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Proponentes: Isabelle Gomes Pereira, Helena Rybka Gouveia e Higor de Carvalho Secato Silva
Projeto:
ambiência:
estrutura:
poética:
metodologia:
* referências: por tópicos (estudo de terreno, técnicas de costura naval, história e cultura
popular brasileira, conceito de instalação, referenciais artísticos, etc)
* contratação de serviços
O projeto Cama de Gato foi pensado como uma célula, uma proposta de intervenção artística
replicável em diversas localidades brasileiras, podendo ser lugares da paisagem tanto urbana como
rural, pública ou não. A ideia do projeto Cama de Gato é intervir na paisagem com a construção de
uma estrutura de fios de cânhamo se estendendo espacialmente onde for ser realizada a proposta.
Apoiados em árvores - preferencialmente árvores frutíferas -, os fios de cânhamo se estenderão em
variados ângulos interligando as árvores entre si e também à grama. Eles vão delimitar fluidamente
uma área entre 200 a 300m², a depender de cada situação dos locais onde for aplicada a célula.
Costurados aos fio de cânhamo, serão agregados tecidos e outros tipos de objetos têxteis que possuem
uma estética da cultura popular brasileira, além disso, pretende-se agregar elementos trazidos pelas
próprias pessoas da localidade em que a célula estiver sendo aplicada, para que a intervenção adquira
mais especificidade na representação de elementos que mais fortemente compõe a identidade de cada
local. Além disso, onde quer que a célula Cama de Gato for realizada, acompanhará uma placa com o
seu título, a autoria, uma lista dos materiais usados, escritos também em braille. Na mesma placa será
incluído um QRcode que dê o link para um áudio que faça a descrição visual direta sobre a disposição
dos elementos da obra, com a finalidade de promover maior acessibilidade a fruição e aproveitamento
da obra por todos
A intenção é criar um espaço que a partir da sua sensorialidade e estética, desperte memórias
pessoais e afetos coletivos e individuais das vivências particulares de cada sujeito. Essa intervenção,
este espaço novo criado em conjunto com as pessoas da comunidade se pretende convidativo e
instigante, para que o público possa interagir tocando e sentindo as texturas dos diferentes materiais
presentes na intervenção, se movimentando e explorando os caminhos possíveis dentre os fios e
tecidos, fazendo uso das redes seja deitando ou sentando, enfim, experimentando a obra da forma que
lhes couber.
Pretendemos usar não só alguns elementos por si só, mas também produzir alguns deles de
forma aumentada e modificada para fazer referência a determinadas estéticas e também
engrandecê-las, potencializando seu valor e significado. Um exemplo são as bandeirinhas de festa
junina, às quais faremos referência utilizando como base seu formato característico, mas construindo
uma só delas em proporções muito maiores que seu tamanho original e com uma estampa de bandeira
do Brasil, ao contrário de apenas ser de uma cor lisa. A ideia de utilizar aqui a bandeira do Brasil, é
resgatar para a potência da cultura popular brasileira as cores da bandeira, as quais infelizmente ao
longo da história do nosso país, principalmente nos últimos anos, foi apropriada por grupos
ideológicos fascistas, racistas, fundamentalistas de extrema direita. Assim a ideia aqui é se reapropriar
das cores de nossa bandeira, modificando seu formato tradicional e atrelando-a às famosas
bandeirinhas de festa junina, que possuem raízes culturais nordestinas.
Sobre a escolha dos locais passíveis de receberem a intervenção, ela será feita com base na
análise do local quanto à sua dimensão, à existência e quantidade de árvores no local, e também
quanto à possibilidade ou não da adição de novas mudas maduras de árvores frutíferas. E a ideia de
usar as árvores frutíferas na estrutura do projeto se pauta na afetividade que envolve o ato de colher a
fruta direto do pé, uma prática muito comum na memória da infância de muitas pessoas aqui no Brasil.
Quanto à escolha dos fios de cânhamo para estrutura de base, ela se deve primeiramente por
suas propriedades físicas, já que é um material muito resistente de fibras fortes, que aguentam muito
peso e possuem grande durabilidade, características necessárias para uma boa estrutura basal do
projeto de intervenção. Em segundo lugar, elegemos o cânhamo devido a história do uso do material
no Brasil, visto que ele foi amplamente fabricado e utilizado na indústria naval brasileira desde a sua
introdução no país pela própria coroa portuguesa na época da colonização. Posteriormente, por grande
influência da guerra às drogas iniciada nos anos 30 e fomentada pelos Estados Unidos no mundo todo,
o governo brasileiro, que outrora incentivava a economia gerada pelo cânhamo, passa a vilaniza-lo por
ser uma planta da família da cannabis, a qual conhecidamente foi atrelada a população
afrodescendente de forma extremamente pejorativa e violenta. Ao escolher o cânhamo para ser o
barbante dessa cama de gato, colocamos em evidência também a questão da proibição e criminalização
das plantas da cannabis no Brasil e a sua relação com a perseguição policial, governamental com as
comunidades pretas no Brasil.
Metodologia:
Contrapartida:
A ideia de criar um ambiente que não existia e que modifica a paisagem na qual se insere,
pode proporcionar diversas mudanças na região circunscrita e na comunidade local, interferindo
também na relação das pessoas com aquele espaço.
Quanto à repercussão da obra nas pessoas que irão se deparar com ela de alguma maneira,
pode-se dizer que simplesmente presenciar a criação de um ambiente que não existia até então em um
determinado local já gera um impacto na população que vive, mora e transita por este espaço. Assim, a
obra pode repercutir nas pessoas de formas distintas, a depender de muitas variantes, inclusive do nível
de contato entre o público e a instalação da ambiência.
No entanto, o contato da comunidade local da região em que este trabalho for instalado
começa antes de ele se apresentar finalizado, uma vez que a população é convidada a participar da
instalação da ambiência desde sua montagem. Assim, a relação com a obra e com o local se torna
ainda mais afetiva pelo envolvimento direto na criação de um espaço que se compõe a partir dos
objetos trazidos pela própria população. Essa é uma forma de as pessoas poderem caracterizar sua
região com os elementos que fazem sentido para a vida cotidiana que se desenrola nos arredores da
instalação, compondo a identidade local.
Em suma, a criação de um lugar que não existia pode oferecer contrapartidas de múltiplas
formas, desde a própria criação de uma ambiência que por si só modifica a paisagem; o modo como
essa nova visualidade do espaço passa a alterar permanentemente a percepção e a memória visual das
pessoas que transitam pelo local; até a incorporação de objetos que já participam da vivência da
comunidade local, trazendo a tona memórias afetivas, assim como da participação da população na
criação e na fruição do espaço finalizado, gerando novas memórias afetivas naquele espaço.
Orçamento:
Cronograma de execução: