9, um Texas Ranger...
— Um Ranger? Puxa — o outro homem disse, com um suspiro melancólico. —
Tentei me juntar a eles, cinco anos atrás. Passei em tudo, com exceção da prova de tiro,
mas dois outros sujeitos tiveram pontuação mais alta do que a minha. É uma organização
e tanto.
— É sim. Antes de vir trabalhar em San Antônio, meu irmão foi um Ranger.
Trabalhou com o escritório da promotoria como um perito em crimes cibernéticos, depois,
se mudou para Jacobsville.
— Ele é o chefe de polícia de lá. — Marquez assentiu. — Um sujeito e tanto o seu
irmão. Está realizando grandes prisões relacionadas ao tráfico.
Garon sentiu uma onda de orgulho. Tinha muito orgulho do irmão.
— Quem mais? — Marquez insistiu.
— Temos um investigador do escritório da promotoria que se especializa em crimes
contra crianças. Oferecemos nosso laboratório em Quântico para analisar evidências
físicas.
— Temos uma das melhores unidades forenses do país.
Garon sorriu.
— Eu sei. Não me incomodo em deixá-los processar os dados. Quando nos
encontraremos?
— Amanhã à tarde, no El Chico's, por volta das 13h. Encontrei um policial que
conhece a família da vítima e que morava na região. Ele nos encontrará lá.
— Avisarei o Texas Ranger e o investigador da promotoria — Garon disse.
— Espero que possamos pegar este sujeito.
— Sem dúvida. — Ele olhou para o relógio. — Tenho algumas horas livre após isto,
mas, se precisar entrar em contato comigo, devo passar de volta ao escritório antes do
final do expediente. Esqueci de lhe dar meus telefones. Caso não consiga me achar no
escritório, aqui está o número do meu celular — ele acrescentou, tirando do bolso um
cartão de visitas.
— Obrigado. Eu manterei contato.
Quando terminaram de comer e a garçonete trouxe a conta, Marquez fez menção de
pegar a carteira, mas Garon ergueu a mão em um gesto de recusa e passou o cartão de
credito para a mulher.
— É por minha conta — disse, sorrindo para o detetive. — Foi um almoço de
negócios.
— Obrigado. Gostaria de poder retribuir, mas meu tenente me colocaria
solucionando roubos de postos de gasolina se eu lhe apresentasse uma conta de almoço.
Garon riu.
O bom humor desapareceu quando chegou; em casa. A Srta. Turner estava com
uma expressão preocupada ao lado do telefone.
— O que houve? — Garon perguntou.
— Nada, eu espero — ela respondeu. — É só que não consigo falar com Grace ao
telefone. Estou certa de que ela está bem. Talvez apenas não queira atender.
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— Vou ate lá ver — o agente federal informou e deixou a casa antes que a Srta.
Turner tivesse a chance de pedir para acompanhá-lo.
Ele estacionou diante da velha casa em estilo vitoriano, mais uma vez notando como
ela estava malcuidada. Subiu os degraus, dois de cada vez, e bateu com força à porta.
Repetiu o gesto três vezes, mas não houve resposta.
Começou a contornar a casa. E ali estava ela. No canteiro de rosas, com tesouras
de poda, aparando os arbustos. Também estava conversando com elas. Obviamente, não
o escutara chegar de carro.
— Sei que ela jamais gostou de vocês — estava dizendo para as rosas. — Mas eu
as amo. Vou me certificar de que receba todo o fertilizante e fungicida de que precisem
para ficarem lindas novamente, como eram quando o vovô ainda estava vivo. — Ela
fungou e enxugou os olhos úmidos na manga da camisa de flanela que estava usando. —
Não sei por que estou chorando por ela — prosseguiu, após um instante. — Ela me
odiava. Independente de tudo que eu fazia vovó jamais me quis em sua vida. Mas agora
ela se foi, e somos apenas eu e vocês, e esta casa enorme...
— Quer dizer que as rosas vão morar com você? — Garon perguntou com
curiosidade.
Grace se virou tão bruscamente que quase caiu. Ela levou a mão ao peito. Estava
quase sem fôlego.
— Você se move tão silenciosamente como o vento — conseguiu dizer. — O que
está fazendo aqui?
— A Srta. Turner não conseguiu falar com você pelo telefone. Ficou preocupada.
— Ah! — Ela voltou a podar os roseirais. — É muita gentileza da parte dela.
Ele olhou ao redor. Atrás da casa, havia uma extensão de horta que parecia ter
acabado de ser arada. Garon se perguntou se seria ela quem mantinha a horta ou se fora
a avó quem plantara os legumes.
— Achou o homem que matou a criança? — Grace perguntou.
Ele sacudiu a cabeça.
— Não é tão simples assim solucionar um assassinato. Esse é um crime entre
vários, de alguns de anos atrás. Leva tempo. Estamos formando uma força-tarefa para
investigar.
— Assim como o meu avô, meu pai trabalhou como delegado para o departamento
do xerife. Foi há muito tempo — ela acrescentou. — Ele se demitiu quando se casou com
a minha mãe, porque ela não o queria correndo riscos.
— O que ele fez depois?
— Conseguiu um emprego de motorista de limusine em San Antonio. Tirava um bom
dinheiro. Depois, conheceu uma mulher rica e bonita; a quem fora contratado para levar
de um lado para o outro e se apaixonou por ela. Deixou minha mãe e entrou com o
divórcio. Ela jamais se recuperou. A outra mulher era dez anos mais; velha do que ela e
tinha uma butique.
— Seu pai ainda está vivo? — Garon perguntou.
Ela sacudiu a cabeça.
— Ele e a nova esposa estavam indo de carro para Las Vegas quando um motorista
bêbado bateu de frente com eles. Ambos morreram.
— Disse que sua mãe não gostava de você?
Grace assentiu.
— Lembro o meu pai. Ela me odiava por isso.
— O que houve com a sua mãe?
— Ela... Morreu cerca; de 12 anos atrás — ela respondeu. — Apenas dois anos
após o meu pai.
— E no que ela trabalhava?
— Era enfermeira — Grace informou baixinho.
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— Você vai matar essas flores se continuar cortando — Garon salientou. — E está
começando a ficar frio.
Ela estremeceu um pouquinho ao ficar de pé.
— Acho que tem razão. Apenas queria algo para fazer. Não agüento ficar sozinha
dentro de casa.
— Não precisa. Faça uma mala. Eu a levo para casa comigo. Você e a Srta. Turner
pode assistir; filmes no canal pay-per-vieiv.
Franzindo a testa, ela o fitou.
— Isso não é necessário...
— É sim — ele retrucou, gentilmente, estudando-lhe o rosto, que estava úmido
devido às lágrimas. — Você precisa de um tempo para se acostumar à vida sem a sua
avó. Sem condições. Apenas companhia.
Ela mordeu o lábio inferior. Não compreendia os motivos dele, e isso era evidente.
— Faria o mesmo por qualquer um — Garon prosseguiu. — Encare como um
vizinho ajudando o outro.
Ela alternava o seu peso de uma perna para outra.
— Se eu não for incomodar... — começou a dizer.
— Eu fico trabalhando no gabinete até tarde, tentando atualizar os registros da
manada — ele disse simplesmente. — Você não vai me atrapalhar. Eu a colocarei no
quarto de hóspedes ao lado do da Srta. Turner. Se precisar durante a noite, ela estará por
perto.
Grace ainda hesitava. Era difícil para ela confiar em um homem. Qualquer homem.
— Se ficar aqui conversando com as rosas, mais cedo ou mais tarde, alguém vai
notar. Pense no escândalo.
Ela sorriu meio a contragosto.
— Nesse caso, tudo bem. Obrigada — acrescentou um pouco constrangida.
— Estou certo de que faria o mesmo por mim.
E ela faria mesmo.
A Srta. Turner ficou; surpresa e feliz com a companhia inesperada.
— Ele detesta receber visitas — ela contou para Grace enquanto lhe servia um
pouco de chá na cozinha da comprida casa de um andar só.
— Foi só porque eu estava falando com as rosas — Grace informou.
A Srta. Turner a fitou, confusa.
Grace corou.
— Bem, meu dia não estava repleto de visitas.
— Pois pode falar comigo — a governanta disse. — Pelo menos, eu posso lhe
responder.
Mais tarde, a srta Turner a levou até o quarto de hóspedes e apontou para a colcha
no pé da cama, para o caso de Grace sentir frio.
— Ele diz que não consegue dormir em uma casa quente, de modo que a deixa
como uma geladeira — a Srta. Turner murmurou. — Provavelmente vai congelar, mas,
pelo menos, não estará sozinha. Trouxe os seus remédios?
Grace assentiu.
— Ótimo. Tem água na garrafa térmica ao lado da cama. Durma bem.
— Você também.
A porta se fechou, e Grace se sentou na cama. Era um aposento bonito, em tons de
azul e bege. Ficou surpresa com o convite feito pelo seu anfitrião, e agradecida, também.
Estava com medo de passar a noite sozinha.
Para um homem sem qualquer traquejo social, ela pensou, Garon era
surpreendentemente bondoso.
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Capítulo Cinco
— Bom Deus — veio uma voz profunda de algum lugar próximo. — Grace. Grace!
Ela estava morrendo. Sangue envolvendo-a, e era vermelho, tão vermelho quanto ás
rosa da sua avó. Estava deitada sobre um canteiro de girassóis, olhando para o céu.
Havia dor. Tanta dor!
Quase podia sentir as mãos impiedosas nos ombros, sacudindo-a, sacudindo-a...!
Arfando, ela abriu os olhos. Garon Grier estava sentado na lateral de sua cama,
usando um roupão de banho, seu cabelo castanho com reflexos louros em desordem, os
olhos escuros estreitados e preocupados. Atrás dele estava a Srta. Turner, com o cabelo
grisalho e fino solto, enrolada em um grosso roupão de banho, mordendo nervosamente o
lábio inferior.
Grace inspirou profundamente, uma, duas vezes. Estava tremendo.
— Si... Sinto muito — gaguejou. — Eu sinto muito!
As enormes mãos lhe segurando os ombros afrouxaram, ajudando-a a se sentar. O
comprido cabelo louro havia se soltado da faixa de pano que o prendia e rodeava-lhe os
ombros como uma cascata de seda. Estava usando uma camisola de algodão grossa que
a cobria do pescoço aos pés.
Apenas o rosto e as mãos emergiam de toda aquela brancura.
— O que houve? — Garon perguntou.
Ela engoliu em seco, olhando para si mesma com alívio. Não estava deitada em um
canteiro.
Estava em uma cama, em uma casa. Em segurança. Voltou a engolir novamente,
percebendo que as faces e os olhos estavam úmidos.
— O que foi? — ele insistiu. — Um pesadelo?
Ainda abalada, ela apenas assentiu. Parecera tão real.
— Que tal um pouco de leite momo, Grace? — a Srta. Turner ofereceu. — Talvez a
ajude a dormir.
— Que leite, que nada — Garon disse, bruscamente. — Traga-lhe um copo de
Crown Royal.
— Detesto uísque — Grace protestou.
— Agora! — ele acrescentou, olhando para a Srta. Turner de um jeito que não dava
margem à oposição.
— Eu já volto — a Srta. Turner disse.
Garon soltou os ombros de Grace. Seus olhos eram como laser, sondando,
inquirindo.
— Isso não é nenhuma novidade, é? — perguntou, repentinamente.
— O pesadelo? Não. — Ela se inclinou para frente, puxando os joelhos por sob a
coberta de modo a poder repousar a testa neles. Seu coração estava em disparada. Mal
conseguia respirar. — Há muito tempo que eu os tenho.
Ele queria fazer perguntas, exigir respostas. Mas ela era uma convidada em sua
casa. Não queria invadir sua privacidade. Também não queria saber nada que fosse
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muito pessoal. Apenas sentia pena de Grace. Isso não passava de uma interação
passageira em sua vida e na dela. A moça precisava de uma ajuda que só ele poderia
oferecer. Mas não queria deixar que ela se aproximasse demais.
Ao notar a expressão no rosto dele, Grace deu um último suspiro profundo e sorriu.
Não precisava perguntar para saber que Garon estava detestando isto tudo.
Ela alisou para trás o cabelo rebelde.
— Ficarei bem, agora — disse, sem fitá-lo nos olhos. — Obrigada por ter vindo ver
como eu estava. Foi apenas um antigo pesadelo. Eu os tenho de vez em quando, quando
estou realmente estressada. Perder a vovó tem sido... Difícil.
Garon não conseguia imaginar por que. Á velhota criticara Grace constantemente.
Contudo, se a mulher idosa era tudo que lhe restava, era compreensível que a neta
estivesse sofrendo. Ele sabia muito bem o que era a dor da perda. Ela ainda estava bem
recente em sua mente. Jamais a compartilhara com ninguém, nem mesmo com o pai e os
irmãos.
Grace não teve como deixar de notar que ele estava usando apenas a parte de
baixo do pijama sob o roupão preto. Estava aberto na frente e seu peito largo, cabeludo e
musculoso estava próximo demais para ela se sentir à vontade. Ela o fitava nervo-
samente, seu corpo se retesando de aflição.
Suas mãos se apertaram ao redor dos joelhos.
Garon notou a reação e ficou irritado. Ele a encontrara aos berros, então, por que
estava agindo como se estivesse tentando atacá-la? Ficou de pé e, com impaciência mal
disfarçada, fitou-a com intensidade.
Ela não conseguia encará-lo, nem explicar, nem se desculpar. Ele era bonito, um
homem sensual que jamais deixara de despertar a atenção das mulheres. Ficava furioso
por esta mulherzinha desmazelada o fitar como se fosse um estuprador.
O silêncio que crescia entre eles era sombrio e explosivo. A Sra. Turner enfim o
rompeu com seu retorno. Trazia uma coqueteleira de uísque cheia do líquido amarelado.
— Aqui está, patrão — disse, passando-o para Garon.
Ele colocou o recipiente na mão de Grace.
— Beba — ordenou impacientemente.
Ela fez uma careta ao cheirar o líquido.
— Nunca bebi uísque — tentou explicar.
— Você vai beber agora ou a Srta. Turner vai segurá-la enquanto eu o derramo
goela abaixo — ele afirmou rudemente, irritado com a atitude dela quando os dois
estavam sozinhos.
Ela fitou boquiaberta.
— Você não ousaria — ela desafiou.
— Venha aqui, Srta. Turner. Vou mostrar como imobilizá-la.
Ele estava falando sério. Grace voltou a fazer uma careta, mas prendeu a respiração
e engoliu o licor, que lhe queimou a garganta e quase voltou de onde veio. Ela quase
vomitou.
— Tome — a Srta. Turner disse, oferecendo-lhe um copo de água.
— Gasolina deve ter um gosto melhor! — Grace esbravejou, olhando, furiosa, para
ele.
— Morda a língua, mulher — Garon retrucou ofendido. — Isso é Crown Royal!
— Óleo diesel — ela resmungou.
Ele ergueu as mãos para o céu e ficou de pé.
— Não dá para compartilhar as coisas boas da vida com plebeus — murmurou.
— Não sou plebéia.
— Nem com lunáticos — ele insistiu.
— Não sou...!
— Você conversa com as rosas — ele salientou.
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para voltar a se deitar. Não suportaria o retorno dos pesadelos. Sentou-se na cama e
pegou um livro para ler. Quando estivesse bem sonolenta, tentaria novamente.
Quando Grace acordou, no dia seguinte, Garon já havia saído. Ela e a Srta. Turner;
tomaram um ligeiro café da manhã e, em seguida, a Srta. Turner levou Grace para casa.
— Não gosto de deixá-la aqui sozinha — a mulher mais velha disse.
— Na verdade, não estou sozinha — Grace lhe disse, com um sorriso. — A casa é
aconchegante e agradável. Três gerações de minha família viveram e morreram aqui.
Ela olhou ao redor, seus olhos se demorando no enorme bordo diante da casa, sem
folhas agora, por ainda ser inverno. No outono, ele era glorioso, uma sinfonia de vermelho
e dourado.
Ventos frios o faziam soltar suas folhas, no que Grace chamava de chuva de folhas.
Ela adorava correr por entre elas, com os braços estendidos, sentindo o ar frio lhe
batendo no rosto.
— Um dia, aquela árvore vai cair e esmagar a casa — mencionou a srta Turner.
— Não vai, não — Grace garantiu. — Ela é antiga e forte. No outono, é a árvore
mais linda da região.
— Vou reservar minha opinião até vê-la nessa época — a Srta. Turner afirmou,
rindo. — Volto para buscá-la por volta das 18h, está bem?
— Se tem certeza de que não é incômodo.
— Eu tenho.
Ela observou a mulher mais velha ir embora e pensou em como se sentia chegada a
Garon Grier e à sua governanta. De certo modo, os três eram desajustados. Não
conhecia Garon muito bem, mas sabia que ele não era muito de se socializar, e que era
viciado em trabalho. Assim como, aparentemente, a Srta. Turner. Grace tinha de admitir
que ela mesma trabalhasse um bocado, somando os dois empregos ao seu projeto nas
horas vagas, que jamais parecia acabar.
Ela examinou o seu armário, à procura de um vestido preto decente. E durante
meses, todo o dinheiro que sobrara fora usado para engordar a pensão da avó e para
pagar os remédios que a mulher idosa precisara. A Sra. Collier jamais tivera muito em
termos de auxílio para medicamentos, certamente não o suficiente para cobrir os
remédios que custavam cerca de cem dólares o frasco.
Freqüentemente, Grace abrira mão de seus próprios remédios em favor dos da avó.
Coltrain sempre dissera que era arriscado, mas ela supunha que ele não se preocuparia
com o que não soubesse.
— Wilbur! — ela chamou. Houve uma resposta abafada quando o gato velho saiu de
baixo de um caixonete de janela descartado, que estava apoiado em um degrau. — O que
está fazendo aí? — Ela perguntou, curvando-se para acariciá-lo. — Algo o assustou
querido?
Ele apenas miou. Ela não vira nada ao redor da casa, contudo, escutara um dos
homens de Garon mencionar que haviam visto coiotes na região. Grace torcia para que
nenhum deles tivesse aparecido na sua casa. Ouvira dizer que eles matavam cães e
gatos. Ela gostava de Wilbur. Ele estava com 12 anos agora, e os dois haviam
compartilhado situações traumáticas. A velha Sra. Collier não tolerara a presença de
Wilbur na casa, embora, sem o conhecimento da avó, Grace o houvesse trazido para
dentro às escondidas durante tempestades. Agora, não fazia mais diferença.
Grace decidiu que ele moraria lá dentro e lhe faria companhia.
Naquela tarde, a comunidade bateu à sua porta com tigelas de saladas e travessas
de carnes, bolos e tortas. Alguém até trouxe dois quilos de café, mas ela não podia beber.
Contudo, preparou um bule para as visitas.
Era o costume nas cidades pequenas, trazer comida para as famílias na ocasião da
morte de um de seus membros. Era um modo de demonstrar solidariedade. Deste modo,
os familiares do defunto não tinham de preparar as refeições enquanto iam e viam da
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funerária. E claro que havia apenas Grace de família na região. Mas isso não impedia que
as pessoas trouxessem comida.
Barbara, proprietária do café da cidade, trouxe carne e legumes. Dois delegados do
xerife e as respectivas esposas apareceram com bolos e tortas. Os irmãos Ballenger
enviaram dois de seus filhos levando pão caseiro, e a esposa de Leo Hart, Tess, trouxe
uma panela cheia de frango e bolinhos. Fascinava Grace saber que alguns dos mais
ilustres moradores da cidade tinham uma opinião tão favorável da velha Sra. Collier e ela;
mencionou isso para Barbara.
— Não seja tola — ela disse, rindo. — É de você que todos gostam, Grace —
acrescentou. — Você costumava ser babá dos filhos de Calhoun Ballenger, algo que
Abby jamais esqueceu, e ajudou Tess Hart com o jardim de rosas dela. Não pode se
esquecer de que você sempre foi uma das primeiras a levar comida para as outras
famílias, e nenhuma das novas famílias ricas da região é esnobe, ao contrário de alguns
membros da antiga geração endinheirada.
— Suponho que tenha razão — Grace retrucou, com um sorriso.
Notara que, apesar de não se misturar muito com as pessoas comuns, a Sra. Tabor,
uma eminente representante da antiga turma do dinheiro, chegara a mandar uma bandeja
de aperitivos.
Sua sobrinha, que trabalhava na imobiliária de Andy Webb,já tinha a reputação de
ser a pior das mulheres assanhadas da região. Na verdade, fora ela quem trouxera a
bandeja.
— Obrigada — Grace lhe dissera, pouco à vontade com o penetrante olhar
examinador da mulher mais velha, quando esta colocou a comida sobre a mesa, ao lado
dos outros pratos.
— Só queria dar uma olhada em você — a mulher admoestou. Estava usando uma
calça jeans que deveria ter sido costurada no corpo dela, assim como uma blusa
vermelha de decote baixo e um suéter. Ela fitou zombeteiramente o jeans largo de Grace
e sua camiseta cor-de-rosa. — Bem, não pode ser a sua aparência que fascina Garon.
Estava curiosa quanto ao motivo de ele a estar ajudando. Suponho que realmente seja o
caso de estar sendo prestativo. — Ela riu com frieza. — Não consigo acreditar que estava
preocupada com concorrência — acrescentou displicentemente e foi embora, sem mais
nada dizer.
Grace a observou deixar a casa, boquiaberta. Não conseguia imaginar o vizinho
taciturno interessado nela, é claro. Contudo, podia entender por que ele se envolveria
com a neta da Sra. Tabor. Por mais estranho que pudesse ser tal pensamento a in-
comodava. Garon jamais mencionara a mulher deslumbrante. Será que estava saindo
com ela? Grace não deveria ligar para isso. Mas incomodava pensar nele com alguém
assim, tão egoísta e cruel. Sem saber por que, Grace tinha a impressão de que a vida já
fora suficientemente cruel com Garon.
Ela convidou a Srta. Turner e Garon para jantarem com ela naquela noite, antes de
seguirem para a funerária. Os dois protestaram, mas ela argumentou que jamais seria
capaz de comer sozinha tudo aquilo. Seria puro desperdício.
Estava com pratos e guardanapos de papel prontos quando eles chegaram. Foi uma
refeição breve, porém, muito gostosa. Jacobsville tinha algumas das melhores cozinheiras
do país. Havia sonhos caseiros, pães condimentados, presunto cozido e frango grelhado,
além de todos os tipos de saladas e acompanhamentos.
— Eu sei quem fez este bolo de chocolate — a Srta. Turner murmurou, com um
sorriso, enquanto saboreava a sua fatia. — Foi Barbara.
Grace riu.
— É a única coisa que ela sabe fazer — confidenciou.
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— Bem, suponho que seja uma boa coisa ela não depender de seus talentos
culinários para manter o café aberto. Embora ela certamente pudesse encher as mesas
com gente comendo bolo de chocolate. Está uma maravilha.
— Eu embalarei um pouco para levarem para casa quando voltarmos da funerária —
Grace disse. — Detesto desperdiçar comida.
— Eu também — concordou a Srta. Turner.
— A sobrinha da Sra. Tabor trouxe o prato de salgadinhos — Grace disse para a
Srta. Turner, sem olhar para Garon.
A Srta. Turner nada disse, porém, seu olhar foi eloqüente.
Garon escutou o comentário, que o surpreendeu. Não falara com a mulher desde
que ela aparecera na sua casa. Supunha que era melhor ligar para ela para falar sobre a
festa para a qual ela o convidara. Ela não era feia, e, recentemente, ele vinha sentindo o
peso do trabalho.
Não dissera nada em voz alta, porém estava estampado em seu rosto. Ele e a força-
tarefa haviam passado a manhã examinando fotos de cenas do crime. Não conseguia tirá-
las da cabeça.
Nenhum homicídio era agradável de ver, mas aqueles envolvendo crianças eram
particularmente perturbadores.
— Você está muito quieto — a Srta. Turner comentou quando Garon estava
empurrando a torta de maçã de um lado para o outro no prato e bebendo café.
— Foi um longo dia — ele disse, sem oferecer mais explicações.
Contudo, Grace se lembrou de que ele estava trabalhando com uma força-tarefa, e
sabia o que eles estavam investigando. Ela fitou com compaixão as feições rígidas do
homem.
— Você realmente não precisa nos acompanhar esta noite — Grace falou.
Ele ergueu o olhar.
— Eu não me importo.
— Haverá muita gente lá — ela prosseguiu, sem olhar para ele. — Talvez haja
fofocas...
— Não estou preocupado com isso — ele afirmou, com indiferença. Ele verificou o
relógio. — Acho melhor não nos demorarmos muito em ir.
Grace ficou de pé.
— Cobrirei tudo e colocarei a comida na geladeira.
— Eu ajudo — a Srta. Turner se ofereceu.
Grace sabia que seria uma provação, mas não foi tão ruim quanto receara. A Sra.
Collier estava usando um vestido roxo, o seu vestido de ir à igreja; favorito, e estava com
uma aparência muito tranqüila. Lágrimas ardiam nos olhos de Grace, e ela as enxugou
com um lenço. Mesmo com as suas críticas constantes, seria solitário sem a mulher
idosa.
O primo de Grace, Bob Collier, entrou em uma cadeira de rodas, empurrada por
Tina, sua acompanhante. Tina era da idade da Srta. Turner, de cabelo e óculos escuros,
com um forte sotaque espanhol. Ela cuidava muito bem do homem idoso e também
gostava muito de Grace. Tina a abraçou calorosamente.
— Não deixe de visitar seu primo de vez em quando, está bem? — convidou. — Ele
se sente sozinho.
— Farei isso.
Grace se curvou e abraçou Bob, que tinha olhos escuros e cabelos grisalhos. Ele riu.
— Você fica mais bonita a cada ano que passa menina — afirmou. O sorriso
desapareceu. — Lamento pela sua avó. Ela e eu não nos dávamos muito bem, mas,
ainda assim, era família.
— Foi o que eu sempre achei.
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— Agora que a avó se foi, talvez ela consiga algo que pague melhor, ou, talvez,
voltar para a escola e completar seus estudos.
Cash estudou silenciosamente o outro homem.
— Nem todas as mulheres têm o sonho de fundar multinacionais — salientou.
Garon teve de admitir que Cash tivesse razão. Não conseguia imaginar Grace de
terninho dando ordens para um bando de subalternos.
— O que o está incomodando? — Cash insistiu, já que o homem que estava
começando a conhecer não era mesquinho nem tão crítico.
A boca de Garon se curvou para baixo.
— Estamos investigando um assassinato. Uma menina de 10 anos de idade.
— Ali. Esse. — Cash deu a impressão de estar pouco à vontade. — Mesmo aqui,
ouvimos falar do caso. Brutal.
— Muito. E parece que não é o único — Garon acrescentou, lançando um olhar
rápido para o irmão. — Isso fica apenas entre nós.
— Claro. Alguma pista?
Garon sacudiu a cabeça.
— Ainda estamos no início.
— É mais difícil trabalhar em alguns casos do que em outros — Cash concordou.
Garon estava observando Grace conversar com cidadãos que vinham lhe oferecer
os pêsames.
Ela era simpática, afetuosa, acolhedora, agradecida. Totalmente natural. Sabia que,
por dentro, ela devia estar arrasada, mas não deixava transparecer.
— Sabe o que houve com a mãe dela? — Garon perguntou para Cash.
Ele sacudiu a cabeça.
— Só que morreu alguns anos atrás, quando Grace ainda era criança. A velhota
tinha uma personalidade intragável, mas era respeitada na cidade. O falecido marido fora
delegado do xerife. Assim como o pai de Grace, por algum tempo.
— Foi o que eu soube.
— Suponho que saiba que ser visto com Grace dará início a muitos boatos — Cash
salientou.
— Ela disse isso. Os rumores desaparecerão assim que tudo isto acabar.
— Você não costuma sair com ninguém, não é?
— Fui convidado para um coquetel na sexta que vem na casa dos Tabor, pela
sobrinha deles. Grace disse que, hoje à tarde, ela lhe trouxe um pouco de comida para o
velório.
Cash assoviou por entre os lábios.
— O que foi? — Garon perguntou.
Cash lhe lançou um olhar sugestivo.
— A sobrinha da Srta. Tabor tem dado o que falar pela cidade, e ninguém parece
gostar muito dela.
— Pelo que eu soube, a maioria das famílias tradicionais da cidade foi convidada —
Garon explicou defensivamente.
— A maioria delas também recusou o convite, especialmente os Ballenger, os Hart e
os Tremayne. Sem eles, ninguém mais vai dar as caras.
— O que eles têm contra a sobrinha?
— Por acaso você já a conheceu? — Cash murmurou com secura.
— Claro. Ela veio até o rancho e me convidou para a festa.
— Algo nela lhe chamou a atenção?
Garon pensou por um instante.
— Ela é um tanto quanto atirada e se veste de uma maneira muito sedutora.
— Exatamente. E como você acha que tal comportamento vai ser recebido em uma
cidade pequena e conservadora?
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Ela parecia triste, solitária e perdida. Impulsivamente, ele levou uma das mãos a um
cacho de cabelo louro que escapuliu do coque de Grace. Ela prendeu a respiração e,
instintivamente, recuou um passo.
Isso o irritou. Os olhos escuros brilharam.
— Nesse caso boa noite — Garon disse bruscamente, pegou a sacola e se virou
para ir embora.
Ela mordeu o lábio inferior com tanta força que quase chegou a tirar sangue. Ele
estava sendo gentil, mas ela não podia evitar as próprias reações.
Garon se deteve na porta.
— Trate de mantê-la trancada — ordenou, ainda quando Grace a estava abrindo. —
Mesmo aqui no interior, há pessoas perigosas.
— Pode deixar.
Ela era como um bonequinho de pau. Sua postura dizia muito. Os grandes olhos
acinzentados estavam reluzindo de medo. Ele se virou e avançou até ela, notando como
Grace se retesava ainda mais ante a sua aproximação. Ele a fitou com seriedade.
— Por que tem medo de mim? — perguntou com suavidade.
Ela procurou as palavras corretas, mas não encontrou uma que estivesse à altura da
ocasião.
Grace fez uma careta, evitando-lhe o olhar penetrante. Garon enxergava demais.
— Deixe para lá — ele disse quando não houve resposta. — Não estou mesmo
interessado em você desse jeito — acrescentou distraidamente, com um ligeiro sorriso
frio. — Boa noite.
Ele desceu os degraus com indiferença, como se já houvesse se esquecido da
existência dela.
Grace sabia que ele devia estar mentalmente comparando-a com a deslumbrante
sobrinha da Sra. Tabor, e isso a deixou; furiosa. Quem dera fosse uma mulher completa,
uma mulher linda, capaz de enlouquecê-lo com a sua beleza, e fazê-lo esquecer a recém-
chegada exibida. Contudo, era uma esperança inútil. Ela se vestia como vivia atrás de
uma muralha de assexualidade. Era uma prisão da qual jamais haveria escapatória para
ela. Apesar dos encantos do vizinho sexy.
Capítulo Seis
vizinha? Não mencionara o enterro da Srta. Collier para Garon durante a reunião da força-
tarefa.
Grace olhou com um pouco de intranqüilidade na direção de Garon. Ele se juntou ao
pequeno grupo, com a Srta. Turner ao seu lado.
— Não sabia que estaria aqui — Marquez disse apertando-lhe a mão. — Você
conhecia a Sra. Collier?
— Ele e a Srta. Turner tem sido muito gentil cuidando de mim nos últimos dias —
Grace falou sem olhar para Garon.
Marquez deu a impressão de estar curioso, mas não sondou mais a fundo.
— Tenho de voltar para o trabalho — disse para Grace. — Mamãe queria vir e eu
não quis que ela viesse sozinha.
— Você se preocupa tanto à toa — Barbara admoestou o jovem. — Eu vou viver
mais do que você.
— A gente se vê — Marquez disse para Garon, que assentiu, incluindo Barbara no
gesto.
Ela sorriu maliciosamente para Grace e seguiu Marquez para fora do cemitério.
— Não sabia que conhecia Marquez — Garon comentou, enquanto caminhavam de
volta para os carros, acompanhados pela Srta. Turner, que viera com Grace. A mulher
mais velha seguiu um pouco na frente, para esperar pelos dois ao lado do Expedition.
— Nós crescemos juntos — ela respondeu. — Mais ou menos — retificou. — Ele é
seis anos mais; velho do que eu.
Garon não disse mais nada, mas ficou curioso.
Grace voltou para casa e começou a esvaziar o quarto da avó. Isso lhe deu algo
para fazer, algo com que se ocupar. Foi uma tarefa triste. No armário, a mulher idosa
guardara alguns vestidos que pertenceram à mãe de Grace. Também havia fotografias,
de seus pais e dos dois casais de avós.
Ela se sentou na cadeira da avó, examinando o álbum de fotos e, com o passar do
tempo, chorando um pouco. A morte não era exatamente uma opção na vida. Mais cedo
ou mais tarde, todos tinham de encará-la. Contudo, Grace não estava pronta. Por mais
desagradável que a avó pudesse ter sido, ela se sentia solitária sem a mulher idosa.
Não tinha de ir trabalhar na manhã seguinte, então dormiu até tarde. Ainda bem; o
pesadelo voltara nas altas horas da madrugada. Sentara-se na cama, soluçando
descontroladamente.
Lembrou-se das mãos fortes de Garon nos seus ombros, erguendo-a, na noite em
que sentira medo. Sentia-se atraída por ele, mas tinha um medo irracional dos homens,
quando estes chegavam perto demais. Era uma pena que fosse prisioneira das próprias
lembranças. Garon parecia ser um homem muito decente e tinha um coração generoso.
Fez para o almoço um lanche leve e passou a tarde trabalhando duro no seu projeto,
no quarto de costura que a avó outrora usara. Ficou satisfeita com o seu progresso e
esperançosa de que, se tivesse sorte, um dia ele poderia resultar em uma nova fonte de
renda.
A tarde estava fria, e o vento, forte. Aos poucos estava escurecendo, e o seu gato
velho, Wilbur, não aparecera para a refeição da noite.
Saiu para o quintal, para procurá-lo. Escutou um ruído indistinto trazido pelo vento.
Só se deu conta do que estava escutando quando ficou mais alto. Era Wilbur, e ele estava
berrando.
Ela se virou e correu na direção do som, nos fundos da casa, chamando-o aos
gritos.
Ele berrou novamente. Grace correu mais; rápido detendo-se apenas um instante
para recuperar o fôlego antes de voltar a colocar o corpo em movimento. Ao aproximar-se
do início do campo arado, viu um borrão alaranjado, sendo perseguido por uma enorme
forma castanho-avermelhada.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
azeitonado, e os olhos eram escuros e misteriosos. Tinha os ossos malares altos e a boca
sensual.
O pensamento á deixou; constrangida. Jamais considerara uma boca sensual antes.
E estava sentindo algo estranho devido à maneira como ele a estava segurando, de modo
que um de seus seios estava quase achatado de encontro ao peitoral largo. O coração de
Grace bateu mais rápido, e a sua respiração começou a ficar alterada.
Garon sentiu tais reações na moça com uma estranha sensação de orgulho. Ela
tinha medo dos homens, mas era vulnerável a ele.
Carregou-a até o interior da casa e a depositou sobre uma poltrona.
— Tem uma tornozeleira?
Ela o fitou com os olhos arregalados.
— E por que eu teria uma tornozeleira? — indagou.
— Boa pergunta. — Ele a fitou calmamente. — Suponho que dê para dar um jeito
com gaze e esparadrapo.
— Ninguém normal usa isso em cortes — ela argumentou. — Temos Band-Aids.
Ele franziu os lábios.
— Podíamos usar um par; de meia-calça velha.
— Eu não uso...
Ele ergueu a mão.
— Por favor. Não gosto de discutir roupas de baixo femininas.
A princípio, ela o levou a sério, depois, notou o brilho no olhar dele e começou a rir.
O ato fez o rosto de ela reluzir, enfatizando a suavidade dos olhos acinzentados e a
beleza da pele perfeita e da boca linda. Garon se viu fitando-a impotentemente. O cabelo
da moça estava preso em um rabo de cavalo. Ele teve vontade de soltá-lo para ver se era
tão sedoso quanto parecia.
— Bem, vai ter que vir para casa comigo — disse. — Estou certo de que a Srta.
Turner encontrará algo para fazer um curativo no seu tornozelo.
— Eu acabei de voltar para casa — ela protestou. — E Wilbur precisa ser
alimentado.
Ele deu de ombros.
— Eu alimentarei Wilbur.
— Suponho que eu possa deixá-lo dentro de casa. Acabei de comprar uma
caminha...
Ele a deixou no meio da frase para ir cuidar do gato velho, que foi logo entrando
quando Garon abriu a porta da frente e o conduziu até a cozinha.
Ele ajudou Grace a subir no carro, inclinando-se por sobre ela para prender o cinto
de segurança. Notou a respiração dela se alterando á medida que ele ia se aproximando,
e seu olhar subitamente se fixou no dela, sob o brilho da luz no teto. Foi como se
houvesse sido atingido por um raio. Seus olhos se estreitaram e fitaram-lhe a boca
generosa, demorando-se ali até que ele escutou um ligeiro suspiro brotar de sua
garganta.
Garon teve de se forçar a se endireitar. Fechou a porta e deu á volta no carro,
silenciosamente recitando para si mesmo a tabuada, ao se sentar ao lado dela e dar a
partida no motor. Procurou se convencer de que, se esta mulher desmazelada o estava
deixando excitado, realmente já fazia tempo demais desde a última vez em que estivera
com alguém.
Ele a carregou até o interior da casa, parando para tocar a campainha e aguardar
que a Srta. Turner atendesse. Fitou o rosto de Grace e sentiu os braços,
involuntariamente, puxando-a mais para perto. Ela estremeceu uma vez, e suas mãos
circundaram-lhe o pescoço, enquanto retribuía a curiosidade evidente do seu olhar.
O peito de Garon subia e descia pesadamente. Seu maxilar se cerrou. Fitava-lhe a
boca e sentia um desejo febril de se apossar dela e devorá-la.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Grace não sabia muito a respeito dos homens, contudo, mesmo com a sua
inocência, sentia o ardor e a sensualidade daquele olhar, e seu corpo, involuntariamente,
reagia a ele.
— Está brincando com fogo, mocinha — Garon suspirou asperamente.
A tensão na sua voz grave e aveludada tomou conta do corpo dela como fogo
líquido. Suas mãos se apertaram ao redor do pescoço dele. Ela chegou a se inclinar na
direção dele, nos poucos segundo explosivos antes do som da porta se abrindo os
separar rapidamente.
— O que, em nome de Deus...! — exclamou a Srta. Turner ao ver Grace sendo
carregada.
— Ela tropeçou enquanto perseguia um coiote com um galho — Garon murmurou,
passando por ela com Grace nos braços. — Preciso de uma tornozeleira.
— Vou buscar uma. Sempre tenho algo assim para os vaqueiros do rancho — ela
murmurou, dando passagem para Garon seguir para a sala de estar. — Alguém está
sempre torcendo alguma coisa. Perseguindo um coiote?
— Ele estava tentando comer o meu gato — Grace explicou.
— Acho que o colocaria para fora no mesmo instante — Garon retrucou, colocando-
a no sofá. — Seu gato parece refugo dormido, e ele fede.
— Não fede, não! — ela exclamou.
— Pois pode acreditar no que eu digo. Nenhum animal consciente tentaria devorá-lo.
Ele enfiou as mãos nos bolsos e a fitou com um ar confuso. Ela estava usando jeans
largo e a mesma camiseta cor-de-rosa. Garon tentou imaginar como ela ficaria usando
lingerie de renda preta. Piscou com força os olhos. De onde é que viera tal curiosidade?
A Srta. Turner não demorou a voltar com a bandagem. Ela a passou para Garon.
— Está planejando fazer o curativo e levá-la de volta para casa, ou ela vai ficar?
Garon se ajoelhou, abrindo a embalagem da bandagem elástica. Fitou Grace com
uma voracidade febril. Não a compreendia, porém, também não podia resisti-la.
— Ela vai ficar — murmurou, apoiando o pé dela na sua coxa. — Pelo menos por
alguns dias.
— Mas, meu trabalho...
— Eu ligarei para Judy na floricultura, Grace — informou a Srta. Turner, com
evidente alegria.
— Não pode trabalhar se não puder andar — Garon explicou. — Apenas alguns dias
de molho devem resolver o problema. Descanso, compressas de gelo, pressão e
elevação. Nós tomaremos conta de você — acrescentou, sorrindo.
Grace sequer teve forças para protestar. Queria estar com ele. Sabia que terminaria
em tragédia. Mas era mais forte do que ela.
— Tudo bem — disse.
Ele sorriu. Era sempre uma boa idéia deixar a febre arder, até ser eliminada do
corpo, pensou, recusando-se a considerar mais profundamente o assunto.
Garon foi trabalhar no dia seguinte, deixando Grace acomodada na cama com
bastante coisa para ler, e a Srta. Turner para lhe fazer companhia. As compressas de
gelo haviam reduzido o inchaço, e o resto também estava ajudando.
— Sinto-me bem melhor — Grace disse, para a mulher mais velha.
— Mais uns dois dias e estará andando novamente — foi á resposta. Ela sorriu. —
Acho que o patrão está começando a gostar de você — acrescentou, com um sorriso. —
Apenas uma semana atrás, ele teria convencido Coltrain a interná-la no hospital.
— Ele só sente pena de mim — Grace retrucou, tentando não alimentar suas
esperanças. — Aquela sobrinha da Sra. Tabor trouxe um pouco de comida até a minha
casa — informou. — Ela me disse que, até me ver, estava preocupada que eu pudesse
representar algum tipo de concorrência para ela. Foi extremamente ofensiva.
— Você deveria contar para o patrão.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
— Não — Grace retrucou. — Eu não poderia. Ela deve ter algum envolvimento com
ele.
— Só um convite para uma festa. Ele pode até achá-la interessante, mas ela não é o
tipo de companhia apropriada para um homem na posição dele. Homens no ramo da
manutenção da lei costumam serem excessivamente conservadores. Estão falando dela
por toda a cidade, e não são coisas boas. A mulher é uma ninfomaníaca. Nem mesmo
homens casados estão a salvo dela.
— O que quer dizer?
— Dizem que ela deu em cima de Leo Hart, e Tess foi procurá-la no escritório de
Andy Wabb e lhe disse que a lincharia se ela voltasse a abordar o marido dela. Andy
ainda está rindo da cena toda.
— O que foi que ela disse?
— Não havia muito que pudesse dizer. Tess estava furiosa, e seu tom de voz
deixava isso bem claro. Eu não diria que a mulher chegou a ficar constrangida, porém,
Calhoun Ballenger estava passando pelo escritório quando Tess falou, e ele lançou um
olhar para a mulher que significava encrenca. Ela tratou de sair do caminho de Tess
rapidinho.
Grace não conseguiu deixar de sorrir. A ruiva Tess era uma tigresa quando perdia a
calma.
Garon e Marquez haviam ido juntos até os arredores da cidade para entrevistar,
entre muitos outros, uma testemunha que alegara ter visto uma figura sombria tirando a
criança de casa, tarde da noite. Garon tinha um Black Berry como o de Marquez. Ele foi
muito útil.
— Não posso jurar — contou Sheldon, a testemunha. Ele era vizinho de porta da
criança que fora levada. — Mas ele parecia com o andarilho que eu vi perto da loja de
computadores na cidade. Eu faço softwares — ele acrescentou, em um tom preguiçoso.
— O homem era alto, magro, totalmente careca no topo da cabeça. De meia-idade.
Estava com uma aparência suja e mancava.
— Conseguiu ver a criança? — Garon perguntou.
Ele deu de ombros.
— O sujeito estava carregando alguma coisa. Até onde eu sei, pode ter sido uma
trouxa de roupas. Estava acordado até tarde. Fui até a cozinha e ali estava ele. Foi só no
dia seguinte que eu soube que a criança estava desaparecida. Contei para a polícia.
— Eu sei, lemos o relatório do patrulheiro — Marquez retrucou. Com o olhar,
examinou demoradamente o homem, notando as luvas. — Por que usa luvas dentro de
casa? — perguntou.
— Sofri um acidente quando criança — o homem respondeu seus olhos assumindo
uma expressão fria. — Elas são cheias de cicatrizes. As pessoas ficam olhando.
— Sinto muito — Marquez disse.
— Consegue digitar desse jeito? — Garon indagou, notando como era branca a pele
dos pulsos acima das luvas.
— Consigo. São de pelica, muito finas.
— Bem, obrigado — Garon retrucou, guardando o Black Berry.
— Disponha — o homem respondeu, levantando-se da cadeira. Era um sujeito alto e
tímido, que parecia gostar dos melhores computadores que o dinheiro podia comprar.
Tinha dois. Um computador de torre e um caríssimo laptop. Alegava ter uma namorada,
mas morava sozinho no pequeno apartamento, em um condomínio quase nos limites da
cidade de San Antônio.
— Há quanto tempo mora aqui? — Marquez perguntou.
— Cerca de um ano — ele respondeu, com um sorriso agradável. — Não gosto de
passar muito tempo no mesmo lugar. Fico irrequieto. E meu trabalho é portátil. Tudo de
que realmente preciso é de uma agência dos correios.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
— Bem, mais uma vez, obrigado. Se lembrar de qualquer outra coisa, ligue para nós
— Marquez acrescentou entregando-lhe um cartão de visitas.
O homem o fitou com curiosidade.
— Claro. Claro que ligarei. — Ele sorriu de um modo estranho. — Como está
caminhando o caso? Alguma pista?
— Estamos torcendo para que o senhor tenha nos dado uma — Marquez
respondeu.
— Entendo que precisem de ajuda para encontrar este sujeito — Sheldon comentou.
— Não é preciso muito estudo para se tornar policial não é? Eu fui convidado para me
juntar à MENSA.
MENSA, a organização para gênios. Garon lançou um olhar na direção do homem.
— Foi mesmo?
— Ei, eu posso ter apenas dois anos de faculdade, mas o Federal aqui... — Marquez
gesticulou na direção de Garon — ele é diplomado.
O homem fitou Garon sem piscar. Foi desconcertante.
— Federal?
— Isso mesmo — Marquez respondeu. — Ele é do FBI.
— Eu... Eu não sabia que haviam chamado o Birô para esse caso — o homem
gaguejou.
— Solicitamos a sua ajuda — Marquez informou sem divulgar por quê.
O homem deu a impressão de estar menos confiante.
— Bem, é claro, o FBI tem peritos em assassinos em série — ele murmurou, quase
para si mesmo, — e vão precisar de um para este caso.
Garon franziu a testa.
— Por que acha que este caso envolve um assassino em série?
O homem deixou escapar uma risada forçada.
— Por nenhum motivo. É só que houve um caso muito parecido nos jornais em
algum momento do ano passado. Também foi uma criança, em algum lugar do Texas.
Dois assassinatos já tomariam isso uma série, não é?
Garon o fitou com severidade.
— Ainda não estamos preparados para rotular o caso dessa maneira.
O homem era só sorriso ao acompanhá-los até a porta.
— Qualquer outra coisa que eu possa fazer; estarei bem aqui. Basta pedir.
Marquez e Garon foram embora, caminhando lentamente de volta para o carro do
Birô no qual vieram. O homem os observou partir, acenando quando entraram no veículo
e arrancaram.
— Não gosto dele — Marquez disse, subitamente.
— Por que não?
Marquez deu de ombros, ajustando o cinto de segurança.
— Não sei. Há algo nele que não me cheira bem.
Garon lançou-lhe um olhar curioso.
— Há quanto tempo trabalha no departamento de homicídios?
— Quatro anos. Por quê?
Garon sorriu para si mesmo.
— Aposto que carrega a sua arma consigo quando esvazia a lata de lixo.
Os olhos de Marquez se arregalaram.
— Como diabos; sabe disso?
— Mantém uma arma ao lado da cama, uma no banheiro, uma na cozinha e carrega
consigo uma segunda arma em um coldre de tornozelo.
— Quem está sendo investigado aqui? — o homem mais jovem quis saber.
— Estou certo. Sabe que eu estou certo.
Marquez deixou escapar um som áspero do fundo da garganta.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
— Gostaríamos de saber o que você tem sobre o assassinato de uma criança dois
anos atrás.
Ele franziu a testa.
— Mas que coisa engraçada — disse. — Não, não estou dizendo que o assassinato
foi engraçado. Houve esse sujeito, disse que era repórter de um desses periódicos do
leste do Texas. Pediu para ver o nosso arquivo sobre o assassinato. Achei que um
pouquinho de publicidade não faria mal. Talvez nos rendesse um suspeito. Recebi um
chamado, de modo que deixei o sujeito com a pasta e lhe disse que não demoraria. Tive
de atender um acidente e aguardar a polícia estadual, visto que houve feridos. Quando
voltei para o escritório, o sujeito havia sumido. O telefone estava tocando. A pasta estava
sobre a mesa, então simplesmente a enfiei no gabinete e atendi a ligação. — Ele tomou
um gole de café. — No dia seguinte, quis dar uma; outra olhada no caso; então peguei a
pasta. Dentro dela, havia dez páginas de folhas em branco. Nenhuma evidência,
nenhuma foto da cena do crime, nada.
— Droga! — Marquez resmungou.
— Sei que fui ingênuo em deixar o sujeito sozinho com o arquivo. Mas achei que
poderia localizá-lo. Liguei para todos os periódicos do leste do Texas.
— Ele não trabalhava para jornal algum — Garon adivinhou.
— Tudo indica que não.
— O que havia na pasta? — Marquez perguntou.
— Fotografias de cena do crime, evidências na forma de vestígios, amostras da
roupa de baixo da menina.
Garon franziu a testa.
— Mais nada?
— Não.
— Tinha negativo das fotos?
— Não, mas supus que o fotógrafo poderia ter. Sendo assim, liguei para ele. — O
policial sacudiu a cabeça. — Teve um incêndio no estúdio e todos os negativos foram
destruídos.
Garon e Marquez se entreolharam com curiosidade. Os dois acontecimentos
representavam uma coincidência e tanto.
— Tem certeza de que não havia outras evidências? — Marquez insistiu.
O policial enrugou os lábios.
— Bem, sim, havia essa larga fita de seda que ele usou para estrangulá-la...
— Fita? De que cor? — Garon perguntou rapidamente.
— Ora, era vermelha — o homem respondeu. — Vermelho sangue.
Capítulo Sete
Era pior do que ele imaginava, mas ela não falava sobre isso com ninguém de fora
da família.
Sentia-se suja ao discutir isso. Ele lhe percebeu o desconforto.
— Grace, não foi culpa sua.
— Todo mundo diz isso — ela retrucou. — Mas ele disse que foi! Disse que foi
porque eu usava shorts e blusas curtas e...!
— Pelo amor de Deus, que tipo de homem normal se sente tentado por uma criança,
independente do que ela esteja usando? — Garon explodiu.
Isso a fez se sentir melhor. Ela lhe examinou o rosto furioso.
— Acho que nenhum homem normal se sentiria — admitiu.
Ele fez um esforço para se acalmar. Saber que um homem adulto pudesse ter se
aproximado de uma criança daquele jeito, ainda mais Grace, o incomodava.
— Alguma vez conversou sobre o assunto?
— Apenas com o Dr. Coltrain.
Pronto. Isso explicava o relacionamento dela com o médico ruivo. Ele fora o seu
confessor.
— Aposto que ele disse poucas e boas para a sua avó por ela ter encoberto a coisa
toda.
Ela esboçou um sorriso.
— Disse mesmo. Mas ela não perdeu tempo em retrucar. Disse que não era nada
que eu não pudesse superar.
Era uma piada, mas Garon não viu graça. Ele assentiu.
— Mais cedo ou mais tarde, a maioria das mulheres aceita o acontecido.
Aconselhamento ajuda.
— É o que dizem.
Os olhos dele se estreitaram.
— Você não sai muito, sai?
Ela sacudiu a cabeça.
— Eu já disse. Não gosto de ser tocada.
Ele franziu os lábios, lembrando da crescente empolgação do beijo que trocaram
antes.
— Estou trabalhando nisso — afirmou.
Ela riu surpresa, extasiada com a atitude dele. Garon lhe aceitava as limitações sem
raiva, sem questionar. Era a primeira vez que ela sentia que podia deixar um homem
chegar perto dela.
— Você é um bom homem — comentou.
Ele arqueou as sobrancelhas.
— Bom? Eu sou extraordinário!
Grace riu e fez menção de responder, quando o Pager dele tocou.
O agente federal o retirou do cinto e o leu, franzindo a testa.
— Droga. — Ele se levantou e caminhou até a escrivaninha, onde havia deixado o
celular. Após digitar um número, levou o aparelho ao ouvido. — Grier — disse.
Alguém falou do outro lado da linha. Garon estava com uma aparência séria. Ele
assentiu.
— É. Posso fazer isso. Quando? Tudo bem. Eu o encontrarei lá. É melhor ligar para
Marquez. Ótimo.
Ele desligou o celular e se virou para Grace.
— Tenho de ir. O médico legista está começando a autópsia na criança. Preciso
estar presente, Além da informação que a autópsia nos fornecerá, haverá evidências que
precisarão ser devidamente registradas.
Ela deixou escapar uma exclamação de surpresa.
— Você tem de assistir?
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
— Não é algo que gosto de fazer, mas, sim, de vez em quando, preciso assistir.
Coletamos evidências forenses durante o procedimento. A cadeia da custódia das
evidências é importante. Se rompermos um elo que seja, se algum dia capturarmos esse
FDP não; conseguiremos condená-lo.
— Ah, eu entendo.
Grace estava imaginando o corpo da criança, cortado, quebrado e surrado. Ela
engoliu em seco, ante a onda de náusea. Ele se curvou e roçou a boca gentilmente nos
lábios macios.
— Pelo menos você ainda está inteira, Grace — disse baixinho. — Sem dúvida
alguma, toques inapropriados são desagradáveis. Mas o que aconteceu com essa criança
foi infinitamente pior. Você teve sorte, não morreu.
Sorte. Ela poderia ter rido, mas Garon não teria entendido. Ela o iludira. A culpa era
toda dela.
— Suponho ter tido sorte mesmo — concordou. Ainda estava viva. Isso era ter sorte.
— Quer que eu a carregue até o seu quarto antes de ir? — ele perguntou. — Posso
demorar.
Ela sorriu.
— Não precisa. Tenho a bengala que a Srta. Turner achou para mim. Ficarei bem.
Lamento que tenha de ver isso.
— Já vi pior — ele respondeu, lembrando-se de coisas que gostaria de poder;
esquecer. — Durma bem.
— Eu poderia ir para casa — ela sugeriu.
Ele lhe lançou um olhar que já dizia tudo.
— Você e o coiote não se dão bem. É melhor passar mais um ou dois dias por aqui,
até que esteja em forma para o combate.
Garon sorriu e piscou para ela ao deixar a casa.
Grace ficou toda arrepiada. Ele a queria em sua casa, em sua vida. Ambos sabiam
que ela era perfeitamente capaz de cuidar de si mesma, mas ele a queria ali. Ela poderia
ter flutuado. De uma hora para a outra, a vida não parecia mais tão ruim. Era doce
inebriante e repleta de esperança.
O médico legista, Jack Peters, estava fazendo a autópsia. Ele era um patologista
forense renomado no ramo da manutenção da lei por sua atenção aos detalhes. Sua
investigadora forense observava. A investigadora era alguém que Garon conhecia de um;
outro caso, no ano anterior.
Alice Mayfield Jones passara um bom tempo trabalhando como técnica de cena do
crime antes de concluir os cursos que a permitiriam trabalhar como investigadora para o
escritório do legista.
— Ora, se não é um dos rapazes Grier — Alice murmurou, com secura.
Seu cabelo curto e escuro estava sob a touca, e parte de seu rosto estava coberto
por uma máscara, contudo, seus reluzentes olhos azuis eram inesquecíveis.
— E quantos rapazes Grier você conhece, Jones? — ele provocou.
— Seu irmão Cash trabalhava no escritório da promotoria aqui — ela retrucou. — E
era muito mais legal do que você.
— Vejo que ele é um pouco mais na dele — o médico legista retrucou, com secura,
lançando um olhar de esguelha para Garon.
— Não. Legal no sentido de descolado! — Alice corrigiu. — O irmão usa rabo de
cavalo e brinco.
— O inferno vai congelar antes que me veja usando um brinco — Garon informou.
Marquez disfarçou uma risada com uma tossida. Alice o fitou por sobre a mesa de
autópsia.
— Por acaso você usa um brinco, sargento Marquez? Combinaria muito bem com o
seu cabelo. Algo pendente e discreto...
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
— Se não calar a boca, Jones, vai acabar usando um atravessado nos lábios — o
legista disse com firmeza. — Podemos começar?
Ele retirou o lençol que cobria o pequeno corpo. Garon teve de cerrar os dentes para
se impedir de praguejar. Notou que os companheiros pareciam estar sentindo algo
parecido. Não houve mais piadas. Isso era mortalmente sério.
O médico legista puxou para si o microfone e começou a descrever a paciente,
desde sua altura, peso e idade até uma narrativa detalhada de seus ferimentos e dos
estragos provocados por eles. Enquanto ele trabalhava, Jones fotografou o corpo durante
todos os estágios da autópsia. Ela já havia levado o lençol e o saco preto que recobriam a
vítima para o laboratório criminal, no andar abaixo.
Com um ligeiro movimento da mão, ele cobriu o rosto da menina com um pedaço de
pano, após Jones tê-lo fotografado.
— Fica mais fácil assim — disse ligeiramente constrangido. Já fizera tantas
autópsias que elas mal o incomodavam, mas tinha uma filha daquela idade, e essa tarefa
estava sendo dolorosa.
Ele fez a incisão inicial em forma de Y, e Jones lhe passou o alicate para que
cortasse a caixa torácica, para que tivesse acesso ao tecido delicado no interior do corpo.
Garon pôde ver por si mesmo o que a faca usada pelo criminoso fizera ao corpinho
magro. Os órgãos internos estavam destruídos, desde os pulmões até o fígado e os
intestinos. Os cortes haviam sido feitos com força, como se o agressor estivesse em meio
a um acesso de fúria.
— Os ferimentos precederam ou sucederam a morte? — Garon perguntou baixinho.
— Precederam — o legista disse bruscamente. — Ela foi torturada. Dá para ver pelo
sangue. Se tivessem sido após a morte, não teriam sangrado. O coração para de
bombear no instante em que a pessoa morre.
— Deveria assistir mais; televisão Grier — Jones opinou. — Mostram coisas como
essa o tempo todo nos programas de investigação forense.
— Nem me fale isso — Peters rosnou para ela. — Todas aquelas bugigangas de
alta tecnologia, milhões de dólares em equipamentos, e olhe com o que eu tenho que
trabalhar! — exclamou, gesticulando com a cabeça na direção de maças antigas, uma pia
de porcelana e um microscópio que parecia remendado com uma fita adesiva cinza. — O
que eu não daria por apenas um daqueles computadores...!
— Contudo, eles lhe deram uma super investigadora — Jones lembrou. — E sou
muito mais bonita do que aquela mulher que faz o papel da assistente do médico legista
na televisão...
— É melhor parar por aí enquanto ainda tem um emprego — Peters murmurou.
Eles catalogaram a evidência, colocando o tecido sob as unhas em um envelope e
as amostras colhidas de sua região genital em outro.
— Com um pouco de sorte, o DNA o entregará — Garon disse, com seriedade.
— Só se o DNA do criminoso estiver no banco de dados — Marquez retrucou.
— Acho surpreendente o número de molestadores que não estão em nenhum banco
de dados. O que é reportado é apenas a ponta do iceberg — o legista comentou.
— Costuma mesmo ser assim — Marquez concordou. Por fim, o martírio terminou, e
o médico preparou o corpo para ser apanhado pela funerária.
— Pobre menina — Peters disse. — E pobres dos pais dela. Espero que o agente
funerário seja bom no seu trabalho.
Jones levou o corpo embora enquanto Marquez e Garon conversavam com o
legista.
— Vou mandar tudo isso lá para baixo, para o laboratório de criminalística — ele
disse, gesticulando na direção dos envelopes de evidências. — A não ser que vocês
mesmos queiram fazê-lo?
Garon sacudiu a cabeça.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
agente federal não entenderia esse tipo de pobreza. Pelo que ouvira as pessoas falarem
sobre o seu irmão Cash, sabia que a família era abastada.
Garon pareceu estranhamente aliviado quando ela o pediu para deixá-la em casa.
Estava reconsiderando. Passara uma longa noite insone pensando em como fora
delicioso beijar Grace, e isso o deixara irritadiço. Não ia correr o risco de se envolver com
ela. Jamais, disse para si mesmo.
Ela ficou ligeiramente decepcionada que ele aceitou a coisa toda tão facilmente, até
mesmo sorrindo, enquanto terminavam o café da manhã. Talvez ele fosse do tipo que
beijava todas as mulheres que trazia para casa. Ou, quem sabe, simplesmente sentisse
pena dela? Adivinhara um pouco a respeito de seu passado. Provavelmente achava que a
estava ajudando a se acostumar com os homens.
Seus próprios pensamentos a estavam confundindo. Entrou no carro com ele sem
dizer uma só palavra, acenando para a Srta. Turner. Durante todo o trajeto até a sua
casa, olhou para fora da janela sem falar.
Ele a deixou diante da porta da frente.
— Não vá sair por aí perseguindo coiotes — disse com firmeza, através da janela.
Ela lhe lançou um olhar indignado.
— Por acaso é defensor da vida selvagem? Eu só lhe farei mal se ele fizer mal ao
meu gato.
Ele riu um pouco a contragosto.
— Se precisar de nós, ligue.
— Digo o mesmo — ela retrucou atrevidamente e sorriu.
O sorriso o encheu de ardor. Ele detestava aquilo.
— Espere sentada — murmurou, acenando com a mão ao se afastar no carro.
Ela sentiu um frio na barriga ao observá-lo ir embora. As coisas jamais voltariam a
ser as mesmas. Garon não deveria ter tocado nela.
Ele estava pensando o mesmo. Por isso, ligou para Jaqui Jones, a sobrinha da Sra.
Tabor, e lhe avisou que estaria na festa na noite seguinte, que era uma sexta-feira.
Como Cash sugerira as famílias tradicionais de Jacobsville não compareceram à
festa. Apenas alguns evidentes desconhecidos apareceram. Garon se sentiu
estranhamente deslocado entre aquelas pessoas. Especialmente com Jaqui, que se
esfregava nele sempre que tinha a chance, quase ofegante de desejo. Ele não gostava de
demonstrações públicas de afeto, e isso ficou bem claro na expressão de seu rosto. Ela
riu sensualmente.
— Você é um sujeito estranho — ela lhe disse, enquanto tomavam um drinque ao
lado da mesa do bufê. — Não me acha atraente?
— Você deve saber que é linda — Garon respondeu, tranqüilamente. Ele sorriu. —
Mas trabalho em uma profissão conservadora e não me sinto à vontade com convites
descarados.
Ela ergueu as sobrancelhas.
— E eu que o tomei por um espírito livre e informal — ronronou.
— As aparências enganam — ele retrucou, erguendo o copo em um brinde a ela.
— Bem, não se menospreze — Jaqui acrescentou. — E não pense que vou desistir.
Mais cedo ou mais tarde, eu consigo o que quero.
— É mesmo? — Ele sorriu. — Por que não me apresenta à sua tia?
Apesar dos protestos de Jaqui, Garon foi embora cedo.
— Com certeza você não trabalha aos sábados, trabalha? — ela perguntou irritada.
— Tenho um rancho — ele a lembrou. — Fins de semana é a única oportunidade
que tenho para me dedicar a ele.
Não acrescentou que seu trabalho exigia que estivesse de prontidão sete dias por
semana.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
deixado na própria casa sem se dar ao trabalho de se preocupar em saber como estava o
tornozelo machucado dela deve tê-la magoado.
A culpa o deixou impaciente; consigo mesmo. Não lhe devia nada. Contudo, mesmo
assim, passou de carro diante da casa dela ao seguir para San Antônio, estranhando o
fato de o carro dela não estar lá. Mal passava das 6h. Garon se perguntou onde ela
estaria. Mas tudo parecia bem, então a tirou da cabeça e continuou pela estrada.
Grace não viu Wilbur quando chegou; em casa. Mas viu o porquê disso. Enquanto
ela estivera no rancho de Garon, ele conseguira sair pela janela ligeiramente aberta,
rasgando a tela. Não tivera tempo de procurá-lo na manhã em que voltara para casa
porque já estava atrasada para ir para a floricultura. Sábado era um dos dias mais
movimentados.
Quando voltou para casa, após um dia passado mancando e, em boa parte, sentada
montando arranjos florais, ela pegou a bengala que a Srta. Turner havia lhe emprestado e
mancou ao redor da propriedade, à procura de Wilbur.
Ela o encontrou em terríveis condições, já morto. Parecia que, no final das contas, o
coiote conseguira pegá-lo. Gritando com todas as forças, ela prometeu para o animal
desgraçado que o faria pagar, mesmo que levasse toda a sua vida para isto acontecer.
Lágrimas rolaram por sua face enquanto ela imaginava os últimos instantes de vida do
gato. Mas lágrimas não o trariam de volta.
Elas jamais trouxeram alguém de volta.
Ela o cobriu com uma fronha de travesseiro velha e o enrolou em um lençol rasgado.
Depositou-o em uma caixa no assento traseiro do carro e seguiu com ele para o
veterinário, onde ele foi apanhado por um homem que tinha um cemitério para animais e
que oferecia a cremação de adorados bichinhos de estimação. Ele tinha uma bela coleção
de urnas que os falecidos poderiam ocupar Grace escolheu uma urna simples e barata, e
foi assegurada de que, no tempo devido, as cinzas de Wilbur chegariam a casa dela.
Preencheu um cheque para cobrir as despesas, cerrando os dentes ao ver a lamentável
quantia que lhe restara após pagar as contas. Teria de ver se conseguiria fazer algumas
horas extras no trabalho, esta semana, no seu segundo emprego, para equilibrar sua
renda.
No trabalho, soube da presença de Garon na festa de Jaqui Jones. Grace ficou
magoada ao se dar conta de que ele não pensara mais nela depois de passar algum
tempo com a linda morena. Fitou o próprio reflexo sem graça no espelho e se sentiu
irremediavelmente desleixada. O único vestido bom que tinha pertencera à avó, o preto
que ela usara para o enterro. A maior parte de seu guarda-roupa consistia em jeans e
camisetas com gravura ou coisas escritas. Mal tinha maquiagem e nunca perdia tempo
ajeitando o cabelo.
Seguindo um impulso, soltou o cabelo e passou a escova por ele. Ficou surpresa
com a diferença em sua aparência que ter a cascata espessa e sedosa de cabelos louros
rodeando-lhe os ombros fez. Aplicou um pouquinho de batom lilás claro e trocou a
camiseta por uma blusa preta de mangas compridas com alguns escritos em japonês.
Ela até que tinha um bom corpo, pensou, mesmo que o rosto não estivesse à altura
deste em termos de beleza. A boca era larga demais, os ossos malares altos demais e o
nariz ligeiramente torto. Quem dera fosse mais bonita. Era a primeira vez na vida que
queria ser bonita para um homem, e ele estava se sentindo atraído por Mata Hari.
Ela largou a escova e voltou para a varanda. Ainda não terminara de podar as rosas
e estava agradável ali perto dos degraus, no sol.
Mal começara a cortar quando escutou um veículo se aproximar. Para a sua
surpresa, era Garon, a última pessoa que esperara ver. Ficou de pé com a podadeira na
mão enquanto ele desceu do carro e veio até os degraus da varanda.
Garon parou. Com estranha intensidade, seu olhar escuro percorreu-lhe o rosto e os
ombros, descendo para o restante do seu corpo. Os olhos começaram a brilhar.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Ela abriu a boca para perguntar o que havia de errado. Antes que pudesse
pronunciar as palavras, ele a tomara nos braços e a estava beijando como se não
houvesse amanhã.
Capítulo Oito
Garon não pôde se contiver. A visão do corpo esbelto e bonito de Grace naquele
jeans apertado e com aquela blusa, com os compridos cabelos louros cascateando por
suas costas, o privou da razão. Sentiu uma excitação súbita e intensa que não pôde
controlar A sensação de tê-la em seus braços, ao encontro do seu corpo alto e forte, foi
como um potente narcótico.
— Abra a boca, Grace — ele murmurou, de encontro à linha apertada de seus
lábios. Ele a puxou ainda mais para perto. — Vamos, minha querida — sussurrou
sedutoramente, provocando-lhe os lábios com os seus próprios em um roçar apaixonado.
— Faça o que estou pedindo. Abra a boca, Grace...
Ela tentou falar e acabou fazendo exatamente o que ele pedira. Ela arquejou ante a
onda de sensações que o ato provocou. Ele sabia demais. Era capaz de deixá-la voraz.
Até aquele instante, em toda a sua vida, jamais quisera pertencer a um homem. Podia
sentir o calor e a força de seu peito musculoso comprimindo-lhe os seios macios, podia
escutar as batidas do coração de Garon, o som ofegante de sua respiração. Ou será que
eram seus batimentos?
Lembranças amedrontadoras e antigas foram se apoderando dela à medida que o
ardor dele foi se tornando menos contido. Ela o empurrou pelo peito. Garon se afastou
dela, dando a impressão de estar tão chocado quanto ela. Ele se esforçou para respirar
normalmente.
— Eu sei — ela disse, erguendo a mão e forçando um sorriso nos lábios inchados.
— Foi uma reação irresistível que você não consegue explicar, mas eu consigo. Pedi para
a Srta. Lettie, no fim da estrada, me fazer um boneco seu e esfregar a minha foto nele,
agora você é incapaz de me resistir.
Grace sorriu.
Ele deu uma gargalhada.
— Droga!
— Não que normalmente eu recorra a tais medidas — ela acrescentou com afetada
modéstia. — Minha beleza excepcional costuma se encarregar de me conseguir todos os
homens que eu quero.
Garon inspirou profundamente. Grace tinha este jeito único de desarmar situações
perigosas.
Ele fora longe demais e sabia disso. Contudo, ela não parecia estar zangada com
ele, apesar do seu passado. Não podia se esquecer da história da moça, para não
assustá-la. Ela era tão inocente para uma mulher de sua idade. Apesar da experiência
negativa pela qual passara, parecia gostar de estar nos braços dele. O pensamento o
excitou.
— Lá se vai minha ilusão de ser o único homem em sua vida.
— Sua ilusão deixou marcas — ela concordou. — Se não se incomoda que eu
pergunte, por que está aqui?
Ele piscou os olhos.
— Não sei.
Ela lhe lançou um olhar de esguelha.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
— Perda de memória recente não deve ser uma coisa boa para seu trabalho...
— Droga, eu sei o que faço quando estou trabalhando! — ele murmurou.
— Puxa, que alívio!
— Tenho de ir até Paio Verde entrevistar um homem.
Marquez localizara um ex-policial de Paio Verde que se lembrava do caso não
solucionado referente à criança assassinada, de dois anos antes. Ele informou que um
vizinho da criança assassinada alegou ter visto um homem com a criança, na manhã do
dia em que esta foi levada.
Marquez falou que a testemunha foi identificada pela polícia na ocasião, mas o
homem estava fora da cidade quando os detetives voltaram para falar com ele. Apa-
rentemente, ele se perdera na confusão quando a publicidade do caso gerou centenas de
pistas que precisavam ser investigadas, Garon queria ver a testemunha, se é que o
sujeito ainda morava em Paio Verde. Talvez ele se recordasse de alguma outra coisa nos
anos que se passaram desde que o crime fora cometido.
Aquela podia ser justamente a oportunidade que estavam aguardando para achar
um suspeito em dois assassinatos infantis. Como Marquez, Garon estava certo de que
estavam lidando com um assassino em série. Os casos eram semelhantes demais para
ser uma simples coincidência.
— Está trabalhando hoje? — ele perguntou para Grace.
— Só trabalhei na parte da manhã. Folgo a partir do meio-dia aos sábados.
Ele suspirou.
— Quem me dera pudesse fazer o mesmo. Quer vir comigo?
Todo o rosto dela irradiou a alegria causada pelo convite. Ele não estava
interessado na tal de Jaqui. Não podia estar, já que convidara Grace para passar o dia
com ele!
— Deixe apenas eu me trocar e colocar uma roupa melhor — ela disse, receando
não ter muitas roupas para escolher.
— O que há de errado com o que você está usando agora? — ele perguntou. — Não
notou que não estou usando terno? Ela notou sim. Estava usando uma calça bege que
enfatizava os músculos poderosos das pernas compridas e uma camisa; amarelo-limão
claro; que delineava a musculatura do peito e dos braços. Ele estava usando um paletó
leve sobre tudo. Estava muito elegante.
— Você não costuma usar terno? — ela perguntou.
— Só quando planejo prender alguém ou quando há a possibilidade de a imprensa
aparecer. Em tais ocasiões, o Birô gosta que passemos uma imagem de profissionalismo.
— Sei.
— Porém, já que não pretendo prender esse homem, posso ir mais à vontade.
— Nesse caso, vou buscar minha bolsa e um suéter.
Ele a aguardou próximo ao carro, olhando ao redor com curiosidade.
— Onde está o gato? — perguntou quando ela voltou a se juntar a ele.
Grace mordeu o lábio inferior.
— Ele saiu da casa enquanto eu estava fora. Eu o encontrei... — Ela engoliu em
seco. — E o enterrei.
— Sinto muito — Garon disse, e estava sendo sincero. Sabia o quanto ela gostava
do velho gato. — Nossa gata branca teve filhotes. Ela mora no celeiro para espantar os
ratos. Quando os gatinhos estiverem um pouco mais velhos, pode dar um pulo lá para
escolher um.
Ela piscou, em uma tentativa de conter as lágrimas.
— Isso seria muito bom.
— Para nós também. Uma boca a menos para alimentar.
— Como está a Srta. Turner?
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
— Ela teve de ir ate Austin ver como estava o pai — Garon informou. — Ele sofreu
um enfarto.
— Pobrezinha! O pai é a única família que lhe resta. Ela já ligou para avisar como
ele está?
— Ainda não. Mas tenho certeza de que ligará em breve.
— A respeito do que você precisa entrevistar esta testemunha? — Grace perguntou,
mudando de assunto.
— Achamos que ele pode ter visto o responsável por um caso não solucionado.
Caso tenha visto e caso consiga se lembrar de alguma coisa sobre o criminoso, ele
poderá nos dar uma pista sobre um suspeito para o nosso caso atual, que tem feições
similares. Caso ele não se lembre de nada, voltamos a depender de evidências forenses
na busca pelo assassino.
— Esse caso não solucionado... Diz respeito à menina que foi assassinada lá, não
diz?
— Você pega rápido as coisas — ele murmurou.
— Paio Verde não é grande o suficiente para aparecer no noticiário, a não ser que
haja algo terrível acontecendo — ela disse. — Quando você mencionou este último caso,
eu o achei muito parecido com o que disseram que aconteceu com a garotinha em Paio
Verde.
— Marquez fez a conexão.
— Disse que ia procurar evidências na autópsia. Encontrou alguma? — ela
perguntou com deliberado pouco caso.
— Muitas. Incluindo evidências de DNA. Se encontrarmos o criminoso, poderemos
condená-lo.
— Se ao menos o estado não fosse tão grande — ela disse baixinho.
— Ah, mais cedo ou mais tarde, daremos sorte. — Ele a fitou. — Por acaso já ouviu
falar no Princípio de Transferência de Locard?
Ela franziu a testa.
— Não.
— É uma teoria de evidência que forma a base da investigação forense moderna. O
Dr. Edmund Locard foi um policial francês que notou que criminosos deixavam para trás
evidências na forma de vestígios e, em contrapartida, apanhavam vestígios de qualquer
local que visitavam. Uma troca de fibras, cabelos e outros materiais. Sem qualquer outra
prova de envolvimento, a análise de tais evidências coloca o criminoso na cena do crime.
— Adoro assistir àqueles programas de televisão sobre casos não solucionados —
Grace afirmou. — É fascinante ver como a mais insignificante das coisas pode ligar os
pontos em crimes.
Ele sorriu.
— Eu também os assisto. — Garon olhou para ela. — Contudo, grande parte do
trabalho policial é vigilância e entrevista de testemunhas ou membros da família das
vítimas. Coisa monótona.
— Para alguém que sobrevive com trabalhos em meio expediente, não há nada de
monótono nisso. — Ela lançou um olhar na direção dele. — Há quanto tempo é um
agente do FBI?
— Desde que eu tinha 23 anos.
— E está com 80 agora... — ela disse maliciosamente.
— Estou com 36 — ele corrigiu.
— Sempre trabalhou com assassinatos?
Ele sacudiu a cabeça.
— Eu só fui designado para um caso de assassinatos em série, na costa leste. Mas
passei a maior parte de minha carreira investigando crimes violentos. Trabalhei na Equipe
de Resgate de Reféns por seis anos, e na SWAT do FBI, em Washington, por mais
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
quatro. Depois disso, fiquei sediado em Washington. Agora, estou no escritório de San
Antônio. Chefio um esquadrão que investiga crimes violentos.
— As duas primeiras coisas... É trabalho perigoso. Já vi filmes retratando como
essas equipes operam.
As mãos dele se apertaram ao redor do volante.
— É. Muito perigoso.
Ela franziu a testa.
— Você escolheu esse tipo de trabalho. Algo também aconteceu com você —
adivinhou. — Alguma coisa traumática.
Ele cerrou os dentes.
— Alguma coisa. — Ele olhou na direção dela. — Não gosto de falar a respeito.
— Não estava querendo ser indiscreta — ela retrucou, mexendo na bolsa sobre o
colo. — Mas você me perguntou se eu falei com alguém sobre o que aconteceu comigo.
— Perguntei mesmo.
— Nada mais justo que eu faça o mesmo.
Ele não respondeu. Ficou em silêncio por alguns instantes, preso no passado, na
angústia daqueles anos. A dor era violenta.
Ela se deu conta de que pisara em terreno delicado e buscou uma maneira de aliviar
a tensão.
— Acredita em lobisomens? — perguntou.
O carro guinou ligeiramente.
— Como disse? — Garon perguntou com incredulidade.
— Eu vi esse filme. Era muito realista. Estou certa de que conheço pelo menos uma
pessoa que jamais é vista durante a lua cheia. É preciso usar balas de prata neles, sabe
as comuns, de chumbo, não funcionam.
— Não carrego balas de prata comigo — ele salientou.
— Nesse caso, estaremos em apuros se dermos de cara com um — foi o
comentário seco de Grace.
— Façamos o seguinte. Se vir um lobisomem, basta me avisar que eu, na mesma
hora, corro para casa e derreto um pouco da prataria para fazer balas.
— Fechado — ela disse com um ar presunçoso.
Garon sentiu o coração se aliviar. Para uma solteirona tímida e complicada, ela era
boa companhia. Ela o fazia esquecer o passado. Gostava de estar com ela.
Grace estava sentindo algo familiar, ainda mais depois do modo como ele a beijara
antes, com tanto desejo e prazer. Ela se arrepiava toda só de lembrar. Talvez
relacionamentos não fossem fáceis para Garon. Daí; ele não ser casado.
Para Ram no departamento de polícia de Paio Verde para conversar com o chefe de
polícia, Gil Mendosa. Ele ficou constrangido e encabulado quando Garon lhe contou sobre
a atual investigação de assassinato e que os esforços de Marquez para obter com ele
informações a respeito do caso não solucionado do seu departamento através de e-mail
foram ignorados.
— Tivemos estes e-mails que constrangeram a Srta. Tibbs — ele explicou. — Ela
tem 70 anos e cuida do telefone e da correspondência para nós. Bem, desde então, se o
título do e-mail não tem algo específico sobre algum caso, ela simplesmente o apaga sem
ler, como nós mandamos que ela fizesse. Diga para Marquez que eu sinto muito.
— Farei isso. O que queremos saber é se está escondendo qualquer informação
referente ao assassinato da menina, algo que não queira nos jornais.
O chefe lançou um olhar desconfiado para Grace.
— Ela é um túmulo — Garon disse para tranqüilizá-lo. — Não tem problema.
— Nesse caso, tudo bem. Sim, havia uma; outra coisa. O sujeito amarrou uma fita
ao redor do pescoço dela e a estrangulou até a morte. Uma fita vermelha.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
— Aqui, sente-se, pelo amor de Deus! — Garon rosnou. Ele segurara Grace assim
que ela desfalecera. — O que há de errado?
Ela se esforçava para respirar. Não podia dar bandeira. Não podia.
— É esse vírus estomacal de 24 horas que está circulando por aí — ela disse com
uma risada forçada. — Eu o peguei ontem, e ele me derrubou. É uma maneira drástica de
perder peso.
— Quer algo para beber? — o chefe ofereceu gentilmente.
— Que tal um Martini, sacudido, não mexido — Grace retrucou, com um brilho nos
olhos acinzentados.
— Você pode beber uma Coca-Cola diet — Garon devolveu, caminhando com um
punhado de trocados até a máquina de bebidas na cantina do departamento. — Se eu
tiver o dinheiro exato.
— Nem tente alimentá-la com a nota de um dólar — o chefe alertou. — Ela só faz
devorá-las.
Ela lhe lançou um olhar duro.
— Você é um policial e, no entanto, deixa uma máquina roubar os clientes bem no
seu escritório? — exclamou.
— Um homem que prendemos no mês passado pegou uma arma e atirou na ultima
máquina que tínhamos aqui dentro — ele retrucou. — Dois meses antes disso, um dos
nossos próprios; policias acidentalmente acertou a máquina que ela substituiu com um
bastão de beisebol. Nem me pergunte — aconselhou quando ela fez menção de indagar
como alguém podia acidentalmente destruir uma máquina com um bastão. — Sendo as-
sim, como pode ver, não podemos pedir que a fábrica nos mande uma terceira máquina.
Ela jamais entenderá.
— Entendo o que quer dizer — Grace concordou.
Garon lhe passou uma bebida gelada. Ela abriu a tampa e bebeu com vontade.
— Ah, isso é tão bom — disse suspirando. — Obrigada.
— Deveria ter me dito que não estava se sentindo bem — ele disse.
Ela sorriu para ele.
— Você não teria me deixado vir com você.
Ele franziu os lábios, e seus olhos escuros brilharam. Grace corou.
Garon voltou a se concentrar em Mendosa e lhe falou sobre a testemunha que
Marquez desenterrara em San Antônio.
— O nome dele é Sheldon — Garon disse. — Aparentemente, morava a duas portas
da vítima de assassinato. Alguns detetives de San Antônio falaram com ele. Marquez e eu
também o entrevistamos e ele se lembrou de ter visto o suspeito.
Mendosa fez uma careta.
— Nós mesmos tivemos uma aparente testemunha, um homem chamado Homer
Rich. Mas nosso ex-chefe disse que o sujeito era maluco e não nos deixou ir falar com
ele. Ele era vizinho de porta da criança. — O policial franziu a testa. — Só que ele não
mora mais lá. Mudou-se da cidade pouco após o assassinato.
Garon franziu o cenho.
— Ele era um suspeito.
— Não — Mendosa disse. — O sujeito era bonitão, ganhava bem, mas eu nunca
soube de onde vinha o dinheiro dele. Tinha uma noiva em algum lugar. Ninguém na
região jamais a viu. Não era um suspeito. Na verdade juntou-se; à busca quando a família
soube que ela estava desaparecida. Ele chegou até a imprimir alguns folhetos do seu
próprio bolso.
Garon não disse uma única palavra. Tomou nota de tudo. Contudo, sabia muito bem
que, às vezes, suspeitos de assassinato tomavam parte nas buscas, e até falavam com a
polícia sobre o progresso das investigações. Não ia dizer isso para Mendosa. Apenas
faria o homem se sentir mal, ou pior do que já estava se sentindo.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Mendosa sorriu.
— Eu também. Ninguém gosta de ver um assassino sair livre.
— Sem dúvida.
Grace ficou fascinada de saber que os assassinos não eram capazes de eliminar
totalmente as manchas de sangue.
Durante todo o percurso de volta para Jacobsville, ela tentou arrancar dele
informações sobre os padrões dos borrifos de sangue, protocolos de cena do crime e o
que o laboratório do FBI podia fazer com um único fio de cabelo humano.
— Parece algo saído de Jornada nas Estrelas — ela exclamou.
Ele riu.
— Parece mesmo. Nossas ferramentas de alta tecnologia nos dão uma real
vantagem em se tratando de solucionar crimes.
— Se não fosse pelo sangue todo, acho que eu até gostaria do trabalho policial —
ela murmurou.
Ele não conseguia imaginar Grace em uma cena do crime. Por outro lado, ela
perseguira um coiote para fora do seu jardim com nada mais ameaçador do que um galho
de árvore. Ela era corajosa. Admirava uma mulher determinada. Contudo, Grace tinha
seus segredos. E Garon não podia deixar de se perguntar quais seriam eles.
— Obrigada por me levar junto com você — ela disse, quando ele estacionou diante
da casa dela. — Eu gostei muito.
— Eu também — ele se viu forçado a admitir. Ele a acompanhou até a entrada da
casa. — Você é muito boa companhia.
— Como a Srta. Turner está fora, terá de preparar o seu próprio jantar — Grace
disse, subitamente, virando-se para ele. — Eu poderia fazer o jantar. Tenho alguns bifes
frescos e batatas que eu poderia preparar.
Ele hesitou. Estava com fome e não gostava de cozinhar.
— Você deve estar cansada — retrucou, sentindo-se culpado.
Ela sacudiu a cabeça.
— Gosto de cozinhar.
Garon sorriu.
— Tudo bem. A que horas?
— Sete?
— Estarei aqui.
Ele foi embora, e Grace correu para dentro de casa para dar início às coisas na
cozinha.
Sentia-se como uma criança ansiosa para abrir o seu presente. Jamais gostara tanto
da companhia de um homem. Era um começo.
Eles ficaram sentados no interior da cozinha por um bom tempo, após terem
terminado de comer, apenas conversando sobre o mundo. Concordaram em muitas
questões. Na verdade, tinham as mesmas opiniões no que dizia respeito à política e à re-
ligião, que eram tidos como dois dos assuntos mais controversos na face da terra.
— Você faz um ótimo café — ele comentou, terminando a sua segunda xícara.
— É descafeinado — Grace confessou. — Cafeína me incomoda.
— Ainda assim, está muito bom. — Ele verificou o seu relógio. — Detesto ir embora,
mas tenho de apanhar um agente visitante no aeroporto amanhã de manhã, bem cedo.
Ele vai passar alguns dias em nosso escritório, conduzindo uma inspeção.
— Inspeção?
Ele sorriu.
— É um modo de se certificar de que somos eficientes.
— Eu poderia escrever um atestado para você — a moça ofereceu.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
— Receio que vá ser necessário mais do que isso. — Ele seguiu para a varanda da
frente e, depois, para o quintal, seus olhos voltados para o céu. — Há um halo ao redor
da lua. Suponho que teremos chuva.
— Como é que um sujeito da cidade grande como você sabe disso? — ela
perguntou, impressionada.
Ele se virou para ela, sorrindo.
— Cresci em um rancho no oeste do Texas — respondeu. — Tínhamos um velho
caubói que parecia ter uns 80 anos de idade e que trabalhara com o Texas Rangers. Ele
podia sentir o cheiro de chuva a quilômetros de distância, fazia previsões quanto ao
tempo e coisas do gênero. Eu costumava passar horas; sentado só escutando ele falar
sobre capturar ladrões de banco. Suponho ter sido por isso que me tornei um homem da
lei. Ele dava a impressão de ser uma causa sagrada. De certo modo, suponho que seja
mesmo. Nós falamos pelas vítimas que não podem mais falar por si mesmas.
— Acha que vão pegar o assassino? — ela perguntou baixinho.
— Espero que sim — ele respondeu, aproximando-se dela. — O homem não é
amador. É inteligente. Contudo, ele deixou para trás evidências vestigiais que o
condenarão, desde que tenhamos a sorte de apreendê-lo.
— Meu avô costumava dizer que criminosos são burros. Ele contou que um sujeito
que ele prendeu matara um homem e deixara o seu cartão de visitas no bolso da vítima. E
houve o ladrão que roubou um banco, saiu pela porta errada, tropeçou no cachorro de
alguém que ali estava esperando e nocauteou a si mesmo ao dar de cara com o chão.
Ele riu.
— Também já tivemos a nossa cota de casos parecidos — garantiu. — Contudo, em
alguns deles, não é tão fácil pegá-los.
— Você vai pegá-lo — ela afirmou com absoluta confiança, sorrindo para ele.
Ele se aproximou ainda mais e a pegou pelos braços, segurando-a de leve contra o
corpo alto e poderoso.
— Você faz bem para o meu ego, Grace — ele murmurou. — Mas eu não acho que
eu seja bom para você.
Sem olhar para ele, Grace contornou o botão do paletó dele.
— Está querendo dizer que não quer nada permanente. Não tem problema. Eu
também não quero.
— Um dia, você vai querer filhos.
Ela inspirou profundamente, estremecendo.
— Eu... Não posso ter filhos.
— O quê?
Doía dizer isso, contudo, já eram quase amigos agora, e Garon precisava saber.
Para o caso de se envolver ainda mais. Sob a luz da janela, ela se forçou a olhar para ele.
— Eu estive em um... Acidente, quando tinha 12 anos de idade — disse. — Um
acidente sério. Fiquei muito ferida, especialmente na região da barriga. Sendo assim, não
posso ter filhos.
Algo no íntimo dele chorou por ela. Sabia, mesmo sem perguntar, que, caso ela se
cassasse, teria querido uma família. Sentiu um vazio dentro de si ante o pensamento e
não conseguia decidir por quê.
— Eu sinto muito — disse.
— Eu também — ela disse em tom sério. — Adoro crianças. — Ela lhe examinou o
olhar. — Mas, você poderia tê-las, caso se case um dia.
Ele amarrou a cara.
— Não quero me casar.
Ele falou aquilo de modo tão deliberado que Grace teve certeza de que havia algo
no seu passado, algo devastador, que ele jamais discutia. Sabia que, assim como ela,
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Garon também guardava os seus segredos. Contudo, os segredos dela tinham de ser
mais devastadores que os dele.
— Eu me lembrarei disso — ela prometeu e seus olhos começaram a brilhar. — Mas
precisa saber que você está no pé da minha lista de candidatos a noivo. É quase o último!
Ele ergueu as sobrancelhas.
— Pois eu gosto disso! — exclamou.
— Consigo qualquer homem que eu queira — ela informou. — Aprendi tudo que eu
preciso saber na televisão. Há este novo perfume que faz os homens saltarem de pára-
quedas dos aviões com buquês de flores e enormes alianças de diamantes. Tudo de que
eu preciso é um pouquinho atrás de cada orelha.
— E se você pegar o homem errado?
— Não vai acontecer. O sujeito no comercial é um gato.
— Não vão lhe dar o sujeito do comercial — ele salientou.
— Como é que você sabe? Talvez organizem um concurso e o ofereçam como o
prêmio. — Ela riu. — Não está decepcionado?
Ele sacudiu a cabeça.
— Não preciso de um homem com rosas e diamantes.
Grace riu.
— Não. Quis dizer por não estar no topo da minha lista!
Ele franziu os lábios e se aproximou ainda mais.
— Querida, se eu quisesse estar no topo de sua lista — Garon murmurou baixinho,
curvando-se, — não precisaria de rosas para chegar lá. — A mão dele se posicionou na
sua nuca, trazendo-lhe a boca bem para perto da dele. — Precisaria apenas disto — sus-
surrou, pressionando os lábios de Grace com os seus.
Capítulo Nove
Grace se derreteu no seu corpo alto com um ligeiro suspiro trêmulo. A sensação
dele, o gosto dele, estava começando a se tornar familiar. Ele não era nada ameaçador
deste jeito. Agora, não. Ela adorava estar perto dele.
Isso era óbvio. Porém, o deixava preocupado. Grace não era experiente, e ele era.
Garon podia possuir uma mulher sem pestanejar e jamais olhar para trás. Havia muitas
mulheres que pensavam da mesma forma. Nada de vínculos, nada de complicações.
Contudo, Grace esperaria casamento.
O mundo parecia amargo. Ele ergueu a cabeça.
Ela irradiava alegria. Seus olhos brilhavam de tanta felicidade. A boca inchada
estava sorrindo. Garon se sentiu um canalha. Não deveria tê-la tocado. Contudo, ela era
atraente em sua inocência, de um modo que muitas mulheres experientes não eram.
Ele tocou-lhe o rosto com a ponta dos dedos.
— O inspetor vai deixar todo mundo de ponta-cabeça na segunda-feira, então vou
tirar á tarde de folga para pegar meus suprimentos no armazém. Quer vir junto?
— Quero!
Ele riu ante o entusiasmo dela. Que diabos. Estava gostando da sua companhia.
Não precisava ficar se preocupando com o futuro. Este viria a seu tempo.
Ele se curvou e a beijou novamente, bem suavemente.
— Nesse caso, eu a verei na segunda. Boa noite.
— Boa noite. Eu realmente me diverti.
75
Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Ele sorriu.
— Eu também.
Ela entrou em casa pisando nas nuvens. A vida era boa.
Na manhã de segunda-feira cedinho, ela seguiu de carro para a cidade, para
comprar algumas roupas que não fossem tão velhas quanto ela. Tinha algum dinheiro no
banco que não estava reservado para as contas. Queria algo bonito para usar para
Garon. Parou no café de Barbara para pedir conselhos.
Barbara disse para ela seguir para a galeria em frente à faculdade comunitária, onde
havia um bazar. Havia algumas coisas lindas ali, usadas, mas parecendo novas, e que
não custavam muito.
Grace deixou a loja com duas sacolas cheias de coisas bonitas, e com um casaco
de caxemira com gola de pele sobre um dos braços. Sentia-se como se estivesse voando.
— Grace — Barbara disse, gentilmente, — você sabe que eu estou feliz por você.
Mas não entre às cegas em um relacionamento. Aquele homem não é do tipo que se
casa. E, quer ele se dê conta disso ou não, também não é do tipo de cidade pequena.
— E o que disseram do irmão dele — Grace salientou, sorrindo. — E olhe só para
ele!
Barbara não retribuiu o sorriso.
— Simplesmente... Vá devagar. Está bem?
— Você se preocupa tanto — ela exclamou, e abraçou a amiga. — Nunca estive tão
feliz — ela sussurrou. — Estou tão feliz!
Barbara mordeu o lábio inferior ao abraçar Grace.
— Nesse caso, seja feliz. Mas, se ele a magoar; vou fazer com que se arrependa.
Juro que vou.
— Pare com isso. Sou uma mulher adulta.
— Eu sei — Barbara concordou.
Mas ela não sorriu. Garon Grier era um homem maduro e experiente, e Grace uma
inocente de carteirinha. Já sofrerá o suficiente na mão de um homem. Não precisava que
Garon lacrasse a tampa do seu caixão. Contudo, Barbara sabia que não poderia impedir
que este desastre de relacionamento acontecesse. Tudo que podia fazer era estar
presente para consolar Grace quando o seu mundo ruísse.
Grace comprara uma calça jeans trabalhada e uma camisa branca de mangas
compridas com uma jaqueta jeans como parte do conjunto. Deixou o cabelo solto ao redor
dos ombros, pois Garon gostava de cabelos compridos. Estudou-se no espelho e gostou
do que viu.
Lembrando-se de como ele fora carinhoso com ela, Grace estava caminhando nas
nuvens.
Estava se apaixonando. Com certeza, ele também deveria estar. Uma sensação tão
profunda e maravilhosa tinha de ser compartilhada.
Ele chegou às 13h em ponto, e radiante de alegria, ela correu lá para fora para
encontrá-lo.
Garon estava dirigindo uma das caminhonetes do rancho, uma preta cheia de
detalhes cromados. Seu Expedition ainda estava com a Srta. Turner em Austin.
Ele desceu do veículo e sequer tentou resistir à vontade de abrir os braços para ela.
Grace o fazia se sentir jovem novamente, cheio de esperança e otimismo. Ela o fazia se
sentir como o homem que fora, antes de a tragédia jogar o seu mundo na escuridão.
Ela o abraçou, sentindo-se mais próxima dele do que jamais se sentira de outra
pessoa. Era como um milagre que ela pudesse gostar da sensação de um homem
tocando-a, abraçando-a, beijando-a. Ela levantou o rosto para lhe dizer isso, mas a boca
de Garon já estava carinhosamente cobrindo os seus lábios. Ela os abriu para ele e se
deliciou com as sensações. Era como se estivesse voando. Alegria transbordando, como
um rio represado, subitamente livre.
76
Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Após um minuto, ele teve de afastá-la de si. Estava quase tremendo de tanta
vontade de carregá-la lá para dentro, até a cama mais próxima. Não podia fazer isso. Era
cedo demais.
— Pronta para ir? — perguntou, sorrindo.
— Deixe-me só trancar a porta — ela retificou, ofegante, os olhos acinzentados
reluzindo de alegria.
Ele a observou subir os degraus. Estranho, ela os descera correndo, no entanto,
agora, voltar a subi-los parecia exigir esforço. Ela também se demorou em trancar a porta.
Garon não pôde deixar de se perguntar por quê.
Ela pôde lhe sentir a pergunta no rosto antes mesmo de fitá-lo. Seu coração estava
dando piruetas, porém, não podia permitir que ele visse. Grace forçou um sorriso.
— Está vendo o que faz comigo? — perguntou atrevidamente. — Você me deixa
sem fôlego.
A expressão desconfiada foi substituída por uma de arrogância. Ele chegou a sorrir.
Ela entrou no armazém ao lado dele, sorrindo e feliz. O velho Jack Hadley, dono
deste armazém, um dos dois que havia em Jacobsville, desde que o avô de Grace era
jovem, sorriu benevolente mente para Grace.
— É bom vê-la passeando, Srta. Grace — ele disse. — E em boa companhia,
também.
Ele sorriu para Garon e piscou o olho. Garon ficou irrequieto, como se o olhar
zombeteiro o deixasse pouco à vontade.
— Eu trouxe uma lista — disse, passando-a para o gerente.
Este franziu os lábios.
— Bem, esta semente é uma encomenda especial. Na próxima semana vai
adiantar?
— Sim.
— Mas eu tenho o restante em estoque. Jake! — berrou, e o ajudante adolescente
veio correndo dos fundos da loja. — Pegue esta ração para o Sr. Grier e a leve para o
carro dele; está bem?
— Claro! — concordou o menino. Ele sorriu para Grace. — Você está bonita hoje —
ele disse, corando ao fazer o comentário ousado.
— Obrigada, Jake — Grace retrucou, mas seu sorriso foi breve e impessoal.
Garon se posicionou ao lado dela, fitando com seriedade o menino, que saiu em
disparada, como um foguete.
Grace ficou intrigada com a expressão do rosto de Garon. E, quando ele notou, seus
olhos começaram a arder de um modo íntimo, enquanto a fitava nos olhos até ela corar e
desviar o olhar.
Sua mão enorme deslizou para cobrir a pequena mão dela, apertando-a com força,
como se para enfatizar o que os olhos estavam lhe dizendo. Grace mal conseguia
respirar, devido à pontada de alegria que lhe percorreu o corpo. Ela retribuiu a pressão, e
sentiu os dedos dele, lenta e sensualmente, se entrelaçando aos seus.
Para conter um gemido, Grace mordeu com força o lábio inferior.
— Não se esqueça do fertilizante, Jake — o Sr. Hadley gritou para o menino.
Sua voz rompeu o encanto, e Grace deu um passo para trás, rindo nervosamente
devido à tensão que ainda se apoderava dos dois.
Garon não disse uma palavra. Contudo, o que ele sentia era difícil de disfarçar. Ela
estava começando a afetá-lo. Ele agora estava com ciúmes de garotos de colegial.
Perguntou-se o que diabos; estava acontecendo com ele!
Os próximos dias passaram com Garon fazendo visitas casuais à casa de Grace,
primeiro para uma refeição ocasional, e depois à noite, para assistir a filmes que ele
alugara. O pai da Srta. Turner melhorara, e ela ligara para avisar que estaria de volta
dentro de uma semana.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Seu corpo estava em uma jornada toda sua, levando-a a um clímax vulcânico que a fez
arquear para dentro dele, com um grito breve e agudo do mais puro deleite.
Garon segurou os quadris, colando-se neles, enquanto ele, também, sentia o súbito
alívio da tensão.
— Grace — gemeu.
Sua voz era profunda e rouca, enquanto os quadris se moviam por vontade própria
uma última vez de encontro a ela, com uma arremetida implacável que ô fez chegar ao
clímax.
Ficaram deitados ali, juntos, banhados em suor, agarrando-se um ao outro na
escuridão. Eles estremeciam, sem nada dizer, mutuamente saciados.
Intermináveis segundos mais tarde, ele se afastou dela e deslizou a mão de sua
nuca, passando pelos seios fartos, até chegar à barriga. Seus dedos traçaram as
pequenas cicatrizes que se erguiam da pele suave.
— Eu tenho muitas cicatrizes — Grace sussurrou hesitante.
— Eu também. Elas não importam. — Ele roçou suavemente a boca nos lábios dela.
— Nunca foi tão bom — ele sussurrou e a envolveu com os braços. — Grace, você era
virgem, não era? — perguntou, após um instante.
Ela parou de respirar, hesitando.
— Bem, era — conseguiu dizer. Tecnicamente, era a verdade.
— Eu sinto muito, não devia ter perdido o controle desse jeito.
— Eu também perdi o controle — ela retrucou.
— Não é a mesma coisa. Foi como roubar doce de criança. — Com um demorado
suspiro áspero, ele se afastou dela. — Droga!
— Você... Você não gostou? — ela perguntou, sentindo a preocupação brotar.
Ele se virou e a fitou através da escuridão.
— Não foi isso que eu quis dizer, Grace — Garon respondeu. — Eu me aproveitei de
você.
— Não!
Ele pousou gentilmente a mão na barriga dela.
— Tem certeza de que não pode engravidar? — perguntou, com preocupação na
voz.
— Tenho certeza.
Os médicos todos haviam concordado quanto a isso.
Garon nada respondeu. Então, não teria de se preocupar com as complicações de
um bebê.
Contudo, mesmo assim, sentia-se culpado.
— Fico feliz que tenha sido com você — ela disse quando o silêncio começou a se
tornar amedrontador.
Isso não o fez se sentir nada melhor. Pelo menos não a machucara, consolou-se.
Por outro lado, tomara algo que ela poderia ter querido guardar para o casamento. Ela era
muito tradicional.
— Não foi por que estava pensando nela? — Grace perguntou, tomada de súbito
pavor.
Por um instante, ele achou que ela estivesse se referindo ao passado. Foi então que
se deu conta de que ela nada sabia a respeito do seu passado.
— Em Jaqui? — exclamou. — Deus, não!
Ela relaxou.
— Tudo bem, então.
Ele inspirou profundamente.
— Tenho de ir.
— Agora? — ela perguntou em um tom alarmado.
Ele se curvou e lhe beijou calorosamente a testa.
81
Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
— Como você não se cansa de me lembrar, esta é uma cidade pequena. Não quero
que as pessoas vejam o meu carro na frente da sua casa a noite toda e comessem a
fofocar.
Ela sorriu.
— Muita gentileza sua.
Garon não respondeu. Vestiu-se no escuro, sentindo-se um canalha. Ela fora
generosa, afetuosa e amorosa. Seu prazer impetuoso o fez se sentir ainda mais culpado.
Nada tinha a lhe oferecer.
— Grace, você entende que não estou procurando uma esposa? — perguntou
baixinho.
Ela se sentiu mal. Estava chocada e tentando não demonstrar.
— Sim — disse, após um instante, e sua voz não a entregou. O mundo havia
desmoronado ao seu redor, mas ela não podia deixar isso transparecer. — Eu entendo.
Ele sorriu. Podia escutar a mágoa na voz dela. Estava apenas piorando as coisas.
— Passo aqui amanhã, após sair do trabalho — disse. — Conversaremos mais.
— Tudo bem.
— Boa noite.
— Boa noite.
Ela parecia resignada com a partida dele. Garon queria ficar, conversar, explicar,
Mas não foi capaz. Tinha medo de relacionamentos. Jamais deveria ter começado aquilo!
Ele foi embora sem dizer mais nada. Contudo, durante todo o dia, a lembrança do
prazer que compartilharam o assombrou. Começara algo que não poderia terminar.
Pensava em Grace enquanto trabalhava. Ela se interpôs entre ele e a papelada,
bruxuleando como fogo-fátuo em sua lembrança. Ele se sentia latejar cada vez que
pensava nela.
Grace afundou o rosto no travesseiro quando ele se foi e chorou como se seu
coração estivesse partido. Fora tão tola. Ele não queria se casar com ela. Apenas
precisava de uma mulher, e ali estava ela, ansiosamente aguardando-o. Ela gemeu em
voz alta. Oferecera a ele tudo que tinha.
Não fora o suficiente.
Sentia-se uma tola. Garon estava acostumado a mulheres que se entregavam e
davam o fora, não a solteironas reprimidas como Grace, que jamais saíam com outros
homens. Era um amante experiente e passara anos vivendo em cidades grandes, onde o
sexo era uma coisa despreocupada.
Grace, por outro lado vivia uma vida protegida devido ao seu passado. Sabia muito
pouco a respeito de intimidade adulta. É claro que ele não queria se casar com ela! Para
que se casar com uma mulher quando ela estava disposta a lhe dar o que quisesse, sem
o beneficio de uma aliança?
Ela amaldiçoou a própria fraqueza por ele. Se não tivesse se entregado tão
facilmente, se o tivesse feito esperar um pouco, ele poderia ter se apaixonado também.
Contudo, agora, arruinara tudo. Garon devia pensar que ela era como todas as outras
mulheres, aquelas que ele possuía sem hesitação e depois colocava de lado. Ela era
exatamente como a tal da Jaqui, que debochara de Grace e dissera que Garon jamais a
veria como uma mulher de verdade.
Ela se levantou da cama e foi se banhar, para tirar de si o cheiro dele. A única coisa
positiva daquela experiência foi que provara que podia ser uma mulher inteira, que seu
passado não a destruíra por completo. Talvez, se encarasse isto com maturidade, poderia
esquecer que o homem que amava do fundo do coração estava procurando apenas um
alívio momentâneo. Talvez.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Garon estacionou diante da casa dela pouco depois das 19h daquela noite. Apesar
de sua decisão de não voltar a falar com ele novamente, ela foi correndo abrir a porta.
Grace não parecia ter dormido. Ele sabia exatamente como ela estava se sentindo. Tam-
bém não pregara o olho.
Passara o dia tudo em meio a um torpor.
Como uma sonâmbula, ela abriu a porta. Garon entrou e a trancou. Sem perder
tempo, tomou-a nos braços e a beijou, como se não a tivesse visto em um ano. Gemendo,
indefesa, ela se entregou na mesma hora. Ele se virou e a carregou até o quarto no fim do
corredor.
Desta vez, foi melhor. Mais intenso do que na primeira vez. Ele a beijou desde as
pálpebras até as panturrilhas, em plena luz do dia, o tempo todo sussurrando coisas
excitantes e sensuais que a fizeram corar.
Quando ele já a deixara no ponto, conduziu-a ao êxtase e se juntou a ela através de
ondas e mais ondas de ardor latejante. Ela gritou sem parar quando as ondas lhe
devastaram o corpo, deixando-a trêmula no torpor agradável que se seguiu. Abraçou-a
com força, de encontro ao corpo, enquanto se esforçava para voltar a respirar
normalmente.
— Eu ia convidá-la para sair e comer — Garon disse, com uma risada ofegante.
Ela sorriu e lhe beijou o ombro musculoso. Seu próprio coração estava fazendo
coisas desconfortáveis. Torceu para que ele não notasse.
— Fica melhor a cada vez — sussurrou.
Ele a abraçou com força.
— Não consegui trabalhar hoje pensando em como as coisas correram ontem à
noite — ele confessou após um minuto. — Não pensei que pudesse ser tão bom quanto
eu me lembrava. Mas foi. — Ele se afastou dela para poder fitar com os possessivos
olhos escuros os seios intumescidos, com seus bicos rosados agora macios e relaxados.
Ele os tocou gentilmente, notando as ligeiras cicatrizes ao redor dos mamilos. Sua mão
desceu até a barriga, e ele franziu a testa. As cicatrizes eram estranhamente uniformes.
Já vira vítimas de acidente e sabia o que o vidro era capaz de fazer com a pele humana.
Mas não era nada parecido com aquilo.
— Sei que são; feias — ela começou a dizer, interpretando erroneamente o
escrutínio de Garon.
Surpreso, seus olhos fitaram os dela.
— Não era nada disso que eu estava pensando — disse. — Você passou muito
tempo no hospital?
Ela assentiu.
— Duas semanas — respondeu.
Ele trouxe a mão dela até o seu peito, onde começava a caixa torácica, e a apertou
de encontro aos pelos espessos que revestiam os músculos quentes.
— Sinta.
Havia uma saliência ali.
— Está sentindo? — ele perguntou, sorrindo. — Fui acertado com um facão durante
uma investida para salvarmos alguns reféns; vários anos atrás. Não foi no; pais —
acrescentou, com uma risada rouca, ao ver a expressão dela. — Eu mesmo passei vários
dias no hospital. Sendo assim, ambos temos nossas cicatrizes.
Ela sorriu de volta para ele, um pouco menos envergonhada. Estendeu a mão para
lhe tocar o rosto, explorá-lo, acariciá-lo. Era como se aquele dia estivesse à parte do
tempo, e ela pudesse amar e ser amada, pudesse se sentir como uma mulher normal.
Sentiu o retorno da esperança. Garon era impotente ante a atração que sentia por ela.
Isso tinha de significar alguma coisa.
Ele sentiu aquele olhar lá no seu íntimo. Não devia encorajá-la a gostar dele. Isso
apenas levaria ao desastre. Contudo, adorava o modo como ela olhava para ele, e o
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
carinho tímido nos seus dedos quando ela o tocava. Adorava a sua reação ardente
quando se entregavam à paixão. Para uma mulher com um passado trágico, ela passara
facilmente à intimidade. Garon gostava de pensar que isso fora graças à sua perícia na
cama. Sabia como lhe dar prazer e podia ver vestígios disso no sorriso dela.
— Que tal sairmos para comer amanhã? — sugeriu.
— Almoço?
Garon assentiu.
— Depois tenho de passar em algumas lojas. O inspetor nos deu uma excelente
nota na avaliação, e o Agente Especial no Comando me deu o dia de folga.
Grace sorriu.
— Eu adoraria.
— Eu também.
Ele se curvou, beijou-a, depois rolou para fora da cama e começou a se vestir. Ela o
observou, seus olhos suaves ao apreciar a visão dos músculos rijos, enquanto ele
recolocava as roupas. Á contragosto, ela também se levantou e se vestiu.
— Quer que eu lhe cozinhe algo? — ofereceu.
Garon sacudiu a cabeça, sorrindo.
— Tenho alguns telefonemas para dar e alguns relatórios para examinar — disse. —
Mas eu ligo para você amanhã de manhã.
— Está bem.
Ela não ia reclamar, nem exigir que ele ficasse com ela. Sentia-se amada, e isto era
o suficiente. Ela o acompanhou até a porta e, depois, preparou uma tigela de sopa para si
mesma, assoviando como se tivesse ganhado na loteria.
Ele lhe deu a mão quando entraram no Barbara's Café para almoçar. Os outros
clientes que conheciam Grace sorriram benevolente mente para ela, notando o homem
que a acompanhava. Era o irmão do chefe de polícia, então devia ser boa gente, estavam
dizendo. Garon notou os sorrisos e se sentiu pouco à vontade, contudo, logo se sentaram
e os espectadores acharam outras coisas sobre as quais falarem.
Grace estava tão feliz que chegava a irradiar isso. Até mesmo Garon foi capaz de
notar a bela imagem que a moça fazia ao sorrir para ele.
Estava orgulhosa de seu guarda-roupa aumentado que Barbara a ajudara a comprar
no bazar da faculdade. Estava usando um vestido azul-claro que viera da loja. Era
lindamente cortado, caía muito bem nela e enfatizava as minúsculas manchas azuis nos
seus olhos acinzentados. Ela também dedicara um bocado de esforço aos cabelos,
prendendo-os em um estilo que os valorizasse. Garon notara, elogiando-a pelo bom
gosto.
Voltaram a dar as mãos ao seguir para a loja de materiais de escritório. Grace,
radiante, sorriu para um transeunte que a conhecia. Garon ainda estava pouco à vontade
com o escrutínio e estava começando a se arrepender. Arrependia-se mais a cada
instante que passava, ainda mais quando entraram na loja e o gerente brincou com Grace
sobre seu acompanhante. Foi apenas conversa fiada de cidade pequena, mas Garon
obviamente não gostou e, ao deixarem a loja, ele não voltou a lhe dar a mão. As
brincadeiras estavam começando a incomodá-lo. Amava Grace na cama, mas não estava
disposto a desposá-la só por conta disso.
No fim do dia, tomara a decisão que odiava ter tido de tomar. Não voltaria a ver
Grace a sós.
Ela o estava vendo como um marido em potencial, mas ele não a queria para
sempre. Cavara a própria cova ao continuar a vê-la quando sabia como ela se sentia a
seu respeito. Garon nada tinha a lhe oferecer. Não podia se casar com ela. Contudo,
quando viu a expressão radiante no rosto dela quando a deixou em casa, também não foi
capaz de pronunciar as palavras que lhe diriam que estava rompendo com ela. Comentou
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
que estaria excepcionalmente ocupado nas próximas duas semanas, mas que ligaria para
ela. Foi á primeira mentira que lhe contou.
Capítulo Dez
Nas duas semanas seguintes, Grace se dedicou aos seus empregos regulares. Não
ligou para Garon e ele não ligou para ela. Ainda estava radiante com a lembrança do
prazer físico a que ele a apresentara. Ela latejava por ele na escuridão. Seu ardor lhe
mostrara que sexo não eram apenas dor e medo. Adorava o que ele fizera com ela. Ele
era habilidoso e cuidadoso. Cada vez que ela pensava na paixão que compartilharam,
quase gemia em voz alta de vontade de experimentá-la novamente.
Contudo, os dias foram passando, e, depois, as semanas foram passando. Ela
soubera na cidade que a equipe que ele liderava fora enviada para fora do estado para
atender uma emergência, e que Garon ficara fora um bom tempo. Raramente via o carro
dele diante da sua casa quando saía para trabalhar. E ele ainda não ligara.
A Srta. Turner, obviamente, havia muito voltara para casa, contudo, ela também não
ligara para Grace, que não sabia que Garon dissera para que ela não o fizesse, que ele e
Grace haviam se desentendido e que era melhor a governanta não entrar em contato com
ela até que as coisas tivessem se acalmado. Isso teria deixado Grace arrasada.
Contudo, piores do que a ausência de Garon eram as brincadeiras bem-
intencionadas na cidade. As pessoas tinham ficado muito contentes de finalmente ver
Grace com alguém, de mãos dadas em público e irradiando felicidade. Algumas das
pessoas mais velhas se lembravam do que acontecera com ela. Ninguém falava a
respeito, é claro, mas era um bom motivo para lhe desejar tudo de bom na companhia de
Garon.
Só que ela não estava na companhia dele, e havia muito que não o via. Sendo
assim, todas as vezes que alguém lhe perguntava por que ele não a estava levando aos
eventos da comunidade, ela tinha de dar uma desculpa de que Garon estava trabalhando
muito em um caso. Talvez até estivesse mesmo. Mas ela não sabia.
Garon realmente estava trabalhando em um caso. No mesmo caso, os assassinatos
infantis.
Desde que parará de ver Grace, estava mal-humorado e impaciente, porque sabia
que ela ficaria magoada quando percebesse que ele estava dando um fim ao breve
relacionamento deles. O mais estranho era que ela não parecia ter se dado conta disso.
Garon soubera pelo irmão, Cash, que ela dissera que ele vinha trabalhando muito, e que
era por isso que não estavam sendo vistos juntos na cidade.
Percebeu que ela não entendera o recado. Teria de fazer algo drástico para fazê-la
entender.
Algo doloroso.
Se ao menos ela tivesse percebido e seguido com a própria vida. Por dentro, Garon
fez uma careta, ao se dar conta de que lhe dera todos os sinais de que a queria em sua
vida. Ela era inocente, e ele a seduzira. Ficara ansioso para estar com ela. Mesmo agora,
a lembrança de Grace em seus braços era poderosa o suficiente para perturbá-lo.
Contudo, ainda mais poderosa do que sua voracidade por ela, era a lembrança do
que era perder alguém que se amava. Mesmo após dez anos, a angústia daquela época
em sua vida ainda era vivida. Não suportaria passar por isso novamente. Era melhor viver
no passado do que arriscar seu coração uma segunda vez. Grace era uma mulher doce,
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
gostava dela. Contudo, não era o tipo de mulher por quem ele costumava se sentir
atraído. Gostava de mulheres agressivas, confiantes e poderosas; mulheres como Jaqui.
Uma mulher carente e tímida que era incapaz de se comparar a ele intelectualmente
jamais se encaixaria no seu mundo.
Permitira que Grace o desviasse de seu rumo, mas agora tinha de dar um basta em
suas fantasias. Tinha de fazê-la compreender que não a queria em sua vida. Detestava
ter de magoá-la, mas ela deveria ter percebido que ele não estava interessado em
casamento. Tinha 36 anos de idade e era solteiro. Decerto, ela sabia que homens que
ainda não haviam se casado com essa idade eram solteirões convictos...
— Há algo errado? — perguntou curiosamente um de seus colegas.
Ele forçou um sorriso.
— Não, estava apenas pensando sobre este caso.
— Teve alguma sorte em Paio Verde? — o homem perguntou. Isso trouxe de volta a
lembrança de Grace com ele.
— Não muita — respondeu. — Contudo, o chefe de polícia de lá está fazendo
algumas entrevistas relacionadas com o caso. Quem sabe ele não encontra a tal
testemunha?
— Quem sabe...
Garon voltou ao trabalho, mentalmente se prometendo confrontar Grace no próximo
fim de semana e, de uma vez por todas, deixar bem claro que não estava interessado
nela.
Grace estava confusa com o fato de Garon a estar evitando. Ele parecera tão
envolvido quanto ela, especialmente quando se tornaram íntimos. Sabia que ele gostara
de estar com ela. Contudo, em seguida, ele fora embora e sequer se dera ao trabalho de
ligar. Nenhum homem era tão ocupado.
Não, não estava sobrecarregado de trabalho. Estava tentando se livrar de Grace
sem confrontações.
Deveria ter se dado conta de que um homem como ele não se interessaria
seriamente por uma solteirona de cidade pequena que sequer tinha um diploma de
universidade. Se realmente quisesse ficar com ela, não teria ido àquela festa na casa de
Jaqui. Garon se sentia atraído por Jaqui. Ela era como ele: sofisticada e dedicada à
carreira. E, com certeza, não devia estar interessada em se casar com ele.
Provavelmente, nem desejava ter filhos...
Filhos! Grace pousou a mão na barriga lisa e se sentiu mal novamente. Ela dissera
para ele que não podia ter filhos. Será que fora por isso que ele parará de vê-la? Antes
que lhe contasse isso, Garon parecera muito interessado nela.
Mordeu o lábio inferior, e lágrimas lhe arderam nos olhos. Isso explicava tudo.
Provavelmente estava sentindo o peso da idade e estava pensando em dar início a
uma família. Contudo, Grace estava fora do páreo por ser incapaz de lhe dar um filho. Era
por isso que ele a estava evitando. Não queria magoá-la, mas ela era estéril. Sim, tinha
de admitir, com certeza, era esse o motivo de Garon ter parado de procurá-la.
Ela se sentou na poltrona, permitindo que as lágrimas lhe rolassem pelas faces. A
vida fora injusta com ela. Desde o pesadelo que fora a sua infância até a indignidade final
de ser deixada apenas como metade de uma mulher, a vida falhara por completo com ela.
Poderia muito bem se acostumar a ficar sozinha, porque era tudo que poderia esperar de
sua existência. Nenhum homem queria uma esposa incapaz de ter filhos. Deveria ter se
dado conta disso!
Por fim, levantou-se, enxugou os olhos e foi preparar um bule de café para si;
mesma. Seu projeto de costura estava quase pronto. Tinha de se concentrar nisso e parar
de construir castelos nas nuvens. Superaria a perda de Garon. Era capaz de superar
qualquer coisa, já provara a sua capacidade de sobreviver a tragédias. Apenas tinha de
colocar a cabeça no lugar e parar de chorar sobre o leite derramado.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Saiu um artigo no jornal de San Antônio sobre a menina que fora morta
recentemente. Grace sentiu um frio na barriga ao lê-lo. A menina tinha apenas 10 anos de
idade. Tinha cabelo louro comprido e olhos claros. Quando pequena, o cabelo de Grace
fora comprido. E seus próprios olhos foram claros. Sentiu um terrível frio se apossar dela.
Alguém mencionara que a criança que morrera em Paio Verde também era loura.
Ate onde os órgãos de manutenção da lei podiam determinar, o assassino atacara
três vezes: em Paio Verde, em Del Rio, e agora nos arredores de San Antônio. Ele
escolhia cuidadosamente suas vítimas. Não deixava pistas nas cenas dos crimes. Era
metódico e inteligente. O artigo no jornal mencionava que ele acabara de mandar um
bilhete para o jornal local assumindo a responsabilidade por 12 mortes, em três estados e
desafiando a polícia a encontrá-lo. Ele sabia que os especialistas comportamentais do FBI
haviam sido envolvidos, para traçar um perfil do assassino desconhecido. Na carta
datilografada, ele alegara que isso de nada adiantaria. Era mais inteligente do que eles.
Prometeu que haveria muito mais vitimas. Muitas mais.
Grace abaixou o jornal e chegou a uma dolorosa decisão. Não tinha certeza se
Garon havia se dado conta de que o assassino visava um; certo tipo de criança. Ou que
havia algo a respeito do assassino que era totalmente desconhecido. O agente federal
precisava saber e havia um caso que ela lembrava, conhecido apenas por um punhado
de pessoas em Jacobsville. O que ela podia lhe contar poderia ajudá-lo a encontrar o
assassino. Já passara tempo demais se escondendo nas sombras. Não podia permitir
que outra vida fosse perdida.
Tentou o telefone, mas a secretária eletrônica atendeu. Sendo assim, seguiu de
carro para a casa de Garon. Eram apenas 19h, e o carro dele estava estacionado diante
da casa. O que significava que ele devia estar lá.
Ela subiu lentamente os degraus e tocou a campainha.
Após alguns instantes, escutou o som de passadas pesadas. Houve um palavrão
abafado antes que a porta se abrisse.
Era Garon, mas não o homem que se tornara tão passional com ela. Este era um
desconhecido, frio e indiferente, que a fitava com olhos que pareciam odiá-la.
— Lamento ter vindo sem ser convidada, mas preciso falar com você — ela
anunciou.
— Você não se toca, não é Grace? — ele perguntou com frieza. — Tentei fazê-lo do
modo mais fácil, mas você não desiste. Sendo assim, vou deixar bem claro. Não quero
vê-la novamente. Não quero ter notícias suas. Não ligue e não volte aqui.
Os olhos dela se arregalaram. As palavras a atingiram como um murro.
— Co... Como disse? — gaguejou, chocada.
— Você está à procura de algo permanente. Eu não. Não quero qualquer tipo de
relacionamento em longo prazo, ainda mais com alguém como você.
— O que quer dizer, alguém como eu? — ela perguntou atônita.
— Você é uma solteirona de cidade pequena, Grace, com poucos talentos e um
mínimo de estudo — Garon disse com firmeza, odiando as palavras ao se forçar a
pronunciá-las. — Tudo que temos em comum é atração física, e isso não dura muito.
Você precisa de um caubói estável que quer uma mulherzinha domesticada para cuidar
da casa para ele.
O rosto dela corou.
— Entendo.
Ele se sentiu como um cachorro, sendo assim, foi mais hostil do que normalmente
seria.
— Você precisava de ajuda, e eu fiz o possível por você. Mas teria feito o mesmo
por qualquer um. Você simplesmente esperava mais do que eu podia lhe dar. Estou
cansado de ver as pessoas fofocando a nosso respeito. Chega. Eu não quero você,
Grace. Vá para casa.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Ela sequer foi capaz de responder. No interior do peito, seu coração estava se
partindo. Sabia que seu rosto havia ficado mortalmente pálido. Ela lhe deu as costas,
desceu os degraus da varanda, entrou no seu carro, e foi embora.
Garon praguejou até ficar sem fôlego. Ele a fizera ir embora. Agora, tinha de viver
com a culpa que sentia pelo modo como a tratara.
Grace passou a semana seguinte vivendo no piloto automático, sem sentir
praticamente nada.
Foi para os seus empregos e ficou feliz porque Garon não veio a nenhum dos dois
lugares.
Jamais queria voltar a vê-lo.
Contudo, subitamente, ele estava em todos os lugares. Ela foi ao banco na sexta-
feira seguinte, e ali estava ele, parado na fila seguinte. Ele olhou para ela e a fitou
intensamente, como se achasse que ela o seguira ate ali. Grace o ignorou.
No dia seguinte, o local de pescaria da região abriu para negócios, uma lagoa
repleta de robalos e tilapias onde os clientes podiam alugar o equipamento e pescar o
quanto quisessem pagando pelo quilo do pescado.
Grace estava empolgada, porque normalmente se inscrevia nas competições de
pesca do verão. Pegou sua vara, isca e o balde de peixes e seguiu de carro para a lagoa.
Ela estava lotada de gente, o que não era incomum para aquela época do ano. Afinal de
contas, já estavam quase na primavera e o dia estava extraordinariamente quente. Ela
estava usando jeans e uma blusa justa, com uma larga camisa de flanela quadriculada
por cima. Ela e o avô costumavam pescar juntos. Ele lhe ensinara tudo que sabia a
respeito do esporte.
Sua esperança fora tirar Garon da cabeça, porque era doloroso lembrar-se das
coisas que ele lhe dissera. Contudo, ela se deteve bruscamente quando já estava quase
na lagoa, porque ali estava Garon, também usando jeans e uma camisa de cambraia,
com uma vara de pesca de carretel, postado na margem.
Ele se virou e a viu de pé atrás dele, e seus olhos brilharam de fúria. O agente
federal largou a vara e avançou na direção dela. Intimidada pela expressão no rosto dele,
Grace deu um passo para trás.
— Eu lhe disse que não estava interessado; Grace — ele disse, por entre os dentes.
— Seguir-me para todos os lados não vai adiantar de nada! Será que não entendeu? Eu
não a quero.
Ele foi escutado longe. Pelo menos um dos pescadores era cliente do Barbara's
Café. Ele fitou Garon com surpresa, depois, olhou com pena para Grace, que estava
corada e se sentindo mal.
Ela girou nos calcanhares e marchou de volta pelo portão afora, seu coração a
sacudindo com suas palpitações irregulares. Um animal! Como ele pôde constrangê-la
daquele jeito? Por que ele achava que ela tinha tão pouco orgulho, que não podia deixar
de persegui-lo como uma predadora?
Ela praguejou; baixinho e voltou para o carro. Jogou a parafernália toda no banco de
trás, deu a partida no carro e voltou para casa.
Era fim de semana, não tinha de trabalhar. Em vez disso, terminou o pequeno
projeto de costura e enviou pelo correio o pacote que carregava todas as suas
esperanças para o futuro.
Terminou de podar suas rosas, plantou mais duas que pedira pelo correio e limpou a
casa de cabo a rabo. Dormiu bem de tanta exaustão. Contudo, sonhou com Garon, e os
sonhos zombaram dela com o que ela jamais teria com ele.
Na manhã de segunda-feira, voltou a trabalhar na floricultura de Judy e passou o dia
trabalhando em coroas para dois enterros de moradores da região. Pelo menos, quando
estava trabalhando, era possível esquecer Garon por alguns minutos seguidos. Se ao
menos conseguisse esquecê-lo de vez!
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Na edição da Harlequin veio faltando um trecho enorme, e como a falta dele prejudica a
compreensão, ele foi inserido no texto, e está grifado em vermelho. O trecho faltante foi traduzido pela
Camila Guazelli e disponibilizado no blog http://su-romanticgirl.blogspot.com/2010/12/diana-palmer-
homem-da-lei-harlequin.html
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Ela não estava caçando Garon. Ela desejou saber o que fazer para que ele
pudesse entender, e parar de acusá-la de coisas que não estava fazendo. Mas ela não
sabia como. Obviamente ela não podia ligar ou escrever, porque ele teria uma prova
contra ela. Ela não sabia como vencer. Isso foi a gota d’água.
Ela ficou mais pálida e magra. O estresse da rejeição dele estava lhe causando
noites insones e outros problemas de saúde. Mas ela não faltava ao trabalho, apesar do
medo de encontrá-lo e causar problemas de novo.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Foi um dia ocupado. A corte superior estava em sessão, e Jacobsville era o banco
do distrito de Jacobs, então haviam muitas pessoas na cidade para casos que estavam
almoçando lá. O café tinha um movimento atordoante quando a corte estava em sessão.
Barbara anotava os pedidos e os entregava a Grace, que os preparava e trazia a comida.
Geralmente havia também outra garota, mas ela estava doente.
Havia um pedido sem nome, sanduíche e fritas. Ela preparou os dois e os embalou,
então saiu ao salão, onde Barbara estava preparando as contas.
— Não tem nome — Grace começou.
— Oh, é para Garon Grier — veio a resposta inesperada.
Grace sentiu o coração afundar. Antes que conseguisse falar, ele estava lá,
entrando pela porta, com Jaqui pendurada em seu braço.
Grace caminhou na direção dele com a sacola, o coração tremendo.
Os olhos dele pareceram explodir de fúria.
— Bom Deus, de novo não! — ele exclamou — Você tem radar? Em todo maldito
lugar que eu vou, você aparece! Como você soube que eu viria aqui? Você tem alguém
me espionando, para ter certeza de que você não perca uma oportunidade de arruinar
meu dia? — ele exigiu.
— Você não entende — Grace começou lentamente, tentando falar com ele apesar
do medo que a assolava.
— Não, você não entende! — ele zombou, aproximando-se — Você é grossa como
uma planta, Grace. Eu não quero você em minha vida! Quantas vezes eu terei de dizer
até você acreditar?!
Grace afastou-se, rápido, o rosto lívido, as mãos tremendo no papel que carregava.
Ela estava assustada com a autoridade e a fúria. Violência a apavorava.
Barbara apareceu a seu lado de repente. Ela deslizou um braço pelos ombros de
Grace.
— Está tudo bem, querida — ela disse gentil — Eu cuidarei disso. Volte para a
cozinha, ok?
Grace estava chocada.
— Ok — ela entregou o pacote para Barbara e foi em direção a cozinha, lágrimas
escorrendo dos olhos.
— Isto — Barbara disse friamente, com todos os olhos do lugar plantados nela — É
seu pedido. Grace estava trazendo para você porque é o emprego dela. Ela trabalha aqui!
Ela é minha cozinheira!
Garon sentiu o chão desaparecer sobre seus pés. Ele não sabia que Grace era
uma funcionária, que ela trabalhava para Barbara. Ela nunca dissera a ele.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Grace não respondeu. Ela sabia que Marquez gostava dela. Ela gostava dele,
também, mas não o amava.
— Talvez, algum dia — Barbara disse nebulosamente — Mas por enquanto, vá
para casa e faça as malas. Ok?
Grace abraçou-a.
— Ok.
Capítulo Onze
Grace colocou na mala roupas suficientes para uma semana. Na mesma tarde do
ocorrido com Garon, ligou para o primo idoso. Ele recebeu de bom grado a notícia de sua
visita. Grace teve de admitir que fosse um alívio passar algum tempo longe do cruel
vizinho. Sequer suportou olhar para a casa dele ao passar por ela na saída da cidade.
Sua atitude havia lhe destroçado o coração. Garon lhe dera todos os motivos para
acreditar que gostava dela tanto quanto ela gostava dele. Sabia que ela era inocente,
contudo, ainda assim, á seduzira e depois, quis dar a impressão de que apenas saíram
algumas vezes sem compromisso. Era óbvio que o sexo nada significava para ele.
Contudo, significava tudo para Grace.
Ela pegou a estrada que levava a Victoria. Seu carro estava funcionando muito bem,
graças ao mecânico de Garon. Ela considerava aquele um dos poucos benefícios do
relacionamento trágico dos dois. Torceu para ser capaz de congelar o próprio coração
enquanto estivesse fora. Jamais queria que um homem chegasse às suas emoções como
Garon chegara. Deveria saber que não podia confiar nos homens.
De sua varanda, Garon viu o carro de Grace deixar a frente da casa dela e seguir
pela estrada.
Ele ainda estava atordoado pela maneira como Barbara defendera a empregada.
Como diabos ele poderia saber que Grace trabalhava no restaurante? Ela jamais
conversara sobre trabalho com ele. Jaqui ficou furiosa por ter sido expulsa. Cidades
caipiras e seus habitantes idiotas com suas mentes estreitas; esbravejara. Bastava olhar
para alguém para todo mundo escutar os sinos da igreja tocando. Ela proferiu injúrias por
quase dez minutos, durante todo o percurso até em casa.
Ninguém parecia se der conta de que Grace o estava perseguindo. Ele era a vítima,
não a queridinha protegida da cidade. Contudo, Garon se sentiu mal ao se lembrar de
Grace recuando, trêmula, ante a sua aproximação furiosa no café. Ele não era do tipo que
machucava mulheres. Não conseguia se recordar de já ter tratado outra como tratou
Grace. Na ocasião, parecia ser necessário.
Mas agora...
Enviara um de seus empregados até o armazém para comprar suprimentos, apenas
para ser informado de que eles não estavam mais trabalhando com a marca que ele
usava. Sugeriram que ele comprasse sua ração e suprimentos para o rancho em San
Antônio. Também não terminou por aí.
Quando contatou os Ballenger sobre a pastagem do seu rebanho, soube que esta-
vam lotados.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
— São águas passadas. Por que me chamou aqui? — Marquez sorriu. — Será que,
enfim, descobriu que está apaixonada por mim e quer me oferecer uma aliança de
diamantes?
Ela o fitou; boquiaberta e, em seguida, desatou a rir.
— Seu idiota!
— Valia á pena tentar. Vamos, vamos, tenho um traficante me esperando e não
posso demorar muito para cuidar dele. Não posso ficar muito tempo.
Ela sorriu, lembrando-se de Marquez como um delinqüente juvenil que estava
sempre metido em confusões na época da escola. Normalmente, nada sério, mas ele
jamais conseguia ficar tranqüilo.
Grace ficou séria.
— É sobre a menina que foi morta.
Ele ficou imóvel.
— E?
— Eu me lembrei de algo — ela disse. — Tentei contar para Garon, mas ele achou
que eu fui até a casa dele simplesmente porque ele não havia me ligado.
— Eu soube.
Ela inspirou profundamente o ar frio da noite.
— Todas as crianças tinham cabelo louro — ela disse.
Ele franziu a testa.
— Bem... É, tinham sim.
— E olhos claros.
Ele assentiu.
— E fitas... Vermelhas.
Subitamente, Marquez ficou muito calado. Ela fitou as mãos sobre o colo.
— Rick, você estava fora quando aconteceu — ela contou. — Mas alguém, talvez
Barbara, deve ter lhe contado algo a respeito.
— Muito pouco. Com exceção do fato de que você foi traumatizada por um maníaco
sexual. — Ele hesitou. — Não me senti à vontade perguntando-lhe a respeito disso.
Ela o fitou e sorriu gentilmente.
— Obrigada.
Ele deu de ombros.
— Eu mesmo sou uma pessoa reservada. Eu entendo.
Ela apertou os dedos ao redor da corrente do balanço.
— Apenas algumas pessoas souberam da verdade. O caso foi abafado — ela
revelou. — Minha avó ficou histérica. Minha mãe soube pela vovó e, na mesma noite,
cometeu suicídio.
— Sua mãe? — ele exclamou. — Por quê?
— Quem sabe? Vovó disse que mamãe se sentiu responsável, porque ela me tirou
de sua vida e me deixou à mercê de uma velha amarga que bebia álcool em excesso
quase todas as noites.
— Não sabia que a velha Sra. Collier bebia — ele admitiu.
— Ela ficou sóbria quando teve de vir me ver no hospital. Eu estava... Eu estava
péssima. — ela se mexeu no balanço. — Se você viu o corpo da última criança
assassinada, talvez tenha alguma idéia de como eu estava.
— Bom Deus! — ele exclamou.
— Tive sorte — Grace prosseguiu. Era bom falar sobre aquilo, após tantos anos de
silêncio. — Ele entrou em pânico. Não sabia bem o que fazer para me estrangular até a
morte. Era desajeitado com a fita vermelha e, em seguida, escutou as sirenes da polícia
se aproximando. Ele me esfaqueou repetidamente com um canivete. Estava sentindo
muita dor, contudo, mesmo aos 12 anos, eu sabia que se não me fingisse de morta,
estaria morta. Prendi a respiração e rezei, e rezei. E ele fugiu. Alguém alertara a polícia
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
quando o vira atravessando um campo sob o luar, me carregando. Jamais soube quem,
mas me salvou a vida. — Ela olhou para ele, notando-lhe a intensa fúria. —
Aparentemente, não é tão fácil assim enforcar alguém, mesmo uma criança.
— Não, não é — Marquez confirmou. — São necessários vários minutos de pressão
concentrada. Um nó com um graveto apertando-o é mais fácil do que usar as mãos,
contudo, ainda leva um ou dois minutos para matar uma pessoa.
— Lembro-me das mãos dele mais do que tudo — Grace disse, pouco à vontade. —
Eram magras e pálidas, de aparência frágil. Eu consegui avistá-las por baixo da venda.
Acho que uma delas tinha cortes profundos. Não eram nada parecidas com as do meu
avô, que fora delegado do xerife e trabalhara com cavalos. Ele tinha mãos esbeltas, fortes
e bronzeadas. Mãos boas.
— Eles a levaram a um médico? — Rick perguntou quando ela ficou em silêncio.
Grace inspirou profundamente.
— O Dr. Coltrain acabara de se formar. Fui uma de suas primeiras pacientes — ela
acrescentou, com um sorriso. — Aprendi alguns palavrões novos escutando-o me
examinar. Ele foi muito eloqüente.
— Ainda é — Marquez afirmou.
— De qualquer modo, precisei de um pouco de cirurgia e muitos pontos. Perdi um
ovário, o baço e até o meu apêndice — ela acrescentou. — Disseram que eu só teria
filhos por um milagre. Como se, depois daquilo, eu iria querer me casar com um homem e
lhe dar algum poder sobre mim — ela completou, com tristeza, tentando não se recordar
de como os braços fortes de Garon haviam sido reconfortantes na escuridão.
Ele fugira dela com tanta pressa ao descobrir que ela não poderia ter filhos.
Contudo, depois do modo como ele a tratara, era até melhor que ela fosse mesmo estéril.
— Um repórter escutou algo na banda da polícia. Não o suficiente para descobrir a
verdade, mas o bastante para deixá-lo curioso. Ele veio até minha casa xeretar. Minha
avó ligou para Chet Blake. Chet disse para o homem que eu havia sido atacada por um
louco e que estava com amnésia, que não me recordava de nada do incidente. Isso
pareceu satisfazer o repórter, pois ele foi embora e ninguém o viu novamente. Contudo,
após ele ter ido embora, minha avó teve medo de que o homem que me abduziu pudesse
voltar e terminar o serviço; caso a história se espalhasse. Que, mesmo eu tendo estado
de olhos vendados o tempo todo, ele poderia achar que eu poderia identificá-lo. Sendo
assim, nosso chefe de polícia, Chet Blake, escondeu o arquivo. Disse que eu tinha sido
atacada por um paciente fugido de um sanatório, que tinha amnésia e que sequer me
lembrava de como eu tinha me machucado. Todo mundo próximo a mim jurou que era
verdade. O jornal publicou uma história dizendo que uma criança fora atacada por um
paciente fugido de um sanatório e que ela não conseguia se lembrar de nada do que
acontecera. Disseram que o paciente fora levado de volta para a instituição de onde
fugira, e que eu estava passando bem. Foi uma história pequena demais para chegar aos
jornais da cidade grande, sendo assim, isso foi o fim de tudo. Se o homem verificasse o
que eu contei para a polícia e lesse o nosso jornal, se sentiria em segurança. — Ela olhou
para ele. Tive tanto medo de que ele tentasse de novo com alguma outra criança. E ele
está não está, Rick? Ele ainda está aí fora, só que, agora, está matando crianças. Não
queria ser protegida à custa da vida de alguma outra pessoa, só que ninguém quis me dar
ouvidos. Eu mesma não passava de uma criança. Desde então, tenho tido de conviver
com isso.
— Diabos!
Ela suspirou pesadamente. As lembranças eram sufocantes, ameaçadoras. Ela
apertou uma das mãos com a outra.
— Senti-me culpada por não me apresentar e contar a verdade.
— Você era uma criança, Grace. Não teve nada a ver com o que foi decidido.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
— Só que não sou mais uma criança. Não poderia fazer uma identificação visual,
contudo, eu me lembraria de sua voz. Você poderia pelo menos dar uma olhada no
arquivo e ver o que eles guardaram de evidência. Sei que eles coletaram algumas amos-
tras e ficaram com minhas roupas de baixo. — Ela engasgou, engolindo em seco. Não
queria se lembrar do resto. — Talvez haja alguma outra coisa que possa ajudar com a
investigação.
— Sim, mas... Grace, se Chet escondeu o arquivo, como é que vamos encontrá-lo?
— Você vai encontrá-lo. Sei que vai. Quero que vá até El Paso e fale com o chefe
Blake. Quero que lhe diga que temos de dar aquela informação para a força-tarefa. Eu me
esforçarei para lembrar tudo que ele falou qualquer coisa que possa ajudar a identificá-lo.
Fiquei naquele lugar durante três dias.
Marquez não falou por vários segundos.
— Grace, de que adiantaria reabrir este caso após 12 anos? — ele argumentou. —
Temos evidência de DNA coletada da última vítima. Temos pistas. Se abrirem aquele
arquivo, alguém vai acabar dando com a língua nos dentes. Qualquer fofoca sobre o caso
poderá colocá-la em perigo. Ele poderá voltar e matá-la, para silenciá-la.
— Sei disso. Mas ele matou muitas meninas — ela retrucou com tristeza. — Quem
sabe eu não poderia ter salvado algumas delas se...
— Pode parar aí mesmo — Marquez disse com firmeza, segurando-lhe a mão fria.
— Por todos os lugares há maníacos sexuais que abusam de crianças. Mesmo que
estivesse morando na mesma cidade que o criminoso, agora mesmo, não poderia evitar
um seqüestro! Já houve muita cobertura da imprensa sobre este maníaco. Os pais sabem
que têm de vigiar seus filhos, mas este sujeito é muito esperto. Apenas avisar as pessoas
não vai detê-lo.
Ele se moveu irrequietamente.
— Pode ser que não. Mas acho que posso ter sido a primeira vítima dele. — ela
prosseguiu. — Ele ficou nervoso no último dia em que ficou comigo. Usou um canivete, só
que eu tinha ganhado um bocado de peso naquele ano. Estava com a barriga gorda, e
isso salvou a minha vida. Ele achou que eu estava morta, entrou em pânico e fugiu.
Consegui gritar. Alguém me escutou e fui encontrada a tempo. — Ela fitou a escuridão. —
Ele me tirou da minha própria cama, no meio da noite, com a minha avó dormindo no
quarto ao lado. Se ela não tivesse bebido, talvez tivesse escutado alguma coisa. Ela me
odiou pelo resto de sua vida, porque todo mundo soube que ela estivera bêbada demais
para trancar direito a casa. Ela fingia ser um pilar moral da sociedade. Aí, eu fui levada, e
a verdade veio à tona.
— Ela deveria ter sido acusada de negligência criminosa — Marquez retrucou com
veemência.
— Ela está morta. Com exceção de mim, todo mundo está morto, Rick — Grace
afirmou com tristeza. — Não faz mais diferença. Pegar o lunático faz. Você precisa
convencer o chefe Black a lhe revelar onde está o arquivo. Pode haver algo nele que lhes
dê uma pista que leve ao assassino, ainda mais se, de fato, eu fui a sua primeira vítima.
Ele pode ter cometido algum erro que é experiente demais para cometer agora. E esse
único erro pode ajudar a pegá-lo.
Ele sorriu gentilmente.
— Você é uma mulher e tanto.
Ela encostou a cabeça no ombro dele. Era a primeira vez que o tocava
voluntariamente.
Marquez era um bom homem.
— Eu queria poder ser quem você quer que eu seja Rick — afirmou com
sinceridade. — Você é o melhor homem que eu conheço.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Ele sentiu um aperto no coração. Tê-la aconchegada junto a si, confiando tanto nele,
o encheu de humildade. Queria tomá-la nos braços e beijá-la até que Grace gemesse e
fizesse amor com ele.
Contudo, isso jamais iria acontecer. Ele a amava. Ela não. Era apenas amiga dele.
Mas mesmo isso era melhor do que nada.
Hesitantemente, ele passou o braço ao redor dela, deixando-o ali quando ela não
protestou.
Seu coração batia forte no peito, mas Marquez a abraçou de maneira reconfortante
e platônica.
— E você é a melhor mulher que eu conheço — ele retrucou. Escutou-lhe o suave
suspiro quando ela relaxou de encontro ao seu ombro. Aquele momento foi mais gostoso
do que mel fresco.
Pelo menos ela gostava dele, confiava nele. Quem podia dizer se, um dia, ela não
se daria conta de que ele era um bom partido. Precisava apenas ser paciente e não trocar
os pés pelas mãos.
Ele voltou a colocar o balanço em movimento. Ao redor deles, a noite era tranqüila e
silenciosa.
Nos dias que se seguiram, Garon foi trabalhar tentando não pensar em Grace. Ele
apareceu com todo seu pessoal para atender a um chamado de um roubo de banco. Foi a
mesma quadrilha, com suas armas automáticas. Dessa vez, feriram um guarda e um
cliente. Após reunir-se com o seu esquadrão, colocou quatro deles vigiando bancos.
Enquanto isso coordenava a força-tarefa do assassino em série, organizava seus casos e
distribuía tarefas para os membros de seu esquadrão; escoltava dignitários visitando a
cidade e punha em dia a papelada. Contudo, sua consciência ainda o atormentava com
relação á Grace. Poderia ter sido menos cruel. Em tantas maneiras, ela era como uma
criança. Não estava acostumada com as pessoas deliberadamente magoando-a. Talvez
tivesse sido como Marquez dissera, uma coincidência ela estar, nos mesmos lugares que
ele.
Duas semanas após ela deixar a cidade, seu irmão Cash ligou para ele, uma tarde,
chamando-o para dar uma passada na delegacia.
— Por que aqui e não em casa? — perguntou ao irmão com um sorriso, ao adentrar
o escritório.
Cash não retribuiu o sorriso. Estava sério. Fechou a porta do escritório e sentou-se
atrás de sua mesa.
— Marquez voou até El Paso e conversou com nosso primo, Chet Blake — Cash
informou. Estava com as mãos cruzadas sobre um envelope de papel pardo. — Houve
uma tentativa de assassinato envolvendo uma criança aqui em Jacobsville, 12 anos atrás.
É idêntica ao caso em que você e Marquez estão trabalhando. O arquivo foi lacrado e
escondido porque Chet teve receio de que o homem pudesse retornar para terminar o
serviço caso soubesse que a criança sobrevivera.
Garon franziu a testa.
— A criança sobreviveu? Há uma testemunha?
— Há. É um caso trágico. Ela foi levada de sua própria cama até um chalé
abandonado nos arredores da cidade. Ficou presa lá por três dias — Cash informou por
entre os dentes cerrados. — Ninguém sabe o que ele fez com a menina. Ela jamais falou
disso com outra pessoa. Seus ferimentos foram quase fatais. Passou semanas no
hospital. Houve uma busca pelo criminoso, mas ele não foi achado. Simplesmente
desapareceu.
— A criança foi uma menina?
— Foi. Tinha 12 anos de idade na época. Como suas outras vítimas, tinha
compridos cabelos louros e olhos claros.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
— Por que em nome de Deus não compartilharam tal informação com o FBI? —
Garon indagou, irritado. — Poderia ter salvado vidas! Ainda mais com uma testemunha
viva capaz de identificá-lo!
— Ela estava vendada. O tempo todo. Escutou sua voz. Só isso.
— Mas encobrir tudo...!
— Jacobsville é uma cidade pequena, e a família tinha influência — Cash explicou.
— Você conhece Chet. Não gosta de confrontações. Disseram-lhe o que fazer, e ele o
fez. Á contragosto eu devo acrescentar.
Garon deixou escapar um suspiro áspero.
— Bem, o que há no arquivo? Tem algo sobre uma fita vermelha?
— Tem.
Cash deslizou a pasta para o irmão. Observava Garon com uma expressão
estranha.
Garon não entendeu por que, até abrir a pasta e ver a primeira das fotografias
tiradas na cena do crime e da criança na ocasião de seu resgate.
A menina era gordinha, como algumas crianças costumam ser ao chegar à pré-
adolescência.
Estava coberta de sangue. O cabelo louro e comprido chegava a estar empapado de
tanto sangue. Assim como o short de algodão, a blusa estava rasgada. As pernas e os
pés descalços estavam cobertos de sujeira. A próxima série de fotos foi tirada no hospital,
sem as roupas. Sua barriga exibia vários ferimentos à faca. Os braços e as pernas
estavam cobertos de hematomas.
Estava com um olho roxo e a boca estava inchada. Havia sangue ao redor dos
pequenos bicos rosados dos seios.
O estrago espelhava aquele feito na criança morta cuja autópsia Garon vira, exceto
pelo fato de que esta pobre vítima sobrevivera. Estudou as fotos, depois, virou-se para
pegar o boletim de ocorrência, que dava o nome da vítima.
A respiração de Garon pareceu explodir no silêncio do escritório. Seu coração
pareceu parar de bater. O nome da criança era Grace. Grace Carver.
Lembranças passaram em alta velocidade diante de seus olhos. Grace, tímida e
com medo dele. Grace permitindo que ele a pegasse no colo com os olhos arregalados e
amedrontados. Grace agarrando-se a ele. Grace, nos seus braços, na sua cama,
amando-o. Grace segurando-lhe a mão e irradiando alegria. Grace recuando diante dele
no Barbara's Café...!
As peças do quebra-cabeça começaram a se encaixar. Grace era inocente porque
fora seqüestrada, atacada e quase morta por um maníaco homicida. E ele fizera pouco de
sua experiência. Pior ainda, ele a seduzira e, em seguida, á expulsara de sua vida, como
um homem descartando uma toalha usada.
Ele colocou o rosto nas mãos e buscou uma justificativa para o que fizera com
aquela pobre alma torturada, devido ao próprio medo de que ela estivesse chegando
perto demais dele. Bom Deus pensou dolorosamente, o que foi que eu fiz!
Cash não era cego. Escutara as fofocas a respeito de Garon e Grace, ainda mais
nas últimas semanas, quando fora forçada a deixar a cidade para dar fim aos sussurros.
Ele e Garon não eram muito chegados, por isso não fizera nenhuma pergunta. Contudo, o
homem diante de si, agora, não parecia muito arrogante.
Garon se recostou na cadeira. Seus olhos estavam vidrados. Ele perdera toda a cor
no rosto magro. E o choque era evidente.
Estava tentando aceitar os próprios atos. Não era à toa que se tornara um pária
após seu comportamento com Grace. As pessoas importantes da cidade sabiam a
verdade a respeito do que acontecera com ela. Ficaram felizes que ela tivesse encontrado
alguém que pudesse lhe curar as feridas emocionais, que pudesse lhe proporcionar um
pouco de felicidade. As fofocas sobre os dois não haviam sido maliciosas, nem uma
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
tentativa de casar os dois. Fora apenas demonstrações de felicidade que, depois de tudo
pelo que Grace passara, ela tinha a chance de um futuro amoroso para compensar a dor
do seu passado.
Em vez disso, o destino a chutara mais uma vez. Com a ajuda de Garon.
O agente federal suspirou lentamente.
— Marquez queria lhe contar pessoalmente — Cash informou, após um instante. —
Contudo, depois que ele soube dos detalhes do caso, achei que não era uma boa idéia
ele ficar muito perto de você.
Garon fitou inexpressivamente o irmão.
— Ele não sabia?
— Grace não contou para ninguém. Junto com este arquivo, Chet lhe deu todos os
detalhes. Até hoje, ninguém sabe ao certo o que o animal fez com ela nos três dias em
que a manteve prisioneira.
Ele estava lembrando-se da criança morta, da terrível mutilação de seu jovem corpo.
Poderia ter sido Grace. Ela poderia estar morta em vez de emocional e sexualmente
traumatizada e abandonada para morrer. Foi como um pesadelo. Garon jamais pensara
em si mesmo como um monstro. Até então.
— Houve alguma evidência vestigial? — perguntou, forçando o cérebro entorpecido
a trabalhar.
— Houve. E aposto o meu distintivo que o DNA vai bater com o que vocês
encontraram na última vítima.
— DNA. — Ele fitava Cash com incredulidade, enquanto a verdade se assentava no
seu coração. — DNA.
Garon rangeu os dentes. O desgraçado estuprara Grace!
Levantou-se da cadeira com um único movimento poderoso, quase tremendo de
tanta raiva e desprezo por si mesmo.
Cash lhe bloqueou a passagem antes que ele pudesse seguir para a porta.
— Sente-se.
— Eu não vou me sentar!
— Eu disse para se sentar!
Cash o empurrou de volta para a cadeira e se posicionou diante dele, poderoso e
impassível.
— Lembre-se de quem e do quê você é — disse por entre os dentes cerrados, com
seus olhos escuros fixos nos do irmão. Não pode sair daqui como um louco furioso,
perseguindo sombras. Você sequer tem um suspeito. O que vai fazer colher amostras de
DNA de todos os homens nos Condados de Jacobs e Tarrant?
Dito assim parecia mesmo absurdo. Contudo, Garon não estava pensando direito.
Estava furioso. Queria machucar alguém. Queria encontrar o maníaco sexual e
estrangulá-lo bem lentamente com as próprias mãos. Não se lembrava de já ter sentido
uma fúria tão descontrolada.
Pelo menos, não desde que perdera o seu amor, havia muito tempo...
Contudo, já passara tempo demais vivendo no passado. Ele o usara para evitar
qualquer vínculo emocional, para se manter a salvo de qualquer outra relação. Estava
sozinho por opção.
Contudo, Grace pagara o preço por seu deslize. Ele a destroçara para salvar a si
mesmo. Ela jamais o perdoaria...
Fitou Cash ao se dar conta disso, Grace emergira do pesadelo que era a sua vida e
estendera a mão para Garon com esperança e expectativa. Ele a rejeitara bruscamente,
atacando-a verbal e emocionalmente. Ele a assustara tanto no café que ela chegara a
recuar de medo dele, tremendo feito; vara verde. Ele fizera isso com ela, quando o único
crime de Grace fora querer amá-lo.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Fechou os olhos ante a onda de dor. Grace enviara Marquez para El Paso para
descobrir o capítulo mais terrível de sua vida.
Ela o fizera; não por si mesma, mas para tentar evitar que alguma outra criança
tivesse de passar pelo que ela passara. Estava disposta a correr o risco que reabrir o
caso pudesse trazer o assassino de volta para terminar o que ele já começara.
Com um estalo, se deu conta do que deixara de entender desde o instante em que
Cash lhe entregara a pasta do caso. Grace era a única pessoa viva que poderia identificar
o infanticida. E compartilhar o seu caso com a polícia poderia muito bem acabar lhe
custando á vida também.
Capítulo Doze
Foi uma longa viagem até Victoria. Sábados no início da primavera costumavam
trazer todos os motoristas de final de semana para a estrada. Normalmente, Garon
costumava não se incomodar com os engarrafamentos, mas estava ansioso para chegar
ao seu destino. Não sabia muito bem como o faria, mas precisava convencer Grace a
voltar para casa.
Ligara para o celular de Marquez, mas não obtivera resposta. Provavelmente, o
homem mais jovem ainda estava furioso, e sem vontade de falar com ele. Não que
pudesse culpá-lo. O detetive amava Grace. O fato de Garon ter feito Grace sofrer tanto
não deve tê-lo agradado nem um pouco.
O agente federal estava usando uma jaqueta leve, da qual provavelmente não iria
precisar.
Estava um dia quente e ensolarado. O utilitário diante dele tinha uma canoa presa
ao porta-bagagem e varas de pescar saindo através da janela de trás. Pescar. Ele fez
uma careta, lembrando-se de como exagerara na sua reação ao deparar-se com Grace
na lagoa, onde ocorreria a pescaria.
O primo dela morava na beira da estrada, em um bosque de nogueiras. Havia uma
estrada de terra que levava á casa. Era uma casa velha, de tábuas brancas, um andar,
duas chaminés e uma varanda comprida que continha cadeiras de balanço, um sofá e um
balanço, todos pintados de verde.
Ao lado da casa, havia uma enorme lagoa com um deque. Ao olhar na sua direção,
Garon piscou os olhos. Grace estava ali, usando uma calça cortada na altura do joelho e
uma camiseta vermelha, curvada sobre o que parecia ser um; balde de peixes.
Ele desceu do utilitário e caminhou; na direção da lagoa, os óculos de sol
escondendo a apreensão nos seus olhos escuros.
Agora, os óculos de sol eram uma opção individual. Porém, quando ainda fazia parte
da Equipe de Elite de Resgate de Reféns, todo mundo copiava os óculos escuros do líder
da equipe.
Aqueles foram bons dias, trabalhando junto a um perito grupo de profissionais. Seu
trabalho agora, mesmo à frente do esquadrão de combate ao crime, era bem menos
estimulante. Também era menos estressante. Talvez, um dia, isso viesse a parecer um
benefício.
Grace o viu chegando e se empertigou. Ela ergueu o queixo. Estava descalça e não
usava qualquer maquiagem. O cabelo estava preso em uma trança que descia por entre
suas omoplatas.
Não estava usando óculos de sol e não estava sorrindo. Em uma das mãos, trazia
uma vara comprida com uma rolha, chumbos e um anzol na ponta da linha.
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— Para começo de conversa, que ele gosta de menininhas com cabelo louro
comprido e olhos claros — ela respondeu, tentando passar a impressão de estar mais
calma do que realmente se sentia. — Ele também me disse que vinha me observando na
escola. Sabia que eu morava com a minha avó e que ela bebia até apagar na cama. Ele
achou divertido me tirar da casa dela, através da janela, no meio da noite. Disse que
sonhara em colecionar meninas louras da minha idade, com cabelos compridos, que ele
nos amarraria com fitas vermelhas, para que todo mundo soubesse que pertencíamos a
ele. Acredito que seja isso que no seu ramo chamam de "assinatura" de um assassino.
— Sou formado em justiça criminal — ele retrucou. — Não traço perfis. Isso fica a
cargo da Unidade de Ciência Comportamental em Quântico.
Ela lhe lançou um olhar fumegante.
— Se há uma criança morta em San Antonio, e também houve crianças mortas em,
Del Rio e Paio Verde, separadas apenas por cerca de um ano, de descrições
semelhantes e mortas em estilo semelhante, você está procurando um assassino em
série.
— Talvez queira colocar isso por escrito e enviar para o tenente de Marquez — ele
sugeriu. — Ele ainda não considera isto um crime em série.
— Ou, quem sabe, simplesmente não goste do FBI e está tentando impedir que
assumam o caso — ela contra-argumentou com doçura.
— Casos criminais não é propriedade. Ninguém é dono deles.
Ela pegou a caixa de isopor e a vara de pescar.
— Se é o que diz.
Ela estava indo embora.
— Eu vi o arquivo — Garon exclamou. — E as fotos.
Ela parou no mesmo instante. Sua coluna se empertigou. Mas Grace não se virou.
Ele se aproximou dela, virou-a e fitou-lhe o rosto tenso e pálido.
— Você me disse que as cicatrizes foram por conta de um acidente automobilístico.
Ela se recusou a encará-lo.
— Foi o que minha avó me ensinou a dizer — retrucou. — Pensei que ela estivesse
sendo evasiva e antiquada. E, então, quando eu tinha 16 anos, um dos garotos novos na
escola me convidou para sair. Eu lhe contei apenas um pouquinho do que houve comigo.
— Ela não olhou para ele ao desenterrar a lembrança do passado. — Fomos a uma
lanchonete. Notei que ele estava me olhando de um modo muito estranho. Perguntei por
quê. Ele me disse que queria saber exatamente o que o homem que me abduzira fez
comigo, como foi e se eu gostei do que senti.
O modo como Garon prendeu a respiração foi bem eloqüente.
— Isso mesmo — ela disse ao fitar-lhe o rosto. — Nem todas as pessoas doentes
estão na cadeia ou sendo tratadas por psiquiatras. Senti-me mal. Sequer permiti que ele
me levasse embora. Liguei para casa e ela mandou Rick para me pegar. Se dependesse
dele, Rick teria dado uma surra no garoto, mas achei que não ficaria bem na ficha dele.
Então era por isso que Marquez a protegia tanto. Os dois tinham uma história juntos.
Isso incomodou Garon.
— Depois disso, parei de vez de sair. A não ser que conte ajudar Barbara e Rick a
enlatar legumes, todo verão, após a colheita, como uma vida social. O que quer saber? —
ela perguntou à queima-roupa.
— Qualquer coisa que possa lembrar — ele respondeu, desviando o rosto.
— Não gosto de me lembrar — Grace retrucou com sinceridade, pousando no chão
a caixa de isopor. — Ainda tenho pesadelos.
Ele se recordou do que ela tivera em sua casa. Agora que sabia a verdade, sentia-
se ainda mais culpado.
— Cash falou que Chet lhe contou que seu seqüestrador ficou com você por três
dias, e que você jamais falou nada a respeito.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
— Ele está certo. Eu jamais contei para ninguém. Nem mesmo para Chet Blake,
logo após o ocorrido. — Ela amarrou a cara. — Se espera que eu identifique o sujeito em
uma fila para reconhecimento ou em uma fotografia, está sem sorte. Ele me manteve
vendada o tempo todo.
— Ele falou com você.
Ela engoliu em seco. A náusea se manifestou em sua garganta.
— Falou.
A palavra pareceu quase engasgá-la.
— Você se recorda da voz dele.
Ela mordeu o lábio inferior.
— Ele me disse que eu parecia á madrasta dele. Tinha uma fotografia dela ainda
criança.
— O quê?
— Ele disse que fazia xixi na cama e que ela o forçava a usar um vestido e uma fita
vermelha no cabelo. Disse que ela o mandou para a escola desse jeito quando começou
a estudar e que o professor o mandou de volta para casa. Todo mundo riu. Amarrou o
meu cabelo com a fita, porém, mais tarde, após ter tentado me estrangular, e não
conseguir amarrou-a ao redor do meu pescoço. — Ela voltou a engolir para conter a
náusea. Era difícil tentar lembrar-se disso. — A fita não era comprida o suficiente. Ele
tinha mãos brancas, muito brancas, e não conseguia puxar a fita com força o suficiente
para me matar. Disse que era culpa dela as mãos não funcionarem direito. Ficou furioso.
Sacou o canivete e me esfaqueou, repetidamente...
— Está tudo bem — Garon disse com a voz baixa, tranqüilizante. — Não force.
Grace estava; tremendo. Teve de se esforçar para recuperar o controle.
Ele a observou, preocupado. Não queria tocar nela. Sabia que, se o fizesse, Grace
ligaria o gesto ao que ele fizera com ela. Permitiu que ela enfrentasse; sozinha os seus
demônios.
Tirando do bolso o Black Berry, começou a digitar algumas anotações. Subitamente,
lembrou-se de como ela quase desmaiara na delegacia de polícia em Paio Verde quando
o chefe de lá mencionara a fita vermelha.
— A menina em Paio Verde foi estrangulada com uma fita vermelha — murmurou.
— Isso mesmo — ela disse, após um instante. — Foi quando comecei a desconfiar
que fosse o mesmo homem, quando o chefe de polícia disse que ele usou uma fita
vermelha. — Ela o fitou com o rosto pálido. — Nunca li nada a respeito de uma fita
vermelha nos outros assassinatos de crianças.
— Nós sempre deixamos de revelar alguma coisa para termos certeza de que
pegamos o assassino, e não algum lunático em busca de fama doentia. Disse que ele
mencionou a madrasta. Mais alguma coisa?
— Sim — ela retrucou, erguendo o olhar. — Ele estava usando o computador.
Escutei os seus dedos no teclado. Ele o usou bastante.
Isso poderia ser útil. Anotou no aparelho. Se o homem ainda usava computadores,
talvez houvesse um meio de rastreá-lo. Se for um pedófilo, devia ter acesso a páginas de
pornografia na internet. O FBI tinha detetives especializados em informática que
rastreavam pornográficos infantis e os prendia.
— Ele disse que adorava criancinhas.
Grace dissera as palavras como se fosse uma colossal piada cósmica.
— Três crianças mortas em três anos — Garon disse para si mesmo. — Talvez o
número chegue a onze, uma por ano desde que você foi abduzida. Mas você sobreviveu.
Por que sobreviveu?
Os ombros esbeltos dela subiram e desceram.
— A polícia veio mais rápido do que ele esperava. Ele prendeu meus pulsos e meus
tornozelos com fita adesiva. Depois, me carregou até um descampado e tentou me
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
estrangular, mas não conseguiu fazê-lo com as mãos. Também não conseguiu com a fita.
Tinha dedos finos e brancos e eram frios e sem vida. Sendo assim, enrolou minha boca e
nariz com fita adesiva. Depois, abriu o canivete e começou a me esfaquear. Doeu tanto, e
o sangue se espalhou por todos os lugares... Tentei gritar, mas tudo que consegui foi
murmurar. Comecei a chutá-lo. Isso o assustou, e ele parou. Contudo, eu sabia que ele
acabaria comigo se eu continuasse a me debater. Então, prendi a respiração e me fingi de
morta. As sirenes começaram a se aproximar. Ele hesitou por um instante, como se
quisesse se certificar de que eu me fora, mas não houve tempo. Saiu correndo. Com a fita
adesiva cobrindo meu nariz e minha boca, se a polícia não tivesse me visto quando
chegou; eu não teria sido capaz de lhes contar nada. Jamais me esquecerei de como foi
bom quando retiraram a fita adesiva e, enfim, pude encher os pulmões de ar. Mas
também doeu muito. Uma das facadas perfurou meu pulmão.
Garon estava escutando, forçando-se a se concentrar nos detalhes, não no pavor
que Grace deve ter sentido.
— Fita adesiva. Não conseguiu estrangulá-la, sendo assim, tentou sufocá-la. Jamais
matara antes — comentou, distraidamente. — Não sabia como é difícil estrangular
alguém usando apenas as mãos.
— Foi o que eu pensei — ela retrucou. — Minha avó convenceu o chefe Blake a
abafar a história, para que os jornais jamais soubessem. Bem, acabaram sabendo, mas
publicaram que um paciente de um sanatório me machucou sem muita seriedade, e que
eu tinha amnésia e não conseguia me lembrar de nada. Disseram que meu médico havia
afirmado que eu jamais recuperaria a memória. Se o assassino lesse os jornais, saberia
que eu não representava ameaça para ele. Contudo, tive medo que ele pudesse fazer o
mesmo com outra criança. Não consegui fazer minha avó entender isso. Ela se recusou a
sequer voltar a discutir o assunto. Tive de conviver com isso durante todos estes anos. Se
eu tivesse insistido em achá-lo, talvez todas aquelas outras criancinhas também
estivessem vivas ainda.
— Uma força-tarefa precisou de mais de vinte anos para pegar o assassino de
Green River no estado de Washington — Garon informou. — Eles também dispunham de
pistas e uma testemunha viva. Não adiantou muito para capturá-lo. Ted Bundy matou
universitárias por vários anos, e também não conseguiram pegá-lo. Mesmo que tivesse
dito tudo que sabia à polícia, provavelmente seu agressor ainda estaria por aí matando.
Assassinos em série, especialmente do tipo organizado, são inteligentes e cautelosos.
Mesmo com todos os recursos modernos de que dispomos, são difíceis de encontrar.
— Pode ser.
— Você deveria voltar para casa em Jacobsville.
Jacobsville. Voltou a se lembrar de como ele a humilhara por lá. Ela o fitou
furiosamente.
— Meu primo Bob me ofereceu o seu quarto de hóspedes pelo tempo que eu quiser
ficar aqui com ele. Quando o testamento de minha avó tiver sido legitimado, poderei
colocar a casa à venda.
Garon não contara com aquela resposta. Sentiu-se muito mal.
— Você tem amigos por lá que sentiriam muito a sua falta.
— Victoria não fica tão longe assim de carro. Podem vir me visitar aqui.
— Nesse caso, deixe-me colocar a coisa de outra maneira — o agente federal
insistiu, com o rosto sério. — Nenhum assassino esquece a primeira vítima. Ele sabe
quem você é e pode encontrá-la onde você está. Se, de algum modo, o seu nome for
ligado ao assassino, e ele começar a achar que sua memória pode ter retornado, ele pode
decidir marcar as cartas a seu favor. Encontramos DNA na última vítima, mas não
trouxemos isso a público. Até onde ele sabe você é a única pessoa viva capaz de
identificá-lo. Ele pode decidir voltar ao começo da história.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
— Quer dizer, ele pode vir atrás de mim para me matar — Grace disse, com toda a
calma.
Garon cerrou os dentes.
— É.
Ela curvou os lábios para baixo.
— Mas que perspectiva otimista.
— Pare com isso. A vida tem os seus benefícios. Você pode se casar — ele
acrescentou.
Olhos acinzentados fitaram olhos escuros.
— De que adiantaria? — Grace perguntou. — Não posso ter filhos.
Ele sentiu como se ela o houvesse acertado na boca do estômago.
— Muitos casamentos são bem-sucedidos sem filhos.
Ela riu com frieza.
— É mesmo? Você se sentiu atraído por mim a princípio. Gostava de estar comigo e
de me levar aos lugares. Quando soube que eu não podia ter filhos, eu subitamente me
tornei um caso passageiro pronto para ser dispensado.
Garon ficou chocado com a noção que Grace tinha do motivo de ele ter terminado o
relacionamento,
— Isso não é verdade — retrucou.
— Claro que não. — Ela se virou e voltou a pegar o isopor. Estava se sentindo
enjoada e fraca. Deviam ser as horas perdidas de sono arruinando-lhe a saúde. — Se
acabou de fazer perguntas, será que pode ir embora? — perguntou gentilmente. — Tenho
um dia cheio pela frente. O primo Bob quer que eu escove o gato dele.
O sarcasmo provocou um brilho no olhar dele que Garon procurou não deixar que
ela visse.
— Pelo menos, pense a respeito do que eu disse. — Ele forçou a mente em busca
de inspiração. Franziu os lábios. — Suas rosas estão começando a desabrochar. Serão
devoradas pelos insetos se não forem devidamente borrifadas, e, sem fertilizante,
provavelmente não vai ter um único talo decente.
Ela o fitou; desconfiada.
— Posso transplantá-las para cá.
— Elas não vão gostar daqui.
— Como é que sabe? — Grace perguntou, indignada. — Por acaso fala com as
rosas?
Os olhos escuros dele brilharam.
— Não quando acho que tem alguém me escutando. Trabalho no FBI. Falar com
flores pode acabar me rendendo uma transferência para a Antártida.
— O FBI não tem um escritório lá.
Ele deu de ombros.
— Temos escritório por todo o mundo — corrigiu-a. — Se me flagrarem conversando
com um arbusto; podem decidir abrir um em um lugar bem longe e frio.
Ela esfregou uma mancha vermelha de lama na bermuda.
— Na verdade, estudos científicos já foram feitos em plantas usando ondas sonoras,
como, por exemplo, música clássica e rock. Elas reagiram positivamente. Plantas
experimentam sensações. Não é de se surpreender quando se considera a estrutura de
uma única folha — ela disse distraidamente, esfregando a mancha vermelha. — Há
células guardiãs que protegem a folha da invasão de parasitas...
Ele ergueu as sobrancelhas.
— Pensei que tivesse estudado apenas até o final do ensino secundário — disse
surpreso com o conhecimento da moça sobre botânica.
Ela lhe lançou um olhar frio.
— Pensei que fosse inteligente o suficiente para não se ater a primeiras impressões.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Ele sorriu.
— Eu até lhe emprestarei uma caminhonete e um homem para dirigi-la, para que
possa ir comprar os fertilizantes e os pesticidas para usar nas suas rosas.
— Barbara tem uma caminhonete — ela retrucou, recusando a oferta.
Que Marquez terá o maior prazer em dirigir para Grace, no seu dia de folga, Garon
se deu conta, com uma pontada de algo que não lhe era familiar.
— E então? — insistiu.
Ela terminou de esfregar a mancha que ainda estava na bermuda. Provavelmente
não iria sair mesmo. Lama vermelha costumava ser permanente. Ela olhou para ele.
— Se prometer me manter atualizada com a sua agenda do dia, para que eu não
corra o risco de aparecer no mesmo lugar que você, eu voltarei para casa.
— Pare com isso — ele murmurou. — Estou convencido de que foi coincidência. Eu
exagerei na minha reação.
— Puxa, isso foi um pedido de desculpas? — ela indagou, fingindo surpresa.
— Não costumo pedir desculpas, a não ser que receba orientações médicas
específicas para fazê-lo.
— Foi o que eu pensei.
— Quando?
Ela franziu a testa.
— Quando o quê?
— Quando vai voltar?
Ela mordeu o lábio inferior.
— Suponho que amanhã.
— Ótimo. No caminho do rancho, darei uma passada na sua casa e avisarei às
rosas.
— Muita gentileza a sua.
— Eu tenho muitas boas qualidades — ele garantiu.
— É claro que as mantém muito bem escondidas — Grace retrucou com um sorriso
zombeteiro.
— Não vale a pena desperdiçá-las com uma mulher que adoraria colocar a minha
cabeça a prêmio.
— Infelizmente, com o meu salário, não posso pagar um assassino de aluguel.
— Por que não vai para a faculdade e tira um diploma? Com certeza poderia ganhar
mais.
— Por que não vai para casa e para de querer mandar na minha vida? — ela
perguntou. — Não preciso de conselhos sobre que carreira seguir.
— Você dirige um carro que é um acidente esperando para acontecer e compra
suas roupas em bazares — ele resmungou.
Ela corou.
— Como sabe onde eu compro as minhas roupas?
Ele cerrou os dentes. Não devia ter dito isso.
— Diga! — Grace exigiu, com as mãos nos quadris.
— Você usa o maldito vestido de algodão azul em qualquer lugar Se não o está
usando, usa o mesmo jeans com uma variedade de camisetas. Não é preciso ser um
gênio para adivinhar.
— Não vejo como o modo como eu me visto possa ser da sua conta — ela disse
meigamente. — Pode ficar tranqüilo que jamais terá de ser visto em público comigo
novamente.
— Isso é reconfortante.
— Estou certa de que sua amiga Jaqui tem dinheiro para comprar na Saks ou na
Neiman Marcus. Nada de guarda-roupas em promoção para ela!
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Ele engoliu uma resposta desaforada. Já fora responsável por bastante estrago ao
ego de Grace.
— Ela não gosta de esconder o que tem de bonito — admitiu. — Gosta de estar
rodeada de homens.
Ela exibiu um sorriso frio.
— Garota de sorte. Não tem o meu passado.
As faces dele arderam ao se ruborizarem. Ele se virou.
— Eu a vejo depois.
— Não se eu o vir antes — ela retrucou com secura. — E isso é uma promessa.
Depois que o carro dele arrancou ruidosamente na direção da estrada, ela voltou
para casa para guardar os peixes e para fazer as malas. Provavelmente devia ser louca
de se deixar convencer, mas Garon tinha razão quanto ao primo dela estar na linha de
fogo. Se o assassino viesse atrás dela, Grace não queria nenhum inocente se ferindo por
conta disso. E ela sabia de coisas que poderiam colocar o criminoso atrás das grades.
A casa estava vazia e fria. Contudo, deixara acesa a chama piloto da fornalha, de
modo que teria calor. E também precisaria dele. O tempo ficara inesperadamente frio. Ela
deu uma geral na casa, certificando-se de que tudo estava onde deveria estar. Depois, foi
até o quintal verificar os canteiros de rosas com os quais Garon estava tão preocupado.
Havia pequenos botões entre as folhas do canteiro de rosas. Também havia folhas
novas nas árvores, em tantos diferentes tons de verde que ela não conseguia contá-los. O
sol brilhava através delas, e havia uma brisa fresca e revigorante. Impulsivamente, ela
ergueu os braços e dançou ao redor de si mesma, desenhando um círculo no chão, rindo
de prazer por estar de volta à sua propriedade. Sua propriedade. Jamais fora dona de
nada, a não ser das roupas do corpo. Agora, pelo menos, tinha um lugar para morar.
Tudo que tinha a fazer era garantir uma renda que cobrisse as despesas da casa e um
ocasional vestido novo. Mas havia tempo. Havia tempo de sobra.
Garon viera recebê-la e certificar-se de que a casa estava devidamente trancada.
Escutou-a rindo no quintal e dobrou a esquina. Ali estava Grace, seu cabelo louro e
comprido cobrindo-lhe os ombros, quase descendo até a cintura. Ela estava girando como
uma criança feliz, dançando ao vento com os olhos fechados e o rosto erguido para o sol.
Algo lhe atingiu o peito ao observá-la. Ela era encantadora. Era doce, gentil e
carinhosa. Fora dele por dois dias inebriantes, quando o prazer assumiu um ar de magia,
como nada que ele já experimentara antes. Mas ele magoara Grace. Á descartara como
um copo plástico usado, desvalorizando-a, humilhando-a. Ela jamais abriria os braços
para ele novamente, envolvendo-o com eles na escuridão. Ela jamais voltaria a confiar
nele.
Foi uma das piores revelações que se recordava de já ter tido. E, até aquele
instante, quando a observou sem que ela soubesse, e soube como fora abençoado por tê-
la em sua vida, não se dera conta do que sentia por ela. Não podia ter acontecido em
hora pior. Não podia.
Em vez de anunciar sua presença, ele se virou e voltou de onde viera. Sabia que, se
ela o visse, toda a alegria desapareceria dela, como água através de uma peneira. Não
suportaria ver isso.
Ela já passara por tanto na sua vida jovem. Ele lamentava ter dificultado tanto a vida
para ela.
Talvez, se ele se esforçasse, poderia merecer o perdão dela. Era melhor do que
nada.
Grace voltou a trabalhar no dia seguinte, primeiro na floricultura, depois, no café. Em
geral, as pessoas pareciam felizes em tê-la de volta ao lar. Também mencionaram o
tratamento duro que Garon vinha recebendo desde a sua partida. O agente federal tivera
de fazer suas compras em San Antônio, porque as portas locais estavam fechadas para
ele depois do modo como tratara Grace. Ela não podia dizer que ele não merecia, mas
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
sentia pena dele. Não era o tipo de homem que fazia amigos com facilidade, nem parecia
se sentir em casa em qualquer lugar. Talvez ele realmente tivesse se sentido culpado o
suficiente para persuadi-la a voltar para casa. Ou, ela cogitou, talvez apenas quisesse ser
capaz de comprar sua ração em Jacobsville em vez de ter de dirigir meia hora para
comprá-la em outro lugar.
Sentira-se cheia de energia ao voltar para casa, contudo, à medida que os dias
foram passando, começou a sentir com uma freqüência maior a náusea e a fraqueza que
haviam se tornado uma parte de sua vida desde que abandonara Jacobsville. Com
certeza, não passava de um vírus, procurou se convencer. Jamais ficava doente. Mesmo
que ficasse, onde arrumaria dinheiro para um médico? Apenas tinha uma pequena
apólice de plano de saúde que cobria grandes intervenções, mas não incluía consultas
nem medicamentos. Não, teria de esperar que passasse. Esse tipo de coisa costumava ir
embora; em pouco tempo. Ela ficaria melhor.
Mas não ficou. No fim de uma tarde, quando estava colocando adubo ao redor de
suas rosas, o mundo começou a girar. Ao mesmo tempo em que a fraqueza tomou conta
dela, sentiu a náusea subindo-lhe a garganta. Com um ligeiro gritinho de surpresa, caiu
ao chão. A última coisa que viu foi o céu passar de azul para preto...
Capítulo Treze
112
Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Eles o prenderam, e o homem entregou o nome dos comparsas em troca de uma redução
de pena.
O FBI tinha prioridade em crimes federais como assaltos a bancos. Contudo, mesmo
em caso de alguns outros delitos, as autoridades locais tinham prazer em entregar
criminosos ao Birô, visto que acusações federais eram mais severas, e o suspeito, caso
condenado, cumpriria uma sentença maior.
Garon estava satisfeito com a resolução rápida da situação e com o fato de ninguém
ter se ferido seriamente, apesar das balas terem voado no local do assalto. Graças a um
bom trabalho policial, e aos olhos aguçados de um tira de folga, os criminosos foram
presos menos de duas horas após o assalto, e todo o dinheiro roubado foi recuperado.
Era bom estar com o caso solucionado. Os ladrões haviam sido experientes e perigosos.
Agora, estavam fora das ruas por vários anos.
Garon dera uma passada no laboratório de criminalística para deixar algumas
evidências do caso. Tecnicamente, ainda faltava um pouco para o final do expediente,
mas como não havia nada que não pudesse esperar o Agente Especial no Comando lhe
disse para ir para casa. Afinal de contas, era sábado. Sempre poderia encontrar algo com
que se ocupar no rancho.
Estava passando diante da casa de Grace quando, distraidamente, olhou na direção
da varanda da frente dela e viu o que parecia ser uma trouxa de roupas jogada no chão
diante dos degraus.
Achou tão estranho que resolveu parar e verificar.
Quando chegou mais perto, percebeu que o que vira não era um amontoado de
roupas, mas sim Grace, deitada no chão, inconsciente.
Em questão de segundos, ele saltou do carro e correu ate ela. Ajoelhou-se ao seu
lado, tentando achar uma pulsação. O coração estava batendo em um ritmo estranho,
mas ela já estava começando a despertar. Seus olhos se abriram. Ela engoliu em seco,
seu rosto quase branco, e o estômago parecia revirado.
— O que houve? — ele indagou na; mesma hora; preocupado.
— Não sei — ela respondeu, com a voz rouca, engolindo mais uma vez para manter
a náusea sob controle. — Estava caminhando na direção da casa, e, quando dei por mim,
tudo escureceu. Eu nunca desmaio — acrescentou indignada. — Nem mesmo está
quente. Não pode ter sido insolação...
— A clínica dos Coltrain funciona nos sábados à noite, não funciona?
— Funciona, mas eu não preciso de médico — ela começou a dizer debilmente. —
Deve ser um vírus ou coisa parecida.
Garon não acreditava nisso. E, antes que Grace pudesse discutir, pegou-a no colo e
a carregou até o carro. Estranho, pensou, ela parecia mais pesada do que da última vez
em que a carregara.
— Não quero ir ao médico — protestou.
Ele a equilibrou no quadril, enquanto abria a porta, depois, á colocou no assento do
carona.
— Fique quieta — ele disse com firmeza, enquanto pegava o cinto de segurança.
Ao puxá-lo diante do corpo dela, sua mão roçou gentilmente na barriga da moça... E
ficou imóvel.
Franzindo a testa, ele a fitou, enquanto a enorme mão musculosa pousava com
curiosidade, com gentileza, sobre a rigidez da barriga intumescida.
— O que está fazendo — ela indagou ainda um pouco zonza. — Não é apendicite.
Eu não tenho apêndice. Quando fui esfaqueada, a faca atingiu o meu apêndice e um dos
ovários...
A expressão do rosto dele era inexplicável. Ela viu os seus olhos brilharem e o rosto
ficar quase tão pálido quanto o dela.
— Você está me assustando — protestou. — O que foi?
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Sua mão pressionou gentilmente a barriga dela por um instante, antes que ele
terminasse de afixar o cinto de segurança e fechasse a porta. Seu rosto estava rígido e
impassível. Garon não disse uma palavra. Não podia. Estava abalado até o fundo da
alma.
— Preciso da minha bolsa — ela protestou. — Está na mesinha da entrada. As
chaves estão na porta. Já que está determinado a me levar para ver um médico, você
precisa trancar a casa.
Ele estava atordoado demais para discutir. Entrou na casa, pegou a bolsa, trancou a
porta, guardou a chave na bolsa e a entregou para ela antes de sentar ao volante.
Dirigiu como um sonâmbulo. Sabia que o coração devia estar a mil. Será que Grace
era realmente tão ingênua que ainda não se dera conta do que acontecera com ela? Ele a
fitou com curiosidade ao pegar a estrada.
— Por acaso tem comido direito recentemente? — perguntou com um estranho tom
de voz.
Ela se mexeu irrequietamente no assento e olhou para fora da janela.
— O que quer que eu tenha comido, mexeu com o meu estômago — respondeu
pesadamente. — Em geral, tenho preparado e tomado uns milk-shakes.
Ela, de fato, não sabia! Ele sentiu o cérebro travar, quando todas as possibilidades o
invadiram, como mosquitos circundando-lhe a cabeça. Durante os últimos anos, sentira-
se apenas como metade de um homem. Evitara mulheres e compromissos, e mal saíra
com alguém. Agora, o destino lhe presenteara com esta complicação inesperada, e Garon
sentia como se tivesse acertado na loteria. Apenas não sabia como lidar com isto.
Ele fitou o perfil afastado de Grace. Não era linda, mas tinha um ardor e uma
empatia que lhe despertavam a voracidade. Já fazia muito tempo desde a última vez em
que tivera razão para viver.
Agora, tinha algo que fazia a vida valer á pena. Tinha esperança novamente.
— Você está agindo de um modo muito estranho — ela comentou, quando se
aproximaram do prédio da clínica dos Coltrain, o qual eles dividiam com o colega, Dr.
Drew Morris.
— Estou mesmo?
— E nós nunca vamos conseguir ser atendidos — ela acrescentou, notando os
carros estacionados do lado de fora do prédio. — Aposto que metade de Jacobsville está
aguardando na sala de espera. Por que não me leva para casa e eu verei o Dr. Coltrain
na semana que vem?
— De jeito nenhum.
Garon parou o carro e pegou o celular. Grace tentou protestar ao escutá-lo falando
com a recepcionista, porém ele a interrompeu ao erguer a mão.
— A porta lateral? — prosseguiu. — Certo. Estou vendo. Estamos indo para lá.
Ele seguiu para a lateral do prédio e estacionou. Desceu e ergueu Grace nos
braços, carregando-a na direção do prédio.
— Mas eu não estou em estado grave — ela protestou, corando.
— Eu nunca disse que você estava.
— Disse para ela que eu estava inconsciente!
— Uma mentirinha inofensiva — Garon retrucou ao alcançar o prédio. — Se não
quiser ficar aqui até a meia-noite, acho melhor fechar os olhos.
Ela queria muito discutir, porém, a porta lateral estava abrindo. Não queria passar a
noite toda na sala de espera. Resolveu fechar os olhos.
— Traga-a por aqui — a enfermeira instruiu.
Grace sentiu que estava sendo gentilmente colocada sobre a mesa de exames.
— O doutor já vem — a enfermeira informou, deixando a sala. Antes que Garon
pudesse dizer alguma coisa, o Dr. Coltrain entrou, com um estetoscópio pendurado ao
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
redor da gola do jaleco branco. Parecia preocupado ao pegá-lo, encaixar suas extre-
midades nos ouvidos e se curvar para auscultar o peito de Grace.
— Eu só desmaiei, mais nada — Grace sussurrou.
Ele franziu a testa, visto que o batimento cardíaco da moça o preocupava.
Escutando, pediu que ela tossisse, auscultou novamente e retirou o estetoscópio.
— O que estava fazendo quando desmaiou?
— Estava apenas andando...
Sem dizer uma só palavra, Garon pegou a mão do médico e a pousou sobre a
barriga de Grace com um olhar sugestivo.
Pego de surpresa, Coltrain alisou a rigidez da barriga ligeiramente intumescida. Ele
prendeu a respiração.
— Exame de sangue? — Garon sugeriu em tom sério.
Coltrain o fitou com crescente entendimento. Grace era a única que não entendia o
que estava acontecendo.
Coltrain foi até o corredor e chamou a enfermeira. Ele falou com ela aos sussurros.
— Sim, doutor, agora mesmo — ela disse, voltando por aonde viera.
Ele atendeu um telefonema enquanto ela voltava e colhia sangue do braço de
Grace.
— Não é uma úlcera — Grace protestou quando a enfermeira deixou o recinto,
fechando a porta atrás de si. — Não tenho problemas estomacais. Também não vá dizer
para o Dr. Coltrain que eu tenho — ela instruiu, irritada. — Porque eu sei muito bem o que
é uma bateria de exames gastrointestinais, e ele não vai fazer isso em mim!
Garon não respondeu. Caminhou ate a janela da pequena sala de exames, enfiou as
mãos nos bolsos e olhou lá para fora. Seu mundo e o de Grace estavam prestes a mudar
para sempre. Não sabia o que dizer, nem o que fazer. Grace ia ficar abalada.
Coltrain voltou em dez minutos, com uma expressão séria no rosto. Os dentes
cerrados.
Fechou a porta, puxou um banquinho e se sentou.
— Temos algumas decisões a tomar — disse para Grace.
Garon se aproximou para se juntar a eles, seu olhar fixo em Grace, que parecia
completamente perplexa.
— Eu tenho câncer? — ela perguntou, aterrorizada.
Coltrain tomou uma das mãos dela nas suas e a segurou com força.
— Você está grávida, Grace.
Ela simplesmente ficou a fitá-lo.
— Não posso ter filhos — ela disse, com a voz carregada de emoção. — Você disse
que eu não podia.
Notando que Garon estava imóvel ao seu lado, o médico inspirou profundamente.
— Eu disse que não havia muitas chances com apenas um ovário. Jamais disse que
seria impossível.
As mãos de Grace desceram até a barriga, sentindo a sua firmeza, sentindo o
tamanho de sua barriga. Estava grávida. Havia uma pequenina vida dentro de si. Sentiu-
se brilhar, como se estivesse preenchida, radiantemente preenchida, de êxtase.
— Você não pode ter essa criança — Coltrain afirmou bruscamente. — Mal tem um
mês de gravidez. Ainda dá para interrompê-la. Posso enviá-la para San Antonio...
— Não! A palavra explodiu de duas bocas no mesmo instante.
Grace e Garon se entreolharam, surpresos, enquanto as sobrancelhas de Coltrain
se ergueram na direção do teto.
— Como assim, não?
— Você não vai abortar o meu filho — Grace disse para Coltrain.
— Grace, simplesmente é arriscada demais — ele tentou explicar baixinho. —
Escute o que estou dizendo. Jacobsville ainda é uma cidade pequena, com um ponto de
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
vista antiquado em se tratando de mães solteiras. Mesmo que não houvesse risco, o que
acharia de ter um filho sem estar casada?
— Ela vai estar casada — Garon disse bruscamente. — Segunda-feira bem cedinho;
providenciarei toda a documentação. Podemos nos casar no escritório do juiz de paz na
terça de manhã. Se forem necessários exames de sangue, você já tem o dela e pode
colher o meu enquanto estamos aqui.
Grace sentiu como se estivesse despencando em um abismo.
— Você não quer se casar comigo — disse, sabendo, no instante em que engasgou
com o próprio orgulho, que a afirmativa era verdadeira.
Garon se recostou na mesa de exames e olhou de Coltrain para Grace.
— O que vou lhes contar não sai desta sala — disse baixinho. — Nem mesmo meus
irmãos sabem. — Ele suspirou pesadamente. Seus olhos escuros pareciam fitar o
passado quando falou: — Aconteceu; dois anos após eu ter me formado na Academia do
FBI. Acabara de ser designado para o escritório do Birô em Atlanta, quando conheci
Annalee. Ela era uma funcionária civil com um diploma em informática. Fazia verificações
de antecedentes para nós. Era uma mulher forte, independente e inteligente. Logo no
primeiro encontro, nós dois soubemos que ficaríamos juntos para sempre. — Ele cerrou
os dentes. Ao seu lado, Grace sentiu um aperto no coração. — Dois meses depois,
estávamos casados. Ela se acostumou com os meus horários estranhos e com o fato de
eu, às vezes, ter que sair do país a trabalho. Contudo, Annalee tinha o seu trabalho para
ocupá-la. Com o tempo, fomos ficando ainda mais próximos. Éramos felizes. Quando
descobrimos que ela estava grávida do nosso primeiro filho, passamos horas fazendo
compras, escolhendo mobília, brinquedos... — Ele se interrompeu até conseguir se
recompuser. — Quando ela chegou ao quinto mês, começou a se sentir cansada o tempo
todo. Achamos que fazia parte da gravidez, mas ela também estava apresentando outros
sintomas. Eu a levei para ver o ginecologista, que fez alguns exames de sangue e, na
mesma hora, nos encaminhou a um oncologista.
Coltrain cerrou os dentes. Garon notou o gesto.
— O oncologista diagnosticou como sendo linfoma não - Hodgkin.
— Um dos cânceres mais agressivos — Coltrain afirmou.
— Sim. E ela recusou tratamento. Não queria arriscar o bebê, mesmo para salvar a
própria vida. Contudo, o câncer estava em estágio avançado e rapidamente se tornou
agressivo. — Ele voltou a sentir a tristeza daquela constatação, a frieza na boca do
estômago. — Perdi ambos — acrescentou sem rodeios, forçando-se a não se entregar à
tristeza. — Isso foi há dez anos. Decidi que jamais voltaria a correr o mesmo risco. Eu
viveria para o meu trabalho. E foi o que eu fiz. Ofereci-me como voluntário para fazer
parte da Equipe de Resgate de Reféns. Durante seis anos, eu estava sempre na linha de
frente de qualquer situação desesperada, onde vidas estivessem em perigo. De lá, fui
para uma das unidades da SWAT. Quando comecei a perder a vantagem fisicamente,
optei por uma transferência para um dos escritórios do Texas. Fui enviado para Austin,
depois, fui transferido para cá, para liderar um esquadrão da unidade de crimes violentos.
Contudo, tenho apenas passado pela vida no piloto automático — concluiu. Ele olhou
para Grace, e havia um brilho estranho nos seus olhos escuros. — Quero este bebe
Grace, você não sabe quanto.
Coltrain sentiu que estava perdendo terreno. Ele fitou Grace preocupadamente.
— Eu ficarei bem — ela garantiu. — Não vou desistir do meu bebê. Nunca tive nada
que fosse meu Copper — acrescentou em um tom de voz rouco e suave. Suas mãos
envolvendo de modo protetor o ligeiro volume. Ela sorriu, maravilhada. — Ele será todo o
meu mundo.
Coltrain não podia lutar contra aquela expressão no rosto dela. E também sentia
pena de Garon, agora que o entendia um pouco melhor. Não era preciso ser um gênio
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
para saber que Garon era o pai da criança. Mas isto seria mais perigoso para Grace do
que ela se dava conta.
— Preciso conversar com seu futuro marido — Coltrain avisou.
— Não precisa, não — Grace retrucou com hostilidade. — Existe algo chamado
sigilo entre médico e paciente. Você não tem a minha permissão e fim de papo.
Coltrain estava preocupado, mas ela tinha razão. Não podia lhe trair o segredo.
Entendia por que Grace não queria que Garon soubesse. Contudo, isso não diminuía o
risco. Porem, não conseguia se forçar a contrariá-la, não depois de tudo pelo que ela
passara. Era óbvio que queria aquele bebe o suficiente para lutar contra qualquer sinal de
interferência. Ele cerrou os lábios.
— Muito bem, farei o possível.
Garon, que acabara de reviver o pior episódio de sua vida, mal escutava a conversa,
uma conversa que ele não entendia mesmo.
Fitou Grace com uma expressão que ela não conseguiu decifrar.
— Sinto muito quanto à complicação — disse, preocupada. — Eu não sabia...
— Não é uma complicação, Grace — Garon retrucou, gentilmente. — É um bebê.
— Mas você não quer se casar comigo — ela voltou a dizer.
— Não — ele respondeu, com sinceridade. — Mas é apenas por oito meses —
acrescentou. — Depois que o bebê vier, tomaremos uma decisão.
O que significava que ele não estava pronto para qualquer tipo de viveram felizes
para sempre, e Grace não podia culpá-lo. Fora descuidada, mas era Garon que pagaria
por isso.
Pelo menos ele queria a criança e não ia forçá-la a abortar. Ela não ia contar nada
que pudesse aborrecê-lo. Ele já tinha perdido um filho. De algum modo, Grace ia garantir
que isto não se repetisse.
Ele a levou para casa desceu do carro com ela e entrou na casa quando Grace
destrancou a porta.
— Faça as malas — Garon ordenou. — Você vai ficar lá em casa até nos casarmos.
— Mas acabei de voltar para a minha casa...
— Será que tenho de lembrá-la do risco? — ele perguntou baixinho.
Por um apavorante instante ela pensou que ele estava se referindo ao outro risco.
Depois, aliviada, se deu conta de que Garon estava falando do assassino.
— Ele provavelmente ainda acha que tenho amnésia — retrucou.
— Se ele é de fato o assassino, ele cometeu 11 assassinatos e evitou ser capturado.
Não é nenhum tolo. Deve ter morado aqui na época.
Grace jamais considerara a possibilidade. Prendendo a respiração, deixou-se cair
pesadamente no braço da poltrona do avô.
— Acha mesmo?
— A maioria dos assassinos em série escolhe a primeira vítima dentro de
determinado raio ao redor da região onde moram, considerada a sua zona de conforto —
Garon explicou.
Ela mordeu o lábio, recordando-se da época.
— Tínhamos dois inquilinos morando no fim da rua. Um era casado, mas a esposa
estava visitando a família na costa leste. O outro era idoso e andava de cadeira de rodas.
— Ele não necessariamente era seu vizinho de porta — Garon explicou. — Pode ter
estado envolvido em algum programa na escola, ou na igreja, que o colocava em contato
com crianças.
— Ele poderia ter sido qualquer um — ela disse em um tom triste. — Durante todos
estes anos, eu sempre me perguntei.
— Nós o pegaremos — ele afirmou, com confiança. — Prometo que o pegaremos.
Contudo, neste exato instante, vou levá-la para casa comigo. De jeito nenhum eu vou
deixá-la aqui sozinha.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Viu que ele estava falando sério. Bem, pelo menos, estava preocupado com ela.
Queria realmente o bebê, ainda que não quisesse Grace. Ela se levantou e foi arrumar as
malas.
A Srta Turner ficou fascinada, não só com a notícia do casamento, o qual assistiria
na qualidade de testemunha, mas com a perspectiva de um bebê. Sequer pareceu
chocada com o fato de eles terem colocado a carroça na frente dos bois já estava esco-
lhendo tecidos para as roupas do bebê.
No dia do casamento, Grace estendeu seu único vestido decente, o azul de algodão,
sobre a cama. Após bater de leve à porta, Garon entrou no quarto trazendo uma enorme
caixa. Lançou um olhar irritado para o vestido e pousou a caixa exatamente sobre ele.
— O que é isso? — Grace perguntou.
— Abra.
Ela levantou a tampa. No seu interior, havia um terninho perolado e um chapeuzinho
com véu. Também havia um buquê de seda. Ela o fitou; boquiaberta.
— Não vou me casar com você usando aquele maldito vestido azul — ele anunciou.
Ela tocou de leve na seda. Sabia o quanto custava, pois comprara um pouco para o
seu projeto secreto sobre o qual ele ainda nada sabia.
— É lindo.
— Peguei as suas medidas com Barbara — Garon explicou, e não contou que, após
sua última visita ao café, tivera de se desculpar para que Barbara lhe permitisse a
entrada.
Contudo, assim que ela soube que ele estava se casando com Grace, e que havia
um bebê a caminho, ela cedeu o suficiente para acompanhá-lo nas compras.
— Obrigada — ela disse com um tom de voz rouco e encabulado.
Ele deu de ombros.
— Sua amiga, Judy, na floricultura, está lhe preparando um buquê. Barbara e a Srta.
Turner; serão as testemunhas.
Ela ergueu o olhar.
— Rick?
Garon teve de cerrar os dentes.
— Ele vai ter que trabalhar amanhã. Não conseguiu folgar.
Não era bem a verdade. As palavras exatas de Marquez foram que ele se recusava
a ver Grace arruinar a própria vida. O jovem detetive ficou furioso quando soube que
Grace estava se casando com Garon. O agente federal podia entender o que o colega
estava sentindo, porem, não podia aceitar o interesse dele por Grace quando ela estava
carregando o seu filho.
— Ah — foi tudo que ela disse.
Sabia o que Rick sentia por ela. Lamentava não poder sentir o mesmo por ele.
Provavelmente era melhor que ele não aparecesse mesmo no escritório do juiz de paz.
— Vou direto para o tribunal. A Srta. Turner lhe dará uma carona.
— Tudo bem.
Ele não perguntara se ela queria se casar na igreja, nem lhe oferecera uma
cerimônia completa, com madrinhas e padrinhos. Provavelmente tivera esse tipo de
casamento com a primeira esposa. Grace não protestou. Garon ainda estava de luto pela
mulher que perdera. Era mais do que suficiente que ele estivesse dando o seu nome ao
filho deles. Jamais esperara que ele a quisesse de modo permanente. Ninguém jamais
quisera mesmo.
O nome da juíza de paz era Anna Barnes, e ela mesma estava casada havia duas
décadas.
Conhecia Grace, sua família, e o tormento pelo qual a moça passara. Ela lhes
ofereceu uma cerimônia breve, porém digna e comovente, com Barbara e a Srta. Turner;
posicionadas um pouco atrás deles.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Grace não pensara que Garon fosse lhe comprar uma aliança, mas ele o fez. Era;
uma aliança de ouro com as bordas em platina e detalhes seguindo um padrão de folhas
de uva. Ele não comprou uma para si mesmo. Isso não a surpreendeu. A juíza os
declarou legalmente casados e Garon se curvou para roçar um beijo frio no rosto dela.
Apesar de fazer muito tempo, ainda se recordava da alegria de seu primeiro casamento.
Gostava de Grace e queria o bebê, mas não conseguia se desvencilhar do passado.
Depois da cerimônia, Garon convidou a todos para almoçarem no Barbara's Café, e
a própria dona apareceu com um magnífico bolo de casamento que ela mesma preparara
para a ocasião, Grace sentiu lágrimas rolando pelas faces devido à consideração. Ela
abraçou com carinho a mulher mais velha, visto que ela era o mais próximo de uma
família que Grace tinha.
Estavam voltando para casa, com a Srta Turner vindo atrás no Expedition de Garon,
quando o Pager dele tocou. Retirando-o do cinto, ele reduziu para poder verificar a
mensagem de texto e fez uma careta.
— Tenho de ir até o escritório — disse, acelerando o veículo. — Apareceu uma pista
nova no caso.
— O do assassino? — ela indagou, empolgada.
Garon assentiu.
— Sinto muito — acrescentou. — Mas não tenho um emprego de 9h ás 17h.
— Vovô era delegado do xerife — Grace respondeu. — Quando havia uma
emergência, ele tinha de sair para trabalhar às altas horas da madrugada. Vovó sempre
reclamava — acrescentou baixinho. — Sempre achei egoísmo da parte dela. Ele estava
salvando vidas.
Ele a fitou com um sorriso caloroso.
— É por isso que trabalhamos nesse ramo.
— Tenho muito com o que me ocupar — ela disse tranqüilamente. — Incluindo meus
empregos.
— Se quiser, pode pedir demissão deles e ficar em casa. Tenho um bom salário e o
rancho é uma renda adicional.
Ela mexeu no lindo buquê de seda. Atirara o de flores verdadeiras, e Barbara o
pegara.
— Gosto de trabalhar — respondeu. — Não sou do tipo muito; doméstica.
Que surpresa. Até onde sabia, ela jamais fizera muito além de cuidar da avó.
Grace pressentiu-lhe a curiosidade, mas não disse mais nada. Garon estacionou
diante da porta da casa e deu a volta para ajudá-la a descer do veículo.
Inesperadamente, ele a levantou nos braços e a carregou até a varanda. Foi então
que notou o Expedition estacionado ao lado da varanda. A Srta. Turner chegara; em casa
antes. Na verdade, já estava abrindo a porta com um enorme sorriso.
Garon riu, carregou Grace lá para dentro e a abaixou até colocá-la no chão. Curvou-
se para beijá-la com ternura.
— As rosas podem esperar. Trate de descansar — disse.
Ela exibiu um sorriso travesso.
— No caminho do trabalho, está planejando dar uma passada lá em casa e avisar
minhas rosas onde estou?
Ele encostou a ponta do dedo comprido no nariz dela.
— Voltarei assim que puder.
— Está bem.
Ele foi embora, deixando a cargo da Srta. Turner acompanhar a cansada Grace até
o seu quarto para trocar de roupas e descansar.
Marquez estava sentado no escritório de Garon quando ele chegou alguns minutos
mais tarde.
O agente federal hesitou na porta.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Capítulo Catorze
Garon e Marquez correram para a casa de Sheldon, que ficava dentro dos limites da
cidade de San Antônio. O assassino pode muito bem ser Sheldon, Garon pensou. Se
pudessem colocar o sujeito sob custódia, independente do pretexto, e o interrogassem
devidamente, talvez conseguissem solucionar o caso. Seria necessário muito
planejamento. O homem era inteligente. Se for mesmo o assassino, não iria confessar
facilmente, não após 11 assassinatos.
— Não temos causa provável para prendê-lo — Garon murmurou, depois de usar o
celular para ligar para o seu escritório e pedir que um de seus homens verificasse se
Sheldon tinha algum antecedente criminal. Não encontraram nada.
— Nós pensaremos em alguma coisa — Marquez afirmou.
— Com a nossa sorte, ele vai ter fotos das vítimas espalhadas pela casa, e não
poderemos tocar nele sem um mandado de busca. Devíamos ter solicitado um para um
juiz antes de virmos até aqui.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Ela e Garon estavam tomando um cafezinho. A Srta. Turner já tirara a mesa e havia
se recolhido.
Garon sacudiu a cabeça, fitando-a do outro extremo da mesa. Já no quinto mês de
gravidez, ela atualmente se cansava com facilidade e estava muito pálida. Passava muito
tempo na cama.
Garon se preocupava. Ligara para Coltrain, que viera ver Grace. Ele declarara ser
um estado normal para uma mulher naquele estágio da gravidez. Contudo, ele e Grace
conversaram bastante por trás de portas fechadas antes que ele fosse embora. Ela disse
que estava preocupada com o parto e que estivera tirando algumas dúvidas sobre isso
com Coltrain.
Ela não estava com boa aparência. Não estava ganhando muito peso. Tomava
todas as suas vitaminas pré-natais, contudo, elas não pareciam estar ajudando muito.
— Gostaria que você parasse de se preocupar — ela murmurou certa manhã,
quando estavam tomando café. — Eu estou bem.
Não estava não. Ele fazia o possível para lhe tentar o apetite, mas, tudo que Grace
parecia querer era milk-shake de morango com torradas secas. Não estava ingerindo
proteína o suficiente.
Garon torcia para que as vitaminas pré-natais estivessem lhe fazendo bem. Chegara
ao ponto de encomendar refeições gourmet de fora da cidade, para que ela tivesse
refeições exóticas para comer. Porém, ela continuava apenas a beliscar.
— Grace, se você não se alimentar direito, pode acabar fazendo mal ao bebê —
dissera, à beira do desespero.
Ela sentia parte de si morrer cada vez que ele dizia coisas como aquelas. Garon
tinha uma paixão absoluta pela criança que estava para nascer. Lia livros sobre partos e
sobre como criar filhos. Assistia a programas sobre partos no canal de documentários.
Acompanhava Grace às suas aulas de Lamaze sobre nascimento natural, e caminhava
com ela ao redor do pátio, para que ela fizesse um pouco de exercício. Estava sempre a
vigiando, certificando-se de que ela estava se cuidando. Porém, tudo aquilo era para o
bebê. Grace não tinha ilusões quanto aos sentimentos de Garon por ela. Tinham quartos
separados, vidas separadas. Ele ia trabalhar e ficava lá até tarde.
Afirmava estar trabalhando no caso do assassino de crianças. Ela se perguntava se
ele não estaria trabalhando em Jaqui Jones.
Sem que Garon soubesse, Jaqui ligara para ela, para lembrá-la de que assim que o
bebê nascesse Grace não passaria de uma nota de rodapé na vida de Garon. Jaqui
insinuou que Garon a estava encontrando às escondidas. É claro que ele jamais correria
o risco de deixar Grace alterada, a mulher ronronou. Contudo, um homem viril e másculo
como Garon não se contentaria em tentar dormir com uma baleia em roupas de
maternidade.
Grace desligara e parara de atender ao telefone. Ela não contou para Garon sobre
os telefonemas. Sabia que ele não ligaria, a não ser, é claro, que o tormento de Jaqui
acabasse colocando o bebê em risco.
Garon notava a falta de animo de Grace, e isso o fazia se sentir culpado. Será que
ela estava revivendo a dor que ele lhe causara? Era por isso que estremecia sempre que
ela olhava para ele?
Tomara o cuidado de não exigir qualquer tipo de demanda física dela durante a
gravidez. Ela não se sentia bem durante a maior parte do tempo. Mesmo seus esforços
nos canteiros de rosas estavam longe de serem perfeitos. No fim, pedira para que Garon
mandasse um dos caubóis se encarregar de adubá-los e borrifá-los. Fazia o mínimo de
esforço físico que era capaz. A primavera tornou-se verão, e o verão; outono. Garon teve
casos que o levaram para fora do estado, e ate mesmo fora do país. A força-tarefa se
reuniu com freqüência cada vez menor, pois os recursos estavam sendo alocados para
outras áreas, e o assassino continuava sem ser identificado. Uma coisa que Grace notou
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
era que Garon tinha alguém há vigiando o tempo todo, por via das dúvidas. Não parará de
se preocupar que o assassino pudesse voltar para terminar o serviço. Fora isso, ela via
muito pouco de Garon.
Ele a acomodara no quarto de hóspedes havia muito tempo e a mantinha ali,
explicando que ela precisava descansar, e que, devido ao trabalho, ele estaria chegando;
em casa às altas horas da madrugada. Não era verdade, mas Grace achava que não que-
ria escutar a verdade. Vira o rosto dele quando o agente federal contara para ela e
Coltrain sobre Annalee e a criança que perdera com ela.
Desde então, não quisera amar ninguém. Grace sabia disso, mesmo sem que
alguém tivesse lhe dito. Durante aquele desabafo pessoal e lúgubre, a luz se apagara de
seus olhos. E, desde então, não voltara a se acender.
Ela ainda estava com seus dois empregos. Durante as noites, trancava-se no quarto
de costura no qual ela e a Srta. Turner havia transformado o terceiro quarto de hóspedes.
Ela disse para Garon que estava trabalhando em um projeto, algo a ver com o Natal. Ele
não perguntou o que era e nem por quê. Grace tinha direito aos seus segredos.
Contudo, sua falta de ânimo era desanimadora. Ele estava preocupado o suficiente
para ir falar com Barbara, que provavelmente a conhecia melhor do que qualquer outra
pessoa em Jacobsville.
— Ela não quer falar comigo — Garon disse para a dona do café. — Muda de
assunto, ou deixa o recinto, ou encontra algo urgente para fazer. — Ele fitava as mãos
entrelaçadas entre as pernas compridas enquanto se sentava à mesa, pouco antes do
café abrir para o almoço. — Sei que algo a está aborrecendo, só não sei o quê.
Homens eram as criaturas mais burras na face da terra, Barbara pensou. Grace
estava apaixonada pelo marido, e certa de que tudo que ele queria era a criança que ela
trazia no ventre.
Ele lhe dissera que só ficariam casados até o nascimento do bebê. Garon
provavelmente já se esquecera de ter dito isso, mas Grace, não. Estava apenas
marcando a passagem do tempo, sentindo-se como uma incubadora insignificante na
casa dele.
— Talvez, não seja uma má idéia tirá-la da casa — por fim, ela disse. — A não ser
quando vem trabalhar comigo ou com Judy, ela raramente vai a algum lugar.
Os lábios esculpidos dele se estreitaram.
— Ela vai à igreja com você e Marquez — disse.
Barbara mal conseguiu conter um sorriso. Ele parecia zangado. Considerava
Marques um rival. Na certa, Grace ria e agia com naturalidade na companhia de Rick.
Com Garon, era quieta e mal falava. A diferença devia ser evidente.
— Você não vai — ela retrucou. — Grace leva muito a sério suas manhãs de
domingo.
Ele contornou uma das unhas limpas com a ponta dos dedos.
— Não falo mais com Deus — explicou.
— Algum motivo para isso?
Garon ergueu a cabeça. Não diziam que a confissão fazia bem para a alma?
Barbara não gostava dele, nem confiava nele. Talvez ele tivesse guardado segredos
demais.
— Já fui casado — revelou, notando a surpresa dela. — Muito apaixonado e ansioso
por uma vida inteira ao lado de minha esposa e nossos filhos. Quando ela estava mais ou
menos no mesmo estágio da gravidez que Grace está agora, eles a diagnosticaram com
câncer. Perdi a mãe e a criança.
A tragédia estava evidente nas suas feições tensas, nos seus olhos duros. Barbara
se compadeceu dele. Sabia o que era perda. Seu marido morrera dez anos antes, em um
acidente de avião. Ela jamais pensara e se casar novamente. Ainda sofria com a perda.
123
Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Era óbvio que o mesmo podia ser dito do taciturno agente do FBI. Seu coração foi
enterrado com a família que perdera.
Grace devia saber disso. Explicaria a sua falta de ânimo.
— Meu marido morreu — ela contou baixinho. — Em um acidente. Abortei a única
criança que conseguimos conceber. Eu vivia no passado e odiava a vida. Foi então que
Rick apareceu e, de uma hora para a outra, minha vida passou a ter significado
novamente. — Ela o fitou nos olhos inquisitivos. — Parei de pensar em mim mesma e
passei a olhar ao redor para ver quem precisava de ajuda.
Um dos cantos da boca de Garon se ergueu.
— Esta história tem uma moral?
— Você tem vivido em uma cova aberta desde a perda de sua esposa e filho. Não
acha que já está na hora de viver no presente? Você tem outra esposa e uma criança a
caminho. Não é justo com elas colocá-las em segundo plano, vindo atrás de fantasmas.
Houve um brilho estranho nos olhos escuros do homem.
— Isso foi cruel.
— É a verdade — ela retrucou. — Grace pode não ser uma mulher de carreira
independente e poderosa como a sua amiga Jaqui, mas ela tem seus próprios talentos.
— Ela sabe cozinhar e costurar — ele disse desanimadamente. — Já houve o tempo
em que esses eram os talentos desejados em uma mulher. Vivemos em um mundo
diferente.
— E óbvio que Jaqui é o tipo de mulher que você admira — Barbara disse seus
olhos se tornando frios. — Assim que o bebê nascer, pode conseguir um divórcio rápido e
juntar seus trapos com a sua mulher ideal. Com sorte, Grace perceberá que Rick faz
muito mais o tipo dela do que você. Se me der licença. Tenho de começar a me preparar
para abrir.
Ela se levantou e foi embora sem dizer uma única palavra.
Sentindo-se vazio, Garon voltou para casa. Havia uma distância entre ele e Grace
que estava ficando cada vez mais difícil eliminar. Tivera de passar muito tempo fora
durante o verão, trabalhando nos seus casos. Quando estava em casa, tivera de lidar com
o trabalho acumulado, tanto no escritório quanto no rancho. Seu pai e os irmãos foram
visitá-lo uma vez para conhecer a nova esposa de Garon, mas não ficou muito tempo.
Grace se mostrara tímida e introvertida, e o pai de Garon comentara que eles não
combinavam muito. Garon nada respondera. De fato, não combinavam. Contudo, ele se
acostumara com o cheiro de pão fresco assando na cozinha, e a risada suave de Grace
quando ele fazia piadas a respeito do seu canteiro de rosas. Acostumara-se ao perfume
de rosas que impregnava a sua pele macia e ao som de seus passos abafados pelo
tapete. A única coisa ruim era o seu inesgotável desejo por ela, o qual vinha controlando
com muita dificuldade. Ele a queria o tempo todo, mas ela estava tão frágil durante a
gravidez. Constantemente passava mal, e era difícil para ela respirar direito. Podia
apenas caminhar pequenas distâncias sem perder o fôlego. De modo que ele a provocava
gentilmente e lhe segurava a mão quando caminhavam. E se preocupava. Tentava não
colocar nenhuma pressão nela, para que não ficasse estressada e corresse o risco de
perder o bebê. Estava ansioso pelo nascimento da criança. Só de pensar nisso, já ficava
mais animado e se enchia novamente de vida. Contudo, Grace não estava reagindo como
esperara. Sabia que ela adorava crianças, porém, ela não era mais a mesma mulher.
Podia ver por si mesmo que ela estava afundando mais em depressão com cada dia
que passava. Não podia permitir isso. Tinha de devolver-lhe o gosto pela vida.
— Por que não vem até o escritório comigo? — perguntou, mantendo os olhos na
xícara de café. — Podíamos almoçar juntos, e você poderia fazer algumas compras
enquanto termino a papelada.
Ela hesitou. Era um raio de esperança. Talvez tivesse sido pena. Mas a idéia de
passar várias horas do dia na companhia do marido sexy a encheu de calor por dentro.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
— Ah, droga, por que não trouxe alguém com você para traduzir? — o agente
perguntou, irritado. — Joceline! — berrou.
— O que foi? — retrucou a mulher.
Um homem alto e louro esticou a cabeça para fora do cubículo.
— O sujeito não fala inglês. Por acaso Jon Blackhawk está por aí?
— Lamento, ele tinha de estar no tribunal esta manhã para testemunhar sobre
aquele assassinato no ano passado.
— Ora, o que diabos devo fazer agora? — o agente se queixou. — Este sujeito
testemunhou um assassinato. Se ele for embora, eu talvez jamais consiga trazê-lo de
volta!
O homem no cubículo, evidentemente de origem médio-oriental, apareceu na porta,
ergueu ambas as mãos e deixou evidente a sua revolta por ninguém no FBI ser capaz de
entendê-lo.
Grace caminhou até ele com um sorriso meigo nos lábios.
— É só porque o agente que costuma traduzir está no tribunal — explicou em um
árabe perfeito.
O estrangeiro sorriu de orelha a orelha e a cumprimentou calorosamente. Ela
respondeu polidamente e com um sorriso.
Joceline e o agente a fitaram; boquiabertos.
— Você fala árabe? — o agente indagou.
— Falo. O que quer saber? — ela perguntou.
— Entre aqui — o agente convidou, sorrindo.
Vinte minutos mais tarde, Garon deixou a reunião e começou a procurar Grace. Ele
franziu a testa. Não dissera para ela ficar no escritório, mas não esperara que, na
condição dela, fosse passear pela cidade em meio a todo aquele calor. Receara que ela
fosse se sentir um peixe fora d'água no seu escritório luxuoso.
Ele se deteve diante da mesa de Joceline.
— Viu a minha esposa?
Os olhos de Joceline se arregalaram.
— Você é casado? Nunca me disse que era casado.
— Ninguém precisa saber — ele retrucou em tom frio. — É uma história complicada
e não estou disposto a contá-la.
— A roupa de maternidade já contou tudo — Joceline comentou. — Se a moça
grávida é a sua esposa, ela está logo ali.
Grace estava rodeada por um grupo de agentes, todos conversando e rindo.
— Ela é sua? — Blackhawk, um dos agentes, perguntou para Garon.
— Minha? É. Esta é minha esposa, Grace — ele disse pego de surpresa.
— Jon Blackhawk — o recém-chegado se apresentou, tomando a mão pequena de
Grace na dele. — É um prazer.
— Digo o mesmo — concordou o agente Carlson.
Ela sorriu.
— É um prazer conhecer os dois.
Garon segurou a mão da esposa.
— Temos de ir, ou perderemos o almoço.
— Traga-a mais vezes — Carlson gritou para Garon.
Ele não respondeu. Puxou Grace gentilmente porta afora e a colocou no carro.
Antes de dar a partida no motor, virou-se para ela.
— Ora, parece que você se divertiu um bocado.
Ela ergueu as sobrancelhas.
— E você pode sair em público comigo, de vez em quando. Eu consigo falar e
andar. Em geral, tudo que faz é falar sobre o seu trabalho, jantar, assistir o noticiário,
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
trancar-se no seu escritório e, depois, ir para a cama. Acho que, desde que nos casamos,
não conversamos mais do que um total de uma hora.
Ela tinha razão. Ele deliberadamente evitava estar sozinho com ela. Só assim
conseguia se impedir de tomá-la nos braços, jogá-la sobre a cama mais próxima e possuí-
la. Mas agora isso era tabu.
— Tenho estado ocupado — admitiu.
— De qualquer modo — ela acrescentou, afivelando o cinto de segurança, —
suponho que me conhecer melhor não seja uma prioridade para você. Assim que o bebê
nascer, volto mesmo para casa.
Um silêncio profundo se apossou do carro. Ela o fitou; curiosa com a sua expressão
tensa.
— Foi o que concordamos em fazer quando nos casamos. Disse que, após o
nascimento do bebê, cada um seguiria o seu caminho.
Garon realmente dissera isso. Gostaria de não ter dito.
— Você está trabalhando meio expediente em empregos sem futuro. Pensei que
não seria capaz de lidar com um nível maior de sofisticação — ele salientou rudemente.
— Eu faço o que eu gosto — ela corrigiu. Começou a fitá-lo em silêncio. — Não
posso lidar com uma carreira bem paga, de alta pressão e elevado nível de estresse. Isso
não significa que eu viva dentro de uma redoma. Embora, ao que tudo indica, foi o que
você achou, tanto que não acreditou que eu pudesse me virar meia hora sem você em um
ambiente de escritório.
— Eu jamais disse que você era burra.
— Não ousaria fazer isso — ela salientou com um risinho petulante. — Jamais
comeria outra fatia de torta de maçã.
Um dos cantos de sua boca se ergueu e Garon riu.
— Cuidado, rir pode se tornar um vício — ela alertou.
Ele suspirou profundamente, observando-a.
— Você realmente fica bonita grávida, Grace — disse, abruptamente.
Foi golpe baixo. Ele a estava elogiando. Podia não amá-la, mas parecia gostar dela.
Apenas não conseguia suportar a companhia dela quando estavam a sós em casa.
Mas ela não se importava tanto. Teria o bebê, depois que ele partisse. Ou Garon é
que teria o bebê, caso os prognósticos preocupados de Coltrain se tornassem realidade.
Pelo menos, poderia morar com Garon, estar perto dele enquanto durasse. Sabia que
jamais amaria outra pessoa. Apenas tinha de esconder seus sentimentos. Não seria justo
deixá-lo com um complexo de culpa. Não era culpa dele ainda amar a falecida esposa.
Algumas pessoas simplesmente eram incapazes de amar duas vezes.
O tempo foi passando e Garon se sobressaltou ao se dar conta de que Grace estava
agora grávida de oito meses. Ele passara boa parte desses meses trabalhando com a
força-tarefa, mas o assassino não deixara qualquer trilha que pudesse ser seguida.
Entrevistaram repetidamente as testemunhas, esperando obter uma única pista que
pudesse solucionar o caso. Contudo, sequer chegaram perto.
Com o passar do tempo, verificaram todas as caminhonetes brancas no estado do
Texas.
Nenhuma delas pertencia a um homem chamado Sheldon. Era um beco sem saída.
Cada vez mais, os investigadores tinham respeito pelos pobres policiais do estado de
Washington, que passaram vinte anos tentando pegar o seu assassino em série. Garon e
a força-tarefa tinham as lembranças de Grace com que trabalhar, mas elas não
forneceram a vantagem pela qual estavam torcendo. Sheldon tinha de ser a chave para a
solução dos assassinatos, no entanto, pista após pista foi dando em nada. Haviam
passado meses seguindo idéias e descartando-as, e não havia nenhum resultado
palpável. Rumores circulavam de que a força-tarefa seria desfeita. Uma coisa era certa,
ela não estava fazendo progresso.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Capítulo Quinze
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
as pessoas estão me procurando. Sabe por quê? Por causa das minhas malditas mãos.
Pensei que usar luvas despistaria todo mundo, mas a descrição que fez de mim foi boa
demais. Desde a primavera que estou fugindo.
Os olhos de Garon não se desviaram do alvo. Aquela não era uma situação nova
para ele. Não após seis anos na Equipe de Resgate de Reféns.
— O que você quer? Transporte? Dinheiro?
— Estou cansado de fugir — o homem respondeu. Seu braço se apertou ao redor do
pescoço de Grace, e a lâmina foi apertada com mais força, cortando a pele. — Mas antes
que me pegue, tenho de zerar a conta. Esta — ele indicou Grace — é a única que
escapou. Disseram que ela tinha amnésia. Mas quando você começou a me identificar
pelas mãos, eu soube que ela mentira sobre ter esquecido. Não esquecera nada.
— Ela está grávida — Garon disse por entre os dentes.
— Isso não faz diferença para mim — o homem retrucou em tom monótono. —
Odeio crianças. Especialmente menininhas. Minha madrasta me odiava, ainda mais
quando descobriu que não podia ter filhos. Eu molhava a cama e ela me punia fazendo
com que eu usasse vestidos cheios de babados. Mantinha o meu cabelo comprido e
preso com fitas. Ela me mandava para a escola desse jeito. — Seu rosto ficou vermelho
de tanta raiva. — Meu pai tinha medo dela e jamais falou nada. Todo mundo se divertia às
minhas custas. Mas eu cresci. Fiquei maior do que os dois. E fui à forra. — Ele sorriu com
frieza. — Disse para a polícia que tinha sido um desconhecido e que eu fugi para buscar
ajuda quando vi o que ele estava fazendo. Chorei sem parar. Tiras imbecis. Acreditaram
em mim.
— É por isso que usa luvas? — Garon perguntou a pistola ainda apontada para o
suspeito. — Porque se sente culpado?
Sheldon se movimentava inquietamente.
— Quando tinha 12 anos, comecei a molhar a cama novamente. Estava frio e escuro
e tudo que tínhamos era um banheiro externo, e eu ainda tinha medo do escuro. Prendi
até quase o amanhecer e não consegui mais segurar. Cobri a cama com a coberta e fui
tomar o meu café da manhã, torcendo para que ela só visse depois que eu tivesse saído
para a escola. Porém, ela foi fazer a cama antes do ônibus passar e viu onde eu a havia
molhado. Ela estava começando a preparar um cozido para o almoço. A água estava
fervendo no fogão. Ela gritou comigo, que eu era burro e retardado, e que iria fazer com
que eu me arrependesse. Ela segurou meus braços e mergulhou minhas mãos na água
fervente...
Garon estremeceu.
O suspeito notou. Sua voz ficou mais dura.
— Contei para o meu pai o que ela tinha feito. Ele me chamou de mentiroso, pois ela
era uma boa mulher. Disse que ela jamais me faria mal. Ele me levou até o médico e
disse que eu enfiei as mãos na água fervente só para poder colocar a culpa na minha
madrasta. — Sua voz falhou. — A dor foi terrível. Eles me deram aspirina e aplicaram um
creme arroxeado na pele queimada. Quando minhas mãos sararam, estavam cobertas de
cicatrizes. Tive de aprender a fazer tudo usando luvas, para que ninguém zombasse de
mim.
— Você matou meninas que jamais lhe fizeram nada — Grace soluçou.
— Você parecia com ela! — ele exclamou. — Vocês todas pareciam com ela! Com a
minha madrasta. Eu tinha apenas 12 anos quando ela me arruinou por toda a vida. Então,
matei 12 meninas parecidas com ela. Uma para cada ano. Só que você sobreviveu — ele
murmurou no cabelo de Grace. — Não posso permitir que viva. Vai quebrar a corrente.
— Solte-a — Garon ordenou.
— O filho na barriga dela é seu, não é, Grier? — Sheldon perguntou, apertando o
braço ao redor dela até Grace ficar quase sem ar. — É uma pena que ela não viverá para
dar à luz a ele.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
ocorrido. Não vou demorar. — Ele apertou-lhe calorosamente a mão. — Boa menina —
acrescentou com gentileza. — Você foi muito corajosa.
Ela não conseguiu responder. Não importava. Garon estava se afastando, certo de
que ela não ficara seriamente ferida. Contudo, Copper Coltrain sabia que não era bem
assim.
Ele gritou ordens para os paramédicos enquanto colocavam Grace na maca e a
carregavam na traseira da ambulância.
Cash Grier acabara de chegar. Ele olhou na direção do homem caído e das pessoas
que o rodeavam e avançou na direção deles. Coltrain bloqueou-lhe o caminho.
— Pegue seu irmão e traga-o para o hospital o mais rápido possível — disse para
Cash, — Vou chamar um helicóptero de resgate médico para transportá-la imediatamente
para Houston. Tenho um amigo na unidade de cardiologia, o melhor cirurgião que eles
têm. Ele nos encontrará no pronto-socorro de lá.
Cash estava atônito.
— Mas foi só um corte — protestou, olhando para Grace.
— Não.
Coltrain inspirou fundo e lhe contou a verdade. O rosto de Cash se enrijeceu.
— Bom Deus — sussurrou. — Eu o levarei até o hospital — prometeu, e seguiu para
a cena do crime.
A polícia local estava presente, junto com um dos detetives de Cash, que estava
entrevistando Garon sobre o ocorrido.
Cash pegou Garon pelo braço no exato instante em que a Srta. Turner veio correndo
para ver que comoção toda era aquela.
— Você tem que vir comigo até o hospital — Cash disse para o irmão, com uma
expressão séria. — Agora mesmo.
— Sei que ela está apavorada. Foi uma provação para ela. Mas preciso terminar
aqui e ligar para o meu escritório...
— Coltrain está solicitando um helicóptero para transportá-la até Houston — Cash
interrompeu.
— Por causa de um corte no pescoço? — Garon exclamou certo de que Coltrain
enlouquecera.
Cash inspirou profundamente. Recordava-se de outra noite terrível com Christabel
Gaines, agora casada com Judd Dunn. Lembrou-se da corrida até o hospital e das
intermináveis horas na sala de espera, enquanto os médicos lutavam para lhe salvar a
vida.
— Garon — disse, gentilmente. — Grace tem um problema em uma das válvulas do
coração. Está em estado crítico. Se não operarem rapidamente, ela não vai sobreviver.
Garon escutou as palavras, mas elas não faziam sentido. Ele fitou o irmão, confuso.
— Ela vai ter que sofrer uma cirurgia de coração aberto — Cash acrescentou.
Foi então que o terror se apossou dele. Recordou-se da palidez de Grace e de sua
falta de energia, dos intermináveis mimos de Coltrain, das pessoas da cidade protegendo-
a. Agora, que já era tarde demais, tudo fazia sentido.
Sentiu-se empalidecer.
— Houston — disse, hesitantemente. — Vão; levá-la para Houston?
— Isso mesmo.
— Tenho de ir com ela — Garon disse por entre os dentes. — Será que pode ligar
para o Assistente do Agente Especial no Comando e contar-lhe aonde eu fui e por quê?
— Pedirei para um dos meus homens fazer isso — foi á resposta. — Vou com você
para Houston.
— Obrigado.
— Não precisa agradecer. Vamos.
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Cash correu para o hospital com as luzes acesas e as sirenes berrando. Garon
estava sentado em silêncio ao seu lado, lembrando-se de outra mulher grávida que
morrera. Poderia perder Grace.
Fechou os olhos e estremeceu. Ela passara meses em sua casa, preparando-lhe
tortas de maçã, rindo com a Srta. Turner, fazendo almofadas para a sala de estar,
sorrindo para ele do outro lado da mesa de jantar. Ela jamais se queixara de suas
ausências, nem começara discussões ou fizera qualquer coisa para fazê-lo sentir-se
culpado. Ela tinha de sobreviver. Nada mais importava.
Disse isso para Coltrain. Foi á primeira coisa que dissera ao encontrar o médico
ruivo no pronto-socorro.
Coltrain não fez nenhum comentário sarcástico. Apenas assentiu.
— Vou acompanhá-los até Houston — acrescentou. — Só por precaução.
Garon assentiu, sem conseguir proferir uma resposta.
Grace estava branca como uma folha de papel. Quando ele e Coltrain dividiram o
helicóptero com o piloto e o paramédico, Garon pôde ver o lençol que a cobria se
mexendo com o ritmo irregular e instável de seu batimento cardíaco. Cash seguiu de
carro para Houston, provavelmente a toda, com as luzes e a sirene ligadas.
Garon segurava a mão de Grace, enquanto Coltrain lhe monitorava o progresso,
uma sonda intravenosa estava enfiada no seu outro braço e uma máscara de oxigênio lhe
cobria o nariz.
Dolorosamente, recordou-se de um episódio que ocorrera apenas um mês atrás. Ela
estivera se sentindo mal demais para acompanhá-lo ate o jantar da associação dos
criadores de gado. Por algum motivo, Jaqui Jones estivera presente, sentada ao lado de
Garon. Um fotógrafo do jornal local tirara uma foto, mostrando Garon sorrindo, e se
inclinando na direção de Jaqui.
A Srta. Turner escondera o jornal de Grace, que se mostrou esperta demais para
não notar o esforço que estava sendo feito para protegê-la. De acordo com a Srta. Turner,
Grace encontrara o jornal e apenas o fitara com intensidade. Não dissera uma única
palavra. Jogara-o no lixo e continuara o que estava fazendo.
Garon estava fora com os caubóis, transferindo os touros do pasto de verão. Estava
um dia escaldante. Chegara; em casa tirando a camisa, seu cabelo úmido de suor. E ali
estava Grace, de pé na entrada, com as mãos cruzadas na altura da cintura.
— Por acaso está tendo um caso com Jaqui? — perguntara à queima-roupa.
Ele rira. Foi imperdoável, mas a pergunta era ridícula demais. Ali estava ele, com
sua nova esposa grávida, morando em uma cidade de dois mil fofoqueiros bem-
intencionados.
— Pirou de vez? — perguntara, sorrindo para a bela visão que ela representava em
uma bata de maternidade cor de esmeralda e uma larga calça branca. — Barbara me
arrancaria o couro e me serviria para você acompanhado de um pãozinho quente!
Ela parecera ficar encabulada, e seus olhos baixaram para o seu peitoral largo,
musculoso e coberto de pelos. Seus pensamentos tão evidentes quanto á expressão de
desejo no rosto adorável.
Com um sorriso maroto, Garon jogara a camisa sobre a mesa do hall de entrada,
tomara-a nos braços e a beijara com tamanha paixão que ela gemera e se agarrara a ele.
Justamente quando estava entretendo a idéia proibida de deitá-la no chão e fazer o
que bem quisesse com ela, o telefone tocara. Fora uma ligação do escritório sobre um
caso importante na costa leste. O AEG o escolhera para ir ajudá-lo. Tivera apenas alguns
minutos para fazer as malas e seguir para o aeroporto.
Fitara Grace com um sorriso triste e, atordoada, ela sorrira de volta. Contudo,
quando retornou, uma semana depois, ela estava quieta e reservada. A Srta. Turner disse
que ela tivera uma longa conversa com o Dr. Coltrain que a deixara deprimida. Ele
perguntou sobre o que tinha sido, mas a Srta. Turner não sabia e Grace e o médico ruivo
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
haviam desconversado, dizendo serem apenas discussões sobre o parto que haviam
deixado Grace um pouco nervosa.
Agora, semanas mais tarde, Garon descobrira sobre o que haviam conversado.
Grace arriscara a própria vida para trazer esta criança ao mundo. Sabia o quanto Garon
queria um filho e como ele teria ficado preocupado caso soubesse de seu coração. Então,
fizera todos ao seu redor jurarem sigilo e, durante todos esses meses, carregara o fardo
desse segredo.
Levou a mão pequenina aos lábios e a beijou com voracidade. Sentiu a umidade
brotar nos olhos e abaixou a cabeça para escondê-la. Se ela morresse... Se ela morresse,
o que ele faria? Como continuaria vivendo sem ela? E, para piorar a situação, jamais lhe
revelara seus verdadeiros sentimentos.
Havia uma equipe aguardando no hospital quando o helicóptero aterrissou. Coltrain
já informara Garon do que aconteceria quando chegassem. Os médicos a examinariam.
Marcariam um cateterismo cardíaco para saber a extensão do estrago e decidiriam como
proceder. Havia um cirurgião cardíaco em Houston, o Dr. Franks, que era mundialmente
famoso em sua área. Ele já concordara em aceitar o caso. Coltrain ligara para ele de
Jacobsville. A cirurgia poderia levar várias horas.
Era a receita para um pesadelo. Ficou pior quando o cirurgião, o Dr. Franks e
Coltrain lhe contaram o que poderia dar errado. A gravidez de Grace já estava adiantada
o suficiente para que removessem a criança. Contudo, uma cesárea ou um parto natural
apenas aumentavam o risco. O Dr. Franks fez um comentário sucinto de que jamais
deveriam tê-la deixado conceber sabendo que sua condição, mais cedo ou mais tarde,
levaria a uma intervenção cirúrgica.
Garon ficara arrasado ao escutar aquilo. Coltrain se pronunciou em sua defesa,
informando que Grace se recusara a permitir que o médico informasse o marido da
situação, acrescentando que ninguém jamais esperara que Grace fosse ficar grávida em
primeiro lugar.
O Dr. Franks pedira desculpas, mas culpado nem começava a descrever como
Garon estava se sentindo. Se ao menos tivesse sabido. Se ao menos ela tivesse lhe
contado!
Cash chegou à sala de espera algum tempo depois. Garon estava sentado perto da
janela, fitando os jardins do hospital. Pessoas caminhavam pelas calçadas, entrando e
saindo dos prédios.
Garon não as enxergava. Estava se lembrando da primeira vez em que vira Grace,
quando ela viera até a casa pedir ajuda para a avó. Sentiu a mão enorme de Cash pousar
mo seu ombro.
— O que está acontecendo? — Cash perguntou, sentando-se ao lado de Garon.
Ele ainda estava usando o seu uniforme, e uma família na sala de estar lançou-lhe
um olhar curioso.
— Estão fazendo um cateterismo cardíaco — Garon informou em tom monótono. —
Não sabem o que é mais arriscado, induzir o parto ou fazer uma cesárea. Ela pode morrer
antes mesmo que cheguem à válvula danificada.
Cash inspirou profundamente. Sabia muito bem o que o irmão estava sentindo.
Quase perdera Tippy nos primeiros dias do relacionamento dos dois. E, com certeza, não
se esquecera de quando Christabel Dimn fora baleada; e quase morta por um dos
notórios irmãos Clark, antes que ele e Tippy se envolvessem um com o outro. Fora louco
por Christabel. A angústia do tormento bem fresca em sua mente ao se dar conta das
chances contra Garon.
— Se eu a perder, não há nada mais que fará valer a pena ficar neste mundo —
Garon disse para o irmão.
133
Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
— Ela não ia querer que pensasse assim — Cash retrucou baixinho. — Grace
valoriza a vida. Basta olhar para o modo como ela cuida daqueles canteiros de rosas para
perceber isso.
Garon mordeu o lábio inferior. Estava se recordando de Grace pedindo, de
brincadeira, que ele falasse com as rosas para ela. Sem dúvida, ela adorava cultivar as
coisas.
— Você ligou para o AEC, sobre o tiroteio? — Garon perguntou após um instante.
— Liguei. Ele falou que alguns dos agentes ficaram de vir até o hospital lhe fazer
companhia enquanto aguarda.
Garon apenas assentiu. Cash sorriu.
— Havia me esquecido da ligação estreita que vocês no FBI têm — comentou. — A
maior parte da minha vida; trabalhei sozinho ou com um simples contato.
— Esse não é o caso agora, é? — Garon perguntou.
Cash riu.
— Não. Quando os patriarcas da cidade ameaçaram despedir dois de meus policiais
só porque eles prenderam um político bêbado, o departamento de polícia e o corpo de
bombeiros na sua totalidade ameaçaram pedir demissão se eles fossem postos na rua.
Foi um momento revelador para mim. De repente, de um desconhecido em Jacobsville
tornei-me parte de uma grande família. — Ele deu de ombros. — Eu gosto.
Garon sentira na própria pele parte desta lealdade quando começara a ficar
obcecado com Grace. Uma obsessão que rapidamente terminara, após tê-la brutalizado e
a colocado de lado.
Jamais se perdoaria pelo modo como a tratara. Ainda mais agora que sabia toda a
verdade.
— Se fosse o tipo de família que linchava os seus membros, acho que eu seria um
forte candidato — disse para o irmão.Cansado, inspirou fundo. — Não sabia que o
coração dela não estava bem. Vivia insistindo para que fosse para a faculdade e
aprendesse uma profissão, para que concretizasse o seu potencial. Ela me disse que não
agüentaria um trabalho de alta pressão, e nunca me ocorreu que isso poderia se dever a
problemas de saúde. Apenas achei que ela precisava de mais do que apenas o colegial
para sobreviver no mundo moderno. — Ele lançou um olhar triste para Cash. — Aí, um
dia, eu a levei para o trabalho comigo e a deixei na sala de espera. Quando retornei, ela
estava alegremente conversando em árabe com uma testemunha de assassinato
jordaniana, traduzindo tudo que ele falava. Ela fala vários idiomas — completou com
orgulho.
Cash sorriu.
— Suponho que ela não tenha lhe dito que pertence à MENSA?
Ele suspirou.
— MENSA?
Era uma organização cujos membros tinham coeficientes intelectuais muito altos,
muito mais altos do que a média dos universitários formados.
Ele assentiu.
— Marquez me contou. Ele tinha a maior queda por ela quando era mais jovem, mas
a inteligência de Grace o intimidava. Ela tem memória fotográfica. E há um projeto secreto
no qual vem trabalhando o ano todo que está prestes a render frutos. — Ele olhou para
Garon, que estava com uma cara de quem acabara de ser acertado por uma torta. — Ela
não lhe contou?
Os olhos de Garon se estreitaram.
— Por que você sabe mais sobre a vida da minha esposa do que eu?
— Porque Barbara gosta de mim — Cash enfatizou.
— Bom Deus. Barbara! — o irmão gemeu. — Não liguei para ela...
— Relaxe. Eu liguei. Ela está organizando um grupo de oração para hoje à noite.
134
Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
No passado, quando ainda estava odiando Deus pelo que acontecera com Annalee,
Garon teria zombado da idéia. Mas agora, com a vida preciosa de Grace por um fio, ele
apenas assentiu com gratidão.
Garon se levantou e caminhou até o telefone. Discou o número que o conectaria
com o escritório do capelão. Eles se ofereceram para ajudar, caso ele quisesse. Garon
quis. Perguntou se sabiam como estava indo o cateterismo e, de bom grado, se
ofereceram para descobrir. Em casos potencialmente fatais, como o de Grace, nenhuma
outra agência superava o serviço da capelania.
Eles serviam de ponte entre os médicos e a família dos pacientes, assim como
consolo e companhia quando as pessoas se deparavam com a incerteza no tocante à
sobrevivência de seus entes queridos.
O escritório do capelão não voltou a ligar para Garon. Uma de suas funcionárias veio
procurá-lo, uma mulher de meia-idade com cabelo louro e curto que lhe lembrou Barbara.
Estava com o crachá de identificação do serviço de capelania, e seu nome era Nan.
— Estão quase terminando — ela disse gentilmente. — Ela está indo bem.
— Graças a Deus — Garon exclamou com a voz arrastada. Seus olhos estavam
cansados.
— O cardiologista virá vê-lo muito em breve — a mulher acrescentou. — Estão
discutindo as opções. Tal decisão dependerá do que descobrirem com o cateterismo. Ela
está tomando algo para afinar o sangue?
O rosto de Garon ficou pálido. Não sabia. Era uma pergunta que poderia significar a
vida ou a morte para a sua esposa, e sequer sabia; quais eram os remédios que ela
tomava. Sentiu-se envergonhado.
Antes que tivesse de admitir que não soubesse, Coltrain veio descendo o corredor
acompanhado de um homem usando o uniforme verde dos cirurgiões.
Acompanhado de Cash, Garon foi ao encontro deles. Seus olhos já perguntavam o
que queria saber.
— O que vão fazer? — acrescentou.
— Este é o Dr. Franks — Coltrain apresentou com mais calma. — Este é Garon
Grier, e o seu irmão, Cash. Garon é o marido de Grace.
— É um prazer conhecê-los. Lamento as circunstâncias — o Dr. Franks disse,
apertando-lhes as mãos. A expressão de seu rosto estava seria. — O Dr. Coltrain me pôs
a par do histórico do caso de sua mulher. Você não sabia sobre o coração dela?
— Não podia contar para ele. Ela não me deu permissão — Coltrain disse baixinho.
— Estava protegendo-o, não estava? — o Dr. Franks perguntou gentilmente.
— Sim — Garon respondeu por entre os dentes. — Perdi minha primeira mulher e
nosso bebê para o câncer quando ela estava com cinco meses de gravidez. Grace sabia
disso.
Cash o fitou com os olhos arregalados. Ele não sabia disso. Era um indício claro da
distância que existira entre os dois irmãos. O Dr. Franks franziu a testa.
— Uma mulher de bom coração. Mas agora precisamos decidir como proceder.
Deve saber que a criança complica as coisas...
— Grace vem em primeiro lugar — Garon interrompeu seus olhos escuros
carregados de emoção. — Não importa o que mais aconteça.
O Dr. Franks sorriu.
— A minha esperança é salvar mãe e filho. Temos de decidir se será mais perigoso
induzir o parto ou realizar uma cesariana — acrescentou. — Estou tendendo... Com
licença — disse, pegando o celular. Falou ao aparelho, escutou, replicou e desligou o
telefone. — Era o Dr. Morris, nosso cardiologista. Está com a sua mulher. Ela entrou em
trabalho de parto. Se me der licença, estão precisando de mim.
— Ela vem em primeiro lugar — Garon repetiu.
— Eu sei — respondeu o cirurgião.
135
Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
— Vou junto para ver como posso ajudar — Coltrain informou a Garon com sua
costumeira gentileza. Ele sorriu para a funcionária da capela. — Você fica com ele?
— É claro — Nan respondeu, retribuindo o sorriso.
O celular de Cash tocou. Ele pediu licença e deixou o prédio, para ver se a recepção
era melhor lá fora.
Com o coração pesado como chumbo, Garon observou o cirurgião e o médico se
afastando.
Agora, tudo dependia deles, da ciência médica. Contudo, se Barbara estava
rezando, e havia uma chance de que preces poderiam ajudar...
Ele se voltou para a ajudante do capelão.
— Onde fica a capela? — perguntou baixinho.
— Venha comigo — ela respondeu.
Era estranho estar novamente em uma capela após todos aqueles longos anos.
Depois que perdera Annalee, jamais esperara fazê-lo novamente. Rezara pedindo por
Annalee. Contudo, isso não a salvara.
Porem estava mais velho agora, menos confiante na ciência. Já vira tantas mortes.
Hoje, ele mesmo fora responsável por uma. Lembrou-se do assassino falando com ele,
recordando-se de uma infância que deve ter sido um verdadeiro inferno. Ele teria matado
Grace. Garon não teve outra escolha senão disparar e torcer para que a bala não errasse.
Agora, no silêncio da capela, sentia o impacto duplo da situação desesperadora de
Grace e da realidade que tirara uma vida humana. Apesar da situação, matara um
homem. Era um esforço tentar lidar com isto agora. Através do escritório, havia psicólogos
que poderia consultar e, é claro, haveria uma investigação. Não falara com o AEC, mas
sabia que ficaria de licença administrativa até que o tiroteio tivesse sido investigado, tanto
pelo xerife do condado, visto que o rancho ficava fora dos limites da cidade, quanto pelo
FBI. Não tinha dúvidas de que seria liberado. Mas era uma complicação com a qual não
poderia lidar naquele instante. Tudo que queria era que Grace sobrevivesse. Ele a
mimaria faria tudo que quisesse. Compensaria todos os jantares que perdera todas as
coisas impensadas que fizera e que a levaram a pensar que ele não se importava com
ela.
Se ao menos tivesse a chance de fazer isso. Se ao menos Deus a poupasse!
Já passara por isso com as famílias das vítimas. Quantas vezes; se vira nas salas
de espera de unidades de tratamento intensivo para conversar com sobreviventes e
escutá-los suplicando pela vida de um ente querido?
Prometo jamais dizer algo mal-intencionado novamente, se ao menos deixar que
ele/ela sobreviva, diriam para os céus. Irei à igreja todos os domingos, darei dinheiro aos
pobres, me oferecerei para trabalhar como voluntário; farei caridade, cortarei fora o meu
braço, se ao menos o senhor a poupar, se o senhor o poupar se ao menos deixar esta
pessoa viver!
Era angustiante escutar as promessas. E, agora, ali estava ele, fazendo o mesmo.
Suplicando pela vida de Grace. Mas ela era importante, rezou em silêncio. Muito mais do
que ele. Era uma mulher caridosa. Sempre preparando coisas para os enfermos ou
necessitados, fazendo companhia às pessoas nos quartos de hospitais, freqüentando a
igreja, compartilhando com qualquer um que precisasse dela. Garon não era assim.
Quando não estava trabalhando, era introvertido. Não se dava bem com as pessoas. De
certo modo, ressentia o fato de ter tido de se casar com Grace por conta da criança.
Dissera isso... Não dissera? Contudo, durante o tempo que passaram morando juntos, ele
passara a depender da sua presença alegre, de seu espírito tranqüilizante, de sua risada
diante dos problemas. Podia conversar com Grace de uma maneira que era incapaz de
fazer com qualquer outra pessoa, até mesmo com a primeira mulher. Grace não discutia,
nem reclamava, nem se ressentia do seu trabalho.
136
Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Annalee não gostava do seu horário de trabalho inconstante, nem de seus colegas,
e sempre reclamara de suas ausências e do tempo de trabalho que perdera devido à
gravidez. Antes de ficar grávida, fora dedicada à carreira e, para prosperar, sacrificava
todo e qualquer tempo livre que tinha para passar com Garon. Trabalhara nos sábados e
durante as noites. Como ele, também era; ambiciosa. Estavam começando a se afastar
um do outro. Ambos presumiram que teriam o restante de suas vidas para compensar o
tempo perdido juntos. E então, ela descobriu que tinha câncer e ficou apavorada. Seus
últimos meses juntos foram uma agonia. Ela chorara e se desculpara por ter sido tão
insensível com ele. Depois, rezara, fizera promessas e tentara barganhar pela própria
vida.
Havia sido uma má esposa, porém, iria mudar se ao menos pudesse viver.
Começaria a freqüentar a igreja, se tomaria uma pessoa melhor, preocupando-se mais
com a família do que com o trabalho...
E assim foi. Mas não adiantava barganhar, Garon pensou. Nunca. Podia-se apenas
pedir. Mais nada.
Ele curvou a cabeça e falou com Deus. Não barganhou. Apenas rezou pelo que
fosse melhor para Grace.
Capítulo Dezesseis
Á funcionaria da capela deixou o recinto e, quando voltou, Garon estava vindo pelo
corredor na direção dela.
— Estão precisando de você — a mulher disse com gentileza.
Ele a seguiu pelo corredor, passando pela sala de espera, até chegar à recepção,
onde uma enfermeira sinalizava freneticamente para a mulher.
— Só um instante — ela disse antes de ir falar com a enfermeira.
Tenso como um cabo de aço, Garon aguardou. Ela precisava viver. Precisava viver!
Sentiu-se tomado de pânico ao ver o rosto da mulher ficar sério.
Ela voltou.
— Ela está bem — tratou logo de dizer, ao ver a palidez cadavérica do agente
federal. — Venha. Vamos subir para falar com o cirurgião.
Entraram no elevador, que já estava cheio, e subiram até a ala cirúrgica.
Coltrain e o Dr. Franks o estavam aguardando. Ambos olharam para Nan.
— Eu não contei — ela disse baixinho.
— Você tem um filho — Coltrain informou no tom de voz mais gentil que Garon já o
vira usar.
— E quanto a Grace? — perguntou por entre os dentes cerrados.
— Está agüentando firme — Coltrain disse. — Pode até ter nos ajudado. Foi um
parto rápido, muito incomum para um primeiro filho. Ela passou por tudo com apenas um
pouquinho de estresse alem do normal. Agora, á estão preparando para cirurgia.
— Ela nos deu permissão para operar — o Dr. Franks disse, — mas também
gostaria da sua.
— É claro — Garon disse na mesma hora. — Posso vê-la?
— Só por um minuto — o Dr. Frank disse. — O Dr. Coltrain o acompanhará.
— Faça o melhor que puder — Garon pediu ao cirurgião. Seu olhar falou mais alto
do que suas palavras.
O Dr. Franks pousou a mão firme no seu ombro.
— Não perco pacientes — disse com um sorriso. — Ela sairá desta. Tenha fé.
137
Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Garon assentiu. Ele seguiu Coltrain e Nan através da ala até chegar ao quarto; onde
Grace recebera a medicação pré-operatória. Estava meio dopada, mas ao ver Garon,
seus olhos brilharam.
— Grace — ele soluçou, curvando-se para lhe beijar as pálpebras. — Ah, Deus,
Grace! Por que não me contou, querida?
— Não podia fazer isso... Com você — ela sussurrou. Lágrimas rolavam por suas
faces. — Estava tão empolgado com o bebê. Você o queria tanto. Eles lhe contaram que
temos um menininho?
— Contaram — ele conseguiu dizer.
Estava lutando contra a umidade dos próprios olhos e perdendo.
— Venha aqui — ela sussurrou, puxando o rosto dele para si.
Garon foi sem resistir, submergindo no reconforto que ela lhe oferecia. Sentiu-se
envergonhado. Ele é quem deveria estar reconfortando-a...
Ela lhe beijou lentamente as pálpebras, sentindo nos lábios a umidade salgada.
Garon estremeceu de tanta ternura, e Grace sentiu. Ele estava arrasado. Pobre, pobre
homem. Ter de passar por tamanha angústia com relação à gravidez por duas vezes. Mas
ela não queria morrer. Ia lutar. O que ele estava sentindo e demonstrando era profundo
demais para simples pena. Era doloroso vê-lo tão arrasado, quando sua força a afastara
tanto do perigo.
— Está tudo bem, Garon. Tudo vai ficar bem. Eu prometo. — Mas ela hesitou, pois
estava dando um passo em direção ao desconhecido. Estava começando a ficar
sonolenta. — Cuide do nosso bebê, se...
— Não fale — ele implorou, angustiado.
— Tory — ela sussurrou meio sonolenta. — Quero chamá-lo Tory, em homenagem
ao meu avô. E o nome do meio dele deveria ser Garon, como o seu. Está bem?
— Você pode ter tudo que quiser — ele disse com firmeza. — Apenas... Não me
deixe Grace. Não me deixe sozinho no mundo.
Sua voz estava rouca de tanto sentimento.
Ela se sentiu linda. Ele realmente sentia algo por ela. Algo poderoso, como o que ela
sentia por ele. As pontas de seus dedos lhe contornaram a boca. Ela o amava tanto. Mais
do que ele poderia saber.
— Você me fez mais feliz do que jamais fui — sussurrou. — Você salvou a minha
vida. Eu amo você.
— Grace...!
Ela arquejou rapidamente, e respirar de novo pareceu exigir um enorme esforço
dela.
— Temos de ir — Coltrain avisou. — Pode lhe dizer mais tarde.
Contudo, Garon estava paralisado ao lado da esposa, apavorado, sofrendo,
receando que aquela pudesse ser a última vez em que a veria com vida. Não queria
deixá-la.
— Não morra, Grace — Garon suplicou, fitando-a por entre as lágrimas. — Não
ouse morrer! — Ele inspirou bruscamente. — Não vou voltar e contar para aquelas
malditas rosas que você não voltará mais para casa!
Por mais incrível que pudesse parecer, ela riu. O som pareceu um coro de anjos
para Garon.
Ele se curvou e lhe beijou os lábios secos uma última vez.
— Não me deixe — sussurrou no ouvido dela. — Não quero viver sem você.
As lágrimas arderam nos olhos dela.
— Meu querido — Grace sussurrou, e seus olhos se fecharam.
A medicação estava começando a fazer efeito.
— Vamos — Coltrain disse, arrastando-o para fora da sala. Grace já estava
adormecendo.
138
Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Garon lançou um último olhar em sua direção, seu cabelo louro curvando-se ao
redor dos ombros, rodeando-lhe o rosto pálido enquanto os olhos acinzentados se
fechavam. Por favor, Deus, pensou tomado de pânico, não permita que se fechem para
sempre! O que quer que eu tenha feito pode me punir, mas não a leve! Por favor, não!
— Ela já chegou à metade do caminho — Coltrain disse, enxergando o pânico nas
suas feições normalmente tão controladas. — Ainda não desista dela. Vamos descer e
tomar uma xícara de café.
Coltrain o levou lá para baixo e lhe trouxe um pouco de café preto. O homem parecia
feito de aço, Garon pensou, enquanto dividiam uma mesa na lanchonete.
— Para ser condenado a passar por este inferno não só uma, mas duas vezes, devo
ter sido um déspota em alguma vida passada — Garon murmurou.
Coltrain entendeu a referência. Lembrava-se de que Garon perdera a primeira
mulher quando ela estava grávida.
— Grace pode ter um coração ruim, mas ela tem uma força de espírito como eu
jamais vi em outro ser humano — o médico disse. — Ela passou por uma provação a que
a maioria das crianças não teria sobrevivido. É uma lutadora. Não desista dela.
— Não ousaria fazer isso — Garon respondeu com uma voz cansada.
— Gostaria de ver o seu filho?
O filho pelo qual esperara tanto tempo. O filho dele. Mas Garon sacudiu a cabeça.
— Ainda não — respondeu. — Não até que... Saibamos de algo.
— Tudo bem.
Havia uma hora que Cash sumira. Ele apareceu na lanchonete com um ar de
cansado.
— Tivemos uma emergência na cidade. Tive de dar uma centena de telefonemas
para esclarecer tudo. Um assalto a banco. Dá para imaginar? Em Jacobsville. Pegaram
os sujeitos, mas eu tive de estar à disposição. Como está Grace?
— Em cirurgia — Garon respondeu.
— Ele tem um filho — Coltrain acrescentou.
Cash olhou para o irmão, que estava taciturno.
— Eu sou tio? Puxa!
Garon tomou um gole do café. Dava para ver que estava exausto.
— Venha — Cash disse. — Quero ver se o seu filho se parece com você.
Garon lhe lançou um olhar deprimido.
— Espero que não, pobre coitadinho.
— Já devem ter aprontado a criança a esta altura — Coltrain comentou. — E então?
Garon os acompanhou relutantemente. Não sabia se era certo ficar entusiasmado
com a criança enquanto Grace lutava pela própria vida. Mas sabia que ia enlouquecer se
tivesse de ficar ali sentado pensando nisso. No mínimo, a criança serviria de distração.
Contudo, mudou de idéia quando estava olhando para o menino através da janela.
Toda a sua atitude mudou. Ficou; parado fitando a criaturinha pequenina enrolada no
cobertor azul, seus olhos mal conseguindo focalizar nele.
— É tão pequenino — exclamou. — Eu poderia colocá-lo no bolso!
— Quer pegá-lo no colo? — Coltrain perguntou, vendo nisso uma maneira de apagar
o pavor nos seus olhos.
Garon o fitou surpreso.
— Eu posso?
O médico sorriu.
— Venha.
Eles colocaram um jaleco hospitalar nele, o sentaram em uma cadeira de balanço e
lhe passaram o menininho enrolado no cobertor. Uma enfermeira mostrou como apoiar a
cabeça e as costas do bebê.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Garon fitou o filho com um misto de admiração e medo. Era tão pequenino. Toda a
leitura que fizera não o preparara para o impacto da paternidade. Contou os dedinhos das
mãos e dos pés, alisando a cabecinha macia e careca com a mão. Enxergou Grace no
formato dos olhos e a si mesmo no queixo. Seus olhos se embaçaram ao pensar nos
dias, semanas, meses e anos que tinha pela frente. Por favor, Deus pensou não me faça
ter de criá-lo sozinho.
O bebê se moveu. A mãozinha agarrou o polegar de Garon e o ficou apertando. Os
olhos do bebe não se abriram. Curioso quanto a isso, ele perguntou à enfermeira, que,
sorrindo, lhe disse que bebês costumavam levar ate três dias para abrir os olhos e olhar
ao redor. Contudo, ainda assim, não seria capaz de enxergar muita coisa. Garon não se
importou. Olhou para o filho com uma expressão que nenhum artista no mundo poderia
ter reproduzido.
Observando através da janela, Coltrain e Cash sorriram com satisfação ante àquela
visão.
— É uma cena digna de um retrato — Coltrain disse, com um sorriso.
— Retratos! — Cash pegou o celular, ligou o aparelho e, olhando através do visor,
tirou vários retratos de Garon segurando o bebê. — Algo para mostrar para Grace quando
ela sair da recuperação — disse para o médico ruivo.
Coltrain assentiu. Torcia para que a previsão do amigo estivesse correta. Sabia
muito mais do que estava disposto a revelar para Garon ou para seu irmão. Isso poderia
esperar até que não tivesse outra opção.
Quatro horas mais tarde, o Dr. Franks procurou Garon. Estava com uma aparência
muito cansada.
— Ela está agüentando firme — disse para Garon. — Saberemos com certeza nas
próximas oito horas.
— Saber? Saber o quê?
O médico inspirou profundamente. Coltrain fez uma careta. O Dr. Franks olhou para
Garon e disse, gentilmente.
— Em cerca de oito horas, ela acordará... Ou não o fará mais.
Foi á coisa mais apavorante que alguém já lhe dissera na vida.
Sabia que devia estar parecendo um morto-vivo ao fitar, boquiaberto, o cirurgião.
— Oito horas — Garon repetiu, com a voz embargada de emoção. — Vou
enlouquecer.
— Vamos para o hotel. Eu reservei um quarto — Cash falou.
— Deixar o hospital agora? Ficou maluco? — Garon esbravejou.
— Só por alguns minutos — Cash prometeu, discretamente trocando olhares com os
dois médicos por sobre o ombro de Garon. — Venha. Confie em mim.
— Você me ligará se houver alguma mudança? — Garon perguntou para Coltrain,
visivelmente abalado.
— Eu prometo — concordou o médico ruivo.
— Também reservei um quarto para você — Cash disse para Coltrain, entregando-
lhe a chave. — Não discuta. Tenho amigos que você não vai querer conhecer.
Coltrain riu.
— Neste caso, tudo bem. Obrigado. Vou fazer uso dele em algumas horas.
— Nós não demoraremos — Garon prometeu.
Cash não disse uma só palavra.
Uma hora mais tarde, Garon estava apagado no sofá da suíte que Cash reservara
para eles.
Não era justo, ele sabia, contudo o irmão parecia prestes a enfartar. Cash o enchera
de uísque escocês e água tônica. Visto que Garon raramente bebia, a combinação de
exaustão e álcool o atingira como uma bomba. Ele apagou como uma vela.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
Grace melhorava a cada dia que passava. Estava de pé e andando no dia seguinte
à operação.
Garon ficou horrorizado, mas os médicos insistiram que era o que tinha de ser feito
para ela se recuperar e, o que era mais importante, não desenvolver uma infecção
respiratória como efeito colateral da cirurgia.
Com dolorosa lentidão, Garon caminhou com ela até o berçário. Ele empurrava a
haste onde estava pendurada a bolsa do soro intravenoso. Ela se apoiava no braço dele,
e apesar de tudo pelo que acabara de passar, sentia-se mais leve do que o ar.
Detiveram-se no berçário, onde a enfermeira ergueu o pequeno Tory para que eles
vissem.
Garon não sabia, mas Cash tirara várias fotos dele segurando o bebê e as mostrara
para Grace.
Se ela tinha alguma dúvida sobre os sentimentos dele pelo filho, as fotos trataram de
eliminá-las. Grace estava fascinada com o amor dele pela criança.
— Ele parece com você — Grace sussurrou, em lágrimas ao ver o filho pela primeira
vez. — É lindo.
— Assim como a mãe dele — ele sussurrou e se curvou para roçar a boca sobre os
lábios ressecados, com ofegante ternura. — Obrigado por se arriscar tanto para trazer o
nosso filho ao mundo.
— Você o trouxe para mim — ela respondeu com os olhos; cheio de suavidade.
Ele lhe beijou o cabelo.
— Sei que a fiz sofrer, Grace. Fico feliz que terei a oportunidade de compensá-la por
tudo.
Ela lançou um olhar de soslaio na direção dele.
— Penitência, não é?
Ele sorriu.
— Para valer.
— Isso está me parecendo interessante.
Ele lhe mordiscou o lábio inferior.
— Quando estiver boa, daqui a um ou dois meses, exploraremos juntos algumas
trilhas sensuais.
Ela adorou o tom de voz malicioso dele e riu como uma menina.
— Pare com isso — disse, com firmeza. — Neste exato instante, mal consigo
caminhar. Se não sabe, eles me abriram bem aqui no meio, e agora vou ter ainda mais
cicatrizes do que já tinha.
Ele sorriu.
— Gosto das suas cicatrizes. Elas são sensuais.
Ela ergueu as sobrancelhas.
— Ora, ora!
— Temos o mundo todo pela frente, Grace — ele acrescentou, voltando a olhar
através da janela do berçário, onde o filho deles dormia. — O mundo todo.
Ela sorriu.
— Sim.
E deslizou com confiança a mão para junto da dele.
O primeiro Natal juntos foi o mais maravilhoso de toda a vida de Grace. Garon saiu,
trouxe uma árvore para casa e pediu que várias das esposas dos vaqueiros do seu
rancho o ajudassem a decorá-la. O resultado foi um lindo triângulo de cor e luzes. O bebê
já estava conseguindo focalizar melhor e pareceu achar as luzes fascinantes. Estava nos
braços de Grace, fazendo aqueles sons de bebê que pareciam fascinar tanto os pais.
— É simplesmente linda — Grace comentou, sorrindo para ele. — É a árvore mais
linda que já tive.
Ele assentiu, fitando-a.
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
— Meu pai não gostava muito de comemorações, mas nossa madrasta adorava
decorá-las. Nunca me dei muito bem com ela. Depois que nosso pai se divorciou dela,
nossa governanta começou a fazer os Natais especiais para nós. Sempre gostei de
árvores de Natal.
— Eu também — Grace retrucou. — Tinha de enfrentar minha avó para montar uma
todos os anos, mas acabava conseguindo o que queria.
Estavam assistindo televisão juntos. Garon estivera trabalhando duro, tentando
prender um novo traficante de drogas que começara a operar na região. Formara uma
força-tarefa, e Marquez também estava nesta. Os dois homens tinham resolvido suas
diferenças e pareciam estar se dando bem. De vez em quando, Rick vinha visitar o bebê,
mas sempre trazia Barbara. Aparentemente, não queria preocupar Garon.
O noticiário apresentou uma matéria sobre uma nova linha de bonecas que estavam
quebrando recordes de venda em todos os lugares, e Grace a assistiu arrebatadamente.
Era uma nova linha de bonecas de pano artesanais, chamadas "A Família Rato". Havia
ratos machos e fêmeas, além dos bebês ratos. Havia uma linha de roupas para eles e até
um doce que tinha o seu nome. Estavam vendendo como água no deserto. Todas as
crianças pareciam querer as bonecas de Natal. Estavam esgotadas em vários lugares.
Grace sorriu ao olhar para a tela.
No final, mencionaram que as bonecas eram a criação de uma texana que jamais
deixara sua cidade natal, a Sra. Grace Grier, de Jacobsville, no Texas.
Garon quase desmaiara quando enfim descobrira o que o projeto secreto dela era
na verdade.
Vendera os direitos para as bonecas rato antes mesmo de eles se casarem e criara
os protótipos de todas as roupas que as acompanhavam. Ninguém esperara que fossem
vender tão rápido. Bem, o representante da loja de departamentos para a qual Grace
escrevera, enviando uma amostra da boneca rato, esperara. Ele demonstrara grande
confiança nas habilidades de costura de Grace, e as bonecas eram realmente bonitinhas.
O homem passara semanas tentando marcar apresentações e conseguira convencer os
compradores de brinquedos de uma enorme cadeia de lojas de departamentos que elas
seriam a última moda e que renderiam uma fortuna. Mostrara ter razão. Grace ia ser
muito rica.
— Quando nos casamos, pensei que a conhecia — Garon comentou com uma
risadinha. — Eu não tinha nem idéia de como você realmente era.
— Eu lhe disse que não era muito doméstica — ela salientou.
— É para isso que temos a Srta. Turner, querida — ele disse baixinho, sorrindo para
a esposa. — Você pode se concentrar em fazer suas bonecas.
— Eu só faço os protótipos — ela lembrou. — Eles têm um departamento inteiro de
funcionários fazendo as bonecas. E está mesmo ficando mais difícil, porque elas estão se
esgotando em todos os lugares.
— O que me lembra. Carlson iria adorar se você pudesse fazer uma ratinha branca
para o aniversário da filha dele. Uma especial, com enormes olhos azuis.
Ela sorriu.
— Com certeza. Só que você terá de cuidar de Tory enquanto estou trabalhando
nela.
Ele sorriu de volta.
— Isso não é trabalho algum.
— Você se transformou em um ótimo pai — ela salientou.
— Ainda não. Mas estou me esforçando.
— A propósito, depois que eu colocar Tory para dormir; tenho algo para você.
— Para mim? — ele perguntou intrigado.
— Nem adianta tentar adivinhar. Não vou dizer. Pelo menos, ainda não.
— Tem alguma coisa a ver com rosas?
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Rainhas do Romance nº 48 Homem da Lei Diana Palmer
a audição, tudo, com exceção da união febril de seus corpos. Segundos mais tarde, ela
gritou de prazer e, com seus últimos vestígios de força, arqueou-se de encontro a ele.
Sentiu-o estremecer, escutou-o sussurrar repetidas vezes o seu nome, quando Garon
também chegou ao clímax.
Muito tempo depois, ele se apoiou em um dos cotovelos e olhou para Grace, que
estava deitada de barriga para cima. Ela exibiu um sorriso ofegante.
— Agora, diga que só se casou comigo porque eu engravidei — ela desafiou, rindo.
— Tudo bem, você venceu. Eu me casei com você por causa do sexo sensacional.
— E? — ela insistiu.
— E por causa da sua torta de maçã — Garon acrescentou. — E para aprender
como consegue cultivar rosas com o dobro do tamanho das minhas. E você? Por que se
casou comigo?
Ela afastou-lhe o cabelo do rosto e sorriu para aqueles lindos olhos escuros.
— Eu me casei como você porque o amo — disse baixinho. — Porque foi o único
homem que eu já quis ter.
— Graças a Deus por isso — ele sussurrou, beijando-lhe a ponta do nariz. — Eu a
fiz passar por poucas e boas.
Ela pousou o dedo nos lábios dele.
— Estamos casados, felizes e com um bebê recém-chegado — disse. — Todo o
resto não importa.
Ele suspirou.
— Pelo menos, não terá que se preocupar novamente com Sheldon.
Ela assentiu. Só escutar o nome dele já era o suficiente para deixá-la nauseada.
— A terapeuta que estou vendo é muito boa. Ela está me ajudando a lidar com as
lembranças.
Ele sorriu.
— Se hoje for algum indício, ela realmente a está ajudando muito.
Os olhos dela brilharam maliciosamente.
— Não foi isso.
As sobrancelhas dele se arquearam.
— Nesse caso, o que foi?
— Você estava sem camisa quando estava assistindo TV — ela respondeu, com os
olhos no peitoral musculoso do marido.
— Você não tem vergonha.
— Sabe que não posso resistir quando está seminu.
— Digo o mesmo sobre você — ele concordou, beijando-a novamente.
Ela lançou um olhar na direção da babá eletrônica. A luz estava acessa, mas
escutou apenas uma respiração suave.
— Ainda bem que compramos isso — afirmou. — Caso contrário, eu não dormiria
mais.
— Nem eu. — Ele alisou-lhe o cabelo para trás. — Você está feliz?
Ela sorriu.
— Eu poderia morrer de tanta felicidade.
Ele beijou-lhe as pálpebras com suavidade, lembrando-se de como fizera
exatamente isso antes que a levassem para cirurgia.
— Quando Tory já tiver idade para ir à escola, quero que venha trabalhar para mim.
— Fazendo o quê?
— Como tradutora. Talvez não tenha se dado conta disso, mas não há muitos
agentes que saibam falar árabe. Você seria muito útil.
Ela franziu os lábios e, em seguida, sorriu para ele.
— Talvez eu faça isso. Ele se virou de barriga para cima e bocejou.
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— Posso até ficar viciado — ele sussurrou. — Vou querer anos e mais anos disso.
Ela sorriu de encontro à boca do marido, enfiando os dedos na espessa cabeleira
dele.
— Eu também.
Subitamente, escutaram um choro vindo da babá eletrônica.
Ambos se levantaram ao mesmo tempo, seguindo apressadamente para o quarto ao
lado, onde o filho deles estava gritando. Seu rostinho estava vermelho como fogo.
Garon inspirou e engoliu em seco.
Grace franziu os lábios. Também reconhecia o odor.
— Podíamos tirar par ou ímpar — Garon sugeriu.
Ela lhe deu um soco nas costelas.
— É preciso alguém que possa levantá-lo para fazer isto, e eu ainda não posso.
Ele ainda hesitou.
— Escute aqui, ô cara durão, você foi do resgate de reféns. Fez parte até da equipe
da SWAT...
— Está no manual que agentes do FBI não têm de trocar fraldas — ele a informou
altivamente. — Parágrafo 211, seção três, página 221.
— Não existe essa regra.
— Existe sim. Enquanto você troca a fralda dele, vou procurar no manual para lhe
mostrar. Não precisa levantá-lo — ele acrescentou, cheio de esperança. — A cama é bem
alta.
Ele parecia desesperado. Ela teve de se esforçar para não rir. Garon jamais lhe
contara, mas soubera pela Srta. Turner que, diante da sua primeira fralda realmente suja,
durante a recuperação dela, ele vomitara antes mesmo de poder trocá-la.
Ele lhe passou os lenços umedecidos e a nova fralda descartável, e seus olhos já
diziam tudo.
Ela o fitou de esguelha.
Ele deu de ombros.
— Você limpa e eu troco?
Dessa vez, ela riu. Sacudindo a cabeça, fez a sua parte do trabalho sujo e o deixou
com a fralda nova no lugar.
Garon ergueu o menino até o seu peito nu e o manteve ali, beijando-lhe o topo da
pequenina cabeça macia.
Com lágrimas brotando nos olhos, ela admirou a cena.
Ao olhar para ela, notou a expressão nos olhos de Grace.
— O que foi? — perguntou.
Ela se encostou a ele, seus dedos acariciando a face macia do bebê.
— Estava apenas contando minhas bênçãos — ela disse com a voz embargada de
emoção. — É impossível. Tenho tantas.
Ele se curvou e lhe beijou a testa com suavidade e ternura.
— Tantas quanto os grãos de areia no fundo do oceano — ele respondeu, a voz
rouca e os olhos escuros brilhando de emoção. — Eu a amarei por toda a minha vida. Até
o fim. E a última imagem que terei em minha mente será a do seu rosto sorrindo para
mim.
Lágrimas rolaram pelas faces de Grace.
— Eu amo você.
— Eu também amo você — ele sussurrou carinhosamente, enxugando com beijos
as lágrimas da esposa enquanto o bebê adormecia nos seus braços. — E jamais deixarei
de amá-la.
E ele nunca deixou.
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Fim
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