Meio: Imprensa Âmbito: Regional
País: Portugal Period.: Diária
ID: 108820309
TRADIÇÃO
Madeira investe no fogo
desde meados do século XIX
Domingo, milhares de turistas juntar-se-ão aos madeirenses para assistirem ao fogo de artifício que
marca a transição de 2023 para 2024. Esta é uma tradição que ganhou força com o passar dos anos.
A passagem do ano na Madeira é o maior cartaz turístico do destino.
Por Iolanda Chaves
ichavesgijm-niadeira.pt
Graça Fernandes, de 78 anos. lem
bra se de ser criança e de sair de ca-
sa no último dia do ano. para assistir,
com os pais e os irmãos, ao fogo de
artificio. A deslocação não a levava
para fora de São Roque, onde mo-
rava (e continua a morar), mas ape-
nas alé à casa da madrinha, peno da
igreja, de onde conseguiam melhor
vista sobre a cidade.
Era uma noite de confraterni
zação. em que. recorda, os adultos
jogavam ao Loto. as crianças brin-
cavam e ã meia noite todos se jun -
lavam para verem "o fogo que ilu-
minava o Funchal".
"Não era uma extensão de fogue
tes como agora, que é de uma ponta
à outra. Era mais por cima da cida
de", descreve assim essa memória
de quando teria apenas seis anos de
idade. Nessa altura, a que se repor
28-12-2023
ta. também o miradouro ainda não
estava construído e é de há umas
w?
décadas para cá um ponto de re-
ferência para os locais e forasteiros
assistirem ao espetáculo pirotécnico.
Nascida em 1945. não sabe dizer
há quanto tempo a Madeira celebra
o Fim do Ano com espetáculo piro LEMBRA-SE •
técnico, mas admite que já houvesse
Espetáculo vai ter 5 9 postos e custa 1 , 1 milhões
Para a passagem de 2023/2024, que acontece no
próximo domingo, o Governo Regional reservou 1,1
milhões de euros, procurando manter a tradição tão
fulgurante quanto nos últimos anos.
Serão instalados 57 postos de fogo no Funchal e dois no
Porto Santo (Miradouro da Portela e Cias), 59 no total. Na
frente mar do Funchal, entre a extremidade oeste do Cais 8
do porto do Funchal, até aos pontões da Praia do Almirante
Reis, serão instalados 25 postos em terra e no mar. Ao
longo do anfiteatro do Funchal, serão instalados 27 postos.
0 plano de localização dos postos foi aprovado pelo
Executivo regional em maio passado, tendo em conta
Área: 832cm² Pág: 4
esse costume antes. A crescente vin -
da de navios de cruzeiro e os apitos
á meia-noite são outro aspeto que
junta à magia do Fim do Ano pro
porcionada pela pirotecnia.
Para falar sobre os primórdios
daquele que é atualmente o maior
cartaz turístico da Região - res
ponsável pela vinda à Região de
"a necessidade de garantir a colaboração por parte de
entidades públicas e privadas na utilização de terrenos,
estruturas e espaços, para a colocação de postos de
lançamento de fogo de artifício, tradicionalmente
utilizados para este Fim", conforme consta da resolução
publica no JORAM.
0 Governo destaca que as festas de Fim de Ano "são
o maior cartaz turístico da Região" e o espetáculo
pirotécnico "é a manifestação com maior relevo e impacto
ao nível nacional e internacional que importa continuar,
enriquecer e consolidar, por ser determinante para a
Madeira enquanto destino turístico".
milhares de visitantes (nacionais
e estrangeiros) e dos paquetes -, o
|M ouviu |osé Luís Ferreira Sousa,
autor do livro 'Fim do Ano na Ma
deira'. publicado em 2014.
O investigador situa a origem do
evento em meados do século XIX,
concretamente no ano 1866. tendo
por base relatos da imprensa fun
chalense. da altura. Um outro dado
que. entretanto, apurou, revela que
já em 1962. o Inglês Robert Bayman
pediu uma autorização ao Gover-
no Civil para. nesta altura do ano.
lançar fogo de artifício.
A tradição pegou, ao ponto de
haver famílias que faziam gala em
proporcionar aos concidadãos boni -
tos espetáculos de pirotecnia, muito
também á semelhança do que acon
tecia nos arraiais, coroados de es
frondosos foguetórios.
Situando a ação no tempo, o in
vesligador conta que nos início do
século XX. duas famílias, a do Vis-
conde Cacongo. na Quinta Mãe dos
Homens, e a de Silvestre Quintino
de Freitas, no Alto da Pena. rivali-
zavam em fogos, qual deles o mais
bonito. A propósito, assinala, o facto
de na passagem de 1909 para 1910. o
visconde ter proporcionado um dos
mais belos espetáculos pirotécnicos.
Por Ironia do destino, a 5 de outubro
desse ano a República viria a destro
nar o poder monárquico.
Na Investigação realizada. José
Luís Sousa procurou desmistificar
a ideia de que esta forma de ceie
brar a transição de ano teve ori-
gem. em 1921. no hotel Relds. Ad-
mite que nesse ano. a prestigiada
unidade hoteleira terá contratado
dois irmãos de Braga, especialis-
tas em pirotecnia que lerão mar
cado a diferença nos lançamentos
efetuados a partir dos Ilhéus e do
Forte de Nossa Senhora da Concei-
ção (molhe).
Outro dado curioso que o in-
vestigador destaca é o facto de em
1936. a Comissão de Turismo da Ma -
deira ter recebido o primeiro subsí-
dio do Governo, a partir de Lisboa,
para o fogo de artifício.
Certo é que. esta tradição, cujas
origens já se perdem na memória
dos madeirenses, havendo para is
so a necessidade de recorrer aos
arquivos e a tudo o que foi sendo
escrito, ganhou força com os anos.
ao ponto de a Madeira ter entrado
para o 'Guinness World Records',
pelo Maior Espetáculo Pirotécni-
co do Mundo'. Foram oito minutos,
durante os quais foram disparadas
132 mil peças (70% produzidas em
Portugal).