Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Medicação trópica ocular e seus efeitos sistê- dade aplicada) e da sensibilidade do organismo
micos àquele medicamento.
O principal mecanismo de absorção sistêmica Por esse motivo, atenção especial deve ser dada
de drogas oculares ocorre pelo sistema de dre- a pacientes em extremos de idade (principal-
nagem das vias lacrimais. Ele é composto pelos mente crianças) por apresentarem maior sensi-
pontos lacrimais, pelos ductos e pelo saco lacri- bilidade e menor volume sangüíneo, podendo
mal, além do ducto nasolacrimal, que tem seu inclusive a medicação levar a efeitos colaterais
óstio de abertura no meato inferior da cavidade graves e até à morte.
nasal. Por esse trajeto, qualquer droga instilada
na superfície ocular, na forma de colírios, poma- A Tabela 1 mostra as principais drogas tópicas
das ou gel, pode ser absorvida pela circulação utilizadas em oftalmologia às quais o médico
sistêmica através da mucosa nasal e provocar generalista deve estar atento quanto a possíveis
efeitos colaterais. A ocorrência ou não desses efeitos indesejados que possam comprometer
efeitos dependerá da farmacocinética da droga a qualidade de vida do paciente ou interferir no
(volume de distribuição, concentração e quanti- tratamento clínico.
Para que efeitos indesejados sejam evitados, gue uma descrição sucinta das principais classes
principalmente em crianças e em indivíduos que de colírios hipotensores oculares e cuidados a
necessitam manter o regime de tratamento ape- serem levados em consideração:
sar das contra-indicações, recomenda-se a oclu- Beta-bloqueadores (exemplo: maleato de timo-
são do saco lacrimal logo após a instilação do co- lol): medicação cujo efeito ocular causa redução
lírio através da seguinte manobra: compressão da produção do humor aquoso. Tem como efei-
das asas nasais com os dois dedos indicadores tos adversos: bradicardia, arritmia, descompen-
durante 1 minuto (conforme exemplificado na sação de insuficiência cardíaca congestiva (ICC),
Figura 1). Com isso, espera-se reduzir a absorção agravamento da asma e DPOC. Contra-indicados
sistêmica e otimizar a absorção local da droga. em casos de bloqueios atrioventriculares (BAV)
de 2º e 3º graus, ICC, asma e DPOC graves. Em
crianças e em casos específicos de alguns adul-
tos, pode-se lançar mão de beta-bloqueadores
seletivos (como betaxolol), com menor associa-
ção a esses efeitos indesejados.
Alfa-agonistas (exemplo: tartarato de brimonidi-
na): hipotensor ocular que pode causar sintomas
como sonolência, fenômeno de Raynaud, insu-
ficiência coronariana e cerebral, tontura e ver-
tigem. Contra-indicados em crianças abaixo de
Figura 01a: Anatomia das vias de drenagem lacrimais.
1 ano, em pacientes com história de angina, de
infarto ou de AVC prévios.
Análogos de prostaglandina (exemplos: bima-
toprosta, latanoprosta, travoprosta): reduzem
a pressão ocular aumentando a drenagem do
humor aquoso. Poucos e raros efeitos sistêmicos
são descritos: broncoespasmo, alergias e hiper-
pigmentação palpebral são mais comuns. Aten-
ção especial a gestantes devido ao risco de essas
substâncias precipitarem trabalho de parto pre-
maturo.
Agonistas colinérgicos (exemplo: pilocarpina):
pode estar associada a arritmias cardíacas, bron-
Figura 01b: Oclusão do saco lacrimal.
coespasmo e descompensação de DPOC. Em
recém-nascidos e em crianças, podem provocar
Colírios antiglaucomatosos hipertermia e crises convulsivas.
• Atenção especial deve ser dada a combinações das pelo clínico. As duas principais conseqüên-
fixas de drogas (exemplo: beta-bloqueador + ini- cias de seu uso são o desenvolvimento de cata-
bidor de anidrase carbônica), uma vez que pode rata e de glaucoma.
haver efeito adverso decorrente de ambos os
princípios ativos. A opacificação do cristalino (catarata) em geral
antecede o aumento da pressão ocular, causan-
Medicação sistêmica e seus efeitos oculares do baixa de visão lenta e progressiva, para longe
e para perto (Figura 2). Trata-se de uma causa re-
Medicamentos administrados por via sistêmica versível de baixa visão, sendo sua correção cirúr-
(como oral, endovenosa e dermatológica) po- gica na maioria dos casos acompanhada de bons
dem atingir o globo ocular e provocar alterações resultados funcionais.
oftalmológicas significantes para o paciente. O aumento da pressão ocular também se dá de
Portanto, é importante que o clínico geral faça, forma progressiva, podendo ocorrer anos após o
antes da prescrição de determinadas drogas, um início do uso de corticóide. Com mais incidência
breve interrogatório de antecedentes oculares e ocorre nos pacientes em uso de concentrações
conheça quais as medicações que mais freqüen- altas (acima de 20 mg/dia) e por períodos pro-
temente podem causar danos visuais. longados (mais de 1 ano). A elevação da pressão
ocular pode causar dano do nervo óptico e de-
Para algumas classes de drogas, é importante senvolvimento de neuropatia óptica glaucoma-
o seguimento conjunto com o oftalmologista, tosa.
uma vez que seu efeito pode surgir muito tempo
antes dos sintomas e de forma insidiosa, sendo Ao contrário da catarata, a elevação da pressão
muitas vezes necessária sua suspensão antes ocular é uma doença irreversível, cujo tratamen-
que o paciente comece a se queixar de baixa vi- to visa a evitar ou a reduzir a sua progressão.
sual. Discutiremos com mais detalhes duas des- Uma vez confirmada, deve ser acompanhada por
sas medicações as quais,, por seu uso amplo, po- um oftalmologista.
dem trazer pacientes ao consultório de médico
generalista com maior freqüência. Recomenda-se que pacientes em uso crônico de
A Tabela 2 mostra outras medicações utilizadas esteróides sistêmicos sejam avaliados pelo mé-
em medicina geral e seus efeitos colaterais. dico oftalmologista periodicamente a partir de
um ano do início de uso (para usuários de doses
acima de 20 mg/dia) ou a partir do 2º ano naque-
Corticosteróides les que usam doses inferiores; caso apresentem
queixas previamente a esse período, encaminhar
Os corticosteróides têm sido amplamente utili- precocemente).
zados em diversas subespecialidades médicas
(reumatologia, imunologia, neurologia) e por ve-
zes de forma crônica. Além de seus efeitos sistê- Cloroquina
micos bem conhecidos (Síndrome de Cushing),
os corticosteróides utilizados por via sistêmica A cloroquina é uma medicação que foi inicial-
de forma crônica podem levar a alterações oftal- mente utilizada para tratamento da malária, mas
mológicas insidiosas muitas vezes negligencia- que tem tido amplo uso atualmente no controle
Cocaína
Maconha (canabinol)
Tabaco
Álcool etílico
Caracteríticas Reversibilidade
Estágio I Discreta hiperpigmentação da Sim
fóvea, sem baixa visual
LITERATURA SUGERIDA
a. amiodarona e cloroquina
b. beta-bloqueadores tópicos
c. análogos de prostaglandina
d. cortisona e cloroquina