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Cama de Gato

Projeto de intervenção artística

Nome do Projeto: Cama de Gato

Proponentes: Isabelle Gomes Pereira, Helena Rybka Gouveia e Higor de Carvalho Secato Silva

Projeto:

criar uma célula

ambiência:

- criar um espaço que não existe, que mexe com a paisagem


- se pretende uma alteração permanente na paisagem

estrutura:

- árvores (preferencialmente frutíferas)


- redes de fios de cânhamo

poética:

- questão do espaço, afetivo e físico, e referências da cultura popular brasileira


- elementos da cultura popular menos explícitos (mais uma ref do que o objeto em si - não
precisa especificar agora porque podemos adaptar esses objetos em cada lugar que o trabalho
estiver, inclusive conseguimos abarcar mais assim do que um projeto só que tivesse que dar
conta de toda diversidade do Brasil
- usar sempre os mesmos parâmetros básicos, mas deixar alguns elementos fixos e outros a
depender do que faz mais sentido em cada lugar que o trabalho for instalado
- objetos fixos: fios de cânhamo, rede, elementos têxteis (trazendo a questão da manualidade),
objetos aumentados (bandeirinha festa junina, bandeira do brasil modificada), elementos
pendurados,

metodologia:

- sequência de coisas que precisamos fazer para começar esse trabalho


1) estudo de terreno tendo em vista as qualidades: tamanho (estipular mínimo e máximo), manejo
florestal (quais árvores utilizaremos, dando preferência para lugares que já tenham árvores) -
ver a geografia e a flora pré-existentes no espaço e ver como usar da melhor forma
2) estipular materiais: ver quais materiais são fixos da estrutura (cânhamo, redes, etc) e pensar na
incorporação de novos elementos culturais regionais de acordo com a localização
3) montagem: tendo a possibilidade de aproveitar árvores pré-existentes do espaço ou plantar
(estipular uma relação entre quantidade de árvores e tamanho do espaço); montagem da
estrutura de cordas utilizando técnicas de costura naval; se pretende fazer uma estrutura
resistente que possa ser usada de maneira interativa; incorporar os elementos da cultura
popular regional nesta estrutura.
4) propor que a população participe da construção desse espaço, trazendo objetos que participem
da vivência daquela comunidade, se apropriando desses elementos - que fica mais potente do
que a gente chegar nos lugares, colocar objetos que julgarmos ser representativos daquele
lugar e falar pelas pessoas

* orçamento: estipular mínimo e máximo

* referências: por tópicos (estudo de terreno, técnicas de costura naval, história e cultura
popular brasileira, conceito de instalação, referenciais artísticos, etc)

* contratação de serviços

Introdução ao projeto, a sua poética e relação com o lugar

O projeto Cama de Gato foi pensado como uma célula, uma proposta de intervenção artística
replicável em diversas localidades brasileiras, podendo ser lugares da paisagem tanto urbana como
rural, pública ou não. A ideia do projeto Cama de Gato é intervir na paisagem com a construção de
uma estrutura de fios de cânhamo se estendendo espacialmente onde for ser realizada a proposta.
Apoiados em árvores - preferencialmente árvores frutíferas -, os fios de cânhamo se estenderão em
variados ângulos interligando as árvores entre si e também à grama. Eles vão delimitar fluidamente
uma área entre 200 a 300m², a depender de cada situação dos locais onde for aplicada a célula.
Costurados aos fio de cânhamo, serão agregados tecidos e outros tipos de objetos têxteis que possuem
uma estética da cultura popular brasileira, além disso, pretende-se agregar elementos trazidos pelas
próprias pessoas da localidade em que a célula estiver sendo aplicada, para que a intervenção adquira
mais especificidade na representação de elementos que mais fortemente compõe a identidade de cada
local. Além disso, onde quer que a célula Cama de Gato for realizada, acompanhará uma placa com o
seu título, a autoria, uma lista dos materiais usados, escritos também em braille. Na mesma placa será
incluído um QRcode que dê o link para um áudio que faça a descrição visual direta sobre a disposição
dos elementos da obra, com a finalidade de promover maior acessibilidade a fruição e aproveitamento
da obra por todos
A intenção é criar um espaço que a partir da sua sensorialidade e estética, desperte memórias
pessoais e afetos coletivos e individuais das vivências particulares de cada sujeito. Essa intervenção,
este espaço novo criado em conjunto com as pessoas da comunidade se pretende convidativo e
instigante, para que o público possa interagir tocando e sentindo as texturas dos diferentes materiais
presentes na intervenção, se movimentando e explorando os caminhos possíveis dentre os fios e
tecidos, fazendo uso das redes seja deitando ou sentando, enfim, experimentando a obra da forma que
lhes couber.

O nome do projeto foi inspirado na brincadeira infantil tipicamente brasileira, de mesmo


nome, em que as crianças usam um barbante amarrado em si mesmo para formar diversos desenhos
com a linha. Elas vão envolvendo o barbante nos dedos e nas mãos para esticar o barbante em
formatos específicos. A cama de gato sendo uma das muitas brincadeiras especificamente das crianças
brasileiras, é um nome que pensamos poder evocar a memória afetiva da infância das pessoas e ao
mesmo tempo fazer alusão tanto visualmente quanto poeticamente à cultura popular brasileira,
principalmente na produção e uso de elementos têxteis no país. Aqui me refiro às redes de dormir, às
colchas e tapetes de retalhos que as avós, mães e costureiras de bairro confeccionam, aos crochês,
macramé, panos de prato, tecidos estampados, de chita, às fitinhas de “senhor do bonfim”, às
bandeirinhas de festa junina e tantos outros presentes em feiras de rua e de artesanato em inúmeras
regiões do país.

Pretendemos usar não só alguns elementos por si só, mas também produzir alguns deles de
forma aumentada e modificada para fazer referência a determinadas estéticas e também
engrandecê-las, potencializando seu valor e significado. Um exemplo são as bandeirinhas de festa
junina, às quais faremos referência utilizando como base seu formato característico, mas construindo
uma só delas em proporções muito maiores que seu tamanho original e com uma estampa de bandeira
do Brasil, ao contrário de apenas ser de uma cor lisa. A ideia de utilizar aqui a bandeira do Brasil, é
resgatar para a potência da cultura popular brasileira as cores da bandeira, as quais infelizmente ao
longo da história do nosso país, principalmente nos últimos anos, foi apropriada por grupos
ideológicos fascistas, racistas, fundamentalistas de extrema direita. Assim a ideia aqui é se reapropriar
das cores de nossa bandeira, modificando seu formato tradicional e atrelando-a às famosas
bandeirinhas de festa junina, que possuem raízes culturais nordestinas.

Sobre a escolha dos locais passíveis de receberem a intervenção, ela será feita com base na
análise do local quanto à sua dimensão, à existência e quantidade de árvores no local, e também
quanto à possibilidade ou não da adição de novas mudas maduras de árvores frutíferas. E a ideia de
usar as árvores frutíferas na estrutura do projeto se pauta na afetividade que envolve o ato de colher a
fruta direto do pé, uma prática muito comum na memória da infância de muitas pessoas aqui no Brasil.

Quanto à escolha dos fios de cânhamo para estrutura de base, ela se deve primeiramente por
suas propriedades físicas, já que é um material muito resistente de fibras fortes, que aguentam muito
peso e possuem grande durabilidade, características necessárias para uma boa estrutura basal do
projeto de intervenção. Em segundo lugar, elegemos o cânhamo devido a história do uso do material
no Brasil, visto que ele foi amplamente fabricado e utilizado na indústria naval brasileira desde a sua
introdução no país pela própria coroa portuguesa na época da colonização. Posteriormente, por grande
influência da guerra às drogas iniciada nos anos 30 e fomentada pelos Estados Unidos no mundo todo,
o governo brasileiro, que outrora incentivava a economia gerada pelo cânhamo, passa a vilaniza-lo por
ser uma planta da família da cannabis, a qual conhecidamente foi atrelada a população
afrodescendente de forma extremamente pejorativa e violenta. Ao escolher o cânhamo para ser o
barbante dessa cama de gato, colocamos em evidência também a questão da proibição e criminalização
das plantas da cannabis no Brasil e a sua relação com a perseguição policial, governamental com as
comunidades pretas no Brasil.

Metodologia:

Contrapartida:

A ideia de criar um ambiente que não existia e que modifica a paisagem na qual se insere,
pode proporcionar diversas mudanças na região circunscrita e na comunidade local, interferindo
também na relação das pessoas com aquele espaço.

Em relação ao ambiente, se pretende uma modificação permanente da paisagem, ainda que a


instalação seja temporária, pois o espaço que recebe o trabalho não volta a ser o mesmo de antes, seja
por resquícios materiais que a instalação pode deixar no local ou por resíduos de memória produzidos
nas pessoas que entraram em contato com a obra. A criação de um espaço enquanto poética,
independente da relação que ele estabeleça com as pessoas, é por si só um feito interessante, que
poderia ser a finalidade da obra. Contudo, durante a instalação e permanência do trabalho em cada
região ele for instalado, as pessoas presentes no local desenvolvem uma nova maneira de se relacionar
com o espaço, a partir do contato direto e físico com o ambiente criado, e também através do olhar,
que passa a perceber e lembrar do espaço de forma diferente.

Quanto à repercussão da obra nas pessoas que irão se deparar com ela de alguma maneira,
pode-se dizer que simplesmente presenciar a criação de um ambiente que não existia até então em um
determinado local já gera um impacto na população que vive, mora e transita por este espaço. Assim, a
obra pode repercutir nas pessoas de formas distintas, a depender de muitas variantes, inclusive do nível
de contato entre o público e a instalação da ambiência.

Pretende-se a criação de um espaço passível de interação, que pode se dar em diferentes


níveis, causando diversos efeitos - desde o contato visual, que modifica o olhar das pessoas sobre a
paisagem; o contato corpóreo de simplesmente estar dentro da ambiência criada e perceber este
espaço; até o contato físico direto, de sentar nas redes, encostar nas cordas, interagir com os objetos
agregados, subir nas árvores, etc. Essa interação do público é imprevisível a partir do momento em que
a obra é colocada no mundo de forma pública, de modo que os proponentes não tenham mais controle
sobre a relação que as pessoas vão estabelecer com ela.

No entanto, o contato da comunidade local da região em que este trabalho for instalado
começa antes de ele se apresentar finalizado, uma vez que a população é convidada a participar da
instalação da ambiência desde sua montagem. Assim, a relação com a obra e com o local se torna
ainda mais afetiva pelo envolvimento direto na criação de um espaço que se compõe a partir dos
objetos trazidos pela própria população. Essa é uma forma de as pessoas poderem caracterizar sua
região com os elementos que fazem sentido para a vida cotidiana que se desenrola nos arredores da
instalação, compondo a identidade local.

Em suma, a criação de um lugar que não existia pode oferecer contrapartidas de múltiplas
formas, desde a própria criação de uma ambiência que por si só modifica a paisagem; o modo como
essa nova visualidade do espaço passa a alterar permanentemente a percepção e a memória visual das
pessoas que transitam pelo local; até a incorporação de objetos que já participam da vivência da
comunidade local, trazendo a tona memórias afetivas, assim como da participação da população na
criação e na fruição do espaço finalizado, gerando novas memórias afetivas naquele espaço.

(falta fazer revisão e alterações na contrapartida kkkk

Orçamento:

pesquisar, mas vai ser bastantes dinheiros

Cronograma de execução:

fazer a partir do passo a passo da metodologia


Referências:
A evolução da cannabis: por que ela se tornou ilegal? – The Green Hub. Thegreenhub.com.br.
Disponível em:
<https://thegreenhub.com.br/a-evolucao-da-cannabis-por-que-ela-se-tornou-ilegal/#:~:text=A
%20partir%20de%201930%2C%20muito,de%20criminalizar%20a%20popula%C3%A7%C3
%A3o%20negra >. Acesso em: 21 nov. 2023.
MAIA, Leandro. Consciência Negra: Como a cannabis chegou ao Brasil; saiba a conexão
com a população afrodescendente. Tudo sobre a cannabis medicinal e o cânhamo industrial.
Disponível em:
<https://sechat.com.br/consciencia-negra-como-a-cannabis-chegou-ao-brasil-saiba-a-conexao
-com-a-populacao-afrodescendente/?noamp=available >. Acesso em: 21 nov. 2023.
Entenda por que a maconha foi proibida ao redor do mundo - Revista Galileu | Sociedade.
Globo.com. Disponível em:
<https://revistagalileu.globo.com/amp/Sociedade/noticia/2019/07/entenda-por-que-maconha-f
oi-proibida-ao-redor-do-mundo.html >. Acesso em: 21 nov. 2023.

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