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**Um Eu Não Ideal Diante de Deus - Uma Crítica a Olavo de Carvalho**

Olavo de Carvalho, em seu curso online de filosofia, fala acerca de quem somos diante de
Deus e como se parece esse "eu perante Deus."

Olavo, em seu curso, monta um exercício para seus alunos: escrever um necrológio de si
mesmos, como se um de seus amigos estivesse escrevendo quem eles foram para outrem.
Esse exercício tem como objetivo firmar um ponto na história em que toda a personalidade e
desenvolvimento daquela pessoa chegou a um ponto culminante.

"A morte lhe mostra quem ele realmente era."

Olavo vai dizer que esta pessoa que agora está morta e que está sendo descrita deveria ser a
pessoa que aquele que a está escrevendo o necrológio gostaria que ela fosse, ou seja, o
próprio autor que está fazendo o exercício.
Ele deveria imprimir naquela pessoa que, já moribunda, tenha todas aquelas características
que o aluno gostaria de ter em sua vida. De forma real, de forma verossímil. Que ele concluísse
todos os seus objetivos pessoais, transcendentais, profissionais, etc. Que ele se tornasse quem
ele realmente gostaria de ser. O que pode variar desde uma pessoa incrívelmente conhecida
até um monge jainista, conhecido por ninguém, contudo, que chegou ao seu objetivo de vida.
Olavo fala que essa pessoa é o seu "eu ideal".

Tendo tudo isso posto, qual é a crítica a essa visão do eu ideal? Sem dúvida, ela é muito
benquista no sentido de que, ao traçar na mente do aluno esta imagem de um "eu" que chega
aos seus objetivos, o aluno tem um lugar bem definido para onde correr. Um alvo a ser
alcançado, um objetivo na caminhada filosófica. Portanto, o uso dessa ferramenta é muito bem
aventurado. Contudo, Olavo atribui certa transcendentalidade a ele. Nas suas primeiras aulas,
Olavo diz que é este quem fala com Deus. Porque Deus não quer saber, tampouco quer falar
com alguém que não está na sua forma ideal. Por isso, quando oramos, não é a nossa forma
acidental imediata que está falando com Deus, e sim este eu ideal que se comunica com o
Eterno.

Eu teimo em discordar, pois creio eu que se Deus fosse ouvir apenas a minha versão ideal, eu
estaria condenado. Porque bem sei eu que sou nada, senão a falta de completude. Sei também
que se for esperar que chegue o meu eu ideal para comunicar-me com Deus, morrerei
esperando. Porque o meu eu ideal já nasceu, já viveu, já morreu e já ressuscitou. O meu eu
ideal nasceu no ano zero, morreu no ano 33, ressuscitou neste mesmo ano e vive, vive até
hoje, e viverá para sempre. O nosso eu ideal, que se comunica com Deus, não é ninguém,
senão o próprio Cristo. Pois ele intercede por nós continuamente diante do Pai.

É balela, então, afirmar que não somos nós que nos comunicamos com Deus. Ledo engano.
Suave mentira. Pois nenhum de nós poderia chegar perto da qualidade para sermos aptos a
nos comunicar com o Eterno. E é exatamente por isso que em Romanos capítulo 8 o apóstolo
Paulo diz que não sabemos orar, pois o Espírito Santo traduz as nossas palavras malditas e as
apresenta diante do Pai através de seus próprios gemidos inexprimíveis por nós.

Eu não sou o ideal. Nunca serei nessa vida. Mas graças a Deus que ele escolhe se comunicar
com os imperfeitos. E não com os eus ideais de um necrológio sujo de um cadáver filósofo.

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