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NHT3068: Mecânica Clássica I UFABC Lista 02 (Marcos Donizeti Rodrigues Sampaio) v1

1. Seja a transformação z
𝑥 = 𝑟 sen 𝜃 cos 𝜑 , (r, θ, φ)
𝑦 = 𝑟 sen 𝜃 sen 𝜑 ,
𝑧 = 𝑟 cos 𝜃, r
onde θ
0 ≤ 𝑟 ≤ ∞, y
0 ≤ 𝜃 ≤ 𝜋, φ
0 ≤ 𝜑 ≤ 2𝜋,
x
mostre que:

(a) 𝑣𝑥2 + 𝑣𝑦2 + 𝑣𝑧2 = 𝑣𝑟2 + 𝑟𝑣𝜃2 + 𝑟 2 sen2 𝜃 𝑣𝜑2


1 2
𝑝𝜃2 𝑝𝜑2
(b) 𝐾 = (𝑝 + + )
2𝑚 𝑟 𝑟 2 𝑟 2 sen2 𝜃
(c) d𝑥 d𝑦 d𝑧 = 𝑟 2 sen 𝜃 d𝑟 d𝜃 d𝜑

Solução

(a) Por definição, velocidade 𝑣 é dada pela razão da variação espacial d𝑠 pela temporal d𝑡, ou seja,
d𝑠
𝑣≜ ,
d𝑡
onde a variação espacial é definida como
d𝑠 ≜ √d𝑥𝑖 d𝑥𝑖 .
e 𝑥𝑖 são as coordenadas de um sistema qualquer no espaço. Isso pode ser percebido pela equação de Pitágoras
convencional em um espaço tridimensional

d𝑠 = √(𝑥1′ − 𝑥1 )2 + (𝑥2′ − 𝑥2 )2 + (𝑥3′ − 𝑥3 )2 ,

onde
𝑥𝑖 = 𝑥𝑖 (𝑡)
𝑥𝑖′ = 𝑥𝑖 (𝑡 + d𝑡) ,
tal que a variação infinitesimal em uma coordenada é
d𝑥𝑖 = 𝑥𝑖′ − 𝑥𝑖 .
Definindo tais coordenadas nos sistemas retangulares e esféricos utilizando notação tensorial (vide anexo) como
(𝑥, 𝑦, 𝑧) ≡ (𝑥1 , 𝑥2 , 𝑥3 ) ≜ 𝑥𝑖
(𝑟, 𝜃, 𝜙) ≡ (𝑥1 , 𝑥 2 , 𝑥 3 ) ≜ 𝑥 𝑖 , para 𝑖 = 1, 2 e 3,
temos que
∂𝑥𝑖 𝑗
d𝑥𝑖 = d𝑥 .
∂𝑥 𝑗
Assim, reescrevemos a variação espacial como

d𝑠 = √d𝑥𝑖 d𝑥𝑖 = √𝑔𝑗𝑘 d𝑥 𝑗 d𝑥 𝑘

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de onde definimos a métrica


∂𝑥𝑖 ∂𝑥𝑖
𝑔𝑗𝑘 ≜ .
∂𝑥 𝑗 ∂𝑥 𝑘
Perceba que a simetria
∂𝑥𝑖 ∂𝑥𝑖 ∂𝑥𝑖 ∂𝑥𝑖
𝑔𝑗𝑘 = 𝑗 𝑘
= 𝑘 𝑗 = 𝑔𝑘𝑗
∂𝑥 ∂𝑥 ∂𝑥 ∂𝑥
torna necessário determinar apenas 6 dos seus componentes: 𝑔11 , 𝑔12 , 𝑔13 , 𝑔22 , 𝑔23 e 𝑔33 ; como seguem
𝜕𝑥1 2 𝜕𝑥2 2 𝜕𝑥3 2
𝑔11 = ( ) + ( ) + ( )
𝜕𝑥1 𝜕𝑥1 𝜕𝑥1
= sen2 𝑥 2 cos2 𝑥 3 + sen2 𝑥 2 sen2 𝑥 3 + cos2 𝑥 2
= 1,

𝜕𝑥1 𝜕𝑥1 𝜕𝑥2 𝜕𝑥2 𝜕𝑥3 𝜕𝑥3


𝑔12 = 𝑔21 = + +
𝜕𝑥1 𝜕𝑥 2 𝜕𝑥1 𝜕𝑥 2 𝜕𝑥1 𝜕𝑥 2
= 𝑥1 cos 𝑥 2 sen 𝑥 2 cos2 𝑥 3 + 𝑥1 cos 𝑥 2 sen 𝑥 2 sen2 𝑥 3 − 𝑥1 cos 𝑥 2 sen 𝑥 2
= 0,

𝜕𝑥1 𝜕𝑥1 𝜕𝑥2 𝜕𝑥2 𝜕𝑥3 𝜕𝑥3 𝜕𝑥3


𝑔13 = 𝑔31 = + + , pois =0
𝜕𝑥1 𝜕𝑥 3 𝜕𝑥1 𝜕𝑥 3 𝜕𝑥1 𝜕𝑥 3 𝜕𝑥 3
= −𝑥1 sen2 𝑥 2 cos 𝑥 3 sen 𝑥 3 + 𝑥1 sen2 𝑥 2 cos 𝑥 3 sen 𝑥 3
= 0,

𝜕𝑥1 2 𝜕𝑥2 2 𝜕𝑥3 2


𝑔22 = ( ) + ( ) + ( )
𝜕𝑥 2 𝜕𝑥 2 𝜕𝑥 2
= (𝑥1 )2 cos2 𝑥 2 cos2 𝑥 3 + (𝑥1 )2 cos2 𝑥 2 sen2 𝑥 3 + (𝑥1 )2 sen2 𝑥 2
= (𝑥1 )2
= 𝑟2,

𝜕𝑥1 𝜕𝑥1 𝜕𝑥2 𝜕𝑥2 𝜕𝑥3 𝜕𝑥3


𝑔23 = 𝑔32 = + +
𝜕𝑥 2 𝜕𝑥 3 𝜕𝑥 2 𝜕𝑥 3 𝜕𝑥 2 𝜕𝑥 3
= −(𝑥1 )2 cos 𝑥 2 sen 𝑥 2 cos 𝑥 3 sen 𝑥 3 + (𝑥1 )2 cos 𝑥 2 sen 𝑥 2 cos 𝑥 3 sen 𝑥 3
= 0,

𝜕𝑥1 2 𝜕𝑥2 2 𝜕𝑥3 2


𝑔33 = ( ) + ( ) + ( )
𝜕𝑥 3 𝜕𝑥 3 𝜕𝑥 3
= (𝑥1 )2 sen2 𝑥 2 sen2 𝑥 3 + (𝑥1 )2 sen2 𝑥 2 cos2 𝑥 3
= (𝑥1 )2 sen2 𝑥 2
= 𝑟 2 sen2 𝜃.
Em notação matricial, a métrica é descrita como
1 0 0
[𝑔𝑖𝑗 ] = [0 𝑟 2 0 ].
0 0 𝑟 2 sen2 𝜃

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Assim, por um lado, em coordenadas retangulares, a velocidade quadrática é dada por


2
2
d𝑠 2 √d𝑥𝑖 d𝑥𝑖
𝑣 =( ) =( )
d𝑡 d𝑡
= 𝑣𝑖 𝑣𝑖 , onde 𝑣𝑖 ≜ d𝑥𝑖 ⁄d𝑡
= 𝑣𝑥2 + 𝑣𝑦2 + 𝑣𝑧2
enquanto que, por outro, em coordenadas esférica, fica
2
√𝑔𝑗𝑘 d𝑥 𝑗 d𝑥 𝑘
d𝑠 2
𝑣2 = ( ) =
d𝑡 d𝑡
( )
= 𝑔𝑗𝑘 𝑣𝑗 𝑣 𝑘 , onde 𝑣 𝑖 ≜ d𝑥 𝑖 ⁄d𝑡
1 0 0 𝑣𝑟
= [𝑣𝑟 𝑣𝜃 𝑣𝜑 ] [0 𝑟 2 0 ] [ 𝑣𝜃 ]
0 0 𝑟 sen 𝜃 𝑣𝜑
2 2

= 𝑣𝑟2 + 𝑟 2 𝑣𝜃2 + 𝑟 2 sen2 𝜃 𝑣𝜑2 .


Então, concluímos que

𝑣𝑥2 + 𝑣𝑦2 + 𝑣𝑧2 = 𝑣𝑟2 + 𝑟 2 𝑣𝜃2 + 𝑟 2 sen2 𝜃 𝑣𝜑2 . █

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(b) Por definição, variação de energia cinética infinitesimal d𝐾 de uma partícula é dada pelo produto escalar de
sua velocidade 𝑣 com a variação infinitesimal do seu momento d𝑝, ou seja,
d𝐾 ≜ 𝑣d𝑝,
onde a variação do momento, para movimentos lineares de uma partícula de massa 𝑚, é definida como
d𝑝 = d(𝑚𝑣) = 𝑣d𝑚 + 𝑚d𝑣.
Quando a massa dessa partícula não varia, a variação de seu momento linear é simplificada a
d𝑝 = 𝑚d𝑣,
o que leva à energia cinética partindo do repouso (𝑣(0) = 0) ser
𝑣
𝑚𝑣 2
𝐾 = 𝑚 ∫ 𝓋d𝓋 =
0 2
Assim, nesse caso, utilizando a velocidade encontrada no item (a) em coordenadas esféricas, temos que
𝑚(𝑣𝑟2 + 𝑟 2 𝑣𝜃2 + 𝑟 2 sen2 𝜃 𝑣𝜑2 )
𝐾= .
2
Definindo os momentos em cada direção esférica como
𝑝 𝑖 = 𝑚𝑣 𝑖
temos que
1
𝐾= (𝑝 2 + 𝑟 2 𝑝𝜃2 + 𝑟 2 sen2 𝜃 𝑝𝜑2 ) █
2𝑚 𝑟

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(c) A variação de um elemento volumétrico se relaciona, de uma base a outra, através do jacobiano 𝐽 dado pela
determinante da matriz jacobiana como segue
∂𝑥 ⁄∂𝑟 ∂𝑥 ⁄∂𝜃 ∂𝑥 ⁄∂𝜑
∂𝑥𝑖
𝐽 ≜ |𝐽𝑖𝑗 | = | 𝑗 | = |∂𝑦⁄∂𝑟 ∂𝑦⁄∂𝜃 ∂𝑦⁄∂𝜑|
∂𝑥
∂𝑧⁄∂𝑟 ∂𝑧⁄∂𝜃 ∂𝑧⁄∂𝜑
sen 𝜃 cos 𝜑 𝑟 cos 𝜃 cos 𝜑 −𝑟 sen 𝜃 sen 𝜑
= |sen 𝜃 sen 𝜑 𝑟 cos 𝜃 sen 𝜑 𝑟 sen 𝜃 cos 𝜑 |
cos 𝜃 −𝑟 sen 𝜃 0
= 𝑟 2 sen 𝜃 cos2 𝜃 cos2 𝜑 + 𝑟 2 sen3 𝜃 sen2 𝜑 + 𝑟 2 sen 𝜃 cos2 𝜃 sen2 𝜑 + 𝑟 2 sen3 𝜃 cos2 𝜑
= 𝑟 2 (sen 𝜃 cos2 𝜃 + sen3 𝜃)
= 𝑟 2 [sen 𝜃 cos2 𝜃 + sen 𝜃 (1 − cos2 𝜃)]
= 𝑟 2 sen 𝜃
Perceba que, da definição de mudança de variável analisada anteriormente,
∂𝑥𝑖 𝑗
d𝑥𝑖 = d𝑥 .
∂𝑥 𝑗
escrevemos a variação espacial

d𝑠 = √d𝑥𝑖 d𝑥𝑖 = √𝑔𝑗𝑘 d𝑥 𝑗 d𝑥 𝑘

de onde definimos a métrica


∂𝑥𝑖 ∂𝑥𝑖
𝑔𝑗𝑘 ≜
∂𝑥 𝑗 ∂𝑥 𝑘
que para o caso enunciado é
1 0 0
[𝑔𝑖𝑗 ] = [0 𝑟 2 0 ].
2 2
0 0 𝑟 sen 𝜃
A relação entre matriz métrica e matriz jacobiana é dada por
𝐽𝑗𝑘 ≜ √𝑔𝑗𝑘 .
Assim, como a matriz métrica é diagonal (pois a base é formada por vetores linearmente independentes), a sua
raiz, e consequentemente a matriz jacobiana, é dada pela raiz de cada elemento individualmente, como segue
1 0 0
[𝐽𝑖𝑗 ] = [0 𝑟 0 ].
0 0 𝑟 sen 𝜃
Dessa forma, resumimos que o elemento de volume na base retangular é escalonado por um fator |𝐽𝑖𝑗 | para a
base cilíndrica, como demonstrado abaixo
d𝑥 d𝑦 d𝑧 = |𝐽𝑖𝑗 | d𝑟 d𝜃 d𝜑
1 0 0
= |0 𝑟 0 | d𝑟 d𝜃 d𝜑
0 0 𝑟 sen 𝜃
= 𝑟 2 sen 𝜃 d𝑟 d𝜃 d𝜑 . █

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2. Conclua que, quando uma massa pontual 𝑚 estiver dentro de uma distribuição de massa 𝑀, a parte dessa
distribuição que tiver raio maior que a distância de 𝑚 ao centro de 𝑀 não influenciará nenhuma força em 𝑚 se a
densidade da distribuição da massa 𝑀 depender apenas do raio.

Solução

Partindo da definição de potencial gravitacional


𝑚𝑀𝐺
𝑈= ,
𝑟
podemos obter a força de atração gravitacional a partir de
𝐹 = −∇𝑈.
Com base no esquemático ilustrado abaixo,
m

α
R
F
dM
b
φ

r
θ
a
V, M O

é possível perceber que a força resultante é formada apenas pelas partes das forças de cada 𝑑𝑉 na direção ao centro
da esfera, pois as outras componentes se cancelarão (supondo uma distribuição homogênea de densidade). Tal
resultante é então dada por

𝐹 = ∭ d𝐹𝑅 cos 𝛼 ,
𝑉

onde cada contribuição de atração de cada elemento infinitesimal é


𝑚𝐺
d𝐹𝑅 = − ( ) d𝑀.
𝑅2
Assim, temos que a força resultante é dada por
𝑚𝐺 cos 𝛼
𝐹 = −∫ ( ) d𝑀 .
𝑀 𝑅2
Como expressaremos o espaço como tridimensional, é preciso descrever a distância entre o elemento de massa
𝑑𝑀 e a massa 𝑚 em coordenadas esféricas como segue relação trigonométrica com base na ilustração:
𝑟 2 = 𝑅2 + 𝑏2 − 2𝑅𝑏 cos 𝛼,
tal que
𝑅2 − 𝑟 2 + 𝑏 2
cos 𝛼 = .
2𝑏𝑅
Assim, reescrevemos a força resultante como
𝑅2 − 𝑟 2 + 𝑏 2
𝐹 = −𝑚𝐺 ∫ ( ) d𝑀 .
𝑀 2𝑏𝑅3

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Definindo que a densidade volumétrica homogênea de 𝑀 é 𝜌, podemos reescrever um elemento de massa em


coordenadas esféricas como
d𝑀 = 𝜌d𝑉 = 𝜌𝑟 2 sen 𝜃 d𝑟 d𝜃 d𝜑
onde
0 ≤ 𝑟 ≤ 𝑎,
0≤𝜃≤𝜋
e 0 ≤ 𝜑 ≤ 2𝜋.
Como o jacobiano não depende de 𝜑, sua integral é independente e será resolvida diretamente na equação da
força resultante. Por outro lado, a variável 𝜃 está presente no jacobiano e, como já estamos usando duas variáveis
(𝑅 e 𝑟) na força, contando com 𝜑 não precisamos de uma quarta variável 𝜃. De fato, pelo diagrama, 𝜃 pode ser
escrito com base em 𝑅 a partir de
𝑅2 = 𝑟 2 + 𝑏2 − 2𝑟𝑏 cos 𝜃
tal que
2𝑅d𝑅 = 2𝑟𝑏 sen 𝜃 d𝜃.
Assim reescrevemos o jacobiano em termos de 𝑅, 𝑟 e 𝜑 como
𝑅𝑟
𝑟 2 sen 𝜃 d𝑟 d𝜃 d𝜑 = d𝑅 d𝑟 d𝜑.
𝑏
Perceba que quando 𝜃 = 0,

𝑅𝜃=0 = √𝑟 2 + 𝑏 2 − 2𝑟𝑏 cos 0 = √𝑟 2 − 2𝑟𝑏 + 𝑏2 = √(𝑟 − 𝑏)2 = ±|𝑟 − 𝑏|,


enquanto que quando 𝜃 = 𝜋,

𝑅𝜃=𝜋 = √𝑟 2 + 𝑏2 − 2𝑟𝑏 cos 𝜋 = √𝑟 2 + 2𝑟𝑏 + 𝑏2 = √(𝑟 + 𝑏)2 = 𝑟 + 𝑏.


Dessa forma, a força resultante fica
2𝜋 𝑎 𝑟+𝑏
𝑅2 − 𝑟 2 + 𝑏2 𝑅𝑟
𝐹 = −𝑚𝐺 ∫ d𝜑 ∫ ∫ 𝜌( ) d𝑅 d𝑟
0 0 ±|𝑟−𝑏| 2𝑏𝑅3 𝑏
𝑎 𝑟+𝑏
𝜋𝑚𝐺 𝑏2 − 𝑟 2
=− ∫ ∫ 𝑟𝜌 (1 + ) d𝑅 d𝑟
𝑏2 0 ±|𝑟−𝑏| 𝑅2
Assim, se a densidade depender somente do raio de 𝑀, ou seja, 𝜌 ≡ 𝜌(𝑟), e se 𝑚 estiver no exterior de 𝑀, ou
seja, 𝑏 ≥ 𝑟 tal que 𝑏 − 𝑟 ≤ 𝑅 ≤ 𝑏 + 𝑟, então a força resultante de atração será
𝑏+𝑟
𝜋𝑚𝐺 𝑎 𝑟 2 − 𝑏2
𝐹𝑒𝑥𝑡 = − 2 ∫ 𝑟𝜌(𝑟) (𝑅 + ) d𝑟
𝑏 0 ⏟ 𝑅 𝑏−𝑟
4𝑟
𝑎
𝑚𝐺 𝑚𝑀𝐺
=− 2 ∫ 4𝜋𝑟 2 𝜌(𝑟)d𝑟 = .
𝑏 ⏟0 𝑏2
𝑀

Por outro lado, mantendo 𝜌 ≡ 𝜌(𝑟), porém agora analisando 𝑚 no interior de 𝑀, ou seja, 𝑏 < 𝑟 tal que
𝑟 − 𝑏 ≤ 𝑅 ≤ 𝑟 + 𝑏, então a força resultante de atração será nula, pois
𝑟+𝑏
𝜋𝑚𝐺 𝑎 𝑟 2 − 𝑏2
𝐹𝑖𝑛𝑡 = − ∫ 𝑟𝜌(𝑟) (𝑅 + ) d𝑟 = 0 .
𝑏2 0 ⏟ 𝑅 𝑟−𝑏
0

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3. ̂ e um
Seja uma partícula de massa 𝑚 e carga 𝑞 inicialmente em repouso e sujeita a um campo elétrico 𝐄 = 𝐸0 𝐤
campo magnético 𝐁 = 𝐵0 𝐢̂:
z

E = E0k̂

y
q, m
B = B0ı̂

(a) obtenha as equações de movimento;

(b) mostre que essas equações forma um cicloide.

Solução

(a) Definindo a velocidade da partícula como


𝐯 = (𝑥̇ (𝑡), 𝑦̇ (𝑡), 𝑧̇ (𝑡))
e partindo da força de Lorentz com base no diagrama
𝐅 = 𝑞(𝐄 + 𝐯 × 𝐁)
̂ ),
= 𝑞(𝐵0 𝑧̇ (𝑡)𝐣̂ − 𝐵0 𝑦̇ (𝑡)𝐣̂ + 𝐸0 𝐤
podemos escrever, comparando com a Segunda Lei de Newton, as componentes da aceleração da partícula como
𝑥̈ (𝑡) = 0,
𝑞𝐵0
𝑦̈ (𝑡) = 𝑧̇ (𝑡)
𝑚
𝑞𝐸0 𝑞𝐵0
e 𝑧̈ (𝑡) = − 𝑦̇ (𝑡).
𝑚 𝑚
Definindo as constantes
𝑞𝐵0 𝑞𝐸0
𝛼≜ e 𝛽≜ ,
𝑚 𝑚
e ignorando a solução trivial na direção 𝑥, o sistema dinâmico de variáveis acopladas pode ser escrito como
𝑦̈ (𝑡) = 𝛼𝑧̇ (𝑡)
e 𝑧̈ (𝑡) = 𝛽 − 𝛼𝑦̇ (𝑡).
O desacoplamento desse sistema em duas equações diferenciais ordinárias pode ser feito da seguinte forma
𝑦⃛(𝑡) = 𝛼𝑧̈ (𝑡) 𝑧⃛(𝑡) = −𝛼𝑦̈ (𝑡)
= 𝛼(𝛽 − 𝛼𝑦̇ (𝑡)) = −𝛼 2 𝑧̇ (𝑡)
= −𝛼 2 𝑦̇ (𝑡) + 𝛼𝛽

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que pode ser reescrito na seguinte forma matricial


d2
𝐱(𝑡) = 𝐀𝐱(𝑡) + 𝐁,
d𝑡 2
onde
𝑦̇ (𝑡) 2 𝛼𝛽
𝐱(𝑡) = [ ], 𝐀 = [−𝛼 0 ] e 𝑩 = [ ].
𝑧̇ (𝑡) 0 −𝛼 2 0
Como é preciso que a solução homogênea seja um autovetor, ou seja,
d2
𝐱 (𝑡) = 𝚲𝐱ℎ (𝑡),
d𝑡 2 ℎ
onde 𝚲 é uma matriz de autovalores, podemos escrever tais soluções como exponenciais
𝒞1 𝑒 𝜆1 𝑡+𝜑1
𝐱ℎ (𝑡) = [ ],
𝒞2 𝑒 𝜆2𝑡+𝜑2
tal que 𝒞1 , 𝒞2 , 𝜑1 e 𝜑2 são constantes e 𝜆1 e 𝜆2 são os autovalores (modos normais), que também são constantes.
Isso é válido, pois
d2 𝒞1 𝑒 𝜆1𝑡+𝜑1 𝜆12 0 𝒞1 𝑒 𝜆1𝑡+𝜑1
[ ] = [ ][ ].
d𝑡 2 𝒞2 𝑒 𝜆2 𝑡+𝜑2 0 𝜆22 𝒞2 𝑒 𝜆2𝑡+𝜑2
Assim, para a equação homogênea
𝚲𝐱ℎ (𝑡) = 𝐀𝐱ℎ (𝑡),
implicando que
𝜆12 = 𝜆22 = −𝛼 2 ,
ou, simplificando,
𝜆1 = 𝜆2 = 𝑖𝛼.
Assim, pela expansão de Euler, a solução homogênea é dada por
𝑦̇ ℎ (𝑡) = 𝒞1 𝑒 −𝑖𝛼𝑡+𝜑1 = 𝒸1 cos(𝛼𝑡) + 𝒸1∗ sen(𝛼𝑡)
e 𝑧̇ℎ (𝑡) = 𝒞2 𝑒 −𝑖𝛼𝑡+𝜑2 = 𝒸2 cos(𝛼𝑡) + 𝒸2∗ sen(𝛼𝑡).
A solução particular, por outro lado, deve ser semelhante à função forçante 𝐁, que nesse caso é uma constante,
ou seja,
𝓀1
𝐱𝑝 = [ ],
𝓀2
onde 𝓀1 e 𝓀2 são constantes. Aplicando na equação, essa solução fica
d2 − 1⁄𝛼 2 0 𝛼𝛽
𝐱 = 𝟎 = 𝐀𝐱𝑝 + 𝐁 ⇒ 𝐱𝑝 = −𝐀−𝟏 𝐁 = − [ ][ ]
d𝑡 2 𝑝 0 − 1⁄𝛼 2 0
𝛽 ⁄𝛼
=[ ].
0
Como o sistema é linear, a solução geral é dada pela combinação da solução homogênea e da solução particular
𝐱(𝑡) = 𝐱ℎ (𝑡) + 𝐱𝑝
ou seja,
𝛽
𝑦̇ (𝑡) = 𝒸1 cos(𝛼𝑡) + 𝒸1∗ sen(𝛼𝑡) +
𝛼
e 𝑧̇ (𝑡) = 𝒸2 cos(𝛼𝑡) + 𝒸2∗ sen(𝛼𝑡).

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Integrando ambos os lados das equações, inclusive da equação da aceleração em 𝑥, obtemos a seguinte solução
genérica das equações de movimento
𝑥(𝑡) = 𝒦𝑡 + 𝑥0
𝛽
𝑦(𝑡) = 𝒜 cos(𝛼𝑡) + ℬ sen(𝛼𝑡) + 𝑡 + 𝑦0
𝛼
e 𝑧(𝑡) = 𝒞 cos(𝛼𝑡) + 𝒟 sen(𝛼𝑡) + 𝑧0 ,
ou
𝑥(𝑡) = 𝒦𝑡 + 𝑥0
𝐸0
𝑦(𝑡) = 𝒜 cos(𝛼𝑡) + ℬ sen(𝛼𝑡) + 𝑡 + 𝑦0
𝐵0
e 𝑧(𝑡) = 𝒞 cos(𝛼𝑡) + 𝒟 sen(𝛼𝑡) + 𝑧0 ,

onde 𝒜 = 𝛼𝒸1∗ , ℬ = −𝛼𝒸1 , 𝒞 = 𝛼𝒸2∗ , 𝒟 = −𝛼𝒸2 e 𝒦 são constantes a serem determinadas pelas condições iniciais
𝑥0 ≜ 𝑥(0), 𝑥̇ 0 ≜ 𝑥̇ (0),
𝑦0 ≜ 𝑦(0), 𝑦̇ 0 ≜ 𝑦̇ (0),
𝑧0 ≜ 𝑧(0) e 𝑧̇0 ≜ 𝑧̇ (0).

(b) Para se determinar que tipo de movimento é esse, devemos determinar a equação do caminho que relaciona
todas as variáveis. Como a solução para 𝑥(𝑡) é trivial, podemos relacionar apenas a parte homogênea de 𝑦(𝑡) e
𝑧(𝑡) como segue
𝑑𝑦ℎ 𝑦̇ (𝑡) 𝒞1 𝑒 𝑖(𝛼𝑡+𝜙1 )
= =
𝑑𝑧ℎ 𝑧̇ (𝑡) 𝒞2 𝑒 𝑖(𝛼𝑡+𝜙2 )
= 𝒞𝑒 𝑖𝜙 ,
onde 𝒞 = 𝒞1 ⁄𝒞2 e 𝜙 = 𝜙1 − 𝜙2 . Consequentemente, integrando a equação, temos que
𝑦ℎ (𝑧ℎ ) = 𝑦ℎ0 + (𝑧ℎ − 𝑧ℎ0 )𝒞𝑒 𝑖𝜙 ,
o que indica que, como a posição em 𝑧 é periódica, a posição em 𝑦 vai ser periódica também, porém de amplitude
ampliada/reduzida em 𝒞 e defasada em 𝜙, mostrando que a partícula faz um caminho circular no 𝑦𝑧 no estado
homogêneo. Com a resposta particular, é possível ver que a posição em 𝑦 possui uma componente linear com o
tempo, ou seja, a partícula irá caminhar de modo a aumentar a média da sua coordenada 𝑦 com o passar do tempo.
Similarmente, a solução em 𝑥 é totalmente linear. Tudo isso indica que a partícula movimentará na direção (𝑥, 𝑦, 0)
além de fazer um movimento circular no plano 𝑦𝑧, demonstrando um movimento cicloidal, como ilustrado abaixo.

𝑥
𝑦

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