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A Identificação
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Lição de 15 de 11ove111fmJ dl' ! % !
com esta oJ�jeção, e creio que ela nunca foi fei ta, é que c u penso 11;1 1 1 t';
um pen samen to. É claro, Descartes nos propõe estas fórmulas ao f'i1 1al
de um lon go processo de pen samen to, e certamente que o pensam ento
ele que se tra ta é um pensam en to de pen sado r. Direi até mais, essa
caracte rística, é um p en samento de pensador, não é exigível para que
falemos ele pensamento. Um pen samen to, em suma, n ão exige em absoluto
que s e pe nse 110 pc1 1 sa1 1 1c1 1 lo.
Para n cís, pa rticula nnen t e, o pen samen to começa no inconsc ien te.
Só podemos nos surpreender com a timi dez que nos !'az recorrer à fórmula
dos psicólogos quando procuramos dizer alguma coisa sobre o pensamento ,
a fórmula de dizer que é uma ação no estado de esboço, cm e stado
re duzi do, modelinho econ ôm i co ela ação. Vocês me dirão que isso s e
encon tra c m Freud, cm algum lugar, mas, cer tamen te, encontra-se tudo
em Freud ; na vol ta ele al gum pa rágrafo, ele pode ter feito uso dessa
definição psicol ógica do pen samento. Mas, en fim, é to talmente difícil
desca rtar que é em Freu d que encon tramos também que o pensamento
é um modo pe rfe i tamen te eficaz e, de alguma forma, suficiente em s i
mesmo, de sa tisfação masturbatória. Isto para dizer que, no que concerne
ao sen tido do pen samen to, temos, talvez , um palmo um pouco maio r
do que os out ros obrei ro s. En tre tanto, isso não impede que , in terrogan do
a f'ó rnrula c1 1 1 q u cs t üo, " penso, logo sou ", possamos dizer que , pelo uso
que se faz dela, ela s cí pode nos coloca r um prob lema ; poi s convém
interrogar esta fala, eu penso, po r mai s amplo que seja o campo que
tenha mos reservado ao pensamento, para ver sa tisfei tas as características
do pen sam ento, pa ra ver satisfeita s as ca rac te rísticas do que podemos
c ham a r de pensamento. Poderia se r que isso fosse uma fala totalment e
insullcien te para sustenlar o que quer que seja, que pudéssemos finalmc1 1 1 c
localiza r por essa p resença, e u sou .
É justamente o que p re ten d o. Para esclarecer o meu desenvolvimento,
in dicarei que eu penso, toma do simplesmen te sob esta forma abreviada,
não é mai s sustentável logica men te, mais suportável, do que o eu minto,
que já causou p roblema pa ra um certo n úmero de lógicos, este eu m i 11to,
que só se sustenta na vacilação lógica, vazia, sem dúvi da, mas suste11 1 ávcl,
que desdobra essa aparência de sentido, bastan te suficiente, al i:ís, para
encontrar seu lugar em lógica formal. Eu minto, se o digo, é verdade,
portanto, não minto, mas minto mesmo, con tudo, pois, dizendo 111 i 11 / u ,
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afirmo o con trár io. É muito fácil desmon tar essa pre ten sa dificuldade
lógica e mostrar que a pre tensa d ificuldade onde repousa esse julgamento
apóia-se n isto : o julgamen to que ele compor ta não pod e apoiar -se cm
seu próprio en unciado, é um colapso. É sobre a ausência ela dist inção el e
dois planos, pelo fato ele que a ên fase incide sobre o próprio minlo, sem
que se o d istinga, que na sce essa pseudo-di fic uldade. Isso para d izer
lhes que, na falta desta distinção, não se trata de uma verdad eira proposição.
Esses pequenos paradoxos, dos quais os lógicos fazem, aliá s, muito
ca so, para levá -los imedia tamen te à sua medida j usta , podem passar por
simples diver timen tos. Eles têm, cont udo, seu in teresse; devem ser retidos
para apreen der, cm suma, a verdadeira posição el e toda lógica formal,
até inclusive esse fa moso posi tivismo lógico do qual cu falava h.í pouco.
Enten do por isto, que , c m nossa opin ião n ão se fez, j ustamen te, uso
sufic iente da famosa aporia d e Epimênides, que n ão é senão uma forma
mais desenvolvida do que acabo ele apresen tar -lhes a propósito de cu
minto, que "Todos os Creten ses são mentirosos, assi m fala Epin 1ên ides,
o Cretense", e voc ês vêem logo o pequeno to rn i quete qu e se e 1 1gc11clra.
Não se a usou o bastante para demon strar a vaidade da famosa proposiç;fo
el ita a f ir111a tiva univer sal A. Porque, d e fato, o bservamos a esse respeito,
está exata men te aí, nós veremos, a for ma mais in teressan te de resolver
a di ficulda d e. Poi s , observem bem o que se passa, se colocamos isso
que é possível, que foi coloca do na crítica da famosa afirma tiva universal
A, da qual algun s preten deram , não sem fun damen to, que sua substância
nunca tenha sido outra senão a de uma proposição univer sal negat iva :
"Não há Cre ten se que n ão seja capaz d e men tir ", de sde então, n ão há
ma is nenh um problema. Epimêni des pode d izê-lo, pela razão ele que
expresso assim, ele não diz, em absoluto, que haja alguém, mesmo Cretense,
que possa mentir sem parar, sobretudo quando nos aperc ebemos que
1 1 1 en tir tenaz mente implica uma memória fir me, que ter minaria por
or ien tar o disc ur so no sen tido equivalen te a uma confissão, ele maneira
q 1 1 e, mesmo se "Todos os C retense s são men tirosos" queira dizer que
1 1 iw l 1á um só Cretense que n ão queira mentir se m parar, a vcrc..laclc
l < 'l"lt1i 11ar :í mesmo por escapar -lh e na virada, e na mccli c..la mesma do
ri gor dessa von ta d e. O que é o sen tido mais plausível ela con fissão do
( ' 1r1t·11se Epimênicles, de que todos os Creten ses são mentirosos, o senti do
11ao pode ser scnáo esse: 1 ) ele se van glor ia disso; 2 ) el e quer, com
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ao saber. O saber é in te rsubje tivo, o que não quer dizer que seja o
saber de todos, nem que seja o saber do Ou tro, com A mai úsculo. E o
Ou tro, nó s afirmamos, é essencial mantê-lo a ssim, o Outro não é um
sujeito, é um lugar ao qual nos esforçamos, diz Aristóteles, por tran sferir
o sa ber do sujei to. N a turalmen te, por esses esforços, resta o que Hegel
desdobrou como a história do sujeito ; mas i sto não quer absolu tamente
dizer que o sujeito saiba um tico a mai s sobre o a ssunto em questão.
Ele não tem perturbação, se posso dize r, a não ser em funçüo de uma
suposição indevida , a saber, que o Outro saiba, que haja um saber absoluto,
mas o Outro sabe disso ainda menos que ele, pela simples razão . justamente,
de que ele não é um sujei to.
O Oucro é o Jeposic,írio dos rcprcsentarncs rcprescmacirns dessa suposiç,io
de saber, e é isso que chamamo s de inconscien te, na medida em que o
sujei to pe rdeu -se, ele mesmo, nessa suposição de saber. Ele provoca
isto sem sabê-lo. I sso, são os destroços que lhe vol tam do que sofreu sua
realidade nesta coisa, destroços mais ou menos irreconhecíveis. Ele os
vê vol ta r, pode dizer, ou não dizer: " É isso mesmo ", ou até: "não é isto
de jei to nenhum ", con tu do, é realmen te i sso.
A função do sujei to em Descarte s é, daqui que retoma remos nosso
di scurso na próxima vez, com as ressonância s que dele encontramos
na análi se. Tenta remo s, na p róxima vez, a s sinalar as re ferência s à
fenomenologia do neurótico obsessivo numa escansão significante
onde o sujeito se encontra imanente a toda articulação.
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LIÇAO II
22 d e novembro de 1 961
Vocês p uderam constatar, não sem satisfação , que p ude in tro d uzi
los, na última vez, a nosso p ropósito deste ano, po r uma reflex ão q ue ,
aparentemente, po deria passar po r m uito filosofan te, já que se refe ria
a uma reflexão filosófica, a de Descartes, sem acarretar da parte de
vocês, me parece, demasiadas reações negativas. Longe disso, parece
que confiaram em mim pela legitimidade de sua contin uação. Alegro
me com esse sen timento de con fiança que gosta ria de po der tra d uzi r
no que pelo menos se percebeu por onde eu queria cond uzi-los. Entretanto ,
para q ue vocês não tomem, no que hoje vo u continuar sob re o mesmo
tema, o sentimento de q ue me atraso, gostaria de colocar que esse é o
nosso f im, nessa maneira de abo rdar, de engajar-nos nesse caminho.
Digamo-lo logo por uma fórmula a qual nosso desenvolvimento esclarec erá
cm seguida, o que quero dizer é q ue, para nós , analistas, o que entendemos
por identificação, po rque é isto que encontramos na identificação, naqu ilo
que há de conc reto em nossa experiência referente à identificação, é
uma i dentificação de signi ficante.
Releiam no Curso de Lingüística uma das numerosas passagens nas
quais De Saussure esforça-se po r precisar, como o f az sem cessar ao
cercá-la, a função do significan te, e vocês verão, digo-o entre parênteses,
que to dos os meus esforços n ão foram, afinal, s em deixar a po rta abe rta
ao que chamarei menos de diferenças de interpretação do que de verdadeiras
divergências na explo ração poss ível do que ele ab ri u com essa d istinção
tão essencial de significante e de significado. Talvez eu pudesse tocar
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vitro, sob � forma desse pequeno animal que é chamado de grilo pl' ll 'J', l'i r ro,
d e cuja evolução vocês sabem, o crescimento, a aparição do q 1 11· s«·
c hama de conju nto ele fân cros, o que, como podemos vê-lo e m s 1 1 a
l'orma, depende, de alguma maneira , de u m e ncontro q ue se p rn d 1 1 1.
em tal momento d e seu desenvolvimen to, <los es tági os, <l as fase s da
t rans formação l arv ária, ou s egundo lh e tenham ou não apa recido u111
certo número d e traços da imagem de s eu s emelhante, ele evolu irá 0 1 1
não, s egundo o caso, segundo a forma que chama mos d e solitária o u a
forma que cha mamos de gregária. Não sabemos absolutamente, só sabemos
m es mo muito poucas coisas sobre escalões d esse circu i to orgânico que
aca rretam t ais ef eitos. O qu e nós s ab e mos, é qu e é assegu ra do
experimentalmen te. O rden emo-lo n a rubrica geral dos ef eitos d e imagem
da qual encontraremos to d as as espécies de for mas cm níveis muito
diferentes ela física e até no mundo in animado, vocês sabem, se definimos
imagem como todo arranjo físico que tem por resultado constitu ir u ma
concord ância biunívoca entre dois sistemas, cm qualqu er nív el qu e
s eja. É uma fó rmula b e m apropriada, e que se aplicará tanto ao efeito
qu e acabo de d izer, por exemplo, quanto àqu ele d a formação d e u m a
imagem, mesmo virtual, n a natu reza, pelo interméd io d e uma superfície
plan a , sej a a de um espelho, ou a que evoqu ei há alg um tempo, da
superfície do lago que rellctc a montanha.
Isso quer di zer q ue, co1 110 é a tendência, e tc11dê11cia que se espalha
sob a influência de u m a espécie, cu diria, ele emb riagu ez, que alcança
reccn le mcnte o pen samen to científico pelo fato el a irrupção do qu e
não é, 110 fu ndo, senão a d escoberta da dimensã o d a cadeia sign if icante
como tal, mas que, d e to da s as espécies de man eiras, vai ser reduzid a
p o r esse pens amento cm termos mais simples, e mais precisamente é o
que se exp rime n as t eorias d itas da informação ; isso qu er d iz e r, qu e
s ej a justa, se m outra conotação, a nossa resolução cm caracterizar a
ligação entre os dois s istemas, nos quais u m é po r relação ao outro, a
imagem, por essa idéia d e informação, que é muito geral, implicando
certos camin hos percorridos por es sa coisa qu e veicula a conco rd frncla
biunívoca ? É aí qu e se encontra u ma gran d e a mbigüidade, quero d i ze r,
aqu ela qu e só po d e cheg a r a nos faz er esqu ecer os níveis p rópri oi; do
que eleve comportar u ma in formação, se queremos dar-lhe um 1 1 1 1 1 ro
valor além d aquele v ago que só chegaria, afinal de contas, a da r 1111111
espécie de reintcrp retaç,io, d e falsa con sistência, ao que, a i (• a q 1 1 I , I ra via
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sido s ubsumido , e isto, desde a Antig üidade a té nossos dias, sob a noção
da forma, algo que pega, envolve, coma nda os elementos, dá -lhes um
cer to tipo de finali dade que é, no conj un to da ascensão, do elemen tar
a té o complexo, do i na nima do a té o a nima do. É algo que tem, sem
d úvi da, se u enigma e se u valor próprio, s ua ordem de reali da de, mas
q ue é diferente - é is to que pre ten do ar ticular aqui com vocês com
toda a s ua força - do que nos traz de novo, na nova perspectiva cie ntífica,
a valorização , a distinção do que é trazido pela experiência da ling uagem
e do que a relação significa n te nos permi te intro d uzir como dimensão
original que se tra ta de dis tinguir ra dicalme n te do real , sob a forma da
dime nsão simbólica. Não é, vocês vêem, por aí que abordo o problema
do que vai nos permi tir dividir essa ambigüi da de.
Mesmo assim,já disse o suficie n te para q ue vocês saibam, que te nham
se n ti do, apree ndido nesses elemen tos de informação significa n te, a
originalidade que carrega o traço, digamos, de serialidade que ele comporta,
traço discreto quero dizer, de corte, is to que Sa ussure não ar tic ulo u
mel hor, nem de o utra maneira, a não ser dizendo que o que os caracteriza
como cada um, é ser o que os o u tros não são. Diacro nia e si ncronia são
os termos aos quais indiq uei que se referissem, mesmo que tudo isso
não es teja plenamente ar ticula do, a distinç ão devendo ser feita desta
diacro nia de fato, [a qual ] é mui freqüenteme nte some nte o que é visa do
na ar ticulação das leis do sig nifica n te ; há a diacro nia de direi to por
o nde reenco ntramos a es tr u tura. Da mesma forma, para a sincronia,
implicar a sim ul ta nei da de vir tual em qualquer s ujeito s upos to ao código
não é dizer tudo sobre ela, pois é tor nar a enco n trar aquilo que na
úl tima vez l hes mos trei, que para nós há aí uma entida de ins us tentável.
Quero d izer, por ta nto, q ue não po demos nos co n tentar de ne nhuma
ma neira em recorrer a isso, porque é apenas uma das formas do que
denunciei no fim de meu discurso da úl tima vez, sob o nome de s uje ito
s upos to saber.
Eis aí porque começo des ta maneira , es te a no , minha intro d uç ão à
q uestão da identi ficação, é que se tra ta de par tir da própria dificulda de,
aquela que nos é proposta pelo próprio fa to de nossa experiência, de
o nde ela par te, disso a par tir do qual nos é necessário ar ticulá-la, teorizá
la. É que não podemos, de modo al gum, nem seq uer como aproximação,
prom essa de futuro, re ferirmos, como I legel o f'az, a al guma concl usão
possível jus tamente porque não temos nenhum dir ei to de colocá -la como
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possível - do sujeito em algum saber absolu to. Esse sujeito suposto saber,
temos que aprender a prescindir dele em todos os momentos. Não po demos
recorrer a ele em nenhu m momento, isto está excluído por uma experiência
que já temos após o seminário sobre o desejo e sobre a in lcr pretaçiio -
primeiro semestre que foi publicado -é pre cisamente o que me pareceu,
em todo caso, não po der es tar suspenso desta publicação, po is aí está o
final de to da uma fase de ensino que f izemos ; é que esse sujeito que é
o nosso, esse sujeito que gos taria hoje de interrogar para vocês a propósito
do per curso car tesiano, é o mesmo que nesse primeiro semestre cu disse
que não po deríamos aproximá-lo além do que fiz com esse sonho exemplar
que o articula inte iro em torno da frase: " Ele não sabia que estava
morto".
Com to do r igor, es tá aí , co n tr ar iame nte à opinião de Poli tzer, o sujeito
da e nunciação, mas [é] em terceira pessoa que po demos designá-lo.
Isto não quer dizer, é claro , que não possamos aproximá -lo em primeira
pessoa, mas será pre cisame nte saber que ao fazê-lo, e na exper iên cia
mais pateticame nte acessível, ele se f urta, porque traduzi-lo nessa primeira
pessoa, é a esta frase que chegamos, a dizer o que podemos dizer justamente,
na medi da prática na qual po demos confro n tar-nos com esta carruagem
do tempo, como diz Joh n Donne, "hurrying near", ele nos esporeia, e
nesse momen to ele suspensão em que podemos prever o momento úl timo,
aquele pre cisame nte no qual tu do nos abandona, nos dizer : " Eu não
sabia que v ivia por ser mortal ". Está bem claro que é na med ida em
que po demos dizer tê-lo esquecido quase a todo instante, que seremos
pos tos nesta incerteza para a qual não há nenhum nome, nem trágico,
nem cômico, que possa nos dizer, no mome nto de aban do nar nossa
vida, que fomos sempre, à nossa própria vida, de alguma maneira, estranhos.
É aí que está o fundo da interrogação filosófica mais moder na, aquilo
pelo que, mesmo para aqueles que, se posso dizer, só o compreendem
muito pouco, inclusive aqueles que dão tes temunho de seus sentimentos
de obscuri dade, mesmo assim algo se passa, d iga-se o que quiser, alguma
co isa passa difere n te da o n da de uma moda, na fórmula que nos lembra
o fu n damento ex iste ncial do ser para a morte.
Isto não é um fe nômeno continge nte, quaisquer que sejam as causas,
quaisquer que sejam as corrclaçôes, inclusive seu alcance, po de -se dizer
que o que podemos chamar de a profanação dos h'Tandes fantasmas fo1:jados
p ara o desejo pelo modo do pensamento religioso, está aí o que nos dcixar;'1
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A Identificação
i mplic ado na etimologia do verbo francês pensar, que não quer dizer
ou tra coi sa s enão pesar; o que funda r sob re cu penso, se sab emos, n ós
anal is tas, que isso cm que eu penso, que podemos apreen der, remete a
um ele que e de onde, a partir do qual penso que se sub trai necessariamen te.
E é porque a fórmul a de D escart es nos interroga para saber s e não há
ao m enos es te pon to privilegia do do eu penso puro, sobre o qual n ós
possamos nos fundar; e é porque é ao menos importan te qu e eu os
detenha aí um ins tan te.
Essa f"círrnula parece implicar que seria nec essário que o sujeito s e
preocupasse cm p ensar a todo instante, para assegurar-se d e ser, condição
já bem estranha, mas ainda sufic ien te? Bas ta qu e ele pense se r, para
alcançar o ser p ens an te ? Pois é justamen te aí que Descartes, nessa
in crível magia do discu rso d as primeiras duas Meditações, nos deix a
suspenso s. Ele chega a fazer sustentar, <li go , crn seu tex to, não o momen to
cm que o professor de filosofia lenha pescado o signi Hcan tc, mas most rará,
mui to facilmen te, que o artifício, que resulta cm formul ar que assim
pens ando, eu posso me diz e r uma cois a que pens a, é mui to facilmen te
refu tável, mas que não re tira n a d a <la forç a de progresso do tex to, além
cio que dev emos in terrogar es te ser pensan te, pergun tarmo-nos se não
(· o parti cípio de um scrpensar [Nrepcnserl, escrito no in fini tivo e em
t 1 1 1 1 a sú palavra : e u .� crpcnso U 'êtrcpcnsc], como s e d iz j 'outrecuide ,
12
l·omo nossos hábitos ele analistas nos fazem dizer eu compenso Ue compense],
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