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História
Propostas elaboradas por Antonia Terra
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1. Sequência de atividades: “Brincadeiras e brinquedos”


Adequada especialmente para o 1º ano
Duração: aproximadamente seis semanas

Objetivos didáticos
[o que o professor pretende com o trabalho]

◦ Possibilitar reflexões sobre as vivências sociais e culturais em jogos e brincadeiras.


◦ Contribuir para que as crianças conheçam elementos culturais de outros tempos.
◦ Criar condições para a distinção entre épocas, culturas e vivências sociais.
◦ Favorecer e orientar a troca de informações entre o grupo social de convívio e entre
gerações.
◦ Promover a investigação da história de objetos e a organização de informações.
◦ Ampliar oportunidades de vivências de situações lúdicas.
◦ Propiciar que as crianças construam referências temporais, para julgar acontecimentos no
tempo.

Conteúdos
[o que é preciso ensinar/comunicar explicitamente ou criar condições para que os alunos aprendam]

◦ Coleta de informações sobre jogos, brincadeiras e brinquedos a partir de relatos orais,


textos, imagens e objetos.
◦ Coleta de informações em objetos de cultura material.
◦ Reconhecimento de relações entre características de brinquedos e épocas específicas.
◦ Identificação temporal de mudanças e permanências nos brinquedos.
◦ Atitudes de valorização da vida social e cultural e de respeito às pessoas nas situações de
convivência comum.
◦ Organização de informações sobre acontecimentos no tempo histórico.
◦ Exploração de referências de medidas de tempo utilizadas pela sociedade atual.
◦ Valorização das vivências sociais e lúdicas em jogos e brincadeiras.

Considerações iniciais

 De modo semelhante ao que ocorre na vida social, os jogos infantis favorecem debates
sobre regras, modelos de comportamento, elementos da cultura, que são importantes
para garantir o jogo lúdico e evidenciar situações de acordos, conflitos, construções
culturais, também frequentes nas variadas convivências diárias. No jogo, as crianças
aprendem a compartilhar, assim como na vida social aprendem a discernir modos de
conviver.
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 Esta sequência de atividades pretende contribuir para que as crianças tenham variados
espaços e tempos para brincar na escola e, brincando, jogando, interagindo,
compartilhando e confeccionando brinquedos, também conheçam histórias de outros
tempos, comecem a discernir épocas (hoje e antigamente), perceber algumas de suas
convivências sociais e ampliar seu repertório cultural e histórico (para, aos poucos,
construírem noções temporais e distinções de épocas). A sugestão é criar situações para
que as crianças estudem a história de brinquedos de diferentes épocas e culturas,
valorizando principalmente as tradições brasileiras.
 Por conta da idade e do pouco domínio da escrita nessa faixa etária, a proposta privilegia
o trabalho com relatos orais, leitura pelo professor, elementos da cultura material,
imagens e debates. Além disso, contempla preocupações em formar atitudes de
valorização da vida social e cultural e de respeito aos semelhantes nas situações de
convivência comum. Como o estudo da história fortalece laços de identidade, os temas
podem remeter para vivências similares entre os seres humanos em geral (em uma longa
temporalidade) e construções regionais da cultura brasileira.

Sequência de Atividades e Procedimentos Metodológicos

Atividade 1: Cantinho de brinquedo na sala de aula


Proposta de encaminhamento
 Incentivar as crianças a coletar brinquedos e outros materiais/objetos que favoreçam jogos
ou brincadeiras na sala de aula (como roupas para fantasias) e, também, a produzi-los na
escola.
É possível considerar como brinquedo os objetos mais diversos utilizados pelas crianças
em suas brincadeiras, mesmo que eles não tenham sido produzidos necessariamente para
esse fim. Nesse caso, a imaginação da criança predomina sobre a função original do
objeto, como explica Vygotsky: ...um pedaço de madeira torna-se um boneco e um cabo
de vassoura torna-se um cavalo...

 Organizar com as crianças um cantinho de brinquedos na sala de aula.


 Estabelecer com as crianças um ou mais horários específicos para que possam brincar no
cantinho de brinquedos da classe.
 Combinar algumas regras de convívio coletivo com os brinquedos, para amenizar os conflitos.

Atividade 2: Brinquedo preferido


Proposta de encaminhamento
 Combinar com as crianças um escalonamento para trazerem seus brinquedos preferidos (do
momento ou de quando eram menores) e apresentá-los aos colegas de sala.
 Promover o registro das apresentações por meio de fotos e/ou desenhos, relatos gravados
e/ou escritos e fichas de identificação dos brinquedos.
 Propor que a classe convide adultos para conversarem com as crianças sobre os seus
brinquedos antigos preferidos.
 Organizar com as crianças, antes da visita, as perguntas que serão feitas ao convidado.
 Registrar a visita com desenhos, fotos e texto coletivo.
 Compor um mural com os textos coletivos, fotos e desenhos sobre os brinquedos preferidos
das crianças e dos convidados.
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Atividade 3: Análise histórica de um brinquedo (objeto da cultura material)


Proposta de encaminhamento
 Mostrar um brinquedo para ser analisado pelas crianças, na sala de aula, como um
documento histórico. Contar para elas que a idéia é observarem e coletarem informações
sobre a história do brinquedo.
 Após ouvir os comentários iniciais das crianças sobre o objeto, propor uma série de perguntas
(exemplos a seguir), para ajudar na coleta de informações. Anotar as respostas.

Que objeto é esse?


De quais materiais é feito?
Quais são suas cores? As cores podem variar ou não?
Tem cheiro? Qual?
Para que serve?
Foi produzido para quê?
O objeto tem partes? Quais? Para que servem?
Quem provavelmente o produziu?
É um objeto atual ou é de antigamente? Por quê?
Onde foi criado ou produzido? É possível saber?
A quem pertence o objeto?
Quem usa ou usava esse objeto?
Como era usado?
Existiam pessoas que não podiam usar esse objeto? Por quê?
Há objetos semelhantes hoje em dia?
Quais as diferenças e semelhanças entre esse objeto e os de hoje em dia?
Como o objeto foi preservado até hoje?

A proposta não é que as crianças acertem as respostas e nem que saibam responder todas elas, mas
possibilitar que pensem sobre o assunto e levantem hipóteses. Por exemplo:
sobre o uso do objeto, elas podem cogitar na restrição do uso pelos adultos ou debater as
condições econômicas das famílias de presentear ou não os filhos com brinquedos caros;
sobre quem produziu, podem debater se foi feito por uma pessoa ou por muitas, e sobre a
produção de brinquedos em fábricas, por operários, com cada trabalhador realizando uma parte
do trabalho;
sobre o material, podem identificar o emprego de uma variedade deles; etc.

De início, cumpre diferenciar duas categorias de brinquedos: os brinquedos artesanais dos


brinquedos industriais [...]
Os brinquedos artesanais estão mais associados à expressão de culturas tradicionais, isto é,
concorrem para a preservação das tradições pela repetição, pelas crianças, de padrões culturais de
seus antepassados. [...] Os brinquedos industriais associam-se à sociedade de consumo, ligados à
ruptura de tradições culturais, veiculando modas e novidades.
[...] Pelo brinquedo, pode-se compreender muito dos projetos de mundo das sociedades que os
produziram e também seu impacto sobre aquelas que apenas os consumiram. No caso brasileiro, até
a década de 1930, só havia no país pequeníssimas manufaturas produzindo brinquedos e a maioria de
brinquedos industriais era de origem estrangeira. Este fato, por si só, levanta questões sobre como
os modelos estrangeiros foram assimilados pela sociedade nacional; sobre como, por meio do
brinquedo, introjetaram-se, em gerações de crianças brasileiras, padrões estrangeiros globalizantes
desde o final do século XIX. Quando, em 1937, inaugurou-se a primeira grande fábrica de brinquedos
no Brasil – a Manufatura de Brinquedos Estrela – o modelo estrangeiro já estava estabelecido como
padrão industrial.
Entre muitos recortes que se podem fazer do brinquedo enquanto modelo, está aquele que o
examina como vetor de modelização do trabalho. Pelo brinquedo, muito se ensinou a meninas e
meninos sobre sua função na sociedade. Quais as atividades, quais os trabalhos apropriados para um
e para outro?
Para elas, as atividades domésticas se exercitaram nos conjuntos de fogõezinhos, panelinhas, louças
em miniatura; maquininhas de costura e ferrinhos de passar; pequenas mobílias, casinhas inteiras, o
mundo doméstico, enfim, povoado de bonecas e bebês.
Para eles, máquinas, veículos, revólveres de brinquedo. Bonecos, somente cowboys, soldados e
afins. A sensação de atuação sobre o mundo e a compreensão dos modos de funcionamento de
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máquinas moldavam o homem de ação, pronto para trabalhos de inteligência e enfrentamento.


Controlar todo o trajeto de um trem, construir prédios e cidades, acionar uma caldeira a vapor –
princípio da movimentação de fábricas – e ter como seus semelhantes soldadinhos, por exemplo,
americanos, sérios ou engraçadamente simpáticos, estes seriam os quadros onde inscrever as
atividades do adulto futuro. (ABREU, 2000)1

 Depois de as crianças levantarem suas hipóteses, apresentar algumas informações sobre o


brinquedo.
 Recuperar o que foi discutido, para organizar com as crianças, coletivamente, uma ficha de
registro das informações colhidas e características do brinquedo.

Atividade 4: Brinquedos de diferentes épocas


Proposta de encaminhamento
 Apresentar para as crianças brinquedos atuais e antigos (os próprios objetos ou imagens
deles), contando, quando preciso, como eram ou são usados nas brincadeiras.
 Na seleção dos brinquedos, é recomendável considerar variados tipos, para análise de
diferentes realidades sociais: antigos e atuais; industriais e artesanais; feitos com
diferentes materiais; produzidos por adultos e por crianças; caros e baratos; da sociedade
industrial e de sociedades indígenas; comuns nas cidades e comuns na zona rural; de
meninos e de meninas; nacionais e estrangeiros etc. A proposta pode envolver também
pesquisas das crianças e suas famílias.

Entre os brinquedos populares brasileiros há: peteca, bola de meia, pião, cavalo de pau, boneca de
pano ou de sabugo, bilboquê, carrinho de lata, barquinho de papel, espada de pau, bodoque ou
estilingue, bola de gude, bafo, bola de sabão, corda, ioiô, pneu, assovio de madeira ou barro,
patinete, perna de pau, papagaio ou pipa, cinco marias, etc.
Há ainda brinquedos produzidos por diferentes culturas e épocas. No site do Museu Britânico, podem
ser encontrados brinquedos da antiguidade africana, asiática e européia, como o exemplo que está
na página abaixo:
http://www.britishmuseum.org/explore/highlights/highlight_objects/aes/w/wooden_toy_cat.aspx
Esse brinquedo foi produzido em Tebas, capital do Egito Antigo, e data de provavelmente 3.500 anos
atrás. Ele é feito de apenas madeira e cordão e a boca abre e fecha. Provavelmente foi feito por um
único artesão, com domínio em escultura na madeira. Pode ter sido pintado originalmente, mas pode
ter perdido o colorido com o tempo. Quem usava? Não sabemos. Pode ter sido, ou não, de crianças.
Como os gatos eram animais de estimação e considerados animal sagrado pelos egípcios, muitas
reproduções deles foram encontradas em túmulos.
Veja os brinquedos também que estão no Museu Histórico Nacional:
http://www.museuhistoriconacional.com.br/mh-g-19.htm

 Propor às crianças a organização de um fichário sobre brinquedos, com fichas descritivas dos
mais interessantes, de diferentes tipos.
 Nas fichas podem constar: foto ou desenho, nome do brinquedo, a quem pertence ou
pertenceu, a época aproximada em que foi feito, o local de que ele procede, do que é
feito, quem provavelmente fez o brinquedo, como é possível brincar com ele etc.
 Desenvolver a pesquisa com as crianças e orientar o preenchimento coletivo das fichas.
 Propor que as crianças ordenem alguns brinquedos – do passado para o presente ou do
presente para o passado. Comentar sobre os que pertencem a uma mesma época e, também,
aqueles que, apesar de terem sido criados no passado, são produzidos até hoje.
 Organizar uma linha do tempo junto com as crianças, indicando épocas e relacionando-as
com os brinquedos.

1
ABREU, A. A. (Org.). Quantos anos faz o Brasil? São Paulo: Imprensa Oficial: EDUSP, 2000. p. 49 e 51.
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 Na elaboração da linha do tempo, é possível usar os próprios objetos ou suas imagens. Se


a linha do tempo for construída com os próprios brinquedos, será possível fotografá-la e
deixá-la, por um período, exposta em um mural.

Desdobramento possível
Se existir a intenção de organizar uma exposição, é importante dispor os objetos e os espaços de
acordo com alguns critérios que podem ser decididos junto com as crianças. Exemplos:
- por temas: brinquedos de rua, de meninas, de meninos, que se movem, jogos de
tabuleiro etc.;
- por épocas: de hoje em dia, da época de nossos pais, da época de nossos avós, muito
antigos etc.;
- por idade: de crianças até 5 anos, de crianças até 10 anos, de adolescentes, de adultos,
de todas as idades etc.;
- pelo modo de fabricação: feito por crianças, artesanal, industrial etc.;
- por coleções: objetos que pertenceram a determinada pessoa ou família;
- pelo material utilizado: papel, madeira, plástico, ferro etc.

Atividade 5: Confeccionando brinquedos


Proposta de encaminhamento
 Coordenar roda de conversa sobre as diferentes maneiras de produzir brinquedos - há os
brinquedos caseiros, ensinados de geração para geração; há os brinquedos artesanais, feitos
por artesãos que, geralmente, trabalham com madeira; e há brinquedos industrializados.
Perguntar, por exemplo, sobre o tipo de material, o tipo de trabalhador, quem tem acesso a
brinquedos produzidos de um ou outro modo (todas as crianças podem ter a oportunidade de
confeccionar um brinquedo em casa, como um barquinho de papel, um chapéu de soldado,
uma boneca de pano; por outro lado, nem todas têm acesso a um brinquedo industrializado,
por conta do preço).
 Nesse contexto de conversa, é importante lembrar que nem sempre um brinquedo
industrializado é melhor do que aquele que foi feito em casa.
 Propor que a classe convide pessoas mais velhas para ensinarem a fazer brinquedos caseiros
tradicionais como bonecas de pano e de sabugo, boneca de papel que troca de roupa, pipa,
barquinho de papel, carrinho feito de caixa de fósforos.
 Organizar com as crianças, antes da visita, o material necessário.
 Registrar os processos de confecção dos brinquedos, para posterior organização de um
pequeno livro com as crianças.
 Se houver possibilidade, é interessante organizar uma visita a uma fábrica ou oficina de
brinquedos, para conhecer processos de produção e entrevistar os trabalhadores
(perguntas predefinidas pela classe sobre as tarefas envolvidas, o material utilizado, o
tempo para fabricação dos brinquedos etc). Antes e durante a visita, conversar com as
crianças, fazendo combinados sobre como deve ser o comportamento ao longo do
passeio. Aproveitar os registros da visita, para compor um mural na escola.
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2. Sequência de Atividades: “Brincadeiras brasileiras”


Adequada especialmente para o 1º ano
Duração: aproximadamente quatro semanas

Objetivos didáticos
[o que o professor pretende com o trabalho]

◦ Possibilitar reflexões sobre as vivências sociais e culturais em jogos e brincadeiras.


◦ Propiciar que as crianças construam um repertório cultural a respeito de brincadeiras infantis
brasileiras.
◦ Contribuir para que as crianças conheçam elementos culturais de outros tempos.
◦ Criar condições para a distinção entre épocas, culturas e vivências sociais.
◦ Favorecer e orientar a troca de informações entre o grupo social de convívio e entre
gerações.
◦ Promover a organização de acervo de informações históricas.
◦ Ampliar oportunidades de vivências de situações lúdicas.

Conteúdos
[o que é preciso ensinar/comunicar explicitamente ou criar condições para que os alunos aprendam]

◦ Estudo sobre vivências sociais e culturais em jogos e brincadeiras.


◦ Coleta de informações sobre brincadeiras infantis brasileiras.
◦ Identificação de elementos culturais de outros tempos.
◦ Distinção entre épocas, culturas e vivências sociais.
◦ Troca de informações entre o grupo social de convívio e entre gerações.
◦ Organização de acervo de informações históricas.
◦ Valorização de vivências de situações lúdicas.

Considerações iniciais

 As brincadeiras e os jogos são produções culturais e históricas compostas por um vasto


repertório de tradições, possíveis de serem pesquisadas e ensinadas para as crianças.
 Além dos jogos e brincadeiras, há versos, cantigas, danças populares e tradicionais que
podem ser ensinados para as crianças pequenas, criando momentos também lúdicos e
favoráveis a aprendizagens. São exemplos: os acalantos, as parlendas, os trava-línguas e
as adivinhas (por vezes reunidos em livrinhos, confeccionados pelas próprias crianças).
 Ao ensinar brincadeiras tradicionais, é possível estudar com as crianças, ainda, costumes
antigos, vividos em outras épocas, como os que aparecem em algumas cantigas de roda.
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Sequência de Atividades e Procedimentos Metodológicos


Atividade 1: Identificação de brincadeiras em produções artísticas
Proposta de encaminhamento
 Selecionar e incentivar a classe a apreciar algumas produções artísticas que retratam
brincadeiras: apresentar o artista, informar onde vive ou viveu, a época de cada obra e
dialogar com as crianças sobre o que nela pode ser observado.
 Muitas brincadeiras brasileiras estão representadas em obras de artes de pintores
nacionais, como Parreiras, Milton Dacosta e Portinari. Há também o clássico quadro
Brincadeiras, de Bruegel, um pintor holandês do século XVI, que retratou diferentes
brincadeiras européias encontradas ainda hoje nas tradições brasileiras.
 Após fazer com as crianças um levantamento de suas brincadeiras prediletas, incentivá-las a
produzir pinturas, retratando essas brincadeiras. Aproveitar a oportunidade para conversar
sobre a importância de se colocar autoria nas obras, assim como a data de realização.
 Organizar, coletivamente, um mural com as pinturas da classe.

Atividade 2: Pesquisa sobre brincadeiras brasileiras


Proposta de encaminhamento
 Propor que as crianças entrevistem pessoas mais velhas, para descobrir novas brincadeiras e,
além disso, conferir se conhecem, do mesmo modo ou diferente, os versos de brincadeiras
que a classe aprendeu na escola.
 Organizar, coletivamente, o que vai ser perguntado e combinar de que modo as respostas
serão registradas.
 Os versos de muitas brincadeiras tradicionais sofrem variações de região para região. As
diferentes versões podem ser escritas em cartazes e afixadas nos murais, com o registro
de quem as forneceu e das regiões do Brasil em que foram aprendidas.
 Orientar as crianças em consultas a livros e outros suportes de textos sobre as brincadeiras e
suas histórias.
 Fazer, com a classe, uma lista de brincadeiras, conversando sobre a época provável da sua
realização mais frequente, as regras e os procedimentos requeridos para a execução de cada
uma.
 Organizar, com as crianças, momentos para vivenciarem as brincadeiras que elas
escolherem.
 Nos jogos e brincadeiras as crianças ‘enfrentam’ as regras. O faz-de-conta exige, por
exemplo, que elas considerem normas de conduta que saem do usual. Assim, além de
estimular os jogos espontâneos, nos quais as crianças criam para si e coletivamente suas
regras e acordos, é possível também estimular debates sobre as regras específicas dos
jogos e brincadeiras. Essas vivências lúdicas, em outras situações, podem ser associadas
às regras de convivência social, contemporâneas ou de outros tempos.
[...] não existe brinquedo sem regras. A situação imaginária de qualquer forma de brinquedo já
contém regras de comportamento, embora possa não ser um jogo com regras formais
estabelecidas a priori. A criança imagina-se como mãe e a boneca como criança e, dessa forma,
deve obedecer às regras do comportamento maternal. [...] ao brincar, a criança tenta ser o que
ela pensa que uma irmã deveria ser. Na vida, a criança comporta-se sem pensar que ela é a irmã
de sua irmã. Entretanto, no jogo em que as irmãs brincam de irmãs, ambas estão preocupadas em
exibir seu comportamento de irmã; o fato de duas irmãs terem decidido brincar de irmãs induziu-
as a adquirir regras de comportamento. [...] O que na vida real passa despercebido pela criança
torna-se uma regra de comportamento no brinquedo. (VYGOTSKY , 1988)2

2
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1988, p. 108.
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Atividade 3: Classificação das brincadeiras


Após apresentar para as crianças uma proposta de classificação de brincadeiras, auxiliá-las a
agruparem as brincadeiras da lista anteriormente organizada pela classe de acordo com os
critérios apresentados.

 O estudioso Veríssimo de Melo, por exemplo, no seu livro Folclore Infantil 3, apresenta
uma grande variação de brincadeiras e jogos populares e tradicionais, classificando-os e
registrando as suas variáveis regionais. Segundo esse autor, há:
jogos de escolha, como o Cara e Coroa, o Passa Pedra, o Une, dune, tê, Lá em cima do piano;
jogos gráficos, como Academia, Amarelinha, Caracol;
jogos de competição, como Esconde-Esconde, Batata Quente, Lenço Atrás, Cobra Cega, Boca de
Forno, Estátua;
jogos de sorte ou de salão, como Passa Anel, Berlinda, Soldado, não; e
jogos de música e cantiga de rodas (classificadas pelo autor em amorosas, satíricas, imitativas,
religiosas e dramáticas), como Tororó, O cravo brigou com a rosa, Terezinha de Jesus, A barca
virou, Sereno da Madrugada, Bela Pastora, Na mão direita tem uma roseira, Pai Francisco...

Atividade 4: Os costumes de outros tempos nas brincadeiras


Analisar, com as crianças, algumas das antigas músicas, ainda presentes em brincadeiras atuais,
para aproximar seu olhar de costumes de outros tempos. Exemplos:
- os versos de ‘Terezinha de Jesus’ fazem referência a um tempo em que as moças só
saíam de casa para casar e, por isso, os três homens mais importantes de suas vidas
eram o pai, o irmão e o marido;
- na cantiga ‘Lá na ponte da Aliança’, são mencionadas as lavadeiras de antigamente,
quase desaparecidas das margens dos rios brasileiros.

Atividade 5: As crianças indígenas e suas brincadeiras


Proposta de encaminhamento
 Apresentar para as crianças estudos sobre as brincadeiras de determinadas populações
indígenas brasileiras. Existem livros e sites que tratam do assunto, como:
http://www.jogosindigenasdobrasil.art.br/port/default.html.

 É importante abordar as diferenças culturais existentes no nosso país, onde vivem povos
de tradições diversificadas, como as diferentes nações indígenas e os grupos humanos de
origem européia e africana.
 Propor às crianças a organização de um mural ou livro sobre algumas brincadeiras criadas por
nações indígenas, tendo em vista as novas possibilidades de conhecer a cultura desses povos.

?
3
MELO, Veríssimo. Folclore Infantil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1985.
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3. Sequência de atividades: “Comer é conviver”


Adequado especialmente para o 2º ano
Duração: aproximadamente seis semanas

A escolha de nossos alimentos diários está intimamente ligada a um


complexo cultural inflexível. O nosso menu está sujeito a fronteiras
intransponíveis, riscadas pelo costume de milênios.
Câmara Cascudo 4

Objetivos didáticos
[o que o professor pretende com o trabalho]

◦ Possibilitar reflexões sobre as vivências sociais e culturais em estudos relacionados à


alimentação.
◦ Contribuir para que as crianças conheçam elementos culturais de outros tempos.
◦ Criar condições para a distinção entre épocas, culturas e vivências sociais.
◦ Favorecer e orientar a troca de informações entre o grupo social de convívio e entre
gerações.
◦ Promover a investigação da história de alimentos e objetos relacionados a eles.
◦ Promover a organização de acervo de informações históricas.
◦ Propiciar que as crianças construam referências temporais, para julgar acontecimentos no
tempo.

Conteúdos
[o que é preciso ensinar/comunicar explicitamente ou criar condições para que os alunos aprendam]

◦ Reflexão sobre as vivências sociais e culturais relacionadas à alimentação.


◦ Identificação de elementos culturais de outros tempos.
◦ Distinção entre épocas, culturas e vivências sociais.
◦ Troca de informações entre o grupo social de convívio e entre gerações.
◦ Coleta de informações sobre a história de alimentos e objetos relacionados a eles.
◦ Organização de acervo de informações históricas.
◦ Utilização de referências temporais, para julgar acontecimentos no tempo.

Considerações iniciais

4
CASCUDO, L. C. História da alimentação no Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1983. 2 v.
11

 A necessidade de saciar a fome, presente no cotidiano da criança e, simultaneamente,


em todos os contextos sociais e históricos, sempre demandou convívios e construções
coletivas na produção e partilha social do alimento, com o domínio de conhecimentos
técnicos e o estabelecimento de regras, hábitos e tabus quanto ao seu preparo e
consumo. Por essa razão, dentre outras, o tema possibilita evidenciar para as crianças as
relações entre os indivíduos e a sociedade, ao longo da história, e as muitas
problemáticas contemporâneas envolvendo a fome e o acesso aos alimentos.

 A “comida rápida” e industrializada tem acompanhado a expansão e crescimento das


cidades. Os horários das escolas e do trabalho têm estabelecido um modo de vida mais
acelerado, um tempo corrido, com as pessoas fora de casa em muitas situações. Isso tem
repercutido na falta de tempo para preparar refeições mais completas, na falta de
oportunidade de reunião da família para almoçar e jantar e na queda da qualidade do
que se come. Muitas pessoas comem em restaurantes perto do trabalho e muitos jovens
se alimentam em lanchonetes. Por sua vez, as propagandas das indústrias alimentícias
contribuem para que a população consuma mais doces, biscoitos, iogurtes, massas, frios,
enlatados e congelados, mudando hábitos antigos que eram mais saudáveis.

 Em seu livro Cotidiano e solidariedade, a historiadora brasileira Julita Scarano parte da


ideia de que alimento diz respeito à preservação da vida do indivíduo, ou seja, aquilo
que ele come para se nutrir; e comida trata da parte gustativa, ou seja, o que se come
por hábito e está relacionada ao convívio social. Assim, ao estudar os pratos preparados
por escravos no Brasil, no século XVIII, para cura de doenças, para refeições envolvendo
solidariedade - quando repartiam o pouco que recebiam ou plantavam nas roças de fim
de semana - ou, ainda, para confraternizações e partilhas nas festas, conclui que, mesmo
em situações extremas, as pessoas comem não apenas para saciar a fome - "o alimento e
a bebida constituíam", entre outros aspectos, "um pretexto, um meio para o encontro".5

Sequência de Atividades e Procedimentos Metodológicos

Atividade 1: Nossas refeições


Proposta de encaminhamento
 Organizar rodas de conversa sobre as refeições diárias das crianças, os horários, o tipo de
alimento, o que se come fora de hora, o que elas gostam de comer, o que não gostam, quem
prepara a comida, se ajudam no preparo dos alimentos, quem produz o que elas comem,
como os alimentos chegam até elas, o que acontece com as sobras das refeições etc.
 Sintetizar os hábitos das crianças e suas hipóteses por meio de desenhos, listas e tabelas,
para serem afixados em murais
 Propor a análise dos registros feitos, para identificação dos hábitos alimentares comuns entre
as crianças: seus alimentos preferidos, os horários, quem os prepara, os tipos de alimentos
etc.
 Debater com as crianças, a partir da identificação dos hábitos alimentares comuns, os
fatores que explicam as semelhanças; por exemplo: horários das aulas orientando o horário
de almoço; alimentos frequentes, como arroz e feijão, por serem referências na culinária dos
brasileiros; comer na frente da televisão, como hábito de muitas famílias etc.

5
SCARANO, J. Cotidiano e solidariedade: Vida diária da gente de cor nas Minas Gerais, século XVIII. São Paulo: Brasiliense, 1994, p.
81.
12

 Coordenar a organização coletiva de quadros sobre o que há de semelhança e de diferença


na alimentação das crianças da classe (alimentos, horários, quem prepara o alimento, como
acontece a refeição...). Deixar os quadros expostos.

Atividade 2: Alimentos de produção caseira e alimentos industrializados


Proposta de encaminhamento
 Buscar, com as crianças, entre os alimentos que consomem, alguns exemplos daqueles que
são naturais e dos que são industrializados.
 Salientar, por exemplo, que: a comida industrializada está cada vez mais frequente no
cotidiano das pessoas (embaladas, processadas, pré-preparadas), assim como as comidas
pré-prontas e congeladas; na maioria das vezes, comemos alimentos produzidos por
empresas e trabalhadores especializados; não produzimos nossos alimentos e precisamos
comprá-los, porque vivemos em uma sociedade em que cada um faz um tipo de serviço e
cada um precisa dos demais para obter todos os elementos para viver.
 É interessante que as crianças comparem alimentos feitos em casa com aqueles que são
industrializados. Por exemplo: bolos caseiros com bolos industrializados ou feitos a partir
de massas pré-prontas, vendidas em caixinhas; purê de batata feito a partir de batatas
cozidas e amassadas e purê de batata feito de pó de batata industrializado etc. A partir
de um trabalho interdisciplinar com Ciências, as crianças podem verificar quais alimentos
com ingredientes artificiais são consumidos em suas residências. Geralmente, nas
embalagens, há indicação do que há em cada produto.
 Orientar a organização de listas pelas crianças, para diferenciarem os dois tipos de alimentos
(naturais ou industrializados) e debaterem os seus hábitos alimentares.
 É possível, ainda, distinguir os alimentos que:
são produzidos industrialmente e chegam até a criança já completamente prontos,
como salgadinhos, refrigerantes, refeições congeladas, enlatados, biscoitos;
são beneficiados ou embalados industrialmente, mas são usados em receitas
preparadas em casa, como feijão, arroz, farinha de trigo, farinha de mandioca,
polvilho, fubá, açúcar, milho de pipoca, carne congelada, sal;
são plantados ou criados por grandes produtores e vendidos em supermercados, mas
não passam por processo de transformação ou beneficamento industrial, como frutas
(laranja, uva, maçã...), vegetais (alface, escarola, vagem...), tubérculos (batata,
cenoura, cebola, alho...) e animais (frango, porco, vaca...);
são criados ou produzidos por pequenos produtores ou em hortas e pomares caseiros
ou comunitários, como frutas, temperos, vegetais, galinhas, ovos....
Informação importante: ao mesmo tempo em que a indústria alimentícia se desenvolveu,
a preocupação com a higiene dos alimentos provocou, desde o início do século XX, a
obrigação de tratá-los, oferecendo-os limpos, sem germes e embalados. A fiscalização
pública passou a atuar mais rigorosamente, obrigando, por exemplo, a pasteurização do
leite. Assim, a embalagem de alimentos também está relacionada às políticas públicas de
saúde alimentar.
 Organizar rodas de conversas sobre a presença crescente de alimentos industrializados no
nosso dia-a-dia.
13

 É possível questionar até que ponto a industrialização tem afetado as tradições


alimentares e como a difusão rápida do ‘fast-food’ 6 tem penetrado no imaginário e
desejos das crianças, através dos meios de comunicação.
 A história do ‘fast-food’ está relacionada com a expansão das empresas e dos costumes
norte-americanos no mundo. Os almoços rápidos e as comidas prontas e industrializadas
dos EUA difundiram-se principalmente a partir da década de 1960. Nos EUA, há mais de
100 anos, a Coca-Cola, uma bebida industrializada, tem sido amplamente consumida. E
nas décadas de 1880 e 1890, empresas como a Kellogg e a Nabisco já estavam entre as
maiores do país. O processo de industrialização do alimento foi desde então acelerado
em todo o mundo. Mas, muitas culturas (como a brasileira) permaneceram apegadas à
preparação caseira de suas principais refeições até que, nas décadas de 1970-80, as
empresas multinacionais alimentícias impusessem sua presença através de propagandas,
difundindo idéias, produtos e costumes.

Os primórdios do ‘fast-food’
A comida rápida é uma invenção norte-americana do século XX. Contudo nem todos os alimentos que
associamos a esta forma de alimentação surgiram no outro lado do Atlântico. Assim, a batata frita surgiu na Grã-
Bretanha por volta de 1914 e foi, possivelmente, inventada por um imigrante francês chamado Cartier. A sua
comercialização iniciou-se em 1920 por Frank Smith, que instalou as suas fritadeiras numa garagem nas traseiras
de um bar.
Já o hambúrguer foi inventado, nos Estados Unidos, em vésperas do século XX - precisamente em 1900 - com o
aparecimento de uma picadora para carne. Antes já se comia como sanduíche, mas não era ainda comercializado.
Fontes da época dão-no como um verdadeiro sucesso na Exposição de St. Louis, em 1904. A sua companheira de
muitas décadas, a cola, já era, nessa altura, uma bebida sobejamente conhecida por terras do Tio Sam. Havia sido
engarrafada pela primeira vez em 1899.
Só faltava uma fábrica e meios para vender rapidamente esses alimentos. Os primeiros surgiram no Midwest
americano, nos restaurantes que serviam refeições rápidas nas estações de caminho de ferro, no princípio do
século. Contudo, o primeiro associado a comida rápida foi o White Castle, concebido por Billy Ingram e Walter
Anderson, disseminando-se pelos EUA nos anos de 1920.
http://gastronomia.oninet.pt/area_tematica/area_tematica.asp?codAreaTematica=285

Atividade 3: As refeições de outras épocas


Proposta de encaminhamento
 Apresentar depoimentos de pessoas que viveram em outras épocas a respeito das alterações
ocorridas nos hábitos alimentares nas últimas décadas. Por exemplo:

Minha mãe fazia farinha de mandioca, de milho, tudo pra vender e ajudar meu pai a criar
os filhos. [...] Cozinhava muito bem doce de laranja, tachada de goiabada que vendia em
caixinhas. [...]
Meu pai plantava de tudo: tinha jabuticabeira, tinha cana, ele fazia rapadura, açúcar,
depois minha avó refinava. [...] Quase tudo se fazia em casa: a gente matava porco, fazia
linguiça, abria panos de carne, salgava e guardava pro mês inteiro, tirava os ossos e
vendia pras fábricas de botão. O pão a gente fazia em casa: quando aparecia um padeiro
com aquele pão sovadinho, como a gente gostava! Trocava com galinha, trocava com
porco, porque dinheiro quase ninguém via. Um saco de farinha custava treze mil-réis. O
forno era de tijolos, redondo, cabia vinte, vinte e quatro pás dentro do forno. A gente
amassava o pão na amassadeira, com o cilindro, sovava bem, que pão gostoso! [...]
Plantava feijão, plantava arroz, a gente colhia e quando não tinha máquina de beneficiar
por perto a gente socava no pilão, abanava com a peneira, aquele arroz catetinho que
era meio roxinho, botava uma palhas, um pouco de fubá, limpava, ficava branco. Até o
sal que era meio grosso minha avó refinava, ficava fininho.7

6
Fast food: comida quente que é preparada e servida rapidamente. Moderno Dicionário Michaelis. Disponível em:
http://michaelis.uol.com.br/moderno/ingles/index.php?lingua=ingles-portugues&palavra=fast
%20food&CP=204463&typeToSearchRadio=exactly&pagRadio=10. Acesso em: 23 Dez. 2008.
14

 Propor que as crianças entrevistem pessoas mais velhas sobre a alimentação que consumiam
na infância e o que mais gostavam de comer.
 Organizar, coletivamente, o que vai ser perguntado, de modo a favorecer respostas que
evidenciem, por exemplo, o fato de que era mais raro, antigamente, comer hambúrguer e
refrigerante no almoço ou comer salgadinhos embalados, como os de hoje. Nas entrevistas, é
importante identificar, também, o local onde a alimentação era praticada.
 Combinar como as respostas serão registradas.
 Após a organização das informações obtidas nas entrevistas, promover debate sobre as
semelhanças e as diferenças nos hábitos alimentares de tempos e locais distintos - dos avós,
bisavós, pais e crianças de hoje.
 Construir, com a classe, uma linha do tempo com indicações de mudanças nos hábitos
alimentares das gerações de brasileiros.

Atividade 4: Histórias dos alimentos


Proposta de encaminhamento
 Ler uma lenda ou alguma outra história sobre a origem de alimentos presentes no cotidiano
do brasileiro: o milho, a mandioca, o feijão etc. Uma roda e a distribuição de saquinhos de
pipoca, por exemplo, podem tornar esse momento muito agradável.
 Orientar pesquisas sobre a história de alguns alimentos presentes na alimentação das
crianças, como o pão, o arroz, o feijão, o macarrão, o leite etc.
 Organizar, com as crianças, sínteses das histórias dos alimentos em desenhos, colagens,
textos, linhas do tempo, para serem afixados em murais. Algumas indicações bibliográficas
sobre o tema:
AMADO, J.; FIGUEIREDO, L. C. No tempo das caravelas. São Paulo: Contexto, 1992.
______. As viagens dos alimentos: As trocas entre os continentes. São Paulo: Atual, 2000.
CASCUDO, L. C. História da alimentação no Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo:
EDUSP, 1983. 2 v.
FLANDRIN, J. L.; MONTANARI, M. História da alimentação. São Paulo: Estação Liberdade,
1998.
Sites:
www.jangadabrasil.com.br/
Revista de Estudos Históricos – CPDOC – Alimentação - 2004
http://www.cpdoc.fgv.br/revista/asp/dsp_edicao.asp?cd_edi=51

Atividade 5: Convivências alimentares - A partilha de alimentos


Proposta de encaminhamento
 Ler textos para as crianças ou contar histórias sobre o fato de, em diferentes épocas e locais,
as pessoas se reunirem para a alimentação conjunta.
 É fundamental a compreensão de que compartilhar refeição significa também
compartilhar momentos com outras pessoas e certas regras de convivência. Na maioria
das vezes, procuramos estar com parentes e amigos no café da manhã, no almoço, no
lanche e no jantar, mesmo quando a vida está corrida. Estar junto para comer é uma das
situações mais antigas das sociedades humanas e pode ser identificada nos costumes de
diferentes épocas e locais. Além disso, certas regras de comportamento também fazem
7
Lembranças de D. Risoleta, nascida no ano de 1900, no interior de São Paulo, Brasil. Estão registradas em BOSI, E. Memória e
sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: T.A. Queiroz : EDUSP, 1987, p. 295-297.
15

parte de nossa história. Em nossa sociedade, por exemplo, há certa preocupação em se


respeitar comportamentos considerados como sendo "bons modos à mesa" - comer de
boca fechada, não falar quando se está mastigando a comida, usar corretamente garfo e
faca, limpar a boca com guardanapos, esperar todos terminarem a refeição para se
levantar da mesa etc. Ao mesmo tempo, há hábitos de higiene ligados às refeições, como
lavar as mãos, utilizar talheres, usar guardanapo... Há ainda superstições, como a de não
entregar diretamente o saleiro a uma outra pessoa, mas depositá-lo na mesa, perto dela,
para que ela o pegue, senão as duas pessoas poderão acabar brigando.
 O objetivo não é impor padrões e atitudes através de "discursos" do que é bom, mau,
feio, bonito, ruim... Também não é impor comportamentos como certos ou errados, mas
debater os costumes sociais, colocando-os em evidência, para serem objeto de reflexão.
Não é, aqui, a principal intenção estudar formalmente conteúdos de Ciências, sobre a
qualidade da alimentação ou hábitos de higiene, por exemplo. Os temas poderão surgir e
ser estudados, mas sempre tendo como foco uma perspectiva histórica e cultural.
 Coordenar a análise, em pequenos grupos, de imagens relativas a situações de convivência
alimentar.
 Há muitas pinturas no livro História da Alimentação, de Jean-Lois Flandrin e Massimo
Montanari, e nas coleções História da vida privada e História da vida privada no Brasil.
No caso das pinturas, é possível escolher uma diversidade que dê conta de diferentes
culturas, grupos sociais, ricos e pobres, várias épocas, incluindo, principalmente, cenas
brasileiras. Também podem ser encontradas muitas referências nas gravuras de Debret e
Rugendas. Não esquecer que, no trabalho com imagens e outros documentos históricos, é
sempre importante conversar sobre a época em que foram produzidos e quem foram seus
autores.
 A partir dos comentários das crianças a respeito das imagens analisadas, conversar sobre
costumes envolvendo partilha de alimentos e convivências alimentares; exemplos: o hábito
de comer coletivamente, os costumes seguidos em cada refeição, as regras criadas para se
ter "bons hábitos à mesa", as situações em que as crianças comem sozinhas e aquelas em que
estão com outras pessoas, com quem se alimentam, quais os costumes nas convivências
alimentares, onde acontecem as refeições, se há partilhas de tarefas no preparo de
refeições, se há regras a serem obedecidas nesse preparo, se há refeições especiais em
domingos ou dias de festas, as diferenças e semelhanças entre seus hábitos alimentares e os
de outras sociedades, os rituais de refeições tradicionais, as mudanças de costumes de uma
geração para outra.
 Propor que a classe organize em listas os hábitos identificados nas imagens, para serem
discutidos, considerando que diferentes culturas possuem, por sua vez, diferentes etiquetas
sociais para se comportar à mesa.
 Após estudo da história de algumas regras de bons modos à mesa, em diferentes culturas e
épocas, organizar registro coletivo das informações obtidas de modo a destacar hábitos de
tempos e locais distintos.
 Por exemplo, um antigo costume no nordeste brasileiro era levar a comida à boca com a
mão. Um viajante europeu, Thomas Lindley, em 1802, registrou esse costume como
sendo pouco asseado. A leitura do relato de Lindley pode provocar um debate sobre as
diferenças de costumes ingleses e brasileiros naquele tempo. É possível também discutir
o modo como agimos hoje. Há situações em que comemos com a mão? Quando? Por quê?
 Algumas histórias podem ser encontradas no livro de Norbert Elias, O processo
civilizador8.

Atividade 6: As refeições de outras culturas

8
ELIAS, N. O processo civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990.
16

Proposta de encaminhamento
 Fazer perguntas às crianças sobre a diversidade de hábitos, rituais, costumes alimentares
que expressam características de determinados povos, ou seja, o que comem, por exemplo,
japoneses ou mexicanos e, mesmo, moradores de diferentes regiões do Brasil, como
preparam seus alimentos, como se comportam à mesa, como convivem nos momentos de
alimentação... Registrar o que a classe conhece a respeito do assunto.
 Os hábitos alimentares constituem uma pequena mostra da diversidade entre culturas. A
mexicana, por exemplo, tem, na sua culinária típica, o preparo de tortilhas, feitas a
partir do milho, e ingeridas ao menos três vezes ao dia. Outro exemplo é a comida
japonesa, que se diferencia pelo preparo do sushi, a prática do ritual tradicional do chá e
o uso de pauzinhos (hashi) no lugar do talher. No Brasil, as diferenças culturais regionais
podem ser identificadas também na alimentação, nos horários das refeições e nos
costumes praticados à mesa. Em Cuiabá, por exemplo, é famoso o arroz com pequi; em
Fortaleza, a carne seca assada e servida com pirão de leite; em Vitória, a moqueca
capixaba.
 Propor o estudo de um ou mais costumes alimentares de um determinado povo ou de uma
região brasileira e orientar a busca de informações.
 A ideia é tentar caracterizar os costumes a partir da perspectiva social, cultural e
histórica. Por exemplo, é possível estudar a comida japonesa e recriar a cerimônia do chá
com o objetivo de as crianças compreenderem as regras de comportamento e de
convivência. No que se refere aos costumes brasileiros, há outros exemplos, como o
hábito do gaúcho de tomar o chimarrão. Há horários certos? Há algum ritual para
prepará-lo? Mulheres e crianças também compartilham a mesma bebida ou existem
diferenças? E qual a diferença entre o chimarrão do sul do país e o tererê da região
Centro-Oeste? Desde quando os gaúchos tomam chimarrão? Como adquiriram esse hábito?
 Organizar, com as crianças, um mural sobre hábitos alimentares, com desenhos, colagens,
textos e tabelas produzidos durante o estudo.

4. Sequência de Atividades: “Alimentação brasileira”


Adequada especialmente para o 2º ano
Duração: aproximadamente quatro semanas

Objetivos didáticos
[o que o professor pretende com o trabalho]

◦ Propiciar que as crianças construam um repertório cultural a respeito da alimentação


brasileira.
◦ Possibilitar reflexões sobre as vivências sociais e culturais na história do Brasil.
◦ Valorizar atitudes de respeito às pessoas, nas situações de convivência comum.
◦ Contribuir para que as crianças conheçam elementos culturais de outros tempos e de origens
diversas que estão presentes na história brasileira.
◦ Criar condições para a distinção entre épocas, culturas e vivências sociais.
17

◦ Favorecer e orientar a troca de informações entre grupos sociais e culturais brasileiros.


18

Conteúdos
[o que é preciso ensinar/comunicar explicitamente ou criar condições para que os alunos aprendam]

◦ Coleta, em diferentes fontes, de informações a respeito da história da alimentação no Brasil.


◦ Identificação de mudanças e permanências na alimentação dos brasileiros.
◦ Reconhecimento de relações entre produção ou modos de preparo de alimentos e os sujeitos
históricos envolvidos nesses trabalhos.
◦ Identificação e diferenciação de objetos utilizados no preparo, consumo, produção e
conservação de alimentos presentes nos hábitos cotidianos da sociedade brasileira.
◦ Organização de informações históricas e sua localização no tempo.

Sequência de Atividades e Procedimentos Metodológicos

Atividade 1: Alimentação de antigos habitantes dessas terras


Proposta de encaminhamento
 Organizar uma roda de conversa com as crianças sobre os hábitos alimentares de populações
muito antigas no Brasil. A conversa pode ser provocada a partir de questões como: “Será que
existiu um tempo em que obter alimento era muito diferente de como acontece hoje em dia?
Como seria antes da criação dos supermercados, das feiras ou das fábricas? Como as pessoas
faziam para conseguir alimentos antes de aprenderem a plantar o milho, o feijão ou o
arroz?”
 As terras que hoje pertencem ao Brasil foram habitadas por inúmeros povos. Há três mil
anos, algumas dessas populações deixaram registros sobre seu modo de vida em pinturas
feitas na pedra, no lixo que abandonaram nos locais onde moravam, nos objetos que
produziam, nas cerâmicas que fabricavam e na composição de suas ossadas, encontradas
e estudadas hoje por arqueólogos e paleontólogos. Informações sobre essas populações
podem ser encontradas em variados livros, entre eles: “Os antigos habitantes do Brasil”,
de Pedro Paulo Funari e também “Os primeiros habitantes do Brasil”, de Norberto Luiz
Guarinello.9
 Mostrar pinturas rupestres brasileiras para serem analisadas pelas crianças, com a finalidade
de identificarem, por exemplo, como eram feitas, onde, por quais povos, em que época
aproximada, como essas pinturas podem ajudar a identificar a alimentação do povo que as
produziu etc.
 Sugestões de questões que podem ser dirigidas às crianças sobre as pinturas rupestres:
- O que vocês observam na imagem?
- O que representam essas figuras?
- O que estão fazendo as pessoas retratadas na imagem?
- Quais objetos estão sendo usados pelas pessoas?
- Para que serviam esses objetos?
- Como essa imagem foi feita?
- Com quais materiais?
- Quando ela foi feita?

9
FUNARI, P. P. Os antigos habitantes do Brasil. São Paulo: UNESP: Imprensa Oficial do Estado, 2001.
GUARINELLO, N. L. Os primeiros habitantes do Brasil. São Paulo: Atual, 1994.
19

- Onde?
- O que conhecemos sobre a vida das pessoas que fizeram essa imagem?
- Por que será que ela foi feita?
- O que essa imagem nos conta sobre a vida das pessoas que a fizeram?
 Além das pinturas, os objetos produzidos pelos antigos habitantes do Brasil são, também,
valiosas fontes de estudo sobre costumes alimentares. Nos livros já indicados, há fotos de
instrumentos de pedra (ponta de lança, cortador, machado, batedor) que podem ser
apresentados às crianças e analisados de modo a evidenciar de quem eram, do que eram
feitos, como foram produzidos, por quem, para qual função etc.
 Sobre as pesquisas arqueológicas no Piauí e na Bahia, há vários programas de vídeo. Esses
vídeos podem ajudar as crianças a materializarem melhor os locais onde são encontrados
objetos produzidos pelos primeiros habitantes do Brasil, como são feitas as pesquisas,
quem são os arqueólogos, como os objetos achados vão parar em museus etc.
 Propor o estudo da alimentação de algumas das primeiras populações do território brasileiro
e orientar as leituras sobre o assunto.
 Organizar, com as crianças, as informações obtidas sobre os alimentos e os hábitos
alimentares dessas populações antigas em desenhos, colagens, textos e linhas do tempo,
para serem afixados em murais.

Atividade 2: Alimentação dos povos indígenas


Proposta de encaminhamento
 Coordenar a escolha de uma ou mais populações indígenas atuais, para estudo de alguns de
seus costumes alimentares.
 Por exemplo, nos livros citados abaixo são encontradas referências para a pesquisa.
CASCUDO, L. C. História da alimentação no Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP,
1983. 2 v.
MELATTI, J. C. Índios do Brasil. São Paulo: Hucitec; Brasília: EDUNB,1993.
SILVA, A. L. S.; GRUPIONI, L. D. B. A temática indígena na sala de aula. Brasília:
MARI/MEC/UNESCO, 1995.
 Orientar a pesquisa, a organização das informações obtidas e a socialização do que foi
aprendido.

Atividade 3: Alimentação dos povos africanos no Brasil


Proposta de encaminhamento
 Ler para as crianças histórias sobre costumes das populações africanas.
 Alguns dos elementos que constituem a identidade brasileira foram modelados a partir da
história das relações entre o Brasil, Portugal e países da África. As transações realizadas
para troca de gêneros alimentares, produzidos e comercializados entre os povos desses
países, forneceram oportunidade para o intercâmbio de uma enorme diversidade de
costumes a partir dos contatos, confrontos e convivências.
 Promover uma roda de conversa sobre as origens africanas de elementos que constituem a
identidade brasileira.
 Após estudo sobre alguns costumes alimentares das populações africanas no Brasil, organizar
registro coletivo das informações obtidas. Indicação bibliográfica:
CASCUDO, L. C. História da alimentação no Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP,
1983. 2 v.
20

5. Sequência de atividades: “História do acesso à água na localidade”


Adequada especialmente para o 3º ano
Duração: aproximadamente oito semanas

Objetivos didáticos
[o que o professor pretende com o trabalho]

◦ Promover coleta de informações sobre hábitos e costumes sociais de acesso e uso da água.
◦ Possibilitar a identificação de indícios da história do passado nas atividades culturais da
localidade.
◦ Favorecer o reconhecimento de mudanças e permanências na relação da população com a
água ao longo do tempo, em diferentes localidades.
◦ Contribuir para que as crianças conheçam elementos culturais de outros tempos e
localidades.
◦ Criar condições para a distinção entre épocas, culturas e vivências sociais.
◦ Propiciar a identificação e o registro de acontecimentos e suas sequências temporais.

Conteúdos
[o que é preciso ensinar/comunicar explicitamente ou criar condições para que os alunos aprendam]

◦ Coleta de informações sobre hábitos e costumes sociais de acesso e uso da água.


◦ Identificação de indícios da história do passado nas atividades culturais da localidade.
◦ Comparação de práticas de hoje em dia com hábitos de outros tempos e de outras
localidades.
◦ Reconhecimento de mudanças e permanências na relação da população com a água.
◦ Identificação de elementos culturais de outros tempos e localidades.
◦ Distinção entre épocas, culturas e vivências sociais.
◦ Identificação e registro de acontecimentos e suas sequências temporais.

Considerações iniciais

 A água está presente cotidianamente na vida das pessoas, mas o acesso a ela, o uso, a
distribuição e os cuidados que recebe estão relacionados a fatores culturais, históricos e
políticos. Essa presença da água está expressa tanto em textos científicos, como em
crônicas históricas, textos literários e jornalísticos, músicas, gravuras, pinturas, ditos
populares etc. Assim, toda a diversidade de material, as diferentes dimensões da
presença da água no nosso cotidiano, as contradições e os conflitos ligados ao problema
podem ser estudados com as crianças, para que reflitam sobre a complexidade histórica
das relações humanas com os ambientes, as paisagens e a natureza.
 A dimensão da vida cotidiana possibilita identificar e estudar vivências individuais em
perspectivas sociais, e, portanto, é favorável aos estudos escolares. Estudar a presença e
21

o uso da água no cotidiano da criança contribui para que ela questione a relação entre
seu mundo social e sua extensão histórica.
 Numa abordagem histórica da questão da água, é interessante : a) iniciar os estudos com
o levantamento dos conhecimentos das crianças sobre a procedência da água que
consomem e o destino da água depois de seu uso; e b) apresentar a diversidade de tipos
de sistemas de abastecimento de água hoje e em outras épocas, usos e costumes
relacionados à água e o problema do tratamento da água usada.

Sequência de Atividades e Procedimentos Metodológicos

Atividade 1: Apresentação da proposta pelo professor


Proposta de encaminhamento
 Mostrar para a classe diferentes imagens relacionadas a sistemas de abastecimento de água
hoje em dia e em outras épocas: bicas, chafarizes, carro-pipa, caixa-d´água, torneira, lata d
´água, roda-d´água, poço... Instigar as crianças a questionarem as imagens e identificarem
nelas diferenças e semelhanças, indícios de épocas, contemporaneidades, permanências,
problemáticas... Questionar se suas vivências se aproximam ou não de uma ou outra
alternativa de abastecimento presente nas imagens.
 Propor um estudo sobre:
- o uso e o abastecimento da água hoje em dia no lugar onde as crianças moram;
- as formas como a questão da água (acesso, abastecimento, uso, preservação,
escassez...) era enfrentada no passado e
- como essa questão tem sido encarada em outros lugares, por outras sociedades.

Atividade 2: Hipóteses sobre os sistemas de abastecimento de água


Proposta de encaminhamento
 Organizar uma roda de conversa a respeito do(s) sistema(s) de abastecimento de água das
casas das crianças. Ao final, sintetizar as hipóteses e os conhecimentos delas, recorrendo a
desenhos, listas e tabelas.
 Lembrar e debater a questão da relação entre a diversidade dos bairros e suas histórias, e
o planejamento urbano do município:

Os bairros mais antigos tendem a ter sistemas de abastecimento de água encanada,


enquanto os mais recentes podem não ter ainda o sistema, por conta da expansão dos
serviços públicos. Ainda considerar a questão das diferenças sociais e sua relação com o
poder instituído. Muitas vezes, os bairros que crescem por ocupação, e habitados por
populações mais pobres, não recebem a mesma atenção e planejamento de bairros
criados para classes média e alta. Muitos bairros ocupados por populações de
trabalhadores passaram a ter acesso a esse serviço público em função de lutas sociais e
reivindicações.

 Escolher algumas imagens com as crianças, entre aquelas apresentadas inicialmente, para
que recebam legendas, explicando como as pessoas fazem uso dos tipos de abastecimento de
água apresentados.
 Coordenar a produção coletiva das legendas. Elas podem conter, inclusive, algumas idéias e
hipóteses das crianças, ainda preliminares, sobre cuidados relacionados à qualidade da água
e dificuldade ou comodidade do abastecimento.
 Organizar um mural com as imagens e as legendas criadas pelas crianças, distinguindo os
sistemas que existem e aqueles que elas utilizam.
22

Atividade 3: O abastecimento de água em nossas casas


Proposta de encaminhamento
 Propor o levantamento do que as crianças querem descobrir sobre os sistemas de
abastecimento de água que utilizam e registrar as perguntas norteadoras do estudo. Por
exemplo: “Como a água chega até as casas? De onde ela vem? Como a água é distribuída? É
água tratada? Como é tratada? Há caixas-d´água na localidade? Há caixas-d´água nas casas?
Quem tem/não tem acesso ao sistema de abastecimento de água público existente no
local?”...
 Orientar a pesquisa, a organização das informações obtidas e a socialização das conclusões
sobre os sistemas de abastecimento de água da localidade.

Atividade 4: O abastecimento de água em outros tempos


Proposta de encaminhamento
 Organizar com as crianças uma consulta a pessoas mais velhas das famílias sobre como era,
em outros tempos, o sistema de abastecimento de água no lugar onde moram.
 É importante que decidam, coletivamente, o que vai ser perguntado e como as respostas
serão registradas.
 Coordenar a apresentação dos resultados das consultas aos familiares, acrescentando
informações obtidas em outras fontes, de modo que as crianças possam distinguir as
mudanças e as permanências nos sistemas de abastecimento de água utilizados na
localidade.
Um dos fatores que interferem no sistema de abastecimento de água que utilizamos é o
fator histórico. Ou seja, alguns tipos de abastecimento de água atualmente permanecem
de outros tempos ou ainda há indícios materiais de como eram antigamente, mesmo que
hoje em dia tenham ocorrido mudanças. Assim, estudar como era antes possibilita aos
alunos analisarem as alternativas do presente como históricas também, sujeitas a
mudanças e permanências, conquistas ou ausência de direitos, mudanças nos hábitos e
costumes... Todavia, sugere-se o cuidado para evitar atribuir muito valor à técnica e à
modernidade (como sendo melhor do que atualmente) ou depreciar modalidades de
outros tempos. É importante que os alunos aprendam que técnicas e costumes pertencem
a contextos históricos específicos e que as mudanças desencadeiam sempre outras
transformações, que interferem em outros costumes e que nem sempre podem ser
julgados como melhores que antes. Por exemplo, apesar do esforço físico e do trabalho
de buscar água nas bicas, poços ou cacimbas, existia o costume das pessoas aproveitarem
esses momentos para conversarem umas com as outras. Já a água encanada, associada a
outros fatores de privatização da vida atualmente, contribui para que os momentos de
convivência coletiva com os vizinhos sejam reduzidos.

 Orientar a produção de texto coletivo sobre como funcionavam os sistemas de abastecimento


de água de outras épocas no lugar onde as crianças moram.
 Se for possível, organizar com as crianças, também, uma linha do tempo, para
representação das épocas em que predominavam diferentes modelos de abastecimento
de água, utilizando, por exemplo, uma faixa contínua de certa cor para cada modelo e
destacando o aparecimento das mudanças.
23

Atividade 5: O abastecimento de água em outros tempos e lugares


Proposta de encaminhamento

 Apresentar, para que as crianças possam colher informações, uma imagem que retrate o
abastecimento de água por meio de bica, chafariz ou aguadeiro.... Pode ser uma fotografia
de um chafariz de uma cidade colonial brasileira como Ouro Preto, Mariana, Salvador, Rio de
Janeiro... Pode ser, ainda, uma gravura do século XIX feita por um desenhista, retratando o
abastecimento de água por uma bica ou chafariz. A ideia é que as crianças observem como
era o abastecimento de água (na sua diversidade) em outras épocas; e reconheçam que hoje
em dia muitas das construções antigas permanecem como patrimônio histórico ou como
ornamentação e outras foram simplesmente esquecidas.

Nas atividades de colher informações de imagens, considerar o objetivo de contribuir


para que os alunos dominem procedimentos envolvendo observação, questionamentos,
identificação de indícios históricos, distinção de épocas, coleta de informações,
organização de dados para contar uma história e ampliação de seu repertório histórico,
incluindo nele também diferentes linguagens e tipos de produções humanas.

 Propor à classe uma investigação, para descobrir se bicas e chafarizes antigos que foram
preservados ainda cumprem a função de abastecer a população de água ou quais outras
funções passaram a ter diante das vivências históricas atuais. Além disso, qual a função dos
que foram construídos recentemente. E mais: os aguadeiros ainda existem?...
 Orientar a pesquisa e organizar com as crianças as novas informações em desenhos e textos
para serem afixados em murais.

Atividade 6: Estudo de campo sobre os caminhos da água


Organizar pesquisa coletiva e observações em campo, para que as crianças identifiquem a
origem da fonte de água do lugar onde moram (rios, córregos, represas, poços, igarapés...), o
local ou locais de captação, limpeza/tratamento e distribuição de água, as caixas de água
públicas etc. Se possível, localizar, também, o sistema de esgoto, para responder a perguntas
como: “Para onde vai a água utilizada nas residências e fábricas?”.

O sistema de abastecimento de água atualmente está relacionado tanto a fatores


tecnológicos, como políticos, sanitários e ecológicos. Depende, por exemplo, de políticas
públicas, verbas, concepção de saúde e higiene e propostas ambientais. Além disso, o
direito da população em ter acesso à água potável e sistema de esgoto é um fator que
interfere na qualidade de vida (saúde, higiene...). O levantamento do sistema de
abastecimento de água e do sistema de esgoto pode envolver assim pesquisas sobre a
tecnologia neles envolvidas, as políticas públicas municipais, os locais com e sem os
serviços de água e esgoto e sua relação com as classes sociais, a pobreza, a riqueza, as
doenças, a especulação imobiliária (valor do terreno ou da construção), bairros antigos e
bairros recentes, as lutas da população para ter acesso a esse tipo de serviço, etc.

Observação
O estudo da localização das caixas d´água públicas pode contribuir para identificação do tipo de
relevo da região, pois geralmente a água encanada é distribuída por gravitação e os locais onde
são colocadas são os pontos mais altos da cidade.

Atividade 7: O uso da água


Proposta de encaminhamento
 Propor levantamento de situações em que a água está presente na vida das crianças (matar a
sede, cozinhar, lavar roupa, tomar banho...) e organizar listas coletivamente.
24

[...] A vida cotidiana é a vida do homem inteiro; ou seja, o homem participa na vida
cotidiana com todos os aspectos de sua individualidade, de sua personalidade. Nela,
colocam-se em funcionamento todos os seus sentidos, todas as suas capacidades
intelectuais, habilidades manipulativas, seus sentimentos, paixões, idéias, ideologias.[...]
[...] A vida cotidiana não está fora da história, mas no centro do acontecer histórico: é a
verdadeira essência da substância social.[...]
A vida cotidiana é a vida do indivíduo. O indivíduo é sempre, simultaneamente, ser
particular e ser genérico.[...]
[...] enquanto indivíduo, portanto, é o homem um ser genérico, já que é produto e
expressão de suas relações sociais, herdeiro e preservador do desenvolvimento humano;
mas o representante do humano-genérico não é jamais um homem sozinho, mas sempre a
integração (tribo, demos, estamento, classe, nação, humanidade) – bem como,
frequentemente, várias integrações – cuja parte consciente é o homem e na qual se
forma sua consciência de nós. (HELLER, 1985 )10

 Escolher com as crianças uma das situações de uso da água (como a lavagem de roupa), para
estudarem como é hoje em dia e como acontecia em outras épocas. Propostas:
- roda de conversa sobre como são lavadas as roupas hoje em dia nas casas das crianças –
tanque, máquina de lavar, sabão em pó, amaciante, quem lava, como seca etc;
- consulta aos mais velhos das famílias sobre como eram lavadas e secadas as roupas em
outras épocas;
- coleta de informações em imagens que representam situações de lavagem de roupa em
outras épocas (em foto de lavadeiras na beira do rio, por exemplo, questionar qual é o
rio, o que estão fazendo, como...);
 Indicação: no livro “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil”, que conta a história do
processo de lavagem de roupa no Rio de Janeiro, no início do século XIX,
encontram-se gravura e texto de J. B. Debret – “Lavadeiras à beira-rio”.
- organização das informações, de modo que seja possível comparar modos de lavar
roupa em diferentes épocas, identificando semelhanças, diferenças, mudanças e
permanências.
O tema da lavagem de roupa remete a muitos aspectos históricos para estudo,
envolvendo mudanças e permanências no tipo de trabalho, divisão de tarefas, mão-de-
obra, técnicas, questões ambientais e costumes. Por exemplo, aborda a escravidão, as
tarefas destinadas às mulheres, as pequenas empresas do século passado (como as
lavanderias de hoje), os tipos de saponáceos (folhas antigamente e produtos químicos
atualmente, comprados em supermercados e divulgados por campanhas de propagandas,
que vendem “o mais branco” como sinônimo de limpeza), os tipos de clientes, os
costumes como ferver e quarar a roupa (hoje pouco praticados por causa dos
apartamentos apertados), os locais de lavagem ontem e hoje, a poluição das águas pelos
detergentes, a poluição dos rios das grandes cidades (sem existir quem se atreva a lavar
roupa com suas águas), as máquinas de lavar, torcer e secar atuais, a permanência de
lavadeiras em certas localidades brasileiras hoje, cultura desenvolvida pelas e a partir
das lavadeiras (músicas, histórias, conhecimentos, folclore...) etc.

Atividade 8: Avaliação
Para avaliar o que as crianças aprenderam, uma possibilidade é escolher uma imagem que
represente o uso da água no passado e pedir para elas identificarem: se a imagem é do presente
ou do passado; quais as informações na imagem que indicam a época; que uso está sendo feito
da água na imagem; quais as semelhanças e diferenças entre esse uso da água e o que elas
fazem hoje...

10
HELLER, Agnes. O cotidiano e a história. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985, p. 17 – 43.
25

6. Sequência de atividades: “Histórias de um rio”


Adequada especialmente para o 3º ano
Duração: aproximadamente quatro semanas

Objetivos didáticos
[o que o professor pretende com o trabalho]

◦ Criar condições para que as crianças estabeleçam relações entre a história do convívio com a
água e produções artísticas (música, pintura, desenhos...).
◦ Propiciar o reconhecimento da relação entre manifestações culturais na sociedade brasileira
e em outras culturas - indígenas e/ou quilombolas.
◦ Possibilitar a identificação de indícios da história do passado nas atividades culturais da
localidade.

Conteúdos
[o que é preciso ensinar/comunicar explicitamente ou criar condições para que os alunos aprendam]

◦ Estabelecimento de relações entre a história do convívio com a água e produções artísticas


(música, pintura, desenhos...).
◦ Reconhecimento da relação entre manifestações culturais na sociedade brasileira e em
outras culturas - indígenas e/ou quilombolas.
◦ Identificação de indícios da história do passado nas atividades culturais da localidade .

Considerações iniciais
 Segundo Keith Thomas, um historiador que estuda as relações entre as sociedades e a
natureza (O homem e o mundo natural. SP: Cia. Das Letras, 1996), durante muitos
séculos, a sociedade ocidental agiu e valorizou ações em prol da submissão dos elementos
naturais: caçando animais, domesticando gado, derrubando matas, extraindo madeira e
minérios, lavrando o solo, captando água, extraindo areia dos leitos de rios, aplainando
montanhas, transformando paisagens agrestes em paisagens cultivadas, modelando
parques etc. A natureza foi sempre convertida em cultura e a terra não cultivada
considerada sinônimo de “não civilizado”. Mas, no último século, a industrialização
acabou modelando valores nostálgicos dos bosques, das matas, da vida silvestre, dos
rios... A antropologia apontou criticamente a perspectiva antropocêntrica das sociedades
humanas e, também, geógrafos e historiadores passaram a analisar como, no planeta,
acabou ocorrendo o predomínio do humano, à custa da submissão e da destruição da
terra, das águas, da fauna e da flora. Todavia, é possível pensar na história dos rios e na
relação que as sociedades constroem no convívio com eles.
 A relação entre as sociedades e os rios também tem história, pois, de uma forma ou de
outra, o rio está presente cotidianamente na vida das pessoas, e o acesso a ele, o uso, o
convívio e os cuidados que recebe estão relacionados a fatores culturais, históricos e
políticos. Assim, estudar a história do rio local significa estudá-lo também
historicamente, procurando compreender como, em diferentes épocas, as sociedades e
as culturas entendem, representam, interferem, valorizam ou utilizam os rios.
26

Sequência de Atividades e Procedimentos Metodológicos

Atividade 1: Apresentação da proposta pelo professor


Proposta de encaminhamento
 Ler para as crianças textos que falem a respeito do rio mais próximo de onde moram –
estudos geográficos ou históricos, memórias, relatos de viajantes, poemas, textos
jornalísticos, letras de músicas... Selecionar, de preferência, alguns que apresentem uma
variedade de visões, relações e representações.
 A história de muitos rios está registrada tanto em textos científicos como em crônicas
históricas, textos literários e jornalísticos, músicas, gravuras, pinturas, ditos populares
etc. Assim, toda a diversidade de material, as múltiplas dimensões da existência do rio,
de sua presença no cotidiano das comunidades, as contradições e os conflitos que o
envolvem podem ser estudados com as crianças, propiciando que reflitam sobre a história
da natureza e a historicidade das relações humanas com os ambientes e as paisagens. É
importante, por exemplo, que, por meio dos estudos, comecem a considerar que o rio
não é visto e nem compreendido da mesma maneira por todas as pessoas.
 Conversar com as crianças sobre outras maneiras de falar dos rios, como “córrego”, “rego”,
“riacho”, “ribeirão”, “arroio” e “veio d´água”. Além disso, considerar:
Que relações a população estabelece com o rio?
Há quem sofra com a seca?
Há quem dependa do rio para se alimentar?
Há ou havia transporte no rio?
Há quem use o rio para lazer?
Como populações indígenas locais se relacionam (ou se relacionavam) com o rio?
Há comunidades quilombolas próximas ao rio? Como se relacionam com ele?
Há quem se inspire no rio para produzir pinturas, poesias, músicas...?
Como o rio tem sido representado na arte?
 Propor o estudo da história do rio mais importante para o local onde vivem e, se for viável,
anunciar uma visita da classe às suas margens (com todos os cuidados necessários), para
fazer diagnóstico; coletar depoimentos; observar a paisagem, a interação das pessoas com o
rio, construções ao longo do curso...
Observação
Para o estudo de campo, é importante escolher um ou mais locais e planejar o que vai ser
observado, anotado, desenhado, confrontado ou vivenciado.

Atividade 2: O rio do local onde moro


Proposta de encaminhamento
 Organizar uma roda de conversa para as crianças exporem o que sabem sobre os rios, quais
conhecem, como é o rio do local onde moram, o que há perto do rio, que usos têm sido
feitos das águas, como é sua paisagem (o curso, as águas, as margens, as pessoas e suas
atividades, a terra, as formas de vida - animais e plantas -, as diferenças de um lugar para
outro etc)...
 Registrar esses conhecimentos prévios das crianças.
 Escolher ou produzir algumas imagens do rio do lugar onde vivem (se possível, de diferentes
locais, com visões, ângulos, posições que apresentem diversas questões, aspectos ou relações
27

com a população...) e propor para as crianças, em situação coletiva, a identificação de como


está o rio e sua paisagem.
 É interessante utilizar um mapa com o trajeto do rio e indicar os locais de onde foram
tiradas as fotos.
 Registrar as informações coletadas (por meio das imagens) e promover a comparação com os
conhecimentos prévios das crianças.
 Apresentar materiais específicos para estudo da relação das populações indígenas e/ou das
populações quilombolas com o rio local. Se não existir essa possibilidade, escolher um
material relacionado a outro rio, tendo o cuidado de identificar o povo, o local, a época, as
especificidades de seus costumes, e iniciar o estudo ao final desta sequência.

Atividade 2: O rio em diferentes épocas


Proposta de encaminhamento
 Se for possível encontrar imagens do rio local em outros tempos, apresentá-las às crianças,
para coletarem informações a respeito de como ele era e como as pessoas interagiam com
ele, fazendo comparações com as condições do rio hoje em dia.
 Organizar com as crianças uma situação de coleta de memórias sobre o rio local, incluindo
produções artísticas relacionadas a ele, através de entrevistas com moradores antigos do
lugar. Isso envolve: elaborar as perguntas, fazer convite às pessoas para entrevistas na escola
ou combinar que as crianças entrevistarão as pessoas mais velhas em casa, transcrever as
entrevistas (ou anotar), registrar em painéis as falas coletadas que ajudam a entender a
história do rio.
É importante considerar que a entrevista é um procedimento de pesquisa que precisa ser
orientado pelo professor e, aos poucos, dominado pelas crianças (nesta idade com a
ajuda dos adultos). Assim, é importante conversar sobre o que é uma entrevista, como
valorizar a fala do entrevistado, como respeitar a forma como ele pensa, a importância
de anotar o que fala. E como, na classe, é possível organizar as informações colhidas
através de tabelas e complementar as informações com outras pesquisas (como consultar
mapas para localizar o rio e seu trajeto).

 Montar coletivamente um quadro que possa conter as informações sobre como o rio era e
como é hoje. Conversar, então, com as crianças a respeito das mudanças e permanências em
relação ao rio local, sua paisagem, seu uso, suas condições ambientais, as interferências das
pessoas em cada época etc.
 Ainda com as informações coletadas sobre a história do rio, organizar coletivamente uma
linha do tempo na sala de aula, identificando os dados mais importantes em cada época (por
data ou por aproximação).
 Organizar mapas (de hoje e de outra época) com o trajeto do rio (ou trajetos). Se possível,
também construir uma maquete (nesse caso, serão necessárias referências de
proporcionalidade e escala).

Atividade 3: Reflexões sobre a história do rio


Proposta de encaminhamento
 Problematizar com as crianças a diversidade de vivências relacionadas ao rio, seu uso, sua
história, por meio de questões como:
Os rios mudam?
As pessoas estabelecem relações diferentes com os rios em diferentes épocas?
Os rios fazem parte da memória das pessoas? Por quê?
Eles estiveram presentes em suas vidas? E hoje?
28

Os rios são referências importantes, ou não, nas lembranças das pessoas sobre os lugares?
Essas lembranças do rio fortalecem, ou não, sentimentos com o lugar onde nasceram ou
viveram?
É possível identificar se diferentes pessoas olham ou compreendem o rio de maneiras diferentes?
Assim, será que um pescador pensa sobre o rio a mesma coisa que uma pessoa que nunca chegou
perto de suas águas?
Como explicar essas diferentes maneiras de ver o rio?
 Organizar as ideias defendidas pelas crianças em um texto coletivo, considerando: a) como
está o rio hoje em dia; b) como era o rio em outras épocas; c) diferentes visões das pessoas
sobre o rio e diferentes relações construídas por elas com o rio; d) as mudanças e as
permanências na paisagem e na relação da população com o rio.
 Propor que os novos conhecimentos, organizados ao longo dos estudos, sejam confrontados
com as hipóteses e conhecimentos anteriores das crianças (“O que não sabíamos sobre o rio e
agora aprendemos? O que já sabíamos e pudemos compreender melhor?”), provocando-as
para que reflitam sobre questões que não estavam considerando inicialmente.
 Construir junto com as crianças um mural sobre a história do rio do local onde moram, com
mapa, linha do tempo, memórias, imagens, reflexões...

7. Sequência de atividades: “Trabalhadores contemporâneos e


de outros tempos”
Adequada especialmente para o 4º ano
Duração: aproximadamente quatro semanas

Objetivos didáticos
[o que o professor pretende com o trabalho]

◦ Contribuir para a identificação de trabalhadores e relações de trabalho presentes no


cotidiano das crianças.
◦ Possibilitar a identificação de algumas ferramentas, materiais e equipamentos utilizados na
produção de diferentes objetos presentes no cotidiano, que expressem o trabalho e o
conhecimento nele empregado pelos trabalhadores.
◦ Propiciar o reconhecimento de diferentes tipos de relações de trabalho encontrados entre os
moradores do local, no presente.
◦ Favorecer a valorização do trabalho e das manifestações culturais, sociais e artísticas ligadas
a ele, como também as produções industriais e artesanais.
29

Conteúdos
[o que é preciso ensinar/comunicar explicitamente ou criar condições para que os alunos aprendam]

◦ Identificação de trabalhadores e relações de trabalho presentes no cotidiano das crianças.


◦ Identificação de algumas ferramentas, materiais e equipamentos utilizados na produção de
diferentes objetos presentes no cotidiano, que expressem o trabalho e o conhecimento nele
empregado.
◦ Reconhecimento de diferentes tipos de relações de trabalho encontrados entre os moradores
do local, no presente.
◦ Valorização do trabalho e das manifestações culturais, sociais e artísticas ligadas a ele, como
também as produções industriais e artesanais.

Sequência de Atividades e Procedimentos Metodológicos

Atividade 1: Levantamento de conhecimentos prévios


Proposta de encaminhamento
 Escolher um objeto atual (como lápis, caderno, cadeira, tecido, lata de refrigerante,
panela...) e um objeto de outra época (um brinquedo ou livro antigo, um disco de vinil, uma
gamela, um pilão...), para conversar com as crianças sobre cada um deles: como foi feito,
quem fez, com qual material, usando quais ferramentas, qual a sua utilidade, para quem
serve, se pode possuir outras formas, se é ou era usado em outras sociedades etc. Montar um
quadro com as características dos dois objetos.
 A proposta é estudar com as crianças a diversidade de trabalho e as diferentes condições
de vida e produção dos trabalhadores na atualidade e em outros tempos, utilizando como
fonte de estudo, também, a análise de ferramentas de trabalho e de obras produzidas.
 Fazer levantamento de conhecimentos prévios das crianças a respeito do trabalho e dos
diferentes tipos de trabalhadores, tanto na atualidade como em outras épocas. Propor,
então, um estudo sobre a história dos trabalhadores (quem são, o que fazem...), começando
com os que existem no presente. Registrar o que as crianças sabem e pensam sobre o
trabalho e quem são os trabalhadores hoje em dia.
 É necessário situar as crianças na história do presente, para que possam criar questões
que instiguem estudos de outros tempos e espaços. Assim, é importante levantar suas
concepções sobre o trabalho, os trabalhadores e sua diversidade, bem como saber o que
conhecem a respeito dos diferentes tipos de trabalho (doméstico, da escola, do
comércio, dos transportes, fabril, das áreas de saúde, de diversão e lazer, da produção
rural...). A ideia é que identifiquem quem exerce cada trabalho, os diversos tipos e
formas de remuneração, tempo de trabalho (diário, semanal, mensal, anual), tempo de
lazer, que compreendam o significado da aposentadoria etc.
 Orientar a produção de listas de trabalhadores que as crianças conhecem. A partir delas,
estabelecer com as crianças categorias para organizar os trabalhadores por tipos (exemplos:
trabalhadores de casa, que trabalham na rua, em escritórios, em fábricas, que fazem
serviços, que produzem alguma coisa etc).
 Pode ser importante, nesse momento, identificar se as crianças expressam preconceitos
quanto a determinados tipos de trabalho e/ou suas representações quanto a trabalhos
“mais dignos” e “menos dignos”. Além disso, é relevante saber o que pensam sobre os
conflitos decorrentes do não trabalho ou do desemprego, incluindo questões relacionadas
às mudanças das famílias ou de indivíduos em busca de trabalho: as migrações. É
30

possível, ainda, debater a diferenciação de remunerações entre homens e mulheres,


adultos e crianças, assim como a diversidade nas formas de participação na vida
econômica da sociedade.

Atividade 2: Conhecendo melhor os trabalhadores do presente


Proposta de encaminhamento
 Propor que as crianças desenhem ou pesquisem imagens de diferentes tipos de trabalhadores
atuais (da escola, do comércio, rurais...) e que escolham alguns para estudar de forma mais
aprofundada.
 Orientar a pesquisa de informações sobre os tipos de trabalhadores escolhidos: o que fazem,
como se tornam trabalhadores do ofício, onde trabalham, com quem trabalham, se produzem
objetos e quais, se prestam serviço, qual o tipo de remuneração que recebem, quais suas
tarefas...
 É fundamental tomar todo cuidado para não reforçar valores do senso comum, nem as
ideias de que as relações de trabalho são harmoniosas, tranquilas e que todos exercem
seu trabalho com prazer e em benefício do bem comum. É preciso lembrar que o trabalho
está relacionado à sobrevivência, às relações de desigualdade econômica e, em certos
casos, ao prestígio e ‘status’ que proporciona.
 Conversar com as crianças sobre o trabalho assalariado (remuneração por hora de trabalho) e
formas de trabalho sem remuneração em dinheiro (trabalho doméstico na família, trabalho
voluntário). Propor um levantamento dos tipos de remuneração praticados no comércio, na
indústria, na prestação de serviço etc. Montar um quadro com as informações obtidas.
 Organizar com as crianças situações para entrevistar trabalhadores que atuam dentro da
escola ou próximo a ela, parentes e conhecidos das crianças. De modo cooperativo, a classe
precisa elaborar as questões, fazer convites e preparar a visita, fotografar as entrevistas,
registrar as respostas...
 Se possível, programar uma visita a uma fábrica, para as crianças observarem os
trabalhadores exercendo diferentes funções na produção de um objeto (um refrigerante
ou um brinquedo, por exemplo).
 Montar um mural com as crianças, organizando imagens e dados obtidos sobre os tipos de
trabalhadores estudados.
 Escolher um ou dois textos (reportagens, estudos) a respeito do desemprego hoje, no Brasil,
para ler com as crianças e debater sobre o que significa o desemprego e o que vive um
desempregado, tomando bastante cuidado para evitar preconceitos.

Atividade 3: Produtos do trabalho


Proposta de encaminhamento
 Apresentar para as crianças um objeto artesanal (exemplo: brinquedo) e um outro objeto
produzido pela indústria, para serem analisados. Conversar sobre suas funções e usos, bem
como sobre os trabalhadores e as etapas de trabalho envolvidos na confecção dos dois
objetos.
O ferreiro malha o ferro na bigorna, com o fogo o funde, com o cobre o solda, com a
broca o fura, com a lima o rói, com a tenaz o verga, torce e arrebita.
O gravador entalha e chanfra com o cinzel, pule com o buril. O ourives lapida com
diamante, corta com o cinzel, afina com o buril, engasta com a pinça, apura com o
esmeril.
O escultor corta e lavra com o escopro e o formão. (BOSI, 1987) 11

11
BOSI, A. Os trabalhos da mão. In: BOSI, E. Memória e sociedade: lembranças de velhos. 2. ed. São Paulo: T. A. Queiroz: EDUSP,
1987, p.389.
31

 Propor a organização de uma exposição sobre “Produtos do trabalho”, com objetos


industriais e artesanais, para apresentação dos diversos modos como são produzidos.
 Definir as duplas ou trios, de forma que cada grupo fique responsável por pesquisar e
explicar para a classe o envolvimento de um ou mais trabalhadores na confecção de um
objeto industrial e de um objeto artesanal: as ferramentas, os materiais e os equipamentos
utilizados, as etapas de produção, a divisão de trabalho etc.
 Combinar com as crianças as providências necessárias para que a exposição seja um sucesso.

8. Projeto: “Os trabalhadores em outras épocas”


Adequada especialmente para o 4º ano
Duração: aproximadamente quatro semanas
Produto final: painel histórico

Objetivos didáticos
[o que o professor pretende com o trabalho]
◦ Possibilitar a identificação de mudanças e permanências relativas tanto aos trabalhadores
como às ferramentas, aos materiais e aos equipamentos utilizados na produção de diferentes
objetos relacionados à história local.
◦ Propiciar que as crianças relacionem atividades locais e acontecimentos históricos com a
preservação da memória de indivíduos, grupos e classes.
◦ Possibilitar a confrontação de informações colhidas em registros diversos, referentes aos
mesmos acontecimentos históricos.
◦ Contribuir para que as crianças relacionem lugares e tempos diferentes com medições e
marcadores de tempo cronológico e histórico (datas, décadas e séculos).
◦ Propiciar a identificação e o registro de acontecimentos e suas sequências temporais, bem
como a distinção daqueles pertencentes ao presente e ao passado.

Conteúdos
[o que é preciso ensinar/comunicar explicitamente ou criar condições para que os alunos aprendam]

◦ Identificação de mudanças e permanências relativas tanto aos trabalhadores como às


ferramentas, aos materiais e aos equipamentos utilizados na produção de diferentes objetos.
◦ Reconhecimento da importância da preservação da memória de indivíduos, grupos e classes.
◦ Confrontação de informações colhidas em registros diversos, referentes aos mesmos
acontecimentos históricos.
◦ Uso de medições e marcadores de tempo cronológico e histórico (datas, décadas e séculos)
no esforço de apreensão do tempo.
32

◦ Identificação e registro de acontecimentos e suas sequências temporais.


◦ Distinção de acontecimentos pertencentes ao presente e ao passado.

Sequência de Atividades e Procedimentos Metodológicos

Atividade 1: Apresentação da proposta pelo professor


Proposta de encaminhamento
 Ler para as crianças um texto – ou trechos, como os transcritos a seguir – que faça referência
à rotina de trabalhadores em outra época da história brasileira.
Vem vindo a carrocinha de verduras, de duas rodas e dois varais empurrados pelo verdureiro. Para em cada
casa, a patroa vem à janela e orienta a criada. Alface, couve, cenoura, abobrinha, cheiro (salsa e cebolinha),
tudo por dez tostões. [....]
Agora o carro de gelo. Deixa 5 quilos, cortados a olho, que a empregada leva à geladeira, que abre por cima
para pôr o gelo, e tem porta pela frente, para guardar o que se quer conservar.
Agora seu Domingos, com ovos a dez tostões a dúzia, frangos a dez tostões e galinha a dois mil réis.
[....] Ouve-se um assobio e o pregão: ‘Amolador!’ Um homem empurra um carrinho de varais e roda
dianteira. Para e abaixa os varais, fazendo encostar duas pernas de madeira no chão. Propele com o pé a
roldana que faz girar a pedra de amolar. Recebe facas, facões, tesouras e canivetes. O preço varia conforme
o tamanho da peça, entre um e cinquenta tostões.
Há um som metálico de colher batida contra a caçarola. É o ‘folheiro’. Conserta com estanho objetos de
folhas de Flandres, aquecendo ferros num fogareiro. Põe fundos novos nas panelas, faz aderir bicos soltos em
cafeteiras de cozinha e obtura furos [....] (AMERICANO, 2004) 12

 Fazer comentários sobre a época e o local retratados no texto.


 Convidar as crianças a conhecerem mais sobre a história do trabalho. Como já estudaram os
diferentes tipos de trabalhadores no presente, a proposta agora é pesquisarem sobre “os
trabalhos de antigamente” e montarem um painel, para socializarem o que for aprendido
com os colegas de outra classe.

Atividade 2: Hipóteses sobre trabalhadores e trabalhos no passado


Proposta de encaminhamento

 Conversar com as crianças sobre o que podem pesquisar a respeito dos trabalhadores de
outras épocas. Iniciar a conversa com questões como: “Os trabalhos de antigamente eram os
mesmos de hoje em dia? Será que existiam outros tipos de trabalhadores em outras épocas?
O que eles faziam? Que tipo de trabalho existia e não existe mais (exemplos: acendedor de
lampião de rua, condutor de bonde puxado a burro)?”...
 Registrar as hipóteses das crianças, para que possam confrontar no final de seus estudos com
o que tiverem aprendido a respeito dos trabalhadores no passado.

12
AMERICANO, J. São Paulo naquele tempo (1815-1915). São Paulo: Carrenho, 2004.
33

Atividade 3: Conhecendo melhor os trabalhadores do passado


Proposta de encaminhamento
 Apresentar imagens que retratem trabalhadores de outras épocas e incentivar as crianças a
realizarem a leitura de cada imagem. Posteriormente, organizar as informações em um
quadro e deixá-lo exposto.

Foto Augusto César Malta


Rio de Janeiro, 1914, jornaleiro13

 Coordenar a escolha de alguns exemplos de trabalhadores do passado para serem estudados:


quem eram, o que faziam, no que consistia o trabalho, se ele era dividido em etapas...
 Orientar as crianças na pesquisa, junto a pessoas mais velhas ou em livros, de informações e
imagens sobre esses trabalhadores de outras épocas.
 Após a realização da pesquisa, dar início à organização do painel que será apresentado à
outra classe: produção de uma lista de trabalhadores que existiam no passado, seleção dos
dados e das imagens mais significativos já obtidos etc.

Atividade 4: Os trabalhadores em diferentes épocas


Proposta de encaminhamento
 Promover a comparação entre alguns tipos de trabalhadores do passado e do presente. Por
exemplo, propor a caracterização do trabalho de um motorista de ônibus da atualidade e de
um condutor de bonde de antigamente.
 Coordenar debate sobre a permanência de muitos tipos de trabalhadores de outras épocas
hoje em dia, como os que realizam o trabalho doméstico, os trabalhadores rurais, os
operários de fábricas... E questionar a existência de mudanças no trabalho deles.
 Construir com as crianças uma linha do tempo, com informações e imagens relativas às
épocas estudadas, para ser incluída no painel.

Atividade 5: Finalização do painel


Proposta de encaminhamento
 Retomar o registro das hipóteses iniciais, para que as crianças as confrontem com o que
aprenderam a respeito dos trabalhadores no passado.
 Propor a escrita em dupla de um texto expositivo sobre os trabalhadores do passado, para ser
lido ou usado como texto de apoio à fala no momento da apresentação do painel.
 Providenciar a finalização do painel e o ensaio da apresentação que será feita à outra classe.

13
ADIB, J. (dir.). Malta, o fotógrafo do Rio antigo. Rio de Janeiro: Rio Gráfica, 1983.
34

9. Projeto: “Coleta de documentos da História local”


Adequada especialmente para o 5º ano
Duração: aproximadamente seis semanas
Produto final: acervo de documentos históricos

Objetivos didáticos
[o que o professor pretende com o trabalho]

◦ Propiciar a identificação de diferentes documentos (desenhos, pinturas, textos escritos,


gravações sonoras e visuais...) que possibilitam o estudo da história local.
◦ Favorecer a coleta e a produção de documentos da história local por meio de fotografias e
entrevistas.
◦ Criar condições para a organização de documentos coletados por época, autor e tema.
◦ Contribuir para que as crianças conheçam a diversidade da população local, os moradores
antigos, as diferentes procedências das pessoas.
◦ Possibilitar a confrontação de informações colhidas em registros diversos, referentes aos
mesmos acontecimentos históricos.
◦ Favorecer a organização da história do local por meio de textos e de linha do tempo.
◦ Propiciar que as crianças relacionem registros históricos com a preservação da memória de
grupos.

Conteúdos
[o que é preciso ensinar/comunicar explicitamente ou criar condições para que os alunos aprendam]

◦ Identificação de materiais que podem ser utilizados como documentos históricos.


◦ Coleta e produção de documentos da história local por meio de fotografias e entrevistas.
◦ Organização dos documentos coletados por época, autor e tema.
◦ Identificação da diversidade da população local.
◦ Confrontação de informações colhidas em registros distintos, referentes aos mesmos
acontecimentos históricos.
◦ Organização da história do local por meio de textos e de linha do tempo.
◦ Valorização de registros históricos relacionados à preservação da memória de grupos.

Considerações iniciais
 O tema da história local requer uma pesquisa maior por parte do professor e da escola,
que precisam ir, aos poucos, identificando e organizando documentos para serem
utilizados em estudos didáticos. É importante que exista um envolvimento da escola na
coleta, ano a ano, de uma variedade de materiais para trabalho com as crianças.
Documentos ou cópias deles podem ser obtidos com as famílias, em museus, arquivos,
cúrias, prefeituras, igrejas, fábricas, estações de trem, lojas, cinemas, hospitais,
fazendas etc. Exemplos: revistas e jornais antigos (fotos, artigos, propagandas,
anúncios...), álbuns de família, livros didáticos, cadernos escolares, objetos feitos com
35

materiais locais, depoimentos, cartazes... Em algumas localidades, existem, inclusive,


historiadores que já realizaram algum tipo de levantamento e que podem ser convidados
para conversar com as crianças.

Sequência de Atividades e Procedimentos Metodológicos

Atividade 1: Apresentação da proposta pelo professor


Proposta de encaminhamento
 Apresentar para as crianças algumas fotografias ou pinturas do local onde elas moram e
coordenar uma leitura coletiva de cada imagem, ou seja, questionar o que todos estão
vendo, se reconhecem o lugar, onde ele fica, como ele é, quem o frequenta, se ele já foi
diferente, o que há de específico nele (que é só dele) etc. Registrar o que vai sendo
identificado.
 Orientar a produção coletiva de uma legenda para cada imagem, com a informação do nome
e de características do local retratado.
 Conversar com as crianças sobre as imagens como documentos históricos e solicitar que
tragam outras imagens do local onde moram (fotografias, desenhos...), para iniciarem a
montagem de um acervo sobre a localidade.
 A proposta é estudar com as crianças algumas das especificidades históricas do local onde
moram, com a preocupação de ensinar, também, procedimentos de pesquisa, de
identificação de fontes documentais, de problematização da realidade vivida e de
organização de informações coletadas em textos escritos.

Atividade 2: Fontes da história local - Imagens da localidade no presente


Proposta de encaminhamento
 Organizar leituras das imagens trazidas pelas crianças, de modo que os lugares sejam
caracterizados.
 Selecionar com as crianças aquelas imagens que apresentam a diversidade de lugares
próximos (espaços da localidade).
 Propor a produção de legendas para as diversas imagens em pequenos grupos, seguida de
revisão coletiva.
 Montar um painel de imagens da localidade onde as crianças moram, com as respectivas
legendas e indicação da data de produção de cada imagem.

Atividade 3: Fontes da história local - Imagens da localidade em outros tempos


Proposta de encaminhamento
 Questionar as crianças sobre como é, no presente, a localidade onde moram e como deve ter
sido no passado. Se acham que mudou, como mudou, em que era semelhante ou diferente
em outros tempos.
 Apresentar para as crianças uma imagem ou um texto (uma memória) sobre como era a
localidade no passado.
 Conversar sobre o que a imagem mostra ou o texto conta e, com as crianças, organizar as
informações do documento em um quadro como este:
36

Lugar a que se refere Para que ou por que ele foi produzido?

Informações que apresenta sobre o Em que época foi produzido?


lugar

Quem produziu? Como chegou até nós (quem o preservou)?

A quem pertence?

 Fazer coletivamente um levantamento de possibilidades de legenda para a imagem do


passado, ou de título para o texto de memória, salientando a época desse registro do
passado e seu tema.
 Propor que as crianças pesquisem, entre seus conhecidos e familiares, imagens da localidade
em outros tempos.

Atividade 4: Escrevendo a história local


Proposta de encaminhamento
 Organizar leituras das imagens trazidas pelas crianças, para caracterização dos lugares e das
épocas nelas retratados.
 Montar uma linha do tempo com as crianças, usando as imagens coletadas para distinguir
épocas.
 Selecionar com as crianças aquelas imagens que apresentam a diversidade de lugares em
outros tempos. A partir de tais imagens, organizar um quadro sobre mudanças e
permanências na localidade.
 Coordenar a produção de um texto coletivo sobre a localidade em outras épocas.
 É importante fugir de alguns modelos de escrita da história local que a reduzem, algumas
vezes, a certos acontecimentos pioneiros (primeiro morador, primeira casa, primeiro
hospital...) ou que a confundem, para lhe atribuir valor, com a história regional ou
nacional – sua contribuição para a história da região ou do país. É comum, ainda, um
apego a uma história já consagrada e conhecida, reforçando valores consolidados pela
memória da população local. Geralmente, sem discernimento crítico, o lugar, a cidade, a
vila são projetados, apenas, por sua riqueza, ou seu progresso, ou seu desenvolvimento,
ou sua beleza....
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Atividade 5: Outros documentos sobre a história da localidade - Entrevistas


Proposta de encaminhamento
 Conversar com as crianças sobre a coleta de informações, necessária para escrever a história
de um lugar. Se possível, exibir o filme Narradores de Javé 14. Uma outra opção é exibir o
episódio do desenho de “Os Simpsons” 15 em que Lisa conta a história do fundador de
Springfield. Registrar as sugestões das crianças e considerá-las ao longo do trabalho seguinte.
 Na abordagem da história local, é importante refletir criticamente sobre as histórias
oficiais, que acabam reforçando estereótipos e modelando uma identificação com grupos
ou classes dominantes política, social ou economicamente. As escolhas de fatos, sujeitos
e tempos de estudo precisam ser avaliadas em função das identidades que acabam sendo
consolidadas através da formação histórica.
 A ideia é procurar problematizar a realidade, questioná-la, de modo que as crianças
possam encontrar suas especificidades históricas, sem desconsiderar a importância de
estabelecer parâmetros para reflexões sobre suas relações com outras localidades, com a
região, com o país e com outros tempos. É preciso lembrar, por exemplo, de considerar
como sujeitos históricos os trabalhadores e as mulheres, todos os jovens, crianças,
idosos, adultos; e como locais históricos os rios, parques, florestas, oficinas, malocas,
caminhos, locais de convivência social, de lazer, de trabalho... Lavadeiras, marceneiros,
barbeiros, donas de casa também são sujeitos históricos. Residências, oficinas, beiras de
rio, bicas, praças, escolas, sítios, igrejas, ruas, mercados, feiras, portos, barcos, fábricas
são exemplos de locais que podem revelar importantes elementos da história local.
 Propor às crianças um trabalho de coleta de memórias de pessoas que vivem há muito tempo
na localidade. Comentar sobre os procedimentos da coleta das entrevistas como documentos
históricos e organizar coletivamente a sequência do trabalho, que pode envolver: a)
identificação das pessoas a serem entrevistadas; b) convite a essas pessoas para uma
conversa na escola, com as crianças; c) organização de perguntas para colher, durante a
conversa com o entrevistado, informações sobre a localidade em outros tempos; d)
elaboração de uma ficha para colher dados sobre o entrevistado (nome, local onde nasceu,
tempo de moradia na localidade, profissão, no que já trabalhou... ); e) definição da forma
de registrar as falas dos convidados (se serão escritas ou gravadas e transcritas
posteriormente); f) debates sobre as informações coletadas, para escrever uma história da
localidade etc.

[...] o realmente importante é não ser a memória apenas um depositário passivo de


fatos, mas também um processo ativo de criação de significações. Assim, a utilidade
específica das fontes orais para o historiador repousa não tanto em suas habilidades de
preservar o passado quanto nas mudanças forjadas pela memória. Estas modificações
revelam o esforço dos narradores em buscar sentido no passado e dar forma às suas
vidas[...] (PORTELLI, 1997) 16

 Após a realização das entrevistas, promover leituras coletivas das respostas registradas,
debates sobre as variedades de depoimentos e, também, confronto das memórias, para
levantamento das diferentes informações sobre uma mesma época ou local.
 Quando as entrevistas são gravadas e depois transcritas, é possível fazer um trabalho que
revele as diferenças entre a fala e a escrita, ou seja, as características da oralidade e as
necessidades relativas ao registro escrito.
14
NARRADORES de Javé. Direção: Eliane Caffé. Produção: Vânia Catani e Bananeira Filmes. Roteiro: Luiz Alberto de Abreu e Eliane
Caffé. [S.l.]: Lumière; Rio Filme. 2003. 1 DVD (100 min).
15
LISA, a Iconoclasta. FOX, 7ª Temporada, 1995/1996.
16
PORTELLI, A. O que faz a história oral diferente. Projeto História: Revista do Programa de Estudos Pós-graduados em História e do
Departamento de História da PUC-SP. São Paulo, n. 14, fev. 1997, p. 25–39.
38

 Ainda com os textos das entrevistas em mãos, orientar as crianças na seleção de trechos que
informam sobre a história da localidade em diferentes épocas.
 Solicitar que as crianças escrevam um texto, em duplas ou trios, contando o que descobriram
ou aprenderam com as entrevistas.
 Montar com as crianças um painel que contenha trechos das entrevistas, organizados por
temas ou por épocas (com o nome de cada entrevistado, a data da entrevista e o local onde
ela foi realizada), além dos textos produzidos pelas duplas ou trios.

Atividade 6: Pesquisa histórica


Proposta de encaminhamento
 Combinar com as crianças a coleta de outros documentos históricos da localidade. Podem ser
poemas, músicas, imagens, jornais, revistas, cartas, mapas, propagandas etc. Apresentar
fichas para identificação dos documentos: tipo, data, a quem pertence, como foi preservado,
suas informações históricas...
 É possível organizar alguns documentos em função do que revelam sobre a história de
determinado lugar. Exemplo:

Documento Lugar a que ele se refere


Fotos

Músicas

Mapas antigos

Documentos escritos (oficiais)

Documentos escritos (não oficiais,


literatura, cartas)

Depoimentos/memórias

Pinturas/pintores

Censo populacional (quantidade de


moradores/ano)

 Propor que as crianças escolham um lugar (espaço da localidade) e preparem-se para


escrever, em pequenos grupos, a história dele. Para começar, podem organizar os
documentos em que se encontram informações sobre esse local; por exemplo, desta forma:

Nome do lugar
39

Documentos históricos que


1.
temos sobre ele
2.

3.

4.

5.

6.

 Orientar os grupos na leitura dos documentos, na coleta de informações e na escrita da


história do local escolhido. Salientar que devem sempre observar quem escreveu (ou
produziu) cada documento, em que época, com qual intenção.... Além disso, chamar a
atenção das crianças para a diversidade de fontes de informações, os pontos de vista
diferentes, as contradições etc.
 Organizar um painel com os documentos e os textos das crianças.
 Retomar a conversa com as crianças sobre a pesquisa da história da localidade, para
identificarem o que foi preciso fazer em cada etapa. Coordenar a produção coletiva de um
relato do trabalho desenvolvido, para ser também afixado no painel.

10. Sequência de atividades: “Estudo do meio para pesquisa


da História local”
Adequado especialmente para o 5º ano
Duração: aproximadamente três semanas

Objetivos didáticos
[o que o professor pretende com o trabalho]

◦ Possibilitar a pesquisa da história local por meio de estudo de campo.


◦ Contribuir para que as crianças observem construções e paisagens históricas.
◦ Propiciar a identificação de temporalidades históricas nas paisagens e construções.
◦ Promover situações de organização da história do local por meio de registros coletados em
estudo do meio.
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Conteúdos
[o que é preciso ensinar/comunicar explicitamente ou criar condições para que os alunos aprendam]

◦ Procedimentos de pesquisa da história local relacionados a estudo de campo.


◦ Observação de construções e paisagens históricas.
◦ Identificação de temporalidades históricas nas paisagens e construções.
◦ Organização da história do local por meio de registros coletados em estudo do meio.
Considerações iniciais
 O estudo do meio possibilita o contato direto das crianças com outros tipos de
documentos encontrados em contextos cotidianos da vida social: paisagens, construções,
formas de organização de um lugar pela ocupação humana, espaços com funções
diferentes... É uma atividade didática em que as crianças se deparam com indícios de
materialidades que mesclam tempos e vivências sociais.
 Na organização de um estudo do meio, segundo os PCN(s) 17, é importante que o
professor:
crie atividades, anteriores à saída, que envolvam levantamento de hipóteses e de
expectativas prévias das crianças;
crie atividades de pesquisa sobre o local a ser visitado;
solicite, antes da realização da atividade, que os alunos organizem em forma de textos
ou desenhos as informações que já dominam, para que subsidiem as hipóteses e as
indagações que serão realizadas no local;
visite o local com antecedência, para que possa ser, também, um informante e um guia
ao longo dos trabalhos;
organize, junto com as crianças, um roteiro de pesquisa, um mapa do local e uma divisão
de tarefas;
consiga, com antecedência ou posteriormente, mapas de várias épocas sobre o local,
para estudo da transformação da paisagem e da ocupação humana pela classe;
converse com os alunos, antes do trabalho de campo, sobre condutas necessárias no
local, discutindo, por exemplo, interferências prejudiciais aos patrimônios ambientais,
históricos, artísticos ou arqueológicos.

Sequência de Atividades e Procedimentos Metodológicos

Atividade 1: Apresentação da proposta pelo professor


Depois de feita a escolha de um lugar cuja história as crianças querem pesquisar e de iniciada a
coleta de documentos sobre como era esse espaço da localidade em outros tempos, propor a
organização de uma visita ao local.

17
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: História e Geografia. Brasília, DF, 1997.
41

Atividade 2: Preparativos para o estudo do meio


Proposta de encaminhamento
 Em seguida a uma leitura, em pequenos grupos, de documentos sobre como era em outros
tempos o lugar escolhido, levantar as hipóteses das crianças (por meio de conversa, desenho
ou texto) sobre o que poderão encontrar na visita ao local. Questionar, por exemplo, quais
seriam as diferenças e semelhanças entre aspectos desse lugar no passado e no presente.
 Combinar com as crianças:
- as atitudes que devem manter no local da visita;
- a utilização de um mapa, para identificarem o que vão encontrar ao longo do percurso
até o local;
- o que vão observar no local e como será o registro escrito dos dados (fichas, quadros
para anotações etc);
- a produção de outros documentos históricos sobre o local no presente, como fotos,
desenhos e registro de campo (relato dos acontecimentos que viverem ao longo da
atividade, semelhante a um relato de viajante).
 Organizar com as crianças:
- o esboço do mapa para localização do que vão encontrar, incluindo legenda;
- as fichas ou quadros para registro dos dados;
- outros materiais necessários à produção dos documentos históricos.

Atividade 3: Estudo no local


Proposta de encaminhamento
 Na ida para o trabalho de campo, orientar as crianças na utilização do mapa e na produção
de legendas.
 Propor que as crianças desenhem detalhes do que encontrarem no lugar (construções,
paisagens...).
 Oferecer ajuda às crianças na anotação de dados e de impressões pessoais sobre o lugar.
 Desenvolver um trabalho de comparação entre a paisagem e/ou as construções no presente e
no passado.
 Se existirem fotos entre os documentos coletados, é interessante escolher uma ou duas
como referência para a comparação. Nesse caso, é preciso procurar o ângulo de visão do
fotógrafo antigo e tentar tirar uma foto semelhante. Com as fotos, as duas paisagens
poderão ser analisadas ainda no local e/ou na sala de aula.

Atividade 4: De volta à escola


Proposta de encaminhamento
 Na volta do estudo do meio, avaliar com as crianças suas vivências ao longo da visita.
 Promover a confrontação de documentos de épocas diferentes, para que a classe organize
quadros, distinguindo as mudanças e permanências históricas em relação ao local visitado.
 Organizar rodas de leitura dos registros de campo produzidos pelas crianças, incentivando
comentários a respeito da produção do documento e, também, da diversidade de
observações e impressões relatadas por diferentes pessoas sobre uma mesma situação.
 Elaborar painéis com as crianças, para contarem a história do local no passado e no presente.

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