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Introdução
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Amado Luiz Cervo
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interna. Esse último fator engendrou a hostilidade dos países vizinhos, propensos em
vão a intercambiar petróleo pelo mercado venezuelano de manufaturados.
Três vertentes passaram a condicionar a política exterior e a ação externa da
Venezuela em seu âmbito regional: a dependência das exportações de petróleo, cerca
de 90% do total; a dependência dos Estados Unidos, principal investidor, cliente e
fornecedor, e a repercussão interna dos acontecimentos políticos na área do Caribe.
Os esforços convergiram então para o objetivo de preservar mercados e defender o
preço do petróleo; por isso, Caracas negociou com os países árabes a criação da OPEP.
Visavam, por outro lado, obstar ao estabelecimento de governos hostis na América
Central e Caribe, ou seja, à expansão de ditaduras de direita ou comunistas. Repugnava
à doutrina Betancourt qualquer regime que atentasse contra a democracia e os direitos
humanos.
O isolacionismo venezuelano despiu-se de conteúdo as relações com os países
vizinhos. Ao romper as relações diplomáticas com ditaduras e instar a OEA a aplicar
sanções contra tais regimes, despertava-se a simpatia de pequenos Estados e provocava-
se a indisposição dos grandes México, Argentina e Brasil defensores do princípio
de não-intervenção. Depois do golpe militar de 1964 no Brasil, as relações bilaterais
permaneceram frias. Como poderia o Brasil dos militares apoiar os esforços
venezuelanos junto à OEA no sentido de aplicar sanções contra o regime comunista
de Cuba, se a democracia de Betancourt havia rompido relações diplomáticas com o
grande vizinho?
Compreende-se, em tais circunstâncias, porque Rafael Caldera Rodríguez, eleito
em 1968, não mais pretendesse aplicar com rigidez a doutrina Betancourt. A Venezuela
mantivera até então, com seu isolacionismo, relações econômicas irrelevantes e
relações políticas inconsistentes com os países vizinhos, ao norte e ao sul. Nos anos
setenta, contudo, passou a empreender ações regionais destinadas a criar laços com
os países vizinhos, cujo consumo de petróleo desejava prover.
A alta dos preços do petróleo permitiu ao país, agora sob o governo de Carlos
Andrés Pérez Rodrígues, substituir a doutrina Betancourt pelos sonhos bolivarianos
de liderar a América Latina. Havendo já o país aderido à ALALC, integrou também o
Pacto Andino e adensou as relações com os membros desse bloco, sem recuar de suas
ambições do lado da bacia caribenha. Seriam estas as duas áreas geográficas por onde
se pretenderia engendrar o fim do isolacionismo, o que foi em vão. A Venezuela
prosseguiria vivendo de sonho e de ilusão: o sonho bolivariano e a ilusão do petróleo.
O primeiro não lhe garantiria a pretendida liderança sobre a América do Sul e a segunda
não traria o desenvolvimento social e econômico esperado. O Pacto Andino não
vingava e a cooperação bilateral com outros parceiros tampouco. Requerer-se-ia um
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tipo de política exterior dotada de maior senso realista, capaz de induzir ações
ancoradas em necessidades e oportunidades objetivas.
Essas novas condições eram vislumbradas ainda nos anos setenta, quando o
Brasil manifestou a intenção de aumentar a importação de petróleo venezuelano e a
Argentina interessou-se pelo mercado de manufaturados do bloco econômico andino.
Tanto uma como outra, Venezuela e Argentina, temiam que o rápido crescimento
econômico do Brasil obstruísse suas ambições de liderança regional. As visões
geopolíticas de então eram conflitantes. A Venezuela de Caldera e Andrés Pérez
prosseguia disposta a jogar com o peso do petróleo em favor da liderança pretendida
sobre a região e a dirigir sua ação para as duas áreas contíguas, América Central e
Caribe e países bolivarianos. Nessas condições, frustrava-se o Governo brasileiro que
buscava em vão estabelecer a cooperação bilateral:
comercial. Seu objetivo era a concertação política permanente dos signatários para
coordenar ações empreendidas conjuntamente pelos governos e setores técnicos, tais
como os estudos hidrológicos e climatológicos, a cooperação técnica e científica em
matéria de saúde, transportes, comunicações, preservação do meio-ambiente etc.
Indiretamente, os estrategistas esperavam que adviriam conseqüências econômicas
de estudos que redundassem na criação de infra-estrutura física destinada à melhora
das condições de vida das populações amazônicas.
A mudança da política regional da Venezuela representou, portanto, injeção de
novo ânimo tanto para os movimentos de integração quanto para a cooperação bilateral
entre vizinhos. A imagem de um Brasil expansionista, hegemônico e dominador
modificou-se drasticamente e as expectativas positivas afloraram. O equipamento
empresarial e tecnológico brasileiro agregou-se ao projeto de desenvolvimento
venezuelano, no início dos anos oitenta, à época da administração Herrera Campins,
como um possível fator de propulsão, que seria procurado no futuro. Desenhava-se,
nas estratégias de ação política regional, um eixo Brasil-Venezuela, visto melhor como
eixo produtivo e não comercial, porquanto destinado a robustecer o núcleo central
das economias nacionais mediante projetos de cooperação empresarial, sem ter a
Venezuela de abandonar seu papel de campeã na defesa da democracia e dos direitos
humanos e sem abandonar as linhas de força de sua política exterior em direção aos
Estados Unidos e à região do Caribe e América Central.
A inclinação realista para a América Latina nos anos oitenta, ao tempo em que
a abundância da oferta de petróleo estava comprometendo seu preço no mercado
internacional e a Venezuela perdia peso nas considerações norte-americanas, inspirou
o projeto, não mais abandonado pela diplomacia de Caracas, de criar a primeira
transnacional do petróleo do Terceiro Mundo. Um protocolo nesse sentido foi firmado
em 1981 por Venezuela, Brasil e México. A aproximação com o Brasil, país com o qual
nunca tivera conflito de qualquer natureza, era aconselhada em razão do grande
potencial de cooperação nos setores produtivos mais diversos e como contraparte às
investidas do nacionalismo norte-americano na zona caribenha. Era também
aconselhável diante dos contenciosos de fronteira que ainda pendiam do lado de seus
dois outros vizinhos, Colômbia e Guiana, particularmente este último, que envolvia a
região do Essequibo.
A recessão da década de oitenta em ambos os países tornou-se, contudo, o
complicador operacional das intenções políticas. O ambicioso projeto da Petrolatina
não dispunha de condições para materializar-se. Ademais, com o projeto Calha Norte,
criado em 1985, o Brasil parecia abandonar a cooperação amazônica em favor de
soluções unilaterais para os problemas da área. Por outro lado, a letargia em que se
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instalara o bloco andino estava a requerer uma reforma de seu estatuto, o Acordo de
Cartagena. A negociação de modificações deu-se no ano de 1987, com o objetivo de
atenuar o dirigismo estatal coercitivo e conferir maior determinação ao mercado e à
concorrência como fatores de alocação de recursos e de crescimento dentro do bloco.
Sob influência de um isolacionismo que ainda pesava a Venezuela não aderira ao
GATT e entrara tardiamente na ALALC e no Pacto Andino as autoridades de Caracas
hesitavam em firmar o Protocolo Modificatório da nova Comunidade Andina. Mas
não resistiriam à pressão vinda do Brasil, que passou a liderar o moderno processo de
integração da América do Sul.
Com efeito, foi o Presidente José Sarney ao encontro de seus colegas da
Argentina, Raúl Alfonsín, e da Venezuela, Jaime Luzinchi. Com o primeiro, firmou
em 1986 os Protocolos de Cooperação que deram respaldo ao flexível processo de
integração do Cone Sul e, com o segundo, o Compromisso de Caracas, em 1987,
também destinado a estabelecer um eixo regional capaz de induzir o moderno processo
de integração do norte. Operava essa diplomacia pendular de Sarney com o trunfo
político de poder optar por um ou outro dos processos de integração, à mercê de seu
triunfo. Vingou o do sul, ficando o do norte em compasso de espera, uma frustração
para os setores empresariais e políticos venezuelanos. Os novos eixos de cooperação
ao norte e ao sul do Brasil tinham causas comuns, no plano político: a consolidação
da democracia, uma atitude de maior introspecção latino-americana em substituição
à introspecção nacional dos países e a presença ativa dos governos em grupos regionais
de concertação política e econômico-financeira, como os Tratados da Bacia do Prata e
de Cooperação Amazônica, o SELA, o Pacto Andino, os grupos de Contadora-Apoio,
dos Oito e o Consenso de Cartagena.
De qualquer modo, ao tempo em que se preparava a criação do bloco do Cone
Sul, a partir da cooperação entre Brasil e Argentina, a diplomacia do Presidente
brasileiro, José Sarney, havia lançado bases para outro processo alternativo, ao norte,
mediante o eixo de perspectivas similares com a Venezuela. As experiências
introduzidas pelos presidentes neoliberais Carlos Saúl Menem na Argentina, Carlos
Andrés Pérez na Venezuela e Fernando Collor de Melo no Brasil, de 1989-90, haveriam
de modificar as estratégias de concertação regional e de condicionar os processos de
integração na última década do século, até sua derrocada por cassações políticas ou
por força do voto popular. A vitória de Hugo Chávez Frías nas eleições presidenciais
de dezembro de 1998 pôs fim à dominação de quarenta anos dos dois partidos
conservadores tradicionais, inaugurando um outro modelo político caracterizado pelo
nacionalismo social, distinto do conservadorismo tradicional e da malograda
experiência neoliberal recente. Nas palavras de seu Ministro de Relações Exteriores,
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A zona de fronteira
hidrográficas, o controle de três dentre elas (Arauca, Catatumbo e Orinoco) está nas
mãos do ribeirinho superior, a Colômbia.
O espírito bolivariano do Governo Chávez deu continuidade às iniciativas de
solução conjunta para os problemas de fronteira viva, mesmo porque toda e qualquer
iniciativa haveria de malograr se não coordenasse esforços conjuntos. Na Ata de San
Pedro Alejandrino, de 6 de março de 1990, os dois governos haviam definido os assuntos
prioritários de suas relações bilaterais. Quatro temas foram postos sob responsabilidade
da Comissão Negociadora Presidencial: bacias hidrográficas; rios internacionais;
delimitação de áreas marinhas e submarinas; demarcação e adensamento dos marcos
fronteiriços. Os outros temas relevantes foram confiados à Comissão Presidencial de
Assuntos Fronteiriços: migrações, transporte internacional, utilização de recursos
naturais transfronteiriços, tráfico de entorpecentes, apropriação e recuperação de meios
de transporte e cooperação e assistência mútua em caso de emergência. Mais de oitenta
projetos de desenvolvimento sócio-econômico da zona de fronteira se somaram às
iniciativas sob responsabilidade desta Comissão.
A imigração colombiana criou um espaço econômico e cultural na zona de
fronteira, tamanha tem sido sua envergadura nos últimos cinqüenta anos.
Entre 1994 e 1999, inúmeros atos bilaterais ratificaram a disposição de ambos
os Estados em manter a ação constante em que convergem interesses comuns e
contrapostos. A presença do Estado na zona de fronteira deriva da consciência da
convivência inevitável e perpétua, estando seu modus operandi orientado por duas
normas operacionais: manter permanente a negociação direta e adotar em seu curso o
enfoque da globalidade para a busca de soluções. Esta estratégia de ação inclusiva
induz soluções para os incidentes e para os fenômenos permanentes de fronteira que
são fundados na avaliação de seus componentes específicos e de suas interfaces com
outros fenômenos, fazendo uso do diálogo estabelecido no interior dos mecanismos
bilaterais.
Ademais, a relevância das relações entre Colômbia e Venezuela se manifesta
por meio de intensa utilização da negociação de alto nível: as trocas de visitas
presidenciais entre Andrés Pastrana Arango e Hugo Chávez Frías ocorrem, desde 1999,
várias vezes ao ano; o mesmo acontece com os chanceleres, os vice-chanceleres e
outros ministros de Estado.
Nessas condições, é muito difícil prever que um incidente de fronteira, do tipo
incursão, ação da guerrilha, seqüestro etc. possa comprometer o desempenho desses
mecanismos de negociação no sentido de alcançar soluções politicamente concertadas,
por mais que os meios de comunicação alardeiem o conflito. Mesmo porque, em 1997,
os governos estabeleceram um Mecanismo de Verificação de Incidentes Fronteiriços
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Desde o início de seu governo, o Presidente Chávez rompeu com a tese de seus
antecessores de considerar a insurgência colombiana inimiga comum, deixando claro
que a guerrilha era apenas inimiga da Colômbia e não da Venezuela. Sua aproximação
com as FARC tornou-se patente em pequenos gestos, como o convite feito a dois de
seus membros para participar de debates na Venezuela. É presumível que as intenções
dessa aproximação tenham sido duas: afastar a ação guerrilheira na extensa fronteira
comum e produzir um poder negociador de barganha. Com efeito, Chávez manifestou
a seu desconfiado colega Pastrana a firme disposição de mediar o conflito interno. No
ano 2000, as relações bilaterais passaram por momentos de tensão, gerados por
incidentes de fronteira e por contatos efetivos entre o Governo venezuelano e líderes
das FARC, tensão cujo agravamento a intensa atividade política entre ambos os Estados
soube conter.
Essa diferença entre Venezuela e Colômbia a respeito do tratamento a dar à
guerrilha foi objeto de explicação por parte do Chanceler José Vicente Rangel, por
ocasião de um encontro público a 17 de março de 1999. A Venezuela não pretende
envolver-se em assuntos internos da Colômbia, porém, estaria conferindo às FARC o
mesmo status político e envidando os mesmos esforços para a consecução da paz que
lhes dispensa o governo de Pastrana. O novo tratamento por parte da Venezuela teve
início quando Pastrana decidiu entender-se politicamente com a guerrilha, em uma
mesa de negociação, e convidou nessa ocasião representantes do Governo venezuelano
para também tomar parte.
Além de presumíveis vínculos entre o governo de Chávez e a guerrilha, sua
resistência ao Plano Colômbia de combate às drogas lançado pelo Presidente Bill
Clinton dos Estados Unidos também contribuiu para perturbar as relações com a
Colômbia. Importa frisar que a versão original do Plano apresentada pelo Presidente
Andrés Pastrana a Washington não continha dispositivo algum prevendo a intervenção
militar. Pastrana buscava soluções distintas e conjugadas para os dois problemas do
país, guerrilha e drogas, causados ambos no seu entender por desigualdades sociais.
A versão americana eliminou toda ajuda ao desenvolvimento e colocou recursos
praticamente inexauríveis na guerra às drogas. Desse modo, a presença do Estado
colombiano na negociação com a guerrilha, prevista por Pastrana no âmago do combate
à droga, tornou-se concretamente inatingível. No pacote de ajuda norte-americana de
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Com efeito, em que pesem diferenças de estilo na ação externa, nenhum outro
país da América do Sul apresenta relativamente ao Brasil, no início do milênio, tantas
variáveis comuns em sua visão de mundo e em sua estratégia externa quanto a
Venezuela. Essa convergência se estabelece mediante a comum adoção dos seguintes
parâmetros: a) o conceito de globalização assimétrica como correção ao conceito
neoliberal de globalização benéfica; b) o conceito político e estratégico de América do
Sul; c) o reforço do núcleo central robusto da economia nacional como condicionante
da interdependência global; d) a prévia integração da América do Sul como
condicionante da integração hemisférica; e) a percepção de nocividade da Associação
de Livre Comércio das Américas ALCA , caso se estabeleça sem os condicionamentos
anteriores e sem a reciprocidade comercial efetiva; f) a reserva ante o aspecto militar
do Plano Colômbia; g) o repúdio a qualquer presença militar norte-americana e a seus
vôos na Amazônia; g) a decisão de não privatizar o setor petrolífero.
Duas diferenças, entretanto, podem ser percebidas nas políticas exteriores de
ambos os países: por um lado, o ideal bolivariano de integração política, um dos suportes
ideológicos do Governo Chávez, foi tomado por utopia pelo pensamento político dos
brasileiros, desde o tempo em que o libertador era vivo, embora se possa estabelecer
um elo entre esse pensamento e o conceito estratégico de América do Sul, elaborado
pelo Barão do Rio Branco; por outro, a Venezuela ostenta maior disposição na esfera
da integração econômica regional haja vista o propósito de se criar a Petrolatina
com projetos de envergaduras que se distanciam das intenções pusilânimes do
empresariado brasileiro, público ou privado.
A zona de fronteira
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Conclusão
esforços para a integração regional; 4) o reforço dos dois blocos econômicos mais
importantes da região, Comunidade Andina e MERCOSUL, mediante o lançamento
da negociação tendo em vista associá-los, quiçá fundi-los, agregando-se a este processo
os outros países da América do Sul; 5) a reafirmação dos interesses econômicos da
América do Sul nas negociações para criação da ALCA; 6) enfim, maior presença da
Venezuela na América Central e Caribe, Cuba inclusive, mediante acordo subscrito
para provimento de petróleo em condições favoráveis aos países da região.
Parece, portanto, chegado o momento de se convencerem os países da América
do Sul do relevante papel que pode desempenhar a Venezuela nas relações regionais
e da necessidade de ajudá-la a superar seu histórico isolacionismo.
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